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Filomena Barata
A SERPENTE
Nota: Muitas das fotografias usadas, pese estarem disponóveis na internet, têm direitos de
autor.
Medusa, pavimento musivo polícromo do I-II século d.C.
Museo Nazionale Romano delle Terme di Diocleziano a Roma
https://hiveminer.com/Tags/medusa%2Cmosaico
A Serpente do Rio Anas
Por João Cabral
Era uma vez… a parte mais ocidental da Europa, a Ibéria, ainda era conhecida por esse mundo além, por
a terra das Serpentes. Não sabemos se com razão ou sem ela, o que é certo é que a Serpente também
entra na lenda da fundação de Serpa.
Na verdade, vem de tempos muito recuados, dos tempos em que Serpa era só charneca, a lenda de que
as suas terras e as das vizinhanças eram domínio de uma Serpente alada, forte, vigorosa, que até
parecia deitar lume pelas ventas e que vivia acoitada nas fragas do rio Anas, sinuoso e turbulento, hoje
chamado Guadiana.
E, como era ser domínio, logo que sentia Serpa em perigo ela se aprestava para vir em socorro das suas
terras e, mais tarde, da sai vida, e as defendia, vitoriosamente, de quem viesse para lhes fazer mal.
Deve ter tido muito que lutar mas o certo é que Serpa sobreviveu a todos os perigos e hoje é uma vila
bonita e tem uma Serpe no seu brasão a recordar a sua guardiã de outros tempos.
"Este é o meu reino ! Só eu governo aqui, mais ninguém! Nenhum ser humano se
atreverá a pôr aqui os pés: ai de quem ousar! Pois as minhas serpentes, não o
deixarão respirar um minuto sequer!".
Porém um dia, vindo de muito longe, um herói lendário chamado Ulisses, famoso
pelas suas aventuras guerreiras, atracou na cidade.
"Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo ! E dar-lhe-ei o meu próprio nome:
será a Ulisseia, capital do Mundo !"
E a sua profecia concretizou-se... e hoje, embora não tenha o nome dado pelo
herói mitológico grego "Ulisseia", é uma das mais belas cidades do Mundo, e
chama-se LISBOA.
Cit. a partir de http://lisboa.blogs.sapo.pt
A SERPENTE: O BEM E O MAL
A VIDA E A MORTE
A serpente é um réptil que muitas vezes
está associado ao mal, à morte e escuridão,
por ser considerado uma animal misterioso,
traiçoeiro e venenoso.
Por outro lado, pode representar
o rejuvenescimento, a renovação, a vida,
a eternidade e a sabedoria.
Sintetizando: O símbolo da Serpente está
associado, no aspecto positivo, à sabedoria,
à ascensão e à força espiritual. No aspecto
negativo relaciona-se com traição e
falsidade.
A serpente é também um símbolo
poderoso em várias religiões.
No cristianismo, por exemplo, está
associada ao mal, ao desejo tentador. Pintura rupestre de cobra encontrada na
Mas noutras religiões está ligada à Austrália | Foto: Shutterstock
transcendência humana que se eleva.
AS SERPENTES NA HISTÓRIA
Temidas, amadas ou idolatradas, as
serpentes acompanham a
trajetória humana desde a origem do
mundo, variando o seu simbolismo nas
várias culturas. Presente em todas as
épocas, espalhadas pelos cinco continentes,
a sua imagem mitológica assume sempre
um papel fundamental, associada que está
à essência primordial da natureza.
Contudo, há duas constantes: essa criatura
vinda das profundezas da Terra aparece, por
uma lado, associada à ideia de um
conhecimento profundo e de transmutação.
Muitas vezes, como acontece no Egipto com
a serpente-uraeus, representa a soberania.
Mas pode também ter uma função
protectora, sendo usada sobre a cabeça da
deusa Ísis, ou como acontece na Grécia
Antiga com a Medusa. 1 - Conjunto em cobre representando a deusa Ísis amamentando seu filho Hórus ladeado por
Mut e Néftis. Três serpentes (uraeus), à frente, protegem o casal.
Período tardio (664-332 AC). http://niloacima.blogspot.pt/2016/05/estatua-da-deusa-isis-
amamentando-horus.html
2 - Wadjet - Era vista como a protetora do Hórus vivo, o faraó.
