Você está na página 1de 36

Materiais e Suas

Propriedades

Defeitos em Cristais -Parte 2

◼ 1
Roteiro
• Introdução
• Defeitos Pontuais, Puntuais ou puntiformes
• Processo térmico de geração de defeitos
• Impurezas em Sólidos
• Composição de fases
• Defeitos Lineares ou unidimensionais
• Defeitos bidimensionais ou de contorno, superfície ou interface
• Defeitos tridimensionais
• Micrografia

◼ 2
Defeitos Lineares
• Discordâncias

– É um defeito linear ou unidimensional em torno do qual os átomos


estão desalinhados.

– Um tipo de discordância está representada na fig.1: uma parte extra


de plano de átomos, ou meio-plano, cuja extremidade termina dentro
do cristal. Esse tipo de defeito é chamado de discordância em aresta.

◼Figura 1: Arranjo dos átomos em


torno de uma discordância em
aresta (“edge dislocation”)

Extraído do Callister 8ª ed. ◼ 3


Defeitos Lineares
Discordâncias em cunha ou aresta:

Extraído do Askeland ◼ 4
Defeitos Lineares

• Portanto, discordância em aresta


é um defeito linear que centra em
torno da linha definida ao longo
da terminação desse meio-plano
extra de átomos.

• Isso é chamado algumas vezes de


linha de discordância, que pode
ser visualizada na figura 1 e é
perpendicular ao plano da página.

5
Defeitos Lineares
• Discordância em aresta
• Dentro da região em torno
da linha de discordância
existe uma distorção de rede
localizada. Os átomos acima
da linha de discordância (ver
fig. anteriores) são
pressionados juntos e os de
baixo estão rompidos; isso
reflete na leve curvatura
para esses planos verticais
de átomos como se eles
curvassem em torno desse
meio-plano extra.

6
Defeitos Lineares
• Discordância em aresta
– A intensidade dessa distorção diminui com a distância a partir da
linha de discordância, sendo que em posições bem afastadas a rede
cristalina é teoricamente perfeita.

– Vale destacar que a discordância em aresta mostradas nas figuras


anteriores é representada pelo símbolo ⊥ que também indica a
posição da linha de discordância.

◼Fig. 4: Discordâncias em titanato de estrôncio


SrTiO3. Esse material tem uma transição dúctil-
frágil interessante. Como a maioria das cerâmicas,
SrTiO3 é dúctil em altas T (discordâncias com vetor
de Burgers b<100> e b<110>, dependendo do eixo
de carga) e torna-se frágil em baixas temperaturas.
◼ “Interfaces dislocations and surface reconstructions in
SrTiO3b”
◼ 7
Defeitos Lineares

• Discordância em hélice ou espiral


• Esse outro tipo de discordância pode ser vista como sendo
formada por uma tensão de cisalhamento que é aplicada
para formar a distorção mostrada abaixo:

Extraído do Callister 8ª ed.

◼Fig. : Arranjo dos átomos em torno


◼Fig. : Discordância em espiral
de uma discordância em espiral 8
(“screw dislocation”)

Defeitos Lineares

Extraído do Askeland
Defeitos Lineares

• Discordância em hélice ou espiral

– Continuando a análise das figuras anteriores, a região superior frontal


do cristal é deslocada uma distância atômica para a direita em relação
à parte inferior.

– A distorção atômica associada com essa discordância em espiral


também é linear e ocorre ao longo da linha de discordância, linha AB
na figura 6.

– O nome da discordância surge da espiral ou do caminho helicoidal


que é traçado em torno da linha de discordância pelos planos
atômicos.

