Você está na página 1de 16

Recuperação e recristalização durante a deformação a quente

Fulvio Siciliano Júnior


CBMM - Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração
R. Pequetita 111, 04552-902, São Paulo-SP, Brasil.

Resumo
Os principais fenômenos microestruturais que ocorrem durante a deformação a quente dos metais são
analisados neste trabalho. Iniciando-se com uma breve análise da recuperação dinâmica, é feita uma
revisão da recristalização dinâmica, com ênfase nos mecanismos de nucleação. A recristalização
metadinâmica também é tratada de maneira simples e objetiva, com novas ilustrações concebidas pelo
autor. Uma conseqüência direta do estudo da recristalização durante a deformação a quente é a
possibilidade de analisar criticamente os processos industriais de conformação plástica. Por isso, faz-se
uma breve revisão dos princípios do processamento termomecânico dos aços, assim como o “elo de
ligação” entre os fenômenos descritos e o processamento em si através da tensão média de escoamento.
Finalmente, é feita uma pequena descrição dos tipos e características dos principais modelos matemáticos
que podem ser aplicados ao processamento a quente de metais.

Palavras-chave: Recristalização dinâmica, deformação a quente, tratamento termomecânico, modelamento


matemático.


Contato: e-mail: fulvio@cbmm.com.br

93
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

1. Introdução recuperação e recristalização que ocorrem


A maioria dos materiais metálicos passa em durante e imediatamente após a deformação.
alguma etapa da sua fabricação por processos de
deformação a quente para que sejam obtidos Como mostrado na Figura 1, a ocorrência da
produtos como chapas, tubos, arames, entre recristalização dinâmica está relacionada com a
outros. Nesses processos ocorrem várias energia de defeito de empilhamento (EDE) do
alterações microestruturais simultâneas como metal considerado. Metais com alta EDE
encruamento, recuperação e recristalização. Os apresentam cinética de recuperação (estática e
processos de recuperação e recristalização dinâmica) rápida, diminuindo a quantidade de
quando ocorrem durante a deformação são defeitos cristalinos e conseqüentemente, o
denominados recuperação dinâmica e potencial termodinâmico para a recristalização.
recristalização dinâmica, respectivamente. Por outro lado, metais com baixa EDE
Existem dificuldades experimentais para se apresentam cinética de recuperação lenta e a
observar esses processos na microestrutura. quantidade de defeitos cristalinos sempre
Observações da evolução microestrutural são aumenta com a deformação. Dessa forma, a
muito difíceis de serem feitas simultaneamente ocorrência da recristalização dinâmica é
com a deformação. Dessa forma, a recuperação facilitada.
dinâmica e a recristalização dinâmica são
"observadas" indiretamente por curvas tensão-
deformação obtidas em ensaios mecânicos a
quente como tração, compressão e torção. Essa
técnica de “observação” é chamada algumas
vezes de “metalografia mecânica”.

Nesse texto, utiliza-se como medida de


deformação a chamada deformação verdadeira,
. Para laminação de planos, por exemplo, o
valor da deformação verdadeira efetiva, segundo
von Mises, é definido por:

2  hi 

 ln (1)
3  h f 

onde hi e hf são as espessuras iniciais e finais da
chapa. Outras equações são utilizadas em outros
métodos de deformação. A taxa (ou velocidade)
de deformação média , por sua vez, é definida Figura 1- Mecanismos de restauração
por: (recuperação e recristalização) possíveis durante
a deformação a quente. (a) durante a laminação
(baixas deformações) para metais de alta EDE.
(b) durante a laminação para metais de baixa
(2) EDE. (c) durante a extrusão (altas deformações)
onde t é o tempo de deformação. para metais de alta EDE. (d) durante a extrusão
para metais de baixa EDE /1/.
Os fenômenos denominados "dinâmicos"
acontecem simultaneamente à deformação, 2. Recuperação Dinâmica
quando o material está sob um campo de tensões À medida que o metal é deformado a quente, o
e geralmente em alta temperatura. O parâmetro número de defeitos cristalinos aumenta. Devido à
temperatura depende, obviamente, do material ativação térmica, as discordâncias geradas se
que está sendo considerado. Por exemplo: o rearranjam para uma estrutura de subgrãos
chumbo recristaliza dinamicamente à conforme ilustra a Figura 2, em particular na
temperatura ambiente. A Figura 1 mostra parte inferior direita da mesma, onde se observa
esquematicamente os mecanismos de uma grande concentração de discordâncias em
paredes de subgrãos. Esse tipo de arranjo de

94
Fulvio Siciliano Júnior

Figura 2- Formação de contornos de baixo ângulo durante a deformação a quente de aço inoxidável
austenítico AISI 304. Microscopia eletrônica de transmissão. (gentileza de H.-J. Kestenbach, UFSCar).

discordâncias não se formaria neste material de A curva acima pode apresentar um ligeiro
baixa EDE se a deformação tivesse sido declive negativo (queda de tensão) na região do
realizada à temperatura ambiente. estado estacionário devido ao calor gerado na
deformação /2,3/. Esse efeito é geralmente
A temperatura elevada permite, em um certo observado quando ao material é deformado com
instante, que a quantidade de defeitos gerados taxas de deformação superiores a
seja compensada pela quantidade de defeitos aproximadamente 1 s-1. Durante a recuperação
eliminados. Nesse ponto é atingido um estado dinâmica não ocorre migração de contornos de
estacionário ("steady state"), ou seja, a alto ângulo, os grãos vão se alongando de acordo
quantidade de defeitos permanece constante. Na com a mudança de forma do material, enquanto
curva tensão-deformação, esse efeito aparece os subgrãos mantêm estrutura eqüiaxial, como
como uma estabilização da tensão à medida que mostrado esquematicamente na Figura 4.
o material vai sendo deformado, como mostrado
na Figura 3. É interessante notar que no interior dos subgrãos
existem discordâncias que são geradas e
eliminadas no processo de deformação. A


quantidade de discordâncias, o espaçamento
médio entre elas e a diferença de orientação entre
os subgrãos não variam significativamente no
estado estacionário ("steady state"). As
dimensões dos subgrãos, as diferenças de
orientação e a perfeição dos subcontornos
dependem principalmente da natureza do metal,
da temperatura e da taxa de deformação.
 Uma particularidade interessante na deformação
a quente de metais e ligas é a formação de
Figura 3- Curva tensão-deformação a quente.
'ondulações' ("serrations") nos contornos de grão.
Ocorrência somente de recuperação dinâmica. O
As ondulações são observadas em vários metais
patamar é a tensão do estado estacionário
como Al, Cu, Ni, Fe- e aços inoxidáveis /4/ e se
("steady state").
formam devido a interações entre contornos de
grão e subcontornos em condições de baixas
taxas de deformação. O fenômeno consiste em

