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B748p
Bortoni-Ricardo, Stella Maris, 1945 -
O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa / Stella Maris Bortoni-
Ricardo. - São Paulo : Parábola Editorial, 2008.
(Estratégias de ensino ; 8)
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ISBN: 978-85-88456-89-1
Folha de rosto
Dedicatória
Sumário
4. O professor pesquisador
Referências bibliográficas
Orelha da capa
Introdução:
A pesquisa científica
O. (letra inicial do nome da aluna) - Ah, sim, primeiro eu queria saber pra quem
... este texto aqui, o público que vai ser dirigido, se é pras alunas de Projeto 3,
ou se é para pesquisadoras e qual o objetivo deste texto. Assim, pra quem ele
foi dirigido, porque eu acho que ficou meio...
P (professora) - Interlocutor, quem é nosso interlocutor? Quem é nosso leitor?
O. - E segundo, qual é o objetivo deste texto?
P. - Perfeito. Todo texto tem que ter... ele é direcionado a alguém, não é? Todo
texto é direcionado a alguém. A... a carta é destinada ao destinatário da carta,
o... jornalista que escreve no jornal já está se dirigindo aos leitores daquele
jornal. Aí é que está, você faz uma pergunta muito instigante e uma crítica
muito boa ao texto, porque o texto não, não...Quem é que eu tinha em mente
quando escrevi isso? Então, ah.. em princípio quem vai ler... Este texto foi
direcionado a professores. Agora ah... o que você está sugerindo...
O.- Que a gente primeiro diga a quem o texto se dirige.
P. - Se ele se dirigir a professores, você acha que está bem como está, merece
alterações? E se ele se dirigir a alunos, pensemos nessa outra possibilidade,
se ele se dirigir a alunos, então quer dizer, professores em formação inicial,
alunos que estão em curso inicial de formação de professores. Então este
pode ser um texto lido na formação inicial e pode ser um texto também para
professores que sejam alunos de formação continuada, ou seja, é um texto
para professores em formação inicial ou continuada. Então o que nós vamos
fazer é definir bem o público leitor e vamos definir objetivos, que... que vocês
acham que eu devo colocar em termo de objetivos? Qual é o objetivo deste
texto?
T. - Acho que seria ensinar como pode fazer pesquisa, né? Acho que ajuda a
fazer uma pesquisa.
A. - Ajuda até mesmo nós a fazer um pós-doutorado.
P. - Um pós... um mestrado, tá, um mestrado.
T. - E quanto ao público, eu acho que é interessante a gente fazer isso no
início, porque a gente já tem uma noção de como fazer.
P. - Ah.. Uma sugestão de T., ela acha que nós podemos... que pode ser no
início da formação inicial, né?
Diário de bordo
Pesquise em livros ou na internet definições para positivismo e
interpretativismo. Lembre-se de registrar suas respostas em um caderno
ou arquivo digital.
P. - O positivismo foi justamente o que vocês leram: ele tem alguns princípios,
algumas premissas, alguns pressupostos, um deles, por exemplo, é que haja
uma total... uma precisão total e também um distanciamento total entre o
sujeito cognoscente, o pesquisador, e aquilo que ele está pesquisando, que é
o objeto cognoscível. Nas ciências exatas, é assim. Nas ciências do homem,
nas ciências humanas, isso já pode ser mais difícil, porque a simples presença
do pesquisador já pode alterar o comportamento e a postura de quem está
sendo pesquisado. Quando surgiu uma alternativa para o paradigma
positivista, era justamente uma alternativa que não buscasse necessariamente
a explicação, de tal maneira que você tenha uma variável explicação e uma
variável explicada, né? Você quer estabelecer uma relação entre, entre...
vejamos, vejamos... entre o consumo de... de açúcar e... o consumo de açúcar,
chocolate... e problemas de flutuação no humor, por exemplo. Ou alguma coisa
um pouco mais fácil de medir. Ah, consumo de açúcar... uma coisa que eu vi
esses dias, consumo de refrigerante na base de cola e certos tipos de doença,
tô tentando me lembrar qual era a doença, Pepsi-cola, Coca-cola essas coisas,
esses, esses, o consumo desses refrigerantes e certas doenças, certo?
Consumo de refrigerante como a Coca-cola, Pepsi-cola, né? E a variável
explicada seria a doença que se quer pesquisar, como, por exemplo, algumas
doenças autoimunes, umas doenças assim. Ah... na perspectiva positivista
quantifica-se, quer dizer, você trabalha com dois grupos, um grupo que está
sendo sub... que consome, são consumidores é...? (Então, qual é a variável
explicação?) Consumo de refrigerantes, dividido em dois níveis:
Um grupo que consome um alto nível de refrigerantes e um outro que não
consome e depois, durante um período, e depois você vai ver a incidência
daquela moléstia, se o consumo de tal refrigerante é... teve uma, uma, uma
consequência na incidência daquela doença. Isso é uma possibilidade, então o
que se faz? Geralmente faz-se assim, você tem um... dois grupos, um que está
consumindo bastante aquele produto, outro que não consome e aí depois
ambos os grupos são acompanhados pra ver qual foi o... o resultado em
termos daquela doença. Ah... como é que se faz isso? Faz-se assim: primeiro
você tem um grupo que consome muito, altas doses, e pode ter um grupo que
consome medianamente e um grupo que não consome, você quantifica o
consumo. Ou você pode ter dois grupos, um que consome, outro que não
consome. E depois você vai avaliando, vai contando também quantas pessoas
do, daquela amostra total adoeceram e aí vai ver se houve uma correlação
positiva entre o consumo do refrigerante e a doença. Isso quer dizer, se aquele
grupo que consumiu mais adoeceu mais, quem consumiu menos adoeceu
menos. Se isso aconteceu... não é em termo de grupo, é de quantos membros
daquele grupo adoeceram, né. Depois se faz uma, uma... um teste estatístico
pra ver se aquela correlação não é uma... Não pode ser atribuída ao simples
acaso, ao simples azar. Uma coisa que poderia ter acontecido de qualquer
forma. Se há uma comprovação estatística de que aquela correlação existe.
Diário de bordo
Para fixar o que aprendemos até aqui, responda à pergunta: o que
caracteriza uma pesquisa científica no âmbito do paradigma positivista?
Dê exemplos.
Dialetos
Escolaridade
padrão não padrão
Universitários Ø–u 1–u
Supletivistas Ø–s 1–s
Figura 1. Delineamento da pesquisa
Diário de bordo
Pesquise na internet ou em um livro de introdução à estatística o que é
“sorteio aleatório”.
INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS:
a) Da amostra:
Na turma da disciplina referida foram sorteados 24 alunos. Os alunos de
números pares ouviram o tratamento zero (Ø: sentenças do dialeto padrão). Os
de número ímpar ouviram o tratamento um (1: sentenças do dialeto não
padrão). O mesmo procedimento foi adotado na turma de supletivistas.
b) Da variável independente:
Foram gravados por uma professora de língua portuguesa, em um
ambiente à prova de ruído, dois textos compostos de nove sentenças cada um.
As sentenças dos dois textos são idênticas, exceto pelo fato de que, no
segundo, havia uma ocorrência da variante não padrão da regra de
concordância verbal2. O primeiro texto ficou assim constituído:
1. Quando acordei, os raios de sol penetravam pelas frestas do barracão.
2. As aves devem ser mais felizes do que nós. Acho que entre elas existem
amizade e igualdade.
3. A vida numa casa sem conforto e a falta de boa alimentação trazem
problemas para o desenvolvimento da criança.
4. Nem quando são consultados, eles se exaltam ou provocam briga. Não
fazem estas pessoas nenhuma arruaça na favela.
5. Tenho pavor destas mulheres da favela. Tudo querem saber. A língua
delas é como os pés de galinha que espalham tudo.
