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Exame do sistema músculo esquelético

Dr. Lúcio Honório de Carvalho Júnior

Exame dos membros

Membros superiores

Introdução

Nos membros superiores, o exame físico do aparelho locomotor é


basicamente o mesmo, seguindo as etapas de inspeção estática, inspeção
dinâmica, palpação e testes especiais direcionados pela queixa ou pelas
alterações observadas nas etapas anteriores.

Inspeção estática

Durante a inspeção estática, observa-se o paciente de frente, de


costas e de lado, sempre em ortostatismo. Nesse momento são
observados atitudes anormais, cicatrizes, manchas, tatuagens, hipotrofias,
encurtamentos e desvios de eixo. Não é possível nessa fase do exame
avaliar se o paciente se apresenta com atitude (posição assumida que
pode ser passivamente corrigida) ou deformidade (posição não passível de
correção completa). Isso somente poderá ser averiguado quando da
inspeção dinâmica.

Inspeção dinâmica

Na inspeção dinâmica dos membros superiores seu exame começa


desde a chegada do paciente, uma vez que a alteração do ritmo ou do
sincronismo entre os movimentos dos membros superiores já pode
fornecer informações sobre a função da articulação envolvida. O exame da
amplitude de movimento deve ser completo e avaliar todas as
articulações, independentemente da queixa do paciente. Primeiro se
examina a movimentação ativa (aquela que é realizada quando o paciente
contrai a musculatura responsável pelo movimento). Caso se observe
alguma limitação, deve-se realizar a movimentação passiva (realizada pelo
examinador, sem a colaboração do paciente).

O ombro (representada principalmente pela articulação gleno


umeral) é a articulação que apresenta maior amplitude de movimento no
corpo humano1. Se o exame de sua movimentação é realizado com o
paciente em decúbito dorsal e o ombro abduzido a 90ᵒ, os valores da
amplitude da rotação medial e da rotação lateral serão respectivamente,
80ᵒ e 110ᵒ. A elevação máxima do ombro só é possível com a articulação
em rotação externa1.

A extensão do cotovelo pode apresentar como variação do normal


desde discreto grau (5ᵒ) de limitação para a extensão completa até
hiperextensão leve (-5ᵒ). O exame da prono supinação do cotovelo deve
ser feito com o cotovelo fletido a 90ᵒ para excluir a influência da
articulação do ombro.

Os movimentos do punho são subdivididos de acordo com o local


onde se dá a sua maior parte. A flexão/extensão é mais ampla quando se
faz a movimentação passiva e ocorre principalmente na articulação rádio
cárpica2. O desvio radial/ulnar ocorre principalmente na articulação entre
as fileiras do carpo (também chamada de articulação médio cárpica)2. O
desvio radial apresenta amplitude maior do que o desvio ulnar porque o
processo estilóide do rádio é mais proximal do que o da ulna.
Os movimentos digitais são realizados em três articulações cuja
mobilidade varia de uma pessoa para outra e mesmo entre diferentes
dedos de uma mesma pessoa. A articulação metacarpofalangena é
articulação sinovial tipo condilar que apresenta movimentos no plano
ântero/posterior (flexão/extensão) e no plano látero/lateral
(abdução/adução)3. Esse último só possível quando os dedos estão em
extensão ou hiperextensão3. A articulação interfalangeana proximal é do
tipo sinovial em dobradiça e permite apenas movimentos de
flexão/extensão3. A articulação interfalangeana distal é semelhante a
proximal.

O polegar possui grande amplitude de movimentos. Existem três


articulações responsáveis por sua mobilidade (trapézio/metacarpo,
metacarpo/falange e interfalangeana). Os movimentos do polegar no
plano ântero/posterior são chamados de ante-pulsão e retro-pulsão.
Adução e abdução são usados para definir os movimentos no plano da
palma da mão. Os termos flexão e extensão são usados apenas para os
movimentos das falanges do polegar4.

