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Tensoativos – Classificação dos tensoativos

Por Ricardo Pedro


Especialista de pesquisa e desenvolvimento, que a elabora artigos técnicos e cursos em
cosméticos e saneantes para a revista H&C

Dando continuidade ao artigo anterior, abordaremos aspectos gerais sobre os tensoativos não-
iònicos e anfóteros.

Tensoativos não-iônicos - Os tensoativos não-iônicos são caracterizados por possuírem grupos


hidrofílicos sem cargas ligados à cadeia graxa. Possuem como características a compatibilidade
com a maioria das matérias-primas utilizadas em cosméticos, baixa irritabilidade à pele e aos
olhos, um alto poder de redução da tensão superficial e interfacial e baixos poderes de
detergência e espuma. Estas características permitem que estes tensoativos sejam utilizados
principalmente como agentes emulsionantes.
As alcanolamidas de ácidos graxos pertencem à classe de tensoativos não-iônicos. No mercado
brasileiro a dietanolamida de ácido graxo de coco é mais utilizada devido ao baixo custo e
disponibilidade local das matérias-primas e por dispensar aquecimento para seu uso. São
obtidas pela reação da dietanolamina ou monoetanolamina com ácidos graxos de coco. São
utilizadas como agentes sobrengordurantes, espessantes e solubilizantes de fragrâncias e
materiais oleosos.
Dentre os tensoativos não-iônicos as alcanolamidas graxas são as que possuem maior
utilização em preparações espumógenas, principalmente em xampus, por apresentarem poder
espessante pelo aumento da reserva de viscosidade, ou seja, por permitirem maior absorção
de água e maior resistência a eletrólitos, estabilização de espuma, pela solubilização dos
ésteres graxos, glicóis, álcoois, óleos essenciais, lanolina, etc., efeito sobrengordurante
(recondicionamento), devido à estrutura graxa e ao baixo poder de detergência, reduz o efeito
de ressecamento causado pelos tensoativos aniônicos.
Outros componentes da classe de tensoativos não-iônicos são os derivados de polióis, como os
ésteres de glicerol. Destes, o monoestearato de glicerila é o mais utilizado em loções, cremes e
batons. É obtido pela reação direta do ácido esteárico com glicerol. Com a adição de um
emulsionante aniônico, obtém-se o monoestearato de glicerila auto-emulsionável.
Dos polióis tem-se ainda a classe dos derivados de glicóis, da qual os ésteres de glicóis são os
componentes mais simples. São agentes emulsionantes com grupamento hidrofílico
proveniente do glicol e lipofílico oriundo do ácido graxo, sendo utilizados normalmente como
emulsionantes auxiliares, dispersantes, agentes de consistência, opacificantes e perolizantes.
Podem ser disponíveis na forma de concentrados, onde ocorrem em misturas com outros
tensoativos.
Muitos tensoativos não-iônicos são utilizados, também como emolientes, atuando na
prevenção e alívio do ressecamento da pele, bem como na sua proteção. São substâncias que
conferem maciez e flexibilidade à pele. Agem através da retenção de água no estrato córneo
por meio da formação de uma emulsão de água em óleo. Os emolientes apresentam também
como propriedades um fácil espalhamento, facilidade de penetração na pele, auxiliam na
dispersão de pigmentos, atuam como emulsionantes e co-solventes. Um exemplo de produto
desta categoria é o álcool estearílico propoxilado, muito utilizado nesta função por não possuir
poder comedogênico (causador de acnes).
Alguns tensoativos não-iônicos são utilizados como solubilizantes de fragrâncias citando-se
como exemplos, os álcoois laurílicos etoxilados. Com graus de etoxilação entre 6 e 9 os álcoois
laurílicos possuem também boa detergência e reduzido volume de espuma, o que os torna
úteis em produtos para limpeza facial. São bastante suaves e biodegradáveis, apresentando
também boa tolerância à dureza de água.
Tensoativos não-iônicos também podem ser utilizados como agentes de consistência,
destacando-se o álcool cetoestearílico etoxilado com 20 mols de óxido de eteno, normalmente
utilizado em conjunto com o material de partida de sua síntese (álcool cetoestearílico não
etoxilado) em condicionadores capilares e cremes diversos.
Os alquilpoliglicosídeos são uma família relativamente nova de tensoativos. São sintetizados
reagindo glicose de amido de milho com um álcool graxo. A molécula resultante é um
tensoativo não-iônico de boa solubilidade em água devido aos grupos hidroxila. São bons
detergentes e têm grau muito elevado de biodegradabilidade. Os principais tensoativos desta
classe são o decil e o laurilpoliglicosídeo com grau de polimerização (número médio de
unidades de glicose por unidade de álcool) 1,4.

Tensoativos anfóteros - Os tensoativos anfóteros são caracterizados por apresentarem, na


mesma molécula, grupamentos positivo e negativo. O grupamento positivo é, normalmente,
representado por um grupo de nitrogênio quaternário e o negativo por um grupo carboxilato
ou sulfonato.
Propriedades como solubilidade, detergência, poder espumante e poder umectante dos
tensoativos desta classe estão condicionados, principalmente, ao pH do meio e ao
comprimento da cadeia que os constitui. O grupo polar positivo é mais pronunciado em pH
menor que 7 ao passo que o grupo polar negativo é mais pronunciado em pH maior que 7. Os
tensoativos anfóteros mais utilizados na indústria cosmética são os derivados de imidazolina e
as betaínas.
Os derivados de imidazolina são obtidos pela condensação de ácido graxo de coco com
monoetiletanolamina, resultando na imidazolina graxa, que reagindo com o monocloroacetato
de sódio (um ou dois mols) produz a imidazolina anfoterizada. Estes compostos são referidos
comumente como cocoanfocarboxiacetatos, ou ainda, propionatos, no caso de reação com
monocloropropionato de sódio ou acrilato de etila.
As betaínas são obtidas pela reação da cocodimetilamina com o monocloroacetato de sódio
para obter a cocobetaína ou pela condensação do ácido graxo de coco com
dimetilaminopropilamina e posterior reação com monocloroacetato de sódio para obter a
cocoamidopropil betaína.

Alguns tensoativos não-iônicos e anfóteros de uso cosmético

CLASSE DE TENSOATIVOS APLICAÇÃO


Não-iônicos:
Monoetanolamida e
Agentes de consistência, estabilizantes de espuma,
dietanolamida de ácido
sobrengordurantes e solubilizantes de fragrâncias
graxo de coco
Solubilizantes de fragrâncias, hidrótopos em
Óleos de mamona etoxilados
preparações líquidas e límpidas
Solubilizantes de fragrâncias, detergentes,
Álcoois graxos etoxilados emolientes, agentes de consistência, solubilizantes
de fragrâncias em preparações líquidas
Mono e diésteres de cadeia longa Agentes espessantes, emulsionantes, dispersantes,
de polietilenoglicol opacificantes e perolizantes
Anfóteros
• Betaína de coco
Cremes, loções cremosas, sabonetes líquidos, géis
• Cocoamidopropil betaína
para banho, xampus mais suaves (infantis) e géis e
• Cococarboxianfoglicinato de
higienizantes
sódio

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