6. Estas crianças são as mais maltrapilhas da cidade. O que elas vão
encontrando nas ruas vão comendo.
7. Em janeiro, quando as águas que desceram do morro invadiram os
armazéns, vi os homens jogando sacos de arroz no rio.
8. Eu me levantei às 7 horas. Estava alegre e contente. Depois é que
vieram os aborrecimentos.
9. Minha falecida mãe era muito boa. Queria que eu fosse professora. Isso
foi o que me disseram minhas tias que a conheceram.
O segundo texto ficou assim:
1. Quando acordei, os raios de sol penetrava pelas frestas do barracão.
2. As aves devem ser mais felizes do que nós. Acho que entre elas existe
amizade e igualdade.
3. A vida numa casa sem conforto e a falta de boa alimentação traz
problemas para o desenvolvimento da criança.
4. Nem quando são consultados, eles se exaltam ou provocam briga. Não
faz estas pessoas nenhuma arruaça na favela.
5. Tenho pavor destas mulheres da favela. Tudo quer saber. A língua delas
é como os pés de galinha que espalham tudo.
6. Estas crianças são as mais maltrapilhas da cidade. O que elas vão
encontrando nas ruas vai comendo.
7. Em janeiro, quando as águas que desceram do morro invadiu os
armazéns, vi os homens jogando sacos de arroz no rio.
8. Eu me levantei às 7 horas. Estava alegre e contente. Depois é que veio
os aborrecimentos.
9. Minha falecida mãe era muito boa. Queria que eu fosse professora. Isso
foi o que me disse minhas tias que a conheceram.
c) Da variável dependente:
Os sujeitos receberam um questionário com as instruções escritas, onde
indicaram sua idade, sexo e o curso. Em seguida, ouviram a gravação e a
avaliaram usando uma escala de 7 pontos, onde, à extremidade 1 foi arbitrada
a avaliação “absolutamente correta” e à extremidade 7, a avaliação
“absolutamente incorreta”. Além das instruções escritas, os sujeitos ouviram,
antes da audição das sentenças, as seguintes instruções gravadas pelo mesmo
falante:
“Você vai ouvir, apenas uma vez, a leitura de 9 sentenças isoladas,
retiradas de um texto. Preste bastante atenção e, quando terminar de ouvir as
sentenças, dê sua avaliação quanto à correção delas, assinalando apenas um
item da escala que você encontra na folha que recebeu. Você está avaliando a
correção gramatical. Não se preocupe com o conteúdo”.
Ambos os grupos, divididos em subgrupos de 6 alunos, ouviram as
gravações em ambiente à prova de ruído, usando audiofones. Dessa maneira,
as condições de aplicação do experimento foram homogeneizadas o mais
possível. A mesma pesquisadora conduziu todos os eventos.
ANÁLISE DOS DADOS: os dados obtidos no experimento estão descritos nas
tabelas 1 e 2 seguintes e no gráfico número 2.
Escolaridade Soma dos escores Média
Universitários 36 3,0
Supletivistas 34 2,8
Tabela 1. Resultados para o dialeto padrão
Figura 3. Relação entre escolaridade e dialetos sobre a avaliação da variante não padrão
da regra de concordância verbal.
C.- Eu também relacionei, gostei deste texto, relacionei com outra matéria que eu
fiz. Era uma pesquisa quantitativa, e a gente colheu dados, fez uma pesquisa
bibliográfica e foi... foi muito interessante pra mim essa experiência pra poder
entender a pesquisa quantitativa e esse projeto também...
P- Qual era a temática?
C.- O meu foi a influência... a influência dos pais, a influência socioeconômica
na... agora eu me esqueci, até escrevi aqui. É, a influência socioeconômica...
P.- A influência do status socioeconômico dos pais.
C.- Isso, é.
P- No rendimento das crianças?
C- É, No- não, não, no rendimento não, lembrei, agora eu me lembrei. A
influência dos pais na escolha do curso. Na escolha pro curso da faculdade, eu fiz
isso, a gente fez pesquisa aqui, aqui na pedagogia e lá na medicina pra saber por
que eles escolheram isso. Qual era o intuito deles com esse curso, né? E ver se
os pais deles influenciam nisso. Aí eu consegui entender.
P- E qual foi a sua conclusão da pesquisa? Na pesquisa quantitativa que você
fez?
C- Na pesquisa quantitativa? Que, assim, tem certa influência dos pais no caso
dos médicos, dos que escolhem medicina tem certa influência quando tem pais
médicos e tal e tem influências socioeconômicas sim. A gente vê que aqui na
pedagogia tem mais alunos que... que assim, são de mais de baixa renda, porque
não têm oportunidade. E como o curso de pedagogia ele é mais acessível, aí
escolhem o curso de pedagogia, né? É mais acessível por causa da nota, do
vestibular.
Diário de bordo
Diário de bordo
Pense numa sala de aula em uma escola de periferia frequentada por
jovens provenientes de famílias de baixa renda. Imagine os alunos
recebendo um texto para leitura e discussão e os problemas de
compreensão do texto que poderão surgir, seja porque o tema não faz
parte do universo deles, seja por outras razões.
Diário de bordo
Pense em um tema que pode ser desenvolvido por meio de uma pesquisa
quantitativa. No projeto, você vai relacionar dois fatores, por exemplo, a
formação de professores de biologia em nível superior e a aprendizagem
dos alunos de biologia nas aulas. Registre a hipótese principal que vai
funcionar como guia de sua pesquisa. Em seguida, descreva uma
pesquisa qualitativa sobre o mesmo problema, que poderá complementar
a pesquisa quantitativa anterior, na medida em que poderá revelar dados
da interação dos professores de biologia com os seus alunos, que não
apareceriam nos resultados quantitativos da primeira pesquisa.
Diário de bordo
Diário de bordo
Diário de bordo
Reflita e responda:
1) O que significa ser um professor pesquisador?
2) Que aspectos de sua ação pedagógica constituem problemas que
mereceriam investigação?
3) Que benefícios a investigação desses problemas poderá trazer a seu
trabalho?
Não se esqueça de registrar suas respostas!
Sobre o professor pesquisador leia as seguintes obras: O papel da pesquisa
na formação e na prática dos professores, organizada por Marli André, e O
professor e a pesquisa, coordenada por Menga Lüdke.
Diário de bordo
Volte aos registros sobre temas que poderão ser objeto de investigação
em sua prática docente, que você elaborou nesse diário de bordo.
Escolha um desses temas e faça observações em sala de aula que lhe
permitam escrever uma página de um diário com anotações relacionadas
ao tema escolhido.
A PESQUISA PILOTO
Objetivos específicos
Além do objetivo geral, podem ser postulados também alguns objetivos
específicos, que contribuem para apontar ao pesquisador caminhos que vai
percorrer ao longo do seu trabalho. Veja alguns exemplos de objetivos
específicos relacionados ao objetivo geral já postulado.
1. Investigar a postura física da professora no momento de suas
ações responsivas.
2. Observar se a professora faz contato visual com o aluno que fez a
intervenção.
3. Observar se a professora menciona o nome do aluno.
4. Observar os movimentos da professora durante suas ações
responsivas, inclusive movimentos de locomoção na sala de aula.
5. Observar se as intervenções mais frequentes dos alunos são
individuais ou coletivas.
6. Observar os momentos da dinâmica de sala de aula que
favorecem a intervenção dos alunos.
7. Observar se os alunos trocam ideias entre si, construindo um piso
paralelo de fala antes de suas intervenções.
8. Observar se há intervenções solidárias em que um aluno
completa ou ratifica a intervenção de um colega.
9. Observar se em sua ação responsiva a professora acolhe
positivamente, por palavras, expressão facial e gestos, as
intervenções dos alunos.
