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República de Angola

Ministério da Educação
INSTITUTO POLITÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DA
CATUMBELA

ÁREA DE FORMAÇÃO: Administração e Serviços


CURSO: Técnico de Finanças
DISCIPLINA: Mercado de Capitais e Bolsa de Valores (MCBV)
CLASSE: 12.ª
PROFESSOR: Lic. Rafael Alembe

UNIDADE I - INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

1.1 – Definição e conceitos básicos de instituições financeiras


1.2 – Fontes internas de financiamento das empresas
1.3 – Fontes externas de financiamento das empresas
1.4 – Financiamento de curto, médio e longo prazo
1.5 – Instituições financeiras não monetárias
1.6 – Produtos financeiros

UNIDADE II - MERCADO FINANCEIRO OU DE CAPITAIS

2.1 – Operações de crédito


2.2 – Mercado de empréstimos
2.3 – O crédito e a taxa de juro (noção e sua classificação)
2.4 – O preço do crédito
2.5 – Factores que influenciam a subida e descida das taxas de juros
2.6 – A oferta e a procura de fundos financeiros

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UNIDADE III - O MERCADO DE TÍTULOS – A BOLSA

3.1 – Definição de mercado de títulos


3.2 – Distinção de mercado primário e mercado secundário
3.3 – Mercados institucionais
3.4 – Mercado monetário interbancário (MMI)
3.5 – Mercado interbancário de títulos (MIT)
2.6 – A oferta e a procura de fundos financeiros

UNIDADE IV - A BOLSA DE VALORES

4.1 – Definição de bolsa de valores


4.2 – A organização e funcionamento da bolsa de valores
4.3 – Distinção de mercado primário e mercado secundário
4.4 – A bolsa angolana – Bolsa de valores e derivados de Angola (BVDA)
4.5 – Comissão de Mercado de Capitais (CMC)
4.6 – Os impactos da BVDA na economia de Angola
4.7 – Instituições financeiras monetárias

UNIDADE V - OS BANCOS

5.1 – Definição de bancos (comerciais, poupança e investimento)


5.2 - Sua classificação funcional
5.2 – Objecto principal da sua actividade
5.3 – Banco central, suas principais funções e seu sistema
5.4 – Tipos de operações bancárias

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UNIDADE I - INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

1.1 – Definição e conceitos básicos de instituições financeiras

O Sistema financeiro é o conjunto formado pelas instituições, instrumentos e mercados que


asseguram duas grandes funções na economia – a canalização de fundos para os agentes
económicos que deles necessitam e a cobertura parcial dos riscos a que os agentes económicos estão
expostos. A primeira função relaciona-se principalmente com o crédito bancário, as acções e as
obrigações. A segunda função relaciona-se fundamentalmente com os seguros e os produtos
financeiros derivados (derivados, opções, entre outros).

Assim, o sistema financeiro desempenha um papel bastante importante e cada vez mais
crescente nas nossas economias, condicionando os níveis de crescimento económico e de bem-estar.
O sistema financeiro engloba a obtenção de recursos e a sua aplicação. Designamos por actividade
financeiras o conjunto de actividades de obtenção e aplicação de recursos na economia.

São partes integrante do sistema financeiro os cinco principais elementos:

 A moeda
 Os instrumentos financeiros
 Os mercados financeiros
 As instituições financeiras
 As autoridades de regulação e supervisão

Entende-se por Instituições Financeiras entidades responsáveis por captar recursos e


conceder crédito a sociedade. Têm um importante papel de intermediação financeira no sistema
económico na medida que captam fundos de poupanças das famílias e, através da concessão de
crédito, canalizam esses fundos para outros agentes económicos (famílias, empresas ou Estado).

Intermediação financeira é o processo que consiste na


transformação de recursos impróprios em recursos próprios, ou
seja, processo de condução dos fluxos financeiros de sujeitos com
excedentes de recursos financeiros (poupança) para os têm
necessidades de recursos para o investimento ou consumo. (Simão
Muhepe, 2013, in: Economia Monetária – Apontamento de apoio ao
estudante)

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Nesta intermediação, os juros que cobram pelos empréstimos são, em geral, mais elevados
do que os juros que pagam pelos depósitos que captam.

A função das instituições financeiras na economia é de oferecer um diversificado leque de


serviços, incluindo acesso aos mercados financeiros e a disponibilização de informações sobre a
qualidade dos devedores. São exemplos de instituições financeiras os bancos comerciais, os fundos
de investimento, fundo de pensões, as companhias de seguros, as bolsas de valor e as sociedades
correctoras.

As instituições financeiras como elemento fundamental no encontro de sujeitos que poupam


e dos que investem constituem peças chave no conhecimento de fluxos reais e fluxos financeiros,
cuja importância para o conhecimento do estado e evolução da economia se considera cada vez
mais importante.

O negócio bancário constitui de forma decisiva para o funcionamento regular da economia,


facilitando as transações realizadas entre os diversos agentes económicos e desenvolvendo as
actividades da sociedade em geral.

1.2 – Fontes de financiamento das empresas

As empresas em geral atuam com o propósito de maximizar a criação de valor e,


consequentemente, a riqueza para os proprietários. Neste contexto, a estrutura de capitais torna-se
relevante na medida, em que as empresas se defrontam com a problemática da escolha da fonte de
financiamento que melhor se adeque em termos de custos, maturidades e montantes, relativamente
às necessidades financeiras da actividade. (Nuno Teixeira, 2014)

O financiamento é fundamental para as empresas poderem expandir qualquer parte da sua


actividade, quer seja para investigação, para produzir, para financiar stocks, para promoção
internacional; sendo que as empresas não têm capacidade, por norma, para fazer isso apenas com os
recursos que geram, para isso é necessário ter fontes de financiamento a um custo razoável para
desenvolver essas actividades.

O financiamento das empresas pode ser dividido da seguinte forma, tendo em conta a sua
origem:

 Financiamento interno - financiamento através do autofinanciamento, isto é, pela


retenção dos lucros obtidos, da gestão mais eficiente dos activos (corrente e não

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correntes) ou do controlo racional de custos e o recurso ao financiamento obtido por via
dos amigos e familiares, de um lado.

Considera que o autofinanciamento é uma forma de financiamento interno,


representando os fundos financeiros libertados pela actividade da empresa e que
ficam disponíveis para financiar a realização de novos projectos de investimento.

O autofinanciamento apresenta suas vantagens e desvantagens:

Vantagens:

 Redução da dependência da empresa ao capital alheio;


 Melhoria da rendibilidade;
 Aumento do poder negocial e taxas de juros mais atractivas no momento
de recorrer ao financiamento externo;
 Permite desenvolver projectos que de outra forma não seriam possíveis
iniciar.

