Você está na página 1de 1

5 / 11

Digite o que procura

PUBLICIDADE

Exposições

'Brasil é o paraíso dos


ricos e o inferno dos
pobres', diz Viveiros de
Castro

Waly Salomão metamorfoseado por Hélio Oiticica (1978)


Acervo Eduardo Viveiros de Castro/Instituto
Socioambiental

MARIANA MARINHO
DE SÃO PAULO

28/08/2015 2h00

"Me tratem como um artista morto." Esse foi o


pedido feito pelo antropólogo Eduardo Viveiros
de Castro aos curadores e escritores Eduardo
Sterzi e Veronica Stigger quando eles tiveram a
ideia de criar, há três anos, "Variações do Corpo
Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro,
Fotógrafo".

É da dupla a ideia e a concepção da exposição,


que estreia neste sábado (29) no Sesc Ipiranga
e apresenta cerca de 400 imagens de Viveiros,
considerado um dos mais in[uentes
antropólogos brasileiros.

Professor do Museu Nacional da Universidade


Federal do Rio de Janeiro, ele elaborou em
meados dos anos 1990 a ideia do
perspectivismo ameríndio, que trata, em linhas
gerais, dos diferentes entendimentos do
"humano" para índios e ocidentais.

Dois períodos da trajetória fotográaca de


Viveiros compõem a seleção: a década de
1970, quando trabalhava como fotógrafo de
cena do cineasta Ivan Cardoso, e os anos 1970
e 90, nos quais registrou os índios Araweté,
Yanomami, Yawalapiti e Kulina.

Para Viveiros, seus cliques não têm caráter


etnográaco. "Simplesmente fotografava para
meu próprio deleite", diz. Porém, utilizando o
"corpo" como denominador comum, a curadoria
estabeleceu um diálogo entre as duas épocas
de imagens e entre a produção fotográaca de
Viveiros e sua obra teórica.

Dividida em quatro núcleos temáticos que


extrapolam os limites do Sesc —o parque da
Independência e comércios do entorno também
servem de espaço expositivo—, a mostra é
conduzida por trechos de entrevistas e de
textos escritos pelo antropólogo.

Também há uma programação de shows,


performances e um seminário que segue até
novembro.

A seguir, conara entrevista com Eduardo


Viveiros de Castro. Conara dicas e destaques
da mostra aqui.

Sesc Ipiranga - r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sul, tel. 3340-
2000. Ter. a sex.: 8h às 21h30. Sáb.: 10h às 21h30. Dom.: 10h às
18h30. Até 22/11. Livre. GRÁTIS

GUIA - O corpo é o 8o condutor da mostra. O


senhor pensava nessa questão da
corporalidade enquanto fotografava?
Eduardo Viveiros de Castro - Mesmo quando
estava pensando nisso, não estava pensando.
Fotografava para meu próprio deleite. Foi a
curadoria que fez essa conexão com meu
trabalho antropológico. O corpo tem um peso
simbólico muito forte no pensamento indígena,
as tribos se distinguem corporalmente. Já nós
[ocidentais]achamos que o que nos distingue é
o que temos em nossa mente, a nossa cultura.
Esse corpo selvagem [do título] não é no
sentido pejorativo, mas sim de formas não
canônicas de experimentar o corpo, que é uma
experiência universal.

Quando estava nas comunidades indígenas o


senhor tinha alguma cautela na hora de
fotografar ou eram necessárias condições
especí8cas para que a fotogra8a acontecesse?
Nenhuma das fotos é posada. Em algumas,
eles [os índios]pediam para serem fotografados
ou faziam alguma brincadeira comigo. O que as
fotos implicavam era numa certa familiaridade
e intimidade deles comigo. Além de levar o
caderno, eu sempre estava com a câmera
pendurada no corpo, então ela já era parte da
presença daquele branco estranho entre eles.
Ela era parte do meu corpo, já que estávamos
falando em corpo.

Algum personagem das imagens te marcou


mais?
Um índio Araweté [Toyi, foto na página], que foi
meu principal professor da língua e
companheiro constante. Ele tinha minha idade
e faleceu recentemente. Por enxergar
pessimamente e não poder acar caçando, ele
tinha tempo para perder comigo. Foi uma
pessoa a quem aquei muito ligado, mas que
quase não fotografei. Talvez por ele estar tão
perto de mim.

