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VI Congresso Brasileiro

de Cirurgia e Anestesiologia
Veterinária
Indaiatuba - SP

Mini-Curso
Odontologia Eqüina

Apoio

Campus I - R. A mazona s, 504 - Jd. Dom Bosco


Campus II - Rod. A dhemar de Ba rros, k m 127 - Pist a Sul
JA GUA RIÚNA - SP
VI Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Mini-curso de Odontologia Eqüina - 28/07/2004 - Indaiatuba - SP.

Mini-Curso
Odontologia Eqüina

Editores
Prof. Geraldo Eleno Silveira Alves
Profa. Geane Maciel Pagliosa
Prof. José Aldo Moraes Santos

2004

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VI Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária
Mini-curso de Odontologia Eqüina - 28/07/2004 - Indaiatuba - SP.

C749m Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia


Veterinária (6. : 2004 : Indaiatuba, SP) Mini- Curso
Odontologia Eqüina / Editores: Geraldo Eleno Silveira Alves,
Geane Maciel Pagliosa, José Aldo Moraes Santos.
– Indaiatuba : FAJ - Faculdade de Jaguariúna, 2004.

85 p ; il.

Inclui bibliografia

1. Odontologia veterinária – Congressos. I. Alves,


Geraldo Eleno Silveira. II. Pagliosa, Geane Maciel.
III. Santos, José Aldo Moraes. IV. Título.

CDD – 636.708 796

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Mini-curso de Odontologia Eqüina - 28/07/2004 - Indaiatuba - SP.

Mini-curso de Odontologia Eqüina


28/07/2004
Programa Teórico

1. Odontologia como parte da gastroenterologia: sanidade


dentária e digestibilidade. (Prof. Geraldo Eleno Silveira Alves).

2. Distúrbios decorrentes de correções odontológicas


inadequadas. (Dr. Luiz Fernando Rapp de Oliveira Pimentel).

3. Aspectos fisiopatológicos e terapêuticos das odontopatias


adquiridas: doenças periapical, periodontal e infundibular.
(Profa. Geane Maciel Pagliosa).

4. Técnicas e diagnósticos radiológicos de odontopatias em


eqüinos. (Dr. Marco Aurélio Gallo).

5. Técnicas de sedação, neuroleptoanalgesias e anestesias


necessárias aos diversos procedimentos odontológicos
em eqüinos, com ênfase ao paciente idoso. (Dr. Paulo César
de Carvalho Ferreira).

6. Principais avanços técnicos e indicações de exodontias de


pré-molares e molares de eqüinos. (Prof. Max Gimenez
Ribeiro).

Programa Prático

Aulas Demonstrativas no Campus II - FAJ/Jaguariúna - SP.

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Sumário
Pág.
- Prefácio 5

- Palestrantes convidados 6

- Odontologia como parte da gastroenterologia: sanidade dentária e


digestibilidade. 7

- Distúrbios decorrentes de correções odontológicas inadequadas. 23

- Aspectos fisiopatológicos e terapêuticos das odontopatias adquiridas:


doenças periapical, periodontal e infundibular.
37

- Técnicas e diagnósticos radiológicos de odontopatias em eqüinos. 53

- Técnicas de sedação, neuroleptoanalgesias e anestesias necessárias aos


diversos procedimentos odontológicos em eqüinos, com ênfase ao paciente
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idoso.

- P rincipais avanços técnicos e indicações de exodontias de pré-molares e


molares de eqüinos. 72

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Prefácio
Embora algumas práticas em dent es de eqüinos remontem a idade
média e a odontologia veterinária t enha-s e iniciado nesses animais, somente
nos últimos anos a odontologia eqüina tem constituído atividade emergente
para Médicos Vet erinários no Brasil.
As particularidades biológicas já conhecidas dos eqüinos são
notórias e as que ainda est ão por ser são inimagináveis. Assim sendo, é
razoável assumir que a odontologia eqüina é tão particular que deve ser
considerada uma especialidade dent ro de outra. Dessa forma, pode constituir
risco extrapolar “ in totum” para os eqüinos, conhecimentos sobre
odontologia de outras espécies. Com base no exposto é possível imaginar a
intensidade do empirismo e aventura que pode estar norteando muitos
tratamentos dentários praticados em eqüinos. É oportuno ress altar que
qualquer prática sem formação médica e condições técnicas pode constituir
riscos graves.
O Brasil possui o segundo maior rebanho eqüino do mundo com
aproximadament e sete milhões de animais. É possível que menos de 1%
receba algum tipo de cuidado odontológico. Apesar de utópico, o ideal seria
que todo eqüino dispusesse de assistência médica preventiva, incluindo a
odontológica. Contudo, a realidade é que diversas outras emergências s ão
prioritárias nesse grande rebanho, o que não implica dizer que os cuidados
com os dentes constituem medidas dispensáveis. Pelo contrário, cuidados
dentários de preferência preventivos signifi cam zelar pelo patrimônio,
evitando prejuízos diversos.
Levando em conta que: a sanidade e funcionamento dentários
adequados são fundament ais para o pleno desenvolvimento e des empenho
racional; quase todo eqüino necessita de algum tratamento dentário; o
número de profissionais habilitados é reduzido e a odontologia é
relativamente complexa, é oportuno reconhecer que a diretori a do CBCAV
tem contemplado a educação continuada em odontologia eqüina, assim como
outras instituições, de classe e de ensino e pesquisa têm fom entado
atividades, visando o desenvolvimento de recursos humanos para atender a
demanda.
Aos colegas e estudantes que diret a ou indiretamente terão cont ato
com o conteúdo temático desse mini-curso, deseja-se êxito profissional,
consciênci a da dimensão da odontologia eqüina, o melhor aproveitamento
das matérias disponibilizadas, que são da responsabilidade de cada autor
convidado.

Belo Horizonte, 28 de julho de 2004.

Prof. Geraldo Eleno Silveira Alves

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Palestrantes Convidados
Prof. Geraldo Eleno Silveira Alves (Coordenador)
Profa. Geane M aciel Pagliosa
Prof. José Aldo M oraes Santos
Dr. Luiz Fernando Rapp de Oliveira Pimental
Dr. M arco Aurélio Gallo
Prof. M ax Gimenez Ribeiro
Dr. Paulo César de Carvalho Ferreira

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Odontologia como parte da gastroenterologia


- sanidade dentária e digestibilidade -
Prof. Geraldo Eleno Silveira Alves
MV, MS, Doutor
Escola de Veterinária - UFMG
geraldo@vet.ufmg.br
1. Introdução
2. Digestão
3. Digestão dos componentes do alimento tipo forragem
4. Mastigação como atividade de prazer
5. Ciclo da mastigação
6. Quebra do alimento tipo forragem
7. Período crítico para a mastigação
8. Sinais de problemas na boca e nos dentes
9. Conseqüências da dor
10. Bibliografia

1. Introdução - O objetivo desta primeira atividade de estudo no


mini-curso de odontologia eqüina, do IV CBCAV, é motivar
uma reflexão ampla sobre aspectos relevantes na relação entre
os dentes e os processos digestivos. Inicialmente, é oportuno
ressaltar a magnitude da importância dos dentes na sanidade
orgânica como um todo. Essa sanidade depende de harmonia
metabólica, de equilíbrio nutricional e de adequação dos
processos digestivos, os quais se iniciam na boca.

Considerando alimentos sólidos, os processos digestivos


ocorrem sob a forma de uma cadeia interdependente, tendo
como pré-requisito primário a mastigação para a quebra desses
alimentos e, assim, ser possível seguir os processos digestivos
subseqüentes. Desse modo, sobre os dentes recai a
responsabilidade de dar início e facilitar a digestão. Por outro
lado, se os dentes apresentam deficiências a digestibilidade
poderá ser afetada e o organismo arcará com algum ônus. Nesse
contexto, consideram-se a natureza do ônus e o espaço de tempo

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em que esse irá se estabelecer, o que quase sempre dificulta o


diagnóstico etiopatogênico, além de colaborar para a
banalização dos prejuízos econômicos.

Predisposição para a ocorrência de cólicas, atraso do


desenvolvimento e limitações de performance são exemplos de
ônus resultante de problemas dentários. A odontologia eqüina
tem importância reconhecida apesar do número limitado de
publicações sobre trabalhos pesquisas experimentais3.

2. Digestão - A harmonia entre os diversos fenômenos que


integram os processos digestivos depende, entre outros fatores,
da condição de equilíbrio neuroendócrino. Em outras palavras,
desequilíbrios neuroendócrinos representam ameaça a interação
harmônica entre os fenômenos da digestão. A classificação e a
inter-relação entre os fenômenos citados estão sumarizadas na
Figura 1.

Pela mastigação os dentes proporcionam condições para ocorrer


os principais fenômenos físicos-mecânicos da digestão. Sem os
quais não terá início uma digestão adequada, como também
ficará dificultada a digestibilidade dos alimentos sólidos. A
importância desses fenômenos é dar início a um processo
digestivo na boca e criar condições para ocorrer os demais
processos digestivos subseqüentes.

Não é possível quantificar a importância de cada fenômeno


isoladamente. Qualquer falha em um componente pode
comprometer a digestibilidade e resultar em indigestão. Além
dos fenômenos físicos-mecânicos, ocorre ainda na boca o início
dos fenômenos químicos da digestão, principalmente pela ação
enzimática da saliva sobre carboidratos. Tanto os fenômenos
químicos na boca, como os subseqüentes no estômago e
intestino delgado, bem como os biológicos no intestino grosso,
todos dependem da sanidade e da eficiência dentária sobre os
alimentos sólidos, a fim de otimizar a digestibilidade dos
alimentos sem que ocorra indigestão, que em eqüinos quase
sempre resultará em cólica.
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Não há dúvida sobre a importância da sanidade e funcionalidade


dentárias dentro do aspecto epidemiológico da síndrome cólica
nos eqüinos. A discussão não pode ser estagnada no
reconhecimento da importância. Deve ser aprofundada na
quantificação da relação entre problemas dentários e indigestões
com episódios de cólicas. É necessário assumir que, a
manutenção da sanidade e funcionalidade dentárias representa
controlar um importante fator predisponente a ocorrência de
cólicas em eqüinos. Infelizmente, inúmeros eqüinos com cólica
são tratados ou não, recuperam ou vão a óbito, sem que a origem
da indigestão devido a insanidade ou ineficiência dentária seja
diagnosticada. Apesar da disponibilidade de algumas pesquisas,
ainda há demanda de conhecimentos sobre os vieses envolvendo
a gastroenterologia e a odontologia nos eqüinos. Na verdade há
muita coisa além do óbvio.

Fenômenos da Digestão
Físicos - Mecânicos

Químicos

Biológicos

Figura 1 - Esquema da classi fi cação e inter-relação entre os fenômenos que


integram a digestão.

3. Digestão dos componentes do alimento tipo forragem - Os


componentes dos vegetais estão contidos no protoplasma e na
parede celular. No protoplasma encontram-se carboidratos
simples, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e água, os quais
são mais facilmente disponibilizados e degradados

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pelosfenômenos químicos da digestão, ou seja, pelas enzimas


digestivas na boca, estômago e intestino delgado.

A parede celular dos vegetais é composta por carboidratos


estruturais complexos (hemicelulose, celulose, lignina e cutina)
além de minerais e pouca proteína. Os carboidratos estruturais
sofrem digestão pelos fenômenos biológicos de fermentação, ou
seja, pela microbiota do intestino grosso dos eqüinos os quais,
dependendo da dieta, são capazes de obter energia9 considerável
a partir dos ácidos graxos voláteis, especialmente oriundos da
hemicelulose11 mais também da celulose. Entretanto, a
biodisponibilidade desses depende do teor de lignina, principal
limitante da biodegradação, nos carboidratos estruturais13, além
dos fenômenos físicos-mecânicos representados pela mastigação
com eficiência dentária.

4. Mastigação como atividade de prazer - É razoável considerar


que nos herbívoros, eqüídeos e bovídeos, a mastigação é uma
atividade que se reveste de maior importância, a julgar pelo
espaço de tempo em que esses animais a praticam. Na verdade a
mastigação envolve diversos fatores fisiológicos além da quebra
do alimento, saturação química das papilas gustativas e estímulo
das glândulas salivares10.

Em condições de seu habitat, um eqüino mastiga por um tempo


que equivale até setenta e cinco por cento do dia6, o que permite
inferir que a mastigação á um ato que motiva o prazer. Caso
contrário o eqüino evitaria esse ato, minimizando esse tempo,
como ocorre em casos de enfermidades ou restrição do seu
habitat natural. Enfim, é importante considerar que a mastigação
para os eqüinos à pasto constitui uma atividade salutar
psicossomática.

Qualquer situação que resulta em prejuízo da mastigação


representa um agravante para o eqüino. Assim sendo, deve-se
julgar como prejudicial a mastigação que induz padecimento ao
invés de satisfação. Na realidade prática esse tipo de ocorrência
é freqüente e, um número inestimável de eqüinos apresenta
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distúrbios comportamental ou físico devido a distúrbio da


mastigação.

5. Ciclo da mastigação - Pela seqüência do ciclo da mastigação


(Fig. 2) observa-se que o movimento vertical (de 1 a 3) ocorre
quando o animal abre a boca. O fechamento se dá através de
movimento diagonal (de 3 a 5), que possibilita o início do
próximo movimento que é o lateral (de 5 a 9). O movimento
lateral é o mais importante movimento mastigatório nos
eqüídeos e bovídeos, visto que proporciona as principais etapas
da quebra do alimento do tipo forragem. A última fase do ciclo é
o retorno que ocorre por movimento misto vertical-diagonal.

Movimentos da mandíbula:

1 a 3 - vertical (abertura da boca)


3 a 5 - diagonal (fechamento da boca)
5 a 9 - lateral (impacto e atrito)
9 a 1 - vertical-diagonal (retorno)

Figura 2 - Esquema do ciclo mastigatório dos eqüinos em condições


fisiológicas. Fonte: Adaptado de 1.

O ciclo mastigatório dos eqüídeos em condições de habitat


natural é, até certo ponto, capaz de melhor garantir a
manutenção da eficiência dentária. Sobre esse aspecto já tem
sido observado melhora da condição dentária em eqüinos que
passaram a ser mantidos a pasto, após longo tempo em cocheira.

O movimento lateral ou excursão lateral é o movimento da


mandíbula de um lado para outro quando o eqüino mastiga
forragem6,19. Além de ser o principal responsável pela quebra do
alimento do tipo forragem, o movimento lateral da mastigação
colabora para a manutenção da eficiência da mastigação e, por
sua vez, para a melhor digestibilidade.

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É bem conhecido e divulgado que, eqüinos mantidos a pasto


praticam uma mastigação com predominância de movimentos
laterais da mandíbula sobre movimentos verticais6. Por outro
lado, eqüinos mantidos em cocheiras e alimentados com ração
industrializada, e um só tipo de forragem, mormente capim
picado, praticam uma mastigação com predominância de
movimentos verticais da mandíbula6, o que é nocivo para o
eqüino. Esse tipo de movimento não é eficiente para a trituração
da fibra da forragem.

A mastigação alterada pela redução dos movimentos laterais da


mandíbula, em intensidade e número, iniciou-se após a
imposição de mudanças nos hábitos alimentares naturais dos
eqüinos. As mudanças mais nocivas foram o encurtamento do
tempo de alimentação, aumento do intervalo entre as ofertas de
alimentos além da introdução de alimentos industrializados. A
primeira impôs ao eqüino a experiência da fome e suas
inconveniências, enquanto a segunda estimulou a ocorrência de
movimentos verticais da mandíbula, em detrimento dos laterais,
ocasionando falta de des gaste das pontas de esmalte.