Desvantagens:

 A acumulação excessiva de recursos pelo autofinanciamento pode


provocar o investimento em projectos desaconselháveis
economicamente;
 A permanente utilização do autofinanciamento pode provocar uma reação
de aversão a qualquer tipo de endividamento, recusando oportunidades
de investimento por falta de capital;
 O autofinanciamento poderá provocar uma diminuição dos dividendos
distribuídos.

 Financiamento externo - financiamento através de capitais alheios (créditos de


fornecedores, empréstimos bancários, linhas de crédito, leasing e factoring)
através de capitais próprios (aumento de capital, business angels, capital de risco
e recurso ao mercado de capitais). São também fontes de financiamento externo,
os Programas Governamentais de Apoio às PME (Pequenas e Médias Empresas),
principalmente, para que estas consigam ter acesso a estes financiamentos com taxas
de juros relativamente baixas, e assim procurar mitigar as dificuldades que as
mesmas apresentam, tendo em conta muita das vezes as insuficiências de garantias
apresentadas.

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O financiamento externo continua sendo uma das fontes de financiamento de natureza
formal, através do qual as empresas recorrem com vista a satisfazer as diversas
necessidades para a sustentabilidade dos seus projectos de investimentos, procurando
custos significativamente baixos.

Existe uma diversidade de fontes de financiamento externo usualmente apresentada pela banca
angolana para as empresas como é o caso:

 Empréstimos bancários: É um contrato estabelecido entre um cliente (pessoa ou


empresa) e a entidade bancária, em que o banco cede temporariamente uma
determinada quantia, que será devolvida, com juros, à instituição financeira num
prazo determinado.

 Crédito bancário - revela-se como uma das fontes de financiamento que,


normalmente, as micro, pequenas e médias empresas recorrem para alavancar os seus
projetos de investimentos, tendo em consideração os custos bem como as garantias a
serem apresentados e a que cria maior dependências nas empresas.

 Linhas de crédito como:

- MPME Crédito Bonificado que foi criada para facilitar o financiamento das
PME em investimentos de imobilizado corpóreo ou para o reforço do fundo de
maneio. Pretendendo contribuir para o alargamento do tecido empresarial
Angolano, permite o aumento da oferta da produção nacional, estimula e
fortalece o espírito de empreendedorismo.

- Garantias Bancárias, sendo operações em que o Banco atua a pedido e por


conta do Cliente (Ordenante), garante o bom pagamento a efetuar a um terceiro
(Beneficiário), em substituição do cliente caso este incorra em incumprimento
das obrigações garantidas.

- Programas Governamentais de Apoio às PME: O Microcrédito é a mais nova


arma usada para combate da pobreza em qualquer sociedade e por vários
governos para impulsionar o desenvolvimento bem como auxiliar o
fortalecimento de pequenos empreendimentos. É o crédito destinado aos
pequenos produtores agrícolas, comerciais, de serviços e industrias localizados
nas zonas rurais e periurbanas.

- Créditos Documentários: este é um produto em que o banco compromete-se a


assumir total responsabilidade, por conta do cliente importador do pagamento, de

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um adiantamento referente ao valor das mercadorias transacionadas,
contraentrega dos documentos estipulados na carta de crédito.

- Crédito diagnóstico agrícola: O Crédito Campanha Agrícola é um crédito que


acompanha a campanha agrícola. O financiamento é oferecido directamente em
insumos necessários à campanha a realizar ou seja o Crédito Diagnóstico
Agrícola é um financiamento com o objectivo de financiar a primeira fase de um
projecto agrícola. O crédito tem também como finalidade o financiamento de
todo o projecto técnico de implementação da fazenda.

- Financiamento Por Livrança: A Livrança é um título de crédito à ordem pelo


qual o devedor (subscritor) promete pagar a outrem ou à ordem deste, o
beneficiário, um valor determinado numa certa data” (Mediador de Crédito). O
financiamento é feito através da subscrição de uma livrança em que é acordado o
prazo de vencimento o montante e o juro, sendo que, por norma, capital e juros
são pagos no vencimento.

De acordo com a Figura abaixo, as fontes e formas de financiamento tipicamente mais


utilizadas variam com o crescimento da empresa e ao longo do tempo.

 Business Angels: é um investidor que investe em oportunidades nascentes (tipo


start-up “arranque” ou early stage “inaugural”). Participa em projectos com smart
money, isto é, para além de aportar capacidade financeira, também contribui com a
sua experiência de negócios e contactos. Os Business Angels gostam de exercer a sua

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capacidade de mentoring dos projectos e procuram, não só um elevado retorno nos
projectos em que investem, como também novos desafios.

 Leasing: é um tipo de financiamento externo que acontece quando a empresa não


pretende afectar grandes quantidades de capital para ter acesso a um determinado
bem. Envolve aquisição de activo imobilizado pelo credor, conhecido como locador
que se obriga, mediante retribuição, a ceder ao locatário o seu gozo temporário. É
um método muito comum de financiamento de equipamentos, veículos automóveis e
imobiliário.

 Factoring: É um instrumento de gestão de tesouraria, ou seja, a cobertura das


necessidades de curto prazo. Envolve a compra de contas a receber por parte do
credor, acrescentando ainda que, quanto às fontes não financeiras, a mais utilizada é
o crédito comercial, que embora menos estudado que os empréstimos bancários, seja
de extrema importância para as PME mesmo sendo oneroso, uma pequena fracção de
crédito comercial ajuda para a optimização dos custos de transação, da liquidez e
gestão de caixa.

As fontes de financiamento podem ser internas e/ou externas, cabendo a empresa escolher
aquela que melhor satisfaz os interesses da empresa, por esta via faz todo o sentido analisar as
fontes de financiamento tendo em conta os diferentes estágios de vida de uma empresa, pois que as
necessidades de financiamento vão mudando ao desse ciclo.

Decerto que é, grande a importância do financiamento bancário para as PME e para a


economia, uma vez que em qualquer parte do mundo as boas políticas de financiamento bancário as
PME, aparecem como uma forma alternativa para as empresas darem sequência aos seus projectos
de investimentos, e consequentemente por constituírem o motor de crescimento de qualquer
economia, bem como a redução do desemprego.

Esta importância é tão grande que o empresário, muitas das vezes, encontra aí a solução para
poder atingir seus objectivos e maximizar o valor da empresa, embora o recurso aos capitais alheios
seja oneroso servindo também como forma de minimizar o risco, que pode resultar da própria
exigência de planos de negócios bastantes exequíveis.

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1.3 – Prazos de financiamento

Corresponde ao período em que duram os financimentos. E, estes prazos podem ser curto, médio e
longo.

1.3.1 – Financiamento de curto prazo

O financiamento a curto prazo consiste em obrigações que devem vencer dentro de um ano ou
menos. É necessário para cobrir uma grande parcela dos activos correntes da empresa, tais como
caixa, titulos negociáveis, dívidas a receber e estoque.

