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Afinal, o que querem as crianças?

Olá meus amigos e amigas, meu nome é Marcelo Arruda, sou psicólogo, palestrante e escritor.
Como prometido na semana passada, cá estou eu novamente propondo uma nova reflexão. E
desta vez, vou tratar de um assunto que talvez seja o que mais gere indagações aos psicólogos,
que é a criação e relacionamento com os filhos.

Estamos atravessando um momento de reconfiguração de valores na sociedade. Papeis que


até pouco tempo atrás estavam consolidados, estão se refazendo, o estilo de vida
contemporâneo faz com que referencias e valores importantes sejam revistos e questionados.
Vivemos em uma época em que há muita dúvida sobre o que é certo ou errado, sobre nossos
papeis enquanto pais, sobre o que podemos ou não fazer referente a criação de nossos
pequenos. Diante de tantas dúvidas e inquietações, quero fazer uma reflexão rápida e certeira,
sobre pontos que considero fundamentais na criação de filhos, independente o “tipo” de
educação que adote, o que apontarei a seguir são valores inquestionáveis. Como perceberá,
as ideias que apresentarei a seguir são simples e óbvias, mas infelizmente, em uma época de
tanta informação e de um afastamento de nossa essência humana, falar do óbvio é essencial.
Quando falamos sobre “criação de filhos” estamos falando de um caminho para um mundo
pior ou melhor, criar uma criança é sem dúvida a função mais importante na vida de quem é
pai, mãe ou de quem por situações diversas, acaba sendo o responsável por alguma criança.
Função essa que vem sendo negligenciada e o resultado disso está à vista de todos: crianças e
adolescentes emocionalmente frágeis que não sabem lidar com frustrações, casos de
depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos cada vez mais alarmante entre os
jovens, suicídio de jovens aumentando potencialmente ano a ano, dentre inúmeras
consequências catastróficas para nossa sociedade.

Afinal, o que querem as crianças?

Diante de toda esta confusão de ideias e regras, esta é uma pergunta capciosa! Se for para
resumir qual é a missão que temos para com nossos pequenos eu aponto três aspectos
fundamentais, três “pilastras” que se devidamente “erguidas” aumentarão em muito a chance
de que nossas crianças sejam pessoas boas, bem-sucedidas e felizes. Estou falando de amor,
segurança e limites. Se devidamente sustentadas, resumem o papel que temos para com
nossas crianças e estaremos certamente contribuindo para uma sociedade melhor.

Amor.

Vamos começar pelo primordial, amar seria o resumo do resumo! Bastaria dizer: ame seus
filhos e pronto, o demais viria por consequência. Sabiamente, o mestre dos mestres Jesus,
resumiu todo o evangelho quando ensinou que deveríamos amar a Deus sobre todas as coisas
e a nosso próximo como a si mesmo! Se puséssemos em prática, bastaria isso e viveríamos
todos em harmonia. Em centenas de oportunidades que tive de falar sobre esse tema, peço
para que levantem a mão quem ama o filho, imagino que se você que tem filho estivesse em
um desses eventos também levantaria a mão, não é verdade? O problema, creio eu, não se
trata de falta de amor, mas de saber amar! O que percebo é que em muitos casos esse amor
não é demonstrado. É um amor sem interação, sem contato, sem cumplicidade e sem
afetividade. Não é o suficiente, precisamos amar e demonstrar esse amor cotidianamente.
Acredite, muitas crianças e adolescentes que conversei relataram não se sentirem amadas por
seus pais. Isso vem ocorrendo por muitos fatores, mas eu aposto principalmente na
desumanização gradativa que a humanidade vem sofrendo, estamos cada vez mais nos
afastando de nossa humanidade, vivendo numa espécie de “piloto automático” que dificulta a
manifestação da afetividade. Pensemos em nós, que somos adultos, quando nos relacionamos
é fundamental que percebamos o afeto do outro conosco, gostamos de nos sentirmos
amados, valorizados, receber algum tipo de homenagem de quando em quando. Imagine a
criança ou adolescente que é um indivíduo em formação, que precisa ser positivamente
estimulado para que desenvolva autoestima e confiança, qualquer gesto positivo pode
significar muito para eles. Convenhamos meus amigos e amigas, amar é muito fácil se ficar
meramente no discurso, mas o amor sem ação é irrelevante, é necessário que nossas crianças
se sintam amadas e esse sentimento será construído através dos pequenos gestos tais como
uma conversa olho no olho, um abraço, um passeio, uma brincadeira, uma boa convivência
onde se constrói cumplicidade. A pergunta que devemos nos fazer cotidianamente então é:
Você já demonstrou o seu amor hoje? Ratifico, há muitas crianças e adolescentes que não se
sentem amados por seus pais mesmo sendo, não será o caso de seus filhos? Converse sobre
isso, diga que os ama, que podem contar com você sempre e sobretudo, demonstre isso na
sua rotina, sentir-se amado faz toda a diferença do mundo. Uma criança que não é amada ou
não se sente suficientemente amada, certamente enfrentará problemas de desenvolvimento,
aprendizagem, autoestima, autoconfiança, relacionamento com outras crianças e adultos,
dentre outros problemas diretamente ligados a percepção de não ser amado ou amada.
Logicamente que o inverso também é verdadeiro, uma criança devidamente amada terá seu
processo de desenvolvimento, aprendizagem e de socialização extremamente facilitado, ser
amado é condição essencial para que que possa haver o devido desenvolvimento humano em
diversos aspectos. Portanto, mais do que amar, é preciso amar e demonstrar.