10. Observar se o componente verbal da ação responsiva inclui
apreciação positiva da intervenção e uma expansão da mesma.
11. Observar se as ações responsivas da professora permitem a
reconceptualização da questão pelo aluno.
12. Observar como se processam as reconceptualizações que os
alunos realizam mediante uma ação responsiva positiva da
professora.
13. Observar se as ações responsivas geram estratégias de trabalho
entre os alunos como, por exemplo, a tomada de notas em seus
cadernos.
Asserções
A construção detalhada dos objetivos — geral e específicos — e de
definições vai facilitar o passo seguinte, que é a geração de asserções.
Na pesquisa qualitativa, não se levantam hipóteses como na pesquisa
quantitativa, mas é aconselhável elaborar asserções que correspondam aos
objetivos. A asserção é um enunciado afirmativo no qual o pesquisador
antecipa os desvelamentos que a pesquisa poderá trazer. Por exemplo, em
relação aos objetivos que vimos, podem-se gerar várias asserções como as
seguintes:
Diário de bordo
REFLEXIVIDADE
Dado obtido em entrevista, na qual a aluna entrevistada está lendo de seu caderno e
explicando o que leu.
(E) - É a cadeia alimentar + né? O ciclo da vida puque cada uma vai comendo um
animal ou um vegetal pra se alimentá /.../
(E) - A - Isso aqui é a vida na água + fala assim + da fotossíntese + né como é que
eles respira + como é que as plantas fabrica seu próprio alimento + fabricam
[corrigindo] o oxigênio para os peixes respirarem. Aqui a cadeia alimentar/.../
(E) - (passando a folha do livro) Isso aqui nós vamu aprendê. Isso aqui também.
Sim + esse aqui foi como a + o homem e a água + né? Como o homem + começou
+ né + a utilizá a água e como ele tá precisando + como ele precisa da água. Esse
aqui é água vezes progresso. (continua passando as folhas). Agora esse + as plantas
+ o sol + né + que já é capítulo onze. Aqui é as camadas de um terreno + que o
solo com a argila + a areia + húmus + camada de argila. Esse aqui fala sobre o
surgimento e a evolução do solo. No capítulo treze tem o home que + que ele
modifica o solo + que ele coloca + assim + coisas + que ele modifica o solo. Que
ele provoca erosões às vezes. Os minerais e o homem + né + que fa + fala sobre
rochas...
REPRODUZIDO DE BORTONI-RICARDO, 2004, P. 70.
1 O Projeto Currículo Bidialetal de Língua Portuguesa para o Primeiro Grau foi apoiado
pelo CNPq. A proposta inicial foi elaborada pelas professoras Stella Maris Bortoni-Ricardo
e Lúcia San Tiago Dantas Quental. Participaram da pesquisa as seguintes mestrandas e/ou
bolsistas: Maria Avelina de Carvalho, Alesandra Vanessa de Aguiar, Cíntia da Costa
Côrrea, Rosa Cecília Freire da Rocha, Vera Aparecida de Lucas Freitas, Márcia Gutierrez
Aben-Athar e Rachel do Valle Dettoni
Pesquisa colaborativa na
formação continuada de
professores
Diário de bordo
Diário de bordo
Descrição do projeto
O projeto é uma pesquisa de base etnográfica, sociolinguisticamente
orientado, a ser conduzido no 1° ciclo do ensino fundamental, mais
propriamente na fase imediatamente posterior à alfabetização, onde se deve
processar a consolidação do aprendizado da leitura e da escrita (fase cuja
denominação, em série ou ciclo, varia nos diversos sistemas estaduais ou
municipais).
A vertente etnográfica de estudos sociolinguísticos educacionais propõe
uma teoria da aprendizagem baseada na interação verbal em sala de aula.
Sua metodologia, essencialmente qualitativa e interpretativista, consiste de
registros etnográficos e microetnográficos do processo interacional.
Para Cook-Gumperz (1987), essa vertente de pesquisa estuda
fenômenos linguísticos em ambientes escolares, buscando responder a
questões educacionais. As formas linguísticas interessam à pesquisa na
medida em que permitem identificar, nos eventos em sala de aula,
especialmente a compreensão que os alunos atingem, situando o contexto
social da cognição, onde a fala é o elo entre o cognitivo e o social. Para
aprender, os alunos se baseiam no que já sabem, conferindo significado ao
que a professora lhes apresenta. O discurso de sala de aula permite ao
pesquisador refletir sobre os processos que os alunos usam para relacionar o
novo conhecimento ao conhecimento que já detêm.
Objetivo
O objetivo geral do projeto é identificar, descrever e analisar rotinas no
trabalho pedagógico, voltadas para o desenvolvimento de habilidades
linguísticas, que sejam produtivas, isto é, que resultem na aprendizagem dos
alunos, manifesta em sua fala ou texto escrito. Essas descrições de rotinas,
denominadas “protocolos interacionais” na pesquisa, são definidas como
sequências interacionais bem sucedidas no trabalho pedagógico.
A descrição e análise dos protocolos fornecerão subsídios para a
produção de textos para formação inicial e continuada de professores e para
a elaboração de material didático que eles possam adotar, a fim de obter
melhores resultados nos seus esforços de mediar o desenvolvimento das
habilidades linguísticas de seus alunos.
Na análise das rotinas, a proposta do projeto vai privilegiar aquelas em
que o professor procura estimular os alunos a uma reflexão sobre a estrutura
e os usos da língua portuguesa, que é o código que todos partilham. Muitas
dimensões e propriedades da língua oral e escrita poderão ser objetos dessa
reflexão, desde a correspondência entre sequências fônicas e representação
gráfica; as características da oralidade e da escrita, inclusive as regras
fonológicas e morfossintáticas em variação e mudança, até a estrutura
textual e práticas socioculturais da apropriação da língua escrita. Vamos
denominar esse processo de desenvolvimento da consciência linguística,
que Alliende & Condemarín (1987, 46) descrevem, como “o conhecimento
consciente do indivíduo dos tipos e níveis dos processos linguísticos que
caracterizam as expressões faladas”, entre os quais o de codificar
foneticamente a informação linguística.
Cox & Assis-Peterson (1999, 130), refletindo sobre a contribuição de
David Olson para a alfabetização, observam:
Aprender a escrever uma língua, na perspectiva de Olson, é aprender a pensar sobre a
língua. Para dizer de outro modo, na escrita, a atividade linguística é inalienavelmente
uma atividade metalinguística. Todo sistema de escrita cristaliza certo modo de
recortar os enunciados, ou seja, certo conjunto de categorias analíticas historicamente
construídas. Assim, quem aprende a escrever uma determinada língua necessariamente
reorienta sua percepção do fenômeno linguístico.
O seguinte enunciado de C. Cazden (1988, 99) é também bastante
elucidativo do objetivo descritivo a que o projeto se propõe:
Temos de considerar como as palavras ditas em sala de aula afetam os resultados da
educação: como o discurso observável de sala de aula afeta os processos cognitivos
não observáveis de cada um dos participantes e, consequentemente, a natureza daquilo
que os alunos aprendem.
Metodologia
OBJETIVO GERAL: Como já vimos, o objetivo geral do projeto é
identificar, descrever e analisar rotinas no trabalho pedagógico, voltadas
para o desenvolvimento de habilidades linguísticas, que sejam produtivas,
isto é, que resultem na aprendizagem dos alunos, manifesta em sua fala ou
texto escrito.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Os protocolos interacionais identificados
por meio de observação participante em salas de aula focalizarão rotinas
bem sucedidas voltadas principalmente para o desenvolvimento da reflexão
linguística dos alunos. A análise desses protocolos permitirá a postulação de
objetivos específicos e das asserções referentes a eles.
Listamos a seguir algumas asserções referentes a objetivos específicos
do projeto. No desenvolvimento da investigação, esse inventário de
asserções poderá ser alterado, reduzido ou ampliado, para melhor ajustar-se
às circunstâncias da pesquisa.