Quando se utiliza o financiamento a curto prazo, o custo deste crédito tende a ser menor do que se
fosse a longo prazo. A empresa passa a incorrer um risco maior também, já que o prazo para a
liquidação da dívida é reduzido, podendo comprometer a sua liquidez.

A composição apropriada de fontes alternativas dependerá de considerações de custo, oferta,


oportunidade, flexibilidade e do grau dos compromissos de garantia a que estão sujeitos os activos
da empresa”. Em geral, quanto menos favorável for a situação creditícia de uma empresa, menos
numerosas serão as fontes de financiamento a curto prazo disponíveis. A flexibilidade do
financiamento a curto prazo está relaciaonada com a capacidade da empresa em pagar um
empréstimo, bem como renová-lo ou aumentá-lo (Van Horne, 1975).

Existem diversas fontes financiamento de curto prazo que passemos a mencionar:

Crédito comercial

Representa a maior fonte de fundos de curto prazo da empresa, sendo uma fonte de
financiamento comum a quase todas as empresas.

No crédito comercial, o fomecedor é o próprio financiador. Numa economia avançada, quase


todos os compradores ficam desobrigados de pagar as mercadorias adquiridas na entrega,
pois há um pequeno prazo para este pagamento. Neste prazo, o vendedor das mercadorias
concede crédito ao comprador. Como os fomecedores são em geral mais liberais na
concessão de crédito que as instituições financeiras, as pequenas empresas são as que mais
aproveitam o crédito comercial.

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Títulos comerciais

Consistem em notas promissórias a curto prazo, negociaveis, não garantidas, vencidas no


mercado monetário. Por não serem garantidas e por serem instrumentos a curto prazo, os
títulos comerciais são utilizados como fonte de financiamento a curto prazo somente por
empresas de elevada posição creditícia. Eles podem ser vendidos por distribuidores
especializados ou mediante colocação directa junto a investidores, «e sua principal vantagem
reside no facto de, em geral, ser mais barato do que um empréstimo bancário de prazo
equivalente. Quando utilizados adequadamente, podem constituir um fonte desejável de
fundos a curto prazo.

Notas promissoras – é um instrumento que resulta de


um empréstimo a curto prazo não-garantido. Este
empréstimo é de único pagamento e pode ser obtido
junto dum banco comercial. Normalmente o tomador
contrai com objectivo de satisfazer as necessidades de
fundos adicionais por um período curto, mas sem
intenção de prolongar. O prazo de maturidade vai de
30 a 90 dias.

Linhas de crédito

Linhas de crédito é um acordo entre um banco comercial e uma empresa, que determina o
montante de empréstimo a curto prazo à disposição da empresa no banco. Esse acordo
normalmente é feito por um período de um ano. Sua maior vantagem, do ponto de vista do
banco, é que ela elimina a necessidade de examinar a situação de crédito de um cliente, toda
vez que ele pedir dinheiro emprestado. Para um tomador obter uma linha de crédito, ele
precisa fazer uma solicitação formal, que deverá exigir dentre outros documentos as
Demonstrações Financeiras recentes.

Adiantamento de clientes

Através de adiantamentos de clientes, uma empresa poderá obter fundos a curto prazo, ou
seja, os clientes podem pagar por tudo ou parte do que eles pretendem comprar antes de
receber as mercadorias. Nos casos em que um ítem grande e dispendioso estiver sendo
produzido por encomenda, o cliente poderá fazer um adiantamento para financiar parte dos
custos de produção.

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1.5 – Produtos financeiros

No processo de intermediação financeira para operação de crédito, uma Instituição Financeira pode
actuar, simultaneamente como sujeito activo e sujeito passivo.

Crédito Aplica
Tomador de Instituições Poupador
recursos Financeiras (Aplicador)
Resgate Resgate

Operação activa Operação passiva

O processo de captação de recursos (operações passivas) e concessão de financiamento (operações


activas) realizada pelas Instituições Financeiras (IF) é feito por meio de produtos financeiros, que
podem ser entendidos como um conjunto de parâmetros predefinidos ou padronizados que
determinam as condições contratuais das operações a serem realizadas.

Os produtos financeiros estão classificadas em duas formas:

1. Quanto à natureza de remuneração:

Produtos de renda fixa – caracterizadas por terem sua forma de remuneração previamente
definida. Isso não quer dizer que os rendimentos serão predifinidos, dado que eles podem ser
pré ou pós-fixados, ou seja, atrelado a algum indexador, taxa de juros ou mesmo ao câmbio
(taxa de valorização do dólar ou euro, por exemplo). Mesmo nos títulos prefixados, somente
o rendimento nominal é conhecido, dado que seu desempenho real dependerá do
desempenho dos custos de oportunidades dos aplicadores no período da aplicação.

Produtos de renda variável – apresentam como característica principal terem sua


remuneração atrelada a eventos futuros e incertos, como o desempenho da empresa cujos
pápeis estão sendo negociados, tais como acções e debêntures com participações em lucros.

2. Quanto ao destinatário aos recursos:

Produtos Financeiros de Captação – aqueles emitidos pela empresa com o intuito de


financiar suas actividades operacionais, como:

Depósitos à Ordem – são denominados depósitos e conta corrente.

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Depósitos a Prazo – é a denominação oficial dos Certificados de Depósito Bancário
(CDB) e dos Recibos de Depósito Bancário (RDB), sendo actualmente a mais
importante fonte de captação de recursos dos bancos comerciais. Os CDBs têm
prazos mínimos que, geralmente, variam de 30 a 120 dias. São títulos nominativos de
renda fixa, e o rendimento pode ser prefixado ou pós-fixado e faz parte da
modalidade depósito a prazo, ou seja, é um título de renda fixa emitido pelos bancos
comerciais em que a remuneração e o prazo são negociados no momento da
aplicação. A principal diferença entre eles é a possibilidade de transferência de
titularidade permitida pelo CDB enquanto o RDB é um título inegociável e
intransferível.

Depósitos de Poupança – mais conhecido como caderneta de poupança, sua


remuneração é de 0,5% ao mês mais a variação da Taxa de Referência (TR). Podem
ser resgatados a qualquer momento, mas, caso o resgate ocorra fora da “data de
aniversário”, o investidor perde a remuneração equivalente aos dias decorridos após
a data de aniversário (mensal) anterior.

Letras de câmbio – é um instrumento de renda fixa referenciado pelo Certificado de


Depósito Interbancário (CDI) e de prazo semelhante ao dos CDBs. São emitidas
pelas Instituições Financeiras para financiar a aquisição de bens de consumo
duráveis.

