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DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO ACESSO AO FINANCIAMENTO PARA

PME’S E STARTUPS
Andreia Ferreira (nº 20230928); Mónica Paixão (nº 20230926) ; Pedro Teixeira (nº 20230921)

RESUMO

As PMEs e Startups desempenham um papel fundamental na economia, sendo estas geradoras de


empregos e impulsionadoras do crescimento económico. No entanto, estas organizações para
subsistirem precisam de financiamento, tornando se este um dos desafios com que muitas vezes se
deparam. Neste contexto, exploraremos as diferentes formas de financiamento e como estas se tornam
fulcrais para que se entenda a estrutura de capital ótima a utilizar. Além disso, serão discutidos os
prós e contras de cada opção, levando em consideração fatores como o risco, acesso a capital e as
suas diferentes composições e especificidades. No final deste estudo, espera-se fornecer informações
úteis e alguns exemplos de como as PMEs e Startups podem existir e persistir nos mercados atuais.

Palavras-chave: Financiamento; PMEs; Startup; Oportunidades.

ABSTRACT

SMEs and Startups play a crucial role in the economy, as they generate jobs and drive economic
growth. However, these organizations require funding to survive, making it one of the challenges they
often face. In this context, we will explore the different forms of financing and how they become
crucial in understanding the optimal capital structure to use. Additionally, the pros and cons of each
option will be discussed, considering factors such as risk, access to capital, and their different
compositions and specificities. By the end of this study, we aim to provide useful information and
some examples of how SMEs and Startups can exist and persist in today's markets.

Keywords: Financing; SMEs; Startups; Opportunities.

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Introdução

Nos últimos anos, tem-se observado um crescente interesse e reconhecimento das pequenas e médias
empresas (PMEs) e Startups, as mesmas detém o reconhecimento de serem impulsionadoras da
economia e criadoras de empregos, inovação e desenvolvimento regional. No entanto, apesar de seu
potencial promissor, os desafios enfrentados por estas no acesso ao financiamento ainda representam
um obstáculo significativo para o seu crescimento e sucesso (Berger & Udell, 1998).
Neste contexto, o presente artigo tem como objetivo analisar os principais desafios e oportunidades
relacionados com o acesso ao financiamento para PMEs e Startups. Serão explorados fatores como a
falta de garantias, a burocracia na obtenção de crédito, a falta de informação sobre as opções
disponíveis e a necessidade de demonstração de viabilidade econômica dos projetos (seja no curto ou
longo prazo).
Ao compreender e analisar os desafios e oportunidades no acesso ao financiamento para estas mesmas
entidades, será possível identificar estratégias e medidas que possam impulsionar o crescimento
destas e contribuir para o desenvolvimento econômico de forma mais eficaz e sustentável.

1. Opções de Financiamento
1.1. Financiamento

Para que as organizações possam avançar com a sua atuação nos mercados pretendidos, é necessário
que exista capital, Santos (1981) defende que existem duas formas para a obtenção do mesmo,
respetivamente, pelo capital próprio e pelo capital alheio (implicando uma dívida).
Podemos caracterizar como “dívida” todo o financiamento que é assegurado por terceiros, sejam estas
pessoas ou entidades externas.
No caso da banca tradicional, há dificuldade de acesso para quem é um novo investidor, sendo que
não apresenta um historial de cumprimento dos seus deveres anteriormente. Este tipo de capital detém
associadas taxas de remuneração (juros) e planos de reembolso associado, podendo ser de curto,
médio e longo prazo. O capital adquirido, no curto prazo, surge como forma de suprir necessidades
de tesouraria ou colmatar necessidades provenientes da atividade ordinária da empresa (empréstimos
de curto prazo). No que retoma aos financiamentos de médio/longo prazo, estes surgem para mitigar
investimentos ou, por exemplo, aquisições de máquinas. Este tipo de financiamento têm a maturidade
superior a doze meses (Esperança e Matias, 2005).
Por sua vez, o capital próprio pode ser descrito como o montante próprio da empresa, é composto
pelas entradas de sócios ou acionistas e, nomeadamente, vai-se reforçando com novas adesões. Neste
tipo de financiamento existe um maior risco pessoal (que varia inclusive com a forma como cada
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pessoa interpreta o risco), motivo pelo qual os acionistas esperam que ao haver um retorno, o mesmo
seja proporcional a este (Proença et al., 2014).