95
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

Figura 4- Alterações microestruturais durante a recuperação dinâmica. (a) microestrutura inicial; (b)
microestrutura após uma deformação 1; (c) microestrutura após uma deformação 2>1.

migrações de curto alcance dos contornos de comparativamente a ocorrência de encruamento,


grão, devido ao potencial termodinâmico provido recuperação dinâmica e recristalização dinâmica.
pelas discordâncias dos subcontornos. O O pico de tensão permite definir a deformação
mecanismo é muito semelhante ao da migração de pico, p.
de contornos induzida por deformação. Os
contornos migram para ambos os lados,
adquirindo um aspecto ondulado, sendo que as

encruamento
dimensões das ondulações são da mesma ordem recuperação
das dimensões dos subgrãos /3/. As ondulações dinâmica
são persistentes em metais de alta EDE tais como
Al e Fe-, nos quais a recuperação dinâmica é
acentuada. Em outros materiais, tais como Fe- e recristalização
ligas de cobre, as ondulações levam ao início da dinâmica
recristalização dinâmica /4/.

3. Recristalização dinâmica
p
A curva tensão-deformação para a recuperação
dinâmica descrita anteriormente tem seu estado 
estacionário ("steady state") definido pela
Figura 5- Curvas esquemáticas tensão-
geração e eliminação simultânea de defeitos
cristalinos. A eliminação dos defeitos, nesse deformação mostrando comparativamente a
caso, acontece por eventos individuais de ocorrência de encruamento, recuperação
aniquilação de discordâncias de sinais opostos e dinâmica e recristalização dinâmica.
do desaparecimento de intersticiais e lacunas. Na
recristalização dinâmica, deve-se considerar a A velocidade de deformação é um fator
aniquilação de grandes quantidades de defeitos importante a ser considerado. Para altas taxas de
através da migração de contornos de grão. deformação, a curva tensão-deformação
apresenta um pico de tensão correspondente à
A ocorrência da recristalização dinâmica está deformação p seguido de uma estabilização da
associada à geração de um número grande de tensão à medida que o material se deforma. Para
defeitos durante a deformação a quente. Esses baixas velocidades de deformação, a restauração
defeitos não podem ser eliminados apenas por se dá em ciclos de deformação-recristalização
recuperação dinâmica, seja devido às altas taxas dinâmica, como mostrada na Figura 6. Nesse
de deformação ou devido à baixa EDE do último caso, a curva apresenta vários picos de
material, aumentando o potencial termodinâmico tensão que aparecem com certa periodicidade.
para a recristalização. Quando esse estágio é
atingido, ocorre recristalização durante a
deformação. A Figura 5 mostra

96
Fulvio Siciliano Júnior

3.1 Nucleação em recristalização dinâmica


início da Na grande maioria das condições de deformação
recristalização a quente, a nucleação da recristalização dinâmica

(a) alta taxa de deformação
recristalização dinâmica “contínua” ocorre preferencialmente nos contornos de grão
/3/. Esse mecanismo é conhecido por formação
de colares sucessivos ("necklacing"), que
consiste em nucleação dos novos grãos em
etapas, que avançam seqüencialmente para o
(b) baixa taxa de deformação interior do grão original. A Figura 8 mostra o
recristalização dinâmica “periódica” mecanismo esquematicamente.

 A Figura 8 mostra que a ocorrência deste


mecanismo acarreta intenso refino de grão. O
Figura 6- Recristalização dinâmica durante a aumento de energia livre causado pela
deformação a quente (esquemático). (a) alta taxa introdução de novos contornos de grão é
de deformação; (b) baixa taxa de deformação. compensado pela diminuição de energia livre
devida à eliminação dos defeitos cristalinos, em
Existe uma deformação mínima para o início da um balanço energético similar ao do mecanismo
recristalização dinâmica definida como de migração de contornos induzida por
deformação crítica, c. Para aços baixo carbono deformação. É importante notar que quando um
“colar” é formado, o mesmo pára de crescer
deformados a quente, o valor da deformação porque a amostra está sendo constantemente
crítica é 0,8 p /1,2,5,6/. Para aços ao nióbio, a deformada. Portanto, os grãos recristalizados
relação c/p é menor que 0,8, podendo assumir dinamicamente param de crescer e permanecem
valores de até 0,5 /6,7/. A deformação crítica pequenos, pois o potencial termodinâmico vai
pode ser determinada através de curvas , sendo igualado com o restante da matriz
onde  é a taxa de encruamento, definida pela deformada através das discordâncias geradas. O
derivada parcial  . O ponto de inflexão colar seguinte, por sua vez, passa pelo mesmo
 processo, e os grãos permanecem pequenos.
dessa curva representa o ponto em que a curva Dessa maneira, a microestrutura de grãos sofre,
 sai do comportamento em que só ocorre a em geral, considerável refinamento quando passa
recuperação dinâmica. Isso pode ser visualizado pelo processo de recristalização dinâmica. Por
a seguir nas Figuras 7(a) e 7(b). outro lado, em condições de baixas taxas de
deformação, os grãos param de crescer somente
Vemos que determinamos a tensão crítica e com quando encontram seus vizinhos que também
esse valor, volta-se à curva  e obtém-se a estão em crescimento (“impingement”).
deformação crítica. Utilizações práticas dessa
técnica podem ser observadas nas referências
/2,8,9/.

 ssRe c

recuperação
dinâmica 

 ssRe c
 Ponto de
inflexão = c p
recristalização
dinâmica  = 0)
c,c p,p  ssRD
 ssRD

 
(a) (b)
Figura 7- Determinação da deformação crítica através de curvas  e . (a) a deformação crítica,
corresponde ao ponto onde a curva sai do comportamento onde ocorre apenas a recuperação dinâmica. (b) o
ponto de inflexão corresponde à tensão crítica, c.

