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O que são emulsões aniônicas

Os emulsionantes aniônicos se dissociam em solução aquosa formando íons


carregados negativamente. São emulsionantes muito utilizados, possuem
geralmente de baixo custo, mas podem ser mais irritantes para a pele que os
demais tipos. Um exemplo clássico de uma emulsão base aniônica (creme
aniônico) é a obtida com o uso da conhecida cera Lanette N® (álcool
cetoestearílico e cetil estearil sulfato de sódio). [1,3]

Os principais representantes dos emulsionantes aniônicos utilizados em


emulsões O/A são os emulsionantes de metais alcalinos e de amônio (sais
de sódio, potássio ou amônia de ácidos graxos de cadeia longa – estearato
de sódio; cetil fosfato de potássio), aminados (trietalomanina) e compostos
sulfatados e sulfonados (lauril sulfato de sódio). Para emulsões A/O se
utilizam emulsionantes de metais divalentes e trivalentes (sais de cálcio).
[2]

 O que são emulsões não-iônicas

Os emulsionantes não-iônicos não possuem carga específica (carga


ionizável), apresentando um balanço (equilíbrio) entre as porções
hidrofóbicas e hidrofílicas das moléculas. As substâncias lipossolúveis
geralmente emulsionam (estabilizam) sistemas A/O e as hidrossolúveis os
sistemas O/A. São representados pelos ésteres de glicol e de glicerol,
ésteres de sorbitano, polissorbatos, ésteres de álcoois graxos, ésteres de
ácidos graxos e poliglicóis. [1,2]
Como exemplos de emulsionantes não-iônicos podemos citar os ésteres
poliglicólicos de ácidos graxos (estearato de polioxietileno 40), álcoois
graxos de cadeia longa (cetílico, estearílico e cetoestearílico), ésteres de
glicerina e glicólicos (monoestearato de glicerila), ésteres de sorbitano
(monoestearato de sorbitano) e polissorbatos (polissorbato 80). Um
exemplo de uma emulsão base não-iônica é a obtida pela utilização da base
tipo Polawax® (álcool cetoestearílico e monoestearato de sorbitano
polioxietileno 20 O.E.). [2,3]

Qual a diferença entre emulsões aniônicas e


não-iônicas

As emulsões aniônicas podem possuir capacidade detergente, e por isso são


utilizadas como emulsões de limpeza, demaquilantes e para formulações de
alta permeação cutânea (como um creme aniônico para tratamento). Uma
característica importante das emulsões aniônicas é que elas são
incompatíveis com ácidos e cátions polivalentes. [2,3]

Os emulsionantes não-iônicos constituem um grupo muito importante


porque têm baixa toxicidade, menores problemas de compatibilidade com
outros materiais e são menos sensíveis à mudança de pH e adição de
eletrólitos. Assim, apresentam como vantagens em relação aos demais tipos
de emulsionantes um menor grau de irritabilidade cutânea, baixa
toxicidade, baixa sensibilidade aos aditivos (eletrólitos), maior grau de
compatibilidade com substâncias diversas e menor sensibilidade às
alterações de pH. Porém geralmente apresentam maior custo que os
demais. [2,3]
Resumindo, a principal diferença entre uma emulsão aniônica e uma não-
iônica é a presença ou não de cargas ionizáveis [2], sendo que esta
diferença pode influenciar na estabilidade da formulação final conforme os
ativos cosméticos adicionados.

 Qual a escolha correta da emulsão

Para a manutenção da estabilidade da emulsão é importante que a


característica iônica do ativo dermocosmético adicionado seja compatível
com a dos emulsionantes empregados na manipulação da emulsão base.3
As emulsões aniônicas, como um creme aniônico para tratamento, são
geralmente compatíveis com princípios ativos que requerem veículos com
este caráter, como ureia, hidroquinona, di-hidroxiacetona e resorcina. Já as
emulsões não-iônicas são compatíveis com ácidos em geral, incluindo o
ácido retinoico, alfa-hidroxiácidos, filtros solares, ativos com pH ácido,
extratos vegetais, óleos vegetais e vitaminas.

Vou dar alguns exemplos. Vamos falar sobre a hidroquinona, uma


substância bastante utilizada em emulsões para tratamento de
hiperpigmentações cutâneas, cuja concentração em cremes varia de 2 a
10%. Esse ativo apresenta uma molécula instável, facilmente oxidada e,
pelo caráter aniônico, é incompatível com bases não-iônicas em
concentrações superiores a 3%. Assim, a hidroquinona deve ser utilizada
em uma emulsão base aniônica (creme aniônico). [3]

Outro exemplo é o de um ativo bastante utilizado como hidratante e


esfoliante: o ácido glicólico. Ele é um composto não-iônico constituinte do
grupo dos alfa-hidroxiácidos. [5] Dessa forma, o ácido glicólico (e os
ácidos em geral), devem ser manipulados em uma emulsão base não-iônica.
[3]
O maior problema é quando ocorre uma associação de ativos de diferentes
características iônicas, como a associação de hidroquinona e ácido
glicólico, em uma mesma emulsão. Essa associação é dificultada porque
hidroquinona e ácido glicólico deveriam ser veiculados, respectivamente,
em emulsão base aniônica e emulsão base não-iônica.[3]

Porém, para esses casos, o ideal é não fazer a manipulação na mesma


emulsão base, ou, quando houver estudos de estabilidade e eficácia da
associação, escolher a emulsão base mais adequada para a associação.
Quando se faz uma associação de ativos de diferentes características
iônicas, geralmente a maior estabilidade ocorre na utilização da emulsão
tipo aniônica, como por exemplo para as associações de hidroquinona e
ácido glicólico3, hidroquinona e ácido kójico [4] e ureia e ácido salicílico
[1]. No caso da hidroquinona e ácido glicólico, estudos [3,4] mostram que é
possível conseguir uma maior estabilidade físico-química se os ativos
forem veiculados em uma emulsão base aniônica (loção ou  creme
aniônico) mantida em temperaturas baixas, ao redor de 4°C.

Assim, para você não errar na escolha da melhor base para a adição


dos ativos dermocosméticos você precisa seguir essas dicas:
1. Para emulsões de limpeza e demaquilantes utilize os emulsionantes
aniônicos;

2. Para peles infantis e sensíveis escolha emulsionantes não-iônicos;

3. Para formulação de alta permeação cutânea o ideal é usar


emulsionantes aniônicos;

4. NÃO use emulsões aniônicas para incorporar ácidos e cátions


polivalentes;
5. USE emulsões aniônicas para incorporar ureia, hidroquinona e di-
hidroxiacetona;
6. USE emulsões não-iônicas para incorporação de ativos ácidos;
7. USE emulsões não-iônicas para formulações de filtro solar;
8. Para a maioria dos ativos cosméticos a base de escolha é a
emulsão não-iônica, mas quando associar ativos de diferentes características
iônicas prefira uma emulsão aniônica.
9. Sempre pesquise por estudos de estabilidade quando precisar associar
ativos de diferentes características iônicas, e realize testes de estabilidade
sempre que necessário.

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