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A história do soldado que se tornou uma mulher

Por: Diana Maria Pachón (18 set. 2011)

Enquanto dormia, ele sentiu que a mão de um soldado deslizou por suas costas até pousar em
cima das calças. Ciro Velasco acordou, tentou se virar para dar um soco , mas o soldado o
segurou com todo o peso do corpo, cobriu sua boca com uma mão e com a outra começou a
descer a braguilha. Ciro tentou gritar. Procurou na escuridão algo para se defender, mas só
encontrou a poeira no chão.

Depois de descarregar as vontades contidas, o soldado se levantou e caminhou alguns metros


até desaparecer nas sombras. Ciro não foi capaz de dizer nada. Sentia medo. Cobriu o rosto e
começou a chorar. Não podia escapar, estava sequestrado com oitenta soldados e policiais em
um cercado de madeira, rodeado de cercas de três metros de altura construídas com arame
farpado.

No dia seguinte, não comeu. Viu como os guerrilheiros manuseavam as panelas que continham
lentilha e arroz. Viu seus companheiros de prisão fazer a fila com o prato na mão para receber
sua ração. O agressor ria com outros companheiros. Sentiu-se humilhado ao pensar que
estavam rindo dele.

Ciro, que agora é Sandra, suspende o relato. De uma estante de vime pega um maço de
cigarros e leva um aos lábios. É o sétimo cigarro da tarde.

Ciro , agora Sandra, suspende a fala . De uma estante de vime pega um maço de cigarros e leva
um para os lábios. É o sétimo cigarro da noite.

- Você não me entende. Ninguém me entende, só quem vive sabe como é isso. É o inferno ...
Nos três anos de cativeiro dormíamos com a roupa molhada . Sempre sentíamos frio.
Tínhamos fome e na maior parte do tempo estávamos doentes de gripe, malária e
leishmaniose . Além de tudo , por causa da falta de mulheres no acampamento, os soldados e
policiais desafogavam o tesão entre eles, na frente de todos , porque a casinha não tinha
paredes nem nada . Então os que podiam estar com alguém eram vistos pelos demais, e assim
foi que mais de um acabou violentado.
A fumaça enche o quarto de Sandra. No chão de ladrilhos marrons repousam as bitucas
queimadas. As paredes estão cobertas com fotos de sua filha Nancy, de dois homens que
foram seus amantes, e dela vestida de minissaia, na época em que lhe teve que trabalhar
como prostituta em Yopal. A cama tem uma colcha vermelha e a janela está coberta com uma
capa de estampa militar, o único objeto que conserva de sua passagem pelo exército.

Antes de ser Sandra e de prestar serviço militar, Ciro tinha uma namorada vinte anos mais
velha do que ele. Apesar da diferença de idade , ele a amava. Nunca pensou em ter algo com
alguém de seu próprio sexo. Jura fazendo a cruz na boca. Diz que se não a houvessem
sequestrado poderia ser um homem casado , com mais filhos e condecorações militares.

Em 1995, quando tinha 16 anos, nasceu sua filha, Nancy Edith Velasco. Ciro abandonou a casa
materna e foi viver com a namorada. Diante de uma nova família e sem dinheiro para a
comida, andava pelas ruas à procura de trabalho . Por ser menor de idade, ninguém o
contratava. Ao cumprir 18 anos, tampouco o empregavam porque não tinha carteira militar.
Em 1997 se alistou no exército. Esteve em San José del Guaviare , dali foi transferido para
Elvira , em Meta, e no final de julho de 1998, o levaram com um pelotão de mais de 20 homens
a Miraflores , Guaviare . Antes de sair, se despediu de sua namorada . Naquele dia, pela última
vez , beijou apaixonadamente uma mulher.

Partiu com a mochila de soldado, as botas calçadas e o cabelo cortado rente. Ciro prometeu
voltar mas não pôde cumprir sua promessa. Nunca regressou. Sua masculinidade ficou na
montanha e quando o liberaram em 2001, já havia se transformado em Sandra .