97
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

Figura 8- Mecanismo de nucleação por formação de colares sucessivos. (a) grão original; (b) primeira
etapa ocorrendo junto aos contornos de grão, quando a deformação c é superada; (c) segunda etapa
ocorrendo junto aos grãos recristalizados dinamicamente; (d) terceira etapa, idem a segunda; (e) quarta
etapa que corresponde ao estado estacionário ou "steady state" /10/.

Dessa forma, o processo fica muito parecido com comportamento é característico de baixas taxas
o da recristalização estática. Com relação ao de deformação e altas temperaturas, como visto
tamanho de grão inicial, este pode sofrer um anteriormente, e é mostrado esquematicamente
ligeiro refino ou até um engrossamento. Veremos na Figura 9(a). Por outro lado, quando o
mais adiante as condições que geram refino ou material é submetido a altas taxas de deformação
engrossamento de grãos. e baixas temperaturas, x é maior que c. Isso
significa que antes de um ciclo de recristalização
se completar, o próximo já foi iniciado. A Figura
3.2 Recristalização dinâmica contínua e 9(b) mostra esquematicamente esse mecanismo.
periódica Essa característica se deve à elevada taxa de
Luton & Sellars /11/ chegaram a uma relação criação de defeitos. Em outras palavras, a
entre deformações características que definem se elevada taxa de criação de defeitos cristalinos
a curva tensão-deformação apresenta um ou permite que ocorra nova nucleação sem que o
vários picos. Quando ocorre a presença de ciclo anterior tenha se completado e assim por
vários picos, significa que acontecem ciclos diante. Dessa forma, as regiões que sofreram
distintos e seqüenciais de deformação- recristalização primeiro atingem rapidamente a
recristalização dinâmica. Em outras palavras, deformação crítica c para que ocorra nova
quando um ciclo termina, imediatamente tem nucleação.
início um novo ciclo deformação-recristalização.
Quando a curva tensão-deformação apresenta um
único pico, significa que os ciclos de 3.3 Influência da recristalização dinâmica no
deformação-recristalização estão superpostos, ou tamanho de grão
seja, o início de um ciclo está acontecendo
simultaneamente com o final do ciclo anterior e O trabalho de Sakai & Jonas /12/ estabelece
assim por diante. relações entre o tamanho de grão inicial e o
parâmetro de Zener-Hollomon (Z) com o
Esses mecanismos são definidos por relação tamanho de grão recristalizado dinamicamente.
entre a deformação crítica para início da O parâmetro de Zener-Hollomon é a taxa de
recristalização, c , e a deformação para 95% de deformação, , corrigida pela temperatura
absoluta de deformação, T, e é dado por:
amolecimento x. Quando x é menor que c, é
caracterizada a periodicidade. Isso significa que
cada ciclo de recristalização se completa antes
que o material seja encruado suficientemente (3)
para iniciar o próximo ciclo. Esse

98
Fulvio Siciliano Júnior

Figura 9- Curvas tensão-deformação esquemáticas para a recristalização dinâmica. (a) cíclica, quando c >
x; (b) ciclos superpostos, quando c < x /11/.

onde Q é a energia de ativação para deformação pontos (D01,Z1) e (D02,Z1), por exemplo, nota-se
e R é a constante dos gases. O parâmetro Z é um que após a recristalização dinâmica, o mesmo
fator importante no modelamento matemático tamanho de grão final é atingido (função de Z).
dos fenômenos relacionados com a deformação a Para os pontos citados, ocorre engrossamento e
quente. O refino de grão é observado quando a refinamento, respectivamente.
curva tensão-deformação apresenta um único
pico (condição de Z elevado). Por outro lado, o
engrossamento dos grãos ocorre quando a curva
apresenta múltiplos picos (condição de Z
pequeno).

A variação do tamanho de grão em função da


deformação para várias velocidades de
deformação é mostrada na Figura 10 para um
aço contendo 0,16% de carbono. As posições P1,
P2 e P3 indicam os picos de recristalização
dinâmica.

Observa-se na Figura 10 que, de uma maneira


geral, o refino de grão acontece para situações
nas quais ocorrem um único ou no máximo dois
picos (   2,010-2 s-1). Na condição de um
único pico, a relação de refino de grão mais
intensa é de aproximadamente 2:1, segundo os Figura 10- Efeito da velocidade de deformação
autores. O tamanho de grão final, por sua vez, é no tamanho de grão recristalizado
claramente dependente do tamanho de grão dinamicamente. Aço com 0,16%C deformado
inicial e do parâmetro Z, como mostrado por tração a 940C. Os picos na curva    são
esquematicamente no diagrama da Figura 11. indicados pelas posições P1, P2, P3 /12/.

A Figura 11 mostra que o tamanho de grão


produzido pela recristalização dinâmica é função 3.4 Efeito de átomos de soluto na
do parâmetro Z. Partindo-se de um determinado recristalização dinâmica
ponto, definido pelo par (D0,Z), caminha-se Quando se adicionam átomos de soluto em um
horizontalmente até a curva. A intersecção metal, acontecem geralmente dois efeitos
determina o tamanho de grão final. Para os principais: diminuição da EDE e formação de

99
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

atmosferas de soluto junto às discordâncias. No entanto, adições de soluto podem também


Ambos os fatores são responsáveis pela diminuir a velocidade de migração de contornos
diminuição da mobilidade das discordâncias. de grão, diminuindo a cinética de recristalização
Conseqüentemente, a adição de soluto causa dinâmica. Por exemplo, no caso das ligas de
aumento no limite de escoamento e na resistência cobre /16/, foi observado que a liga Cu-9,5%Ni
à fluência /1/. Neste ponto é importante não apresentava recristalização dinâmica a 560
mencionar que, em sistemas multicomponentes, C para deformações verdadeiras em compressão
a adição um determinado soluto pode não afetar de até 0,7. Esse comportamento é mostrado na
significativamente a EDE ou até aumentá-la. Por Figura 12.
exemplo, a adição de níquel em alguns aços
inoxidáveis austeníticos aumenta a EDE.

