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1 ANÁLISE DE CONJUNTURA ECONÔMICA

2 (Semana de 15 a 21 de janeiro de 2024)


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4 A necessária “Nova Indústria Brasil”: um prelúdio...
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6 Lucas Milanez de Lima Almeida1
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8 Esta semana, enquanto me preparava para escrever sobre as notícias econômicas
9 da semana passada, o governo brasileiro veio e lançou uma política industrial chamada
10 de “Nova Indústria Brasil” (NIB). Ela tem sido vista como uma bala de prata contra a
11 desindustrialização brasileira. Mas, antes de entendermos o contexto dessa medida,
12 vamos repercutir duas notícias da semana passada.
13 A primeira vem da Alemanha, país onde a economia diminuiu em 0,3%, puxada
14 pela queda nas exportações, nas vendas internas e na produção industrial. Com isso, o
15 país deve ser o de pior performance dentre os grandes em 2023. Além disso, como
16 maior economia europeia, isso também puxou para baixo os dados da União Europeia,
17 que em novembro chegou a três meses seguidos de queda na produção industrial.
18 A China foi um caso à parte, pois teve um crescimento de 5,2% em 2023. Esse
19 dado é melhor que o esperado pelo governo do país, mas ainda abaixo da média
20 histórica. Segundo os analistas ocidentais, o principal problema está no mercado
21 imobiliário chinês, que está em recessão há três anos. Além disso, devido às sanções e à
22 desaceleração da economia mundial, as exportações chinesas caíram pela primeira vez
23 desde 2016.
24 Apesar dos indicativos de que a economia dos EUA não está tão mal, os dados
25 internacionais confirmam que 2023 foi um ano de “pouso suave” e isso deve se repetir
26 no começo de 2024. É justamente isto que torna a “Nova Indústria Brasil” necessária
27 neste atual momento.
28 Não é de hoje que temos destacado a necessidade de o Brasil adotar uma política
29 industrial ampla e contundente. Isso não acontece desde os anos 1980, quando se iniciou
30 a Era da Globalização e a industrialização mundial passou por uma profunda
31 transformação. Agora, mais de 40 anos depois, a organização da produção de
32 mercadorias em escala internacional está sofrendo novas modificações. Isso se dá não
33 apenas em relação ao aspecto geográfico (antes concentrado na Ásia), mas também em
34 relação às tecnologias que guiam o desenvolvimento tecnológico (antes a informação e
35 comunicação). Essa é uma janela de oportunidade que o Brasil deve aproveitar.
36 O momento é tão crítico que até a vertente da literatura econômica que via a
37 política industrial com maus olhos passou a admiti-la, sob certas condições. Isso pode
38 ser visto em alguns pouquíssimos artigos de jornais que circulam no Brasil, mas,
39 principalmente, nos meios científicos internacionais. É tanto que até o Fundo Monetário
40 Internacional publicou recentemente um texto de lançamento do “Novo Observatório de
41 Política Industrial”, em que serão reunidos dados e documentos sobre o tema.
42 De acordo com o texto, as medidas adotadas por China, União Europeia e
43 Estados Unidos corresponderam a 48% do total em 2023. As medidas mais adotadas
44 foram os subsídios concedidos às empresas, mas também tiveram restrições às
45 importações e às exportações. Já as motivações variaram entre questões estratégicas de
46 competitividade, mudanças climáticas, segurança nacional e fatores geopolíticos.

1 1 Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB.


2 (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com).
3 Colaboraram: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo, Raquel Lima
4 e Paola Arruda.
47 O Brasil só agora entrou na disputa. Isto é sintomático, pois representa bem
48 nosso atraso em relação aos países mais avançados, quando o assunto é economia e
49 tecnologia. Reflete bem a nossa própria burguesia e nossos “liberais”, que em grande
50 parte se opõem ferreamente à “intervenção” estatal na economia (o que pode ser visto
51 pelas “opiniões” veiculadas nos maiores meios de comunicação). E isso pode ser um
52 problema.
53 Como se viu, a Confederação Nacional da Indústria aprovou a “Nova Indústria
54 Brasil”. Não é por menos, pois ela será a maior beneficiada pelas medidas e foi bastante
55 ouvida na elaboração da proposta. A questão é que os industriais brasileiros há muito
56 tempo não têm a mesma força política e, principalmente, econômica que já tiveram. Isso
57 pode pôr em xeque a efetividade das medidas, pois a grandeza da proposta requer
58 participação, também, do Estado e do setor bancário-financeiro. Se o objetivo é garantir
59 o desenvolvimento industrial sob os moldes capitalistas no país, será necessária a
60 participação ativa de todos nesse processo.
61 É esperar para ver até onde essa política vai na prática, porque na teoria ela
62 parece muito boa. Em breve falaremos mais dela.

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