Palpação

A palpação deve ser direcionada à queixa do paciente e iniciar-se


pelas partes moles. A seguir pesquisam-se as saliências ósseas para
finalmente palpar alguma alteração eventualmente encontrada na
inspeção (aumentos de volume, alterações de temperatura e
deformidades). A posição do paciente irá depender da região a ser
examinada. É importante que a musculatura esteja relaxada e que o
paciente não apresente dor. Para essa fase do exame físico é fundamental
o conhecimento da anatomia topográfica. A palpação das partes moles e
ósseas da cintura escapular, cotovelo, punho e mão encontram-se
sumarizadas nos Quadros 1, 2, 3 e 4.

Quadro 1: Palpação da cintura escapular.

Palpação de partes moles


Bolsa Subacromial Somente pode ser palpada quando o ombro se encontra em
extensão. Quando inflamada fica dolorosa ao toque.
Bolsa subdeltóidea Encontra-se debaixo das fibras laterais do deltóide
comunicando-se com a bolsa subacromial.
Músculo peitoral maior Facilmente palpado quando o paciente faz abdução e rotação
externa com a mão atrás da cabeça. Forma a parede anterior da
axila.
Músculo deltóide Responsável pelo formato arredondado do ombro. Pode estar
hipotrofiado nas lesões do ombro ou do nervo axilar.
Palpação óssea
Articulação esterno Superficial e facilmente palpável.
clavicular
Articulação acrômio Palpável na extremidade lateral da clavícula.
clavicular
Clavícula Palpável em toda sua extensão.
Processo coracóide Saliência anterior da escápula e local de origem da porção curta
do músculo bíceps braquial e do córaco braquial. É local de
inserção do peitoral menor.
Acrômio Proeminência lateral da escápula que se articula com a
clavícula.
Goteira bicipital Depressão existente entre as tuberosidades maior e menor do
úmero, onde se encontra o tendão longo do músculo bíceps
braquial.

Escápula Osso de formato triangular, achatado, que se encontra na região


posterior do tórax. Recoberta anteriormente pelo músculo
subescapular e posteriormente pelo supra espinhoso, infra
espinhoso e redondo menor. Seu ângulo superior encontra-se
na altura do 2ᵒ arco costal e o inferior coincide com o 7ᵒ.

Quadro 2: Palpação do cotovelo.


Palpação de partes moles
Nervo ulnar Facilmente palpável no subcutâneo da face medial do cotovelo,
passando no sulco existente entre o epicôndilo medial e o
olecrânio.
Musculatura flexora e Origina-se no epicôndilo medial. Facilmente palpável na face
pronadora do punho medial do cotovelo.
Musculatura extensora do Constituída por vários músculos que tem origem no epicôndilo
punho lateral.
Bolsa olecraniana Recobre o olecrânio e somente é palpável quando há processo
inflamatório.
Tendão do bíceps Facilmente palpável na borda medial da fossa cubital quando se
realiza a flexão do cotovelo contra resistência e em supinação.
Artéria braquial Seu pulso é palpável medialmente ao tendão do bíceps braquial.
Nervo mediano Palpável medialmente a artéria braquial.
Palpação óssea
Epicôndilo medial Proeminência óssea da face medial do cotovelo.
Epicôndilo lateral Situado na face lateral do cotovelo é menor e menos evidente
que o epicôndilo medial.
Olecrânio Sua parte mais proeminente é a saliência posterior da
articulação do cotovelo.
Cabeça do rádio Por estar recoberta pela musculatura extensora do punho, sua
palpação pode ser difícil, sendo facilitada pela realização
concomitante de prono/supinação.

Quadro 3: Palpação do punho.

