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ABM Deformação, Recristalização e Textura C. S.

Viana
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III -O Estado Deformado : Caracterização mecânica


Quando um metal é deformado plasticamente, nota-se que o
esforço para continuar a deformação é sempre crescente.

Após deformado, o material é dito estar encruado. Neste


estado, sua dureza, seus limites de escoamento e de
resistência são mais elevados e sua ductilidade é mais
reduzida, do que os valores do seu estado inicial.

Isto resulta do fato de a deformação plástica não ser


possível sem o movimento de discordâncias, e, quando isto
ocorre, há interação entre elas mesmas e com outros
defeitos da rede cristalina, levando ao aumento da sua
densidade e da energia armazenada no material.
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Caracteriazação microestrutural
Durante a deformação plástica, os metais sofrem mudanças
microestruturais de várias formas:
i - os grãos são alongados na direção do fluxo metálico;
ii - ocorrem a criação e incorporação de discordâncias e de
defeitos de ponto,
iii - a área de contorno dos grãos aumenta;
iv - pode ocorrer a formação de maclas de deformação e de
bandas de transição e de cisalhamento (def. heterogênea).
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A soma das energias de todas as discordâncias e das


novas interfaces criadas é que representa a energia total
armazenada na deformação.

Esta energia é apenas cerca de 1% da energia total gasta


em deformar o material ; o resto é dissipado na forma de
calor.

Resultante, também, do aumento da densidade de


discordâncias com a deformação, surge uma nova
estrutura no interior dos grãos (subestrutura), formada
por domínios ou células.
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Estas células são volumes aproximadamente equiaxiais de


material com ligeira desorientação entre si (< 20 ) e
tamanho médio entre 1m e 3m.

Ferro [24]

O interior das células é relativamente livre de discordâncias


mas suas paredes guardam uma elevada densidade destas e
se tornam melhor definidas com o aumento da deformação.
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Evolução celular em Fe laminado a frio.

Keh e Weissmann [8].


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Quando a subestrutura é formada por subgrãos, a energia


armazenada pode ser estimada a partir do tamanho D dos
subgrãos e da energia de superfície dos contornos de baixo
ângulo dos subgrãos,  , pela relação: ED  3 / D.

A energia armazenada em um grão depende também da


orientação cristalina do grão e da desorientação entre suas
células [9].

Para o ferro laminado 70% a frio, Hutchinson e Ryde [10]


mostraram que a energia dos grãos deformados com um
dado plano {hkl} paralelo à superfície da chapa decresce
como:
E110 > E111 > E112 > E100
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Fatores que Afetam a Microestrura de Deformação


1 - Energia de falha de empilhamento (EFE) :
- Em metal de baixa EFE: discordâncias parciais
encontram-se afastadas o que dificulta escalagem e
deslizamento cruzado. Discordâncias tendem a permanecer
em seus planos de deslizamento com progresso da
deformação. Resulta disto uma distribuição mais uniforme
das discordâncias.

- Em metal de alta EFE: as discordâncias, em geral, não


estarão dissociadas em parciais e, mais facilmente, movem-se
e trocam de plano de deslizamento. Isto leva à formação de
células de paredes bem definidas e de alta densidade de
discordâncias.
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Alta EFE: Ferro, aços ferríticos, alumínio, cobre (?)


Baixa EFE: Latões, aço inox austenítico

Estrutura celular Discordâncias dispersas


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2 - Tamanho de grão inicial


Keh e Weissmann [8] , em ferro policristalino de alta
pureza, mostraram que, com o mesmo grau de deformação,
amostras de diferentes tamanhos de grão apresentavam
densidades de discordâncias diferentes.

Menor tamanho de grão (menor caminho livre) leva a maior


densidade de discordâncias :
  é a deformação, b é vetor de Burgers e d

b.d n é tamanho de grão.

Isto leva a maior energia plástica armazenada no material


maior e resistência mecânica.
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3 -Elementos de liga em solução


Estudos realizados em ligas baseadas em diversos metais,
tanto CFC como CCC, confirmam que a adição de elementos
de liga leva à redução da energia de falha de empilhamento,
alterando a densidade, a distribuição das discordâncias, a
definição das paredes das células e a energia plástica
armazenada no material.

