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A obra "História da Loucura" de Michel Foucault é um marco na análise da construção do

conceito de loucura ao longo da história. Neste livro, Foucault investiga como a sociedade, ao
longo dos séculos, definiu e tratou os indivíduos considerados loucos. Sua pesquisa revela que
a percepção da loucura está profundamente enraizada em relações de poder e é influenciada
pelas estruturas sociais e culturais.

No século XVI, a loucura era frequentemente vista com desdém, levando à exclusão e
marginalização dos indivíduos tidos como loucos. No século XVII, a visão da loucura evoluiu
para considerá-la como uma ausência de razão, algo negativo. Essa mudança na percepção
resultou na criação de hospitais para loucos.

No século XVIII, a loucura passou a ser associada à libertinagem e à liberdade sexual, levando
à emergência do conceito de Hospital Psiquiátrico. Um exemplo notável desse período é a
figura do Marquês de Sade, que simbolizou a conexão entre a loucura e a sexualidade.

Já no século XIX, surgiram conceitos relacionados a doenças mentais, demência e melancolia,


muitas vezes associados às mulheres. Essa evolução do conceito de loucura reflete mais as
mudanças nas estruturas sociais e construções sociais do que avanços científicos.

Assim como a percepção da loucura variou ao longo da história, a representação de Cleópatra


também mudou ao sabor das relações de poder. Isso pode ser exemplificado pelo contraste
entre sua representação como uma mulher branca de olhos azuis em 1963 e sua
representação como uma mulher negra em 2023 em uma série da Netflix. Essas escolhas de
elenco são fortemente influenciadas pelo imaginário cultural, não pela evidência científica.

Cleópatra frequentemente foi retratada com destaque em relação a seus relacionamentos


amorosos, relegando sua intelectualidade, habilidade política e retórica a um segundo plano.
Isso é evidente na influência da peça de Shakespeare em sua representação.

Os filmes que retratam Cleópatra também estão sujeitos a controvérsias, como ocorreu com a
série da Netflix, que provocou críticas de um ministro egípcio alegando que o revisionismo
prejudicava a história do Egito. As modificações na representação de Cleópatra,
transformando-a em uma figura negra, são motivadas por fatores sociais e de mercado, não
por mudanças científicas.

Assim como a representação da loucura variou de acordo com as relações de poder, a


representação de Cleópatra também evoluiu devido a dinâmicas sociais e culturais em
constante mutação. O movimento antirracista e outras mudanças sociais desempenharam um
papel importante nesse processo.

As mudanças nas representações visuais, incluindo a representação de Cleópatra como uma


mulher negra, refletem as condições históricas e culturais da época, em vez de mudanças
baseadas em evidências científicas. No futuro, podemos esperar uma representação de
Cleópatra que a destaque por suas conquistas como gestora política, militar e retórica, em vez
de enfatizar apenas seus relacionamentos."

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