Em 3 de agosto de 1998, quando o presidente Ernesto Samper arrumava as malas para deixar
a Casa de Nariño e Andrés Pastrana estava para chegar ao palácio presidencial para governar o
país , Ciro Alfonso Velasco patrulhava na montanha com outros sete companheiros. Ele se
lembra que caminhavam sem lanternas para não alertar as FARC , que ameaçava tomar a
cidade . Escondido entre o matagal podia ver as luzes de Miraflores , na época considerado o
epicentro da luta contra as drogas na Colômbia.

Às oito horas da noite, uma explosão rompeu o silêncio. Mais de 600 guerrilheiros tomaram o
batalhão e a base anti-narcóticos . Duzentos soldados , que eram todos os que estavam no
meio urbano e rural, gastaram sua munição tentando impedir a passagem das FARC . A
diferença de homens era de três para um. Os guerrilheiros ultrapassaram o Exército .

Após o estampido seguiu-se um tiroteio que parecia vir de todos os lugares. Ciro ficou
atordoado e olhou em volta à procura do inimigo. Quando conseguiu controlar os nervos se
jogou no chão, se arrastou até uma pedra e esperou com um olho na mira de seu fuzil e o
dedo roçando o gatilho.

Um chute nas costas foi o aviso de que o inimigo estava mais perto do que pensava . Ao virar o
rosto, viu um guerrilheiro lhe apontando uma arma. Ele fechou os olhos à espera de descarga
que lhe destroçaria a cabeça. Não aconteceu . O guerrilheiro lhe ordenou que ficasse de pé.
Teve que apoiar-se com as mãos. Sentia que suas pernas estavam tão frouxas como dois
novelos de lã. O guerrilheiro o levantou pelo colarinho do uniforme e o jogou em uma fila em
que estavam vários dos companheiros com que fazia a patrulha, e outros que se achavam na
cidade. Pensava que os guerrilheiros buscavam o melhor local para dar o tiro de misericórdia.
No meio da mata, via soldados mutilados, corpos inertes, botas abandonadas e roupa
despedaçada. Nenhum dos mortos tinha mais de 23 anos.

Na madrugada chegaram a um rio. Ali havia dezenas de barcos tripulados por guerrilheiros. Em
um deles subiram Ciro e outros soldados. Navegaram por 24 horas, contracorrente, até chegar
a uma selva escura e úmida, cheio de cobras , macacos , aranhas e mosquitos. Caminharam
mais três dias, até chegar ao acampamento guerrilheiro . Ali os prenderam na cerca de
madeira rodeada por arame farpado.

O tempo passava em uma sucessão de sóis e luas . Cada dia parecia a repetição do anterior,
como se o tempo tivesse parado e os oitenta sequestrados estivessem condenados a repetir as
mesmas ações pelo resto de suas vidas. Para eles, o tempo se manifestava cada vez que lhes
cresciam as unhas, o cabelo e a barba. A Ciro não lhe cresceu a barba, mas o cabelo lhe
chegava na metade das costas. Por falta de comida emagreceu. Sua voz era a mais suave entre
todos os homens. Quando entrou no Exercito, os superiores lhe davam colheradas de açúcar
com pimenta, para que falasse com um tom mais grave. O remédio não surtiu efeito. Parecia
uma mulher no meio dos homens. Era o mais magro , o mais vulnerável.

- Era fácil que os "mancitos" me pegassem por trás e me tivessem, você pode imaginar como.

Sandra joga um ponta de cigarro acesa que cai no pé de sua cama. Pega outro cigarro e tira de
um armário um álbum de fotos .

- Olhe. Aqui estou eu quando era soldado . Não é que era bonito ?

Na foto aparece com o cabelo curto e camuflagem militar. Era um jovem com traços finos e
sobrancelhas grossas que se uniam na altura do nariz . Ciro só se parece com Sandra nas
covinhas que se formam nas bochechas cada vez que ri. As sobrancelhas grossas foram
substituídas por duas linhas tatuadas sobre os olhos. O cabelo chega à altura dos ombros e os
mamilos de jovem agora são um par de seios de quase uma libra cada um. Sandra é mais
feminina do que muitas mulheres . Senta-se com as pernas cruzadas e procura não abri-las em
público. Mantém as costas retas e move suavemente as mãos quando fala.