Em que pese os efeitos da domesticação bem como a


necessidade de manejar eqüinos fora de seu habitat é possível
proporcionar a esses animais condições de mastigação isenta de
dificuldade e padecimento, desde que se exerça uma assistência
odontológica regular com predomínio de princípios preventivos
sobre curativos.

Quando a mastigação apresenta deficiência na excursão lateral


da mandíbula advém falhas nas etapas da quebra do alimento,
que se torna menos digerível6, predispondo não só às cólicas,
mas também às disfunções nutricionais. Além disso, fica
ameaçada a manutenção natural da eficiência dentária e, por
conseguinte da digestibilidade dos alimentos. Por esse motivo há
necessidade incontestável da assistência odontológica a fim de
interceptar um ciclo vicioso que pode produzir enfermidades
dentárias incuráveis, redução da vida útil, qualquer que seja,
limitação de performance e até óbito devido a indigestões.
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A deficiência de movimentos laterais e rostro-caudais2 durante a


mastigação constitui o mais freqüente distúrbio da mastigação,
sendo comumente devida às alterações no desgaste dentário
(pontas de esmalte, ganhos, rampas, ondas, etc.). Ainda pode
ser causada por problemas álgicos ou mecânicos nas
articulações têmporo-mandibular ou dos músculos masseteres e
pterigóideos.

O exame da mastigação apesar de muito importante, não tem


sido realizado completamente pela maioria dos profissionais. A
capacidade de mastigação deveria ser checada pela observação
visual dos movimentos mastigatórios concomitante a audição
dos sons durante a mastigação, pela palpação extra e intra-oral e
inspeção dos dentes e das fezes.

Os exames de excursão lateral da mandíbula e de oclusão


dentária são imperativos porque permitem estimar a eficiência
da capacidade de quebra dos alimentos durante a mastigação. A
oclusão ideal é a que garante o balanço biomecânico das forças
distribuídas em três áreas, ou seja, nos incisivos, nos molares e
nas articulações têmporo-mandibulares.

Considera-se desejável a excursão lateral em que as arcadas


incisivas em contato oclusal movem-se lateralmente (Fig.3) até
a distância igual a largura de um dente incisivo pinça, ou seja de
10 a 20mm, antes de se afastarem. Quando a excursão está nessa
faixa, o ângulo da tábua oclusal dos dentes pré-molares e
molares encontra-se dentro da faixa fisiológica (10o a 15o)7,
embora essa correlação possa variar com a idade do eqüino12.

Além da idade, outro fator que influi na excursão lateral da


mandíbula é o tempo de regime com alimentação artificial. Em
outras palavras, quanto menor o tempo de regime alimentar com
forragem, menor a excursão lateral da mandíbula, por sua vez
menor o des gaste dentário, maior a presença de pontas de
esmalte, menor a digestibilidade17. O regime alimentar que, com
o passar do tempo, diminui o desgaste não faz o mesmo com a

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erupção. A falta de oclusão além de dificultar o des gaste,


aumenta a erupção.

Figura 3 - Esquema das arcadas incisivas em oclusão e restrição da excurs ão


lateral.

6. Quebra do alimento tipo forragem - Na quebra do alimento


tipo forragem os dentes incisivos são responsáveis pela preensão
e corte, enquanto os dentes pré-molares e molares exercem o
esgarçamento, a trituração e o amassamento (Fig.4) das fibras,
condições necessárias para a exposição dos nutrientes estruturais
e daqueles presentes no protoplasma vegetal, aos processos
digestivos subseqüentes.

Trituração

Esgarçamento Amassamento

Figura 4 - Esquema das etapas da quebra do alimento tipo forragem pelos


dentes pré-molares e molares durant e o ciclo da mastigação dos eqüinos em
condições fisiológicas. Fonte: 17.

A quebra do alimento tipo forragem pode ser insuficiente quanto


a uma ou mais de suas etapas. A fibra pode ser esgarçada mas

não suficientemente triturada e amassada ou esmagada. Essa


realidade é freqüente e ocorre principalmente em eqüinos
portadores de pontas excessivas de esmalte dentário, as quais
limitam os movimentos laterais da mandíbula, alterando assim o

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ciclo da mastigação. Tal insuficiência está envolvida na


epidemiologia das indigestões que motivam cólicas. Além das
pontas excessivas de esmalte e outras condições dentárias, a
qualidade da forragem e o manejo alimentar podem influir na
suficiência ou não da quebra do alimento tipo forragem.

Tem sido consensual que as pontas de esmalte dentário que


alteram o ângulo de oclusão, influenciam negativamente à
trituração dos alimentos4,5,8,15,16. O ângulo de oclusão fora da
faixa fisiológica (entre 10o e 15o) está relacionado com redução
da digestibilidade18. Pesquisas visando comprovar o efeito da
correção de pontas discretas de esmalte dentário na
digestibilidade da forragem tiveram resultados divergentes17,18.
Contudo, os autores que não verificaram influencia da correção
das pontas na digestibilidade continuaram indicando a correção
das pontas de esmalte, mesmo que discretas, como prevenção de
possíveis anormalidades severas.

7. Período crítico para a mastigação - Durante os primeiros


cinco anos de vida do eqüino, concentram-se os fenômenos de
maturações, erupções, reabsorções e mudas dentárias (Quadro
1).

Durante essa faixa etária vinte e quatro dentes serão substituídos


ao mesmo tempo em que ocorrem múltiplas erupções8. Essas
ocorrências demandam periodicidade maior nas assistências
odontológicas, sendo necessário no mínimo um exame técnico
dentário a cada seis meses, já que existem maiores
possibilidades de distúrbios no curso desses fenômenos
múltiplos, associados e simultâneos.

Não é difícil supor que apesar de fisiológicos esses fenômenos


afetam o prazer de mastigar devido ao desconforto ou dor,
considerando o processo inflamatório em curso necessário e
envolvido nesses fenômenos. Porém, sob condições fisiológicas
o desconforto ou dor não impede que o animal mastigue.

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Quadro 1 – Idade de ocorrência dos fenômenos relativos as


erupções e as mudas dentárias nos eqüinos em condições
fisiológicas.
Dentes Temporários Permanentes
Incisivos
Pinças até a primeira 2 ½ a 3 anos
semana
M édios de 4 a 6 semanas 3 ½ a 4 anos
Cantos de 6 a 9 meses 4 ½ a 5 anos
Caninos ausente 4 a 5 anos (*)
Pré-Molares
Primeiros “ lobo” ausente de 5 a 6 meses (*)
Segundos até a segunda 2 ½ anos
semana
Terceiros até a segunda 3 anos
semana
Quartos até a segunda 4 anos
semana
Molares
Primeiros ausente de 9 a 12 meses
Segundos ausente 2 anos
Terceiros ausente 3 ½ a 4 anos
(*) Quando existir

Durante esse período, além dos fenômenos citados somam-se


ainda os efeitos da doma, experiência da primeira embocadura e,
não esporadicamente a introdução ou as exigências nas
competições. Esse somatório de eventos que se contrapõe ao
conforto da mastigação pode gerar diversas condições
patofisiológicas.

8. Sinais de problemas na boca e nos dentes - Diversos sinais e


sintomas podem acusar a presença de distúrbios orais e
dentários. Contudo é relevante salientar a freqüência elevada de
problemas na boca e nos dentes sem manifestação de sinais e
sintomas clínicos. Adicionalmente, também é importante
considerar que alguns eqüinos desenvolvem uma capacidade de

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se adaptar a determinados desconfortos, passando a sofrem em


silêncio. Além disso, é melhor que a assistência odontológica
preceda a presença de sintomas, uma vez que a manifestação
desses, na maioria dos casos, denota algum tipo de negligência à
assistência preventiva, bem como uma dificuldade crescente, já
estabelecida ou mesmo uma impossibilidade de recuperação
total isenta de seqüelas.

Nunca é demais repetir que o melhor tratamento é o preventivo,


de preferência na ausência verdadeira de sinais e sintomas. Para
isso, há necessidade da criação ou aumento da consciência
racional de pessoas que direta ou indiretamente se relacionam
com eqüinos. Faz-se necessário uma percepção aprofundada
sobre as implicações dos dentes com os aspectos da saúde e das
enfermidades, particularmente as de cunho gastroenterológico e
nutricional.

É importante conscientizar que a maioria dos tratamentos


dentários curativos em eqüinos é particularmente mais difícil,
demorado e mais oneroso, o que vai de encontro os objetivos
econômicos de empreendimentos qualquer que seja. Enfim, se
não há preservação da sanidade e eficiência dentárias não se
deve esperar que a genética e fatores de meio garantam pleno
êxito na utilidade possível dos eqüinos.
Os sinais mais comuns de problemas na boca e dentes são:
Ø Devolução de forragem parcialmente mastigada durante
a mastigação;
Ø Dificuldade de mastigar ou engolir;
Ø Salivação excessiva;
Ø Volume na bochecha causado pelo acúmulo de forragem;
Ø Grandes fragmentos de forragem ou grãos inteiros
presentes nas fezes;
Ø M ovimentos com a cabeça, podendo ser sacudir,
balançar ou inclinar e abaixar;
Ø M ovimentos com a língua sob a forma de torcer ou girar;
Ø Volume na borda ventral da mandíbula, nos ossos da
face com ou sem fístulas;
Ø Dificuldade respiratória por obstáculo nasal e sinusite;
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Ø Corrimento nasal sanguinolento, purulento, pútrido, etc.;


Ø Odor fétido na boca (halitose) ou narinas;
Ø M astigar, morder ou reagir contra a embocadura;
Ø Resistência ao comando pela embocadura para virar ou
parar;
Ø Limitação ou queda da performance;
Ø Perda de peso ou dificuldade de ganho;
Ø Cólicas por compactação;

M uitos eqüinos não apresentam qualquer sintoma de doenças


dentárias até que ocorram intensas mudanças dentárias. Apesar
da perda de peso constituir um possível sinal de problemas
dentários, é bom considerar que é comum ocorrer, a não ser que
a doença dentária seja grave e crônica6. Assim sendo, a presença
de boa condição física não é motivo para dispensar a
necessidade de exame e tratamento dentário.

9. Conseqüências da dor - A dor é uma sensação de desprazer


que acarreta no indivíduo um estado de alerta e defesa, não
raramente também pânico. Embora eticamente inadmissível, a
dor até certo ponto pode representar defesa orgânica. Por outro
lado sua nocividade pode resultar em transtornos e prejuízos
orgânicos e até óbito.

Em relação a dor de dente (odontalgia), deve se considerar sua


particularidade, pela proximidade com o cérebro e o potencial
de memorização traumatizante. Isto é, indivíduos que tiveram
experiências com a resposta de um estímulo algogênico agudo e
intenso em áreas sensíveis dos dentes, passa a temer algo mais
que a própria sensação dolorosa.

Sendo o desgaste corretivo de pontas o procedimento dentário


mais comum em eqüinos, é oportuno considerar que ele pode
ocasionar desconforto ou dor, em particular se além das pontas
de esmalte for desgastada também a dentina expondo seus
processos odontoblásticos não mineralizados, representados
pelos túbulos dentinais que se comunicam com a polpa dentária
rica em inervação sensorial.
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Um sinal de desconforto e dor devido ao desgaste dentário é a


presença de bruxismo até cinco dias após o desgaste. Esses
eqüinos geralmente recusam beber água fria imediatamente após
o tratamento, o que constitui também em sinal de dor de origem
dentária14.

Os eqüinos apresentam várias situações dentárias que acarretam


esse tipo de dor. Até os cinco anos de idade existe uma
concentração absoluta de situações que predispõem dor na boca
do eqüino. É principalmente por esse motivo, durante essa faixa
etária que ocorrem os desvios de comportamento e dificuldades
de ajustamentos à doma, treinamentos e trabalho.

Além das mudas dentárias que constituem motivos de


desconforto, outras situações de distúrbios e doenças dentárias
ocasionam dor que, certamente se intensifica durante a
mastigação e pela presença de embocadura recebendo o
comando de rédeas pelo cavaleiro.

Entre as situações que motivam dor podem ser citadas:


Ø Presença de capas com algum movimento durante a
mastigação8;
Ø Caninos longos, ganchos e pontas de esmalte ferindo
tecidos moles8, 6.
Ø Dentes de lobo em contato com a embocadura20, 8, 6.
Ø Fraturas dentárias e pulpites16.
Ø Periodontites e doença periapical6.
Ø Lesões profundas na dentina durante a correção de
pontas de esmalte14.
Ø Etc.

A dor manifesta-se de modo agudo e intenso em indivíduos


portadores de determinados distúrbios dentários quando das
práticas de mastigar o alimento e beber água. Naturalmente os
eqüinos não gostam de beber água fria, podendo inclusive em
determinadas ocasiões rejeitar beber ou, beber menos que
beberia se a temperatura fosse mais elevada. Essa questão da

19
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ingestão de água é muito relevante pois está implicada em várias


possibilidades de distúrbios digestivos e metabólicos.

A questão da água fria ganha uma relevância maior se o eqüino


é portador de um problema dentário e, abruptamente
experimenta a dor aguda quando bebe água. Imediatamente, por
autodefesa, é possível que ele interrompa a ingestão de água e
passa a evitar novas experiências com aquela dor, evitando
beber água, o que implica em ameaça ao equilíbrio hídrico. Essa
ocorrência inclusive, cria a possibilidade de evoluir uma
compactação digestiva com manifestação de cólica16.

Em resumo, distúrbios dentários que levam ao padecimento de


dor podem acarretar prejuízos pela dificuldade de comer e de
beber, devendo ser salientando que na maioria dos casos há
dificuldade para a percepção clínica, pois os déficits são de
pequena grandeza, contudo são cumulativos, sendo os prejuízos
só considerados quando consumados. Outro fato a ser
considerado é a dificuldade maior de controle da ingestão de
água, em relação ao de alimentos.

10. Bibliografia

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Distúrbios decorrentes de correções


odontológicas inadequadas.
Dr. Luiz Fernando Rapp de Oliveira Pimentel
MV - Autônomo
luizrapp@unisys.com.br
1.Introdução.
2. Oclusões funcionais ideais.
3. Conseqüencias de distúrbios de oclusão com efeitos sobre o aparato mastigatório
-Desordens do complexo dentes - periodonto e cavidade oral:
3.1.Periodontite e alargamento do espaço periodontal.
3.2. Fraturas dentárias.
3.3. Alteração da lamina dura.
3.4. Reabsorção radicular.
3.5. Ulceração e laceração oral.
4. Conseqüências de distúrbios oclusais com efeitos sistêmicos.
4.1. Perda da eficiência mastigatória.
4.2. Aumento da pressão e estresse sobre a articulação temporo-mandibular (ATM)
4.3. Estresse sobre a coluna vertebral e alterações na dinâmica postural.
5. Distúrbios decorrentes de correções odontológicas inadequadas.
5.1. Desgaste seletivo incompleto.
5.2. Perda de ajuste oclusal entre incisivos e a tábua de molares e pré – molar.
5.3. Desgaste excessivo de incisivos.
5.4. Desgaste excessivo de molares e pré – molares.
5.5. Perda do limite vertical oclusal
5.6. Exodontias inadequadas.
. Primeiro pré-molar (“dente do lobo”).
. Exodontia de dentes decíduos entre 2 e 5 anos de idade.
. Exodontia de dente permanente entre 2 e 5 anos.
. Exodontia após 5 anos.
6. Conclusão.
7. Agradecimentos.
8. Bibliografia.

1. Introdução - O acesso a informações e novos aparelhos


odontológicos promoveu consideráveis avanços na área de
odontologia eqüina no Brasil, na última década. Ao mesmo
tempo, a popularização de “fazer a boca” por práticos e
profissionais pouco familiarizados com técnicas adequadas de
correção coloca em risco a credibilidade da odontologia eqüina
no Brasil.

23
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Mini-curso de Odontologia Eqüina - 28/07/2004 - Indaiatuba - SP.