Palpação de partes moles


Tabaqueira anatômica Delimitada pelo tendão do extensor curto do polegar do lado
radial e pelo extensor longo do lado ulnar. No seu assoalho
palpa-se o corpo do escafóide.
Tendão do músculo abdutor Compõem o primeiro túnel extensor e formam a borda radial da
longo e extensor curto do tabaqueira anatômica.
polegar
Tendões dos músculos Formam o segundo túnel extensor e estão localizados
extensor radial do carpo radialmente ao tubérculo de lister.
(longo e curto)
Tendão do músculo Está dentro do terceiro túnel extensor.
extensor longo do polegar
Tendão do músculo Encontram-se no quarto túnel extensor. Embora sejam
extensor comum dos dedos palpáveis na face dorsal da mão, não são identificáveis dentro
e do extensor próprio do do túnel.
indicador
Tendão do músculo Encontra-se dentro do quinto túnel extensor e somente é
extensor do dedo mínimo palpável quando se realiza a extensão ativa desse dedo.
Tendão do extensor ulnar Encontra-se dentro do sexto túnel extensor próximo ao
do carpo processo estilóide da ulna.
Palpação de partes moles
(face palmar)
Tendão do músculo flexor Palpável na borda medial do punho.
ulnar do carpo
Artéria ulnar Palpável radialmente ao tendão do músculo flexor ulnar do
carpo.
Tendão do músculo palmar É paralelo e medial ao tendão do músculo flexor radial do carpo.
longo É melhor visualizado quando se faz a pinça entre o dedo mínimo
e o polegar com o punho em discreta flexão.
Túnel do carpo Espaço formado proximalmente pelo pisiforme e pelo tubérculo
do escafóide e distalmente pelo trapézio e pelo hámulo do
hamato. Sua base é formado pela cápsula articular, ligamentos
palmares e ossos do carpo. É coberto pelo ligamento transverso
do carpo e pelo retináculo dos flexores. Por dentro dele passam
o nervo mediano, os tendões flexores superficiais e profundos
dos dedos e o tendão do flexor longo do polegar.
Tendão do músculo flexor Geralmente visível na região palmar, pode ser palpado quando
radial do carpo o examinador solicita ao paciente que flexione o punho contra
resistência.
Artéria radial Encontra-se lateralmente ao tendão do músculo flexor radial do
carpo.
Palpação óssea
Processo estilóide do rádio Localizado na face dorsal no lado radial do punho.
Processo estilóide da ulna Saliência óssea localizada na epífise distal da ulna.
Ossos do carpo Distribuídos em duas fileiras são individualmente palpáveis em
sua distribuição ao longo da mão.
3
Tubérculo de Lister Localizado a 2 cm medialmente ao processo estilóide do rádio. É
ponto de referência para a palpação dos ossos do carpo.

Quadro 4: Palpação da mão:


Palpação de partes moles
Eminência tenar Constituída pelos músculos intrínsecos do polegar (adutor,
flexor curto, abdutor curto e oponente).
Eminência hipotenar Formada pela musculatura intrínseca do dedo mínimo.
Aponeurose palmar Banda que se estende em forma de leque desde a base da
palma da mão até a base dos dedos.
Tendões dos músculos Palpáveis na palma da mão.
flexores dos dedos
Palpação óssea
Metacarpos Palpáveis na face palmar, desde sua base até a articulação
metacarpo falangeana. O primeiro, quarto e quinto apresentam
mobilidade, ao contrário do segundo e terceiro que por serem
ancorados ao carpo são extremamente rígidos.
Falanges Facilmente palpáveis em toda sua extensão.

Testes especiais

Para cada região anatômica há vários exames especiais que auxiliam


na formulação do diagnóstico. Esses testes só devem ser realizados
quando a história clínica e o restante do exame clínico justificá-los (não é
necessário realizar testes de estabilidade do ombro em pacientes com
queixas de dor e parestesia no pé).

Nos Quadros 5,6 e 7 são descritos testes especiais para o ombro,


cotovelo punho e mão respectivamente.

Quadro 5: Testes especiais para o ombro.

