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58 Comunicação Pública ' Duarte

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N"r," texto, pretendemos discutir que a atuação em Comunicação Pública (CP)
exige: (a) compromisso em privilegiar o interesse público em relação ao interes-
se individual ou corporativo; (b) centralizar o processo no cidadão; (c) trata¡ co-
municação como um processo mais amplo do que informação; (d) adaptação dos
instrumentos às necessidades, possibilidades e interesses dos públicos; (e) assu-
mir a complexidade da comunicação, tratando-a como um todo uno.
Tema de debates na academia e na imprensa, nome de cursos de pós-gradua-
ção, fonte de incipiente e estimulante literatura, a expressão comunicação público
tem sido fomentadora de interesse a respeito de suas diferentes interpretações,
implicações e potencial de adoção. Embora quase toda comunicação possa ser
considerada pública, o esforço de caracterizar a expressão com um significado
específico faz com que às vezes seja usada para referir-se aos veículos públicos,
tratada como a estruftrra técnica das redes de tv e rádio, em alguns casos como
comunicação governamental, ou ainda como sinônimo do conjunto de instru-
mentos originários da Administração Pública.1

I Considera-se aqui Comunicação Governamental como aquela que trata dos fluxos de informaçäo
e padrões de relacionamento envolvendo o Poder Executivo e a sociedade, enquanto Comunica$o
Política trata do discurso e da ação na conquista da opinião pública. Govemo é o gestor trarsitório do
Poder Executivo. Executivo indui empresas púbücas, institutos, agências reguladoras, á¡ea milita¡. Ad-
minisnação Ríblica é o apareiho estatal e indui todos os órgãos ligados ao Legislativo, Executivo, Judi-
ciário em níveis federal, estaduais e munjcipais. Uma altemativa pouco explorada é a de "comurricação
do sewiço público", expressão que retira o viés político da expressão "comunicaçäo governamental".
60 Comunicaçáo pública . Duarte Instrumentos de comunicação pública 61