Exemplos de asserções relacionadas ao desenvolvimento da
consciência fonológica e do princípio alfabético:
1. A descrição explícita da relação entre sequência fônica e notação
alfabética é uma estratégia que favorece a alfabetização.
2. A ênfase na distinção de padrões sonoros em palavras e frases pode
contribuir para o processo de alfabetização.
3. A escolha de palavras e frases que são parte do universo cultural
dos alfabetizandos para o trabalho de reflexão da relação entre sons
e letras contribui para despertar o interesse do alfabetizando.
4. A análise dos “erros” na produção escrita do alfabetizando,
conduzida individualmente ou em grupo, vai permitir que os
autores do texto tomem mais consciência da relação entre padrões
sonoros e convenções ortográficas.
5. A antecipação pela professora de problemas potenciais na escrita de
um texto poderá basear-se em conhecimentos que ela detém sobre a
fonologia suprassegmental e a fonologia segmental da variedade do
português da região.
6. A identificação de problemas mais produtivos na escrita dos alunos
servirá de balizamento para o trabalho pedagógico subsequente.
7. Estratégias de andaime entre professor e alunos e entre alunos
poderão trazer benefícios para o desenvolvimento da consciência
fonológica.
8. A adoção de um diário no qual o professor registra problemas
individuais e coletivos no reconhecimento da correspondência som-
letra é uma estratégia que favorece a definição da agenda e o
planejamento das aulas.
9. Um desenvolvimento gradual do vocabulário alfabético no
repertório dos alunos é uma prática facilitadora da aprendizagem da
leitura e escrita.
10. A ênfase em rimas, aliterações e homofonias favorece a percepção
da relação som-letra.
11. A construção de um ambiente alfabetizador, incluindo mala de
livros, biblioteca, brinquedoteca, permite que a criança aprenda
brincando.
12. Atividades como teatro, jogral, jornal escolar e programas de rádio
ou vídeo favorecem a familiarização com a língua escrita.
13. Poemas e canções que promovem uma reflexão metalinguística são
recursos favoráveis para o desenvolvimento da alfabetização.
Exemplos de asserções relacionadas ao desenvolvimento da língua
oral e da participação dos alunos em sala de aula:
1. A administração do piso conversacional e das estruturas de
participação pela professora é uma estratégia favorecedora da tomada
de turnos pelos alunos.
2. As reações positivas da professora às intervenções dos alunos podem
estimular a fala e processos cognitivos de aprendizagem.
3. O processo de aprendizagem da leitura e da escrita se beneficiará de
estratégias verbais e não verbais positivas que a professora vai
empregar sempre que qualquer aluno toma a palavra para fazer
perguntas ou trazer contribuições.
4. A postura física acolhedora da professora, marcada pela posição
frontal em relação ao aluno que interveio, será interpretada por ele
como um estímulo a sua iniciativa.
5. Para munirem-se de maior confiança quanto à pertinência e à
correção de suas intervenções, os alunos tenderão a trocar ideias
entre si em voz baixa, constituindo um piso paralelo de fala, antes de
suas intervenções em voz alta.
6. As intervenções solidárias de colegas, mediante uma intervenção
inicial de um aluno, vão contribuir para que ele se sinta mais
confiante e podem desencadear maior empenho do professor em sua
ação responsiva.
Exemplos de asserções relacionadas ao desenvolvimento da escrita e
da leitura:
1. A elaboração de textos coletivos é uma boa oportunidade para a
professora chamar a atenção dos alunos sobre características
específicas dos textos orais e dos textos escritos, antes mesmo que
eles desenvolvam um grande domínio da escrita.
2. Nos relatos de experiência pessoal, a professora pode salientar a
estrutura narrativa e a organização das informações.
3. A sequência cronológica de eventos de uma narrativa pode se tornar
mais evidente com o uso de diagramas.
4. A produção de um texto de instruções, como uma receita culinária
ou a montagem de uma pipa, torna-se mais simples quando
precedida de uma demonstração das respectivas ações em sala de
aula.
5. A elaboração de cartas ou bilhetes é mais interessante quando
contextualizada em situações reais.
6. Diferenças no nível de formalidade da língua podem ser trabalhadas
nos diálogos que constam de narrativas.
7. O preenchimento de balões em histórias em quadrinho favorece a
construção de diálogos orais e escritos.
8. A prática da refacção de textos, precedida de discussão sobre
aspectos do texto que merecem revisão, torna a produção de texto
uma atividade mais espontânea e prazerosa e dá aos alunos mais
confiança.
9. A identificação de informações factuais em textos jornalísticos
contribui para o desenvolvimento de esquemas mentais.
10. A identificação de características editoriais e textuais em livros
infantis ajuda a familiarizar os alunos com esse gênero.
11. O contato com textos sociais e com objetos portadores de texto
prepara os alunos para a participação em práticas sociais letradas.
12. Perguntas do professor relativas a informações implícitas no texto
lido ajudam a desenvolver o leitor crítico.
13. A discussão sobre intertextualidade em um texto lido desenvolve
estratégias de leitura competente.
14. Paráfrases orais e escritas de textos levados à sala de aula
constituem uma estratégia producente no desenvolvimento de
habilidades de elaboração textual.
15. A construção de uma “árvore de poemas” e de painéis temáticos é
atividade prazerosa e estimuladora do trabalho com a leitura e a
escrita.
16. O hábito de consulta a dicionários e enciclopédias favorece a
ampliação do vocabulário e o domínio da ortografia.
17. O contato dos alunos com sistemas (simples) de catalogação de
livros ajuda-os a organizar informações.
18. O reconto de histórias com a alteração do narrador e ponto de vista
ajuda os alunos a trabalhar cadeias anafóricas e outros recursos de
coesão textual.
Protocolos interacionais
Vejamos agora dois exemplos de protocolos interacionais que compõem
o banco de dados do projeto. O primeiro faz parte de pesquisa original de
Rosi Valéri Corrêa Araújo, Rótulos e propagandas na alfabetização:
formam ou apenas informam?, mestrado defendido no Programa de Pós-
Graduação em Educação, FE – UnB, 2004. O segundo é parte do acervo
que está sendo montado no projeto.
2. Protocolo de leitura2
A Professora (P) está trabalhando com um aluno de 6ª série (SC). Estão
lendo e comentando um capítulo do livro de história do Brasil.
1. Então vamos ah... começando aqui: (lendo) “A história do Brasil não
é um processo evolutivo e linear em direção ao progresso”. A gente
falou nisso muito depressa. O que é um processo evolutivo linear?
[A professora destaca dois itens lexicais que já haviam sido discutidos na sessão
anterior de leitura com o aluno.]
2. SC: É um processo que não tem ruptura já é...
[O aluno recupera a palavra ‘ruptura’ que havia lido na sessão anterior.]
3. P. Muito bem! Um processo que não tem rupturas, como se ele fosse
assim, direto sem rupturas, mas não é. Não é, tem sido um processo
repleto de rupturas, avanços, recuos e permanências. Então como é
que tem sido?
[A professora relembra os itens lexicais que haviam usado para comentar o
conceito de ‘ruptura’, conforme usado pelo autor do texto.]
4. SC: Vai e volta.
5. P. Vai e volta, avança, recua. Recua é o contrário de avança não é?
Cê sabe, do futebol, o jogador avança para o gol e depois?
6. SC: Recua.
7. P. Recua. Ele pode recuar de costa, mas ele pode virar pra ir lá pro,
pro ah, pro campo, volta pro campo dele pra proteger...
8. SC: O gol.
[Ao começarem a trabalhar com a comparação com o futebol, o aluno mostra ter
entendido perfeitamente o que é ‘avançar’ e ‘recuar.]
