Você está na página 1de 20

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS


DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DO DESPORTO
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Amanda Gabriele Almeida Neres

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E ANSIEDADE: UMA


REVISÃO NARRATIVA

Januária/ MG
Dezembro/ 2023
Amanda Gabriele Almeida Neres

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E ANSIEDADE: UMA


REVISÃO NARRATIVA

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Educação Física da Universidade Estadual
de Montes Claros – UNIMONTES, como
requisite parcial para obtenção de grau do
Licenciado(a) em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. José de Andrade Matos


Sobrinho

Januária/MG
Dezembro/2023
Neres, Amanda Gabriele Neres
Educação Física escolar e ansiedade: uma revisão narrativa. –
2023. 15f.
Orientador: Prof. Dr. José de Andrade Matos Sobrinho.
Artigo Científico apresentado ao Curso de Educação Física da
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 2023.

1. I - Educação Física. II - Ansiedade. III - Escola.


FOLHA DE APROVAÇÃO

Amanda Gabriele Almeida Neres

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E ANSIEDADE: UMA


REVISÃO NARRATIVA

Artigo Científico apresentado ao Curso de


Educação Física da Universidade Estadual
de Montes Claros – UNIMONTES, como
requisite parcial para obtenção de grau do
Licenciado(a) em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. JOSÉ DE ANDRADE MATOS SOBRINHO


Membros:

__________________________________________
Professor

__________________________________________
Professor

Januária/ MG
Novembro/2023
5

ARTIGO ORIGINAL
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E ANSIEDADE: UMA REVISÃO NARRATIVA

Amanda Gabriele Almeida Neres1


Prof. Dr. José de Andrade Matos Sobrinho2

Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar uma discussão atualizada acerca da


ansiedade, bem como suas causas e sintomas no contexto escolar e nas aulas de
Educação Física. O presente estudo se caracteriza como revisão de literatura
narrativa, de caráter teórico e descritivo. O trabalho incluiu artigos quantitativos e
qualitativos os quais atenderam aos seguintes critérios: estudos que abordassem a
ansiedade; realizado com estudantes; desenvolvido no ambiente escolar brasileiro.
A busca foi realizada nas bases de dados do Google Acadêmico e SciELO,
utilizando os descritores: Ansiedade, Desempenho Escolar e Educação Física.
Resultados: Através do procedimento de busca, foram identificadas, inicialmente,
209 publicações. Dessas, 73 eram potencialmente elegíveis para inclusão nesta
revisão. A primeira análise dos artigos foi da leitura dos títulos e resumos. Após essa
avaliação, os estudos que pareciam preencher os critérios de inclusão - um total 29
artigos -, foram lidos na íntegra. Desse total, consideramos 6 que se alinhavam a
nossa proposta de estudo. Percebeu-se, a partir dos estudos selecionados, que a
busca pelo termo “ansiedade” predomina sob o termo “Educação Física”. Ainda, os
resultados destacam a importância da Educação Física como uma disciplina que
proporciona aos alunos a prática de atividades físicas, sendo benéfica à saúde
mental, servindo como parâmetro para a avaliação dos níveis de ansiedade e
temperamento negativo dos alunos. A partir da leitura dos estudos selecionados,
concluímos que a disciplina de Educação Física na escola parece ter importante
papel na saúde física e mental de adolescentes, em especial os transtornos de
ansiedade.

1 Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Januária – Minas Gerais. E-mail:


gaby_almeida06@outlook.com
2 Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Januária – Minas Gerais. E-mail:
jose.sobrinho@unimontes.br
6

Palavras-chave: Educação Física. Ansiedade. Escola.