O tratamento oclusal por desgaste seletivo das arcadas do eqüino


é um grande desafio durante o atendimento odontológico, onde
o objetivo é conseguir a oclusão funcional ideal. Alguns dos
distúrbios aqui relacionados são resultados de observações de
desgastes inadequados e evolução de casos atendidos nos
últimos quatro anos.

Algumas patologias dentárias podem ser resultantes de diversas


etiologias, sendo desta forma, muito difícil definir qual é o real
agente(s) desencadeador(es) do processo patológico. Porém,
observa-se alta incidência de distúrbios odontológicos
decorrentes de correções por desgaste seletivo inadequado, onde
não se obteve sucesso na obtenção da oclusão funcional ideal. O
diagnóstico correto do distúrbio de oclusão é fundamental para o
planejamento e sucesso da terapia a ser instituída7,2,8. A falha
diagnóstica predispõe a ocorrência de iatrogenia, cuja incidência
tem se tornado freqüente e suas conseqüências podem até
colocar em risco o futuro do paciente eqüino4.

Inicialmente serão relacionados os distúrbios ligados a oclusões


funcionais não ideais. A seguir serão indicados quais os tipos, as
causas e as conseqüências observadas de correções
odontológicas inadequadas.

2. Oclusões funcionais ideais - Oclusões funcionais ideais são


caracterizadas por uma interação harmoniosa entre os dentes, o
periodonto, as articulações têmporo-mandibulares e sua
musculatura associada16.

O sistema mastigatório inteiro possui um padrão neuromuscular


estável; se assim não fosse, desordens funcionais poderiam
ocorrer mesmo que por discretas interferências oclusais24.

O contato oclusal é um dos fatores importantes na estabilização


dos dentes. Ele impede a extrusão dos dentes e mantém a
harmonia das arcadas. O trauma oclusal é resultante da
prematuridade do contato da superfície de oclusão de uma
região dentária quando ocorre o movimento de fechamento da
24
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boca16. Também se observa que exodontia sem o devido


acompanhamento no pós-cirúrgico, onde ocorre a extrusão da
superfície oclusal do dente antagonista, pode gerar desarmonia
oclusal20. A desarmonia oclusal pode gerar diferentes tipos de
efeitos sistêmicos, particularmente digestivos no eqüino, devido
a perda da eficiência mastigatória3,7. Serão enfatizadas as
disfunções do complexo dentes-periodonto e outros efeitos
sistêmicos causados por correções odontológicas incorretas.

3. Conseqüências de distúrbios de oclusão com efeitos sobre o


aparato mastigatório - Desordens do complexo dentes -
periodonto e cavidade oral:

3.1. Periodontite e alargamento do espaço periodontal - O


trauma oclusal, conseqüente da prematuridade, pode ser um dos
fatores que levam ao alargamento do espaço periodontal, à
formação de bolsas e abscessos. As bactérias das bolsas podem
ser comprimidas nos tecidos traumatizados, que apresentam
metabolismo e resistência diminuídos, aumentando assim a
possibilidade de infecção nesses tecidos enfraquecidos com
formação de abscessos21.

Normalmente, o aumento do espaço periodontal é causado por


periodontite. Entretanto, a oclusão traumática pode causar
alargamento no espaço do ligamento periodontal16.

Observa-se uma alta incidência de periodontite onde o


tratamento oclusal por desgaste seletivo no eqüino não
promoveu a oclusão funcional ideal20. O processo iatrogênico
tem evolução semelhante a doença periodontal clássica: -
acúmulo de alimento - inflamação – hiperemia – edema – perda
do tecido de sustentação – perda óssea, infecção periapical e
finalmente a perda do dente3,4,14.

3.2. Fratu ras dentárias - É observada alta incidência de fraturas


dentárias sagital palatina, lingual e vestibular e de fraturas
mesial proximal e distal nos locais de prematuridade iatrogênica
acentuada. Em processos crônicos, a extrusão da superfície
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oclusal antagonista pode deslocar o ponto de contato prematuro


para a hemiface oposta, predispondo a região a novas fraturas
dentárias.

Observa-se com freqüência fraturas antigas do primeiro ou do


segundo dente molar provocando uma desarmonia oclusal tão
intensa que ocorrem fraturas em região semelhante do outro lado
da arcada20. Dentes que apresentam hipoplasia de cemento
apresentam maior possibilidade de fraturas sob ação do trauma
oclusal3. A impactação de alimento nos locais de fratura
favorece o desenvolvimento de doença periodontal 3,14.

3.3. Alteração da lamina dura - Uma resposta adaptativa à


sobrecarga oclusal é o aumento na densidade da lamina dura,
observada como sinal radiográfico, que pode resultar em
esclerose óssea16.

3.4. Reabsorção radicular - Pode estar associada a trauma


oclusal16. Foi observado que des gaste seletivo de superfícies
oclusais inadequados, com conseqüente potencialização da
prematuridade e trauma oclusal, pode favorecer a reabsorção
radicular. A reabsorção radicular é constatada através de estudo
radiográfico no local, onde se detecta a presença de
prematuridade e trauma oclusal intensos 20.

3.5. Ulceração e laceração oral - Úlceras e lacerações


localizadas na cavidade oral podem ser resultado de diferentes
etiologias12. De interesse são as causadas por desordens oro-
bucal. Suas causas são as pontas protuberantes localizadas no
aspecto vestibular de molares e pré-molares da maxila. Com
menor freqüência, as lesões podem estar localizadas na língua
devido a pontas protuberantes no aspecto lingual de dentes
molares e pré-molares da mandíbula2,8,13. Essas lesões podem
ser potencializadas, nos casos em que os aparelhos usados para o
desgaste seletivo das pontas são curtos e sem angulação
adequada para a arcada do animal, sendo provocadas ainda por
esses aparelhos quando utilizados sem o cuidado necessário e
sem proteção para a cavidade oral20.
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4. Conseqüências de distú rbios oclusais com efeitos sistêmicos

4.1. Perda da eficiência mastigatória - Uma mastigação


eficiente inicia e auxilia a digestão. A boa mastigação resulta em
estímulo para secreção salivar e formação do suco gástrico16. A
mastigação eficiente é um pré-requisito essencial para a digestão
bacteriana no cólon e ceco7,14.

A presença de anorexia, falta de preensão, distúrbio da


mastigação, perda de peso, impactação de esôfago, síndrome de
abdômen agudo e diarréia afetam a digestibilidade. A perda da
eficiência mastigatória e seus efeitos sobre a digestibilidade
serão discutidos durante este mini-curso e durante o VI
Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária.
Serão citadas apenas os tipos de correções odontológicas
inadequadas e as possíveis causas que poderiam afetar a
digestibilidade.

4.2. Aumento da pressão e estresse sobre a articulação


têmporo-mandibular (ATM) - É bem estabelecido que a dor ou
limitações físicas originadas na ATM restringem a abertura
normal da boca e a preensão efetiva do alimento10,14. Incisivos
longos e excessivamente angulados aumentam a resultante de
força sobre a ATM provocando estresse e dor. A ATM é a
articulação com o maior número de terminações nervosas e
proprioceptores de todo o corpo e está relacionada com o
equilíbrio dos movimentos de todo o eqüino10,15. Nestes casos
pode ser encontrado reflexo doloroso à apalpação da região da
ATM 20.

4.3. Estresse sobre a coluna vertebral e alterações na dinâmica


postural - Os músculos cervicais não participam diretamente da
função mastigatória. Estes músculos têm origem na base do
crânio e são necessários para a estabilidade e permitir o
movimento controlado da mandíbula 12,16.

Em humanos está bem estabelecido que distúrbios de oclusão


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provocam mudanças na dinâmica postural devido a alterações na


distribuição do estresse sobre a coluna cervical1,18,19,25. Em
eqüinos, relatos indicam que podem ocorrer alterações na
dinâmica postural conseqüentes a distúrbios de oclusão15.

Têm-se observado animais portadores de alterações associadas a


contraturas e espasmos musculares20. Isto tem influência direta
na performance atlética. Foram observados vários animais que
não conseguiam flexionar a região da nuca, mais precisamente a
articulação atlanto-occiptal. A flexão ocorria entre C2 e C3 e a
articulação atlanto-occiptal permanecia estendida. Estes animais
apresentavam distúrbios de oclusão importantes na transição
molar e pré-molar ou entre o primeiro e segundo molar com
presença de prematuridade e trauma oclusal. Em alguns casos a
presença de sensibilidade dolorosa estendia-se desde a região
cervical até a lombar.

Processos dolorosos de origem oro-facial são descritos por


acupunturistas veterinários como causa de dor e alteração na
dinâmica postural na região lombar13. Após tratamento
adequado e conseguida a oclusão funcional ideal, foi observado
o desaparecimento dos processos dolorosos nas regiões cervical
e lombar.

5. Distúrbios decorrentes de correções odontológicas


inadequadas:

5.1. Desgaste seletivo incompleto - Causado pelo uso de


aparelhos de des gaste curtos e sem angulação adequada. O
desgaste seletivo de pontas e superfície oclusal ocorre até o
primeiro molar superior e inferior. Não houve sucesso na
obtenção da oclusão funcional ideal20. As conseqüências são:

Ø Agravamento da desarmonia e trauma oclusal podendo


gerar desordens no complexo dentes - periodonto,
posturas anormais e espasmos e contraturas na região
cervical15,16,20; aparecimento ou não de cicatrização de
úlceras de contato;
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Ø Processos infecciosos crônicos podem evoluir para


abscessos e fistulas16;

Ø Dificuldades de preensão e mastigação, com redução da


digestibilidade e perda de peso16.

5.2. Perda da sincronia de ajuste oclusal entre incisivos, pré -


molares e molares - Causada pelo desgaste de pré–molares e
molares sem a adequada redução de altura de incisivos15,22,23. As
conseqüências são:

Ø Oclusão molar e pré-molar muito reduzida (abaixo de


30%) e desenvolvimento de um modelo anormal de
mastigação. Ao invés do movimento latero-lateral oval,
ocorrerá um movimento oval para cima e para baixo.
Este tipo de mastigação anormal favorece a retenção de

Ø muito mais alimento na boca devido à dificuldade em


mastigar. Isso poderá aumentar a chance de ocorrer a
impactação de alimento ao redor e entre os dentes da
superfície oclusal dos dentes pré-molares e molares,
levando ao aparecimento de desordens do complexo
dentes – periodonto23;

Ø Redução da angulação da mesa oclusal do dentes


molares e pré–molares (normalmente está entre 10 e 15
graus)3,4, 20;

Ø Redução da digestibilidade e perda de peso 3,4;

Ø Síndrome de abdômen agudo, impactação de esôfago3,4;

Ø Dor na articulação temporo-mandibular e músculos


masseter levando à dispreensão14,15;

Ø Alteração na dinâmica postural devido a miocontraturas


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nas regiões cervical e lombar10,13,20.

5.3. Desgaste excessivo de dentes incisivos 20,22,23 - Podendo


promover diastemas entre os incisivos superiores e inferiores e
sobrecarga oclusal constante de molares e pré–molares quando a
arcada está em repouso trauma oclusal excessivo em molares e
pré-molares predispondo a desordens do complexo dentes –
periodonto e redução do movimento caudo-rostral da mandíbula
levando a dismastigação e perda de peso.

5.4. Desgaste excessivo de dentes pré-molares e molares -


Devido ao uso excessivo de motores elétricos e grosas com alto
poder de des gaste 6,26 e a não observação do ângulo normal (10-
15°) de molares e pré–molares 20. As conseqüências são:

Ø “Síndrome da Boca Lisa”. Perda da capacidade de


trituração devido ao polimento e alisamento da
superfície oclusal. Disfunção mastigatória, perda de
peso, impactação de esôfago e síndrome cólica 20.

Ø Redução excessiva do ângulo normal de molares e pré-


molares, que se torna menor que 10 graus (“Síndrome da
boca Plana”). Disfunção mastigatória, redução da
digestibilidade, impactação de esôfago e síndrome cólica
20
;
20
Ø Estresse excessivo na ATM ;

Ø Pulpite devido ao uso de motores elétricos sem


resfriamento adequado6,26. A pulpite tende a evoluir para
infecção periapical 14,26;

Ø Desgaste excessivo e danos à dentina devido ao uso


intenso de lâminas maciças carbide, podendo provocar
morte de odontoblastos 6,26.

5.5. Perda do limite vertical oclusal – Devido ao desgaste


seletivo desigual de molares e pré-molares. As hemifaces
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direita e esquerda tornam-se assimétricas16,20,22,23. As


conseqüências são:

Ø - Deslizamento lateral da mandíbula e perda da


estabilidade oclusal16,20 ;

Ø - Desordens do complexo dentes – periodonto e


reabsorção óssea16,20;

Ø - Dor crâniocervical16,20.

5.6. Exodontias inadequadas - A avaliação da patologia que


acomete o dente deve ser cuidadosa e criteriosa. No caso de
dentes permanentes, um completo estudo radiológico é
fundamental. Quando a exodontia de um dente permanente é
realizada, ocorrerão mudanças que poderão alterar o equilíbrio
oclusal de todas as arcadas. Considere a possibilidade de
tratamentos conservativos e um novo estudo radiológico irá
determinar a real necessidade da exodontia. Porém, em casos de:
processos infecciosos e necróticos crônicos, com
comprometimento dos ligamentos periodontais e lamina dura; de
fraturas no aspecto mesial, palatino, vestibular ou lingual, onde
há lesão irrecuperável de raiz, a exondontia não deve ser
protelada 5,6.

. Primeiro pré-molar (“dente do lobo”) - Devido ao uso de


instrumentos inadequados (ex.chave de fenda) para exodontia e
motores elétricos para desgaste 20, ou de instrumental não estéril,
além falta de cobertura antibiótica, após a exodontia 20. As
conseqüências são:

Ø Não ocorrerá a cicatrização local. O fragmento de dente


continuará exposto e o estímulo causado pelo contato da
embocadura no local continuará afetando a condução
normal do cavalo20 ;

Ø Lacerações na gengiva, gengivite e periodontite11.

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. Exodontia de dentes decíduos entre 2 e 5 anos de idade -


Conseqüente de exodontia de apenas uma face oclusal6,11. As
conseqüências são:

Ø - Retenção do dente decíduo da face oclusal antagonista


e perda do equilíbrio oclusal.Em pré-molares pode
ocorrer pulpite do dente definitivo devido à impactação
do dente decíduo. Não ocorre a muda, devido a falta de
estímulo adequado da face oclusal antagonista11;

Ø - Deslocamento dorsal do palato mole devido à


impactação do dente decíduo 6,9,11 ;

Ø - Perda de peso repentino, síndrome cólica impactação


de esôfago. Nestes casos, não foi realizada a exondontia
dos dentes decíduos no quadrante em questão e os
dentes molares e pré-molares apresentam contato oclusal
apenas em um ponto dos pré-molares decíduos que estão
retidos9,11,16.

. Exodontia de dente permanente entre 2 e 5 anos - Neste caso,


o distúrbio ocorrerá em dentes difiodontes devido à falta de
acompanhamento periódico após a exodontia 20. Também se
deve considerar a ausência de cobertura antibiótica pré cirúrgica.
As conseqüências são:

Ø Perda da harmonia oclusal de todas as arcadas;

Ø Retenção do dente decíduo da face oclusal antagonista


com possibilidade de desenvolvimento de cisto de
retenção20;

Ø Úlcera, abscesso e fístula na mucosa vestibular devido ao


deslocamento do dente decíduo retido20;

Ø Dispreesão, dismastigação afetando a digestibilidade.

Ø A perda da harmonia oclusal pode alterar a dinâmica


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postural, provocando mialgia e miosite, o que afeta a


condução normal do cavalo20 ;

Ø Infecções sistêmicas devido à falta de cobertura


antibiótica pré-exodontia na presença de processos
infecciosos crônicos. Foram diagnosticados casos de
pneumonia e endocardite infecciosa20.