- Eu fui estuprada , mas depois sofreram todos os que me feriram. Depois daquela noite em
que o soldado me agarrou à força , um ano depois da tomada de Miraflores, chegaram outros
pedindo o mesmo: sexo. E como eu não concordava me golpeavam, me mostravam o membro
e me obrigavam a fazer aquilo. Mas eu não fui a única que fui "virada" no monte, muitos
também foram e agora andam dizendo que eu era a única. Como não vão saber de uma que
tinha que fazer todas as tarefas . É que eu coloquei minha cara a tapa e enfrentei minha vida.

Nos primeiros 10 meses após o estupro , os companheiros gritavam que era uma louca, uma
degenerada, uma travesti ou um marica. Os mesmos que o insultavam chegavam à noite para
buscar seu corpo. Uma dúzia de vezes teve que recorrer aos punhos para se defender contra
atacantes. Estouraram uma sobrancelha. Desesperado pelo assédio, chegou a suplicar aos
guerrilheiros que o acorrentassem a uma árvore longe de todos. Inclusive pensou em suicídio,
mas não foi capaz porque sabia que não podia fazer isso por causa de sua filha.

- Ali vendi meu corpo por proteção. Tinha um amiguinho que me queria na intimidade. Era dos
poucos que me tratavam bem. Mas durante o dia lia a Bíblia, não me cuidava e não me
defendia das grosserias. Se me batiam, ficava tranquilo. Em seguida, veio um "mancito" que
todos respeitavam e me pediu para ficar com ele. Eu sabia que, se todo mundo soubesse que
eu estava respaldado pelo "durão", me tratariam melhor. Assim foi até que esse cara me viu
falando com outro soldado e me deu um bofetão na cara.

Ciro Velasco se acostumou a ser a esposa dos sequestrados. Andava com o cabelo solto ,
começou a andar balançando os quadris e cada vez que o grupo guerrilheiro dava roupa ao
grupo, ele cortava as camisas e calças com uma lâmina de barbear e costurava com uma
agulha e linha preta dada pelos guerrilheiros . Todos começaram a lhe chamar de Sandra e a
tratá-la como mulher. Ela não sabe de onde veio o nome , mas o mantém como uma forma de
lembrar para sempre sua mudança de vida.

Meio ano antes de sua libertação, os soldados disputavam o amor e a exclusividade de Sandra
. Mais de dez homens, entre policiais e soldados, lhe escreveram cartas, se ajoelhavam e
choravam reclamando-lhe fidelidade. Ciro, convertido em "ela", se tornou um troféu para os
homens.

- Se apaixonaram por mim. Por Deus santíssimo que rompi vários corações. Eles se
ajoelhavam, me beijavam com amor, me diziam que me amavam com loucura. Para esse
momento já não me importavam. Eles não sabem o mal que me fizeram mas consegui me
vingar. Bem merecido tudo o que fiz eles sofrerem.

Enquanto Sandra rejeitava as propostas de amor e costurava até que seus olhos se cansavam
no ocaso do dia, em São Vicente, Caquetá , se estava preparando a sua libertação. Em
fevereiro de 2001 , no vilarejo de Los Pozos , a 20 quilômetros de San Vicente , o presidente
Andrés Pastrana se reuniu com o líder guerrilheiro Manuel Marulanda Velez para assinar o
Acordo de Los Pozos , que estabelecia a troca humanitária de reféns por prisioneiros
guerrilheiros. Pastrana e Marulanda apertaram as mãos. Os meios de comunicação ao redor
do mundo registravam o sorriso dos protagonistas do acordo.