Z alto Refino
final inicial

Z2 Região de único pico


e refino de grão

Z1
inicial final
Engrossamento

Z baixo Região de múltiplos picos


e engrossamento de grão

D 01 D 02
Figura 11- Diagrama esquemático mostrando a
dependência entre o tamanho de grão original, o Figura 12- Curva tensão-deformação em ensaio
parâmetro de Zener-Hollomon (Z), os tipos de de compressão com taxa de deformação de 1,8
curva tensão-deformação e refino/engrossamento 10-2 s-1 em ligas de cobre e cobre de alta pureza
de grãos. A área hachurada corresponde à região /16/.
em que ocorre um único pico e refino de grão
/13-redesenhado pelo presente autor/. O cobre de alta pureza possui cinética de
recristalização rápida, se comparado com
Sabe-se que metais com alta EDE, como o materiais mais impuros. No cobre de alta pureza,
alumínio, não apresentam recristalização a migração de contornos de grão não é afetada
dinâmica durante a deformação a quente, por átomos de soluto e nem por partículas. Este
ocorrendo apenas recuperação dinâmica. No caso representa a situação dos múltiplos picos na
entanto, estudos realizados com soluções sólidas curva tensão-deformação onde c > x. No caso
Al-Mg, submetidas a extrusão a 400C com do Cu-0,05%O (cobre tenaz), a presença de
redução de 40:1, mostraram que teores de Mg a partículas finas de Cu2O retarda a migração dos
partir de 5% causavam recristalização dinâmica contornos de grão durante a recristalização
/14/. Em vista desses resultados, pode-se avaliar dinâmica (caso onde C < X ). Esses fatores
indiretamente que o magnésio diminui a EDE do resultaram na presença de um único pico na
alumínio. Possivelmente os átomos de Mg em curva tensão-deformação. Já a liga Cu-9,5%Ni
solução sólida também dificultam a apresenta sensível aumento de tensões durante o
movimentação de discordâncias por meio da ensaio sem apresentar picos. Esse
formação de atmosferas de soluto ao seu redor. comportamento é típico de materiais que sofrem
Existem afirmações na literatura /15/ que 1% de recuperação dinâmica /16/.
Mg em solução sólida no alumínio causa uma
diminuição da EDE de 200 para 50 mJ/m2. Um fato interessante é o efeito de soluto na
cinética de recristalização dinâmica da austenita.
Sabe-se que adições de soluto atrasam a cinética

100
Fulvio Siciliano Júnior

de recristalização estática, porém exerce um A recristalização metadinâmica desempenha um


efeito retardador muito pequeno na papel importante no processamento
recristalização dinâmica /2,17/. Mesmo fortes termomecânico dos aços, pois na maioria dos
elementos microligantes como Nb, Ti, V, Al e casos a deformação no estado estacionário
Mo exercem efeito relativamente fraco na ("steady state") não é atingida para as reduções
cinética da recristalização dinâmica. Esse fato usuais que o material é submetido. Quando a
pode ser associado às altas velocidades de deformação crítica c é atingida, os núcleos
migração de contornos de grão durante a formados dinamicamente crescem livres de
recristalização dinâmica, na qual a cinética é tensão aplicada. Por exemplo, na laminação de
rápida. Sabe-se que quando o contorno de grão tiras a quente de aços, as reduções atingidas em
migra em altas velocidades, o efeito retardador cada passe podem ultrapassar a deformação c e
de soluto é pequeno. Nesse caso, acredita-se que
os átomos de soluto não conseguem acompanhar não atingem a deformação do estado
o contorno por difusão e exercer uma força de estacionário. Analisando o caso específico da
arraste. laminação de tiras a quente, os curtos tempos
interpasse (geralmente entre 10 e 0,5 s) podem
4. Recristalização metadinâmica impedir que o material amoleça completamente,
acumulando deformação para o passe seguinte.
A recristalização metadinâmica (ou pós- Dessa forma, a deformação crítica c pode ser
dinâmica) tem papel importante nos processos
industriais de conformação a quente. Consiste facilmente ultrapassada /6,7,18,19/. A
no crescimento de “núcleos” gerados durante a recristalização metadinâmica tem cinética muito
deformação que crescem após o rápida e difere dos outros mecanismos de
descarregamento do material. Em outras recristalização por não apresentar período de
palavras, é um tipo de recristalização que inicia incubação, já que os núcleos foram formados
dinamicamente e cresce estaticamente, após o dinamicamente. A Figura 13 exemplifica a
término da deformação. ocorrência da recristalização metadinâmica
acontecendo durante o processo de laminação a
quente.

A deformação ponto de
crítica c é descarregamento
superada na zona sentido de
de deformação laminação

novos grãos grãos nucleados


nucleiam recristalização
dinamicamente
dinamicamente metadinâmica
crescem
completa
estaticamente

1
recristalizada
fração

0
log t

Figura 13- Evolução da recristalização metadinâmica durante a laminação a quente.

101
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

Além de apresentar uma cinética rápida, a consideravelmente a recristalização estática entre


recristalização metadinâmica possui os passes, gerando um acúmulo de deformações.
características muito interessantes. Uma delas é Com isso, é gerada uma alta taxa de nucleação
que sua cinética depende basicamente da taxa de durante a transformação , tornando os grãos
deformação  e é pouco influenciada pela ferríticos muito finos. Quatro das técnicas
temperatura e por elementos de liga /2,17/. principais de laminação são empregadas para os
Quanto maior a taxa de deformação utilizada, aços microligados, listadas abaixo /18/.
mais rapidamente a recristalização metadinâmica
se completa. Com relação aos tamanhos de grão a) Laminação controlada por recristalização:
obtidos, estes são mais finos quanto maior a taxa utilizada para chapas grossas e tubos sem
de deformação empregada. Como regra geral, costura de paredes grossas, quando as cargas
quanto maior a taxa de deformação, maior a de laminação se encontram próximo ao limite
quantidade de núcleos gerados e esse efeito superior do laminador. Portanto, altas
justifica esse comportamento. A Figura 14 temperaturas são utilizadas (acima de 950C)
mostra as diferenças de tamanhos de grão e o material é totalmente recristalizado entre
recristalizados para os dois mecanismos. cada passe. Para evitar o crescimento
excessivo de grãos, adiciona-se geralmente
Ti, que forma uma dispersão de precipitados.