Testes musculares e
tendinosos
Teste de Apley1 Utilizado para avaliar a amplitude de movimentos do ombro de
forma rápida. É dividido em três manobras.
Teste de impacto de Neer1 O examinador realiza a elevação anterior máxima do ombro do
paciente. A reprodução da dor é sugestiva de síndrome de
impacto. A dor pode ser acentuada pela flexão do cotovelo e
rotação interna do ombro. Ao se injetar anestésico local na
bolsa subacromial e repetir o teste ele se mostrará negativo.
Teste de impacto de Com o ombro flexionado anteriormente a 90ᵒ em rotação
Hawkins-Kennedy1 neutra, com o cotovelo também flexionado a 90ᵒ, roda-se
medialmente o ombro. Nessa posição a tuberosidade maior é
projetada contra o ligamento córaco acromial reproduzindo a
dor do paciente.
Teste de impacto de Yokum1 Pede-se para o paciente colocar a mão no ombro oposto e fazer
a flexão do ombro de modo ativo e rápido. O aparecimento da
dor é sugestivo de síndrome de impacto.
Teste do supra espinhoso Positivo quando o paciente se queixa de dor ao fazer a elevação
ativa do ombro em rotação neutra contra resistência.
Teste de Jobe1 Semelhante ao teste do supra espinhoso, realizado com o
ombro em rotação interna.
Teste do bíceps (também Sugere lesão da porção longa do bíceps. Pesquisado ao se
chamado de speed ou palm realizar a flexão ativa do ombro em rotação externa contra
up test) resistência. Produz dor no sulco bicipital.
Teste do infra espinhoso Com o ombro na posição anatômica e cotovelo fletido a 90ᵒ
pede-se ao paciente para realizar rotação externa do ombro
contra resistência.
Teste de Patte1 Semelhante ao teste anterior, contudo geralmente realizado
com o paciente em decúbito dorsal e o ombro abduzido a 90ᵒ.
Teste da queda do braço Indica lesão extensa do manguito rotador. Partindo-se da
abdução máxima ativa do ombro, pede-se ao paciente para
abaixar lentamente o braço. Positivo quando ocorre queda
abrupta do membro superior durante a manobra.
Teste do subescapular de Positivo quando o paciente se mostra incapaz de manter o
Gerber1 (Lift off test) dorso da mão afastada das costas durante o teste de Apley.
Teste da compressão ativa Para identificação de lesão no complexo bíceps/labrum
de O’brien1 glenoidal. Realizado em dois tempos, pede-se ao paciente para
realizar flexão e adução de 20ᵒ do ombro com o cotovelo em
pronação máxima. O examinador tenta abaixar o membro
superior do paciente pesquisando a existência de dor ao
executar a manobra. Num segundo momento a manobra é
repetida com rotação externa do ombro e cotovelo supinado.
Faz-se o mesmo teste contra resistência. Dor no primeiro teste
ou seu alívio no segundo torna o teste positivo.
Testes de sensibilidade
Nervo axilar Seu dermátomo sensitivo é na área lateral do deltóide.
Nervo músculo cutâneo Nas suas lesões há área de disestesia na região lateral do
antebraço.
Teste vásculo nervoso
Teste de Adson5 Testa a artéria subclávia. Após palpar o pulso radial, realiza-se
extensão, abdução e rotação externa do ombro pedindo-se ao
paciente para olhar para o lado examinado. Realizado de forma
comparativa, em caso de compressão, ocorrerá diminuição ou
desaparecimento do pulso.
Teste de Ross5 Para diagnóstico de síndrome do desfiladeiro torácico. Pede-se
ao paciente para abduzir os ombros a 90ᵒ com os cotovelos
fletidos a 90ᵒ. Nessa posição pede-se a ele que abra e feche a
mão por 15 vezes tentado produzir câimbra, fraqueza ou
incapacidade de repetir o movimento, o que torna o teste
positivo.
Testes de estabilidade
Teste de apreensão Para diagnóstico de instabilidade anterior. Realizado com
abdução de 90ᵒ e rotação externa. Quando positivo provoca
sensação de luxação iminente no paciente.
Teste de instabilidade Com o ombro em adução, flexão e rotação interna máximas,
posterior tenta-se deslocar posteriormente a cabeça do úmero. Nos casos
positivos provoca sensação de luxação iminente.

Quadro 6: Testes especiais para o cotovelo.

Teste do stress em valgoCom o ombro em rotação lateral máxima, o cotovelo pronado e


flexionado a 15ᵒ, realiza-se stress em valgo para identificar
abertura medial.
Teste do stress em varo Com o ombro em rotação medial máxima e o cotovelo
flexionado a 15ᵒ, realiza-se stress em varo para identificar
abertura lateral.
6
Teste de Cozen Reproduz a dor experimentada pelo paciente que, ao realizar a
extensão do punho contra a resistência e com o cotovelo em
90° de flexão e o antebraço em pronação, refere dor no
epicôndilo lateral idêntica a sua.
Teste para epicondilite Quando o paciente faz a flexão palmar do punho contra
medial resistência, reproduz a dor do paciente em seu epicôndilo
medial.
Quadro 7: Testes especiais para o punho e a mão.