9. P. O gol. Então ah... ah... um jogo de futebol é um permanente
avanço e recuo, mas esse... eles também fazem os passes, mas o
movimento dos jogadores é de passar e recuar, né? A história do
Brasil também é… há avanços e recuos, né? Vamo ver alguns desses
avanços e recuos. E muitas rupturas também, lembra o que é
ruptura?
10. SC: É ruptura é...
11. P. Uma coisa que?
[Ao fazer a pergunta e constatar que o aluno busca as palavras adequadas para
responder, a professora demonstra o que é ‘partir ao meio’ unindo as mãos
fechadas e afastando-as rapidamente. O aluno, então, fornece a resposta
adequada.]
12. SC: Se parte no meio.
13. P. Muito bem! Uma coisa que se parte, uma coisa que rompe.
Ruptura é uma palavra parente do verbo romper, correto? Uma coisa
que rompe, que rasga, que se parte, então, houve muitas rupturas,
né? Ah... depois nós vamos voltar um pouco aqui naquele, naquele
esquema que você já fez. Que fizemos juntos. Agora então nós
vamos trabalhar essas... esses avanços e essas rupturas. Então.
Vamos (lendo) “olhando para trás e refletindo sobre o presente”. O
que nós fizemos aqui? Nós olhamos para trás e refletimos sobre o
presente, ah... observamos que mudanças ocorreram, “mas
infelizmente quantas permanências...” Permanência é o contrário de?
[ A professora mostra a relação morfológica e semântica entre o verbo ‘romper’ e
o substantivo ‘ruptura’. Tendo comentado o termo ‘ruptura, a professora agora
quer dar ênfase ao termo ‘permanências’.]
14. SC: de... permanências?
15. P. Olha que... de?
16. SC: De rupturas.
17. P. De mudanças não é? Então, esse autor está sempre usando essas
palavras, mudanças quando a... as coisas se alteram e permanência
quando as coisas?
18. SC: Continuam.
19. P. Continuam iguais, exatamente. Então ele está dizendo, quando ele
está dizendo assim: mas infelizmente quantas permanências? (...)
Que que ele diz, que que cê acha que ele está dizendo “mas
infelizmente quantas permanências”?
20. SC: Por quê...
21. P. Lembra-se da herança colonial? Era boa ou era ruim?
[A professora reaviva a memória do aluno para que ele possa fazer a inferência
corretamente, entendendo por que o autor usou o advérbio “infelizmente”.]
22. SC: Era ruim.
23. P. Era ruim. Então quando ele diz “mas infelizmente quantas
permanências” o que será que ele tem em mente?
24. SC: Que não mudaram muita coisa.
25. P. Coisas que não mudaram para?
[A professora conclui o turno com uma entoação inconclusiva, ascendente, para
que o aluno complete o enunciado.]
26. SC: (***)
27. P. Para melhor, né? Coisas que não mudaram. Me dê um exemplo aí
de uma coisa que não mudou que você aprendeu lá da herança do
Brasil colonial que não mudou muito.
28. SC: Ham...
29. P. O que você pensa?
30. SC: É...
31. P. Lembra a sociedade colonial, ela era, era o quê?
32. SC: Era... era como...
33. P. Era patriarcal.
34. SC: Era patriarcal.
35. P. Era rural.
36. SC: Rural e conservadora.
[A professora constrói andaimes que facilitem ao aluno o
entendimento da argumentação do autor.]
1 O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que acontece desde 1990,
teve nova estrutura definida em 2005. Agora é composto por dois processos de avaliação
distintos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), que é sistêmica e aplicada
em amostra aleatória de estudantes, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(ANRESC), mais extensa e detalhada, com foco em cada unidade escolar.
2 O livro didático de história do Brasil para a 6ª série é de autoria de Renato Mocellin, São
Paulo: Editora do Brasil, e é distribuído pelo FNDE/MEC. Trata-se da segunda edição, de
2001. A primeira edição é de 1997.
Pré-projetos de pesquisas
qualitativas
1° Nome da pesquisadora:
Patrícia Vieira da Silva Pereira
Objetivo central
Analisar como é desenvolvido, no ensino médio, o trabalho com textos,
que possa colaborar para o processo de letramento dos alunos.
Objetivos específicos
1. Descrever o perfil sociocultural dos alunos, a fim de conhecer o
contexto cultural no qual estão inseridos os estudantes do ensino
médio e suas práticas letradas.
2. Verificar como se dá o acesso aos textos nas diversas disciplinas
observadas.
3. Analisar quais são as estratégias adotadas pelos professores para
trabalhar com textos em sala de aula.
4. Analisar quais são os fatores que influenciam no trabalho com textos
nas duas disciplinas observadas.
5. Identificar a concepção de leitura dos professores.
Asserção geral
O trabalho com textos no ensino médio tenderá a colaborar para o
processo de letramento dos alunos sempre que as estratégias utilizadas
estiverem orientadas para a construção conjunta do conhecimento.
Subasserções
1. O contexto sociocultural dos alunos e suas práticas letradas não são
contemplados pelos professores para a elaboração das atividades em
torno do texto.
2. O acesso aos textos se limitará ao uso do livro didático como
material de leitura.
3. O trabalho com textos em sala de aula priorizará a utilização de
recursos externos nas estratégias pedagógicas. Para efeito dessa
pesquisa, estamos considerando recursos externos à organização da
turma em grupos, as dinâmicas etc. Consideramos recursos internos
as estratégias interacionais adotadas pelo professor visando à melhor
compreensão do texto pelos alunos.
4. O trabalho com textos sofre influência de fatores como: material para
leitura (uso exclusivo do livro didático, falta de recursos para cópias
de outros textos); tempo (festas, atividades extras, cumprimento do
conteúdo programático) e concepção de leitura do professor.
5. A concepção de leitura que os professores dizem ter não é a mesma
demonstrada por eles em sala de aula.
Dificuldades encontradas
1. Substituição de um dos professores colaboradores da pesquisa
2. Observações não realizadas por motivos tais como: comemoração do
aniversário da escola, manifestações estudantis, aplicação de
provas/testes para professores de outras disciplinas, aplicação de
provas bimestrais, troca de horário das aulas, compactação do horário
das aulas devido à realização da Copa do Mundo, problemas de
saúde da pesquisadora;
3. Equipamento para gravação das aulas: o gravador utilizado não
captou, muitas vezes, a fala dos sujeitos colaboradores;
4. Motivação/inexperiência da pesquisadora: no momento em que
percebi que o trabalho de interação professor-aluno para a
compreensão textual era pouco frequente nessas aulas, fiquei
totalmente desmotivada com a pesquisa, muitas vezes achando que
não conseguiria atingir meus objetivos. Essa falta de motivação
também contribuiu para que eu não percebesse outros aspectos
relevantes para a elucidação da problemática. Ou seja, por que
motivo o trabalho com o texto não acontece? Por que o professor não
assume a responsabilidade pelo trabalho de leitura em suas aulas?
Compreendi, então, que estava à procura de algo que, segundo a
perspectiva adotada neste trabalho, julgo ser o melhor a ser feito a fim de
que possamos contribuir para o processo de letramento dos alunos e, com
essa atitude, não enxergava aquilo que realmente acontecia.
2° Nome da pesquisadora:
Miliane Nogueira Magalhães Benício
Questão de pesquisa
Como se processa a inter-relação entre conhecimentos escolares
sistematizados e práticas sociais cotidianas para dois adultos envolvidos em
um processo de alfabetização-letramento: alfabetizadora e alfabetizando?
Objetivo geral
Analisar como o alfabetizando adulto e a alfabetizadora trabalham o
conjunto de saberes organizados e ensinados pela escola e as práticas
cotidianas de oralidade e letramento.