3 - Friso datado do Período Tardio (c. 712 a 332 a.C.) e pertencente ao Museu do Louvre.
A SERPENTE BÍBLICA
E Deus disse: “Podes comer de todas as árvores
do jardim. Mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não deves comer, porque, no dia
em que dele comeres, com certeza morrerás».
(…) Ora, a serpente era o mais astuto de todos
os animais do campo, que o Senhor Deus tinha
feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus
disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
“De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus
sabe que, no dia em que comerdes da árvore,
vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecedores do bem e do mal”.
Génesis 3:1-5
Mas como causou o Pecado Original foi
castigada:
«Então o Senhor Deus disse à serpente:
Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que
toda a fera, e mais que todos os animais do
campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás 1 - Pecado original e Expulsão do Paraíso terrestre, fresco de Michelangelo
todos os dias da tua vida». Buonarroti
Capela Sistina. Roma
2 – Mosaico bizantino. Palácio de Constantinopla. Combate de águia com
Génesis 3:14 serpent simbolizando Deus contra o Demónio.
A SERPENTE E AS DIVINDADES
GRECO-ROMANAS
Na mitologia greco-romana, a figura da
serpente surge associada a muitíssimas
divindades, de que destacamos, entre
tantas mais:
Os Gigantes; Tifão e os seus filhos;
Esculápio;
Apolo; Hermes/Mercúrio; Laocoonte,
sacerdote de Apolo, mas também a
grandes heróis e personagens da
mitologia grega, Hércules - que
enfrentou o monstro Hidra, animal com
corpo de dragão e nove cabeças de
serpente – Perseu que matou a
Medusa, monstro com serpentes no
cabelo, e ainda Medeia.
1 - A serpente Ouroboros num antigo manuscrito alquímico grego
2 - Estátua de Esculápio no museu do Teatro de Epidauro, Grécia
Tifão era filho de Gaia (a Terra) e Tártaro (o
Inferno). Ao perceber que estava grávida, Gaia
TIFÃO E ZEUS/JÚPITER
transformou-o numa semente e deu-a a Hera
que a plantou no jardim do Olimpo.
Assim nasceu um monstruoso dragão de cem
cabeças, cercado de víboras, da cintura para
baixo e maior do que as montanhas. O Tifão é
um gigante que simboliza a grandeza das forças
naturais, a quem os gregos atribuíram a
paternidade dos ventos ferozes e violentos, o
causador de tempestades e terremotos.
Para vencer este rebelde Zeus/Júpiter só dispôs
da ajuda de Atena, a Razão, sua filha, enquanto
os demais deuses olímpicos, apavorados se
refugiaram no Egipto, onde se transformaram
em animais.
1 - Zeus lançando o seu raio sobre Tifão
O nome (Typhón ou Typhos, do grego, Typhón, Cerca de 550 a.C.. Colecções Estatais de Antiguidades (Inv. 596)]
Q - Héracles/Hércules e Cérbero. Detalhe do mosaico romano "Os Doze
Typhoeus) significa “redemoinho”. Trabalhos de Hércules", de Llíria, Museu Arqueológico de Espanha
TIFÃO, O PAI DOS MONSTROS GREGOS
Hesíodo, um escritor do século IX a. C.
descreveu Tifon, na sua obra
Teogonia com muito pormenor.
Tifon era tão alto que a sua cabeça batia
nas estrelas, os braços enormes
bloqueavam os raios do sol, e carvões em
brasa saíam da sua boca. Havia um
dragão de cem cabeças com línguas
escuras nos seus ombros, e dos seus
olhos saíam labaredas. Sons estranhos
provinham dessas cabeças. Algumas
vezes os deuses podiam entendê-los
facilmente, mas em outras pareciam os
berros de touros enfurecidos. As vezes,
rosnavam como leões, no momento
seguinte, como cachorrinhos.
1 - Banquete mitraico
2- Banquete mitraico das Ruínas
de Tróia. Cópia no MNA
LAOCOONTE
Laocoonte era um sacerdote de Apolo, mas,
contra a vontade de Apolo, casou-se e teve
filhos, Antífantes e Timbreu.
Quando Laocoonte estava a fazer um
sacrifício a Neptuno, Apolo enviou duas
serpentes marinhas de Ténedos, que
estrangularam o sacerdote e seus
descendentes.