b) Laminação controlada convencional: esta


técnica é utilizada desde as primeiras
Tamanho de grão (mm)

experiências e publicações na década de 60 e


metadinâmica
tem como objetivo principal a obtenção de
uma estrutura austenítica encruada após o
dinâmica
último passe de acabamento. Essa
deformação residual aumenta muito a taxa de
nucleação da ferrita, produzindo tamanhos de
grão ferríticos muito finos após a
transformação . Uma microestrutura
ferrítica muito fina dá aos aços alto limite de
Figura 14- Tamanhos de grão obtidos após a escoamento e tenacidade. Para isso, os passes
recristalização dinâmica e metadinâmica em finais da laminação de acabamento são
função do parâmetro Z (taxa de deformação aplicados em temperaturas baixas, abaixo da
corrigida com a temperatura) /17/. temperatura de não recristalização (Tnr). Isso
causa um atraso na cinética de recristalização
Observa-se na figura anterior que os grãos estática entre passes, seja por efeito de soluto
obtidos com a recristalização metadinâmica são e/ou pelo efeito de partículas de Nb(C,N).
ligeiramente maiores (1,5 X aproximadamente) Obviamente, as cargas de laminação são mais
se comparados com os grãos obtidos após a altas nessas condições pois além das
recristalização dinâmica. Se comparado com a temperaturas serem baixas, o material
recristalização estática, o tamanho de grão amolece apenas parcialmente entre os passes.
produzido é aproximadamente 2 a 3 vezes menor
/20/. c) Laminação controlada por recristalização
dinâmica: Esse processo consiste em induzir
5. Laminação controlada a ocorrência da recristalização dinâmica (que
A laminação controlada foi desenvolvida no seguirá como metadinâmica) em um ou mais
princípio da década de 60 com o objetivo de passes. Como visto anteriormente, a
produzir aços de baixa liga com excelentes recristalização dinâmica causa intenso refino
resistência, ductilidade, tenacidade e de grão austenítico. Esse fato é muito
soldabilidade. Para tal, necessita-se de uma interessante, pois permite que o laminador
microestrutura formada por grãos muito finos. trabalhe com cargas mais baixas e produz
Inicialmente procurou-se obter um acúmulo de intenso refino de grão austenítico. Isso
deformações nos passes finais através da adição refletirá num grão ferrítico muito fino após a
de elementos microligantes, principalmente o transformação. Evidências industriais desse
nióbio e o titânio. Esses elementos atrasam processo podem ser encontradas nas
referências /6,7,18,19,21-27/.

102
Fulvio Siciliano Júnior

d) Laminação a morno (warm rolling): exemplo dos comportamentos citados para uma
laminação realizada abaixo da temperatura seqüência hipotética de 5 passes. Observa-se que
Ar1, onde o aço se encontra no estado cada declive característico é associado à
ferrítico. Dentre as características principais, recristalização estática, acúmulo de deformações
estão: menores cargas de laminação, pois a e recristalização dinâmica, seguida por
ferrita é mais mole que a austenita e menor metadinâmica. Esse método permite a
consumo de energia para o reaquecimento da visualização metalúrgica de um processo
placa, o que também implica em menores qualquer de conformação a quente de múltiplos
perdas por oxidação. passes.

A Figura 15 mostra os casos (a), (b) e (c) de


laminação controlada mencionados. 6.1 Cálculo da TME
Para um ensaio mecânico, a TME pode ser
6. Análise da curva de tensão média de facilmente calculada através da integração da
escoamento em função da temperatura tensão com relação à deformação dividida pelo
As transformações que um metal sofre durante a intervalo de deformação considerado, como
conformação a quente podem ser visualizadas mostrado na equação 4:
numa curva da Tensão Média de Escoamento
(TME) em função do inverso da temperatura 1
1
 1   0 0
absoluta, como o método proposto por Boratto et TME  d (4)
al., utilizando ensaios de torção a quente /28/
com resfriamento contínuo. O método foi
utilizado para interpretar processos industriais onde 0 e 1 são as deformações consideradas
por vários autores /6,7,18,19,21-26,29-31/. para o cálculo,  é a tensão de escoamento.
Consiste em comparar a TME de um ensaio
mecânico que simula uma operação industrial, No entanto, o cálculo da TME no caso da
uma vez que se torna difícil comparar grandezas laminação é uma operação complicada, devido à
como força de laminação e tensões de um ensaio complexidade geométrica e à não
mecânico. A TME, portanto, é um elo de ligação homogeneidade da deformação que o material é
entre um ensaio mecânico (realizado em submetido. Para isso, necessita-se assumir
condições “ideais”) e um processo de algumas simplificações como as utilizadas nos
conformação (como a laminação), permitindo métodos de Orowan /32/ e Sims /33/ e Ford e
uma comparação para fins de entendimento dos Alexander /34/. Os dois últimos são os mais
fenômenos metalúrgicos. utilizados por serem mais simples.

Para um dado processo de conformação onde o Do ponto de vista “empírico”, a previsão da


material é aquecido e conformado, a temperatura TME para aços carbono pode ser calculada com
cai à medida que os passes são realizados. A auxílio de equações como as de Misaka e
TME aumenta com a diminuição da temperatura, Yoshimoto /35/, Shida /36/ ou até mesmo por
portanto, na curva TME versus 1/T, um declive redes neurais /37/. Correções da equação de
positivo da curva é esperado. Esse é o Misaka para permitir diferentes composições
comportamento padrão da TME, onde químicas e a ocorrência de recristalização
consideramos que entre dois passes ocorreu metadinâmica podem ser encontradas nas
100% de amolecimento (região indicada por referências /7,18,22-24/.
recristalização estática). À medida que a
temperatura abaixa, a cinética de recristalização 7. Modelamento matemático do
estática vai se tornando mais lenta, e não permite processamento mecânico a quente
que ocorra 100% de amolecimento entre os O modelamento matemático é uma etapa
passes. Dessa forma, parte da deformação é importante para a compreensão, otimização e
acumulada para o passe seguinte, que aumenta o melhora de qualidade de um processo de
declive da curva. O acúmulo de deformações produção. O caso da laminação a quente de aços
pode superar c e iniciar a recristalização em particular tem atraído a atenção de muitos e
dinâmica (que seguirá como metadinâmica), importantes grupos de pesquisa em todo mundo e
causando declive negativo, pois o amolecimento os modelos propostos estão se tornando cada vez
é muito rápido e total. A Figura 16 mostra um mais sofisticados.

103
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

Tnr

Ar3

Laminação controlada por recristalização


(objetivo: amolecimento total entre passes)

tempo

Tnr

Ar3

Laminação controlada convencional


(objetivo: obter grãos de austenita encruada)

tempo

RD RMD
Tnr

Ar3
Laminação controlada por RD
(objetivo: refino de grão por RD+RMD)

tempo
Figura 15- Diagramas tempo-temperatura comparando as três estratégias de laminação controlada. (a)
Laminação controlada por recristalização; (b) Laminação controlada convencional e (c) Laminação
controlada por recristalização dinâmica. RD = recristalização dinâmica; RMD = recristalização
metadinâmica /18/.