. Exodontia após 5 anos - A falta de acompanhamento periódico


após a exodontia. A velocidade de extrusão da superfície oclusal
antagonista à da exodontia é potencializada devido à ausência de
contato oclusal. Em alguns casos foram até três vezes mais
rápido que o normal20. Também deve-se ressaltar a importância
de cobertura antibiótica pré-cirúrgica. As conseqüências são:

Ø Perda da harmonia oclusal, prematuridade e trauma


oclusal, levando a desordens do complexo dentes -
periodonto 16,20;

Ø Alterações da dinâmica postural, contraturas e espasmos


musculares da região cervical e alguns casos da região
lombar 20;

Ø Desenvolvimento de infecções sistêmicas 20.

6. Conclusão - Os distúrbios decorrentes de correções


odontológicas inadequadas são resultantes da perda da harmonia
oclusal funcional, falhas no diagnóstico, desconhecimento das
características morfo-funcionais do aparato mastigatório do
eqüino, pouca familiaridade com técnicas de des gaste seletivo
de superfícies oclusais e exodontias e suas conseqüências. O uso
de aparelhagem inadequada é o principal motivo que pode

provocar a perda da harmonia oclusal funcional.

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7. Agradecimentos

Ø Prof. Dr. Geraldo Eleno Siveira Alves, MV.


Ø Equipe de Cirurgia Ortognática - Dr. Marcos Pitta e Dr.Gustavo
Motta.
Ø Marco A. Gallo, MV e Érika C. Mutro, MV - radiologistas
especializados em eqüinos.
Ø Samantha Korbivcher, MV – CHSA.
Ø Romeu Macruz, MV, Palologista – JCSP.
Ø Yara Anverso e Érika Occhinri Albertin, Cirurgias Dentistas.
Ø Ortovet Instrumentos, Equipamentos e Assessórios Veterinários.

8. Bibliografia

1. Al-Abbasi, H.; M etha, N.R.; Forgione, A.G.; et al. The effect


of vertical dimension and mandibular position on isometric
strength of the cervical flexors. Crânio, v.17, p.85-92,1999.

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3. Baker, G.J. Abnormalites of wear and periodontal disease. In:


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1999, p.74-78.

4. Crabil, M .R.; Schumacher, J. Pathophyology of acquired


dental diseases of the horse. Vet. Clin. North Am. Equine Pract,
v. 14, 293-294, 1998.

5. Dixon, P.M . Dental extractions in horses: indications and


preoperative evaluation. Comp. Vet. Contin. Educ., v.19, p. 366-
375, 1997.

6. Dixon, P.M . Dental extraction and endodontic thecniques in


horses. Comp. Vet. Contin. Educ., v.19, p. 626-636, 1997.

7. Easley, J. Equine dental development and anatomy. Am.


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8. Easley, J. Dental and oral examination. In: Baker, G.J.;


Easley, J. Equine Dentistry. Philadelphia: Saunders, 1999, p.
107-26.

9. Easley, J. Equine tooth removal (exodontia) In: Baker, G.J.;


Easley, J. Equine Dentistry. Philadelphia: Saunders, 1999, p.
220-35.

10. Fleming, P. Acupuncture for musculoskeletal and neurologic


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A.M . Veterinary Acupuncture – Ancient Art to M odern
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11. Gaughan, E.M . Dental surgery in horses. Vet. Clin. North


Am. Equine Pract., v. 14, 381-397, 1998.

12. Getty, R. Sistema digestivo do eqüino – Dentes In: Anatomia


dos Animais Domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro: Interamericana,
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13. Harman, J.C. Mouth pain. In: Schoen, A.M . Veterinary


Acupuncture – Ancient Art to M odern M edicine. S. Louis:
M osby, 1994, p. 613.

14. Konettenbelt, D.C. The systemic effects of dental disease In:


Baker, G.J.; Easley, J. Equine Dentistry.Philadelphia: Saunders,
1999, p.137.

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Horse & Bitting Journal, v.4, p.15, 2003.

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19. Nobili A.; Adversi R. Relationship between posture and


occlusion: a clinical and experimental investigation. Cranio,
v.14, p.274-285, 1996.

20. Pimentel, L.F.R.O., Informação pessoal. 2004.

21. Ramfjord, S.P.; Ash, M . Oclusão. São Paulo:Interamericana,


1989, 237p.

22. Rucker, B.A. M odified procedure for incisor reduction. Am.


Assoc. Equine Pract., v.41, p. 42-44, 1995.

23. Rucker, B.A. Incisor procedures for field use. Am. Assoc.
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24. Schullger, S. Periodontia – Fenômenos básicos, tratamento e


inter relações oclusais e restauradoras. São Paulo:
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25. Shimazaki, T. et al. The effect of occlusal alteration and


mastigatory imbalance on the cervical spine. Eur. J. Orthod.,
v.25, p.457-63, 2003.

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scanning electron microscopic study. J. Vet. Dentist., v.20, p.
19-27, 2003.

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Mini-curso de Odontologia Eqüina - 28/07/2004 - Indaiatuba - SP.

Aspectos fisiopatológicos e terapêuticos das


odontopatias adquiridas: doenças periapical,
periodontal e infundibular.
Profa. Geane Maciel Pagliosa
MV, MS.
Escola de Veterinária - UFMG
geanepagliosa@zipmail.com.br

1. Histórico da odontologia eqüina..


2. Morfofisiologia odontológica eqüina.
2.1. Fórmula dentária.
2.2. Tecidos dentários.
2.3. Dentes incisivos.
2.4. Dentes pré-molares e molares.
2.5. Biomecânica mastigatória.
3. Doenças periapical, periodontal e infundibular.
3.1. Doença periapical.
3.2. Doença periodontal.
3.3. Doença Infundibular.
4. Bibliografia.

1. Histórico da odontologia eqüina12- Em M edicina Veterinária


a odontologia eqüina foi a primeira a ser praticada e a única até
a metade do Séc. IXX. O primeiro registro data de 600 a.C., na
China, onde se descreveu a estimativa da idade dos eqüinos
pelos dentes incisivos.

Na Grécia, em 384-322 a.C., além da estimativa da idade,


descreveu-se também a doença periodontal e, algum tempo
depois no Séc. IV, a extração de dentes caninos, bem como
técnicas cirúrgicas em tecidos moles orais.

No início do Séc. XIII a odontologia eqüina foi especialmente


praticada na Europa Central. No entanto, os motivos principais
eram:

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Ø O conhecimento limitado para o diagnóstico e tratamento


de doenças do trato digestivo, concentrando-se na
cavidade oral devido ao fácil acesso;
Ø Facilitar o treinamento de eqüinos através da extração
dos caninos e incisões no diastema objetivando
promover a “sensibilidade” dos eqüinos aos comandos
de embocadura;
Ø Promover sangria por meio de incisões no palato para o
tratamento de afecções orais ou orgânicas;
Ø Fraudar a idade de eqüinos através do des gaste dos
incisivos.

Até o Séc. XIII os procedimentos odontológicos preventivos


eram raros, limitando-se ao des gaste dentário. A partir de 1762
com a criação da Escola de Veterinária de Lion, na França,
iniciou-se a prática mais técnica da odontologia eqüina.

Em 1805, alguns veterinários condenavam a cauterização da


palatite em eqüinos, caracterizando o procedimento como uma
barbárie. No entanto, em 1914, Luiz de M erillat em seu livro
Animal Dentistry and Diseases of the Mouth, além de indicar a
cauterização da palatite, descreveu também a amputação parcial
da língua e a repulsão dentária sem anestesia, apesar da primeira
cirurgia dentária em eqüinos sob anestesia já ter sido realizada
em 1847.

A maioria dos procedimentos dentários até o Séc. IXX era


realizado por mestres ferradores, os quais se intitulavam
“dentistas de cavalos”. As primeiras escolas de odontologia
eqüina localizavam-se nos Estados Unidos, entre 1880 e 1895 e
formavam os chamados “práticos”. Porém, com a criação das
faculdades de veterinária essas escolas foram extintas e os
cirurgiões veterinários passaram a se dedicar ao tratamento
dentário de eqüinos a partir do Séc. XX. Desde então, a
odontologia eqüina começou a desenvolver-se de forma mais
científica. Em 1930, o alemão Erwin Becker revolucionou o
tratamento de pontas excessivas de esmalte dentário, com o
desenvolvimento da grosa elétrica.
38
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Entre 1979 e 1998 foram defendidas as primeiras teses em


odontologia eqüina. Em 1981, Evans, Tate e LaDow da
Universidade da Pensilvânia desenvolveram o método de
extração dentária por bucotomia lateral e a partir da década de
noventa, foram realizadas pesquisas nas áreas de morfofisiologia
dentária, biomecânica mastigatória e técnicas de extração
dentária que promoveram avanços importantes na odontologia
eqüina.

A maioria dos trabalhos científicos publicados atualmente é


americana e existem várias escolas de formação técnica em
odontologia eqüina nos Estados Unidos e Europa. A odontologia
eqüina, apesar de ser a mais antiga na medicina veterinária, teve
um desenvolvimento lento devido ao empirismo dos práticos e a
falta de estudos científicos até o século XX.

Atualmente, a prática da odontologia eqüina está limitando-se


cada vez mais aos médicos veterinários e envolvendo um
interesse crescente no desenvolvimento de pesquisas científicas
na área.

2. Morfofisiologia odontológica eqüina - Os eqüinos possuem


dentes morfologicamente diferentes entre si – heterodontes –
denominados segundo sua ordem rostrocaudal em incisivos (I),
caninos (C), pré-molares (PM ) e molares (M ). A nomenclatura
dentária eqüina possui alguns termos específicos devido a
particulares da espécie.

Alguns termos são:

Ø Hipsodonte - Coroa longa, onde uma parte localiza-se


acima da gengiva (coroa clínica) e outra abaixo da
gengiva (coroa de reserva), emergindo à medida que o
dente erupciona.
Ø Elodontia - Erupção contínua que segue uma dinâmica
de dois a três milímetros por ano.

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Ø Anisognatia - Diferente largura entre a mandíbula e a


maxila o que impede a justaposição perfeita entre os
dentes pré-molares e molares maxilares e mandibulares.

2.1. Fórmula dentária


Dentes decíduos
2 (3/3 Incisivos, 0/0 Caninos, 3/3 Pré-molares, 0/0 M olares) =
24 dentes.
Dentes permanentes
2 (3/3 Incisivos, 1/1 ou 0/0 Caninos, 3/3 ou 4/4/ Pré-molares,
3/3 M olares) = 36 ou 44 dentes, dependendo da presença de
caninos ou dos primeiros pré-molares (dentes de lobo).

Os dentes decíduos dos eqüinos são morfologicamente


semelhantes aos dentes permanentes sendo, no entanto, mais
claros. A troca dentária (Quadro 1, pág. 14) envolve uma
dinâmica de erupção do dente permanente, cuja formação é
auxiliada pela utilização do material inorgânico reabsorvido da
porção distal do dente decíduo até que este torne-se bastante
pequeno, quando passa a ser denominado de capa. A capa é o
resquício do dente decíduo e desprende-se do alvéolo quando o
dente permanente emerge na gengiva.

2.2.Tecidos dentários - A superfície oclusal dos dentes dos


eqüinos combina propriedades de elasticidade e plasticidade
diferentes, proporcionadas pela inter-relação dos três tecidos
dentários: o esmalte, a dentina e o cemento (Quadro 2).

O esmalte é a substância mais resistente do organismo e, no


eqüino, está disposto em pregas e invaginações formando
irregularidades na superfície oclusal, o que aumenta e facilita o
atrito e a abrasão. O esmalte é mais espesso nas áreas de maior
pressão mastigatória, que correspondem à borda bucal da
superfície oclusal dos dentes pré-molares e molares maxilares e

à borda lingual da superfície oclusal dos dentes pré-molares e


molares mandibulares13. A orientação das invaginações de

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esmalte divide a dentina oclusal em áreas menores, protegendo-a


do desgaste excessivo. Os dentes pré-molares e molares
mandibulares possuem três invaginações de esmalte, duas na
face lingual e uma na face bucal, enquanto os dentes pré-
molares e molares maxilares, com menos invaginações, dispõem
de dois infundíbulos que igualmente subdividem e protegem a
dentina10.

Quadro 2. Composição dos dentes dos eqüinos.


Tecidos Composição inorgânica Composição orgânica
98% 2%
Esmalte Cristais de hidroxiapatita Principalmente
queratina
70% 30%
Dentina Principalmente cristais de Água, fibras colágenas,
hidroxiapatita mucopolissacarídeos
65% 35%
Cemento Principalmente cristais de Água, fibras colágenas
hidroxiapatita
Fonte: 10.

A dentina envolve a polpa e é o tecido dentário mais abundante.


Os túbulos dentinais abrigam prolongamentos dos odontoblastos
presentes na polpa dentária e formam uma unidade estrutural
dentino-pulpar10. A dentina é o único tecido ativo da superfície
oclusal, sendo responsável pelas atividades de reparo dentário e
obliteração da polpa durante a erupção constante do dente,
depositando dentina secundária sintetizada a partir dos
odontoblastos13.

Estudos em odontologia humana comprovaram que a dentina


também é responsável pela percepção da dor. A polpa dentária
em humanos possui um sistema sensitivo interligado aos túbulos
dentinais. Estímulos físicos ou térmicos na superfície oclusal
promovem uma movimentação de fluído nos túbulos dentinais
que estimula os nervos pulpares11.

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A dentina do dente hipsodonte possui túbulos dentinais


calcificados e outros abertos na superfície oclusal, podendo
também ter função sensitiva, à semelhança da dentina oclusal
humana13,11. Existe uma relação íntima entre esmalte e dentina
onde essa dissipa a força de pressão durante a mastigação
através de sua matriz mais elástica. Por outro lado, a resistência
do esmalte protege a dentina contra o desgaste excessivo.

Nos eqüinos, o cemento situa-se na periferia e no infundíbulo da


superfície oclusal secundária dos dentes pré-molares e molares e
é um tecido vivo somente na porção subgengival, onde os
cementoblastos são nutridos pela vasculatura do ligamento
periodontal. Com a erupção, os cementoblastos perdem seu
aporte vascular fazendo do cemento da coroa clínica um tecido
inerte10. Assim como a dentina, o cemento também protege o
esmalte de possíveis fraturas.

2.3. Dentes incisivos - Possuem a função de corte e preensão.


Quando deciduos são mais claros e possuem um infundíbulo
mais largo e superficial que o dos dentes permanentes, que
erupcionam na borda lingual.

Os dentes incisivos são curvados convexamente em sua borda


labial e uniformes da superfície oclusal, não possuindo a furca
como os dentes de carnívoros. No entanto, devido ao seu
estreitamento em direção ao ápice, o formato da superfície
oclusal se modifica com a erupção e des gaste. Da mesma forma,
o ângulo de oclusão entre os incisivos se modifica ao longo do
tempo.

A superfície oclusal dos dentes incisivos possuem uma


invaginação de esmalte na superfície oclusal coberta de cemento
– infundíbulo – que, quando des gastado forma um pequeno anel
de esmalte na superfície oclusal – marca. Rostral ao
infundíbulo, existe uma área de dentina secundária – estrela
dentária – que preenche a da polpa dentária à medida que o
dente erupciona.

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O formato da superfície oclusal, o ângulo de olusão, o


infundíbulo e a estrela dentária dos dentes incisivos são
utilizados como parâmetros para estimar a idade de eqüinos.

2.4. Dentes pré-molares e molares - Os dentes pré-molares


(PM ) e molares (M ) são recobertos de cemento coronal à
erupção. O atrito e a abrasão desgastam o cemento e expõem o
esmalte e a dentina coronais formando a superfície coronal
secundária, que constitui a unidade funcional do dente
hipsodonte13.