No exteriol o conceito também assume diferentes sigrrificados. O professor - ou o que não é "comunicação pública": não trata de comunicação sobre inte-
francês Pierre Zémor é a principal referência original no âmbito acadêmico bra- resses particulares, privados, de mercado, pessoais, corporativos, institucionais,
sileiro, inclusive para participantes deste liwo, mas é possível encontrar inter- comerciais, promocionais ou de "um público".
pretações bastante distintas. Estudo realizado por Fonseca Júnior (2006) mostra
Comunicação pública coloca a centralidade do processo de comunicaçäo no
que comunicação pública, nos EUA' pode ser interpretada como uma forma de
cidadão, não apenas por meio da garantia do direito à informação e à expres-
comunicação orgalizacional. No ambiente interno, comunicação pública seria
são, mas também do diálogo,a do respeito a suas características e necessidades,
responsável pela promoção de mudanças organizacionais, pelo desenvolvimento
do estímulo à participação ativa,s racional e coresponsável. Portanto, é um
organizacional e pela satisfação dos empregados. No âmbito externo, inclui as
bem e um direito de natureza coletiva, envolvendo tudo o que diga respeito a
atividades de publicidade de produtos e serviços, relaçöes públicas, gerenciamen-
aparato estatal, ações governamentais, partidos políticos, movimentos sociais,
to de questöes públicas Qtublic issues) e construção da imagem organizacional,
empresas públicas, terceiro setor e, até mesmo, em certas circunstâncias, às em-
visão similar à perspectiva da comunicação organizacional brasilei¡a. Uma busca
presas prívadas.
na literatura europeia mosûa, ente outras possibilidades, a distribuição ou uti-
lização coletiva de obras intelectuais, o que inclui discussões jurídicas sobre se O uso da expressão está associado ao esforço de melhorar a vida das pessoas
estão no âmbito da comunicação pública as tra¡rsmissões de tv que ocorrem em pela comunicação. Para conseguir isto, os instrumentos de comunicação são uti-
saguões de hotéis e presídios. lizados a partir do ponto de vista do cidadão em sua plenitude e não apenas em
suas faces de consumidoS eleito4 usuário. Praticar comunicação pública implica
Objeto de estudo recente e de particular interesse dos comr¡nicadores que
assumir espírito público e privilegiar o interesse coletivo em detrimento de pers-
atuam nos Três Poderes, que praticamente consolidam como um movimerrto,2 co-
pectivas pessoais e corporativas.
municação pública, no Brasil, é uma etpressão que não especifica um conjunto de
conhecimentos, áreas, profissões ou estmfttras, estando mais próximo de se ca- A ideia é julgada às vezes ingênua ou utópica por detentores momentâneos
îacterizar como um etos, uma posflrra de perceber e utilizar a comunicação como do poder para quem comunicação, ainda e i¡fetzmente, é considerada apenas
instrumento de interesse coletivo para fortalecimento da cidadalia. No setor pú- um tipo de concessão paternalista, de angariar apoio, instrumento de persuasão,
blico, em que tem maior potencial de desenvolvimento, incorpora o pressuposto manipulaçäo, sedução, para disputa ou mariutenção do poder, ou, nas versões
da raasparência3 em um tema historicamente relacionado à busca de visibilidade menos refinadas, um fenômeno da natu¡eza que pode ser deixado ao acaso ou ao
e legitimidade e que às vezes assume viés claramente político de culto à persona-
improviso. Para o profissional, o desafio é lidar com um tema cujo objetivo estra-
lidade ou promoçäo institucional. No terceiro setor é um caminho natural para
tégico muitas vezes está mais relacionado a atender aos anseios do corpo dirigen-
viabilizar o atendimento às necessidades da sociedade, complementando ou sim-
te do que ao interesse público.
plesmente substituindo o papel do Estado. Na área privada, pode ser exemplo de
compromisso institucionafizado com a responsabüidade social da organização ou A boa novidade que os mais recentes debates sobre CP trazem é a tentativa
simples estratégia de marketing. de viabilizar a mudança do foco da comunicação, tradicionalmente voltado para
O conceito unificador que faz convergir o interesse daqueles que desejam mí- o atendimento dos interesses da organização e de seus gestores (coalizão domi-
dias públicas fortes, uma imprensa mais pluralista e democrática, a informação e nante, corporação, políticos) para ser direcionado prioritariamente p¿ìra o aten-
a interação com o cidadão em bases apropriadas, uma divulgaçäo mais próxima dimento dos interesses do conjunto da sociedade de uma forma consciente, res-
do interesse do Estado e da sociedade do que do governo parece ser o de interesse ponsável e estratégica.6
público, expressão, assim como comunicaçã.o público, difícit de definir consensual-
mente. Talvez seja mais fácil, neste caso, encaminhar uma definiçäo pelo oposto
a Diálogo aqui tem o significado de um processo de interação em que os envolvidos asslrmem-se
em igual nível de importância, direito e opornrnidade de fala¡ e ser ouvidos, buscando compreen-
der e ser compreendidos.
2 Por causa da série de ações coletivas e debates em que é conceito central, "comunicação públi- s Uma das grandes novidades após a redemocratização é o surgimento de insturnentos que
ca" talvez Possa ser ca¡acterizada como um movimento dos profissionais de comunicação do setor permitem garantir a presença da sociedade ou público interessado em temas que os afetam direta-
público, com o particular destaque para o engajamento daqueles que assumíram função nos últi- mente. São exemplos as consultas públicas, os conselhos comunitários e os fón:¡s. A comunicação
mos anos por concurso (mas não só deles). pública, em sua etapa de participação, necessariamente irnplica uma redistribuição,zdiluição do
3 Tiansparência diz respeito à atuação ética, responsável, límpida e acessível no Eato das ques- poder-
tões de interesse público. Exige a oferta de informações necessá¡ias aos ínteressados, o esdmulo ao 6 A comunicação estratégica é aquela que, a partir de um diagnóstico, define e utiliza os recursos
acesso, facilitação da fiscalização sobre as práticas de quem detém o poder, adoção de mecanismos adequados para atingir um objetivo predeterminado. É a definição do caminho para construir o
de cobrança de responsabilidade e sistemática prestaçáo de contas. futuro.
62 Comunicação pública . Duarre
icação pública 63