Objetivos específicos
1. Analisar como as práticas sociais dos atores se reconfiguram ao
longo do processo de apropriação e usos de saberes escolares
sistematizados.
2. Analisar a interação coconstruída pelos atores, com base em seus
papéis sociais e no alinhamento mútuo que assumem em cada
instante, no processo de construção de inter-relações entre
conhecimentos escolares sistematizados e práticas cotidianas de
oralidade e letramento.
3. Identificar as concepções e percepções dos atores sobre a leitura e a
escrita ao longo do processo de alfabetização-letramento.
Asserção geral
As inter-relações entre conhecimentos escolares sistematizados e
práticas cotidianas de oralidade e letramento reconfiguram a prática dos
atores envolvidos no processo de alfabetização-letramento.
Subasserções
1. As necessidades e os usos cotidianos da escrita favorecem o processo
de mediação entre conhecimentos sistematizados e práticas sociais.
2. Os atores envolvidos no processo de alfabetização-letramento
recorrem a diferentes saberes (de mundo, escolares, da língua
materna, matemáticos...) para construir inter-relações entre
conhecimentos sistematizados e práticas sociais.
3. A interação coconstruída pelos atores, com base em seus papéis
sociais e no alinhamento mútuo que assumem a cada instante, pode
contribuir ou dificultar a construção de inter-relações entre
conhecimentos sistematizados e práticas sociais.
4. As representações dos atores sobre o que seja a escrita e a leitura
estão mais alinhadas com uma concepção tradicional de ensino,
centrada na memorização e repetição.
Problemas enfrentados
1. Problemas com equipamentos: notebook, gravador digital e gravador
de fita, todos apresentaram algum problema, obrigando a procura de
assistência técnica, acionamento do PROCON ou mesmo aquisição
de novo aparelho.
2. Problemas na coleta de dados: problemas de saúde do colaborador de
pesquisa e de sua família nos obrigaram a uma pausa considerável.
3. Problemas de mudanças e/ou delineamento: houve necessidade de
uma revisão da questão e do objeto de pesquisa, que passaram por
reformulações com base na experiência adquirida no trabalho de
campo.
3° Nome da pesquisadora:
Isabela de Freitas Villas Boas
Objetivos da pesquisa
O objetivo deste estudo é investigar o processo de formação de
produtores de texto em língua inglesa, segundo a abordagem
sociointeracionista de ensino da escrita e relacioná-lo ao processo de
formação desses mesmos escritores na disciplina de língua portuguesa
lecionada em sua escola regular. O objetivo é descrever as abordagens e
metodologias de ensino adotadas nos dois contextos, bem como observar
como o professor interpreta essas diretrizes de ensino e as aplica em sala de
aula. Para a consecução desse objetivo, é necessário analisar de que forma
os alunos lidam com esses dois contextos de aprendizagem, verificando se
há uma interseção entre os processos de aprendizagem nos dois contextos.
Essa intersecção pode levar o aluno a desenvolver sua competência
comunicativa textual escrita de forma geral, independentemente da língua,
por meio da aprendizagem de estratégias eficazes para a elaboração de
textos, tais como o planejamento da escrita, a obtenção e incorporação de
feedback de colegas e do professor, a reescrita e a reflexão a respeito dos
resultados obtidos.
Pergunta de pesquisa
Qual é o papel da prática de redação em língua inglesa no
desenvolvimento do letramento do aluno?
Essa pergunta principal pode ser desdobrada em várias perguntas
específicas:
1. Quais são as características da cultura de letramento da escola de
inglês?
2. E da escola regular?
3. Quais são as interseções entre essas duas culturas e quais são as
divergências?
4. Quais são as dificuldades encontradas nos dois contextos?
5. De que forma as práticas de ensino de redação na escola regular
influenciam o trabalho realizado na escola de inglês e vice-versa?
6. Como o professor de inglês interpreta e põe em prática a abordagem
e a metodologia de ensino da escrita adotada pela escola de inglês?
7. E o professor de redação na escola regular?
8. Como os alunos apreendem e utilizam as estratégias metacognitivas
que podem auxiliá-los no processo de elaboração de textos escritos e
que são trabalhadas por alguns professores no curso de inglês:
planejamento da escrita, revisão em pares, reescrita com a
incorporação do feedback, avaliação do professor por meio de
descritores de desempenho?
9. Os alunos utilizam o conhecimento adquirido no curso de inglês na
sua escrita em língua materna e vice-versa?
10. É possível estabelecer uma ponte entre esses dois contextos de ensino
de forma que o ensino de inglês possa contribuir mais para o
processo de desenvolvimento da escrita em geral?
11. O conhecimento sobre o ensino da escrita em língua inglesa, tanto
como língua materna quanto como língua estrangeira, e a
metodologia usada têm a contribuir para o aperfeiçoamento do ensino
de redação em português?
Asserção geral
A prática de produção de texto em língua inglesa tem potencial para
contribuir para o desenvolvimento do letramento do estudante.
Subasserções
1. A prática de redação na escola regular enfoca basicamente o produto,
e não o processo. Assim sendo, não há reescrita, não há revisão em
pares e não há feedback detalhado a respeito de todos os aspectos
envolvidos na produção do texto.
2. Os professores da escola de inglês têm dificuldades em seguir todos
os preceitos da abordagem de ensino da escrita que enfoca o
processo. Várias razões podem contribuir para isso:
a dissonância desse trabalho com o que é realizado na escola, o que
torna os alunos relutantes.
a falta de conexão entre essa prática de letramento do aluno e suas
outras práticas de letramento, o que faz com que o trabalho
realizado não seja significativo para o aluno.
a ausência de experiências com a escrita como um processo e de
aulas explícitas sobre o ensino de redação nos cursos de letras.
3. A prática de redação na escola regular enfoca o uso da gramática
mais do que a coerência e a coesão do texto.
4. O aluno adolescente entende a importância de praticar redação em
língua inglesa, mas se sente inseguro em fazê-lo quando o professor
não lhe proporciona os andaimes necessários para a realização da
tarefa. O mesmo acontece com a prática de redação em língua
materna.
5. Alguns alunos utilizam as estratégias aprendidas na escola de inglês
na elaboração de textos em português. Outros não. Isso depende do
estilo de aprendizagem do aluno e de seu envolvimento com a
escrita, isto é, de sua cultura de letramento.
À medida que a pesquisa for se desenrolando, outras subasserções
poderão ser geradas.
Análise de dados
Os seguintes procedimentos de coleta de dados serão usados:
1. Preliminarmente, numa primeira fase exploratória, um survey entre
todos os alunos do nível intermediário na faixa etária escolhida e
entre todos os professores desse nível para averiguar sua percepção
do ensino da escrita na escola de inglês e em suas escolas regulares.
O resultado desse survey gerará dados quantitativos que mostrarão o
que pensam, de forma geral, os alunos, comparáveis entre si por
estarem participando da mesma experiência de aprendizagem da
escrita, e também o que pensam os professores, que também são
comparáveis entre si, pois compartilham da mesma experiência
pedagógica. No entanto, no intuito de compreender melhor algumas
conclusões apresentadas no survey, isto é, as especificidades do
fenômeno, serão conduzidas entrevistas semiestruturadas com um
grupo de alunos e professores. Essa primeira fase exploratória será de
fundamental importância para a definição de procedimentos na etapa
principal, a observação participante. Com os dados dessa etapa
exploratória, será possível tornar a observação participante um
processo de coleta de dados mais deliberado, já guiado pelos dados
anteriormente apresentados.
2. A observação participante será o método principal de coleta de dados
e o que definirá o uso dos outros métodos, que acontecerá durante o
período de um ano nas aulas que envolverem o ensino da escrita,
desde o planejamento para a escrita até o retorno das redações com a
avaliação do professor.