Os dentes PM e M da mesma arcada têm dimensões semelhantes


formando uma fileira dentária contínua que funciona como
unidade funcional10, mas os dente PM e M mandibulares são
menores e retangulares que os dentes PM e M maxilares.

Os dentes PM e M maxilares possuem cinco cavidades pulpares


e três raízes, duas pequenas e laterais e uma maior e medial,
enquanto os dentes PM e M mandibulares possuem duas raízes
de igual tamanho, uma rostral e outra caudal e duas cavidades
pulpares principais10. As raízes dos dentes PM 4, M1, M 2 e M 3
se alojam no seio maxilar.

A superfície oclusal dos dentes PM e M maxilares possui dois


infundíbulos, de mesma característica estrutural do infundíbulo
dos dentes incisivos. A superfície oclusal dos dentes PM e M
mandibulares não possuem influndíbulo.

Devido a anisognatia, a justaposição entre os dentes PM e M


maxilares e mandibulares é incompleta, o que contribui para a
formação de um ângulo oclusal de 10 a 15 graus com o plano
horizontal10.

2.5. Biomecânica mastigatória - A morfologia da articulação


têmporo-mandibular do eqüino permite uma movimentação
lateral mandibular suficiente para promover uma força
considerável durante a trituração. Devido à movimentação

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lateral, a pressão maior durante o ciclo mastigatório ocorre no


sentido transversal e medialmente nos dentes pré-molares e
molares2. Conseqüentemente, os músculos mastigatórios
masséter e pterigóide medial são mais desenvolvidos no eqüino,
ao contrário da musculatura temporal, que é menor2.

O ciclo mastigatório no eqüino pode ser subdivido em quatro


fases - abertura, fechamento, impacto e atrito e retorno -
(Figura 2, pag. 9), definidas pelo deslocamento mandibular2. A
fase de impacto e atrito (IA) é a que gera maior força durante a
mastigação e ocorre primeiro no sentido transversal e medial. A
conformação dos dentes pré-molares e molares e do palato
promove a movimentação do alimento em espiral em direção à
orofaringe, enquanto é triturado alternadamente na arcada
dentária.

O tipo de alimento influencia a biomecânica mastigatória.


Alimentos volumosos, que demandam maior trituração,
estimulam o movimento lateral da mandíbula, enquanto
alimentos concentrados estimulam uma movimentação
verticalizada9. O tipo de dieta parece influenciar também a
freqüência mastigatória que pode variar de 62 a 103 movimentos
por minuto para feno e capim, respectivamente10.

3. Doenças periapical, periodontal e infundibular - Essas


doenças destacam-se na odontologia eqüina pela dificuldade de
tratamento e, muitas vezes, pela necessidade de extração
dentária. Essa pode resultar em desequilíbrios funcionais nas
arcadas dentárias, exigindo tratamento odontológico freqüente
para a manutenção do equilíbrio funcional das mesmas.
Portanto, o conhecimento da fisiopatogenia das doenças
periapical, periodontal e infundibular é fundamental para evitar
suas ocorrências e possíveis perdas dentárias.

3.1. Doença periapical - É uma afecção do ápice dentário e


tecidos adjacentes podendo acometer os dentes incisivos, pré-
molares (PM ) e molares (M ) maxilares e mandibulares8.

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Os sinais clínicos variam de acordo com a idade do eqüino e o


dente afetado, sendo freqüente emagrecimento, cólicas por
impactação, queda de alimento durante a mastigação, halitose,
epífora e problemas de adaptação à embocadura15,14. O sinal
clínico mais evidente é o aumento de volume facial ou
mandibular assimétrico, com ou sem corrimento nasal ou
fístula18. M enos freqüente, a doença periapical dos dentes
incisivos, caracteriza-se por alteração da cor do dente afetado e
aumento de volume gengival coincidente com a raiz afetada7. A
doença periapical pode ser primária ou secundária

A doença periapical primária, também chamada de infecção


periapical, é de origem bacteriana e acomete principalmente
eqüinos na faixa etária de cinco a sete anos. Os dentes mais
afetados são o PM 3, o PM 4 e o M 1. A enfermidade está
associada à erupção e a rizogênese dos dentes permanentes,
quando se tornam susceptíveis à infecção hematógena por
anacorese18.

A doença periapical secundária tem origem de afecções nas


estruturas relacionadas ao ápice dentário. As afecções nessas
estruturas podem desencadear condições fisiopatológicas que
propiciam a evolução até o ápice dentário, entre elas os dentes
decíduos retidos, o diastema, as pontas excessivas de esmalte
dentário, a gengivite, a doença periodontal, a doença
infundibular, entre outras.

Os dentes decíduos retidos, denominados capas, retardam a


erupção do dente permanente em desenvolvimento, podendo
acarretar inflamação periapical nos cistos de erupção, com
subseqüente infecção periapical e osteíte alveolar15. As capas
também podem deslocar-se, levando à laceração da mucosa
bucal e gengivites5.

O diastema é uma alteração mais comum em eqüinos velhos,


onde o desgaste e a erupção criam um espaço variável entre os
dentes, devido ao estreitamento do dente em direção ao ápice7.

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O acúmulo de alimentos nesses espaços predispõe à gengivite e


doença periodontal que pode evoluir para a doença periapical.
As pontas excessivas de esmalte dentário, resultantes do
desgaste dentário irregular, limitam a mastigação e fazem com
que o alimento passe a ser mal triturado, às vezes refugado
ouacumulado no espaço bucal, predispondo à gengivites
retrativas e doenças periodontal e apical14, 9.

A gengivite pode originar-se de qualquer uma das alterações já


citadas ou de situações que alteram a oclusão ou a biomecânica
da mastigação15. O alimento acumulado na margem e bolsa
gengival, cria acesso para a infecção atingir o periodonto e o
ápice dentário.

As doenças periodontal e infundibular serão descritas


detalhadamente a seguir.

A doença periapical também pode advir de fraturas dentárias


devido a traumatismos, especialmente nos dentes incisivos de
eqüinos jovens e fraturas iatrogênicas quando do corte de
ganchos nos dentes M 3 da arcada maxilar5. Na arcada
mandibular, a afecção pode evoluir após trauma na borda ventral
da mandíbula, delgada devido à distensão dos cistos de erupção
presentes em eqüinos com idade entre três e quatro anos7.

O trauma produzido pela embocadura sobre a gengiva e dentes


PM 2 constitui outro fator predisponente às doenças periodontal
e periapical19.

O diagnóstico deve basear-se na anamnese, no exame clínico e


na avaliação radiológica. Outras causas de aumento de volume
facial ou mandibular como fraturas patológicas, sinusite
primária, hematoma etmoidal progressivo e tumores, devem ser
considerados no diagnóstico diferencial4. Eqüinos de cabeça

pequena ou estreita, como das raças Árabe, P SI e pôneis na faixa


etária de três a quatro anos, podem desenvolver aumento de

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volume mandibular, causado por cistos de erupção dentária


aumentados7.

É importante ressaltar que o exame radiológico isoladamente


não é um método confiável para o diagnóstico de doença
periapical4. Pela radiologia, a doença periapical apresenta uma
área de radioluscência em torno do ápice do dente afetado, perda
da definição da lâmina dura, do contorno normal do ápice
dentário por lise e/ou esclerose óssea periapical19. Quando a
infecção atinge os dentes com raízes relacionadas ao seio
maxilar, sem a presença de fístula, o material purulento
acumulado produz uma imagem radiopaca16.

A escolha do tratamento depende do grau de comprometimento


do periápice e do dente como um todo. O tratamento
conservativo com antibióticos e/ou curetagem da região peri-
apical, pode ser estabelecido em casos de doença periapical
primária sem comprometimento da polpa dentária8. No entanto,
devido ao possível dano iatrogênico à vasculatura apical pela
curetagem e, por vezes, a necessidade de múltiplos tratamentos,
esse tratamento é pouco indicado8.

A apicectomia é indicada quando não há alterações na superfície


oclusal ou periodonto. Quando seguida de endodontia, a técnica
exige equipamento adicional e maior tempo cirúrgico que a
extração dentária7.

A extração dentária é a técnica mais praticada e eficaz 7,


especialmente em eqüinos portadores de doença periapical
associada a doença periodontal grave. As complicações podem
incluir fratura alveolar e danos a dentes adjacentes, sinusites,
fístulas permanentes, descarga nasal e calcificação das conchas
nasais17,18.

3.2. Doença periodontal - A doença periodontal ou periodontite


é uma conseqüência direta da gengivite bacteriana quando a

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infecção na bolsa gengival ou diastema progride através do


periodonto14.

A prevalência da periodontite aumenta com a idade, podendo


atingir até 60% dos eqüinos acima de 15 anos os quais,
geralmente, possuem erosões periodontais ou diastemas
decorrentes da erupção dentária5. Adicionalmente, eqüinos com
pontas excessivas de esmalte dentário, placas bacterinas,
irregularidades, fraturas, deslocamento ou perdas dentárias
também podem desenvolver a periodontite devido à formação de
diastemas ou gengivites pelo acúmulo de alimento na bolsa
gengival e ação bacteriana subseqüente5. Por outro lado,
periodontites são comuns em eqüinos jovens durante a erupção
dos dentes permanentes, mas, devido ao constante
desenvolvimento do periodonto nessa fase, a doença periodontal
normalmente não constitui um problema nesses eqüinos7.

A periodontite normalmente ocorre no espaço interdentário das


superfícies bucal dos dentes pré-molares e molares maxilares e
lingual dos dentes pré-molares e molares mandibulares5.
Clinicamente, animais com periodontite apresentam halitose,
hiperemia, edema, ulceração e acúmulo de alimento nas bolsas
gengivais e até necrose da gengiva2. Com a progressão da
doença pode ocorrer perda gengival, lise do osso alveolar e
queda dos dentes afetados2. O exame radiológico pode auxiliar
na avaliação do grau de comprometimento do periodonto e
estruturas adjacentes.

O tratamento da doença periodontal nos eqüinos baseia-se no


tratamento da causa primária e lavagens orais diárias. Na
ocorrência de perda significativa da gengiva e periodonto, um
tratamento que resulte em recomposição dessas estruturas é
desconhecido nos eqüinos2.

3.3. Doença infundibular - A doença infundibular, também


chamada de cárie ou infundíbulo patente, é a destruição

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domaterial inorgânico dos tecidos dentários pela ação de ácidos


provenientes da fermentação microbiana de um substrato,
normalmente carboidratos3 . A doença infundibular era também
chamada de necrose infundibular, mas esse termo entrou em
desuso após o estudo da microestrutura da superfície oclusal,
onde se constatou que o infundíbulo era formado de tecidos
inertes13.

A cárie pode desenvolver-se no infundíbulo dos dentes pré-


molares e molares ou em torno de um dente acometido de
doença periodontal3. A prevalência aumenta com a idade,
atingindo até 80% dos eqüinos com mais de 15 anos, nos quais o
dente M 1 é o mais comumente afetado5.

O infundíbulo dos dentes incisivos pré-molares e molares


maxilares é recoberto por cemento hipoplásico e inerte, envolto
por uma película de material orgânico13. As irregularidades do
cemento infundíbular hipoplásico deixam expostas áreas de
esmalte tornando-as susceptíveis à ação de ácidos oriundos da
fermentação microbiana. Uma vez que ocorra a dissolução do
cemento e do esmalte e considerando-se a incapacidade desses
tecidos em responder à agressão, esta pode se propragar através
do infundíbulo e da superfície oclusal3.

Clinicamente, a doença infundibular apresenta-se como uma


dissolução do material inorgânico do infundíbulo que se
apresenta enegrecido podendo também ocorrer fraturas dentárias
se a cárie acometer a região peridentária da superfície oclusal5.
A doença infundibular pode predispor a pulpite e a doença
periapical1. O tratamento da doença infundibular é a extração
dentária, mas o tratamento prostético pode ser utilizado nos
casos em que o infundíbulo não foi profundamente afetado21. No
entanto, devido à falta de um material de preenchimento
resistente ao desgaste decorrente do atrito e abrasão dentários e
à dificuldade de acesso de dentes mais caudais, o tratamento
prostético ainda é pouco utilizado em odontologia eqüina5.

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Técnicas e diagnósticos radiológicos de


odontopatias em eqüinos.
Dr. Marco Aurélio Gallo
MV - Autônomo
gallo_rx.vet@terra.com.br
1. Introdução.
2. Abordagem Radiográfica.
3. Parâmetros/Referências.
4. Imagens normais.
5. Anormalidades.
6. Conclusões.

1. Introdução - A importância hoje em dia do diagnóstico por


imagem como ferramenta de auxílio para o diagnóstico,
prognóstico e monitoramento dos problemas orais nos eqüídeos,
tanto para o clínico de campo, quanto para o especialista na área
odontológica. Indicações: solicitar o exame radiológico nos
casos de malformações congênitas ou adquiridas; alterações do
número ou de posicionamento dentário; processos infecciosos
dos dentes, mandíbula, seios paranasais; processos traumáticos;
disfunções oclusais; monitoramento pós-correção, trans ou pós-
operatório.

2. Abordagem Radiográfica - Equipamentos utilizados – os


aparelhos de raios-x portáteis, que trabalham em uma zona de 70
a 90 kV, já são suficientemente adequados para uma boa
abordagem radiográfica, no que se refere ao seu poder de
penetração e detalhe radiográfico, contudo, os aparelhos de
maior potência fixos (os de 100 até 150 kV ou mais potentes),
principalmente os presos no teto, facilitam e agilizam o
posicionamento radiográfico, melhorando ainda mais a
qualidade da imagem. A contenção ideal para o procedimento é
aquela que restringe ao máximo os movimentos de cabeça,
pescoço, língua, tosse, relincho, e outros, ou seja, aconselhamos
a sedação profunda ou ainda melhor, anestesia geral,
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principalmente para as técnicas oclusais. Em potrinhos pequenos


ou em mini-pôneis, podemos posicioná-los em decúbito lateral.

As incidências radiográficas mais utilizadas são as Látero-


Laterais bilateralmente, as Dorso-Ventrais ou Ventro-Dorsais, as
Oblíqüas bilateralmente e as Oclusais ou Intra-Orais, sendo estas
ultimas as ideais no transoperatório. Imagens com maior
penetração – radiografias mais escuras, melhores para avaliar
dentes propriamente ditos (o esmalte dentário que é a substância
mais radiopaca do organismo animal - hidroxiapatita) e as
técnicas com menor penetração – radiografias mais claras,
melhores para avaliação dos seios paranasais, osso nasal e
incisivo, arco zigomático ou ainda para técnicas oclusais
(visualização parcial/individual – hemi-arcadas).
A incidência Látero-lateral proporciona uma visão panorâmica,
enquanto que as incidências Oblíquas facilitam o
reconhecimento da arcada comprometida.
A visualização das lâminas duras dos dentes em estudo é o
principal sinal de saúde dentária, da arquitetura dentária
preservada. A sua ausência é o maior sinal de problemas.

3. Parâmetros/Referências - São os aspectos radiográficos


normais e referências anatômicas importantes, para os dentes e
estruturas correlacionadas como osso incisivo, osso nasal,
órbita, seios paranasais e mandíbula, entre outros.

4. Imagens normais - Dos incisivos, caninos, pré-molares e


molares de potrinhos, animais jovens e mais velhos
(apresentação destas imagens na tela).

5. Anormalidades - Imagens ilustrando bragnatia, prognatia,


polidontia, oligodontia, anadontia, microdontia, infecções
dentárias – processos periapicais, sinusites relacionadas a dentes
superiores, fraturas de mandíbula, tumores (alguns destes
conceitos serão elucidados nas projeções das imagens).

