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DESCONTINUIDADES
DESCONTINUIDADES (DEFEITOS)
Cristais perfeitos
Resistência coesiva teórica e real
Tipos de descontinuidades
Descontinuidades eletrônicas
Descontinuidades pontuais
Descontinuidades lineares
Descontinuidades superficiais
Descontinuidades volumétricas
DESCONTINUIDADES SUPERFICIAIS
Fronteiras de Contornos de
domínios subgrãos
Descontinuidades
Contornos de Contornos
antifase bidimensionais de maclas
ou planares
Superfícies Falhas de
externas empilhamento
Interfaces
entre fases
Superfície Externa
Esta energia por unidade de área pode ser entendida como uma tensão superficial
ou interfacial entre as fases sólido e vapor (no caso a atmosfera).
Embora seu valor absoluto seja alto, sua importância relativa é pequena, pois a
quantidade de superfície por unidade de volume nos componentes é praticamente
desprezível. Em algumas áreas, tais como metalurgia do pó e processamento de
materiais cerâmicos, a quantidade de superfície por unidade de volume é alta e a
energia de superfície desempenha um papel importante.
A tabela abaixo apresenta valores de energia de superfície para alguns
materiais, próximo ao seu ponto de fusão. De uma maneira geral, quanto
maior for o ponto de fusão do material, maior será sua energia de
superfície.
Modelo de ligações quebradas: a superfície consiste numa estrutura de degraus,
onde cada camada é um plano densamente empacotado. Um plano cristalino com
um ângulo θ em relação aos planos densos terá ligações quebradas em excesso,
devido aos átomos dos degraus. Se ε representa a resistência da ligação entre dois
átomos, então atribui-se uma perda de energia ε/2 para cada ligação quebrada.
Assim, a energia superficial (por comprimento no plano da figura e comprimento
paralelo aos degraus) será dada pela seguinte expressão:
Modelo de ligações quebradas para a energia superficial. Variação da energia superficial com θ.
Contornos de Grãos
A grande maioria dos materiais cristalinos utilizados em engenharia é
policristalina. O agregado policristalino consiste de pequenos cristais,
denominados grãos, com dimensões de poucas dezenas de micrômetros, arranjados
de maneira a preencher todo o espaço (sem deixar vazios).
Contornos de grãos são as fronteiras bidimensionais que separam cristais de
diferentes orientações em um agregado policristalino.
A região do contorno tem uma espessura de aproximadamente duas a três
distâncias interatômicas e é bastante defeituosa. Pode-se dizer que os átomos do
contorno apresentam um número de coordenação menor do que os átomos no
interior dos grãos.
Espessura de 2
a 3 distâncias
interatômicas.
TiC.
Micrografia (microscópio ótico) de uma amostra de ferro policristalino,
mostrando contornos de baixo e de alto ângulo.
Micrografia (microscópio
ótico) de uma amostra de
aço extra doce,
policristalino, enfatizando a
orientação cristalográfica de
cada grão.
64 milhões de grãos/cm3
Contorno de baixo ângulo em uma
amostra de magnésio. As linhas de etch
pits correspondem a posições onde
discordâncias interceptam a superfície.
α-Fe
Pt
A energia de um contorno de grão de baixo ângulo é simplesmente a energia total
das discordâncias por unidade de área do contorno. Ela depende do espaçamento
das discordâncias, obtido a partir de um arranjo de discordâncias:
Por outro lado, para uma desorientação relativamente elevada o espaçamento entre
discordâncias torna-se muito pequeno, os núcleos das discordâncias se sobrepõem,
tornando-se impossível a identificação física das discordâncias. Neste momento, a
energia do contorno de grão é praticamente independente da desorientação.
Resultados da variação da
energia de um contorno de grão
com a desorientação para uma
amostra de Fe-Si. Read, 1953.
É importante destacar que um grão em um agregado policristalino é um poliedro
que deve preencher todo o espaço (sem deixar vazios), satisfazer o equilíbrio de
tensões superficiais e, é claro, satisfazer as relações entre o número de vértices,
arestas e faces (teorema de Euler). O poliedro que mais se aproxima destas
exigências é o ortotetracaidecaedro, apresentado na figura abaixo.
16Cr4Nb (14,5µm)
16Cr5Ti (16,5µm)
SL SL
SL SL
O número de faces, arestas e vértices dos grãos em um agregado
policristalino pode ser determinado experimentalmente. Tomemos, por
exemplo, um pedaço de alumínio puro com grãos grandes (isto pode ser
obtido fazendo-se um tratamento térmico em altas temperaturas, quando
ocorre crescimento de grão). Se o alumínio policristalino for colocado em
contato com gálio líquido (ponto de fusão 40°C), ocorre difusão
preferencial dos átomos de gálio pelos contornos de grão do alumínio e a
concentração de gálio nestas regiões é bastante aumentada. A presença de
gálio nos contornos (segregação) diminui a força de coesão entre os grãos,
tornando o material frágil (fragilização por metal líquido). Sob aplicação
de pequenas tensões, os grãos se desagregam por fratura intergranular,
como fossem os grãos de uma romã. Se os números de faces, arestas e
vértices de vários grãos forem determinados, os valores médios serão
muito próximos aos do ortotetracaidecaedro.