Comunicação: informação e interação


Informação é elemento básico e essencial do processo de comunicação, mas
Um conceito freque não o único. Os significados originais de comunicação, no francês e no inglês com-
o de direito à informaçã ¡nunícotion, possuem o sentido de "'participar a" (francês) ou "pôr em comum,
acesso e uso dos outros oartllhar" (inglês), próximos, portanto, do latim original communicare (\MNKIN,
m iOeS, p.22) que significa "pertencente a todos ou a muitos. Comungar, torn¿ìr
a interpretação,
m comum, estar em relação e ação de" (CUNHA,1999, p. 308).
assimilada, ,,prod:uz c-onhecimento, modifica o estoque
m indivlduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e'ao Winkin (1998) mostra que, ao longo do tempo e, em grande medida, devido
desenvolvimenro da sociedade em que vive" (BARRETO,2O0i;;. ao desenvolvimento e à valorização da comu¡ricação de massa e até dos meios de
ä).
ûansporte, tralsmiti4 leva¡ de um ponto a outo, passou a significar comunicar,
ificados semâ¡dcos múltiplos, adota_ usufruindo os benefícios idealiza¡rtes de seu significado original sem sustentar sua
ncias, mas, basicamente, ielacionada
amplitude e implicações. O resultado é que se igualou a parte (informação) e o
todo (comunicação) e tarsmissão passou a adotar o mesmo conceito de partilha,
diáJogo, mascarando suas limitações originais. Assim, comunicação passou a iden-
dficar ta¡to transmissão instrumental de informações com viés linear vertical-des-
a não ser cendente quanto o processo de interlocução entre dois sujeitos. Ou, de outro modo,
a, p. 38). dir,rrlga¡ transmitir, falar, publicizar, publicar, emiti¡ comunicados, persuadir passa-
âmbito da ram a ser tratados como sinônimo perfeito de reafizar comunicação. Comunicação
em seu significado mais pleno, de troca, extrapola a visão de transmissão intencio-
a) nal de mensagens entre um emissor e um receptor I\MNION, 7998,p- 13) e se rea-
papel, políticas, responsabilidades e fun_ liza plenamente na perspectiva interativa e dialógica, quando se oferece aos inter-
. Em geral, são ligadas à projeção de ima_ locutores a possibiJidade de parricipar ativamente dos processos que os afetam.
tidade;
b) de gestão: Reforçar a ênfase na emissäo significa considerar comunicação como um tipo
rerativas ao processo decisório e de ação
dos agentes que de produto a ser entregue, transformando sujeitos em objetos da comunicação. A
atuam em temas de interesse público. Incruem
airt".ror, rerato de in_ adoção desta perspectiva pode ser percebida mais claramente no uso frequente
tenções, motivações, prioridadès e objetivos
d", de expressöes como melhorar o imogem, ser compreendido ot comunicar melhor,
c) de utilidade púbrica: sobre temas relacionados ";;;;;;,
ao dia-a-dia d.as pes_ que em geral apenas significam melhorar a divulgação para mudar a percepção
soas, gerarmente serriços e orientações.
Buscam i"roÀ"q mobiliza4 ou obter o engajamento. A frase "nossa comunicação não funciona", típica nas
organizações, adquire, assim, o significado de "não estamos conseguindo conven-
cer as pessoas".
Falta de divulgação pode ser um problema, mas não deve ser confundido com
incomunicação. Viabilizar a comunicação exige como requisito mlnimo que uma
d)
mensagem chegue e seja compreendida pelo receptor, mas o modelo elementar
de emissão e recepçäo não é suficiente. A informação é apropriada em geral por
interação social, e depende de fatores como conhecimento de sua existência, dis-
e) mercadológicos: referem-se a produtos e ponibilidade, oporrunidade, acesso, do ambiente em que se viabiliza a interação,
serriços que participam de
concorrência no mercado; de linguagem adequada, exigindo até mesmo uma pedagogia apropriada às cir-
f) de.prestação de contas: dizem respeito à explicação cunstâncias. Discursos e sinais podem não ser entendidos, informações podem
políticas e de uso de recursos públicos, sobre decisões est¿Lr em local incerto e não sabido, não chegar ao destino, ser mal-interpretadas,
viabilizåndo t .onh"ci-ento, a
avaliação e a fiscalização; estar equivocadas, distorcidas, não ser apresentadas no momento adequado, ser
g) dados públicos: desinteressantes ou inconsistentes, não ter significado para o recepror ou, sim-
aqueres de controle do Estado que plesmente, não ter credibilidade.
conjunto da sociedade e a seu rncionamento. dizem respeito ao
jurisprudência, documentos Exempros: estatísticas, Uma forma de lidar estrategicamente com comunicação inclui pensar distin-
históricos, legislaçãi;;il;;. tamente informação e interação. "Em toda a comunicação existem dois elemen-
T
s