3. Gravação das interações entre os sujeitos de pesquisa em eventos de
interação em pares sobre os textos produzidos (revisão em pares)
para a posterior transcrição e análise sociolinguística interacionista
dos modos de participação dos estudantes ao longo do tempo.
Especial atenção será dada à possível aquisição gradual da
metalinguagem usada em redações, tal como “coerência”, “coesão”,
“introdução”, “marcadores de discurso” etc. O foco principal será a
comparação entre a primeira atividade de revisão em pares no ano
letivo, quando os alunos ainda não estarão familiarizados com esse
tipo de atividade, e uma atividade de revisão em pares conduzida ao
final de um ano, quando essa rotina de trabalho já estará bastante
presente no dia a dia da sala de aula e os andaimes para sua execução
já terão sido oferecidos pelo professor. Espera-se que, ao final de um
ano,
os modos de participação dos alunos se modifiquem, isto é, que eles
passem a falar com mais desenvoltura sobre o texto do colega;
os alunos incorporem em sua fala a metalinguagem da redação,
utilizando termos tais como: conteúdo, organização, marcadores de
discurso etc.;
os alunos não fiquem mais tão inibidos ao criticar algum aspecto do
texto do colega; nesse caso, interessa-nos analisar quais os recursos
que o aluno usa para salvar sua face diante de uma situação de fazer
uma crítica, por um lado, e receber a crítica, por outro;
os alunos utilizemse menos de adjetivos, tais como “sua introdução
está boa” ou termos vagos, tais como “eu gostei da sua introdução”
e passem a utilizar termos mais factuais, tais como “sua introdução
cumpre bem seu papel porque...”.
4. Entrevistas orientadas com os alunos da turma. Elas poderão
acontecer pessoalmente ou via internet. Nesse tipo de entrevista, o
entrevistador focaliza sua atenção em uma experiência dada e seus
efeitos. Ao final de cada processo de elaboração de uma redação, um
ciclo de entrevistas será realizado.
5. Análise das redações dos alunos, tanto em inglês, quanto em
português com o objetivo de identificar transferências de
aprendizagem ou dificuldades, bem como identificar a incorporação
das sugestões oferecidas pelos pares ou pelo professor.
6. Entrevistas orientadas com os professores de redação das escolas
regulares dos alunos da turma escolhidos como sujeitos de estudo.
7. Análise documental do currículo dos principais cursos de letras, para
verificar que tipo de experiências esses professores tiveram na
universidade com relação ao ensino da redação.
8. O diário de pesquisa, que é um registro cotidiano dos acontecimentos
observados, como atividades desenvolvidas, conversas, rotinas
diárias no grupo estudado, manifestações de comportamento etc.
Esses dados, coletados de acordo com as diversas metodologias
descritas acima, precisarão, em seguida, ser triangulados com o objetivo de
confirmar ou desconfirmar cada asserção.
Dificuldades antevistas
1. Acesso aos professores de redação das escolas particulares
escolhidas.
2. Acesso aos alunos fora do horário de aula.
4° Nome da pesquisadora:
Márcia Regina Alves Gondim
Questão central de pesquisa
Um trabalho de mediação entre os saberes da oralidade e da escrita pode
despertar nas crianças o desenvolvimento da consciência fonológica,
levando-as a desenvolver suas capacidades de produção escrita e a ampliar
suas competências comunicativas?
Objetivo geral
Analisar, em uma classe de alfabetização de crianças, como é realizado
o trabalho de mediação entre os saberes da oralidade e a construção da
escrita, trabalho que desperta a consciência fonológica dos alunos para que
possam desenvolver suas capacidades de produção escrita.
Objetivos específicos
1. Observar como o espaço da sala de aula pode tornar-se um ambiente
alfabetizador na construção das competências oral e escrita.
2. Analisar a relação entre os saberes da oralidade e da escrita.
3. Verificar como ocorre a mediação para o desenvolvimento da
consciência fonológica das crianças em classes de alfabetização.
4. Observar se o desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita
guarda relação direta com um método de alfabetização.
Asserção geral
Um trabalho de mediação entre os saberes da oralidade e da escrita pode
despertar, nas crianças alfabetizandas, uma consciência fonológica capaz de
levá-las a compreender a transição da língua oral para a língua escrita.
Subasserções
1. A sala de aula pode tornar-se um ambiente alfabetizador capaz de
levar as crianças a desenvolverem as competências comunicativas
nas modalidades oral e escrita.
2. Um trabalho de mediação com características interventivas pode
despertar a consciência fonológica das crianças, levando-as à
reflexão sobre sua língua oral e escrita.
3. O desenvolvimento da consciência fonológica pode levar a criança à
compreensão da transição entre língua oral e língua escrita.
4. A conquista das habilidades de leitura e escrita não está vinculada
apenas a um método específico de alfabetização.
Dificuldades encontradas
O projeto previa o trabalho em duas classes de alfabetização. Mas por
dificuldades de horário com uma das professoras, não foi possível incluir
sua classe. Outro fator relevante foi meu envolvimento emocional com a
turma observada, pelo fato de eu ter sido professora na escola.
5° Nome da pesquisadora:
Claudia Heloisa Schmeiske da Silva
Questões de pesquisa
1. Quais são as dificuldades encontradas pelos alunos para responder às
questões da Prova Brasil 2005?
2. De que maneira o professor trabalha a leitura em sala de aula?
3. Como a escola contempla a questão do ensino de leitura no seu
projeto pedagógico?
Objetivo geral
Analisar a compreensão que alunos de 4ª série de escolas no DF
demonstram ter de questões constantes da Prova Brasil 2005, considerando-
se os descritores subjacentes à postulação daquelas questões.
Objetivos específicos
1. Analisar as reflexões verbalizadas dos alunos relativas a seu processo
de compreensão das referidas questões, por meio de protocolos
verbais.
2. Analisar a prática pedagógica de um professor de 4ª série do ensino
fundamental em relação ao ensino da leitura.
3. Analisar em que medida a escola contempla projetos de leitura no seu
projeto político e pedagógico
Asserções
1. Os alunos de 4ª série do ensino fundamental têm um mau
desempenho na avaliação da Prova Brasil porque não entendem os
comandos das questões, que contenham palavras e expressões
desconhecidas.
2. Os alunos têm mau desempenho na avaliação da Prova Brasil porque
as questões de compreensão de texto pressupõem conhecimentos de
mundo que os alunos não detêm.
3. Auxiliados pela pesquisadora, por meio de processos de andaime, os
alunos conseguirão resolver as questões da Prova Brasil que não
conseguiram resolver sozinhos.
4. O processo bem sucedido de andaime construído pela pesquisadora
permitirá a proposição de estratégias de interação professor-aluno em
atividades de leitura.
5. Os professores não adotam estratégias adequadas para o ensino de
leitura em sala de aula.
6. As estratégias de leitura adotadas pelos professores não preparam os
alunos para atender às exigências dos teste de compreensão textual
da Prova Brasil.
7. As escolas não contemplam em seu projeto político pedagógico
projeto de leitura atualizado.
6° Nome da pesquisadora:
Ana Dilma de Almeida Pereira
Pergunta exploratória
Será que o processo de formação (inicial e/ou continuada) de
professores da educação básica tem-se beneficiado das contribuições da
(socio)linguística, de modo a operar mudanças significativas na educação
em língua materna?
Objetivo geral
Investigar as contribuições da (socio)linguística no processo de
formação (inicial e/ou continuada) de professores da educação básica.
Objetivos específicos
1. Observar em que medida a formação acadêmica do professor
universitário e do tutor de cursos de educação continuada, na
graduação e na pós-graduação, interfere nas escolhas dos
conhecimentos (socio)linguísticos a ser desenvolvidos nos cursos de
formação.
2. Verificar como os responsáveis pelo processo de formação de
professores da educação básica (professor universitário e tutor)
reconhecem a importância dos conhecimentos (socio)linguísticos,
ampliam suas concepções e modificam sua agenda na formação de
professores na área de linguagem.