Segurança

Continuando, gozar da condição de segurança é outra necessidade fundamental para a criança.


E o que seria essa segurança? A criança nasce totalmente indefesa, para sua sobrevivência e
desenvolvimento dependerá totalmente de cuidadores. A sensação de segurança é o
sentimento de que não corro risco, de que meus anseios fisiológicos e psicológicos serão
atendidos e isso começa a ser desenvolvido desde o nascimento. A criança chora quando tem
fome, frio ou outra necessidade qualquer, quando passa a ser atendida vai desenvolvendo esta
segurança de se ter quem olha por ela. Com o passar dos anos novas necessidades vão
surgindo e é sempre fundamental a criança sentir-se cuidada, saber que há quem olha por ela,
um porto seguro digamos, alguém que ela possa recorrer quando “se meter em alguma
confusão”. Essa segurança se estende, no meu entendimento, para o sentimento de se ter um
lar, é importante para todos nós e principalmente para a criança, usufruir desta sensação de
ter “um cantinho” de paz, é fundamental portanto, que a criança goste de sua casa, se sinta
bem e segura nela. Isso implica dizer que crescer em um lar harmonioso é fundamental, por
harmonioso quero dizer um lar onde brigas e gritos não sejam constantes, um lugar onde a
criança tenha liberdade para brincar, se sinta acolhida e segura.

Limites.

A falta de limites é com certeza um dos males da contemporaneidade, não estabelecer limites
é sem dúvida um caminho a ao sofrimento e a autodestruição. A criança nasce sem ter a
menor noção do que seja limite, não sabe o que é moralmente certo ou errado, vai aprender
todos esses valores no convívio humano, vai aprender justamente testando os limites que lhe
são dados, é através do “não” que compreende até onde pode ir. Hoje é nítido como muitos
pais perderam o controle sobre seus filhos. Na minha consideravelmente longa atuação no
serviço social, quantas e quantas vezes, em reuniões com pais de adolescentes que
apresentavam problemas na escola ou mesmo com a justiça, estes pais simplesmente diziam
que não sabiam o que fazer, admitiam que já não tinham o menor controle sobre seus filhos
ainda adolescentes. Houve casos também de mães que me procuravam desesperadas, dizendo
que não sabiam mais o que fazer com seus filhos, que eles gritavam e agrediam, que faziam o
que queriam, nisso você vai construindo aquela ideia de que este filho seja um adolescente
imponente com seus 16 ou 17 anos, mas quando vai conhecer o “adolescente” se trata de um
menino mirradinho de oito anos. É óbvio que tanto no caso dos adolescentes quanto das
crianças, a situação não chegou neste ponto de um dia para o outro. Um dos deveres sagrados
dos pais é estabelecer limites a criança, desde sua tenra idade e até o momento em que
estiverem sobre nossa responsabilidade. Não estabelecer tais limites é gravíssimo, afetará o
próprio desenvolvimento psicológico e social da criança, não irá prepara-lo para uma vida em
sociedade, certamente esta criança que cresce sem limites, terá muito mais chance de não se
adaptar a vida social podendo enfrentar problemas de diversos tipos, dos psicológicos aos
judiciais. Os fatores que levam pais a não estabelecerem limites aos filhos são variáveis, os
principais são pais emocionalmente frágeis que simplesmente não conseguem se impor, pais
permissíveis tomados por sentimento de culpa para com seus filhos, o descaso gerado pelo
abandono afetivo, dentre outros. Eu sempre digo em minhas palestras, se você tem um filho
que nunca considerou você chato, cuidado, pode haver algo errado! Ao ser os estabelecedores
de limites, muitas vezes os pais devem dizer “não” as crianças e adolescentes, devem
contradizê-los e isso muitas vezes os colocará na posição de “chatos”, que assim seja, seu filho
pode criticar, pode não entender esse “não” agora, mas será fundamental para ele lá na
frente. Resumindo, criança e adolescente não podem fazer o que querem, como querem e
quando querem, os pais são autoridades da casa.

Como na reflexão da semana passada, esta também foi adaptada do meu livro “Você – Uma
abordagem humanista através da psicoterapia”, trata-se de uma proposta diferenciada, onde o
leitor terá de realizar atividades de cunho psicológico e de acordo com suas decisões e
respostas terá uma devolutiva especifica, a obra é um convite ao autoconhecimento e a
intensas reflexões, para saber mais ou adquirir a obra, faça uma visita em minhas redes sociais.

Um grande abraço!

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