Grãos removidos de uma
amostra de latão, apresentando
três tamanhos distintos.
MET-155
Tamanho
de Grão
s ys = s o + k (d )
-1
2
Valores de K para enriquecimento de P e S em contornos de grãos em ligas ferrosas. A segregação pode
ser vista como uma redistribuição de soluto entre duas fases: o volume e o contorno de grão. A
segregação em contorno de grão é inversamente proporcional à solubilidade volumétrica. O parâmetro
K mede o enriquecimento do elemento no contorno de grão.
Equação de Langmuir-
McLean, que descreve o
grau de enriquecimento q
do contorno de grão em
função da concentração c
da impureza no volume e da
temperaturaT :
Transição de
comportamento dúctil-frágil
para um aço com 0,2%C na
presença de impurezas
fragilizantes de contorno de
grão.
Energia livre de
segregação a 800oC e
correspondente variação
na temperatura DBTT.
Competição de ocupação de sítios em contornos de grãos
entre C e P (esquerda) e C e S (direita).
Materiais nanocristalinos: manipulação de átomos para formar grãos com
tamanho nanométrico.
A EFE é um dos mais importantes parâmetros indicativos das propriedades dos materiais.
O valor da EFE vai determinar o tipo de subestrutura de discordâncias produzida no
material por deformação plástica. Por exemplo, um material com baixa EFE apresenta
após deformação plástica maior densidade de discordâncias, distribuição mais uniforme de
discordâncias e maior energia armazenada na deformação, do que um material com elevada
EFE e deformado nas mesmas condições. Além disto, os materiais com baixa EFE
geralmente apresentam maior taxa de encruamento, maior resistência à fluência e maior
susceptibilidade à corrosão sob tensão do que materiais de elevada EFE.
Relação entre a energia de falha de empilhamento, o
coeficiente de encruamento e a característica do deslizamento
para diversos metais.
Energia de
Coeficiente Característica
falha de
Metal de do
empilhamento
encruamento deslizamento
(mJ/m2)
Aço inoxidável < 10 ≈ 0,45 Planar
Cobre ≈ 90 ≈ 0,30 Planar/Ondulado
Alumínio ≈ 250 ≈ 0,15 Ondulado
Formação de duas discordâncias
parciais e de uma região falhada, a
partir de uma discordância normal.
EFE
As falhas de empilhamento são um tipo
simples de descontinuidade planar. Quando
elas estão inclinadas em relação à superfície
da folha fina, elas são visualizadas no MET
como faixas contendo franjas brancas e
pretas paralelas, resultantes do contraste por
difração criado pela imperfeição planar no
arranjo periódico dos átomos.
Medição da distância d entre parciais no MET. Aço AISI 304.
Deslocamentos de planos de reflexão mostrados por linhas na falha de empilhamento AB. O vetor de
difração g é perpendicular a estes planos. Em (a), g u = 0 e não ocorre contraste. Em (b) g u ≠ 0 e a
interferência entre as ondas acima e abaixo da falha fornecem uma franja.
Uma falha é produzida pelo deslocamento do cristal acima do plano da falha por um vetor
constante u relativo à parte de baixo do plano de falha. Para colunas de elétrons
atravessando a falha, um fator 2pi g u provoca uma diferença de amplitude entre o feixe
principal e o feixe difratado. Assim, quando o produto g u for nulo ou um inteiro, não existirá
contraste e a falha será invisível. Isto está demonstrado na figura (a), onde o vetor u situa-se
no plano da falha e os planos difratados são paralelos a u. Para qualquer outro valor de g u,
a falha produzirá contraste, conforme mostrado na figura (b).
(a) Micrografia eletrônica de
transmissão de uma folha fina,
mostrando uma franja típica de falha de
empilhamento que situa-se em um plano
inclinado em relação ao plano da folha,
como esquematizado em (b).
Falha de empilhamento em um
aço inoxidável.
a) Contraste normal de franjas;
b) Contraste realçando as
discordâncias parciais.
Imagens de discordâncias estendidas no MET.
Exemplo de dissociação em cristal CFC.
Falhas de empilhamento em uma
amostra de Fe-18NCr-14Mn-0,6N.
MET. A mudança de brilho ou perda de
imagem de algumas áreas resulta da
sobreposição de falhas de
empilhamento na espessura da folha
fina, que causa uma mudança na
intensidade dos elétrons transmitidos.
Por exemplo, quando um metal com estrutura CFC e baixa EFE é deformado por métodos usuais
(ensaio de tração, laminação, forjamento, etc.), suas discordâncias têm baixa mobilidade, devido ao
fato das discordâncias parciais estarem muito afastadas entre si. Isto implica em dificuldade para
ocorrência de fenômenos de deslizamento cruzado e escalada de discordâncias. Uma vez tendo baixa
mobilidade, as discordâncias geradas na deformação tenderão a ter uma distribuição plana
(homogênea) na microestrutura.