4 - Partículas de segunda fase


No caso mais geral, as partículas são responsáveis pela
multiplicação das discordâncias e pela criação de barreiras
ao seu movimento. Esta interação depende mormente do
tamanho e da distância entre as partículas e menos da
natureza destas ou da matriz metálica.
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A pequenas distâncias, da ordem de 7nm, quando os


precipitados são em geral coerentes, eles são cisalhados pelas
discordâncias em movimento.
Em estágios mais avançados da precipitação, com distâncias
da ordem de 30nm, as linhas das discordâncias se arqueiam
entre as partículas (laço de Orowan), sem cortá-las, elevando
sua densidade e, consequentemente, a resistência mecânica
do material (encruamento).
Neste último caso, a tensão cisalhante necessária ao
deslizamento cresce de um valor  proporcional a:
  G. b /  . Onde  é a distância média entre as
partículas
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Outro efeito de partículas finas (<100nm) é sua interação


com o desenvolvimento da estrutura celular, retardando
sua formação e definição de suas paredes e alterando
fenômenos subsequentes como a recristalização.
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5 - Temperatura

- O movimento das discordâncias é termicamente ativado e


fenômenos como a escalagem participam ativamente na
definição das paredes das células de deformação. Isto,
portanto, fica mais fácil em temperaturas mais altas

- Keh e Weissmann [8] mostraram que, com o abaixamento


da temperatura, há um retardo na formação da estrutura
celular e um aumento da energia armazenada, no ferro.
Isto parece ser uma tendência geral para outros metais.
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Características da Microestrutura Deformada

A deformação imposta aos metais pode ser acomodada por


diferentes mecanismos :
Deformação homogênea : movimento de discordâncias em
seus planos de deslizamento; uniforme em todos os grãos;
- bandas de deslizamento;
Deformação heterogênea : não uniforme;
- maclas de deformação,
- bandas de transição,
- bandas de cisalhamento.
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Deslizamento de discordâncias

MEV

Linhas

Banda

Degraus
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Maclas
São regiões de um cristal onde a orientação da rede cristalina
é uma imagem de espelho da orientação existente no resto do
cristal.
As maclas de deformação são formadas por um cisalhamento
uniforme, paralelo a um plano cristalino {hkl} específico e
numa direção definida <uvw> deste plano.
No CFC, os sistemas de maclagem são da família
{111}<112> e no CCC são do tipo {112}<111>.
A maclagem reorienta a rede de modo abrupto, definindo
volumes com contornos retos ou quase retos, no interior (ou
através) do cristal.
Maclagem é, como o deslizamento, um processo de
deformação plástica, o qual envolve grandes alterações de
orientação.
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Macla de recozimento : latão [13]

Maclagem
Macla mecânica: Zn

CFC
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Bandas de transição
As bandas de transição resultam do fato de ser possível ao
cristal satisfazer o estado de deformação que lhe é imposto,
utilizando diferentes conjuntos de sistemas de delizamento.
Com isto, diferentes partes do cristal sofrem rotações em
direção a orientações diferentes, criando-se interfaces de
elevada curvatura de rede. Fe lam. 50% a frio [9]
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As bandas de transição são regiões de grande curvatura de


rede e de grande concentração de energia e, por isso, locais
propícios para nucleação da recristalização.
As bandas são confinadas ao interior dos grãos e são formadas
por células de deformação alongadas na direção de seu
comprimento.

Bandas de Cisalhamento
Estas bandas são regiões estreitas, de intenso cisalhamento
localizado, que ocorrem independentemente da estrutura dos
grãos, mas dependentes do modo e da quantidade de
deformação. Resultam de um processo de instabilidade
plástica.
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Elas podem não se limitar a um único grão, atravessando


vários contornos.

Aço IF [18]
Latão [44]

Latão
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As bandas de cisalhamento apresentam, no seu interior,


células de deformação menores, mais alongadas e com
grandes diferenças de orientação a curtas distâncias, quando
comparadas a uma região não cisalhada do material.

Em materiais de baixa EFE, elas aparecem em médias


deformações ( 50%), como no latão 70:30, mas requerem
fortes reduções em materiais de alta EFE.

As bandas de cisalhamento atuam como sítios de nucleação


preferencial, na recristalização, competindo com os contornos
de grão nesta função.
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IV - Recuperação

O termo recuperação refere-se às mudanças nas


propriedades de um material deformado que ocorrem antes
da recristalização.

Inclui todos os mecanismos com os quais os metais reparam


sua estrutura deformada, sem envolver a movimentação de
contornos de alto ângulo através da matriz encruada.

Os mecanismos envolvidos são termicamente ativados e,


portanto, o material deve passar por um “recozimento”
para que eles ocorram.
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Possíveis mecanismos da recuperação são:


- a eliminação do excesso de lacunas criadas pela deformação;
- a eliminação de discordâncias redundantes por meio da
escalagem;
- o rearranjo de discordâncias na forma de células e subgrãos.