Teste de Phalen5 Pede-se ao paciente que flexione ambos os punhos (um contra
o outro) por 60 segundos. O teste é positivo se resultar em
parestesia no primeiro, segundo ou terceiro dedos, confirmando
neuropatia compressiva do nervo mediano.
Teste de tinel no nervo Percussão sobre o nervo mediano, medialmente ao tendão
mediano flexor radial do carpo. O teste é positivo se o paciente relatar
dor ou choque nos primeiros dedos.
5
Teste de Filkelstein Com o polegar dentro da mão fechada, realiza-se desvio ulnar
do punho para estirar os tendões do primeiro compartimento
extensor (abdutor longo e extensor curto do polegar),
confirmando a tenossinovite de De Quervain.
5
Teste de Allen para Pede-se ao paciente para abrir e fechar a mão várias vezes. Ao
permeabilidade arterial mesmo tempo comprime-se as artérias radial e ulnar
simultaneamente. Remove-se a pressão de cada uma das
artérias isoladamente observando-se a reperfusão da mão.

Membros inferiores

Inspeção estática

O exame físico dos membros inferiores do adulto inicia-se pela


observação do paciente descalço e desnudo, com a maioria dos grupos
musculares expostos. Observam-se desvios posturais, contraturas,
cicatrizes e hipotrofias.

Inspeção dinâmica

Exame da marcha

Nos membros inferiores envolve basicamente o exame da marcha


que será abordado em capítulo específico desse livro. Sua alteração mais
comum é a claudicação, que significa que o paciente tem alguma
dificuldade para deambulação, o que o leigo denomina “mancar”. Alguns
tipos de marcha são definidos por nomes característicos como marcha
espástica, ceifante e parkinsoniana por exemplo. Quando o examinador
não consegue relacionar a claudicação apresentada com algum tipo
específico, ele deve descrever detalhadamente as alterações de marcha
encontradas.

Avaliação da amplitude de movimentos das articulações

O exame da amplitude de movimento deve ser completo e avaliar


todas as articulações, independentemente da queixa do paciente. Primeiro
se examina a movimentação ativa (aquela que é realizada quando o
paciente contrai a musculatura responsável pelo movimento). Caso se
observe alguma limitação, deve-se realizar a movimentação passiva
(realizada pelo examinador, sem a colaboração do paciente).

O quadril é articulação sinovial do tipo esférica, protegida pelos


ligamentos iliofemoral, pubofemoral e isquiofemoral. Essa articulação
permite ampla movimentação, a saber: Flexão, extensão, rotação interna,
rotação externa, abdução, adução e circundução, que é a combinação de
todos esses movimentos7.

As rotações do joelho não são movimentos de grande valor


semiológico e no exame de rotina habitualmente não são mensuradas. O
joelho, assim como o tornozelo, pode apresentar como variação do
normal, discreto grau de recurvato5.

A articulação do tornozelo é do tipo dobradiça e só permite as


flexões plantar e dorsal. Os movimentos da articulação subtalar e do
mediopé ocorrem de maneira associada e devem ser examinados
isoladamente.
Palpação

Face anterior

A primeira estrutura óssea a ser examinada é a espinha ilíaca ântero


superior, estrutura subcutânea e ponto de referência usado para a
mensuração dos membros inferiores. Compõem a porção lateral do
ligamento inguinal que se estende e é palpável em sua inserção medial no
tubérculo púbico. À meia distância, por debaixo do ligamento inguinal,
palpa-se a artéria femoral que é acompanhada medialmente pela veia
femoral e lateralmente pelo nervo femoral. Abaixo dessas estruturas
encontra-se a articulação do quadril, recoberta pelo espesso ligamento ílio
femoral.

Face lateral

A principal estrutura óssea a ser palpada nessa região é o trocânter


maior, local de inserção do tendão do músculo glúteo médio, sede
freqüente de tendinites, ou mesmo bursites, quando a bursa que o
recobre é acometida. A ponta do trocânter maior está na mesma linha do
tubérculo púbico e orientada lateralmente.