64 Comunicaçâo pública ' Duarte i Insrrumentos de comunicação pública 65


i

tos básicos: um elemento de conteúdo, que se refere ao que queremos dizer sobre te os instnrmentos de comunicação pública, a partir de sua ênfase,em
informação
ulgum objeto, e um elemento de relacionamento, que se refere à relação existen- e em dieílogo.
te entre os interlocutores" (BORDENAVE; CARVAIHq L979, p.46). No processo
de interação, podemos incluir elementos como o contexto em que se viabiliza, a
linguagem, história e Srau de confiança dos interlocutores, até a disposição dos
participantes em viabilizar a comunicação.
Paulo Freire (797I) chama a atenção para o fato de que comunicaçäo neces-
sariamente requer signifi cados signifi cativos, reciprocidade, coparticipação entre cos, cartas, manuais, malas diretas, discursos, eventos simbólicos.
sujeitos que dialogam em tennos de igualdade. A comunicação implica a existên- Os instrumentos de dirílogo caracterizam-se por estabelecer instâncias de in-
cia de credibilidade, respeito e interesse pelo outro. Diiálogo em essência. Cada
indivíduo está presente nos processos de comunicação, é um elemento del4 "mais
do que é sua origem ou ponto de chegada" C\MNKIN, 7998,p.33). A comunicação
é, desta maneira, processual, dinâmica e condnua e se viabiliza quando buscamos
a interação em suas diferentes formas para que a informação se torne acessível e
compreensível como conhecimento, aquele "conjunto de conceitos, significados,
habilidades e rotinas desenvolvidas ao longo do tempo por indivíduos ou grupos,
à medida que processam informaçöes" (SAIOMON; ENGEL, I9g7)-
Comunicação pública, então, deve ser compreendida com sentido mais am-

protagonista naquilo que lhe diz respeito, ter conhecimento de seus direitos, a
orientação e o atendimento adequado, passando pelo direito a saber como são
vista
Tamåém do ponto de anir do efeito
ser
pretendido e do público a ûumentos de
comunicação institucionarizad (a) massivos;
(b) segmentados; e (c) diretos

Instrumentos de comunicação

Mesmo consideraldo a natural imbricação, é possível, com base nas diferen-


ças entre informação e comunicação aqui propostãs, classifica-c pragmaticamen-

7 como sugere Gilberto Gil, "o povo sabe o que que6 mas o povo também quer o que não sabe,,. e Padcipaçäo, mobilização, comunica
I Estabelecer modelos de comurricação sempre foi tarefa problemática e dé alto risco, por causa cançar objetivos, como, por exemplo, de
da sobreposição e complementaridade, particularmente depois do surgimento da mediação por ca, aumentar o conlecimento sobre um assunto,
computador. A comissária Margot Wallström, responsável pela área de Comunicação da Cómisião a gestão.
Europeia, criou um blog para ouvir críticas e dialogar com cidadãos dos diferenteJ países com tom 10 Isto
a diversidade de
pessoal e intimista. Como classifica¡? Apesar do problema, a modelagem simplificada pode ser
útil fontes de
mais daramente
por estabelecer um Ponto de partida interpretativo para uma análise, de modo a permitir avaliar, os vieses adaptar critica-
criticar e determinar esuatégias a partir da natureza abstrata de um fenômeno. mente as mensagens à sua realidade
pública 67
66 Comunicação Pública ' Duarle
T lnstrumentos de comunicação

