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I Considera-se aqui Comunicação Governamental como aquela que trata dos fluxos de informaçäo
e padrões de relacionamento envolvendo o Poder Executivo e a sociedade, enquanto Comunica$o
Política trata do discurso e da ação na conquista da opinião pública. Govemo é o gestor trarsitório do
Poder Executivo. Executivo indui empresas púbücas, institutos, agências reguladoras, á¡ea milita¡. Ad-
minisnação Ríblica é o apareiho estatal e indui todos os órgãos ligados ao Legislativo, Executivo, Judi-
ciário em níveis federal, estaduais e munjcipais. Uma altemativa pouco explorada é a de "comurricação
do sewiço público", expressão que retira o viés político da expressão "comunicaçäo governamental".
60 Comunicaçáo pública . Duarte Instrumentos de comunicação pública 61
No exteriol o conceito também assume diferentes sigrrificados. O professor - ou o que não é "comunicação pública": não trata de comunicação sobre inte-
francês Pierre Zémor é a principal referência original no âmbito acadêmico bra- resses particulares, privados, de mercado, pessoais, corporativos, institucionais,
sileiro, inclusive para participantes deste liwo, mas é possível encontrar inter- comerciais, promocionais ou de "um público".
pretações bastante distintas. Estudo realizado por Fonseca Júnior (2006) mostra
Comunicação pública coloca a centralidade do processo de comunicaçäo no
que comunicação pública, nos EUA' pode ser interpretada como uma forma de
cidadão, não apenas por meio da garantia do direito à informação e à expres-
comunicação orgalizacional. No ambiente interno, comunicação pública seria
são, mas também do diálogo,a do respeito a suas características e necessidades,
responsável pela promoção de mudanças organizacionais, pelo desenvolvimento
do estímulo à participação ativa,s racional e coresponsável. Portanto, é um
organizacional e pela satisfação dos empregados. No âmbito externo, inclui as
bem e um direito de natureza coletiva, envolvendo tudo o que diga respeito a
atividades de publicidade de produtos e serviços, relaçöes públicas, gerenciamen-
aparato estatal, ações governamentais, partidos políticos, movimentos sociais,
to de questöes públicas Qtublic issues) e construção da imagem organizacional,
empresas públicas, terceiro setor e, até mesmo, em certas circunstâncias, às em-
visão similar à perspectiva da comunicação organizacional brasilei¡a. Uma busca
presas prívadas.
na literatura europeia mosûa, ente outras possibilidades, a distribuição ou uti-
lização coletiva de obras intelectuais, o que inclui discussões jurídicas sobre se O uso da expressão está associado ao esforço de melhorar a vida das pessoas
estão no âmbito da comunicação pública as tra¡rsmissões de tv que ocorrem em pela comunicação. Para conseguir isto, os instrumentos de comunicação são uti-
saguões de hotéis e presídios. lizados a partir do ponto de vista do cidadão em sua plenitude e não apenas em
suas faces de consumidoS eleito4 usuário. Praticar comunicação pública implica
Objeto de estudo recente e de particular interesse dos comr¡nicadores que
assumir espírito público e privilegiar o interesse coletivo em detrimento de pers-
atuam nos Três Poderes, que praticamente consolidam como um movimerrto,2 co-
pectivas pessoais e corporativas.
municação pública, no Brasil, é uma etpressão que não especifica um conjunto de
conhecimentos, áreas, profissões ou estmfttras, estando mais próximo de se ca- A ideia é julgada às vezes ingênua ou utópica por detentores momentâneos
îacterizar como um etos, uma posflrra de perceber e utilizar a comunicação como do poder para quem comunicação, ainda e i¡fetzmente, é considerada apenas
instrumento de interesse coletivo para fortalecimento da cidadalia. No setor pú- um tipo de concessão paternalista, de angariar apoio, instrumento de persuasão,
blico, em que tem maior potencial de desenvolvimento, incorpora o pressuposto manipulaçäo, sedução, para disputa ou mariutenção do poder, ou, nas versões
da raasparência3 em um tema historicamente relacionado à busca de visibilidade menos refinadas, um fenômeno da natu¡eza que pode ser deixado ao acaso ou ao
e legitimidade e que às vezes assume viés claramente político de culto à persona-
improviso. Para o profissional, o desafio é lidar com um tema cujo objetivo estra-
lidade ou promoçäo institucional. No terceiro setor é um caminho natural para
tégico muitas vezes está mais relacionado a atender aos anseios do corpo dirigen-
viabilizar o atendimento às necessidades da sociedade, complementando ou sim-
te do que ao interesse público.