ANXIETY IN THE SCHOOL ENVIRONMENT: A NARRATIVE REVIEW

Abstract
The primary objective of this investigation is to offer an updated discourse on anxiety,
encompassing its origins and manifestations within the scholastic milieu and Physical
Education classes. This study assumes the form of a narrative literature review with a
theoretical and descriptive orientation. It incorporates both quantitative and
qualitative articles adhering to specific criteria: examinations addressing anxiety,
involving students, and conducted within the Brazilian educational setting. The
search was executed in the Google Scholar and SciELO databases deploying the
descriptors: Anxiety, School Performance, and Physical Education. A total of 209
publications were initially identified through the search process. Among these, 73
emerged as potentially suitable for inclusion in this review. The preliminary scrutiny
involved perusing titles and abstracts, with subsequent comprehensive readings of
29 articles that appeared to meet the inclusion criteria. Ultimately, 6 articles aligned
with the study's purpose. It was observed that the term "anxiety" took precedence
over "Physical Education" in the selected studies. Additionally, the outcomes
underscore the significance of Physical Education as a subject offering students
physical activities conducive to mental well-being, thereby serving as a metric for
evaluating anxiety levels and negative temperament in students. The synthesis of the
chosen studies leads to the inference that the discipline of Physical Education in
educational institutions assumes a pivotal role in the physical and mental well-being
of adolescents, particularly concerning anxiety disorders.
Keywords: Physical Education, Anxiety, School.

Resumen
El objetivo principal de esta investigación es presentar una discusión actualizada
sobre la ansiedad, abarcando sus orígenes y manifestaciones en el ámbito escolar y
en las clases de Educación Física. Este estudio se caracteriza como una revisión
narrativa de la literatura, de naturaleza teórica y descriptiva. Incluye artículos
cuantitativos y cualitativos que cumplen con los siguientes criterios: estudios que
abordan la ansiedad, realizados con estudiantes y llevados a cabo en el entorno
7

educativo brasileño. La búsqueda se realizó en las bases de datos de Google


Scholar y SciELO utilizando los descriptores: Ansiedad, Rendimiento Escolar y
Educación Física. Se identificaron inicialmente 209 publicaciones mediante el
procedimiento de búsqueda. De estas, 73 fueron potencialmente elegibles para su
inclusión en esta revisión. El análisis inicial de los artículos implicó la lectura de
títulos y resúmenes. Después de esta evaluación, se leyeron en su totalidad los
estudios que parecían cumplir con los criterios de inclusión, un total de 29 artículos.
De este conjunto, 6 se consideraron alineados con la propuesta de nuestro estudio.
Se observó, basándonos en los estudios seleccionados, que la búsqueda del
término "ansiedad" predomina sobre el término "Educación Física". Además, los
resultados resaltan la importancia de la Educación Física como disciplina que brinda
a los estudiantes actividades físicas beneficiosas para la salud mental, sirviendo
como parámetro para evaluar los niveles de ansiedad y el temperamento negativo
en los estudiantes. A partir de la lectura de los estudios seleccionados, concluimos
que la disciplina de Educación Física en las escuelas parece desempeñar un papel
importante en la salud física y mental de los adolescentes, especialmente en lo que
respecta a los trastornos de ansiedad.
Palabras clave: Educación Física, Ansiedad, Escuela.

Introdução
A ansiedade é um sentimento vago caraterizado pelo desconforto, medo,
preocupação e apreensão, derivada de uma antecipação emocional que afeta
pessoas de todas as idades. Porém, quando a ansiedade é desproporcional, torna-
se patológica e desencadeia uma série de sofrimentos e problemas de ordem social,
cognitiva e emocional. Ao atingir o ponto patológico, já não contribui com o
desenvolvimento de atitudes saudáveis do dia a dia, concorrera exatamente para o
contrário, ou seja, para a falência da capacidade de tomadas de decisões (Brandão;
Graeff, 1996).
Segundo Pereira (2008, p. 2), “o sentimento de ansiedade é parte intrínseca
da condição humana. É uma resposta natural a determinados fatores ambientais e
psicológicos”. Até certo ponto, é uma resposta necessária para a sobrevivência
social, uma manifestação fisiológica adaptativa. No entanto, a ansiedade é um
grande desafio para a sociedade atual, haja vista que sua presença tornou-se
praticamente universal, trazendo danos consideráveis para a saúde mental da
8