Letras Financeira – são títulos de dívida privados emitidos por Instituições


Financeiras para a captação de recursos. São instrumentos de renda fixa que proveem
mais flexibilidade às IFs na captação de recursos, na medida em que podem ser
ajustadas às suas necessidades. As letras financeiras estão livres do recolhimento do
depósito compulsório; desta forma, apresentam rentabilidades superiores às do CDBs
e dos RDBs.

Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI) – é um instrumento financeiro


utilizado para a captação de recursos entre instituições financeiras, que serve como
lastro para as operações do mercado interfinanceiro. É nesse mercado que as Ifs
equilibram sua liquidez de curto prazo. As operações do mercado interbancário se
realizam fora do Banco Central, tanto que, sob esse mercado, não há incidência de
qualquer tipo de imposto.

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O CDI é utilizado pelas Ifs para cobrir eventuais déficits de caixa de curto prazo.
Apresentam características similares às do CDBs, porém suas negociação é restrita
ao mercado interbancário. O prazo desses certificados pode variar, porém a maioria
das operações apresenta prazo de um dia. Por esta razão, é considerado um título de
curtíssimo prazo.

A taxa média diária dos CDIs representa quanto os bancos pagam para captar
recursos de outros bancos. Por isso, é utilizada como referencial para avaliar a
rentabilidade de instrumentos financeiros de renda fixa. Também é utilizada como
indexador da rentabilidade em alguns instrumentos financeiros.

Produtos Financeiros de Financiamento – aqueles destinados aos tomadores de crédito


(operações activas), podem ser destinados, tanto a pessoas físicas como as pessoas jurídicas.
Cada um desses produtos financeiros tem finalidades específicas e estão sujeitos a
normativos também específicos. Eles podem ser classificados como sendo de crédito livre
ou direccionado, sendo que estes últimos são aqueles destinados a determinados sectores ou
actividades, realizados com recursos regulados em lei ou normativo.

As IFs fazem o repasse dos recursos captados dos agentes económicos superavitários (que
tem sobra de recursos disponíveis) aos agentes económicos deficitários (que necessitam de
recursos).

HOT MONEY – é um empréstimo de curtíssimo prazo, normalmente por um dia, ou


um pouco mais, no máximo em 10 dias. É comum, de forma a simplificar os
procedimentos operacionais, para os clientes tradicionais neste produto, cria-se um
contrato fixo de hot, estabelecendo-se as regras deste empréstimo e permitindo a
transferência de recursos ao cliente a partir de um simples telefonema ou autorização.

Crédito pessoal – um crédito a médio prazo para aquisição de bens ou serviços que
não se enquadrem no crédito automóvel ou habitação. Prazo de reembolso superior
ao prático nas modalidades de crédito ao consumo. O montante é até ao limite da
capacidade de endividamento do cliente. Prazo até meses e a taxa de reforço até 35%
do salário-base mensal auferido pelo cliente.

Crédito automóvel – um crédito que se destina à aquisição de veículos novos


comercializados por concessionários autorizados pelo Mintrans. Montante até 85%
do valor indicado na factura do concessionário, sendo obrigatório que o cliente tenha

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uma comparticipação mínima disponível em conta à ordem de 15%. Prazo até 48
meses e a taxa de reforço de 35%.

Crédito habitação – um empréstimo de longo prazo destinado à aquisição ou


construção de habitação própria. Montante até 90% do valor do imóvel, sendo
obrigatório a comparticipação mínima com fundos próprios em conta à ordem de
10%. Como garantia, domiciliação de salário, seguro de vida e hipoteca sobre o
imóvel a adquirir. Prazo até 300 meses, reforço até 35%.

Crédito salário – um produto de crédito ao consumo destinado aos trabalhadores de


empresas públicas e privadas com salários domiciliados no Banco. O valor máximo é
de 20.000.000 kz, para ser reembolsado até 24 meses. Taxa de reforço até 35%.

Crédito Duplo Salário – um crédito ao consumo associado à conta salário de


trabalhadores por conta de outrem. O banco financia até o valor correspondente a um
salário base. Prazo de reembolso até 2 meses.

Crédito renova – um crédito que permite transferir para o BAI, os seus créditos de
outras instituições financeiras bancárias. Oferta exclusiva a clientes do segmento
particulares com rendimentos mensais superiores a 250.000 kz, sem registo de
incumprimento de crédito na CIRC durante os últimos quatro anos.

Descoberto bancário – um crédito à tesouraria que corresponde a um saldo devedor


na conta de Depósito à ordem do cliente. Prazo de reembolso até 30 dias.

Crédito adianta já – uma solução de crédito que permite solicitar adiantamento de


valores de forma automática sem consultar o banco. O crédito é renovável tão logo o
valor solicitado seja liquidado. O montante varia de 2.000 kz a 20.000 kz. Prazo de
pagamento automático, 61 dias após o desembolso.

Descoberto Autorizado Compensado – o descoberto autorizado compensado


particulares é um crédito ao consumo que corresponde a um saldo devedor na conta
depósito à ordem do cliente e que se utiliza por movimentos a débito.

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UNIDADE II - MERCADO FINANCEIRO OU DE CAPITAIS

Mercado financeiro é o lugar onde ocorrem as transacções entre poupadores e tomadores de


recursos financeiros, ou seja, conjunto de intermediários e demais prestadores de serviços
financeiros (auxiliares financeiros) que possibilitam a transferência de recursos dos agentes
superavitários para agentes deficitários.

O Mercado financeiro também pode ser entendido como conjunto de instituições e de instrumentos
destinados a oferecer alternativas de aplicação e de captação de recursos financeiros. Basicamente,
é o mercado destinado ao fluxo financeiro entre poupadores e tomadores. Desta forma, optimiza a
utilização de recursos financeiros e cria condições de liquidez e de administração de riscos.

O mercado financeiro possibilita que as unidades económicas (famílias, empresas e governos)


sejam colocadas em contacto directo ou indirecto, a um custo mínimo e com as menores
dificuldades possíveis. Desta forma, a utilização dos recursos financeiros da economia podem ser
optimizada, resultando em um aumento geral da produtividade, da eficiência e do bem-estar da
sociedade.

Ao possibilitar o contacto entre os agentes económicos, o mercado financeiro cumpre, também, as


seguintes funções:

 Estímulo à formação de poupança – as instituições financeiras existentes no mercado


financeiro estimulam a formação de poupança de diferentes formas. As IFs como os bancos
comerciais, captam poupanças e, em troca, emitem activos com diferentes graus de
liquidez. O mercado de capital onde operam principalmente bancos investimentos e
correctores de títulos – auxilia as empresas a emitirem títulos próprios, acções e
debêntures. Outros tipos de IFs, como os fundos de pensões, os fundos de investimentos e
as seguradoras, são importantes demandantes desses títulos e, portanto, também estimulam
a formação de poupança.