plesmente substituindo o papel do Estado. Na área privada, pode ser exemplo de
compromisso institucionafizado com a responsabüidade social da organização ou A boa novidade que os mais recentes debates sobre CP trazem é a tentativa
simples estratégia de marketing. de viabilizar a mudança do foco da comunicação, tradicionalmente voltado para
O conceito unificador que faz convergir o interesse daqueles que desejam mí- o atendimento dos interesses da organização e de seus gestores (coalizão domi-
dias públicas fortes, uma imprensa mais pluralista e democrática, a informação e nante, corporação, políticos) para ser direcionado prioritariamente p¿ìra o aten-
a interação com o cidadão em bases apropriadas, uma divulgaçäo mais próxima dimento dos interesses do conjunto da sociedade de uma forma consciente, res-
do interesse do Estado e da sociedade do que do governo parece ser o de interesse ponsável e estratégica.6
público, expressão, assim como comunicaçã.o público, difícit de definir consensual-
mente. Talvez seja mais fácil, neste caso, encaminhar uma definiçäo pelo oposto
a Diálogo aqui tem o significado de um processo de interação em que os envolvidos asslrmem-se
em igual nível de importância, direito e opornrnidade de fala¡ e ser ouvidos, buscando compreen-
der e ser compreendidos.
2 Por causa da série de ações coletivas e debates em que é conceito central, "comunicação públi- s Uma das grandes novidades após a redemocratização é o surgimento de insturnentos que
ca" talvez Possa ser ca¡acterizada como um movimento dos profissionais de comunicação do setor permitem garantir a presença da sociedade ou público interessado em temas que os afetam direta-
público, com o particular destaque para o engajamento daqueles que assumíram função nos últi- mente. São exemplos as consultas públicas, os conselhos comunitários e os fón:¡s. A comunicação
mos anos por concurso (mas não só deles). pública, em sua etapa de participação, necessariamente irnplica uma redistribuição,zdiluição do
3 Tiansparência diz respeito à atuação ética, responsável, límpida e acessível no Eato das ques- poder-
tões de interesse público. Exige a oferta de informações necessá¡ias aos ínteressados, o esdmulo ao 6 A comunicação estratégica é aquela que, a partir de um diagnóstico, define e utiliza os recursos
acesso, facilitação da fiscalização sobre as práticas de quem detém o poder, adoção de mecanismos adequados para atingir um objetivo predeterminado. É a definição do caminho para construir o
de cobrança de responsabilidade e sistemática prestaçáo de contas. futuro.
62 Comunicação pública . Duarre
icação pública 63
tos básicos: um elemento de conteúdo, que se refere ao que queremos dizer sobre te os instnrmentos de comunicação pública, a partir de sua ênfase,em
informação
ulgum objeto, e um elemento de relacionamento, que se refere à relação existen- e em dieílogo.
te entre os interlocutores" (BORDENAVE; CARVAIHq L979, p.46). No processo
de interação, podemos incluir elementos como o contexto em que se viabiliza, a
linguagem, história e Srau de confiança dos interlocutores, até a disposição dos
participantes em viabilizar a comunicação.