população, principalmente para as crianças, adolescentes e jovens que estão em


fase de escolarização.
Para muitos pesquisadores (quais autores sustentam essa frase?), o
ambiente escolar tem se tornado um espaço no qual a ansiedade tem causado
danos severos a saúde dos estudantes, afetando estreitamente o desempenho
escolar e contribuindo significativamente para a evasão escolar. Os vários sintomas
da ansiedade, como esquecer as palavras quando está fazendo uma prova ou
quando está apresentando um trabalho, bem como a tremura e perca da voz diante
da audiência, são exemplos ilustrativos de quando a ansiedade ultrapassa a
fronteira entre motivar e prejudicar as ações (de quem é essa frase ou baseou-se
em qual autor/a?)
Nesta perspectiva, pesquisas da Neurociência têm colaborado com estudos
significativos sobre as bases neurobiológicas da ansiedade. Embora os circuitos
envolvidos no complexo sistema das emoções não tenham uma definição precisa,
podem ser descritas, de modo didático, algumas vias neurais, responsáveis pelos
diversos sintomas da ansiedade. (Esperdião, 2008).
Quando estamos preocupados, as partes do cérebro responsáveis pelas
sensações de medo e ansiedade liberam hormônios que aumentam a frequência
cardíaca e a respiração, podendo provocar falta de ar, desregulação do sistema
digestivo, boca seca e aquecimento excessivo do corpo, produzindo suor em
excesso.
Para além do levantamento de sintomas para identificar a manifestação real
de uma crise de ansiedade no processo educativo da Educação Física - saberes
essenciais para qualquer professor comprometido com essa nova realidade social
no qual as questões de saúde mental são centrais para agir no processo educativo -
buscamos com essa revisão compreender como a literatura científica da área tem
tratado dessa problemática da ansiedade nos tempos e espaços da Educação Física
escolar? A relevância da temática têm encontrado eco na produção do
conhecimento na área?
O objetivo deste trabalho foi levantar uma síntese de como a produção
científica ligada a Educação Física escolar tem tratado da ansiedade na relação com
essa disciplina na produção do conhecimento.
9

Metodologia

O presente estudo é uma revisão de literatura narrativa, de caráter teórico e


descritivo. Conforme Rother (2007), “os artigos de revisão narrativa são publicações
amplas, apropriadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou o ‘estado da
arte’ de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico ou contextual”.
Dividida em etapas, a revisão de literatura narrativa considera: “a seleção de
um tema de revisão; pesquisa na literatura; seleção/escolha, leitura e análise da
literatura; redação da revisão; e referências” (Cronin; Ryan; Coughla apud Souza et
al., 2018, p. 47).
Foram incluídos no estudo pesquisas relevantes relacionadas à ansiedade
no contexto escolar, mas com especial interesse na Educação Física, produções
tanto de caráter quantitativo, quanto de caráter qualitativo, que atenderam aos
seguintes critérios: estudos que abordassem prioritariamente a Educação Física
escolar e a ansiedade; desenvolvido no ambiente escolar brasileiro; que não fosse
estudo durante o período de pandemia da Covid-19.
A busca foi realizada nas bases de dados do Google Acadêmico e SciELO,
utilizando os descritores: Educação Física escolar e Ansiedade. Primeiramente, o
procedimento de busca foi realizado no Google Acadêmico que, com os descritores
acima citados, selecionamos 29 trabalhos que eram potencialmente elegíveis nesta
revisão por incluir Educação Física escolar ou ambiente escolar e variações no
título.
Após à análise dos títulos, passamos a leitura dos resumos. Após essa
segunda avaliação, selecionamos seis (6) estudos que preenchiam os critérios de
inclusão, visto que se alinhavam a essa proposta de pesquisa..
Já na plataforma Scielo os descritores “Educação Física escolar” e
“ansiedade” não deram resultados. Por isso, optamos por pesquisar com a palavra-
chave “Educação Física” sem o “escolar” e retornou 22 resultados. No entanto,
nenhum desses trabalhos passaram pelo critério de inclusão, visto que não lidavam
com o ambiente escolar e sim com o campo não escolar relacionado a saúde, no
caso, trabalhos que fundamentalmente estudavam a correlação entre exercício físico
e redução dos sintomas de ansiedade.
10

Resultado
Figura 1 - Fluxograma para o resultado da busca nas bases de dados em relação à
ansiedade no ambiente escolar.