Face posterior

A espinha ilíaca póstero superior, assim como sua homônima


anterior, localiza-se logo abaixo da depressão cutânea, na região superior
da nádega. A articulação sacro ilíaca, em sua porção posterior pode ser
palpada posteriormente no ponto médio de uma linha imaginária,
transversa, unindo as duas espinhas ilíacas póstero superiores. A
tuberosidade isquiática pode ser palpada no meio da nádega, na altura da
prega glútea, mais facilmente com o quadril em flexão. À meia distância
entre a tuberosidade e a borda posterior do trocânter maior situa-se o
nervo ciático, ponto de referência importante para acessos cirúrgicos
posteriores. É sede freqüente de dores referidas por causa de hérnias de
disco lombares. As cristas ilíacas podem ser palpadas com o paciente de pé
e com o examinador de pé ou assentado por detrás dele. Sua palpação
pode detectar pontos dolorosos, assimetrias ou inclinações anormais7.

Nos Quadros 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14 encontram-se sumarizados os


principais movimentos das articulações dos membros inferiores e suas
respectivas amplitudes.

Quadro 8: Quadril: Principais movimentos e respectivas amplitudes.

Movimento Amplitude Manobra a ser realizada com o paciente em decúbito


em graus dorsal
Flexão 120ᵒ Flexiona-se o quadril e o joelho sobre o tronco e mede-se o
ângulo entre a mesa de exame e a posição atingida pela
coxa. Em pacientes com problemas no joelho deve-se evitar
flexionar muito essa articulação pois produzirá dor e irá
alterar a flexão do quadril
Extensão 0/30ᵒ Considera-se a extensão completa do quadril como zero
grau. O movimento que se obtêm com o paciente em
decúbito ventral ao se fazer a elevação posterior do
membro inferior deve ser chamado de hiperextensão e
atinge 30ᵒ.
Abdução 50ᵒ Realiza-se o afastamento dos membros inferiores da linha
mediana. Quando o exame é feito unilateralmente deve se
estabilizar o quadril com uma das mãos ou manter o lado
oposto abduzido com o joelho fletido fora da mesa.
Adução 30ᵒ Leva-se o membro inferior estendido no sentido da linha
mediana, ultrapassando-o para o lado oposto.
Rotação 40ᵒ A maneira mais fácil de avaliar as rotações é com o quadril e
medial o joelho flexionados a 90ᵒ. A rotação medial é realizada
girando-se a face anterior da coxa no sentido medial
(interno).
Rotação 50ᵒ Na mesma posição descrita para a mensuração da rotação
lateral medial gira-se a face anterior da coxa no sentido lateral
(externo).

Quadro 9: Amplitude de movimentos do joelho.

Movimento Amplitude Manobra (paciente assentado na mesa com os joelhos


em graus pendentes).
Flexão 140ᵒ Pede-se para o paciente flexionar completamente o
membro inferior examinado.
Extensão 0ᵒ Pede-se para o paciente extender completamente o
membro inferior examinado.
Rotação 10ᵒ Com o joelho em flexão de 90ᵒ realiza-se a rotação da perna
medial no sentido medial.
Rotação 10ᵒ Com o joelho em flexão de 90ᵒ realiza-se a rotação da perna
lateral no sentido lateral.

Quadro 10: Amplitude de movimentos do tornozelo.

Movimento Amplitude Manobra(paciente assentado com o joelho flexionado).


em graus
Flexão 45ᵒ Movimentar o tornozelo no sentido plantar.
plantar
Flexão 25ᵒ Movimentar o tornozelo no sentido dorsal.
dorsal

Quadro 11: Amplitude de movimentos da subtalar.

Movimento Amplitude em Manobra(paciente assentado, joelho flexionado e


graus examinador segurando o calcanhar).
Inversão 20ᵒ Movimenta-se o calcâneo no sentido medial.
Eversão 10ᵒ Movimenta-se o calcâneo no sentido lateral.
Quadro 12: Amplitude de movimentos da mediotársica.

Movimento Amplitude em Manobra(realizada com o paciente assentado, o joelho


graus flexionado e o examinador estabilizando o retropé com
uma das mãos e avaliando a movimentação do antepé
com a outra.
Supinação 15ᵒ Gira-se o mediopé no sentido medial levando a planta
do pé internamente.
Pronação 25ᵒ Gira-se o mediopé no sentido lateral levando a planta do
pé lateralmente.
Abdução 5ᵒ Estabiliza-se o calcâneo com uma das mãos e faz-se o
desvio do antepé lateralmente.
Adução 5ᵒ Estabiliza-se o calcâneo com uma das mãos e faz-se o
desvio do antepé medialmente.

