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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS FACULDADE DE


HISTÓRIA BACHARELADO

Autor: Mateus Gonçalves da Silva

INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo compreender como os homens gays de Belém, usuários do
aplicativo de relacionamento Grindr, expressam e reagem às performances de masculinidade,
e qual a influência que as representações de homossoxuais nas midias nos ultimos anos, como
filmes e séries, tem sob esses aspectos. O aplicativo foi escolhido porque atualmente é um
dos principais meios de interação entre homens gays, sejam eles assumidos ou não, por ser
discreto, georreferenciado e prático para conversação. E por tais razões é considerado por
muitos como um meio seguro para interagir com outros homens, e na maioria dos casos
viveram experiências sexuais, sem se preocupar com preconceito e violência.

DESENVOLVIMENTO
A base teórica para tal vem de Richard Miskolci e suas obras em torno do gênero e
sexualidade, principalmente as focadas nas interações homossexuais dentro das redes sociais.
Assim como outros pesquisadores que fizeram indagações a respeito da masculinidade no
grindr nos últimos, como Rafael Grohmann, Lucas Teixeira Tavares, Luiz Alex Silva Saraiva,
Leonardo Tadeu dos Santos e Jefferson Rodrigues Pereira. De acordo com a perspectiva de
Misckolci o digital transformou as práticas sociais nos campos das relações de gênero e
sexualidade, trazendo práticas como cruising para a contemporaneidade, e de certo modo
“digitalizando” o desejo dos indivíduos, um ponto muito embebido das definições e papéis
agregados ao masculino e feminino, algo vivido em todos os espaços habitados, e um espaço
virtual como um aplicativo de encontros entre homens não foi exceção. Isso é algo visível nos
trabalhos recentes de Miskolci e de pesquisadores orientados pelo mesmo, pesquisas que
giram em torno das facetas da utilização do grindr pela comunidade e como isso se relaciona
às questões mais locais onde esses sujeitos vivem, as modificações trazidas nos encontros
entre homens, e até mesmo o tipo de linguagem usada para se descrever e contactar outros
homens, esse último sendo um fato importante, pois também é considerado um demarcador
de gênero.

METODOLOGIA
As análises foram feitas a partir da coleta 300 de perfis dos usuários do Grindr, com o foco
para os “nicknames”, as “tags” e a descrição, que são as tres areas do perfil onde os
utilizadores costumam expressar suas identidades e desejos; os comentários de “youtubers”
gays sobre conversas, perfis e suas próprias experiências dentro do aplicativo; e do
desenvolvimento de personagens homossexuais em obras dos últimos 20 anos e suas
repercussões. Os perfis, foram escolhidos como um marco pois eles são a forma como cada
usuário decidiu se apresentar diante dos sujeitos da comunidade, e neles é possível ver a
relação que a maioria tem com o masculino, seja o seu próprio ou de um terceiro. Os
comentários dos youtubers, entraram como um modo de ver as opiniões de alguns membros
da comunidade LGBTQIAPN+ que também já fizeram uso do app em algum momento tem
sobre ele e as interações ali feitas. Outro objeto de análise foi selecionado devido às questões
de representação e referencial, pois obras televisivas(com um peso maior para as novelas)
retratam as indagações e interesses da sociedade da época, além de influenciarem o
comportamento de seu público, e em muitos casos em questão dos homens homossexuais, se
tornam seu maior contato com a comunidade, principalmente para aqueles que não são
assumidos e tentam ao máximo fugir da temática diante de seu círculo social e familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a pesquisa, foi possível identificar o quanto os marcadores de gênero são presentes
nas representações dos homens gays feitas nos nos meios televisivos, nas interações deles
dentro do aplicativo e principalmente nas definições de si próprios em seus perfis, existindo
uma obrigatoriedade para eles de performarem um “eu” extremamente “masculino” e
rejeitarem o que fugiria disso ou do contrário, de apresentarem muitas características
definidas como femininas, por exemplo possuir uma voz fina, ser fisicamente mais “delicado,
fazer uso de maquiagem e de desejarem exclusivamente o primeiro tipo, não existindo em
certo ponto um meio termo ou “individualidades aceitáveis”. Além disso, o quanto essas
representações expostas nas mídias acabam impondo aos sujeitos homossexuais essas
definições e as qualificando como padrões a serem seguidos, contribuindo para o
comportamento deles no Grindr, que mesmo sendo um ambiente virtual tido pelos próprios
como neutro, não escapa da necessidade deles de performarem uma identidade que possa ser
aceita pelos demais, o que também acaba gerando exclusão e preconceito entre os mesmos.

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