Estudos identificados pela Base de dados


IDENTIFICADOS

pesquisa bibliográfica na base de Google Acadêmico (29)


dados SciELO (0)
(n=29)

Estudos excluídos por não


Estudos selecionados a partir da
atenderem aos critérios de
leitura dos títulos
inclusão do estudo
(n=29)
TRIAGEM

(n=23)

Trabalhos lidos na íntegra


(n=6)
INCLUÍDOS

Estudos incluídos na presente


revisão
(n=6)

Fonte: Dados da pesquisa


11

Tabela 1 - Caracterização dos trabalhos utilizados no estudo em relação à


Educação Física escolar e ansiedade.

Autor/Ano de
Título Objetivo
publicação
1) Educação Física CUNHA, G. M. R. Analisar e interpretar as
Escolar e Transtorno 2021. evidências científicas disponíveis
de Ansiedade: Uma por meio de revisão narrativa que
revisão narrativa. discuta a Educação Física
escolar no ensino médio e seus
benefícios em relação a saúde
mental e aos transtornos de
ansiedade.
2) Estudo do nível de LAVOR, T. P. 2023. Analisar como as aulas de
ansiedade em Educação Física escolar podem
estudantes do ensino estar contribuindo para a
médio: Análise das minimização dos quadros de
possibilidades de ansiedade de estudantes do
intervenção da ensino médio.
Educação Física
escolar no controle
da ansiedade em
escolares.
3) Níveis de 2. BL Souza, AM
ansiedade em Mendes, A Hermann,
escolares entre 9 e GAL Kreve – 2017
12 anos participantes
do subprojeto PIBID
de Educação Física
4) Aulas de SILVA, F. G. G. 2022. Trazer ao leitor a compreensão
Educação Física na sobre ansiedade e depressão;
adolescência: o compreender possíveis fatores
cuidado com desencadeantes da ansiedade e
sintomas de posteriormente a depressão na
12

ansiedade adolescência e apresentar


métodos de se combater a
ansiedade e depressão através
dos exercícios e atividades
físicas.
5) Depressão e PEM Venâncio, MVR
Ansiedade em Galvão, RN Silva.
adolescentes 2022
praticantes de
esporte e aulas de
Educação Física

6) A relevância da Silva, Andreza Cristina


educação física Almeida da.
escolar para saúde Pires, Geane Carla de
mental de escolares Souza. 2023
do ensino médio:
uma revisão de
literatura sobre o
transtorno de
ansiedade
Fonte: Própria autora (2023)
13

Discussão

Realizada a pesquisa e tendo lido os trabalhos científicos, podemos afirmar


que a produção do conhecimento relacionado ao campo da Educação Física escolar
e a ansiedade no contexto escolar são muito incipientes, em número muito reduzido
e com enfoque na mensuração de indicadores de transtornos de ansiedade
presentes em turmas escolares associados aos efeitos que comprovadamente o
exercício físico pode trazer na redução dos sintomas da ansiedade.
A maior parte dos trabalhos selecionados e disponíveis na literatura são de
revisões e grande parte oriundos de trabalhos de conclusão de curso (TCC), o que
por si, já demonstra uma fragilidade desse campo tão relevante visto que o interesse
pelo tema por estudantes que estão se formando revela algo de muito positivo e
uma contribuição efetiva para a organização desses conhecimentos tão importantes
para os professores de Educação Física.
No entanto, traz consigo a problemática de serem resultado do processo de
iniciação científica de licenciandos e, com isso, trabalhos produzidos em tempo curto
e com limitações epistemológicas e metodológicas que devem ser considerados no
âmbito das informações trazidas dentro desse contexto de produção científica. Outro
aspecto é a ausência do rigoroso processo de revisão dos pares adotados pelas
revistas científicas como critério para publicar pesquisas.
Importante ressaltar também os poucos trabalhos com informações e dados
empíricos da realidade da Educação Física escolar, pesquisas que partem da
realidade escolar concreta. Além da restrição, o enfoque epistemológico dos
trabalhos com dados empíricos foram estatísticos e metodologias quantitativas que,
por serem fechadas, trazem certos limites para compreender a realidade complexa
da disciplina e as relações que os alunos estabelecem com as práticas corporais na
Educação Física escolar para investigar os impactos disso na produção ou na
redução de sintomas de ansiedade.
Para entender melhor o comportamento dos resultados da pesquisa nas
bases de dados, utilizamos algumas mudanças para descritores mais genéricos
como, por exemplo, “Educação Física” e “ansiedade” ou “exercício físico” e
“ansiedade”. Os resultados aumentaram muito mas, ao observar os tipos de
trabalhos que retornaram, não tratavam da Educação Física escolar e sim pesquisas
em ambientes não escolares e nesse sentido, a literatura conta com uma
14