Do ponto de vista conceitual, Hodgson /17/ o parâmetro de interesse. Embora a técnica mais
numerou os principais tipos de modelos aplicada seja a de regressões lineares simples,
matemáticos, que são mencionados em seguida. existem métodos mais sofisticados para construir
modelos desse tipo.
i) Modelo fenomenológico. Este tipo de modelo
descreve os mecanismos físicos que ocorrem iii) Modelo semi-empírico. Este terceiro tipo de
durante o processamento. Um exemplo típico são modelo apresenta características dos dois tipos
as equações diferenciais de transmissão de calor. mencionados acima. Um exemplo de modelo
Poucos fenômenos microestruturais foram semi-empírico é o modelamento da
modelados com esse nível de detalhe. recristalização da austenita em altas
temperaturas. Neste caso, o modelo cinético faz
ii) Modelo empírico. Este segundo tipo de uso de um fator de temperatura do tipo
modelo caracteriza-se pela análise empírica de Arrehnius, associado com expressões que levam
dados experimentais. Estes modelos procuram em conta os potenciais termodinâmicos e as
estabelecer relações entre variáveis de processo e forças retardadoras (tais como grau de

104
Fulvio Siciliano Júnior

deformação, presença de partículas e de átomos c) Previsão de variáveis que não podem ser
de soluto) além da quantidade de contornos de medidas. Um exemplo simples e importante é a
grão austeníticos por unidade de volume. A temperatura interna de uma chapa de aço durante
partir dos parâmetros mencionados acima, o a laminação. Em alguns casos, existe uma grande
modelo prevê a morfologia do grão austenítico e diferença entre a temperatura medida através de
o tamanho de grão ferrítico. Tais modelos pirômetros ópticos e a temperatura real do centro
caracterizam bem os fenômenos de interesse, da chapa. Um outro parâmetro que não pode ser
apesar de serem essencialmente empíricos. avaliado é a condição microestrutural durante o
processamento termomecânico.
Temperatura
d) Avaliação do sinergismo entre parâmetros. O
RD+RMD modelamento matemático permite estudar mais
de um parâmetro simultaneamente, e na prática
essa é a situação que realmente acontece. O
TME processamento termomecânico é um exemplo
RE típico no qual ocorre uma combinação de
eventos térmicos, mecânicos e microestruturais.
Acúmulo de
deformação e) Controle baseado em modelo matemático. O
controle microestrutural com auxílio de modelo
1000/T matemático na laminação a quente poderá ser o
próximo passo nos anos futuros. Atualmente, não
Figura 16- Representação esquemática de
existem modelos microestruturais "on-line" em
processo de conformação a quente de 5 passes.
laminação a quente. No entanto, modelos que
A evolução da TME em função do inverso da
relacionam a temperatura e a força de laminação
temperatura absoluta. Cada declive é associado
estão sendo aplicados "on-line" com sucesso
com um fenômeno metalúrgico como
/38/.
recristalização estática, acúmulo de deformações
e recristalização metadinâmica. RE =
f) Pesquisa de baixo custo. Ao utilizar-se
recristalização estática; RD = recristalização
métodos numéricos simples, os custos são
dinâmica; RMD = recristalização metadinâmica
desprezíveis. Mesmo considerando a utilização
/18/.
de um laboratório de ensaios mecânicos, os
custos ainda assim são muito baixos, quando
As principais vantagens do modelamento
comparados a uma experiência na produção. A
matemático são citadas abaixo. Apesar de
flexibilidade da simulação e do modelamento
algumas delas não serem muito relevantes do
permite gerar uma grande quantidade de dados,
ponto de vista acadêmico, elas se tornam muito
sem altos custos envolvidos.
importantes industrialmente.
As principais variáveis consideradas no
a) Redução do número de experiências na
modelamento matemático do processamento
produção. Este é um dos fatores mais
termomecânico de aços são mostradas na Figura
importantes devido aos altos custos envolvidos.
17.
O custo do equipamento, associado ao tempo
gasto, custos com pessoal, e algumas vezes, a
Os modelos utilizados no processamento
produção de uma grande quantidade de sucata
termomecânico podem ser divididos em: modelo
justificam o desenvolvimento de modelos
de temperaturas, modelo de forças de
matemáticos e simulações.
laminação, modelo de microestrutura e modelo
de transformação  e propriedades
b) Avaliação de modificações de equipamentos.
mecânicas. O modelo integrado é aquele que une
Os modelos matemáticos permitem avaliar, por
todos os “sub-modelos” citados acima.
exemplo, as mudanças de configuração de um
laminador. Além disso, o treinamento de pessoal
técnico pode ser antecipado à própria A principal etapa do modelamento matemático é,
modificação. sem dúvida, organizar as equações que
descrevem determinados processos metalúrgicos
de maneira lógica. Por exemplo, para o cálculo
do tamanho de grão, devemos considerar qual o

105
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

tipo de recristalização o material foi submetido e das equações utilizadas não seria pertinente no
qual a extensão da mesma. Em seguida, devemos presente trabalho. Publicações recentes e
levar em consideração a ocorrência do detalhadas estão disponíveis, com equações que
crescimento de grão, caso a recristalização tenha descrevem a TME, a deformação crítica para o
se completado em tempo menor que o tempo início da recristalização dinâmica, a cinética de
interpasse. recristalização, o tamanho de grão recristalizado,
o crescimento de grão e a precipitação de
Força de carbonitretos de Nb /6,7,18,19,22-26,40/. Nesses
Microestrutura laminação estudos, são analisados os aços carbono, os
inicial Passe (deformação)

, T, microligados ao nióbio e os aços Cr-Mo e
encruamento + Microestrutura
testados com dados industriais de laminação de
recuperação (recristalização) final
dinâmica várias siderúrgicas de diferentes países.