Paulo Freire (797I) chama a atenção para o fato de que comunicaçäo neces-
sariamente requer signifi cados signifi cativos, reciprocidade, coparticipação entre cos, cartas, manuais, malas diretas, discursos, eventos simbólicos.
sujeitos que dialogam em tennos de igualdade. A comunicação implica a existên- Os instrumentos de dirílogo caracterizam-se por estabelecer instâncias de in-
cia de credibilidade, respeito e interesse pelo outro. Diiálogo em essência. Cada
indivíduo está presente nos processos de comunicação, é um elemento del4 "mais
do que é sua origem ou ponto de chegada" C\MNKIN, 7998,p.33). A comunicação
é, desta maneira, processual, dinâmica e condnua e se viabiliza quando buscamos
a interação em suas diferentes formas para que a informação se torne acessível e
compreensível como conhecimento, aquele "conjunto de conceitos, significados,
habilidades e rotinas desenvolvidas ao longo do tempo por indivíduos ou grupos,
à medida que processam informaçöes" (SAIOMON; ENGEL, I9g7)-
Comunicação pública, então, deve ser compreendida com sentido mais am-
protagonista naquilo que lhe diz respeito, ter conhecimento de seus direitos, a
orientação e o atendimento adequado, passando pelo direito a saber como são
vista
Tamåém do ponto de anir do efeito
ser
pretendido e do público a ûumentos de
comunicação institucionarizad (a) massivos;
(b) segmentados; e (c) diretos
Instrumentos de comunicação
7 como sugere Gilberto Gil, "o povo sabe o que que6 mas o povo também quer o que não sabe,,. e Padcipaçäo, mobilização, comunica
I Estabelecer modelos de comurricação sempre foi tarefa problemática e dé alto risco, por causa cançar objetivos, como, por exemplo, de
da sobreposição e complementaridade, particularmente depois do surgimento da mediação por ca, aumentar o conlecimento sobre um assunto,
computador. A comissária Margot Wallström, responsável pela área de Comunicação da Cómisião a gestão.
Europeia, criou um blog para ouvir críticas e dialogar com cidadãos dos diferenteJ países com tom 10 Isto
a diversidade de
pessoal e intimista. Como classifica¡? Apesar do problema, a modelagem simplificada pode ser
útil fontes de
mais daramente
por estabelecer um Ponto de partida interpretativo para uma análise, de modo a permitir avaliar, os vieses adaptar critica-
criticar e determinar esuatégias a partir da natureza abstrata de um fenômeno. mente as mensagens à sua realidade
pública 67
66 Comunicação Pública ' Duarle
T lnstrumentos de comunicação
Os fluxos de informação unidirecionais proporcionados pela imprensa costu- Todas as pesquisas indicam que, apesar das possibilidades da tecnologia, a
mam ser predominantes nas estratégias de quem está no poder. 'lAs elites preferem comunicação mais efetiva ainda é a viabilizada pelo contato pessoa-I, olho no
canais de organização ou de comunicação de massas nos quais o controle e a previ- olho, em que pese as naturais dificuldades surgidas quando se estabelecem di
sibilidade säo aumentados", minimizando o potencial das relações informais frente ferenças em níveis ideológicos, de valores, culturais, educativos e até de compe-
ao potencial político que representam (BORDENAVE; CARVAIHO, 1'979,p- 758). tência comunicativa entre interlocutores. Embora óbvio, é opornrno lembrar que
a comunicação direta eficiente é essencial na relação com os públicos internos.
Ao mesmo tempo em que é campo de formação da arena pública e instru-
Æinal, boa comunicação começa em casa.