 Facilitação da transferência de poupança entre unidades económicas – uma vez que o


mercado financeiro coloca em contacto as diferentes unidades económicas, troca de
recursos entre os que possuem recursos financeiros excedentes e os que necessitam de
recursos é facilitada. Os bancos são importantes facilitadores dessa troca, pois repassam os
recursos captados de poupadores a tomadores de empréstimos.

 Prever liquidez às unidades económicas – bancos que captam e emitem depósitos à vista
ou depósitos em contam corrente devem ser capazes de oferecer liquidez imediata a seus

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clientes. Assim, através desse tipo de IF, é processada a maior parte dos pagamentos
realizados pelas unidades económicas.

Neste contexto, os mercados financeiros permitem o financiamento de mais projectos de


investimentos produtivos, aumentando o crescimento das economias e aumentar a poupança, uma
vez que possibilitam a sua rentabilização ou remuneração.

Classificação dos mercados financeiros

A classificação do mercado financeiro, em função das características que evidenciam, obedece aos
seguintes critérios:

1. Quanto à natureza das operações desenvolvidas;


2. Quanto ao prazo das operações nele desenvolvidas;
3. Quanto à emissão de títulos de crédito;
4. Quanto a forma e lugar de colocação de títulos de crédito.

1.º Critério: Quanto à natureza das operações desenvolvidas, o mercado financeiro subdivide-se
em:
 Mercado monetário
 Mercado de crédito
 Mercado de capitais
 Mercado cambial

Mercado monetário – mercado caracterizado por operações de curto e curtíssimo prazo,


onde as empresas buscam recursos para atender às suas necessidades imediatas de liquidez
ou alternativas para a aplicação do saldo de caixa, e onde o Banco Central atua para ajustar a
liquidez do Sistema Económico. Alguns exemplos são apresentados a seguir:

Eurodólares – são depósitos em dólares efectuados em bancos localizados fora do


território dos EUA, em geral na Europa (onde a prática teve início, daí a origem do
nome)1.

1
Um banco inglês ofereceu aos soviéticos a possibilidade de efectuar seus depósitos em Londres, não na moeda local (a
libra esterlina), mas em dólares americanos. O banco inglês, por sua vez, depositava os activos soviéticos em bancos
estado-unidenses e tornava-se, dessa forma, o proprietário dos dólares junto àquele banco. Não havia, assim, o risco de
esses dólares serem retidos, pois pertenciam ao banco inglês e não aos soviéticos. Este foi o ponto de partida do
eurodólar. Na realidade, embora escrituralmente os activos estejam localizados no eurobanco, todo montante em
eurodólares está depositado em bancos estado-unidenses e jamais deixa o país. Quando há uma transferência de uma
conta em eurodólares para outra conta do mesmo eurobanco, os valores permanecem intocados na conta (em um banco
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Mercado de Crédito – mercado caracterizado por operações de curto e médio prazo, onde
as empresas buscam recursos para o financiamento de capital circulante e onde as famílias
obtêm recursos para a aquisição de bens de consumo duradouros (automóveis,
eletrodomésticos, etc.).

Mercado de capitais – mercado caracterizado por operações de curto, médio longo ou


indeterminado, destinadas a suprir recursos para atender as necessidades das empresas de
capital fixo e circulante. O mercado de acções e de obrigações são componentes importantes
do mercado de capitais.

É o segmento do sistema financeiro em que são transacionados os fundos com prazo


de vencimento ou maturidade superior a 1 ano (Marques, 1998, p. 126). Esses
mercados têm a sua organização própria, mas como um todo. É objecto de supervisão
da Comissão de Mercado de Capitais (CMC) tutelado pelo Ministério das
Finanças.

No mercado de capitais angolano, os principais títulos negociados são os


representativos do capital de empresas (acções, as obrigações e ainda títulos de
dívida pública).

Mercado Primário

É aquele onde as emissões de activos são realizadas, como por exemplo quando uma
empresa de capital fechado resolve abrir seu capital e lança acções ou emite
debêntures para financiar novos investimentos. É igualmente o mercado da emissão
de valores mobiliário, ou seja, é o mercado onde são feitas novas emissões de títulos
(Artigo 3.º Lei dos Valores Mobiliários). Os valores mobiliários são emitidos por
entidades públicas e privados, respeitando legislação em vigor.

As emissões no mercado primário devem ser registadas junto da CMC pelas


entidades emissoras. No registo de uma emissão devem apresentar os documentos
onde constam as suas características, bem como as do emissor e os direitos e
obrigações dos respectivos titulares (Art.º 28.º LVM). É igualmente obrigatório o
registo dos programas de emissão de valores.

norte-americano) do eurobanco em questão. Se há uma transferência entre eurobancos, na prática o que ocorre é a
migração do depósito da conta do eurobanco. A para a conta do eurobanco B (ambas no sistema bancário dos EUA).
Elab.: Prof. Rafael Alembe 17
A entidade emissora de valores mobiliários deve informar a CMC, a bolsa e ao
público sempre que há ocorrência de factos relevantes relativos à companhia.

Os valores mobiliários podem ser subscritos por oferta pública e privada. A oferta
pública consiste na oferta dos valores mobiliários ao público em geral ou a um
número determinado deste, através de comercialização pública. Considera-se
igualmente oferta pública a emissão de acções por uma sociedade aberta cuja
subscrição é reservada aos accionistas. Considera-se que a oferta é privada quando
se trata de uma emissão de obrigações que é colocada de forma privada junto de
investidores institucionais.(Bartardo, 2011, p.27).

Como foi dito anteriormente, são negociados no mercado de capitais angolano os


seguintes títulos representativos: acções, as obrigações e ainda títulos de dívida
públicas.

Acções – são títulos representativos do capital social de uma sociedade anónima com
um rendimento incerto (dividendo), segundo Bartardo (2011, p. 77). O adquirente as
acções tem o direito de participar e votar em assembleia geral da sociedade. Quanto
ao tipo, as acções podem ser ordinárias ou preferenciais. Para Bartardo (2011, p. 78),
estas últimas diferem das primeiras pelo facto de não darem direito ao voto, e muitas
vezes o recebimento de dividendos é em função dos resultados da sociedade, tendo
direito apenas ao dividendo preferencial.

Obrigações das empresas – são títulos representativos de dívida de sociedades


abertas, em que a entidade emitente se compromete a pagar ao seu detentor juros
periódicos, e a reembolsar o capital nos termos estabelecidos à data da emissão
(Art.º. 3.º LVM). Para Bartardo (2011, p. 42), um empréstimo obrigacionista oferece
ao emitente algumas vantagens na medida em que o possibilita a diversificação de
financiadores, bem como certa autonomia junto dos bancos, relativamente ao crédito.

a oferta pública de obrigações está sujeita ao disposto na LVM. Com isso, o contrato
de emissão celebrado pela emissora e o representante das obrigações, bem como os
futuros obrigacionistas, deve ser limitado a escritura pública e registado na CMC; ao
que esta irá regular as características das emissões de obrigações, e os termos do
contrato (Art.º. 51 - LVM).