significativa produção. No entanto, o interesse dessa investigação foi compreender a


produção científica considerando o espaço escolar da Educação Física, suas
situações pedagógicas, possíveis pesquisas em turmas específicas de escolas e das
realidades da disciplina nas escolas.
O que pôde ser observado é que existem muitas pesquisas relacionadas ao
“desempenho escolar” e “ansiedade”, “escolares” e “ansiedade”, “exercício físico” e
“ansiedade” e com esses pares de descritores os resultados das pesquisas
retornaram trabalhos em maior número, com grande porcentagem ligadas a
pesquisas empíricas e com a utilização de metodologias quantitativas (pesquisas
com amostragem elevadas, mensuração de índices e níveis, análises estatísticas,
aplicação de procedimentos), mas se referiam mais ao papel do “exercício físico” e
seus benefícios na redução dos sintomas da ansiedade.
São conhecimentos fundamentais o uso de técnicas e escalas utilizadas
para mensurar níveis de estresse ou de ansiedade nas turmas e, de fato, são dados
altamente relevantes sobre a temática. Nos únicos dois trabalhos que encontramos
pesquisa empírica no campo da Educação Física escolar, “Níveis de ansiedade em
escolares entre 9 e 12 anos participantes do subprojeto PIBID de Educação Física”
(Souza; Mendes; Hermann; Kreve, 2017) e “Depressão e Ansiedade em
adolescentes praticantes de esporte e aulas de Educação Física” (Venâncio; Galvão;
e Silva, 2022) trazem investigações em turmas de escolares da Educação Física que
tratam da temática da ansiedade através da aplicação de escalas e de questionário
para levantar percentuais de alunos que apresentavam sintomas ansiolíticos.
Mas, a nosso ver, as relações que os alunos e alunas estabelecem com o
ambiente de aula da Educação Física, com as práticas corporais e as interações
com outros alunos durante as atividades, os modelos de ensino vinculado à
aprendizagem entre outros elementos qualitativos importantes parecem não
interessar as pesquisas como fatores relevantes ao estudo da ansiedade enquanto
um transtorno de saúde mental que podem ter múltiplas causas e variáveis, inclusive
as próprias formas do trabalho escolar e do modelo de ensino adotado, no caso da
Educação Física escolar, a própria forma do “exercício físico” nesse contexto da
aula.
Nos trabalhos encontrados, no entanto, sempre esteve a ideia de mensurar
os sintomas da ansiedade e associar o benefício generalizado do “exercício físico”
como terapia não direta para reduzir esses sintomas. Esses trabalhos só abordam o
15