– Podemos representar essa discordância em espiral (ou parafuso)


como
◼ 10
Defeitos Lineares
• Discordância em hélice ou espiral

◼ 11
Defeitos Lineares
• Discordância em hélice ou espiral - exemplos

490µm

◼ Figura 7: Imagem colorida por microscopia de tunelamento


(lateral de 75 nanômetros) do plano de superfície (0001) de
◼Figura 8: Fotomicrografia de um
nitreto de gálio, um semicondutor usado no desenvolvimento de conjunto de monocristais de YBCO,
diodos emissores de luz e de lasers intensos azul e verde. Duas utilizando microscópio ótico. Os
frentes de crescimento em espiral a partir de um ponto em que degraus surgem a partir do
uma discordância em espiral intercepta a superfície. Link: crescimento via discordâncias ◼ 12
http://www.sciencemag.org/cgi/content/full/281/5379/945
• Combinação de Discordâncias

• A maioria das discordâncias


encontradas em materiais cristalinos
não são puramente do tipo em aresta e
nem do tipo espiral, mas exibem
Defeitos componentes dos dois tipos: são
chamados de discordâncias mistas.
Lineares
• Todos os três tipos de discordâncias
estão representadas esquematicamente
na figura 9 a seguir. A distorção da rede
que é produzida de uma face a outra é
mista, possuindo variação do
comportamento helicoidal e de aresta.

◼ 13
Defeitos Lineares
• Combinação de Discordâncias

Extraído do Callister 8ª ed.

• Figura 9:(a) Representação esquemática de uma discordância que tem


características em aresta, espiral e mista. (b) Vista superior, onde os círculos
abertos representam posições atômicas acima do plano de escorregamento e
os círculos fechados representam posições atômicas inferiores. No ponto A, a
discordância é puramente do tipo espiral, enquanto que no ponto B é
puramente do tipo aresta. Na região intermediária onde há uma curvatura da
linha de discordância, a característica é mista. ◼14
Defeitos Lineares
• Combinação de Discordâncias

Extraído do Askeland ◼ 15
Defeitos Lineares
• Vetor de Burgers b

• A amplitude e direção da distorção de rede associada com a


discordância é expressa em termos do vetor de Burgers,
representado por b. Esse vetor foi indicado nas figuras 5,6 e 9.
• Além disso, a natureza/tipo de discordância é definida pela
orientação relativa da linha de discordância e o vetor de Burgers.
Para o tipo aresta, esses vetores são perpendiculares (figura 5) e
para o tipo espiral eles são paralelos (figura 9). Para o tipo misto
não são nem paralelos ou perpendiculares.
• Também, mesmo que a discordância mude de direção e natureza
dentro de um cristal (i.e., indo do tipo aresta para o misto e
depois espiral), o vetor de Burgers será o mesmo em todos os
pontos ao longo dessa linha de discordância.
◼ 16
Defeitos Lineares

◼Para materiais metálicos, o vetor de Burgers para uma


discordância irá apontar numa direção cristalográfica com maior
densidade linear atômica e com magnitude igual ao espaçamento
inter-atômico.
• Figura 10: A magnitude e a
direção da distorção do
reticulado associada a uma
discordância podem ser
expressas em termos do
vetor de Burgers, b. O vetor
de Burgers pode ser
determinado por meio do
circuito de Burgers.
Extraído do Askeland ◼ 17
Defeitos Lineares

• Figura 11: Circuito de Burgers

◼ 18
Defeitos Lineares

• Movimento de discordâncias

• Fig. 12: Como mostrado na figura acima, o movimento da discordância se dá por


pequenos movimentos de cada vez. A Discordância na metade superior do cristal
escorrega um plano por vez como se movesse da direita na sua posição mostrada
na imagem (a) para uma outra posição na imagem (b) e a posição final ©

Extraído do Callister 7ª ed. ◼ 19


Defeitos Lineares
• Movimento de discordância
• Como vimos, no processo de escorregamento de um plano por
vez a discordância propaga-se através do cristal. O movimento da
discordância através do plano eventualmente faz com que a
metade superior do cristal mova em relação à metade inferior.
• Entretanto, somente uma pequena fração das ligações são
quebradas em um dado tempo. Movimentar dessa maneira
requer um força muito menor do que se fosse quebrar todas as
ligações através do plano intermediário simultaneamente.

