O romance The Bell Jar, escrito pela americana Sylvia Plath, é ambientado em
tempo de imensa angústia cultural e social na década de 1950, onde a personagem
principal procura se ajustar a sociedade dominada pela vigilância econômica e social do período da Guerra fria. Com a caça aos comunistas e a ênfase no “American way of life”, os anos de 1950 foram marcados por uma espécie de retrocesso na luta feminina, já que, mesmo sem imposição clara, as mulheres deveriam casar, ter filhos e cuidar da casa, como uma forma de reafirmar as vantagens do capitalismo. As imposições sobre a sexualidade feminina agravaram-se da mesma forma. Sua sexualidade passou a ser mais vigiada, tendo-se como exemplo disso as vestimentas cada vez mais longas. Em seu livro Vigiar e Punir, Michel Foucault discorre que o corpo é o alvo e objeto principal das relações de poder e que esse corpo deve ser disciplinado para manter a ordem da sociedade. O romance de Sylvia Plath possibilita um diálogo com o estudo Foucaultiano na medida em que se faz possível observar como as estruturas impostas pela sociedade são internalizadas, fragmentando o sujeito para transforma-lo em aceitável e representável. O conceito de panoptico em Foucault traz a luz o artifício de autopoliciamento, onde o prisioneiro, sem saber se está sendo observado ou não, passa a se comportar da forma desejada, evitando confrontos. Através desse autopoliciamento, a personagem principal do romance, Esther Greenwood, cria um Panoptico imaginário, que passa a regular e trazer consequências à sua sexualidade e saúde mental. A loucura feminina, ou para os psicanalistas, a histeria, acometia muitas mulheres nessa época, registrando muitas internações femininas em hospícios. Essas internações eram justificadas pela possível fragilidade feminina. Fazendo uso dos estudos de Foucault sobre Discurso de Poder, Sexualidade e Autopoliciamento, e levando em conta as restrições políticas e sexuais da sociedade americana no período já citado, faz-se viável a verificação de como essa atmosfera pós-guerra e essa vigilância sobre os indivíduos através de atitudes repressivas afetaram a formação da identidade feminina, levando, muitas vezes, às doenças mentais.