exercício físico sem subjetividades, do ponto de vista de que toda prática corporal,
em si, de forma biológica, é capaz de trazer apenas benefícios para a diminuição de
sintomas da ansiedade.
Cabe discutir que, ao observarmos o transtorno de ansiedade de modo
interdisciplinar, como um problema multifatorial, não há como abordá-lo sem
envolver subjetividades, questões de natureza social, econômica, as representações
sociais de alunos e alunas. Vários dos trabalhos com escolares que se debruçaram
para identificar perfis ansiosos entre escolares, com amostras bastante
representativas, só para se ter um exemplo, confirmaram que níveis de sintomas de
ansiedade são maiores em alunas do sexo feminino do que em alunos do sexo
masculino, o que demonstra a necessidade de considerar elementos
interdisciplinares sobre a ansiedade.
Ao cruzar a relação entre ansiedade e escola, e no caso específico de nossa
pesquisa, à Educação Física, a coisa se complexifica por demais, visto que para dar
contar da multiplicidade de fatores pedagógicos e sociais que podem incidir sobre a
redução ou a intensificação de sintomas de ansiedade dentro de situações
pedagógicas reais durante as aulas necessitam ser investigadas de forma criteriosa.
Mesmo que o exercício físico ocorra dentro das aulas de Educação Física,
ao compreender a ansiedade como um transtorno ligado a saúde mental, há vários
aspectos situacionais das aprendizagens nos diferentes níveis de ensino que devem
ser considerados como fatores que podem interferir na redução mas, podem
também, a depender das concepções de Educação Física do professor, o modelo de
ensino, ou das representações sociais dos alunos sobre o seu corpo, os padrões
artificiais de beleza, entre outros, produzirem e reproduzirem situações que
aumentem os fatores de ansiedade
O primeiro trabalho selecionado “Educação Física Escolar e Transtorno de
Ansiedade: Uma revisão narrativa” de Cunha (2021) é um trabalho de conclusão de
curso que é exatamente uma revisão com os mesmos propósitos de nossa
pesquisa, apesar de diferenças metodológicas e de abordagem. A autora fez um
trabalho excelente e obteve uma lista de 10 artigos pesquisados (entre 2011 – 2021)
em bases virtuais de revistas científicas, mas utilizou, com objetivo de estudar a
Educação Física escolar, descritores mais amplos e mesmo assim obteve apenas
dois artigos vinculados a pesquisas realizadas no Brasil e oito artigos produzidos no
exterior.
16

Todas, no entanto, com metodologias quantitativas, aplicação de técnicas e


questionários para mensurar níveis de ansiedade e de atividade física para
correlacionar efeitos associados a esse último. Cunha (2021, p. 23) traz uma
reflexão importante que reivindica a Educação Física como uma disciplina que
oferece além de um simples exercício físico, mas que pode contribuir com o

“(…) desempenho escolar; da satisfação para fazer a aula de


educação física; das habilidades de socialização e das relações de
amizade; e melhora da motivação e bem-estar com redução da
ansiedade e depressão. Finalmente um dos estudos também destaca
a disciplina de Educação Física com uma abordagem interdisciplinar,
sendo uma disciplina que além de trabalhar mais no desenvolvimento
e capacidade física, também pode cumprir um papel de integração
escolar, higiene e respeito ao corpo, prazer e partilhar com os outros,
fraternidade e tipo de relacionamento gerando cidadania” (Cunha,
2021, p. 23).

Investigar, dentro da realidade contraditória da Educação Física, se as


atividades corporais promovem, de fato, a redução dos sintomas de ansiedade.
Investigar, aliás, será que qualquer exercício físico em qualquer contexto reduz
sintomas de ansiedade? Será que a Educação Física e as propostas de movimento
não podem criar situações que potencializam sintomas de ansiedade? As
interrelações entre alunos e alunas nas aulas durante as práticas corporais são
sempre benéficas a ponto de reduzir os sintomas de ansiedade?
Ao analisarmos a literatura é possível afirmar que existe uma gama de
conhecimentos importantes produzidos, principalmente sobre a relação entre
exercício físico e redução dos sintomas de saúde a partir de investigações
importantes que trazem uma enorme contribuição potencial para a Educação Física
escolar.
O transtorno de ansiedade e toda sintomatologia descrita em grande parte
dos trabalhos, descrevendo as escalas, protocolos e outras técnicas de pesquisa
quantitativas, assim como toda descrição dos mecanismos neurofisiológicos são
conhecimentos importantes não somente a pesquisadores, mas aos próprios
professores que atuam na Educação Básica poderem intervir pedagogicamente nas
17