Finalmente, deve-se mencionar que o


desenvolvimento de modelos matemáticos para o
Interpasse processamento termomecânico também está
T, t
recuperação e recristalização
ocorrendo para outros materiais metálicos,
estáticas particularmente para as ligas de alumínio /41/. A
crescimento de grão abordagem neste caso é um pouco diferente da
utilizada para os aços. No caso das ligas de
Figura 17- Princípios e parâmetros principais do
alumínio, os modelos procuram relacionar a
modelamento matemático do processamento
energia armazenada na deformação, a cinética de
mecânico a quente /39/.
recristalização, o tamanho de grão recristalizado
e a textura. Além disto, é dada ênfase especial à
 Modelos para microestrutura nucleação da recristalização.
Os modelos matemáticos permitem prever não Agradecimentos: Agradeço especialmente o
apenas as forças de laminação, mas também a Prof. Dr. A.F. Padilha (EPUSP), professor,
cinética de transformações de fase, tamanhos de educador e amigo que me incentivou e apoiou
grão, fases presentes, dureza, limite de para esta e inúmeras outras empreitadas
escoamento, limite de resistência e temperatura metalúrgicas e não metalúrgicas.
de transição dúctil-frágil. Uma das principais Agradecimentos especiais vão para: Profs. John
dificuldades é a escolha das equações a serem J. Jonas e S. Yue (Mcgill University-Montreal-
utilizadas. Equações que descrevem parâmetros Canadá), Prof. J.D.T. Capocchi (EPUSP), Prof.
ou fenômenos microestruturais, tais como o Oscar Balancin (DEMA-UFSCAR), Pascoal
tempo para 50% de recristalização, tamanho de Bordignon (CBMM-Brasil), Prof. Hugh
grão recristalizado e crescimento de grão, podem McQueen (Concordia University-Montreal-
apresentar diferenças significativas. De uma Canadá), Prof. P.D. Hodgson (Deakin
maneira geral, para a laminação a quente de aços University-Austrália) e Prof. C.M. Sellars
baixo carbono existe um consenso quanto às (University of Sheffield-UK) por numerosas,
equações utilizadas, uma vez que muitos estudos frutíferas e agradáveis discussões durante o
já foram realizados com esse tipo de material, o longo e interminável aprendizado.
qual representa aproximadamente 90% da
produção de aços. Esse consenso, no entanto, 8. Referências bibliográficas
pode ser atingido no futuro para os aços
microligados e para outros materiais trabalhados 1. H.J. McQUEEN & J.J. JONAS Recovery
a quente, como as ligas de alumínio e as de and recrystallization during high temperature
cobre. No entanto, é possível que uma simples deformation. In: R.J. ARSENAULT (ed.)
mudança de composição química altere o Treatise on Materials Science and Technology,
comportamento do material, levando ao vol. 6, Academic Press, pp. 393-493, New York,
insucesso do modelo. 1975.
2. C. ROUCOULES Dynamic and
As principais equações utilizadas no Metadynamic Recrystallization in HSLA Steels.
modelamento matemático da laminação a quente Ph.D. Thesis, McGill University, Canada, 269 p.,
de aços carbono são disponíveis na literatura em 1992.
numerosas publicações. Uma simples listagem

106
Fulvio Siciliano Júnior

3. F.J. HUMPHREYS & M. HATHERLY 13. T. SAKAI, M.G. AKBEN & J.J. JONAS
Recrystallization and Related Annealing Dynamic recrystallization during the transient
Phenomena. Pergamon, pp. 363-392, 1995. deformation of a vanadium microalloyed steel.
Acta Metallurgica, vol. 31, pp. 631-642, 1983.
4. H.J. McQUEEN, N.D. RYAN, E.V.
KONOPLEVA & X. XIA Formation and 14. T. SHEPPARD, N.C. PARSON & M.A.
application of grain boundary serrations. ZAIDI Dynamic recrystallization in Al-7Mg
Canadian Metallurgical Quarterly, vol. 34, pp. alloy. Metal Science, vol. 17, pp. 481-490, 1983.
219-229, 1995.
15. H.M. TENSI, W. PLEISS & H.
5. C. ROSSARD Mechanical and Structural BORCHERS Statische Erholung und
Behaviour under Hot Working Conditions. Proc. Stapelfehlerenergie von Aluminium-und AlMg-
Int. Conf. Strength Metals Alloys, vol.2, pp. 175- Einkristallen in Temperaturebereich von 77 bis
203, 1973. 500K. Zeitschrift für Metallkunde, vol. 63, pp.
184-186, 1972.
6. F. SICILIANO Jr. & J.J. JONAS Modeling
the Critical Strain for the Initiation of Dynamic 16. R.A. PETKOVIC Recovery and
Recrystallization During the Hot Strip Rolling of Recrystallization in FCC Metals After High
Niobium Steels. Microalloying in Steels: New Temperature Deformation. Ph.D. Thesis, McGill
Trends for the 21st Century, CEIT, San University, Canada, 187 p., 1975.
Sebastian, Spain, Proceedings, pp. 377-384, 17. P.D. HODGSON Mathematical Modelling
1998 (Materials Science Forum 284-286 (1998) of Recrystallisation Processes During the Hot
pp. 377-384). Rolling of Steel. Ph.D Thesis, University of
7. F. SICILIANO, Jr. & J.J. JONAS,: Queensland, Australia, 192 p., 1993.
Mathematical Modeling of the Hot Strip Rolling 18. F. SICILIANO Jr. Mathematical Modeling
of Nb microalloyed, Cr-Mo and Plain C-Mn of the Hot Strip Rolling of Nb microalloyed
Steels. Metallurgical and Materials Transactions Steels. Ph.D. Thesis, McGill University, Canada,
A, vol. 31, pp. 511-530, 2000 . 165 p., 1999.
8. H. McQUEEN Initiating nucleation of 19. F. SICILIANO Jr. & J.J. JONAS A New
dynamic recrystallization, primarily in Approach to Mathematical Modeling of the
polycrystals. Materials Science and Engineering Controlled Rolling of Niobium Steels. The 7th
A, vol. 101, pp.149-160, 1988. International Conference on Steel Rolling,
9. E.I. POLIAK & J.J. JONAS A one- Tokyo, Japan, Proceedings, pp. 534-539, 1998.
parameter approach to determining the critical 20. F. MONTHEILLET & J.J. JONAS
conditions for the initiation of dynamic Dynamic Recrystallization. Encyclopedia of
recrystallization. Acta Materiallia, vol. 44, pp. Applied Physics, vol. 16, VCH Publishers, pp.
127-136, 1996. 205-225, 1996.
10. C.M. SELLARS Modelling of structural 21. E.C. SARMENTO & J. EVANS Effect of
evolution during hot working processes. In: N. strain accumulation and dynamic
HANSEN, D.J. JENSEN, T. LEFFERS & B. recrystallisation on the flow stress of HSLA
RALPH (eds.) Annealing Processes-Recovery, steels during flat rolling. Proc. Int. Conf. On
Recrystallization and Grain Growth, RisØ Processing, Microstructure and Properties of
National Laboratory, Roskilde, Denmark, pp. Microalloyed and Other HSLA Steels. A. J.
167-184, 1986. DeARDO (ed.), AIME, pp105-112, 1992.
11. M.J. LUTON & C.M. SELLARS Dynamic 22. F. SICILIANO Jr., K. MINAMI, T.M.
recrystallization in nickel and nickel-iron alloys MACCAGNO & J.J. JONAS Mathematical
during high temperature deformation. Acta Modeling of the Mean Flow Stress, Fractional
Metallurgica, vol. 17, pp.1033-1043, 1969. Softening and Grain Size During the Hot Strip
12. T. SAKAI & J.J. JONAS Dynamic Rolling of C-Mn Steels. ISIJ International, vol.
recrystallization: mechanical and microstructural 36, pp. 1500-1506, 1996.
considerations. Acta Metallurgica, vol. 32, pp. 23. K. MINAMI, F. SICILIANO Jr., T.M.
189-209, 1984. MACCAGNO & J.J. JONAS Mathematical
Modeling of the Mean Flow Stress During the