1.2. Capital próprio: Investidores Anjo e Investidores de Risco

As duas maiores fontes de venture capital para os novos negócios com alto potencial de crescimento
são identificadas como: investidores anjo e investidores de risco.
Desde a década de 1980, Welzel (1983), Haar et. al. (1988) têm dedicado o seu estudo ao mercado
de investidores informais. Ambos os autores mencionados se debruçaram sobre a identificação do
tipo de perfil dos investidores anjo, ao tentar perceber qual o seu tipo de comportamento, sendo este
diretamente ligado ao mercado de capital de risco.
Os trabalhos citados reconhecem este tipo de investidor independente como “Investidor Anjo”, sendo
que estes indivíduos investem o seu próprio dinheiro diretamente em pequenos negócios de outras
pessoas (Feeney et al.,1999).
Geralmente investem em estágios mais precoces, quando a organização ainda se encontra numa fase
inicial e precisa de capital para a possibilidade de desenvolvimento do produto e procura no mercado.
No trabalho de Wetzel, o investidor mencionado, é definido como:
Investidores que preenchem o que os outros evitam no capital de risco, promovendo fundos
de desenvolvimento para empreendedores de base tecnológica; capital inicial que não atinge
os critérios de tamanho e crescimento para investidores profissionais de capital de risco.
(Wetzel, 1983, p.23).
Esta definição posiciona a atuação destes investidores como forma de cobrirem uma lacuna nos
investimentos de capital de risco, criada através de exigências de fundos que visam restringir e
dificultar o acesso de pequenas empresas a este tipo de capital. A maioria destes investidores tem
valor agregado, ou seja, já detém previamente uma experiência empreendedora, colocando à
disposição o seu conhecimento sobre o mercado e uma ampla rede de contacto (Mason,1966).
Van Osnabregge (2000) menciona que as decisões de investidores anjo são mais influenciadas pela
perspetiva do empreendedor, enquanto os investidores de risco detém mais foco no mercado/produto
(sendo que gerem fundos de terceiros para o fornecimento deste mesmo financiamento). Estes fazem
investimentos em organizações que já passaram pela fase inicial e demonstram um certo grau de
tração no mercado, levando a uma participação maior no negócio em comparação com os IA (pois
investem quantias maiores).
A principal diferença entre os investidores anjo e os investidores de risco é o estágio de
desenvolvimento em que investem, o tamanho do investimento em que se envolvem e a experiência
que trazem para esse mesmo negócio.
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2. Desafios específicos para cada tipo de empresa
2.1. PME’s: restrições de crédito e acesso limitado a recursos financeiros

O desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas (PME’s) está relacionado e, condicionado, pela
escassez de recursos e pelo surgimento de insuficiência de capitais próprios (sendo que o acesso ao
crédito constitui a sua principal fonte de financiamento). No que retoma à economia mundial, as
pequenas e médias empresas constituem um dos principais impulsionadores do crescimento
económico e uma das maiores fontes de criação de emprego. (Halling et al., (2005), Benerjee (2014),
Brei et al., (2020)) referem que as PME’s oferecem grandes oportunidades de investimento, sendo
financiadas maioritariamente por crédito bancário. Os mesmos evidenciam que, as PME’s são
essenciais para o crescimento da economia, uma vez que vão permitir a criação de postos de trabalho
e o desenvolvimento de novas ideias de negócios. Não obstante, a evolução dos mercados e as grandes
evoluções tecnológicas acrescem uma dificuldade no que retoma à aquisição de capitais alheios,
constituindo-se desde modo obstáculos ao seu crescimento.
Um dos grandes obstáculos ao crescimento que as empresas de menor dimensão enfrentam decorre
das dificuldades do acesso ao financiamento bancário, na medida em que não possuem um passado
histórico longo e as garantias prestadas às entidades bancárias serem reduzidas (Benston & Smith,
1976).
Neste sentido, as restrições ao financiamento fazem se sentir com maior intensidade nas PME’s face
às de maior dimensão. Acresce o facto deste tipo de empresas terem um menor acesso aos mercados
de capitais, tornando-as assim mais vulneráveis ao crédito bancário e ao crédito comercial (Berger &
Udell, 1998). As PME’s apresentam elevada volatilidade de resultados, induzindo um nível de risco
elevado. Quando os bancos não conseguem quantificar (avaliar) o risco, acabam por impor taxas de
juro mais altas de forma a salvaguardarem os seus interesses preferindo estes, por norma, financiar
grandes empresas.
Tendo presente as características do modelo de gestão (anglo-saxónico) em que as PME’s portuguesas
desenvolvem a sua atividade e as teorias da estrutura de capital, o recurso ao crédito bancário e ao
crédito comercial constitui duas das suas principais fontes de financiamento. Meltzer (1960) analisa
a relação entre o crédito comercial e o crédito bancário concluindo que, em períodos de crise, as
empresas com maior liquidez financiam as empresas com restrições ao crédito bancário, concedendo
crédito comercial. Por sua vez, Biais e Gollier (1997) referem que o crédito bancário e o crédito
comercial seguem na mesma direção, isto é, ambos aumentam ou diminuem, considerando assim que

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o crédito comercial é uma espécie de “mão amiga” quando as empresas não conseguem recorrer ao
crédito bancário.
Su e Sun (2011) afirmam que o crédito bancário não se constitui como a única fonte de financiamento,
desempenhando o crédito comercial um importante instrumento alternativo para aliviar os problemas
de constrangimento dos fluxos de caixa, contribuindo para resolver as restrições financeiras com que
um significativo número de PME’s no mercado se depara.
O crédito bancário e o crédito comercial constituem a principal fonte de financiamento, assegurando
a sobrevivência, a expansão e o desenvolvimento das empresas (Palacín Sánchez et al., 2019). A
recorrente dificuldade em aceder ao crédito bancário constitui um constrangimento ao investimento
com impacto negativo no crescimento económico (Brei et al., 2020).
Para evitar o deteriorar as dificuldades sentidas nas PMEs, é necessário tomar medidas no sentido de
reduzir os encargos sociais e fiscais destas, principalmente nos primeiros anos de atividade, por forma
a melhorar as condições para a ultrapassar esses primeiros tempos que são, quase sempre, os mais
difíceis.
Efetivamente, e segundo a Confederação Europeia das Associações de Pequenas e Médias Empresas
(2009), “as PME portuguesas são asfixiadas por terem de reservar 63% dos seus rendimentos para
encargos sociais e fiscais, mais 10% do que num país como a Alemanha. Em Portugal, as PME
empregam 81% da população ativa, mas defrontam-se sempre com o mesmo problema: suportam
encargos sociais e fiscais muito pesados”. De acordo com as Orientações para o Crescimento e
Emprego da Presidência do Conselho de Ministros (2005), é da responsabilidade do Estado em
“impulsionar a reforma dos sistemas fiscais e de prestações sociais para melhorar os incentivos e
tornar o trabalho compensador; aumentar a adaptabilidade dos mercados de trabalho, conjugando
a flexibilidade e a segurança do emprego, e melhorar a empregabilidade investindo no capital
humano”.