mento de atores interessados em nela agir, a imprensa é ator poderoso, interessa-
do e interveniente neste teatfo. Esta força poderia ser equilibrada por instrumen-
tos de comunicação gerenciados a Partir do controle público, como rádios, sites,
ws e agências de notícias. Há bons exemplos no Brasil de rádios comunitárias, tvs Iniciativa deve ser do poder
universitárias e agências institucionais de notícias que prestam excelente serriço
à sociedade. Em geral, entretanto, veículos públicos ainda possuem dificuldades Num país em que a desigualdade é enorme, a oporh.midade de um cidadão
orçamertárias, excesso de influência política, pouca participação da sociedade na comum conhecer as possibilidades de parricipação, instrumentos de acesso, seus
gestão e foco na divulgação das instituições a que estão ligados. O resultado cos- direitos a informação, a expressar sua opinião ou a um atendimento digno ten-
tuma ser pouca penetração junto ao público e restrição do potencial original. de a ser equivalente à sua posição na estmtura social. Informação é um bem de
interesse geral ainda acessível para poucos, o que restringe o potencia-l de parti-
A comunicação segmentada é orientada para grupos de interesse específico
cipação em tennos igualitários, tanto de acesso quanto de capacidade de tomar
em que há maior possibilidade de domínio sobre o conteúdo, acesso e distribui-
decisões. Organizações muitas vezes assumem como natural que a simples exis-
ção e de obter retorno, participação e diiálogo. É uma esûatégia eficiente de es- tência de instmmentos significa sua apropriação para uso pelos interessados, mas
tar mais próximo dos interesses e das características de interlocutores específicos nem sempre o mundo real é aquele determinado pelos projetos, intenções, leis,
que já teve como símbolo as publicações especializadas do trpo newsletters, mas documentos e discursos. Hoje, as grandes barreiras em comunicação não são a
está cada vez mais fortalecida pela interaçäo viabilizada pela conectividade das falta de instrumentos ou de hformação, mas a dificuldade em ajudar o interes-
tecnologias de informática e pela formação de redes de diferentes tipos. Sites, sado a descobri¡ que ela existe, onde está, como acessá-la e como :utilvá-la para
Intranet, blogs, eventos, feiras, reuniões, exposições, são exemplos possíveis. Os aumentar seu conhecimento e capacidade de agir. Ou seja, permitir que cada ci-
instrumentos relacionados a comunidades virnrais são cada vez mais eficientes dadão tenha conhecimento pleno dos assuntos que lhe dizem respeito para tomar
em estabelecer uma agenda pública e em dar substância aos debates e avanços. a melhor decisão possível.
Opção relevante, ainda costumeiramente subestimada nos planejamentos, Dirigentes, gestores e técnicos tendem a conhecer os caminhos e os assuntos
é a comunicação direta. Possuidora de alta eficiência por ajustar de maneira com os quais lidam e costumam saber onde está a i¡formação, como acessá-la e
imediata a comunicação às características dos interlocutores, refere-se ao con- utlIizâ-la- E sabem que ter conhecimento é ter poder. O problema é que as pes-
tato personalizado, geralmente do tipo face a face, que inclui atendimento, soas que mais precisam de informação em geral são as que têm menos acesso
aos mecanismos de transmissão e orientação ou possuem mais dificuldade de
interação pela Internet, debates, relações com o público interno, audiências
compreensão de seu significado. Vejamos o exemplo da popular orientação que
públicas, reuniões, apresentações, grupos de trabalho, fóruns e similares. Sua
todos já ouvimos: "as informações estão no sire". A segunda ediçäo da Pesquisa
característica principal é permitir facilidade de interação, troca de informações,
sobre Uso da Tecnologia da Informação e da Comunicação no Brasil (wÚCLE'O,
influência mútua e maior capacidade de compreensão. Por meio dela, as pessoas 2006), realizada em 10.510 domicílios nos meses de julho e agosro de 2006, e
têm melhor oportunidade de tirar dúvidas, obter esclarecimentos adicionais, re- encomendada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGi.br), constatou que
solver questões específicas, estabelecer laços de confiança. A proximidade entre 54,35o/o dos brasileiros nunca utilizaram um computador e que 66,680/o nunca
os comunicadoresll garante uma aprendizagem mais consistente e um nível de acessaram a Internet. Apenas 79,630/o dos domic¡lios pesquisados possuem com-
informação adaptado às necessidades do interessado, assim como o feedbock putador e, destes, 85,35% não têm acesso à Internet. Dos que possuem Internet,
tende a ser mais imediato e preciso. 49,060/o utilizam acesso discado. E, apesar de sua importância e potencial, as po-
líticas públicas ainda geram resultados incipientes: 3,97o/o das pessoas haviam
ÌÌ Comunicadores, aqui, assumem o sentido de interlocutores, sujeitos ativos no processo de co-
acessado a Internet a partir de pontos públicos gratuitos, como bibliotecas e tele-
municação, diferentemente do modelo emissor-receptor, que sugere papel passivo para este último. centros nos três meses anteriores à pesquisa. Da mesma forma, a cada vez maior
68 comunicaçáo pública ' Duarte
lnsûumenÈos de comunicação pública 69
os públicos.
capacidade técnica.
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Jorge Duarte
(Organizador)
Comunicação Pública
Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público
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