[37]
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Metais de baixa EFE (latão- e níquel) : a recuperação


ocorre, principalmente, pela redução da concentração de
lacunas, já que estes metais não apresentam rearranjo
substancial das discordâncias, antes da recristalização.

Para esses materiais, contudo, dependendo da temperatura


de recozimento, a recristalização pode ocorrer antes que
aconteça significativa recuperação e formação de subgrãos.

Como propriedades mecânicas, que só dependem da


estrutura de discordâncias, metais de baixa EFE não sofrem
grandes alterações, durante a recuperação.
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Metais de alta EFE, tais como ferro e alumínio, a escalagem


é facilitada e, consequentemente, eles amolecem, durante a
recuperação [1]

As microestruturas observadas pela microscopia


óptica não revelam as mudanças e, por esta razão, a
recuperação é acompanhada de modo indireto :

- por mudanças nas propriedades físicas e mecânicas;


exemplos : resistividade, dureza e escoamento plástico.
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Variação da resistividade, densidade e energia armazenada [25]


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Fe pré-deformado 5%;
Michalak & Paxton, cit. em [24]
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Rearranjo de discordâncias durante a recuperação


- Aniquilamento de discordâncias de sinais contrários:
responsável pela limpeza do interior dos subgrãos e definição
das paredes das células;
- Poligonização : formação de paredes de discordâncias
cunha, durante o recozimento de cristais previamente
deformados, através de deslizamento e escalagem.
Al
deform.
e recoz.
a 6250C
[26]
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Durante a recuperação formam-se subgrãos em monocristais


e policristais. As paredes das células transformam-se em
subcontornos de grão.
Materiais com baixa EFE, os quais não apresentam estrutura
celular após deformação a frio, podem apresentar formação
de regiões com subgrãos, no posterior aquecimento.

Latão laminado 95%.


Ausência de estrutura
celular definida.[12]
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Em materiais de alta EFE, subgrãos se formam :


- pela reorientação e coelescimento de células de deformação
vizinhas [27];
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- pela migração de seus subcontornos.


Seja subestrutura formada por subgrãos de tamanho médio D
e energia de subcontorno média  . Então :

 P = pressão motriz para o crescimento


P
D

Numa distribuição não uniforme de D, subgrãos maiores


serão mais estáveis (menor P) e tenderão a consumir os
menores.
Em duas distribuições uniformes, a de maior tamanho de
subgrão é a mais estável.
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A força motriz para o crescimento dos subgrãos deriva da


liberação da energia armazenada na sua estrutura (Paredes
de células).

Parte da energia liberada na recuperação pode estar


ligada ao alívio de tensões residuais resultantes do
processo de fabricação.
Tensões residuais fazem com que as dimensões da rede
cristalina variem de ponto a ponto, dentro dos cristais,
sendo ora compressivas ora trativas. Sua eliminação
envolve deslocamentos minúsculos da rede, que, contudo,
não atingem valores de deformaçao plástica.
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A influência de partículas na recuperação depende de se


elas já se encontravam distribuidas na matriz durante a
deformação ou se precipitam durante o recozimento.

No primeiro caso, elas afetarão a distribuição de


discordâncias na matriz, durante a deformação, e também
influenciarão os mecanismos de anulação e rearranjo das
discordâncias, durante a recuperação (se forem quimicamente
estáveis nesta temperatura).

No segundo caso, a distribuição das partículas estará


associada à estrutura das discordâncias e seu efeito se dará
sobre o crescimento dos subgrãos.
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Cinética da recuperação
Como a recuperação resulta da ação de vários mecanismos,
sobre a microestrutura deformada, seu acompanhamento
através da medida de uma dada propriedade é aproximado
e irá refletir a evolução dos mecanismos que a afetam,
somente.

Seja x0 o valor instantâneo de uma propriedade x,


inicialmente medida, no estado encruado; obtém-se uma
expressão geral do tipo :

ln x = ln x0 + B.t.exp (-Q / RT) ou

ln x = ln x0 - C.t a temperatura constante.


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Onde B e C são constantes e Q é a energia de ativação do


processo.

Algumas vezes, a relação abaixo tem sido usada :

x = b - a..ln t

onde b e a são constantes para uma dada temperatura.

Esta expressão é útil para tempos intermediários, já que,


como se pode notar, ela não pode representar valores de uma
propriedade em tempos muito curtos ou muito longos.

Índice Recristalização Contornos de Grãos

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