Elab.: Prof. Rafael Alembe 18


Dívida Pública – pode ser entendida como uma das formas de financiar o défice
orçamental (Rocha e Delgado, 2012, p. 264). O Estado angolano emite Títulos do
Tesouro Nacional com base legal Lei-quadro da Dívida Pública Direita, bem como
Decretos n.º51/03 e 52/03, de 08 de Julho, que regulamentam, respectivamente as
Obrigações do Tesouro (OT) e os Bilhetes do Tesouro (BT), fazendo desses os
títulos emitidos. Assim, conforme a legislação vigente, os Títulos do Tesouro
“gozam de garantia do pagamento integral do capital e dos juros, directamente junto
das instituições financeiras e do Banco Nacional de Angola; não são passíveis de
confisco ou de qualquer outro acto de intervenção da administração do Estado;
podem ser subscritos por quaisquer pessoas singulares ou colectivas residentes no
País ou no estrangeiro; podem, nas condições complementares ou específicas que
forem estabelecidas pelo Governo; ser utilizados como garantia de créditos
bancários, no pagamento de obrigações fiscais e no pagamento das
responsabilidades financeiras em processos de privatização ou outros e podem ser
objecto de resgate antecipado, nas condições que vierem a ser determinadas, para
cada emissão, pelo Ministério das Finanças” (Art.º 9 Lei Quadro da Dívida Pública
Direta).

Nos termos do Decreto n.º 51/03, por Decreto executivo do Ministério das Finanças,
são definidos o valor nominal da OT, as taxas de juros de cupão e o prazo de resgate,
não sendo este superior a 30 anos. No dia 15 de cada mês, ou quando este não seja
útil no dia útil seguinte são pagáveis semestralmente os juros de cupão; sendo que o
resgate é feito ao par, acrescidos dos juros do último cupão no dia 15 de cada mês, ou
quando este não seja útil no dia útil seguinte. Com efeito, consideram-se fungíveis os
títulos com as mesmas taxas de juro e datas de resgate.

No que toca aos Bilhetes de Tesouro (BT), o Decreto 52/03 diz que os prazos de
resgate são de 28, 63, 91, 182 e 364 dias. O Ministro das Finanças, mediante
Despacho, fixa o montante máximo em circulação, ponderando o montante em
circulação em 31 de Dezembro do ano anterior e o limite máximo de financiamento
interno inscrito na Lei do Orçamento do Estado. São colocados no mercado primário
pelo seu valor facial descontado do montante correspondente aos juros, sendo que o
resgate é feito pelo valor nominal na data de vencimento. Os juros de cada emissão
são contabilizados na respectiva data de vencimento, quando esta ocorre dentro do

Elab.: Prof. Rafael Alembe 19


mesmo exercício orçamental, caso contrário, no seu último dia útil, pelo valor de
compromisso.

Mercado Secundário

É aquele onde ocorrem as transacções após a emissão primária dos títulos.

O mercado secundário é a extensão do mercado primário onde são transacionados os


valores mobiliários já emitidos (Art.º 3 - LVM). Bartardo (2011, p. 29) reforça a
importância do mercado secundário ao afirmar que a sua existência possibilita a
liquidez dos valores mobiliários já emitidos, o que os torna mais atractivos para os
investidores na medida em que facilita as fontes de financiamento dos emitentes para
suprirem as suas necessidades.

Desta forma, neste mercado ocorrem as vendas e compras dos títulos adquiridos no
mercado primário. Assim, as transacções podem ser feitas de duas formas: no
mercado de bolsa e em balcão.

 Bolsa de Valores e Derivados de Angola (BODIVA): nos termos da Lei dos


Valores Mobiliários (Art.º 64.º e 65.º), a Bolsa de Valores pode se constituir
como uma associação civil sem fins lucrativos ou sociedade anónima com
fins lucrativos. O seu capital social é representado por títulos patrimoniais ou
acções. Sujeita-se a supervisão da CMC, entretanto possui autonomia
patrimonial, administrativa e financeira.

A BODIVA tem como objectivo principal a promoção da negociação de


valores mobiliários registados, que para tal, disponibiliza serviços, sistemas e
mecanismos adequados para intermediação de maneira contínua e
transparente de valores de oferta pública e instrumentos derivados. Os títulos
e valores negociados e transaccionados são previamente registados à
negociação, de acordo com determinadas normas. Aos investidores será
disponibilizada toda a informação tida como relevante, quer por parte das
entidades emitentes dos valores, quer pela Bolsa. Para além das mercadorias,
são negociados as acções, obrigações e debêntures de caixa emitidas por
entidades nacionais ou estrangeiras, os fundos públicos nacionais e
estrangeiras e os valores mobiliários, os títulos de participação, as quotas de
fundos de investimento, valores mobiliários que por disposição legal ou
Elab.: Prof. Rafael Alembe 20
então aprovação da CMC seja atribuída a negociabilidade em Bolsa e os
direitos de conteúdo económico destacáveis dos valores mobiliários
mencionados ou sobre eles constituídos e que sejam susceptíveis de
negociação autónoma.

Tais valores serão permitidos a negociação fora da bolsa sempre que


destinados à distribuição pública, durante o período da respectiva
distribuição, e sempre que sejam relativos a negociações privadas. A compra
e venda de títulos mobiliários serão efectuadas por ordem de compra e venda
de títulos dadas aos intermediários.

 Balcão – o mercado de balcão não corresponde a uma bolsa formal. Não


existem pré-requisitos para listagem dos activos, nem a necessidade de ser
dono de um assento.

O mercado de capitais contribui para o desenvolvimento económico do país, por enquanto:

 Facilita o fluxo de capital dos poupadores para o investimento em indústrias,


comércio e serviços;
 Fornece maior agilidade às negociações para a alteração de propriedade ou
controlo da empresa;
 Facilita o processo de privatização;
 Amplia a transparência das empresas participantes devido à busca de
informações e demonstrações financeiras por parte dos investidores do
mercado, o que fornece maior credibilidade ao crescimento dessas
organizações;
 Facilita a entrada e aplicação do capital externo na economia nacional,
auxiliando no equilíbrio da balança de pagamentos e ampliação do volume de
investimentos no país;
 Permite aos poupadores a aplicação de seus recursos em diferentes empresas
ao mesmo tempo, com amplo acesso às informações sobre as companhias e
alta liquidez do investimento;
 Incentiva a formação de poupança interna de longo prazo, promovendo o
crescimento autossustentado do país.