Os fluxos de informação unidirecionais proporcionados pela imprensa costu- Todas as pesquisas indicam que, apesar das possibilidades da tecnologia, a
mam ser predominantes nas estratégias de quem está no poder. 'lAs elites preferem comunicação mais efetiva ainda é a viabilizada pelo contato pessoa-I, olho no
canais de organização ou de comunicação de massas nos quais o controle e a previ- olho, em que pese as naturais dificuldades surgidas quando se estabelecem di
sibilidade säo aumentados", minimizando o potencial das relações informais frente ferenças em níveis ideológicos, de valores, culturais, educativos e até de compe-
ao potencial político que representam (BORDENAVE; CARVAIHO, 1'979,p- 758). tência comunicativa entre interlocutores. Embora óbvio, é opornrno lembrar que
a comunicação direta eficiente é essencial na relação com os públicos internos.
Ao mesmo tempo em que é campo de formação da arena pública e instru-
Æinal, boa comunicação começa em casa.
mento de atores interessados em nela agir, a imprensa é ator poderoso, interessa-
do e interveniente neste teatfo. Esta força poderia ser equilibrada por instrumen-
tos de comunicação gerenciados a Partir do controle público, como rádios, sites,
ws e agências de notícias. Há bons exemplos no Brasil de rádios comunitárias, tvs Iniciativa deve ser do poder
universitárias e agências institucionais de notícias que prestam excelente serriço
à sociedade. Em geral, entretanto, veículos públicos ainda possuem dificuldades Num país em que a desigualdade é enorme, a oporh.midade de um cidadão
orçamertárias, excesso de influência política, pouca participação da sociedade na comum conhecer as possibilidades de parricipação, instrumentos de acesso, seus
gestão e foco na divulgação das instituições a que estão ligados. O resultado cos- direitos a informação, a expressar sua opinião ou a um atendimento digno ten-
tuma ser pouca penetração junto ao público e restrição do potencial original. de a ser equivalente à sua posição na estmtura social. Informação é um bem de
interesse geral ainda acessível para poucos, o que restringe o potencia-l de parti-
A comunicação segmentada é orientada para grupos de interesse específico
cipação em tennos igualitários, tanto de acesso quanto de capacidade de tomar
em que há maior possibilidade de domínio sobre o conteúdo, acesso e distribui-
decisões. Organizações muitas vezes assumem como natural que a simples exis-
ção e de obter retorno, participação e diiálogo. É uma esûatégia eficiente de es- tência de instmmentos significa sua apropriação para uso pelos interessados, mas
tar mais próximo dos interesses e das características de interlocutores específicos nem sempre o mundo real é aquele determinado pelos projetos, intenções, leis,
que já teve como símbolo as publicações especializadas do trpo newsletters, mas documentos e discursos. Hoje, as grandes barreiras em comunicação não são a
está cada vez mais fortalecida pela interaçäo viabilizada pela conectividade das falta de instrumentos ou de hformação, mas a dificuldade em ajudar o interes-
tecnologias de informática e pela formação de redes de diferentes tipos. Sites, sado a descobri¡ que ela existe, onde está, como acessá-la e como :utilvá-la para
Intranet, blogs, eventos, feiras, reuniões, exposições, são exemplos possíveis. Os aumentar seu conhecimento e capacidade de agir. Ou seja, permitir que cada ci-
instrumentos relacionados a comunidades virnrais são cada vez mais eficientes dadão tenha conhecimento pleno dos assuntos que lhe dizem respeito para tomar
em estabelecer uma agenda pública e em dar substância aos debates e avanços. a melhor decisão possível.