Arranjo esquemático de
discordâncias homogeneamente
distribuídas em um grão encruado.
A distribuição de discordâncias em materiais com baixa EFE (<20mJ.m-2) é estritamente
bidimensional ou planar. Exemplo: aço inoxidável austenítico Fe-18Cr-9Ni (16-40mJ.m-2).
Por outro lado, metais e ligas com estrutura CCC, ou com estrutura CFC e elevada EFE, deformados
plasticamente por métodos habituais na temperatura ambiente apresentam discordâncias dissociadas
em parciais próximas umas das outras, facilitando a ocorrência de deslizamento cruzado e de escalada.
Isto implica em discordâncias com elevada mobilidade, que tendem a se localizar em planos
cristalinos de baixos índices de Miller, assim como aniquilar-se com discordâncias vizinhas de sinal
oposto. Devido a estes fatores, materiais com elevada EFE tendem a apresentar uma distribuição
heterogênea tridimensional de discordâncias.
b
D
q =
D
onde b é o vetor de Burgers e D é o espaçamento médio
entre discordâncias.
Os materiais com baixa EFE, que não apresentam subestrutura celular após a
deformação a frio, também apresentam formação de subgrãos (poligonização) no
posterior recozimento.
De uma maneira geral, pode-se afirmar que mesmo monocristais bem recozidos
podem apresentar subgrãos.
Uma das primeiras fotografias em MET do extensivo trabalho
pioneiro de Hirth, Horne e Whelan, 1956, sobre a poligonização em
alumínio, 65.000 X.
Subgrãos observados no MET em amostra de tântalo policristalino
deformado a frio até 99% de redução em área por forjamento
rotativo e depois recozida por 1h a 750oC.
Formação de contornos de baixo ângulo observados no MET durante a
deformação a quente de aço inoxidável austenítico AISI 304.
Micrografia no MET de uma estrutura de recuperação em uma liga Fe-8%Cu,
laminada a frio com 60% de redução na espessura, recozida por 3h a 500oC,
depois 100min a 650oC. 54.400X.
A diferenciação entre células de deformação e subgrãos é um tanto arbitrária. O
principal critério para diferenciá-los é o grau de ativação térmica envolvido na sua
formação, já que ambos são constituídos de arranjos de discordâncias e a diferença
de orientação entre regiões vizinhas que eles separam é da mesma ordem de
grandeza. Em geral, um subcontorno é mais aperfeiçoado que uma parede de
célula, pois a subestrutura de subgrãos envolve uma considerável ativação térmica
durante sua formação, o que permite o rearranjo das discordâncias.
Representação esquemática
de uma macla no sistema
CFC. O plano da figura é o
plano (110). Os planos A1 e A2
são os planos de maclação.
Empilhamento CFC.
Plano de macla A.
Deformação ou
tratamento térmico
Representação esquemática mostrando como uma macla pode ser
produzida por um simples movimento de átomos.
Este tipo de descontinuidade pode ocorrer durante a solidificação, deformação
plástica, recristalização ou durante o crescimento de grão. Normalmente,
distinguem-se dois tipos de macla conforme a origem: macla de recozimento e
macla de deformação. Embora os dois tipos mencionados sejam
cristalograficamente idênticos na mesma estrutura, as maclas de recozimento,
formadas em altas temperaturas, apresentam contornos retilíneos, enquanto as
maclas de deformação, formadas durante a deformação a frio, apresentam
contornos lenticulares (vide figura abaixo).
Grãos maclados: (a) e (b) maclas de recozimento em materiais com estrutura CFC;(c) macla
de deformação em materiais com estrutura HC. Uma importante característica das maclas é o
fato delas nunca atravessarem contornos de grãos; elas podem terminar em um contorno de
grão ou de macla, ou então no interior do grão.
A tabela abaixo apresenta valores de energia de maclas coerentes e
incoerentes, comparadas com contornos de grãos de alto ângulo.
As maclas de recozimento ocorrem mais freqüentemente durante a recristalização
e/ou durante o crescimento de grão. Elas são mais freqüentes em materiais com
baixa energia de falha de empilhamento. A energia do contorno coerente de macla
é aproximadamente a metade da energia de falha de empilhamento. Desta maneira,
é esperado que materiais com baixa EFE apresentem alta frequência de maclas de
recozimento. Por exemplo, as maclas de recozimento são raríssimas em alumínio,
ferro-alfa, nióbio, molibdênio e tungstênio, mas são muito freqüentes em cobre,
prata, ouro, latão e em aços inoxidáveis austeníticos.
Microestrutura polifásica
e bifásica (esquema).
Material: aço DP 600
Microestrutura, ataque Le Pera
Os valores da tabela acima mostram que a energia por unidade de área de uma
interface coerente é comparável com a energia de subcontornos e contornos
coerentes de macla. Por outro lado, a energia das interfaces incoerentes é
comparável com a energia dos contornos de grão.
Contornos de antifase