◼Figura 13: outra


representação do
movimento de
discordância.
◼Link:
◼ http://www.tf.uni-
kiel.de/matwis/amat/def_en/in
◼20
dex.html
Defeitos Lineares

• A centopéia!

• Figura 14:Movimento energeticamente mais favorável.

Extraído do Callister 7ª ed. ◼ 21


Defeitos Lineares
• Discordâncias - Imagens

◼ A deformação permanente da
maioria dos materiais cristalinos
ocorre pelo movimento das
discordâncias.

◼ O vetor de Burgers é um
elemento teórico que foi
desenvolvido para explicar esse
tipo de deformação que ocorre
nos materiais.

◼Figura 15: Micrografia por Microscopia


eletrônica por Transmissão (MET) de uma liga
de titânio em que as linhas escuras são as Extraído do Callister 7ª ed. ◼ 22
discordâncias. (Callister)
Defeitos Lineares

• Movimento de Discordâncias por cisalhamento

◼Figura 15: dois


exemplos de
movimentos dos
planos ao aplicarmos
uma tensão de
cisalhamento para o
caso aresta e espiral

◼ 23
Defeitos Lineares
• Outros detalhes importantes sobre as discordâncias:
• As discordâncias podem se originar durante a cristalização.
• Na discordância em aresta temos a presença de zonas de
tração e compressão, de tal forma que ao longo de sua linha
ocorre aumento de energia:

◼ Figura 16: Energia de


discordância. Átomos estão
sob compressão (escuros) e
tração (claros) em volta da
discordância. (extraído do Van
Vlack)

• Para a discordância em espiral também temos uma energia


extra envolvida, onde os átomos adjacentes estão com
tensões de cisalhamento aplicadas. 24 ◼
Defeitos Interfaciais ou Planares
• Superfícies Externas
• Um dos contornos mais evidente é a superfície externa do
cristal, que é onde a estrutura cristalina termina. Átomos
superficiais não estão ligados ao número máximo de vizinhos
próximos, e então está em um estado de energia maior do
que os átomos nas posições interiores.
• As ligações não satisfeitas desses átomos superficiais dão
origem a uma energia de superfície expressa em unidades de
energia por unidade de área (J/m2 ou erg/cm2).
• Para reduzir a sua energia, o material tende a se minimizar,
se possível, a sua área superficial, como o caso dos líquidos
que assumem o formato de gotas esféricas, o que não é
possível para os sólidos, pois são mecanicamente rígidos.

◼ 25
Defeitos Interfaciais
• Contorno de Grão
• Um outro tipo de defeito interfacial, o contorno de grão, é definida
como a região que separa dois pequenos grãos ou cristais tendo
duas orientações cristalográficas diferentes em um material
policristalino.

◼Figura 17: diagrama esquemático


mostrando contornos de grão de baixo e
alto ângulo e as posições atômicas
adjacentes. Dentro dessa região de
contorno, que é provavelmente de
alguns átomos de largura, existe um
desarranjo atômico na transição de uma
orientação cristalina de um grão para o
outro adjacente.

Extraído do Callister 7ª ed. ◼ 26


Defeitos Interfaciais
• Contorno de Grão

Extraído do Askeland ◼ 27
Defeitos Interfaciais
• Vários graus de desalinhamento cristalográfico entre grãos
adjacentes é possível (vide fig. abaixo 18). Quando essa orientação
de desemparelhamento é desprezível, da ordem de alguns graus, o
termo baixo contorno de grão é usado. Esses contornos podem ser
descritos em termos de redes de discordâncias.