Ao olhar as fotogra8as, o que elas lhe remetem


ou transmitem de mais potente?
Hoje praticamente não faço mais pesquisas de
campo. Nos últimos 15 anos estive focado em
formar novos pesquisadores e também parei de
fotografar. Só faço fotos de família e de [or no
jardim, com uma câmera vagabunda.

E coloca no Instagram?
Comecei a usar há pouco, após ir ao Nordeste.
Era uma região que não conhecia, sempre
trabalhei na Amazônia. Fotografei um pouco,
mas sempre com uma câmera de média
qualidade. Não tenho mais essa atividade
regular [como fotógrafo]. Por isso digo que a
exposição é de um artista morto, ou pelo
menos póstumo.

E o senhor não pensa em fotografar


novamente?
Gostaria de voltar ao Nordeste e passar certo
tempo lá. É um plano que tenho em mente.

No último espaço da mostra, o tema é, em


particular, o índio como especialista em
sobrevivência. De que maneira?
O Brasil é o paraíso dos ricos e o inferno dos
pobres. Entre o inferno e o paraíso há a terra,
que é dos índios —no sentido histórico e por
eles serem os verdadeiros conhecedores dela.
Temos que parar de tentar levar as pessoas do
inferno para o paraíso. É necessário olhar para
a terra. Vejo os índios como representantes do
que poderíamos ter sido, mas não fomos. Eles
são gente cujo mundo acabou e conseguiu, a
duras penas, sobreviver. Minha ideia para o
futuro não é que todos nós devemos voltar a
ser índio, mas olhar para eles e imaginar uma
civilização que possa ter uma relação com suas
condições de existência que não seja tão
estúpida e suicida como a nossa.

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

comentários

Ver todos os comentários (3)


Comentar esta reportagem

Paulocosta (10376) 28/08/2015 16h51


COMPARTILHAR 4 0

O ilustre who repete este chavão esquerdista já


tombado pelo patrimonio histórico. O Brasil não é
nem uma coisa nem outra, mas pode se tornar o
inferno de todos se o petismo bolivariano prevalecer

O comentário acima não representa a opinião do jornal; a


responsabilidade é do autor da mensagem.

RODRIGO COSTA (19) 28/08/2015 12h12


COMPARTILHAR 2 1

Sem entrar no mérito da fotograaa que sei que é de


alta qualidade técnica e artística, reprovo o
comentário do autor. Brasil está tão violento e
pessimista que já não é mais paraíso prá
ninguém.........

O comentário acima não representa a opinião do jornal; a


responsabilidade é do autor da mensagem.

BF (1) 28/08/2015 11h56


COMPARTILHAR 0 3

Esta exposição não perco. Unir pesquisa e arte, não


tem coisa melhor. Maravilha. Com inteligência e
senso crítico, melhor ainda.

O comentário acima não representa a opinião do jornal; a


responsabilidade é do autor da mensagem.

TERMOS E CONDIÇÕES

Últimas

22/04/2021

Saiba quais museus, teatros e cinemas voltam a funcionar


em São Paulo
PASSEIOS 20h05

01/02/2021

Saiba quais exposições foram abertas em SP durante a fase


vermelha da quarentena
EXPOSIÇÕES 08h00

28/01/2021

Saiba o que fazer com ingressos


cancelados após o endurecimento da quarentena em SP
PASSEIOS 16h00

23/12/2020

Restrospectiva 2020: relembre cinco


exposições online que usaram a tecnologia ao seu favor
EXPOSIÇÕES 16h00

22/11/2020

Instalação no Museu da Imigração rehete


sobre efeitos da pandemia
ILUSTRADA 17h13

Ver mais

Recomendadas para você

ESPORTE
Corredora Agnes Tirop, recordista mundial, é
morta a facadas no Quênia

Mais lidas

1 Depois do touro da B3, São Paulo ganha a


baleia do B32

2 Ritz completa 40 anos e resiste na gastronomia


paulistana com a aura badalada

Novos Ilmes de Wes Anderson, Edgar Wright e


3 'Ghostbusters' chegam aos cinemas de São
Paulo

Rua Itapura, no Tatuapé, concentra restaurantes


4 e bares; veja onde comer, beber e badalar na
região

5 Teatro B32 é inaugurado na Faria Lima com


programação eclética e eventos gratuitos

PUBLICIDADE

VOLTAR AO TOPO

Curta o Guia Folha:

Notícias por e-mail

Digite seu e-mail...

Enviar

Você também pode gostar