Opção relevante, ainda costumeiramente subestimada nos planejamentos, Dirigentes, gestores e técnicos tendem a conhecer os caminhos e os assuntos
é a comunicação direta. Possuidora de alta eficiência por ajustar de maneira com os quais lidam e costumam saber onde está a i¡formação, como acessá-la e
imediata a comunicação às características dos interlocutores, refere-se ao con- utlIizâ-la- E sabem que ter conhecimento é ter poder. O problema é que as pes-
tato personalizado, geralmente do tipo face a face, que inclui atendimento, soas que mais precisam de informação em geral são as que têm menos acesso
aos mecanismos de transmissão e orientação ou possuem mais dificuldade de
interação pela Internet, debates, relações com o público interno, audiências
compreensão de seu significado. Vejamos o exemplo da popular orientação que
públicas, reuniões, apresentações, grupos de trabalho, fóruns e similares. Sua
todos já ouvimos: "as informações estão no sire". A segunda ediçäo da Pesquisa
característica principal é permitir facilidade de interação, troca de informações,
sobre Uso da Tecnologia da Informação e da Comunicação no Brasil (wÚCLE'O,
influência mútua e maior capacidade de compreensão. Por meio dela, as pessoas 2006), realizada em 10.510 domicílios nos meses de julho e agosro de 2006, e
têm melhor oportunidade de tirar dúvidas, obter esclarecimentos adicionais, re- encomendada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGi.br), constatou que
solver questões específicas, estabelecer laços de confiança. A proximidade entre 54,35o/o dos brasileiros nunca utilizaram um computador e que 66,680/o nunca
os comunicadoresll garante uma aprendizagem mais consistente e um nível de acessaram a Internet. Apenas 79,630/o dos domic¡lios pesquisados possuem com-
informação adaptado às necessidades do interessado, assim como o feedbock putador e, destes, 85,35% não têm acesso à Internet. Dos que possuem Internet,
tende a ser mais imediato e preciso. 49,060/o utilizam acesso discado. E, apesar de sua importância e potencial, as po-
líticas públicas ainda geram resultados incipientes: 3,97o/o das pessoas haviam
ÌÌ Comunicadores, aqui, assumem o sentido de interlocutores, sujeitos ativos no processo de co-
acessado a Internet a partir de pontos públicos gratuitos, como bibliotecas e tele-
municação, diferentemente do modelo emissor-receptor, que sugere papel passivo para este último. centros nos três meses anteriores à pesquisa. Da mesma forma, a cada vez maior
68 comunicaçáo pública ' Duarte
lnsûumenÈos de comunicação pública 69

