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Centro Universitário Alfredo Nasser

Alunos(as): Beatriz Marques, Eloísa Trindade, João Marcos Silva, Nelson da Silva
Amaral, Sâmara Aires

Prof.ª. Ma.Tainá Dal Bosco Silva

Psicologia do Desenvolvimento I

Ensaio Acadêmico

Aparecida de Goiânia

2021

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Sumário

Introdução e Apresentação do livro Meu Pé de Laranja Lima........................................03

Relação entre o livro e o estudo do desenvolvimento humano.......................................03

Violências e Carências no Desenvolvimento..................................................................04

Os primeiros contatos com as perdas..............................................................................06

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I. Introdução e Apresentação do livro Meu Pé de Laranja Lima

O livro utilizado como embasamento para a elaboração do ensaio


acadêmico. O livro sugerido foi O meu Pé de Laranja Lima e é de autoria do
escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos. Foi lançado no ano de 1968 e
conta a história do personagem Zezé e sobre como é sua convivência com a
família e a vizinhança, sobre suas atividades e brincadeiras. Até o dia em que ele
decide ter como melhor amigo um pé de laranja lima. A sua família é numerosa
e passa por muitas situações difíceis. Zezé é caracterizado como um menino
muito inteligente, muito levado e extremamente sensível.

II. Relação entre o livro e o estudo do desenvolvimento humano

O estudo da matéria de psicologia do desenvolvimento I se relaciona com


alguns aspectos da obra literária escolhida. Porém, é importante que se ressalte
brevemente sobre o que é o estudo do desenvolvimento humano.
O estudo acerca do desenvolvimento humano tem o seu foco nos
processos que acontecem nos indivíduos naquilo que os desenvolvimentistas
definem como desenvolvimento do ciclo vital. (Desenvolvimento Humano,
Papalia, Diane E., Feldman, Ruth Duskin, 12° edição 2013, Pág 36). Adentrando
ao tema e conteúdo do desenvolvimento humano, relacionando o conhecimento
da matéria com a leitura do livro é possível indicar fatos importantes nos
domínios do desenvolvimento durante o ciclo de vida de Zezé, acentuando as
mudanças e instabilidades na vida do menino. O seu desenvolvimento físico, ao
que tudo indica não parece ser afetado drasticamente ou de forma extrema, no
livro ele é descrito como sendo saudável e cheio de energia. No que condiz ao
desenvolvimento cognitivo evidenciamos um nível elevado de aprendizagem do
garoto que aos 5 anos de idade aprendeu até mesmo ler sozinho.
Um dos grandes fatores que influenciam no desenvolvimento quando se
está na infância são os aspectos socioeconômicos da família que é responsável

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por cuidar dessa criança. No livro, é possível perceber que o protagonista Zezé
vivia em uma casa com mais 06 (seis) pessoas e a renda não era o suficiente para
que todos vivessem com tranquilidade. A mãe de Zezé trabalhava em um fábrica
na cidade e o pai de Zezé estava desempregado e nunca estava muito presente.
Foi comprovado que as crianças que durante um longo período vivem em um
ambiente de pobreza ou extrema pobreza tem chances maiores de
desenvolverem problemas relacionados ao aspecto afetivo e em seus
comportamentos, comparado a crianças que crescem em ambientes com
condições melhores. Contudo, não significa que crianças filhas de pais ricos
estão livres de riscos, pois geralmente essas crianças são expostas a uma
cobrança social muito maior, o que aumenta o tempo em que essas crianças são
deixadas sob cuidados que não são de seus progenitores. Crianças que não
possuem um tempo de qualidade com seus progenitores/responsáveis estão mais
propensas a desenvolverem hipersensibilidade e problemas relacionados ao
aspecto afetivo.

III. Violências e Carências no Desenvolvimento

Atualmente existem instituições, ONG’s e Estatutos que defendem o


bem-estar físico, social e psicológico de crianças até a idade da terceira infância,
porém nem sempre foi da maneira como é conhecido hoje. Em meados do século
XVIII, as crianças não tinham significado social e eram tratados como “adultos
mirins”, pois tinham responsabilidades sociais como as de um adulto qualquer.
Isso pode ser caracterizado como um tipo de violência, já que lhes eram tirado o
prazer da infância. Hoje, não são permitidos pela lei esses tipos de
comportamentos contra as crianças, mas infelizmente a violência contra elas não
acabou, pois muitas são violentadas verbalmente, psicologicamente,
moralmente, sexualmente, e fisicamente.
No livro, podemos perceber que o protagonista sempre era tratado como
“uma peste” por ser muito esperto e ativo, e por isso ele sempre era castigado e
de maneira muito agressiva. Há vários trechos no livro que provam que Zezé era
agredido de forma brutal e isso lhe deixava traumas profundos, como por

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exemplo quando ele afirmou que mataria o pai biológico, sendo então
questionado por Portuga o porquê ele faria isso. Então, a criança responde que
não o mataria fisicamente, mas que o mataria dentro de sim, porque era dessa
maneira não se ia querendo mais o bem dessa pessoa.

Não faz mal, eu vou matar ele.