Quatro meses depois, um guerrilheiro se aproximou do cercado e começou a assinalar


soldados aleatoriamente. Sandra viu que o dedo lhe apontava. Ficou desconcertada. Pela
primeira vez em três anos, conseguiu deixar a prisão selvática. Foram 15 afortunados. Em
junho, no mesmo local onde foi assinado o acordo entre o governo e as FARC , Sandra , que
quis sair como Ciro, voltou à liberdade.

Ela lembra que diantes da libertação pediu a um guerrilheiro que cortasse seu cabelo. Não
queria que sua família se inteirasse da mudança que havia sofrido no cativeiro. Chorou sobre
seu cabelo arrancado e pensou que sem ele as coisas mudariam. Tentou deixar para trás sua
vida como Sandra, enterrá-la na montanha e regressar como o homem que foi.

Um beijo lhe mostrou que tudo era diferente. Que quem estava enterrado na montanha não
era Sandra, era Ciro. Ao sentir o contato dos lábios da namorada que o esperou durante três
anos, não sentiu nada. Pensou que o amor havia acabado e tentou provar com outras
mulheres. Nenhum conseguia excitá-lo. Terminou com a mãe de sua filha e foi viver na casa
paterna.

Enquanto vivia com sua família notou que seus gestos eram diferentes. Na sala de jantar
cruzava as pernas como uma senhorita e media cada garfada que colocava na boca. Seus três
irmãos, pelo contrário, comiam de qualquer maneira, com as pernas abertas e sendo
grosseiros. Sua mãe começou a pensar que havia algo estranho com o filho libertado.

Para não seguir levantando suspeitas na família, Ciro tatuou um nome de mulher no
antebraço, Luzmery. Sempre andava com a tatuagem descoberta para contar que estava
apaixonado por uma namorada que ninguém conheceu. Vendo que os temores sobre sua
sexualidade se agudizavam em sua casa, resolveu partir e deixar sair de seu interior a mulher
que clamava pela liberdade.

Passou a viver em um quarto alugado em Bosa. Sem o menor recato começou a se maquiar.
Gostava de ficar frente ao espelho aplicando batom, lápis, sombra. Esses primeiros dias de
Sandra na cidade foram os de uma pré-adolescente que está começando a viver. Ia às lojas de
roupa de Chapinero para experimentar calças, blusas, jaquetas. Quando começou a ganhar
dinheiro trabalhando como "dama de companhia" em Teusaquillo, a primeira coisa que
comprou foi um jogo de lingerie vermelha. Para dar uma aparência feminina, enchia o sutiã
com meias. Em mais de uma ocasião os clientes ficaram com o recheio na mão.

Sandra recorreu a uma amiga travesti para que lhe conseguisse três litros de uma solução
salina que substitui os implantes de silicone. Pagou 400 mil pesos por cada litro. Injetou dois
nos seios e um no traseiro. Graças a essas mudanças os clientes começaram a pagar melhor. Se
converteu em uma da divas do lugar,uma das melhor pagas. Mais tarde trabalhou em um
clube noturno em Chapinero e logo viajou a Yopal, Casanare, para seguir explorando seus
atributos.

Quando fala, seus seios se movem por debaixo da uma camisa decotada, preta, com
brilhantes. No peito sobressai a tatuagem de uma sereia de fogo montada em um delfim.
-A tatuagem não significa nada, é que diz para cobrir uma cicatriz. Vê? - acerca o corpo para
mostrar o que existe sob o desenho.

-É que me deram cinco punhaladas no peito e um navalhada na garganta. Parecia terror. Eu


apenas tentava colocar a mão no peito. Você já viu esse filme onde um assassino pega uma
moça a punhaladas? Pois foi assim. Sandra fecha a mão e a agita no ar várias vezes para reviver
a cena.

-Imagina que entrei com dois caras em casa para tomarmos uns tragos. Me pediram que
mostrasse fotos de minha família e eu como uma tonta lhes passei o álbum Em uma das
páginas tinha guardados 500 mil pesos. Esse homens encheram os olhos. Continuamos falando
mais um pouco e logo um deles puxou uma faca e começou a me atacar como desesperado.
No final queria arrematar cortando minha garganta. O outro tirou minha bolsa e foram
embora. No Hospital Militar me disseram que meus seus me salvaram.