quantidade de números 0800 é um bom indicador do interesse em atender a de-


¿ instituiçäo e seus diferentes públicos. Instituições que articulem no planeja-
mandas sociais, mas pode não significar pleno uso de seu potencial se os reais
beneficiários não o tiverem à mäo no momento que precisam ou simplesmente
Éento de comunicação todos os pontos de contato e formas de interação e i¡for-
ynação, envolvendo a organização e os públicos interessados,r2 são muito mais
desconhecerem sua existência. Isto sem fala4 claro, no processo de atendimento
que às vezes impede a comunicação. eficientes em cumprir seu papel na comunicação pública. Comunicação deveria
ser parte integrante e estratégica de qualquer projeto ou política pública desde
Quaisquer instituições, ao lidar com o interesse público, devem fazer esforços o nascedouro/concepção, mas, em que Pese ser recurso essencial para viabilizar
para se adaptar às possibilidades do cidadão, criando mecanismos adequados à
as açöes,13 ainda tende a ser considerada ferramenta tática e, em alguns casos,
siruação de cada interessado. Para subsidiar o planejamento e definir os instu-
mentos que irão formaliza¡ a intencionalidade da ação, é fundamental conhecer tarefa fim de linha.
características, interesses, expectativas e possibilidades dos públicos. Um proces- Para lidar com a dificuldade de operação e a amplitude do trabalho, comuni-
so de comunicaçäo orientado pela escuta ativa dos gestores gera conhecimento cadores devem agir cada vez mais como mestre-de-obras do que como especialis-
próximo da realidade que qualifica os padröes de decisão, reduz gastos e aumen- tas. Mestre-de-obras, neste caso, é o gestor que, a parrir de políticas e orientaçóes
ta a eficiência da comunicação ente os envolvidos. Ouvir os interessados dá a e de seu conhecimento do conjunto de técnicas, pensa a construção como um
dimensão e a compreensão de necessidades, expectativas, interesses, crenças e todo uno, integrado, em que todas as áreas estão conectadas, se afetam e comple-
atitudes específicas dos grupos-alvo da comunicação, permitindo incorporar a menta.m muftramente. Para isso, o mestre-de-obras da comunicaçäo deve conhe-
opinião dos interessados aos programas nos quais estão envolvidos, Lidar com cer todos os pontos de contato entre organizaçöes e a sociedade, os instrumentos
aqueles que têm conhecimento e interesses diferentes do nosso e ampliar suas possíveis, seu uso e potencial e saber arriculá-los no planejamento para depois
perspectivas. E não é complicado. Pa¡a viabilizar esta escuta ativa, pode-se adotar coordenar açöes, orientar especialistas, distribui4 superuisionar e cobrar tarefas
o uso de sondagens, monitoramento de mídia, grupos de discussão, consultas sis- em torno do plano previamente definido.
tematizadas, conselhos institucionalizados, ouvidoria e outras formas participati- Fundamental para a operacionalização da comunicação pública são as políti-
vas. Ouvidos aguçados e um bom par de sapatos também são recomendados.
cas formais, aqui definidas como o conjunto integrado, explícito e duradouro de
Para o profissional, o desa-fio fundamental é comunicar sobre comunicação, definições, parâmetros e orientações, orgaaizadas em um corpo coerente de prin-
ou seja, transformar o assunto em tema de interesse de todos os integrantes da cípios norteadores de atuação aplicáveis aos processos de comulicação. Políticas
organização, de modo a implantar uma cultura de valorização da qualidade dos globais formais, apesar de fundamentais, infelizmente, ainda costumam condu-
procedimentos de comunicação, como forma de qualificar as relações entre todos
zir a becos sem saída pela dificuldade com a amplitude e de articular interes-
os participantes do processo.
ses divergentes, enquanto as políticas específicas c¿ureg¿rm traços de agilidade,
Cartazes, uniformes, sites, prédios, crachás transmitem alguma informação. efetividade e viabilidade. Políticas específicas como de atendimento ao cidadão,
Atendentes, motoristas, recepcionistas, dirigentes, telefonistas, técnicos, tercei- de Interne¡ de publicidade, comunicação interna, qualificaçäo da comunicação,
rizados representam uma instituição aos olhos do púbtico externo. Tudo e todos relacionamento com a imprensa, por exemplo, articuladas a uma política global
comunicam. Cada integrante de uma organização é um agente responsável por de comunicação, constituem não apenas um indicador de responsabiJidade, mas
ajudar o cidadão a saber da existência das informaçöes, ter acesso fácil e com- também um avanço enonne no aprimoramento das práticas cotidialas, princi-
preensão, delas se apropriar e ter possibilidade de dialogar e participar em busca palmente quando elaboradas parricipativamente e complementadas por planeja-
da transformação de sua própria realidade. Alguns instrumentos podem ser úteis mento, avaliação, capacitação, manuais, regras, Iegislação e nornas.
para ajudar a dar habüidade e autonomia comunicativa para os participantes do
Processo, sejam agentes de comunicação internos, sejam interlocutores externos. 12 A definição dos públicos é feita a parrir dos critérios estabelecidos pelo estategista no planeja-
Podem-se incluir nesta categona media trøinings, cursos, úeinamentos, listas de mento da comunicação. Em geral, Eata-se de agrupar pessoas ou grupos sociais por características
discussão, publicações, guias de relacionamento, palestras. que os definem na reiação com a instituição para então estabelecer estatégias espectficas de rela-
cronamento.
Isto implica em tornar comunicação um tema relevante nas organizações e 13 Como exemplifica Faya¡d (2000a, p. 21): "reis, generais, mercadores e ladrões sempre se preo-
para o cidadão. Também pode significar capacitar sobre comunicação nas orga- cuparam com a informação e a comunicação". Em outo local (2000b, p. 2O9), ele ¡eúne os mesmos
personagens e inclui a necessidade de esuatégia: "Um rei, um general, um comerciante e um ladrão
nizações, de modo que todos os agentes compreendam a importância, as possibi-
trocam histórias entre si. Um deles propõe a seguinte c-harada: informação, comunicaçáo e estratégía
lidades e os usos, qualificando em seu próprio âmbito os meios de contato entre estão em um barco. A estatégia cai na água. O que sobra no ba¡co? Sem titubearem, os tês outros
respondem em uníssono: Nada!"
Instrumentos de comunicação pública 71
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formação e da Comr:nicação no Brasil - TIC DOMICÍLIOS e USUÁRIOS 2006. Disponível
Jorge Duarte
(Organizador)

Comunicação Pública
Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público

Autores
Adriana Studart
Ana Lucia Romero Novelli
Armando Medeiros de Fa¡ia
Cicilia M. IGobling Peruzzo
Elizabeth hzito Brandão
Eugênio Bucci
Graça França Monteiro
Heloiza Matos
João José Azevedo Cun¡ello
Jorge Duarte
Juan Camilo Jaramillo López
Luiz Martins da Silva
Ma¡cia Yukiko Matsuuchi Dua¡te
Pierre Zémor
Venício A. de Lima
Wilson da Costa Bueno

3ê Edição

sÃo peuro
EDITORA Af,tÁS S.A - 2012

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