suas práticas de modo fundamentado pelo saber científico que envolve os


transtornos de ansiedade.
Outro trabalho selecionado por essa revisão, o “Estudo do nível de
ansiedade em estudantes do ensino médio: Análise das possibilidades de
intervenção da Educação Física escolar no controle da ansiedade em escolares”, de
Lavor (2023) é também uma revisão bibliográfica, mas as conclusões são bem
distintas das dessa investigação. A autora faz um ótimo trabalho de pesquisa nas
bases de dados, descreve dez (10) artigos que tratam da relação entre ansiedade,
escolares e exercício físico, e nenhum específico que estude a Educação Física
escolar e sua realidade na relação com os transtornos de ansiedade.
Nos interessa aqui especialmente um dos artigos selecionados por Lavor
(2023), o artigo “Ansiedade, estresse e níveis de atividade física em escolares”
(Bezerra, et al.; 2019) que se propôs a compreender a correlação já aqui apontada
entre níveis de atividade física e a redução de sintomas de ansiedade para
demonstrar um padrão de pesquisa que não tem se adentrado ao campo específico
da Educação Física escolar, ou seja, e sim do “exercício físico”, que para além de se
mensurar níveis a partir de questionários, importante investigar a realidade do
ambiente ligado as aulas de Educação Física, afinal, é uma realidade que a
exposição do corpo e do movimento com a prática de esportes, dos jogos e todos os
conteúdos trabalhados nas aulas para alguns alunos podem assumir um significado
de satisfação, mas a depender das situações envolvidas podem se tornarem
também pontos de pressão ou mesmo produzir sintomas de ansiedade nos alunos.
A Educação Física escolar no contexto do artigo acima não é objeto de
estudo de apesar de se utilizar do termo atividade física em escolares, não houve o
interesse a se adentrar como que a disciplina influencia ou não nesses escolares e
seus níveis de atividade física, sem dizer no excessivo foco biologicista da
compreensão do corpo em movimento, como já dito anteriormente e, por essas
razões, não adentrou aos trabalhos selecionados por essa revisão.
O último trabalho da revisão intitulado “A relevância da Educação Física
escolar para saúde mental de escolares do ensino médio: uma revisão de literatura
sobre o transtorno de ansiedade” (Silva, 2023), mais um trabalho de revisão advindo
de um Trabalho de Conclusão de Curso que se encontra também com as limitações
e restrições quanto a disponibilidade da literatura sobre trabalhos empíricos ou
mesmo à especificidade da Educação Física escolar. E apesar da relevância do
18

trabalho, segue um padrão de não adentrar a discussão de pesquisas para levantar


informações sobre a Educação Física escolar, suas situações pedagógicas ou
culturais, as relações interpessoais, jogos escolares altamente competitivos ou os
modelos de ensino adotados. Abaixo descrevemos um trecho sintético da conclusão
da revisão.

“Os resultados nos permitiram concluir que os fatores que contribuem


para o desencadeamento do transtorno de ansiedade nos alunos do
ensino médio são: a pressão familiar, social e pessoal com a
disponibilidade maior do transtorno se desenvolver em indivíduos do
sexo feminino do que no sexo masculino. Há necessidade de um
atendimento psicológico, bem como a importância do papel do
professor de educação física e da disciplina como prevenção,
benefícios e intervenção em relação a saúde mental e o transtorno
de ansiedade como abordagem multidisciplinar”.

Os indicadores apontados são importantes, mas como vemos não se toca no


ambiente das práticas pedagógicas e das aulas efetivas da Educação Física escolar,
o esportivismo, os modelos de ensino, os conteúdos, as práticas corporais, a
percepção dos alunos sobre a disciplina, as atividades, quer dizer, relaciona-se com
a concepção teórica e metodológica das pesquisas de natureza quantitativa, onde
trabalham apenas a partir de técnicas fechadas e os sujeitos envolvidos na pesquisa
a partir apenas da lógica amostral não consegue evidenciar outros fatores de caráter
mais qualitativo, como as representações dos alunos, as percepções corporais, do
movimento, valores, afetos que também podem alterar estados de humor e mesmo
produzir sintomas de ansiedade. Mas esse tema é praticamente inexistente na
literatura acadêmica da Educação Física escolar.
19