Em 2007, um ano depois de sair do hospital recebeu uma chamada no celular. Era a mãe de
Nancy, a filha dos dois. Sua voz era apagada e distante. Disse que estava morrendo. Sandra
queria perguntar detalhes da doença, mas a mulher apenas lhe disse que não tinha tempo de
falar disso. A chamada era para lhe implorar que, depois de sua morte, se encarregasse da
menina, porque apesar da decepção quando descobriu que era travesti, podia ser uma boa
mãe. Recomendou que lutasse pela menina, que a impulsionasse e que vivesse comela. Sandra
começou a chorar.

O enterro foi em La Belleza, um povoado rural ao sul de Santander. Não conseguiu chegar a
tempo de se despedir da única mulher que havia amado. Dias mais tarde tomou um ônibus e
visitou o túmulo. Vinha cumprir a promessa de levar a filha a Bogotá.

Desde o momento da carroça que fazia a viagem desde Puente Nacional até La Belleza, sentiu
vários olhares. Pensou em voltar. Por um instantes se sentiu envergonhada, mas depois de uns
segundos recobrou a fortaleza. Levantou os olhos para enfrentar os olhares e com os trejeitos
que aprendeu no sequestro, caminhou pelas ruas. As casas seguiam iguais, os velhos eram
mais velos, e os amigos que compartilharam sua infância já eram homens. Seus olhos
maquiados com rímel se inundaram de lágrimas negras pela recordação. Sentia que estava
purgando sua dor. Recolhendo os passos de sua vida e de sua transformação.

Ao girar a cabeça para contemplar todo o cenário de seus primeiros anos, viu que a seguia uma
procissão de mais de meia centena de pessoas, que apostavam quem adivinharia sua
identidade. Não se importou com o que murmuravam. Foi direto à casa de sua ex-sogra e
bateu várias vezes na porta. A senhora abriu. Vestia luto. Atrás dela vinha correndo uma
menina de doze anos, que se pendurou em seu colo exclamando: "Oi, papai".

Ao regressar a Bogotá segurava Nancy sobre as pernas. Para Sandra foi o dia mais feliz de sua
vida. Queria que sse trajeto fosse tão eterno quando o cativeiro.

Falaram pouco. Sandra não sabia o que dizer. Estava nervosa. Durante os últimos anos tinha
vivido rodeada de homens, de rumba e de bebidas. Perguntou à filha durante todo o caminho
se estava bem, se tinha fome, se tinha frio. Na cabeça da nova mãe ressoa o único diálogo que
mantiveram no caminho.

-Papai, posso deixar de te chamar de papai?


-Claro, chame como quiser.

-Quero te chamar de Sandra. É que me sinto mal falando papai. Mas não se preocupe, você
sabe que eu te amo.

Há quatro anos vivem juntas no sul de Bogotá. Depois de uma ação que moveu contra o
Estado, conseguiu uma pensão por invalidez de 750 mil pesos e tem uma ação pendente para
que o Estado a indenize. Há dez anos recebeu uma primeira indenização de sete milhões de
pesos, mas quando ganhou a tutela lhe descontaram a pensão. Sandra está mal de saúde. Seus
seios estão irritados, igual as nádegas. O convênio médico diz que não podem atender porque
não cobrem tratamentos estéticos. Ela se sente desprotegida.

Nancy escuta, de uma cadeira da entrada do quarto, o relato de seu pai-mãe. Às vezes
concorda com a cabeça, as vezes abre os olhos. Em toda a conversa permanece calada, apenas
se ausenta quando Sandra lhe pede para ir à venda comprar um refrigerante ou vários
cigarros. Em uma das ausências da filha solta um suspiro. "Chorei demasiado. Você não sabe
quanto. Tudo o que aprendi foi na porrada. Agora quero ensinar Nancy a ser uma verdade
mulher. Não quero que ela viva a metade do que me tocou viver".

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