◼ Figura 18: Um contorno de grão de


baixo ângulo é formado quando
discordâncias em arestas estão alinhadas
na forma mostrada na figura.. Esse tipo
D=b/ de defeito é chamado de tilt boundary (ou
contorno inclinado); o ângulo de
desorientação  está indicado na
figura.Quando esse ângulo é paralelo ao
contorno, um contorno torcido (Twist) se
origina, sendo descrito como um rede de
discordâncias em espiral.
◼ 28
Extraído do Callister 7ª ed.
Defeitos Interfaciais
• Continuando, os átomos estão ligados com menor
regularidade ao longo do contorno de grão (os ângulos de
ligação são maiores) e conseqüentemente há um contorno
interfacial ou de grão com energia similar à energia superficial
descrita anteriormente. A magnitude dessa energia é função
do grau de desorientação, sendo maior para ângulos maiores.
• Contornos de grãos são quimicamente mais reativos do que o
próprio grão como conseqüência dessa energia de contorno.
Além disso, átomos de impurezas geralmente segregam
preferencialmente ao longo desses contornos devido aos
estados de energia maiores.
• A energia interfacial total é menor em grãos maiores do que
os mais finos, desde que a área total de contorno seja menor
para o primeiro caso. Grãos crescem em elevadas
temperaturas para reduzir a energia total de contorno.

◼ 29
Defeitos Interfaciais

• A despeito desse arranjo desordenado de átomos e ausência


de ligação regular ao longo dos contornos de grão, um
material policristalino ainda é muito resistente.

• Forças coesivas dentro e através do contorno estão presentes.


Mais ainda, a densidade de uma amostra policristalina é
virtualmente idêntica à de um monocristal do mesmo
material.

◼ 30
Defeitos Interfaciais
• Contorno gêmeo ou Macla (Twin Boundaries)
• Macla é um tipo especial de contorno de grão através do qual existe
uma simetria de rede espelhada, i.e., os átomos de um lado do
contorno estão localizados em posições espelhos dos átomos do
outro lado (figura 19 e 20). Macla ou twin é a região de material
entre estes contornos.

◼Figura 19: diagrama esquemático ◼Fig. 20: Microscopia de


mostrando um plano de macla ou transmissão de alta resolução
contorno e os átomos adjacentes (HRTEM) imagem feita em 1979;
◼31
círculos escuros) Extraído do Callister 7ª ed. projeção <110> da rede de Si.
Defeitos Interfaciais
• Contorno gêmeo ou Macla (Twin Boundaries)

Extraído Askeland

◼ 32
Defeitos Interfaciais
• MACLAS
• Resultam do movimento atômico que são produzidos de uma
força mecânica aplicada de cisalhamento (maclas mecânicas)
e também durante tratamento térmico de recozimento
seguido de deformação (maclas de recozimento).

• Maclagem ocorre em um plano cristalográfico bem definido e


em uma direção específica que dependem da estrutura
cristalina. Maclas de recozimento são encontradas usualmente
em metais que têm a estrutura CFC, enquanto que maclas
mecânicas são observadas em metais CCC e HC.

◼ 33
Defeitos Interfaciais
• Outros Defeitos Interfaciais ou Planares
• Falhas de empilhamento, contorno de fase e paredes de
domínio ferromagnéticos são alguns exemplos.
• As falhas de empilhamento ocorrem em metais CFC quando
há uma interrupção na seqüência de empilhamento dos
planos ABCABCABC . . .

◼ Figura 22: Exemplo de falha de empilhamento


◼ 34
Defeitos de Volume
• São todos os outros defeitos em sólidos que são muito maiores dos que
aqueles aqui mostrados. Podemos citar poros, cracks, inclusões de um
material diferente e outras fases.
• Eles são normalmente introduzidos durante o processamento e etapas de
fabricação.

Grafite nodular em ferro fundido. Extraído


de ASTM Metals HandBook Volume 09 -
Metallography and Microstructure
• Extraído do livro do Colpaert
◼ 35
Bibliografia

• W.D. Callister Jr., Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução.


Trad. Murilo Stamile Soares, 7ª Edição,
• L.H. Van Vlack, Princípios de Ciências dos Materiais: Uma Introdução,
5ª Edição, LTC, Rio de Janeiro, 2002.
• J.F. Schackelford, Introduction to Materials Science for Engineers,
Prentice Hall, 6th Edition, 2004.
• Donald R. Askeland, Pradeep P. Fulay, and Wendelin J. Wright, The
Science & Engineering of Materials

◼ 36

Você também pode gostar