107
RECUPERAÇÃO E RECRISTALIZAÇÃO DURANTE A DEFORMAÇÃO A QUENTE

Hot Strip Rolling of Nb Steels. ISIJ 32. E. OROWAN The calculation of roll
International, vol. 36, pp. 1507-1515, 1996. pressure in hot and cold flat rolling. Proceedings
of the Institute of Mechanical Engineers, vol.
24. A. KIRIHATA, F. SICILIANO Jr., T.M.
150, pp. 191-200, 1943.
MACCAGNO & J.J. JONAS Mathematical
Modeling of the Mean Flow Stress During the 33. R.B. SIMS The calculation of roll force and
Hot Strip Rolling of Multiply-Alloyed Medium torque in hot rolling mills. Proceedings of the
Carbon Steels. ISIJ International, vol.38, p.187- Institute of Mechanical Engineers, vol. 168, pp.
195, 1997. 140-167, 1954.
25. F. SICILIANO Jr., B.D. NELSON, T.M. 34. H. FORD & J.M. ALEXANDER
MACCAGNO & J.J. JONAS Modeling of Simplified hot-rolling calculations. Journal of the
Softening and Precipitation During the Hot Strip Institute of Metals, vol.92, pp. 397-404, 1963-4.
Rolling of Nb Steels. International Conference
35. Y. MISAKA & T. YOSHIMOTO
on Thermomechanical Processing of Steel and
Formularization of mean resistance to
Other Materials, University of Wollogong,
deformation of plain carbon steels at elevated
Australia, Proceedings, pp. 347-353, 1997.
temperatures. Journal of the Japan Society for
26. F. SICILIANO Jr. & J.J. JONAS Previsão Technology of Plasticity, vol. 8, pp. 414-422,
de Cargas em Laminação de Tiras a Quente. 1967-8.
Revista Metalurgia e Materiais, ABM
36. S. SHIDA Journal of the Japan Society for
(Associação Brasileira de Metalurgia e
Technology of Plasticity, vol. 10, p. 610, 1969
Materiais), vol. 53, pp. 95-97, 1997.
(referência vista em: I. TAMURA, H. SEKINE,
27. K.B. KANG, S.H. CHO, F.SICILIANO Jr. T.TANAKA & C. OUCHI Thermomechanical
and J.J. JONAS Mathematical modelling of the Processing of HSLA Steels. pp. 126-127,
hot strip rolling of Nb, Nb-V, Nb-V-Mo and Nb- Butterworths, 1988).
V-Ti microalloyed steels. The Fourth
37. S.B. SINGH, H.K.D.H. BHADESHIA,
International Conference on HSLA Steels-HSLA
D.J.C.MacKAY, H. CAREY & I. MARTIN
Steels ‘2000 - Xi’an, China, Proceedings,
Neural network analysis of steel plate
pp.359-364, 2000.
processing. Iron and Steelmaking, vol. 25, pp.
28. F. BORATTO, R. BARBOSA, S. YUE & 355-365, 1998.
J.J. JONAS Effect of chemical composition on
38. S. YUE McGill University- comunicação
the critical temperatures of microalloyed steels.
pessoal, 1995.
THERMEC '88, Tokyo, Proceedings, pp. 383-
389, 1988. 39. C.M. SELLARS Modelling-an
interdisciplinary activity. In: S. YUE (ed.)
29. L.N. PUSSEGODA, S. YUE & J.J. JONAS
Mathematical Modelling of Hot Rolling of Steel,
Laboratory simulation of seamless tube piercing
Canadian Institute of Mining and Metallurgy,
and rolling using dynamic recrystallization
Proceedings, pp.1-18, 1990.
schedules. Metallurgical Transactions A, vol. 21,
pp. 153-164, 1990. 40. J. DONG, F. SICILIANO Jr., J.J. JONAS,
LIU, W.J. & ESSADIQI, E. : Effect of Silicon
30. L.N. PUSSEGODA, P.D. HODGSON & J.J.
on the Kinetics of Nb(C,N) Precipitation during
JONAS Design of dynamic recrystallization
the Hot Working of Nb-bearing Steels. ISIJ
controlled rolling schedules for seamless tube
International, vol. 40, pp. 613-618, 2000.
rolling. Materials Science and Technology, vol.
8, pp. 63-71, 1992. 41. E. NES, H.E. VATNE, O. DAALAND, T.
FURU, R. ØRSUND & K. MARTHINSEN
31. F.H. SAMUEL, S. YUE, J.J. JONAS &
Physical modelling of microstructural evolution
B.A. ZBINDEN Modeling of flow stress and
during thermomechanical processing of
rolling load of a hot strip mill by torsion testing.
aluminium alloys. SINTEF, Report no. STF24
ISIJ International, vol. 29, pp. 878-886, 1989.
S94003, Trondheim, 1994.

108

Você também pode gostar