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6. Conclusões - A abordagem radiológica dos dentes e


estruturas relacionadas, para a espécie eqüina, assume
importante e singular papel no auxílio diagnóstico, na detecção
precoce ou tardia, dos mais variados problemas, direcionando e
monitorando o tratamento, aprimorando também o prognóstico,
na recuperação da função, da estética, estimando custos de
tratamento e finalmente como medida profilática, avaliando
riscos quando anormalidades são visualizadas.

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Técnicas de sedação, neuroleptoanalgesias e


anestesias necessárias aos diversos
procedimentos odontológicos em eqüinos,
com ênfase ao paciente idoso.
Dr. Paulo César de Carvalho Ferreira
MV, MS, Doutorando- FMVZ-USP.
pcdchdialise@aol.com

1. Introdução.
2. Sedações/ Fármacos.
2.1. Xilazina.
2.2. Romifidina.
2.3. Acepromazina.
2.4. Detomidina.
2.5. Opióides.
3. Condutas: Sedação e Neuroleptoanalgesia.
3.1.Sugestão.
3.2. O procedimento que adotei.
3.3. Segurança.
3.4. Outra situação: cavalo com bradicardia a ser sedado. O que fazer?
3.5. Outra situação
3.6. Animais indóceis.
3.7. O procedimento exige anestesia geral.
. Sedação.
. Indução.
. Recuperação da anestesia.

1. Introdução - O serviço de odontologia tornou-se uma grande


necessidade nos dias atuais, infelizmente a sua indicação
restringe-se às hípicas, onde os animais em sua grande maioria
são idosos. Entretanto em animais de hipódromo este serviço
ainda continua a ser realizado por auxiliares de veterinário
(enfermeiros) e muito pouco encaminhados á serviços
especializados. Sendo assim existe ainda uma grande população
que necessita destes cuidados e precisa ser assistida
adequadamente. Conscientizar, fomentar e instituir cursos nos
hipódromos do país, uma alternativa possivelmente eficaz para o
crescimento da odontologia eqüina. Aos colegas que se dedicam

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a esta especialização estão de parabéns e acredito que algum


conhecimento de anestesiologia é de suma importância para a

execução de seu trabalho. Desta forma abordaremos tópicos


relevantes da rotina, principalmente as sedações.

Já algum tempo trabalhando com anestesia de eqüinos, ao


executar sedações para tratamento dentário percebi que esta
atividade era de suma importância e deparei-me com muita
dificuldade para realiza-las. Portanto, quero desta forma
transmitir alguma experiência que obtive e revelar que sedações
para tais procedimentos já enquadrei entre as atividades mais
difíceis, que executei em anestesia de eqüinos.

A abordagem da cavidade oral exige que o animal esteja


devidamente contido, imóvel para submeter-se às manipulações,
estímulo doloroso, barulhos, abridor de boca e permitir
extrações e nivelamento das arcadas dentárias.

Quando o profissional agendar tais procedimentos é conveniente


considerar os cuidados pertinentes ao de uma anestesia geral, ou
seja, jejum, exame físico e exames laboratoriais. Sugiro que
consulte: Veterinary Anaesthesia, 10 ed. Hall,T. W. ; Clarke,
K. W. ; Trim, C.M . (2001), é uma boa referência para consultas
rápidas e seu aprimoramento, além de atualizada.

2. Sedações/ Fármacos - Os principais fármacos utilizados são:


∝ 2–agonistas (xilazina, romifidina, detomidina) e acepromazina.
A xilazina esta disponível nas concentrações de 2 e 10% e são
facilmente encontradas no mercado. Entretanto a romifidina e a
detomidina expiraram a sua fabricação no país. A Romifidina
pode ser adquirida em farmácias veterinárias que estocaram o
produto e em breve não será encontrada. Já a detomidina
possivelmente volte a ser comercializada por empresas de
importação em nosso país. A acepromazina é muito útil, porém
a sua eficácia para sedação esta ao redor de apenas 40 à 60% e
grandes restrições quanto ao emprego em machos. Quando

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utilizada nas associações com ∝ 2 -agonistas e opióides, pode se


obter êxito.

Quanto aos principais opiódes utilizados em eqüinos, aqui


merece um comentário importante, pois nesta espécie grandes
são os efeitos colaterais pela excitação, aumento da atividade
locomotora e pouca ação analgésica com os opióides.
Restringiremos ao uso do butorfanol e explicarei oportunamente
esta particularidade.

O cálculo da dose é muito importante e deve utilizar-se da


seguinte fórmula: V (ml)= dose (mg/kg) x peso (kg) :
concentração (mg/ml), isto é importante e deve ser considerado,
pois vários fármacos estão disponíveis em concentrações
diferentes como, acepromazina (0,2% e 1%) e xilazina (2% e
10%).

2.1. Xilazina - Considerada “Gold standart” para sedações em


eqüinos, além de possuir grande atividade analgésica e diminuir
a concentração de gases anestésicos inalatórios (CAM ). A dose
preconizada é de 0,5 – 1,1 mg/kg/IV (bolus), quando empregada
sob infusão contínua recomenda-se na dose de 0,55
mg/kg/hora/iV. O seu período de latência é de 2 minutos, o
início de efeito se da aos 5 minutos. A duração da sedação é de
aproximadamente 30 –60 minutos. Quanto aos seus efeitos
colaterais incluem: diminuição da motilidade intestinal, bloqueio
átrio-ventricular (BAV), diminuição do débito cardíaco (20-
40%), obstrução respiratória, aumento a sensibilidade ao toque
(coice) e colapso circulatório (animais excitados). A dose de
1mg/kg/IV às vezes leva á ataxia, cuidado.

2.2. Romifidina - Produz sedação sem abaixar a cabeça e menor


ataxia. A sua analgesia é questionável, acredita-se que seja dose
dependente (VOEGTI, 1988), porém há estudos que apontam
como destituída de efeito analgésico (HAMM ,1995). A dose é
de 0,04 – 0,12 mg/kg/IV. Diminui a CAM . Quanto aos efeitos

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colaterais: produz bradicardia, BAV, urticária (raramente),


diurese e sudorese.

2.3. Acepromazina - A sedação é muito variável, com


efetividade de 40-60% (sedação insuficiente), acredita-se que
possui atividade anti-dopaminérgica e portanto pode reverter e
prevenir excitações, principalmente conseqüente ao tratamento
com opióides. A dose é de 0,02- 0,1 mg/kg/ IV/ IM / PO.
Período de latência de 20-30 minutos (IM ), 10 minutos (IV).
Efeitos colaterais: antagonista-∝ 1(vasodilatação periférica /
hipotensão), taquicardia e exposição de pênis (o priapismo é
freqüente quando associado ao butorfanol). A acepromazina
apresenta efeitos anti-arrítmicos possivelmente pela sua ação
antagonista-∝ 1 .

2.4. Detomidina - É um excelente sedativo e analgésico, além de


absorvido pela via IV, IM , apresenta absorção pelas mucosas. A
dose de 0,002 mg/kg/IV, é similar à 1mg/kg/IV da xilazina. A
sedação de 60-70 minutos e a analgesia de 30 – 45 minutos.
Diminui a CAM , quando a anestesia geral for utilizada. Quanto
aos efeitos colaterais, observa-se o BAV (demora mais quando
comparado a xilazina ou romifidina), urticária (freqüente),
diurese, sudorese e abaixamento da cabeça; em relação ao efeito
abortivo há controvérsias, Katila (1988) considerou a
detomidina abortiva, mas Clarke (2001) concluiu mediante
estudos de que a detomidina não era abortiva.

2.5. Opióides - a utilização de opióides na espécie eqüina ainda


há dúvidas quanto aos seus benefícios, em virtude dos efeitos
colaterais como, agitação, excitação, aumento da atividade
locomotora e pouco ou nenhum efeito analgésico. Sendo assim
este tema foi motivo de uma matéria recente no “The
Veterinary Clinics of North America Equine – Pain
Management and Anesthesia. Simon Turner, v. 18, n. 1, april
2002.”

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O resultado desta revisão foi alarmante, concluiu-se que a


utilização de opióides para se obter efeito analgésico carecia de
evidencia médica, pois havia estrita margem de segurança entre
analgesia e excitação e potência analgésica de difícil
mensuração. Observou-se também que a xilazina foi mais
efetiva em todas as formas de dor e melhor que os opióides na
dor profunda.

Uma rápida explanação dos resultados obtidos neste estudo,


relatada para melhor conscientiza-los, exemplificando, a
analgesia dos opióides foi inconsistente quando a analgesia da
xilazina era comparada aos dos opióides. A analgesia da xilazina
sozinha foi similar a associação xilazina + morfina, xilazina +
butorfanol e xilazina + nalbufina. Desta forma concluiu-se que
não havia efeito sinérgico quanto a analgesia, quando o opióide
era associado á xilazina.

Entretanto a associação do ∝ 2 - agonista com o opióide


aumentava a sedação, diminuindo a interferência dos estímulos
externos (TAYLOR, 1988). Para aumentar ainda mais as nossas
dúvidas quanto ao tratamento com opióde nesta espécie animal,
as maiores autoridades da anestesiologia mundial citadas na
revisão supramencionada, relataram que a mensuração da
analgesia nos eqüinos é muito difícil e a metodologia atualmente
empregada ainda é muito obsoleta, o que poderia comprometer
os resultados obtidos.

Com toda esta dúvida é imprescindível considerar que a


utilização do opióide exige mais critério, não podemos dispensar
a sua utilização, porém não há evidência médica para o seu
emprego indiscriminado. Devo utilizar que opióde? Sugiro ainda
o butorfanol, quando necessitar de efeito sinérgico na sedação e
auxílio na contenção do animal. Quando necessitar de analgesia
faça o bloqueio regional com anestésico local.

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3. Condutas: Sedação e Neuroleptoanalgesia - Utilize como


primeira opção os ∝ 2–agonistas, xilazina, romifidina ou
detomidina.

Avaliar o efeito. Foi eficaz? Se a resposta foi negativa,


aumentando a dose do ∝ 2–agonista, obtenho melhores
resultados.

Não consigo atingir os meus objetivos, o animal não permite


manipulação ou abordagem com os equipamentos necessários.
Eu pergunto: - Dor ou agitação?

Faça o seguinte, diminua a abertura do abridor de boca,


interrompa o procedimento. A intercorrência cessou. Neste caso
faça os bloqueios com anestésico local e repita a sedação.

Ou a intercorrência continua quando interrompo o trabalho.


Possivelmente a agitação acomete este animal, uma alternativa
seria o tratamento com acepromazina, dose de 0,02- 0,04
mg/kg/IV, sua ação anti-dopaminérgica poderá ser útil nestes
casos.

Observo que os tratamentos realizados corrigiram a agitação,


porém quando inicio o procedimento o barulho o incomoda. O
que faço?

Uma opção seria a utilização do butorfanol, dose de 0,02 – 0,04


mg/kg/IV, o seu benefício foi valorizado nestas circunstâncias e
apresenta indicação nestes casos, quando breve revisão citamos
a ação dos opióides.

Uma pergunta freqüente. Qual seria o melhor sedativo ou


associação para se obter melhores resultados?

3.1. Sugestão - Eu prefiro a Xilazina, pois apresenta período de


latência curto e a duração do efeito também curta, pode ser
incoerente, mas se procedo a infusão contínua da xilazina

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(sedação contínua), consigo titular a dose e o efeito que o animal


necessita. O grande problema de aplicações repetidas em
“bolus” é a dificuldade de titular o efeito e ainda exponho o

animal a intercorrências mais graves como BA V, bradicardia,


ataxia, entretanto nas infusões contínuas isto é mais difícil, pois
a qualquer alteração ou interrompo a infusão ou diminuo a dose
da xilazina.

A sedação contínua com a xilazina não é invenção minha, este


procedimento apresenta evidência médica e está disponível na
literatura sugerida no início do texto.

O procedimento odontológico geralmente requer um tempo


prolongado de trabalho e exige uma sedação eficiente, as
técnicas de sedação são muitas, porém em qualquer livro texto
de anestesiologia veterinária elas estão descritas com muito
esmero, no entanto citar todas as técnicas seria uma cópia
autêntica e não é o objetivo desta explanação, neste caso optei
por descrever o meu procedimento na prática.

Quero lembrar que faço apenas a anestesia e vocês


possivelmente irão fazer as duas atividades, mas às vezes é
melhor dividir a responsabilidade com um colega,
principalmente quando a atividade requerer um tempo muito
prolongado.

As complicações nestes casos são freqüentes e gostaria de


conscientiza-los que vários foram os momentos que colegas
telefonaram no meu celular para retirar dúvidas e auxiliar em
problemas desagradáveis, como agitação e excitação que
abortaram o procedimento odontológico e o objetivo do trabalho
naquele instante, era apenas conseguir reverter a situação
desagradável e perigosa.

3.2. O procedimento que adotei - Avaliar o animal, sempre


realizando o exame físico antes durante e após o término do
procedimento. Antes de iniciar a sedação sempre que possível,
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instalo um cateter na veia jugular (prefiro a esquerda), acoplo


uma torneira de três vias e utilizo dois frascos (1000 ml) de
fluído, um para a xilazina e o outro para realizar a fluidoterapia.

A fluidoterapia é muito importante, uma vez que este fármaco


altera bastante a condição hemodinâmica do animal (diminui de
20 – 40% o débito cardíaco) e oferecer volume (~ 5 ml/kg/hora)
é o mínimo que o profissional pode realizar para manter a
segurança do trabalho e do paciente.

Calculo a dose de xilazina (0,5mg/kg) que vou administrar (V=


peso x dose : concentração do produto). Cavalo de 500 Kg, V=
500 x 0,5 : 100= 2,5 ml para as formulações de xilazina 10%,
caso a concentração da xilazina seja à 2% V= 500 x 0,5 : 20 =
12,5 ml.

Adiciono a xilazina ao frasco de soro (identificado xilazina) com


uma ampola de escopolamina – 20 mg (Buscopan simples),
anticolinérgico para evitar bradicardia grave. Após a sedação
inicial (primera dose) do animal bloqueio com anestésico local
(lidocaína) o forâmen infra-orbitário e mentoniano, aguardo 10
minutos e posteriormente o procedimento odontológico poderá
ser iniciado.

M antenho a infusão continua da xilazina, dose de 0,55


mg/kg/hora. Calculo a dose V= 500 x 0,55 : 100= 2,75 ml/hora
(1000 ml : 60 min=~17 ml por minuto ou 255 gotas por minuto),
o equipo macro-gotas 1ml = 15 a 20 gotas.

Iniciei a sedação continua com a xilazina (10%), acrescentei


2,75 ml ( cavalo de 500kg), volume este utilizado sempre que
decorridos uma hora de sedação.

A sedação continua possibilita titular o efeito desejado, logo o


comportamento e as condições do animal irão determinar o
melhor momento de iniciar a atividade proposta, a dose e
velocidade de infusão tornam-se bastante variáveis, aumento
diminuo ou interrompo a infusão. O paciente é que determina.
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Durante o procedimento procuro sempre avaliar: FC, pulso,


auscutação cardáiaca, presença ou não de ataxia. As alterações

de comportamento são freqüentes quando iniciado o


procedimento, posso aumentar a infusão da xilazina e observar
rapidamente se a alteração foi corrigida, caso contrário associo a
acepromazina (0,02 mg/kg).

A sedação é adequada, porém o barulho o incomoda. Sigo as


recomendações da literatura, utilizo butorfanol (0,02 mg/kg),
pois desliga o animal do meio ambiente.Cuidado, jamais utilize
qualquer opióide quando o animal estiver com sedação
insuficiente, poderá ser desastroso.