Elab.: Prof. Rafael Alembe 21


Mercado de câmbio – mercado caracterizado por operações de troca de moeda (moeda
nacional e estrangeira) à ordem ou a termo (para liquidação futura). Portanto, no mercado de
câmbio, são negociadas moedas internacionais conversíveis, pelas instituições credenciadas
pelo Banco Central. A moeda estrangeira é negociada principalmente pelos agentes
económicos que mantém relação de comércio internacional e pelos que captam recursos no
exterior, além das instituições autorizadas a operar com câmbio. As empresas exportadoras
vendem as mercadorias no mercado externo e recebem em moeda estrangeira, e para utilizá-
la, precisam convertê-la em moeda nacional.

O crédito e a taxa de juros (noção e classificação)

Crédito

O empréstimo ou crédito é um acordo em que uma instituição de crédito (banco) disponibiliza


dinheiro a um cliente, que fica obrigado a devolver esse dinheiro no futuro, acrescido de encargos
com juros e outros custos.

Este acordo é estabelecido entre o banco e o cliente por meio da celebração de um contrato de
crédito que estabelece, entre outros aspectos, o prazo, o modo de reembolso do empréstimo e os
encargos associados.

Entre as principais características do crédito, temos a destacar:

 O montante de crédito é o dinheiro disponibilizado ao cliente no âmbito do contrato de


crédito.

 O prazo do empréstimo é a duração do contrato de crédito.

 Os juros são o principal custo do crédito.

 As comissões e despesas podem ser pagas no início, ao longo ou no fim do contrato.

 As comissões constituem a remuneração da instituição de crédito por serviços prestados.

 As despesas são custos suportados pelas instituições, perante terceiros, por conta dos
clientes (por exemplo, imposto de selo).

 Os seguros de vida ou outros podem ser exigidos pelas instituições como garantia do
crédito.

Elab.: Prof. Rafael Alembe 22


 As garantias podem ser exigidas pela instituição de crédito, pois ajudam assegurar o
pagamento do empréstimo, no caso de o cliente não o conseguir fazer, como por exemplos:
hipoteca, a fiança, a reserva de propriedade, o penhor de activos financeiros, entre outros.

 O reembolso antecipado do empréstimo, ou seja, o pagamento de todo ou parte do dinheiro


emprestado antes do fim do prazo é sempre possível. Mas, em geral, está sujeito:

 A um prazo de pré-aviso, cujos tempos máximos estão legalmente definidos;

 Ao pagamento de comissão de reembolso antecipada, cujos valores máximos estão


legalmente fixados e dependem do tipo de crédito.

Taxa de juros (noção e classificação)

Noção de taxa de juros

Taxa de juros é a razão entre os juros recebidos (ou pagos) no fim de um período financeiro e o
capital aplicado. Ou seja, que é uma variável positiva (> 0) de proporcionalidade entre o capital e o
juro, para cada período de capitalização, habitualmente expressa na forma percentual.

Exemplo: Suponhamos que a aplicação de Kz 1.500.000,00 tenha produzido, ao fim de um mês, a


quantia de Kz 45.000,00 de juros.

Valor aplicado → 1.500.000,00

Juros obtidos → 1.500.000,00

. ,
Taxa de juros → , ao m s
. . ,

Observação:

A taxa de juros pode ser representada sob duas formas:

 Taxa percentual: quando representar os juros de 100 (cem) unidades de capital durante o
período financeiro a que se refere;
 Taxa unitária: quando representar, nas mesmas condições, os juros de uma unidade de
capital.

Elab.: Prof. Rafael Alembe 23


Exemplo: Seja a taxa de juros de 15% ao ano.

15% = = 0,15

15% ao ano → taxa percentual


, ao ano → taxa unitária

Classificação de taxa de juros

Há no entanto, diversos tipos de taxas de juros, com significados claramente diferentes, como:

Taxa Efectiva e Taxa Nominal

Nem sempre o chamado período de referência da taxa de juro (período de tempo a que se refere a
taxa de juro: um ano, um mês, etc.) coincide com o período de capitalização. Ou seja, podemos ter
um regime de capitalização semestral e a taxa que serve de base de cálculo ser uma taxa anual. Para
podermos calcular o valor dos juros e/ou do capital acumulado ao longo dos vários períodos de
capitalização, necessitamos converter a taxa de juro anual na correspondente taxa de juro semestral.
Este cálculo pode ser realizado essencialmente por dois processos, em função do tipo de taxa de
juro que estamos a utilizar:

Taxa de juro efectiva: Esta taxa está de acordo com as regras de ouro da matemática
financeira e pressupõe que há lugar ao pagamento de juros, correspondente ao regime de
capitalização de juros compostos. Ou seja, o juro que vai ser gerado ao longo de, por
exemplo, um ano, é independente de o período de capitalização e o período de referência da
taxa juros serem alterados para um mês ou um semestre. O capital acumulado no final do
ano vai ser o mesmo.

Por exemplo, se tivermos uma taxa de juro efectiva anual e um processo de capitalização
mensal, teremos:

A fórmula geral de cálculo de taxas equivalentes a taxas efectivas com outro período de
referência é a seguinte:

ix = (1 + iy) x/y – 1

Elab.: Prof. Rafael Alembe 24


em que x e y são os períodos de referência das duas taxas de juro, que devem ser expressos
na mesma base temporal (dias, meses, anos, etc.).

Se por exemplo a taxa de juro for de 10% anual efectiva e quisermos calcular a taxa de juro
semestral equivalente, seria:

isemestral = (1 + ianual )6 meses /12 meses - 1 = (1 + 0,10 )6/12 - 1 = 4,88%

Se por exemplo a taxa de juro for de 5% semestral efectiva e quisermos calcular a taxa de
juro anual equivalente, seria:

ianual = (1 + isemestral )12 meses /6 meses - 1 = (1 + 0,05 )12/6 - 1 = 10,25%

Taxa de juro nominal: a conversão do período de referência das taxas de juro nominais faz-
se pela regra da proporcionalidade: a uma taxa de juro anual nominal de 12% correspondem
uma taxa semestral de 6%, uma taxa trimestral de 3%, uma taxa mensal de 1%, uma taxa
bianual de 24%, assim sucessivamente.

A fórmula geral de cálculo de taxas equivalentes a taxas nominais com outro período de
referência é a seguinte:

ix = ( ) * iy

em que x e y são os períodos de referência das duas taxas de juro, que devem ser expressos
na mesma base temporal (dias, meses, anos, etc.).

Ao contrário da taxa efectiva, este tipo de taxa de juro não gera o mesmo capital acumulado
se for alterado o seu período de referência e capitalização. Por isso tem a designação de
nominal, com o sentido de ser apenas “aparente”. Pagar ou receber, por exemplo . Kz
de juros todos os trimestres ou receber 4.000 Kz de juros no final do ano não é o mesmo. Ao
recebermos parte do capital mais cedo podemos reinvesti-lo e receber o juro correspondente
no final do ano.