Considerações

A realização deste estudo nos permitiu observar que, apesar da importância


da Educação Física escolar frente ao problema da ansiedade no contexto escolar, a
literatura acadêmica ainda não conseguiu êxito em produzir partindo da
particularidade da Educação Física enquanto disciplina pedagógica.
Os poucos trabalhos são resultados de revisão bibliográfica advindos de
Trabalho de Conclusão de Curso e os trabalhos com pesquisa de campo deram
prioridade a mensuração dos níveis de ansiedade associados ao exercício físico e
seus benefícios na redução dos sintomas, sempre a margem das particularidades da
Educação Física escolar e suas aulas na realidade escolar, e não apenas como o
lugar do “exercício físico” sempre benéfico, mas procurando compreender melhor as
práticas pedagógicas da disciplina de forma mais crítica, não apenas sob a lógica
biologicista do movimento, mas de uma perspectiva interdisciplinar que entenda o
movimento como sociocultural dentro do contexto escolar e com outros pontos
necessários para se investigar, fundamentalmente partindo das percepções e
representações dos alunos, dos conteúdos desenvolvidos, das formas de avaliação,
os valores das práticas e diálogos com conhecimentos da Educação Física escolar
cruzem outras áreas da educação, da saúde mental e da psicologia.
A ansiedade é um fator preocupante e deve ser discutida com prioridade no
contexto educacional, principalmente nas aulas de Educação Física. Isto posto, a
partir da leitura dos estudos selecionados, concluímos que, se por um lado, o
exercício físico é benéfico para a redução de sintomas da ansiedade, como várias
pesquisas já demonstraram, mas ao considerar a realidade da Educação Física
escolar é urgente a produção de conhecimentos que se interessem em compreender
qualitativamente as percepções dos alunos sobre as práticas corporais na disciplina,
compreender as situações de aprendizagem, sobre as práticas pedagógicas de
professores, variáveis que também podem interferir nos transtornos de ansiedade,
tanto para a redução, quanto para a potencialização, visto que envolvem outras
dimensões além do sistema aeróbico.
Por fim, entendemos que a Educação Física escolar é um meio de
intervenção possível no combate ao transtorno de ansiedade e na manutenção da
saúde geral no contexto escolar, mas que hoje não dispõe de conhecimentos que
20

tratam desse tema de forma a subsidiar as ações de professores que atuam na


disciplina.

Referências

BRANDÃO, M. L; GRAEFF, F. G. Neurobiologia das Doenças Mentais. 3ª Edição.


São Paulo: Lemos Editorial, 1996.

CRUZ, A. P. M; ZANGROSSI Jr, H; GRAEFF, F. G. Psicobiologia da Ansiedade.


In: Bernard Rangé. (Org.). 1ª Edição. São Paulo: Editora PSY, 1995.

ESPERIDIÃO, A. V et al., Revista de Psiquiatria Clínica. v.35, n.2, 2008.

FERNANDEZ, J. F; CRUZ, A. P. M.; BRANDAO, M. L. Padrões de respostas


defensivas de congelamento associados a diferentes transtornos de
ansiedade. Psicologia USP, v. 17, n. 4, p. 175-192, 2006. Disponível em . Acesso
em: 19 jun. 2016.

SERRA, A. S. L. Medo e ansiedade na adolescência. Psicologia em Curso, v. 1, n.


1, p. 34-46, 1989.

COSTA, E. R.; BORUCHOVITCH, E. Compreendendo Relações entre Estratégias


de Aprendizagem e a Ansiedade de Alunos do Ensino Fundamental de
Campinas. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 17, n. 1, p. 15-24, 2004.

BEIDEL, D. C., TURNER, S. M.; MORRIS, T. L. Psychopathology of childhood social


phobia. Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, v.
38, n. 6, p. 643-650, 1999.

PEREIRA, Kemilly Vitó ria Nunes. A influência da Educaçã o Física na ansiedade de


estudantes da terceira série. 2022. 45f. Trabalho de Conclusã o de Curso (Graduaçã o em
Educaçã o Física) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2022.

Você também pode gostar