2.2. Startups: alto risco e necessidade de financiamento inicial

Para que se possa definir a Startup como um tipo de empresa, é necessário considerar a sua
organização e como ela se comporta perante o mercado que a envolve. Deste modo, partiremos do
conceito trazido por Eric Ries, autor que definiu a chamada metodologia “lean” de uma Startup: “uma
Startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de
extrema incerteza” (Ries, 2012). A primeira parte do conceito de Ries fala do fornecimento de novos
produtos ou serviços ao mercado. Desta forma, é possível atribuir às Startups um caráter inovador,
um conceito comumente associado a este é o de inovação disruptiva. Christensen e Bower (1995),
referem que a noção de disrupção envolve a inovação que irá provocar e ameaçar mercados já

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estabelecidos no mercado em questão, uma vez que é lançada uma nova tecnologia capaz de mudar
completamente a forma como algum serviço ou produto é oferecido pelos concorrentes já existentes.
De acordo com seu plano de negócios, uma organização pode recorrer a capital interno ou externo –
é a chamada estrutura de capital. Pela dificuldade na obtenção de capital externo, os fundadores de
uma Startup, principalmente no seu começo, procuram financiar os seus negócios através do capital
interno, por meio do método denominado de Bootstrapping (Winborg & Landstrom, 2000). Contudo,
a subsistência através dos financiamentos internos, seja com capital dos empreendedores ou de
receitas próprias nem sempre é uma tarefa fácil, principalmente quando há um fluxo de caixa
negativo, caso típico das organizações em questão (Cumming & Johan, 2009).
Assim sendo, em determinado momento a empresa recorre a investimentos externos para desenvolver
as suas atividades, fazendo com que haja um terceiro elemento envolvido: o investidor, que procura
o melhor retorno do capital que investiu. A questão, neste caso, é que as Startups possuem um
potencial de retorno, mas operam em situações de constante incerteza – como demonstrado. Assim,
acabam por ser consideradas como investimentos de risco, principalmente quando se encontram nas
suas etapas mais embrionárias.
Deste modo, quando as Startups tentam obter recursos no mercado, o grau de incerteza em que
operam diminui o interesse de investidores comuns.

3. Fatores a serem considerados na seleção de uma estratégia de financiamento


3.1. Nível de risco envolvido no projeto ou negócio

Em termos de teoria financeira, e partindo da teoria da diversificação de carteiras de Harry Markowitz


(1959), podemos definir a cobertura de risco como o “ato de gerir um tipo particular de risco, o risco
de mercado”. Desta forma, a cobertura de risco por parte das empresas só se iria centrar neste e não
no risco para o qual não há necessariamente uma rendibilidade adicional que seja relevante, ou seja,
o risco específico à empresa (risco diversificável). Contudo, a distinção dos riscos a priori
identificados nem sempre é linear, pois há muitos tipos de riscos que estão numa «zona cinzenta»
entre o risco de mercado e o risco específico.
A ideia principal por de trás da teoria de Markowitz (1959) é que é possível construir uma carteira de
ativos financeiros que minimize o risco e, ao mesmo tempo, maximize o retorno esperado. Para isso,
é necessário analisar as correlações entre os diferentes ativos e distribuir os investimentos de forma a
criar um equilíbrio entre o risco e o retorno.
Beaver (1966) encontrou alguns índices financeiros que ajudam a prever a probabilidade de falência
das organizações. Consequentemente, em 1968, Eduard Altman (1968), desenvolveu um modelo que
pretende prever o risco de falência num horizonte temporal de dois anos.
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Mais concretamente, é a partir de um conjunto de indicadores económico-financeiros previamente
definidos que pretende estimar um indicador de falência, denominado de Z-score.
O valor obtido a partir do modelo é referido como a pontuação Z da empresa, a partir do qual é
possível prever a probabilidade de falência futura da organização em questão (Altman, 1968).