Quadro 13: Amplitude de movimentos da metatarso-falangeana do


hálux e dos demais artelhos.

Movimento Amplitude em Manobra (realizada com paciente assentado com o


graus joelho flexionado).
Flexão 70ᵒ Movimenta-se o hálux no sentido dorsal.
dorsal
(extensão)
Flexão 30ᵒ Movimenta-se o hálux no sentido plantar.
plantar
(Flexão)
Metatarso falangeana dos demais artelhos
Extensão 35ᵒ Movimentação dos artelhos no sentido dorsal.
Flexão 40ᵒ Movimentação dos artelhos no sentido plantar.
Abdução Somente avaliada Afastamento dos artelhos em relação ao dedo médio.
Adução Somente avaliada Aproximação dos artelhos em relação ao dedo médio.

Quadro 14: Amplitude de movimentos das articulações


interfalangeanas dos pododáctilos.
Movimento Amplitude em Manobra (paciente assentado com o joelho flexionado)
graus
Flexão 0ᵒ Flexionar as interfalangeanas proximais no sentido
dorsal dorsal.
(extensão)
Flexão 30ᵒ Flexionar as interfalangeanas proximais no sentido
plantar plantar.
(flexão)

Testes especiais

Somente devem ser realizados quando a história e o exame clínico


justificá-los. São descritos nos quadros 15, 16 e 17 respectivamente para o
quadril, joelho, tornozelo e pé.

Quadro 15: Testes especiais para o quadril.

Teste de Ely7 (contratura reto Com o paciente em decúbito ventral realiza-se a flexão
femoral) do joelho e observa-se diante da contratura do reto
femoral, o levantamento da pelve ipsilateral.
7
Teste de Ober (contratura trato Com o paciente em decúbito lateral sobre o lado não
íleo tibial). afetado, realiza-se flexão do joelho e abdução e
extensão do quadril. O teste é anormal quando o joelho
não puder ser abaixado sobre a mesa (adução do quadril
limitada pela contratura do trato íleo tibial).
Teste de contratura para os Com o paciente em decúbito dorsal, eleva-se o membro
músculos posteriores da coxa pelo tornozelo com o joelho em extensão. Quando
positivo o paciente não conseguirá e sentirá dor na
musculatura posterior antes de se alcançar 90ᵒ de flexão
do quadril.
7
Teste de Trendelemburg O examinador posiciona-se atrás do paciente, que
permanece em pé. São visualizadas as espinhas ilíacas
posteriores. O paciente é solicitado a flexionar um dos
joelhos, mantendo o quadril em extensão. Se houver
insuficiência do glúteo médio, observa-se queda da
crista ilíaca do lado onde o membro inferior foi
levantado por incompetência do glúteo médio contra
lateral em se contrair e elevar a pelve.
Teste de Thomas8 Com o paciente em decúbito dorsal, um joelho é levado
ao peito do paciente. Na presença de contratura em
flexão, a coxa contra lateral elevar-se-á da mesa.
Teste de flexo/adução Com o paciente em decúbito dorsal flexiona-se o quadril
e o joelho a 90ᵒ. Normalmente ao se fazer adução do
membro nessa posição, o joelho consegue atravessar a
linha média do corpo, alcançando a linha axilar do outro
lado. Caso haja alguma doença, espasmo ou alteração
mecânica esse movimento estará restrito.
Teste do músculo piriforme O nervo ciático encontra-se posicionado
superficialmente em relação aos rotadores externos e
profundamente em relação ao músculo piriforme. Caso
exista espasmo desse, o paciente relatará dor na região
glútea. Os sintomas serão exacerbados por abdução e
rotação interna, movimentos que aumentam a tensão
sobre o músculo piriforme.
Teste do câmbio (gearstick Paciente em decúbito lateral com o membro inferior em
sign) extensão, faz-se abdução do quadril, podendo haver
bloqueio a abertura desse em virtude do trocânter
maior chocar-se contra o ilíaco. Realiza-se então a flexão
do quadril e tenta-se novamente abduzi-lo, sendo então
possível aumentar o grau de abdução.
8
Teste de Patrick FABERE são as iniciais dos movimentos realizados na
manobra. Flexão, abdução e rotação externa. Ao fazer
esses movimentos simultaneamente, o paciente
queixa-se de dor na região sacro ilíaca.
8
Teste de Gaenslen O paciente é colocado em decúbito dorsal com o lado a
ser avaliado na beirada da mesa. Faz-se a flexão máxima
do quadril oposto e hiperextensão do lado pesquisado.
A dor na sacro ilíaca é sugestiva de acometimento da
mesma.

