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Entre saberes

Os meios de comunicação de massa


Mediação sugerida A atuação do Estado, em uma democracia, precisa levar em conta mecanismos de
História participação que fazem com que interesses da sociedade civil sejam transformados em
Língua Portuguesa
políticas públicas, de maneira a contemplar reivindicações e necessidades de diversos
CE1 (EM13CHS101);
CE5 (EM13CHS502,
segmentos sociais. Os meios de comunicação de massa ou mídia de massa adquiriram,
EM13CHS504); em nosso contexto histórico e político, no Brasil e no mundo, um papel central em di-
CE6 (EM13CHS602, versas disputas políticas.
EM13CHS603, A atuação do Estado sobre esses meios, em um contexto democrático, deve levar em
EM13CHS606).
Integração com conta também a sua própria democratização, fazendo com que diferentes grupos sociais
Linguagens e suas tenham direito à comunicação, um direito humano básico previsto na democracia. Ao
Tecnologias: mesmo tempo, há limites para as imposições do Estado sobre as comunicações, uma vez
CE1 (EM13LGG104);
CE3 (EM13LGG303).
que o direito à liberdade de expressão e de imprensa também é fundamental no jogo de-
mocrático. Leia a tirinha e o texto a seguir e responda às questões propostas sobre o tema.

© LAERTE

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
“O governo quer
controlar a imprensa”,
tira da cartunista Laerte,
publicada na Folha de
S.Paulo, 10 jun. 2014.

Relator da OEA diz que regulação da mídia


está atrasada na América Latina
Os governos da América Latina tiveram pouco sucesso ao enfrentar a falta de
pluralidade e de diversidade na mídia, ocasionada pela concentração dos meios
de comunicação. A avaliação é do relator especial para a Liberdade de Expressão
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados
Americanos (OEA), Edison Lanza.
[...]
Lanza disse que a ausência de controle sobre a mídia na região, por anos, é
uma das origens da falta de pluralidade e diversidade. Assim, com base em acor-
dos internacionais para garantia da liberdade de expressão e de informação, ele
defendeu a atuação dos estados, a contragosto de empresas do setor.
“Os meios de comunicação são veículos para o exercício de poder que, agora,
se veem com razão muito forte de dizer: ‘já tenho direito adquirido aqui, não me
toque’”, avaliou. Porém, ponderou, “monopólios ou oligopólios privados ou públi-
cos afetam a liberdade de expressão e é obrigação dos estados fomentar uma
comunicação que tenha pluralidade de proprietários e vozes”.
Na região, o relator disse que grupos de mídia tentam polarizar o debate com
falsas premissas, principalmente, depois de experiências regulatórias da Argen-
tina, Equador e Uruguai.
No Brasil, a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Suzy dos
Santos, afirmou que os oligopólios e monopólios que tentam interditar o debate,

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alegando que a regulação é uma forma de censura, têm origem no “coronelismo
eletrônico”. Segundo ela, no país as mesmas famílias que dominam a política são
donas dos meios de comunicação. O efeito, avaliou, é a falta de diversidade de
ideias na sociedade a invisibilidade de grupos sociais.
O relator da OEA destacou, ainda, que a regulação deve ser feita sob a pers-
pectiva da democracia e dos direitos humanos, como na Europa e nos Estados
Unidos. Nos países onde não há clima, sugere que os primeiros passos se deem
por meio de políticas públicas.
Monopólio: em Econo-
“Uma lei [que regula a mídia] é ótima, mas há medidas parciais que podem ser mia, designa o contro-
tomadas por meio de atos administrativos como, por exemplo, a reserva de espec- le de mercado exercido
tro para incluir rádios comunitárias [no dial] com facilidade para que consigam por uma empresa que,
as concessões”, citou. Outra medida pode ser a “orientação para que as polícias sem concorrência, pode
impor preços dos pro-
e os ministérios públicos não reprimam aqueles que fazem uso da liberdade de dutos ou serviços entre
expressão” como as rádios comunitárias. “A aplicação do direito penal nesses outras condições que a
casos é condenada por ser desproporcional e desnecessária”, afirmou o relator. beneficiam.
Políticas para que a sociedade civil tenha condições de produzir e veicular Oligopólio: controle exer-
informação própria também são fundamentais. cido por um pequeno nú-
mero de empresas que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Edison Lanza contou que, no Uruguai, seu país de origem, onde se aprovou compõem a maioria de
recentemente uma lei para regular a mídia, a principal central sindical do país, ao uma parcela de certo
receber um canal de televisão, avaliou que era caro mantê-lo e cogitou devolvê- mercado.
-lo ao governo.
À espera de mudanças no cenário nacional, um dos organizadores do evento
com o representante da OEA, a organização Intervozes – Coletivo Brasil de Co-
municação Social – não vê possibilidade de avanços na aprovação de um marco
regulatório no Brasil, tampouco crê em medidas administrativas para enfrentar
o monopólio de grupos que interditam o debate.
“Nossa cobrança é pelo que já pode ser feito”, disse Iara Moura, da coordena-
ção executiva da entidade, sobre as leis que impedem a concessão de canais de
rádio e televisão a políticos, por exemplo. “Atos administrativos requerem uma
boa vontade que, atualmente, o governo brasileiro não tem”, frisou. “A crimina-
lização das rádios comunitárias escancara isso”, completou.
VIEIRA, Isabela. Relator da OEA diz que regulação da mídia está atrasada na América Latina.
EBC – Agência Brasil, 8 ago. 2015. Disponível em: <https://www.ebc.com.br/cidadania/2015/08/
relator-da-oea-diz-que-regulacao-da-midia-esta-atrasada-na-america-latina>.
Acesso em: 23 jun. 2020.

Não escreva no livro.

1. Qual é a relação entre mídia e democracia segundo o texto e a tirinha?


2. De acordo com a reportagem, qual seria o papel do Estado nessa relação?
3. Releia o seguinte trecho do texto: “No Brasil, a professora da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, Suzy dos Santos, afirmou que os oligopólios e monopólios
que tentam interditar o debate, alegando que a regulação é uma forma de censu-
ra, têm origem no ‘coronelismo eletrônico’”. A tirinha apresenta o mesmo ponto
de vista sobre o assunto? Explique.
4. Em duplas, discuta com o colega a seguinte afirmação: “O relator da OEA desta-
cou, ainda, que a regulação deve ser feita sob a perspectiva da democracia e dos
direitos humanos, como na Europa e nos Estados Unidos. Nos países onde não há
clima, sugere que os primeiros passos se deem por meio de políticas públicas”.
Procurem refletir sobre o assunto com base nos debates realizados ao longo des-
ta Unidade: qual seria um mecanismo por parte do Estado eficaz para preservar
a democracia em questões de regulação da mídia?

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