O modelo pode ser expresso do seguinte modo:

𝑍𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒 = 0,717𝑥1 + 0,084𝑥2 + 3,107𝑥3 + 0,420𝑥4 + 0,998𝑥5

➢ X1 = Fundo de Maneio / Ativo Total


➢ X2 = Resultados Transitados / Ativo Total
➢ X3 = EBIT / Ativo Total
➢ X4 = Valor de Mercado (Capital Próprio) / Passivo Total
➢ X5 = Vendas / Ativo Total

Através dos valores obtidos do modelo pode-se fazer a seguinte interpretação:


● Se Z-score > 2,90 – A empresa encontra-se na zona “segura”;
● Se 1,23 < Z-score < 2,90 – A empresa encontra-se na zona “cinza”;
● Se Z-score < 1,23 – A empresa encontra-se na zona de “perigo”.

De acordo com Popov (2018) uma das preocupações mais importantes deste tipo de modelos é o
cuidado a ter com a interpretação das demonstrações financeiras. A informação deverá ser
cuidadosamente analisada, garantindo que sejam cumpridos os padrões internacionais da
contabilidade financeira, só assim podemos criar alguma simetria na sua aplicação.

4. Estudos de caso:
4.1. Exemplo de uma PME que utilizou estratégias de financiamento

As empresas que fazem investimentos podem ou não crescer. No entanto, as empresas que não fazem
nenhum investimento não alcançam crescimento sustentável e podem até ter dificuldades em manter
a sua sobrevivência em mercados tão competitivos (Gupta, Barzotto, & Khorasgani, 2018). Para
financiar projetos de investimento, uma empresa dispõe de duas opções de financiamento, sendo estas
respetivamente, o financiamento interno e o financiamento externo. Somente quando os fundos
internos são insuficientes é que as empresas começam a procurar dívidas externas para garantir as

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suas oportunidades de investimento (Myers, 1984). Mas tal como foi referido acima, por vezes, o
acesso ao financiamento bancário nem sempre é fácil.
O investimento torna-se fulcral, nomeadamente, para as pequenas empresas. No entanto, enfrentando
graves restrições de financiamento, as PME´s dificilmente conseguem satisfazer o seu investimento
utilizando apenas fundos gerados internamente. Como tal, o acesso a empréstimos externos é um fator
importante nas decisões de investimento (Nguyen, 2020).
Um exemplo disso, são as indústrias de streaming de música. Atualmente, a indústria de streaming
de música inclui várias grandes empresas multinacionais que representam a maior parte do mercado.
A Spotify, Apple Music, Amazon Music ou YouTube são as principais concorrentes no mercado global
de streaming. A Spotify é uma empresa global de streaming de áudio que oferece aos utilizadores o
acesso a uma biblioteca com mais de 70 milhões de músicas e 2 milhões de podcasts. Assim, importa
referir que a Spotify tem a seguinte declaração de missão: “A nossa missão é desbloquear o potencial
da criatividade humana – dando a um milhão de artistas criativos a oportunidade de viver de sua arte
e bilhões de fãs a oportunidade de desfrutar e se inspirar nela” (Company Info, 2021: parágrafo 1).
Desta forma, a Spotify usou todas as ferramentas que tinha à disposição para conseguir vencer uma
forte concorrente, a Apple Music. O objetivo nestas PMEs é conseguirem o maior número de adesões,
para que possam ser consumidos mais dados e por sua vez gerar mais receita. Em 2016, a Spotify
aumentou em cerca de US $ 1 bilhão em dívida (MacMillan, 2016). Ao aumentar a sua divida em vez
de capital próprio, a empresa tomou a decisão de financiar as suas operações por via de empréstimos,
optando por esta via ao invés de emitir mais ações no mercado (evitando que o seu valor de mercado
diminuísse).
No entanto, torna-se uma decisão bastante arriscada, pois, a Spotify também tem que pagar juros
anuais de 5% sobre a dívida e mais 1% a cada seis meses, até um total de 10% (Constine, 2016). Pode
ser extremamente prejudicial para a empresa, se os resultados no final do período não forem os
esperados. Ou seja, se não conseguirem obter receitas suficientes para fazer face ao valor em dívida,
o valor das ações desce e a Spotify deixa de ser uma concorrente direta para as outras empresas da
indústria.