Observo a resposta caso seja positiva e permite o trabalho,


mantenho a infusão da xilazina (0,55mg/kg/hora) + butorfanol
(0,02 mg/kg/hora) no mesmo frasco de infusão. Lembre-se
existe um grande sinergismo na sedação quando desta
associação, logo é provável que a infusão possa ser diminuída.

3.3. Segurança - Condições inesperadas poderão surgir, como


agitação, excitação, ataxia. Sempre que deparar com qualquer
estas alterações, interrompa a infusão do sedativo, interrompa o
procedimento, afrouxe o abridor de boca. A cabeça esta içada
(erguida), abaixar.

A agitação cessou. Considerar a abertura do abridor de boca,


altura da cabeça ou presença de dor. Seguir a infusão com
xilazina.

Sugiro que mantenha a disponibilidade de alguns fármacos na


seringa para qualquer eventualidade: acepromazina (0,02
mg/kg), xilazina (0,3 mg/kg), escopolamina (0,04 mg/kg), para
aplicação em bolus.

M antenha-se presente e atento, jamais se ausente durante


qualquer fase do procedimento.

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Terminou o procedimento, sigo a fluidoterapia até que a sedação


e o comportamento do animal volte ao normal. Auscuto o

abdômen, pois a xilazina diminui a motilidade intetinal.


M edicação analgésica como anti-inflamatórios não esteróides
(flunixin meglumine, ketoprofeno), devem ser considerados.
Evitamos a fenilbutazona, existe casos freqüentes de impactação
de ceco em animais submetidos à anestesia.

Orientar a dieta até o dia seguinte, como restrição de


concentrado e mais oferta de fibras.

Antes de administrar qualquer alimento sólido, ofereça água


apenas. Cuidado com a obstrução esofágica, é comum na “gula”.

3.4. Outra situação: cavalo com bradicardia a ser sedado. O


que fazer? - Caminhe o animal, a FC esta agora normal. Qual
valor de FC devo considerar como bradicardia? Considere <30
por questões de segurança. Lembre-se alguns animais
apresentam uma condição onde isto significa preparo físico,
cavalo de enduro.

Nestes casos a minha conduta é a seguinte: antes de administrar


a xilazina, trato a bradicardia com escopolamina (20mg) + 1000
ml de fluido, auscuto o coração, mantenho a infusão até que a
FC atinja 32-36 bat / min. Interrompo a infusão e inicio a
sedação com xilazina (0,3 mg/kg/IV) + esopolamina (20 mg).
M antenho a monitoração da FC e a infusão contínua com
xilazina (0,3 mg/kg/hora).

3.5. Outra situação - O animal apresenta bradicardia persistente


e não remissível à escopolamina. Uma alternativa é a utilização
da eferina (0,05 –0,1mg/kg/IV) ou etilefrina ( 0,1 mg/kg),
diluída em fluído (1000 ml), auscute e mensure a FC, cessou a
bradicardia, considerar o emprego da xilazina se o animal é
macho. Caso contrário utilize acepromazina nas fêmeas, dose de
0,05- 0,08 mg/kg /IV, diluído em 1000 ml de fluido, aguarde 10
minutos, se necessário associar o butorfanol (0,02 mg/kg/IV).
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Quando a bradicardia é persistente, porém o ritmo é normal, a


sedação com xilazina associada à escopolamina é uma
alternativa viável, porém quando arrítmico considerar a
utilização da acepromazina. Em relação aos machos é prudente
enfatizar que se o procedimento é muito simples e uma sedação
rápida será o suficiente, a acepromazina poderá ser utilizada.

Entretanto se o procedimento exigir muito tempo, utilize a


associação acepromazina (0,02 mg/kg/IV) + escopolamina
(20mg) aguardar 10 minutos e posteriormente xilazina (0,3
mg/kg), ou opte por uma anestesia geral.

È muito radical? Cuidado a associação de acepromazina com


butorfanol aumenta consideravelmente os riscos de priapismo.
Lembre-se a duração desta sedação é relativamente curta, logo
serão necessários vários tratamentos.

3.6. Animais indóceis - Sedação inicialmente com acepromazina


(0,1 mg/kg/IV / IM ), aguardar 20 a 30 minutos em local
tranqüilo, posteriormente associar xilazina 1 mg/K g/IV, ou
detomidina (0,006 mg/kg/IV), aguardar mais 10 minutos. Se
necessário utilize butorfanol (0,02 mg/kg/IV). Instale um cateter
e mantenha infusão com xilazina (0,55 mg/kg/hora/IV), ou
detomidina (0,001 mg/kg/Ihora/IV).

Cuidado considere a qualidade da sedação para o procedimento


a ser executado, se oferece risco a única opção é a anestesia
geral.

3.7. O procedimento exige anestesia geral - O protocolo de


trabalho é similar quanto á sedação já descrita.

Exame físico - solicite anteriormente um hemograma, pois


alguns casos com indicação para anestesia geral, serão
submetidos à trepanação para extração dentária e existe
comprometimento dos seios nasais (sinusites), abscessos na
cavidade oral. Nestes casos será conveniente instituir a
antibioticoterapia anteriormente.
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Outra alteração freqüente é animais com hematócrito baixo (<


30%), e a cirurgia proposta poderá levar à hemorragia, sendo
assim disponibilidade de doadores de sangue, bolsa de coleta e
equipo apropriado deverão estar disponíveis. Tricotomia e
assepsia e instalar um cateter na veia jugular.

. Sedação - Xilazina (0,5 mg/kg/IV) + escopolamina (20mg),


diluídos em 1000ml de fluido.Ou romifidina (0,005 mg/kg/IV) +
escopolamina (20mg), diluídos em 1000ml de fluido.

Ou detomidina (0,002 mg/kg/IV) + escopolamina (20 mg),


diluídos em 1000 ml de fluido.

Sempre aplico os sedativos diluídos pois ocorre freqüentemente


sedações adequadas com metade da dose preconizada, sendo
assim desprezo o restante da medicação. Antes da aplicação de
qualquer fármaco executo o exame físico, se a FC< 30 bat/min,
trato com escopolamina (20 mg) diluída em 1000 ml de fluído e
acompanho a resposta da FC.

Quando a FC estiver dentro da normalidade (32-36 bat/min),


cesso o tratamento e inicio a sedação. Existe controvérsia á
respeito do tratamento da bradicardia em eqüinos, onde a FC
baixa é vantajosa e evita o aumento de consumo de oxigênio
pelo miocárdio e não existiria a necessidade do tratamento com
anticolinérgico associado aos sedativos. Acredito na veracidade
destes estudos, porém as maiores complicações em anestesia
geral de eqüinos, são relacionadas à hipotensão e ou
bradicardias severas e evoluem para assistolia e morte. Desta
forma prefiro tratar todos os meus pacientes, pois já perdi
animais nesta condição.

Quanto a escolha do anticolinérgico, prefiro a escopolamina (20


mg), pois é mais fácil de titular a dose e efeito que a atropina,
em geral quando a freqüência atingir níveis aceitáveis, você
interrompe a infusão e a FC continua subindo e taquicardia é
comum após a sua infusão de atropina e isto é indesejável.

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Esteja sempre vigilante em todos os momentos, de qualquer


procedimento onde fármacos da anestesia são utilizados,
interfira sempre que necessário em todas as complicações, pois
estes fármacos atuam no sistema nervoso autônomo (SNA).

Antes da indução higienizar a cavidade bucal.

. Indução - Antes, avaliar a FC, > 30 bat/min prossiga, < 30


bat/min trate com escopolamina (10 – 20 mg) corrigiu, prossiga.
Neste momento eu aplico etilefrina ou efedrina IM em todos os
meus pacientes, na dose de 0,05 – 0,1 mg/kg, pois diminui a
utilização de fármacos vasoativos durante a manutenção e a FC
mantém-se sempre dentro dos valores de referencia.

Éter gliceril guaiacol (EGG) á 5 – 10%, dose 100 mg/kg/IV,


sempre administrar através do cateter, pois flebites nestes
animais são graves e às vezes fatais. Utilize o EGG preparado
em farmácia de manipulação, este produto vendido no comércio
não é adequado para infusão parenteral, comumente
encontramos detritos sujeiras após o seu preparo e às vezes
ocorre alguma complicação durante a indução e culpamos
sempre o agente indutor, quetamina ou tiopental.

Durante a aplicação do EGG, o melhor momento para aplicação


do agente indutor é quando o animal abaixa a cabeça, aplique a
quetamina (2mg/kg) ou tiopental (4-5 mg/kg) e continue a
infusão do indutor. Posso associar a quetamina com o midazolan
(0,06 mg/kg) ou diazepan (0,04 mg/kg) e diminuir a dose da
quetamina para 1mg/kg e deixar o restante da dose para aplicar
se necessário.

A sonda endotraqueal a ser utilizada deverá estar devidamente


higienizada, o melhor agente para esta desinfecção na minha
opinião é a amônia quaternária. Utilizamos no Jockey Club de
SP o Duocide-Plus, durante 60 minutos, não precisa enxaguar
com água corrente. Todo o circuito do aparelho da anestesia
(traquéia corrugada e balão) deverá ser higienizado, pois a
contaminação destes com bactérias patogênicas são freqüentes.
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Cuidado com o abridor de boca e as alterações pré-existentes,


como fraturas; após a passagem da sonda pela traquéia infle o
“cuff”, em geral a assepsia para a cirurgia envolve lavagens da
cavidade oral e o risco do acesso à traquéia é grande e isto
poderá ser fatal no período peri-operatório.

Neste período é comum a superficialização anestésica, prefiro o


tratamento com a quetamina (0,1 – 0,3 mg/kg) em “bolus”, pois
aumentar a concentração do gás anestésico poderá levar até 10
minutos para a correção do plano de anestesia e acidentes
poderão ocorrer.

Isofluorano é a primeira escolha para animais idosos, porém o


halotano é viável. A ventilação inicialmente (15-30 minutos)
poderá ser espontânea e posteriormente mecânica. Utilize outro
acesso venoso, bem longe do campo operatório (veia safena),
pois o cirurgião poderá desacoplar a infusão ou retirar da veia
durante as manipulações.

M onitore a pressão arterial média (PAM ), canulando a artéria


metatarsiana lateral com cateter 20 ou 22G, acoplado ao kit de
monitoração da PAM e manômetro aneróide, mantenha a PAM
entre 70 – 80 mmH g. Cuidado com a monitoração do plano de
anestesia com a PAM , pois é comum o animal estar com a PAM
elevada e em planos profundos, isto pela reinalação do CO2 e
estimulação simpática. Neste caso a aplicação de qualquer
agente ou o aumento da concentração inalada poderá ser fatal,
logo monitore também o reflexo anal, mantenha-o sempre
presente (reflexo discreto).

A fluidoterapia durante a cirurgia é importante, mesmo que a


PAM esteja dentro dos valores de referência, uma velocidade de
infusão de fluido entre 5-10 ml/kg/hora é prioritário. Fármacos
vasoativos durante a anestesia é importante, pois facilita a
perfusão dos tecidos e evita complicações na RECUPERAÇÃO
(miopatia pós-anestésica). Eu prefiro a dobutamina, pois produz
vasodilatação arteriolar e deste modo auxilia a perfusão.
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O preparo da solução; 250 mg de dobutamina + 1000 ml de


fluído, administrar 50 a 200 gotas por minuto, ou 50 – 140 ml /
hora (equipamento de infusão).

Antes de iniciar a anestesia considere o bloqueio com anestésico


local da região a ser submetida á cirurgia.

Utilize cal sodada nova, se esquentar muito durante a anestesia


verfique a ventilação, pois é comum a ocorrência de miopatia
pós-anestésica nestes animais, adote a ventilação espontânea se
possível, pois às vezes é difícil monitorar o plano de anestesia e
os erros e complicações são freqüentes. Se utilizar ventilação
mecânica, adequar a ventilação mediante a hemogasimetria
arterial ou capnometria, mantenha o CO2 entre 40 – 43 mmH g.

Cuidado com a posição da cabeça do animal, soluções de


lavagem são utilizadas durante o procedimento e o acesso á
traquéia é possível e acidentes no período perioperatório, uma
complicação grave. Deixe a cabeça mais baixa que o restante do
corpo do animal.

. Recuperação da anestesia - Antes do término da anestesia,


realize o bloqueio anestésico com anestésico local da área
acometida. Administre antiinflamatório não esteróide (flunixin
meglumine ou ketoprofeno), a fenilbutazona evito pois
complicações como impactação do ceco são freqüentes após a
anestesia geral em eqüinos.

Prepare uma bandeja com todo material necessário para assistir


a recuperação, com xilazina (0,3 mg/kg), acepromazina (0,02
mg/kg), para corrigir a excitação e recuperação prematura da
anestesia. Coloque uma sonda endotraqueal fina (12mmm) com
um funil em sua extremidade para evitar que o animal não aspire
para a traquéia a sonda. A sonda é importante, pois às vezes
ocorre obstrução respiratória por relaxamento do palato mole ou
edema nasal e excitações neste momento levam a acidentes e

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prejuízo ao animal e toda equipe. M aterial de oxigênioterapia


deverá estar disponível na sala de recuperação.

Se a anestesia exigiu muita infusão de fármaco vasoativo,


considere o tratamento com fluido na recuperação, bem como
suporte vasoativo (dobutamina). Nestes casos mantenha a
monitoração da PAM , na recuperação, se possível não retire ao
final da cirurgia.

Finalizada a cirurgia não superficialize muito o plano de


anestesia para que a recuperação leve 45 60 minutos, isto evita
aplicações de sedativos e acidentes; abaixe a cabeça para
drenagem de líquidos e coágulos da cavidade oral, pois irá
certamente aspirar após a desinflação do “cuff”.

A recuperação excede 90 minutos, avaliar pulso se necessário


administre fluido antes de estimula-lo a levantar. Durante a
recuperação avalie o pulso, TPC e adote medidas de correção
precocemente. Neste momento está em decúbito e toda
intervenção é facilitada. Quando necessário, a recuperação
poderá ser abreviada com a aplicação de cafeína 20% (10ml) em
500ml de soluções energéticas (Stimovit, M ultivit, etc).

Recuperou da anestesia e esta em estação, avaliar a temperatura,


pulso, TPC, antes de abandona-lo na sala de recuperação.
Hipertermias neste momento são freqüentes em decorrência do
esforço para se levantar ou complicação no trans-operatório e o
seu diagnóstico às vezes só realizado quando este desenvolve
sudorese intensa, caracterizando um desleixo de toda equipe
envolvida.Grato pela atenção: Paulo César de Carvalho Ferreira.

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Principais avanços técnicos e indicações da


exodontia de pré-molares e molares em eqüinos.
Prof. Max Gimenez Ribeiro
MV, MS. Doutor
Centro de Ensino Superior de Maringá - CESUMAR - Maringá - PR
mgrvet@bol.com.br

1. Introdução.
2. Extração dentária:
2.1. Extração oral.
2.2. Pré-molares decíduos.
2.3. Dente de lobo.
2.4. Recalcamento / Repulsão.
2.5. Bucotomia.
3. Complicações.
4. Avanços técnicos na recuperação pós exodontia
4.1 .Poliuretana de mamona
4.2. Uso do Metilmetacrilato e Condicionamento Ácido -
5. Bibliografia.

1. Introdução - A doença dental, geralmente, não é


diagnosticada a tempo nos eqüinos a fim de evitar-se a perda de
peso, diminuição na performance e doenças sub-clínicas. É
importante destacar que as anormalidades dentais podem causar,
ainda, infecção dos seios paranasais, aumento de volume da
mandíbula e maxila, formação de abscesso, obstrução esofágica,
cólica e óbito22.