Pelo que foi atrás exposto, conclui-se que, se tivermos a necessidade de fazer a conversão do
período de referência de uma taxa de juro, é imprescindível saber se esta é efectiva ou
nominal, dado que o respectivo processo de conversão é diferente.
Elab.: Prof. Rafael Alembe 25
Em termos de matemática financeira, só a taxa efectiva é que respeita as suas três regras
básicas. O facto de a taxa ser efectiva ou nominal pode ser importante em termos dos custos
ou benefícios reais das operações financeiras, como sejam a contracção de um empréstimo
ou a realização de um depósito bancário.

Em suma, duas ou mais taxas de juros são proporcionais quando os seus valores e os períodos a
que elas se referem estão na mesma razão.

meses
Assim, 20% ao ano e 5% ao trimestre são taxas proporcionais, pois =
meses

E, duas ou mais taxas de juros são equivalentes quando ao serem aplicadas a um mesmo principal,
durante um mesmo intervalo de tempo, produzem o mesmo montante.

Exemplo: Seja calcular o montante de uma aplicação de Kz 5.000.000,00 pelo prazo de 6 meses,
utilizando as taxas proporcionais 20% a.a. e 5% a.t., respectivamente.

a) M . . ( , x →

b) M . . ( , x →

Preço do crédito

O preço do crédito é o preço pelo qual se empresta dinheiro. É definido pelas taxas directoras
porque estas determinam o custo dos financiamentos de capital.

Factores que influenciam a subida e descida das taxas de juro

As taxas directoras ou de referências do Banco Central, nas economias modernas são o instrumento
mais importante do sistema económico. Alterações nas taxas directoras têm influência nas taxas de
juro do mercado monetário interbancário, nas taxas de juro de crédito bancário, nas taxas de juro
dos depósitos a prazo e de poupança (Leão, Leão e Lagoa). Por sua vez, estes dois tipos de taxa de
juro são essenciais para a determinação de taxa de juro das obrigações emitidas pelo Estado. Além
disso, fornecem informações sobre a actividade futura do mercado económico e financeiro e ajudam
a determinar a força ou fraqueza da economia.

As taxas de juro, afectas aos vários riscos de crédito, devem tender em conformidade com as
situações socioeconómicas dos países e, como esperado, causam impacto nos preços dos activos
Elab.: Prof. Rafael Alembe 26
financeiros. Se a situação verificada é de inflação controlada, as decisões de política monetária
podem ser tomadas no sentido de se reduzirem as taxas de juro até níveis que estejam em
conformidade com o crescimento da economia.

A mudança na taxa de juro tem implicações muito sérias para a economia porque afecta uma grande
variedade de decisões, desde as despesas diárias dos consumidores até decisões críticas de
investimentos que afectam a estrutura económica de determinado país. Consequentemente, a taxa de
juro desempenha um papel chave nos custos de todos os sectores da economia.

É importante notar que há estreitas relações entre a taxa de juro e as variações económicas chave
como: a inflação, o desemprego, a taxa de câmbio, os fluxos de capitais, a estrutura da balança
de pagamento e o nível da dívida externa e interna.

Em país com dívida pública alta (por exemplo, Angola) o impacto da alta taxa de juro se ligará
directamente ao aumento da dívida pública e afectará severamente a capacidade do Governo para
financiar seus projectos de investimento e cumprimento de seus programas económicos e sociais.

Em uma economia aberta com mercados mundiais altamente integrados, qualquer mudança na taxa
de juro poderia produzir movimentos nos fluxos de capital estrangeiro de importantes volumes que
poderiam complicar a condução da política macroeconómica e gerar instabilidade económica.

As decisões da política monetária consistem em alterações das taxas directoras decididas pelo
Banco Central. Quando este decide aumentar taxas directoras esse facto levará a um aumento das
taxas do mercado monetário interbancário, das taxas de juro de crédito bancário, das taxas dos
bilhetes de tesouro. Consequentemente, o aumento dessas taxas terá efeitos sobre o mercado
acionista.

Num cenário de taxas de juro mais altas as vendas das empresas são prejudicadas, na medida em
que existirá uma menor procura ao crédito bancário e, como tal, uma menor procura de bem. Noutro
sentido, os juros mais altos irão reflectir-se em maiores custos financeiros para as empresas.

As taxas de juro são mais elevadas para prazos mais longos do que para prazos mais curtos. Esse
facto está relacionado com a retribuição a dar ao investidor por este disponibilizar fundos por
prazos mais longos e para cobrir o aumento de risco de crédito.

A combinação destas duas situações leva uma diminuição dos resultados das empresas, que por sua
vez levará a uma diminuição dos dividendos esperados, tornando as acções menos atractivas. Por
Elab.: Prof. Rafael Alembe 27
outro lado, alguns investidores poderão optar por vender as suas acções e investir noutro tipo de
aplicações. A menor procura de acções e o aumento da oferta levará a uma queda do valor das
acções.

As taxas de juro mais baixas possibilitam aos agentes económicos maior acesso ao crédito e,
consequentemente gera um aumento do consumo. Esse aumento da procura pode pressionar os
preços caso os agentes económicos não estejam preparados para acréscimos do consumo. Por outro
lado, com uma estratégia assente na subida da taxa de juro, os bancos centrais desincentivam o
consumo e limitam os riscos ascendentes para a estabilidade dos preços.

A título de exemplo, é a notícia do BNA (Banco Nacional de Angola), que “reduz taxa de
juros de referência para incentivar concessão de crédito”, segundo Jornal de Angola, tal
redução cifrou-se na ordem de 1,5%, saindo de 19,5% para 18%. Disse José Lima Massano,
governador do BNA, “esta decisão fundamenta-se na redução da inflação observada ao
longo de 2022 e das pressões inflacionistas, bem como no alinhamento das condições
monetárias com o objectivo da inflação de médio e longo prazo, ou seja, esta redução
deveu-se por causa da recuperação gradual da economia nacional”.

“O comportamento da inflação deveu-se ao curso da política monetária, à apreciação da


moeda nacional em relação às moedas usadas nas trocas comerciais, bem como ao aumento
e regularidade da oferta de bens de amplo consumo, com destaque para os bens
alimentares”, acrescentou o Governador do BNA, que “há uma quebra acentuada da
variação de preços na economia, enfatizando que “apesar da redução assistida, ainda
assim, a taxa é alta.”

Portanto, na óptica do investimento, taxas de juro baixas, reduzem a atractividade dos tradicionais
produtos financeiros sem risco – designados por depósitos a prazo – promovendo um excesso de
liquidez nos mercados financeiros. Deste modo, existe uma maior propensão para a viabilização de
investimentos que tenha retorno maior que o pago pelos bancos. Se a taxa sobe, ocorre o inverso.

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