Que é isso menino, matares teu pai? - Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o
revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a
pessoa morre.
(Zezé, Meu pé de laranja lima, Pág 72)

O desafio que muitas crianças enfrentam hoje é o de ser criança em um mundo onde
constantemente essa criança sofre as consequências dos problemas de adultos e o
quanto isso pode afetar a imagem que ela tem de si mesma. O Zezé chegava a acreditar
que merecia as coisas ruins que aconteciam com ele e que tinha “o diabo no corpo”,
porque era um menino travesso, e chega a dizer que não quer mais existir. O
autoconceito que o garoto tinha de si era deformado, e isso se devia as influências
sociais (família, vizinhos). Sua identidade pessoal era ditada pelas pessoas que diziam
que ele era um menino de uma personalidade tinhosa, mas que se esqueciam da
sensibilidade e carisma que o menino possuía. Querendo que seus filhos tenham sempre
os melhores presentes e cuidados, muitos pais/cuidadores acabam se tornando ausentes
na vida de seus filhos, e nesse caso, o excesso de trabalho e recompensas materiais
podem causar uma carência afetiva na relação pais-filhos. E com essa carência, muitas
crianças se tornam adultos feridos. Esse tipo de comportamento de pais que se
preocupam mais com seus interesses e necessidades pessoais do que com seus filhos,
pode os classificar como parientalidade negligente. (Desenvolvimento Humano,
Papalia, Diane E., Feldman, Ruth Duskin, 12° edição 2013 Pág 303). Outro ponto de
destaque que merece ser avaliado é a maneira como Zezé era corrigido quando fazia
algo considerado incorreto. Ao invés de conversarem com ele, mostrando que apesar de
ser um bom rapaz ele havia cometido algo ruim, o garoto era muitas vezes espancado, e
em outros casos, ele não conseguia compreender o porquê daquelas surras. Acontece
que ao corrigirem da maneira correta, não ensinavam ao menino, mas sim o faziam ter
sentimentos ruins das pessoas, como acontece com o pai.

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Meu rosto quase não se podia mexer, era arremessado. Meus olhos abriam-se para se tornar a fechar com o impacto
das bofetadas. Eu não sabia se devia parar ou se tinha de obedecer... Mas na minha dor tinha resolvido uma coisa.
Seria a última surra que eu levaria, seria a última mesmo que morresse para isso.
Assassino! ... Mate de uma vez. A cadeia está aí para me vingar.
(Zezé, Meu pé de laranja lima. Pág 89)

A maneira como os pais lidarão com a educação e correção da criança pode


transformá-la em um adulto emocionalmente instável (seja de forma positiva ou
negativa).
IV. Os primeiros contatos com as perdas

Algumas perdas durante a vida tem o poder de marcar drasticamente as pessoas,


sejam essas perdas em aspectos físicos ou não. Existem vários tipos de perdas ao longo
da infância: seja a perda de um brinquedo de alto valor sentimental, a perda de um
amigo, de um animal de estimação, de entes queridos. Em todos os momentos da vida,
os indivíduos estão propensos a “perderem” na vida.
Relacionando com a obra literária, as perdas que Zezé sofreu lhe causou grande
impacto negativo. Ao perder o seu melhor amigo Portuga, ele entra em choque, o que
lhe deixa doente por alguns dias e em consequência disso, o menino começa a ter
pesadelos e sente raiva de Mangaratiba (o trem que havia causado o acidente e a morte
de Portuga).Percebe-se que Zezé perdeu um pouco dele depois que Portuga falece, e na
mesma época cortam o “seu” pé de laranja lima, e isso lhe deixa ainda mais arrasado, a
ponto de nem sentir alegria ao saber que o pai foi empregado novamente e terão uma
vida farta mais uma vez. Tempos mais tarde, Zezé vai nos revelar que dois de seus
irmãos desistiram de viver.
O luto pode ser considerado como o processo emocional e sentimental que
vivencia a ausência e o vazio da perda de alguém. Para muitos, é um processo que pode
levar muito tempo, pois o luto é necessário para encontrar forças para se adequar a uma
nova realidade, depois do trauma da perda de alguém que se ama e se considera muito.
Para o protagonista, Portuga é uma figura paterna e amável, e o influenciou até
mesmo depois de sua partida, pois no final da história é possível perceber que sendo
adulto, o Zezé ainda dirigia cartas a Portuga em formas de desabafo. O livro não relata

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como foi a vida adulta de Zezé, mas pode-se deduzir que com todas essas perdas ao
longo das fases de sua vida, o garoto Zezé talvez nunca mais conseguiu ser o mesmo.

Hoje sou eu que tento distribuir as bolas e as figurinhas, porque a vida sem ternura não é lá grande coisa. Às vezes
sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum. Naquele tempo. No tempo de nosso tempo, eu
não sabia que muitos anos antes, um Príncipe Idiota ajoelhado diante de um altar perguntava aos ícones, com os
olhos cheios d'água: “POR QUE CONTAM COISAS AS CRIANCINHAS’ A verdade, meu querido Portuga, é que
a mim contaram as coisas muito cedo. Adeus!
(Zezé, Meu pé de laranja lima, pág. 92)

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Referências Bibliográficas

Papalia, Diane E., Feldman, Ruth Duskin, Desenvolvimento Humano, AMGH Editora
12° edição,2013

Vasconcelos, José de Mauro. O meu pé de laranja lima, Melhoramentos Editora,1°


Edição,1968

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