3. Observar as teorias linguísticas que têm influenciado os cursos de
formação (inicial e/ou continuada) de professores da educação básica
e contribuído para a melhoria da educação em língua materna.
Asserção geral
O processo de formação (inicial e/ou continuada) de professores da
educação básica se beneficiará das contribuições da (socio) linguística de
modo a operar mudanças significativas na educação em língua materna.
Subasserções
1. A formação acadêmica do professor universitário e do tutor de cursos
de educação continuada, na graduação e pós-graduação, vai interferir
nas escolhas dos conhecimentos (socio)linguísticos a ser
desenvolvidos nos cursos de formação.
2. Os conhecimentos (socio)linguísticos advindos das pesquisas mais
atuais sobre a educação em língua materna alteram as ações do
professor universitário e do tutor na formação de professores da
educação básica.
3. Os estudos sociolinguísticos, os estudos de letramento e a etnografia
contribuirão para os cursos de formação (inicial e/ou continuada) de
professores da educação básica e para a melhoria da educação em
língua materna.
Coleta de dados
Os instrumentos de pesquisa compreendem:
1. observação participante com constituição de diários de campo;
2. entrevistas;
3. coleta de material documental;
4. fotos;
5. gravações em áudio;
6. gravações em vídeo;
7. interação via e-mail.
Asserção geral
A compreensão do projeto de modernidade, à luz da sociolinguística
educacional, instaurará o necessário diálogo entre o passado e o presente, o
que contribuirá para esclarecer o problema histórico da alfabetização no
Brasil.
Objetivo geral
Avaliar o projeto de modernidade legado ao Brasil pelos colonizadores,
a partir de seus pressupostos históricos e epistemológicos,
contextualizando-o na configuração da sociedade brasileira, notadamente
em uma escola situada no entorno do Distrito Federal, verificando se essa
proposta se concretiza ou malogra, uma vez que a alfabetização referenda a
ideia de progresso nas modernas sociedades letradas.
Subasserções
1. Compreender os projetos educacionais jesuítico, iluminista e
tecnicista explicará as práticas presentes em nossa escola na
contemporaneidade.
2. Reconstruir a história da educação pela memória de seus ex-
estudantes propiciará uma nova compreensão sobre as práticas
pedagógicas.
3. Empreender etnografia colaborativa numa escola que está situada no
entorno da capital, que é símbolo de modernidade, contribuirá para a
elucidação da hipótese da colisão entre o arcaico e o moderno na
educação brasileira.
Objetivos específicos
1. Investigar o projeto educacional jesuítico.
2. Investigar o projeto educacional proposto pelo Iluminismo.
3. Investigar o projeto educacional tecnicista.
4. Situar a trajetória desses três projetos na educação brasileira.
5. Reconstruir uma memória da escola brasileira dos anos 1930, 1940 e
1950 a partir da coleta de dados categorizados em cartas produzidas
por indivíduos alfabetizados naquelas décadas nos grandes centros
hegemônicos do país.
6. Examinar os pressupostos epistemológicos dos projetos de (1)
alfabetização, (2) letramento e (3) leiturização.
7. Contextualizar historicamente esses três projetos.
8. Observar, registrar e identificar práticas pedagógicas norteadas por
esses projetos.
8° Nome da pesquisadora:
Maria Aparecida Lopes Rossi
Questões de pesquisa
Se os sentidos de um texto derivam não só da sua materialidade, mas
das relações que ele mantém com quem o produz, com o leitor e com os
outros textos com os quais intertextualiza, indagamos:
1. Na sala de aula, esses sentidos serão os mesmos?
2. Uma vez transformado em um objeto escolar, um texto mantém as
mesmas características sociocomunicativas que detinha antes de sua
entrada na escola?
3. Quais são as transformações sofridas pelo texto nesse processo de
escolarização, quando acontece a passagem de uma instância
discursiva para outra, tanto no que se refere ao sentido como às
propriedades sociocomunicativas?
4. Quais são os objetos que vão portar os textos levados para a sala de
aula, e qual a interferência desses nas práticas escolares de leitura?
Objetivos
1. Fazer um estudo sobre os gêneros textuais que são apropriados pela
escola para o ensino da leitura e as transformações percebidas nos
textos no processo de escolarização.
2. Identificar os gêneros de texto que são apropriados pelas práticas
escolares, no sentido de perceber que modalidades do discurso são
consideradas adequadas para o ensino da língua, verificando as que
são elevadas à condição de modelares e ideais para esse ensino.
3. Perceber se nesse processo de escolarização o texto mantém as
mesmas propriedades sociodiscursivas e as características de gênero
que detinha originalmente, analisando os suportes de textos que são
levados para a sala de aula e as atividades de retextualização
propostas para os diferentes gêneros.
4. Perceber as relações entre os eventos e práticas de letramento
observados na sociedade e os que se encontram nas práticas
escolares, comparando, por exemplo, como um mesmo material
escrito é interpretado na vida cotidiana e na escola, quando é
transformado em objeto de ensino.
Asserção geral
Os textos no seu processo de escolarização passam por transformações,
tanto no que se refere à sua materialidade (suporte) quanto a seus
significados. Assim, ao entrar na esfera escolar, um texto é reconstruído e
perde e ganha traços que podem ser reveladores dos processos sociais que
nessa esfera se realizam.
Dificuldades antevistas
Acredito que uma das dificuldades possíveis é encontrar um número
considerável de textos levados para o professor para a sala de aula que
ainda não tenham passado pelo processo de didatização conferido pelo livro
didático.
9° Nome da pesquisadora:
Maria Alice Fernandes de Sousa
Questões de pesquisa
1. Que contribuições a sociolinguística educacional pode dar à
formação dos professores alfabetizadores de jovens e adultos?
2. O conhecimento, por parte dos professores alfabetizadores de jovens
e adultos, dos saberes da oralidade dos alunos contribui para o
desenvolvimento de estratégias facilitadoras da aquisição de
habilidades de leitura e escrita desses alunos?
3. Que mudanças podem ocorrer na postura pedagógica do
alfabetizador de jovens e adultos ao trabalhar com os conhecimentos
da sociolinguística?
Objetivo geral
Analisar em que medida os conhecimentos de fundamentos da
sociolinguística, por parte do professor alfabetizador de jovens e adultos,
contribui para o desenvolvimento de estratégias facilitadoras da
aprendizagem da leitura e escrita escolar.
Objetivos específicos
1. Verificar se a formação do professor alfabetizador de jovens e adultos
contemplou fundamentos da sociolinguística.
2. Analisar saberes de oralidade de estudantes de uma classe de
alfabetização de jovens e adultos.
Asserção geral
Conhecer os fundamentos da sociolinguística contribui para o
desenvolvimento de estratégias facilitadoras da aprendizagem da leitura e
escrita escolar por parte do professor alfabetizador de jovens e adultos.
Possíveis dificuldades
Antevejo uma dificuldade que poderá ser a duração da pesquisa de
campo. Pretendo fazer uma etnografia colaborativa, e essa abordagem de
pesquisa requer um período prolongado de campo (um ano, imagino para
esse caso) e as turmas de alfabetização de EJA têm uma duração de período
letivo quase sempre inferior a seis meses. Imagino que terei de buscar uma
saída para essa situação, talvez levando em consideração também a pós-
alfabetização. Assim poderei acompanhar a mesma turma. Outro problema
é que possivelmente a professora na etapa da pós-alfabetização seja outra.
Sociedades
Características Modernas Tradicionais
Multiplexidade Baixa Alta
Densidade (moral) Baixa Alta
Variedade de papéis Alta Baixa
sociais
Figura 9. Características das redes sociais em sociedades tradicionais e modernas
Diário de bordo