4.2. Casos de Startups que obtiveram sucesso através de financiamento inovador

Partindo do conceito traduzido de Eric Ries, autor que definiu a chamada metodologia “lean” de uma
start-up: “uma Startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob
condições de extrema incerteza” (Ries, 2012). Com base neste conceito falaremos no caso da Startup
Airbnb.

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Airbnb é uma empresa global privada com sede em São Francisco. Está presente num mercado on-
line que inclui um serviço de alojamento disponível num site de próprio (Obeidat & Almatarney,
2020).
Esta empresa, nasceu em 2007 em virtude na necessidade de dois jovens estudantes Brian Chesky e
Joe Gebbia, necessitarem de fundos para pagar o alugar do apartamento onde viviam. Considerando
que à data iria ocorrer uma conferencia em São Francisco, decidiram criar um website chamado
“AirBedandBreakfast.com” para alugar o espaço que tinham livre.
A empresa nasceu, mas face às dificuldades inerentes às Startups, os criadores deste projeto estiverem
para desistir dele. De acordo com um estudo realizado por Lampinen e Cheshire (2016), o risco é um
dos principais fatores que afetam o sucesso de Startups na qual se baseiam serviços como o Airbnb.
Assim e face à falta de fundos que haviam disponíveis, os criadores do projeto, candidataram-se a
uma vaga na YC (tratava-se de uma empresa que ajudava a que startups crescessem, mas em troca
teriam que ter uma parcela do capital da mesma). Esta forneceu uma pequena quantia em dinheiro e
acesso semanal as instalações da YC (Lassiter JB, Richardson E., 2014). Isto foi um passo
fundamental para a Airbnb, uma vez que os fundadores tiveram a oportunidade de desenvolver melhor
o seu produto.
Estudos revelam que nos anos subsequentes a empresa cresceu significativamente e, em junho de
2012, totalizou cerca de 10 milhões de reservas, traduzindo-se em cerca de 1 bilhão de dólares.
A título de exemplo, podemos dizer que a Uber também adotou um modelo inovador para que a
empresa crescesse, o que levou a que houvesse uma disrupção no setor dos serviços de transporte.

5. Conclusão

Ao longo desta análise aprofundada sobre os desafios e oportunidades que caracterizam o acesso ao
financiamento para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) e Startups, torna-se evidente que este é um
campo complexo e dinâmico. Os desafios, que vão desde a falta de histórico de crédito até a relutância
dos investidores em assumir riscos, são as maiores entraves sentidas por este tipo de organizações.
No entanto, mesmo diante desses obstáculos, as oportunidades surgem, oferecendo vislumbres
promissores para aqueles que estão dispostos a adotar abordagens inovadoras.
Deste modo, observamos inclusivamente que a forma como o indivíduo se comporta perante o risco
está diretamente ligada à forma como dois horizontes podem ser alternativos.
As PMEs e Startups, ao abraçar a inovação e procurarem parcerias estratégicas, podem recolher
ferramentas fulcrais que as ajudem a enfrentar os desafios quotidianos, tanto quanto conseguirem
criar uma base estável para um crescimento sustentável.

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É essencial que sejam realizados esforços contínuos para aumentar a conscientização sobre as opções
de financiamento disponíveis e fornecer suporte adequado às PMEs e Startups, capacitando-as assim
para subsistirem diante de um mercado diversificado.
Não obstante aos dados a priori mencionados, vimos exemplos que demonstram como o
conhecimento destas noções tornaram possível que organizações como o Spotify e a Airbnb
conseguissem obter o sucesso evidenciado, quer no mercado quer por qualquer indivíduo.

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