Quadro 16: Testes especiais para o joelho.

Teste de Lachman9 para Com o paciente em decúbito dorsal e o joelho em 30ᵒ de


ligamento cruzado anterior flexão, estabilizar a coxa com uma das mãos enquanto se
(LCA) tenta deslocar anteriormente a tíbia.
Teste do pivot shift de Com o paciente em decúbito dorsal, segura-se o pé do
MacIntosch9 para o LCA lado afetado com uma das mãos realizando rotação
interna forçando o joelho em valgo e flexão. Na ruptura
do LCA haverá ressalto súbito quando o joelho estiver
aproximadamente em 30ᵒ de flexão.
9
Teste de Hughston para o LCA Realizado de forma semelhante ao teste do pivot shift
partindo da posição inicial de 90ᵒ de flexão. A manobra
é realizada com rotação interna, valgo e flexão do
joelho. Na lesão do LCA ocorrerá ressalto próximo dos
30ᵒ de flexão do joelho.
9
Teste de Mc Murray para lesão Com o paciente em decúbito dorsal flexiona-se
meniscal totalmente o joelho palpando a interlinha articular
durante a manobra de rotação interna (menisco lateral)
e externa (menisco medial) da tíbia.
9
Teste de Apley para lesão Com o paciente em decúbito ventral e joelho flexionado
meniscal a 90ᵒ faz-se a rotação interna e externa com
compressão. A dor aliviada pela tração da perna é
indicativa de lesão do menisco.
Teste da gaveta posterior para Com o paciente em decúbito dorsal flexiona-se o joelho
lesão do ligamento cruzado a 90ᵒ empurrando posteriormente a tíbia em seu terço
posterior (LCP). proximal. A translação posterior é sinal de ruptura do
LCP.
9
Teste de Godfrey Em decúbito dorsal com o joelho e o quadril a 90ᵒ de
(posteriorização passiva da flexão e o membro sustentado pelo examinador,
tíbia) para o LCP observa-se a subluxação posterior da tíbia na presença
de lesão do LCP.
Teste de derrame articular Com o paciente em decúbito dorsal tenta-se mover o
fluido intra articular de medial para lateral. Em seguida
promove-se o movimento de lateral para medial. O
derrame é encontrado quando se observa o movimento
do fluido de um lado para outro.
9
Teste de Smillie (apreensão na O paciente relata temor de nova luxação durante teste
instabilidade fêmoro patelar) de mobilidade lateral da patela.

Quadro 17: Testes especiais para o pé.

Teste de Thompson10 para Com o paciente em decúbito ventral aperta-se


ruptura do tendão de Aquiles firmemente a panturrilha. Com o tendão de Aquiles roto
não ocorre flexão plantar passiva do tornozelo (Teste
positivo).
Sinal da gaveta anterior Com o paciente assentado e os joelhos pendentes sobre
a mesa de exame, posiciona-se o tornozelo a 20ᵒ de
flexão plantar e tenta-se trazer para a frente o calcâneo
e o tálus.
Teste do clique de Moulder10 Com o paciente em decúbito dorsal segura-se o pé com
para neuroma de Morton uma das mãos e apertam-se todos os metatarsianos.
Clique audível ou palpável caracteriza neuroma de
Morton avançado.

Referências Bibliográficas

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Ortopédica: Atualização em cirurgia do ombro. Rio de Janeiro;
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Semiologia do Aparelho Locomotor In: Novais ENV, Carvalho Jr.
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10- Mann RA. Principles of examination of foot and ankle. In:
DuVries HL. Surgery of the foot. 5ᵃ ed. St Louis; Mosby, 1985.

Figuras:

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