As doenças dentais mais significativas em eqüinos são a necrose


infundibular e as lesões periapicais. Estas doenças nos eqüinos
têm, geralmente, conseqüências mais severas e são mais difíceis
de serem tratadas, se compararmos com condições similares em

carnívoros domésticos. Em alguns casos, a terapia endodôntica é


possível, mas usualmente a extração do dente afetado é o
tratamento de escolha. Esta extração dental pode, no entanto,
provocar vários comprometimentos quando não é realizada
adequadamente, como: infecção alveolar, presença de

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fragmentos ósseos no alvéolo e seqüestro ósseo. Estes são


apenas alguns exemplos dos casos que podem causar formação

de fístula, que poderá permanecer por algumas semanas ou até


meses18.

Alguns dos mais importantes efeitos secundários à doença


dental estão relacionados aos pré-molares e a cavidade nasal, em
particular aos seios paranasais. Assim a sepse do pré-molar,
comumente resulta em outras infecções dos seios nasais e
paranasais, obstrução respiratória ou ambos4.

A doença periondontal é a forma mais comum de doença dental


em eqüinos, sendo ainda a forma inicial das patologias dentarias
mais graves. Gengivite marginal, hiperemia e edema ocorrem
inicialmente, seguidos de ulceração lateral da gengiva e
formação de um sulco triangular, onde material alimentar pode
se acumular, aumentando os processos de irritação, inflamação e
erosão; estes se estendem medialmente em direção à face lingual
e se aprofundam no tecido periondontal. Com o progresso da
doença, desenvolve-se um quadro de sepse alveolar, que é
indicativo de extração dentária.

A necrose infundibular ou cárie é uma doença do tecido


calcificado do dente, resultado da dissolução da porção
inorgânica do mesmo. Esta dissolução é acompanhada por
desintegração da porção orgânica, secundária à produção de
ácido resultante da fermentação de carboidratos por
microorganismos. A evolução desta necrose pode levar a osteíte
periapical, sepse alveolar e fratura patológica do dente. Os sinais
clínicos das afecções dentais dependem do dente envolvido,
aumento de volume, formação de fistula, sinusite e empiema
com descarga nasal podem ser evidentes. O segundo e terceiro
pré-molares são os mais afetados na arcada mandibular e o
terceiro pré-molar é mais acometido que o quarto pré-molar na
arcada maxilar4,18,22,29,30.

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O abscesso periapical do primeiro, segundo e ocasionalmente do


terceiro pré-molar ocorre em animais de cinco a oito anos. Este
abscesso geralmente ocasiona aumento de volume no maxilar e,

comumente, forma sinusite. Em alguns casos, a infecção


estende-se medialmente para a cavidade nasal, causando
formação de granuloma nasal com mau cheiro e descarga nasal
purulenta, sendo indicada à extração dentária nestes
casos10,18,29,30.

O abscesso periapical nos dentes pré-molares da mandíbula,


geralmente, envolvem os dentes terceiro e quarto pré-molares,
sendo menos freqüente no segundo pré-molar e primeiro molar,
e raramente no segundo e terceiro molares. Os sinais clínicos
geralmente observados são: espessamento e inchaço da
mandíbula na área afetada e dor local. Estes sinais normalmente
são seguidos do aparecimento de fístula purulenta externa10.

2. Extração dentária – A extração dentária em eqüinos tem sido


realizada e descrita na literatura há séculos. Inicialmente o
acesso para estas extrações era limitado à frente da boca, sendo
retirados apenas os dentes incisivos. Posteriormente observou-se
a necessidade de extração dos dentes pré-molares e molares,
sendo estes casos associados a complicações já comentadas:
severa doença periostal, dente supranumerário, doença
endodôntica com osteomielite secundária, sinusite secundária à
doença dental, e outras.

Os dentes pré-molares têm sido extraídos de cavalos com dois a


40 anos de idade com doença dentária.

2.1. Extração oral - Por muito tempo o método de escolha para


exodontia de pré-molar foi praticado via cavidade oral, em
eqüino quando portadores de afecção dentária e para sua
realização necessitava-se de instrumental adequado, como
speculo oral e extrator5,12.

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A extração oral é indicada nos casos onde se precisa vantagem


econômica, pois não é necessária anestesia geral. Esta técnica é
mais indicada em paciente idoso devido à pequena raiz que este
dente possui, ela é particularmente preconizada quando há

indicação da extração de múltiplos dentes, nos casos de extração


de dentes decíduos e extração do primeiro pré-molar superior ou
dente de lobo, como é mais conhecido. A técnica não é indicada
nos casos de evidência de cárie dental grave ou fratura,
especialmente em pacientes idosos, quando a extração pode
causar fratura do dente e, conseqüentemente a retirada
incompleta.

A extração oral é menos apropriada nos casos onde está presente


fístula entre o dente e o seio, em sinusite secundária a
anormalidades dentária onde é indicado realizar curetagem do
alvéolo, nos caso de infecção periapical de animais novos e
pacientes onde há possibilidade de ter mais de 30 minutos de
considerável trabalho para extrair o dente11.

2.2. Pré-molares decíduos - A extração de pré-molares


decíduos, ou de capas, deve ser realizada quando estes dentes
permanecem retidos, isto ocorre após as idades de erupção de
dentes permanentes. Os dentes 2º, 3º e 4º pré-molares decíduos
devem ter caído nas idades de 3, 3,5 e 4 anos respectivamente,
para então dar lugar aos dentes permanentes. A demora na troca
dos dentes decíduos pode predispor a gengivite, irritação
periodontal ou infecção alveolar. Esta demora é chamada de
capas impactadas.

2.3. Dente de lobo - O dente de lobo é um termo comumente


usado para descrever o primeiro pré-molar superior. Há uma
variação de 4 a 8% de erupção deste dente nos eqüinos. Sendo
que este erupção ocorre entre 6 a 18 meses de idade. Este dente
geralmente deve se localizar rostralmete ao segundo pré-molar,

mas ele pode em alguns caso deslocar lateralmente para dentro


da cavidade oral ou um pouco para frente.
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O dente de lobo pode causar alguns problemas de mastigação,


relata alguns autores, entretanto isto é difícil de acontecer.
Alguns autores e treinadores de raças que exigem da boca do
eqüino relatam que este dente muitas vezes atrapalha a

utilização do freio ou bridão. Sendo geralmente praticada sua


extração em animais novos. Para esta extração deve-se utilizar
elevador dental e extrator, sendo o animal sedado para facilitar o
procedimento.

2.4. Recalcamento / Repulsão - Recalcamento ou repulsão é a


técnica mais utilizada para extração dentária. Ela pode ser
recomendada para a remoção dos dentes quarto pré-molar,
primeiro, segundo e terceiro molares da arcada superior, todos
os pré-molares da arcada inferior e o segundo e terceiro molares
da arcada inferior, especialmente, nos casos de cáries avançadas
e fraturas dental, quando a extração oral não é possível.

O principal problema do recalcamento é a infecção alveolar, ela


está associada a fragmentos deixados no osso alveolar, e ocorre
em 47% dos casos de recalcamento dos dentes superiores e 35%
em outros dentes11,17.

Antes da cirurgia deve-se realizar uma radiografia lateral com


um marcador metálico dentro do sinus (se ele estiver presente)
ou no local onde se indica que está o dente afetado, com a
finalidade de não extrair o dente errado.

Para este tipo de procedimento de exodontia o animal deve ser


colocado em anestesia com intubação endotraqueal e realizados
cuidados para prevenir inalação de sangue e debris durante a
cirurgia.
Após marcar o local deve-se realizar uma incisão até o osso
mandíbula ou maxilar, sendo então realizada uma abertura óssea
com um trepano. Com a raiz do dente afetado exposta é utilizada

uma haste de metal de 12mm de diâmetro e um martelo


ortopédico. Assim com leves e seguidas marteladas na haste vai-
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se empurrando o dente afetado para cavidade oral, assim


extraindo-o.

2.5. Bucotomia - A técnica de extração dentária, envolvendo a


remoção do alvéolo lateral, foi descrita pela primeira vez em

1906 por M erillat, sendo modificada por Evans et al. 1981, que
incorporou a bucotomia a fim de obter melhor exposição do
dente afetado, modificada novamente por Ribeiro 2003, que
realizou uma janela óssea minimizando alguns efeitos
indesejáveis da butocomia tradicional.

Com a evolução dos sedativos e anestésicos, os procedimentos


odontológicos com anestesia geral têm-se tornado mais
populares, facilitando a realização e a escolha desta técnica
como método de exodontia dos pré-molares5,12.

A extração por bucotomia envolve incisão lateral da bochecha


para entrar na cavidade oral, seguida da remoção da parede
lateral do alvéolo com exposição do dente afetado. Esta técnica
é a mais indicada para acesso ao terceiro dente pré-molar do
maxilar e os dentes pré-molares da mandíbula.

A técnica modificada por Evans é realizada da seguinte maneira:


após ser preparado cirurgicamente o aspecto lateral da face, a
pele é incisada em forma elíptica, logo acima do dente a ser
extraído. Na seqüência, o músculo bucinador deve ser
divulsionado e afastado com o auxílio da pinça de Allis, para
possibilitar a visualização e incisão do periósteo do osso
mandibular. Deve-se preservar as veias e artérias labiais
mandibulares e maxilares. Após a incisão do periósteo, deve-se
fazer uma osteotomia da região lateral do alvéolo com ajuda de
uma serra óssea ou com martelo e osteótomo. Realizada a
osteotomia, a parte lateral do alvéolo é retirada e o dente é
extraído. Uma curetagem do alvéolo deve ser realizada. Deve-se
ter o cuidado para não deixar fragmentos do dente no alvéolo,
para tanto, é indicada a realização de uma radiografia no pós-
operatório. Deve se realizar sutura da gengiva, do periósteo,
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tecido subcutâneo e pele. No local do dente extraído é colocada


uma gaze que permanece por 72 horas3,5,11,12,13,17,23,26.

A técnica descrita por Ribeiro é a seguinte: sobre a área do dente


afetado executa-se uma incisão elíptica, a pele deve ser rebatida

dorsalmente, seguida da divulsão romba do músculo bucinador


com tesoura, sendo afastado o músculo lateralmente permitindo
assim a visualização e incisão do periósteo do ramo mandibular.
Durante o procedimento, as artérias e veias labiais,
mandibulares e maxilares devem ser preservadas. Com uma
serra circular adaptada à peça de mão de um motor de baixa
rotação ou uma serra óssea deve-se seccionar uma porção com
aproximadamente 30 mm X 30 mm da tábua vestibular da
mandíbula ou maxila e parede alveolar, com este procedimento
expõem o dente afetado. Utilizando a mesma serra deve-se
remover o ápice da raiz do dente e a seguir realizar a repulsão do
remanescente do dente em direção à cavidade oral, finalizando
sua extração37.

3. Complicações - As complicações de uma extração dentária


incluem: hemorragia, remoção errada do dente, lesão a
estruturas adjacentes como: seios para-nasais, osso alveolar,
dente adjacente, ducto nasolacrimal, ducto parotídeo salivar e
nervo facial. Complicações associadas à ferida cirúrgica incluem
deiscência de ferida, formação de fístula permanente em
conseqüência da remoção incompleta do dente, seqüestro ósseo,
infecção da gengiva e presença de corpo estranho3,5,11,25. As
complicações específicas da bucotomia são: danos às estruturas
vizinhas, como a artéria e nervo facial, ducto parotídeo e
glândula salivar, remoção incorreta do dente e dano excessivo
ao osso alveolar25.

4. Avanços técnicos na recuperação pós exodontia

4.1. Poliuretana de mamona - Um material utilizado na


recuperação óssea do alvéolo de eqüinos é a poliuretana de
mamona37. Este material é um polímero não tóxico e bioativo,
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com elasticidade similar ao osso humano. Ele resulta da adição


de dois componentes básicos: poliol e pré-polímero, ambos
obtidos por modificação do óleo da mamona ou óleo de rícino,
que é extraído da semente de mamona (Ricinus comunis)31.

Implantes de resina de mamona, de diferentes tamanhos e


formas, tem-se mostrado biocompatíveis em condições
experimentais diversas: intra-ósseo e intra articular em
coelhos20,31, em alvéolos de coelhos21,34,38, em alvéolos de
ratos8,13,24,39, em câmara anterior de camundongos39, em
implantes subcutâneos dorsais em ratos 9,, em córnea de
coelho28, como substituto parcial do tendão calcâneo comum em
coelhos36, com biocompatibilidade in vitro19; na reconstrução
de falhas ósseas em humanos e em alvéolo de eqüinos após
exodontia do terceiro pré-molar inferior 37.

Em estudo histológico da poliuretana de mamona implantada em


alvéolo de oito eqüinos após exodontia do terceiro pré-molar
inferior e biopsia após 120 dias, o autor revela que análise
histológica do material que preenchia o alvéolo revelou que este
é constituído, na sua maior parte, por tecido ósseo compacto ou
trabecular, ou por tecido conjuntivo fibroso maduro.

Em nenhum dos animais, evidenciou-se reação inflamatória


diretamente ligada à presença dos restos de poliuretana. O autor
conclui que a poliuretana de mamona é inerte, biocompativel,
quando implantada na cavidade alveolar, mostra osteointegração
e auxilia o preenchimento da cavidade alveolar por tecido
ósseo37.

4.2.Uso do Metilmetacrilato e Condicionamento Ácido - A


tecnologia dos adesivos progrediu muito nos últimos 25 anos,
devido a sua utilização em larga escala, impulsionadas também
pela imensa aplicação nas indústrias aeroespacial e automotiva.
Estas pesquisas contribuíram, notavelmente, para o
desenvolvimento de estudos na área odontológica.

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Em 1955 Buonocore desenvolveu uma técnica simples para unir


resinas acrílicas à superfície do esmalte dentário. O ataque ácido
e as resinas simples e compostas inicialmente foram propostas
para selar fissuras, atualmente são utilizada na restauração de
cavidades, aplicação tópica de flúor e cimentação.

O ataque ácido é realizado com uma solução de ácido fosfórico


sobre o esmalte, com a finalidade de criar microporosidades
para penetração de resinas fluídas que, após polimerização,
propiciam retenção e vedação marginal1,14,32. Basicamente, a
técnica de condicionamento ácido consiste na aplicação de ácido
orto-fosfórico na concentração de 30 a 50%, durante um a dois
minutos, sobre a superfície externa do esmalte. O ácido atua de
forma seletiva sobre a estrutura prismática do esmalte,
promovendo uma dissolução preferencial do centro da cabeça
dos prismas ou da periferia, originando uma superfície rica em
microporosidades.

O produto da dissolução do esmalte pelo ácido é um sal solúvel


que deve ser removido com água ou ar, com a finalidade de
deixar que a resina penetre nas microporosidades e polimerize
neste local. Este procedimento possibilita que a resina
polimerizada fique retida mecanicamente no esmalte6. Nos casos
dos animais é indicado também o ácido orto-fosfórico a 36%,
permanecendo de cerca de 15 segundos em cães, sendo lavado
abundantemente por 20 segundos e seco com ar comprimido15.
Em eqüinos foi utilizada por dois minutos, sendo também sendo
lavado abundantemente por 20 segundos, e seco com ar
comprimido37.

A técnica de utilização da resina de metilmetacrilato para


obliteração da abertura alveolar após exodontia foi realizada na
extração do terceiro pré-molar inferior, mas pode ser realizada
para qualquer dente extraído. Após exodontia a face distal do
segundo pré-molar e face mesial do quarto pré-molar devem ser
desgastadas levemente por meio de uma lixa odontológica fina,
seca com gaze ou algodão e, na seqüência, tratadas com ácido
por dois minutos, sendo lavado e seco o local apôs o tempo
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indicado. A seguir, o orifício alveolar do terceiro pré-molar deve


ser obliterado com resina de metilmetacrilato, formando uma
ponte entre as faces tratadas do segundo e quarto dentes pré-
molares e selando a cavidade alveolar completamente,
impedindo que o alimento adentre na mesma 37.

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