Você está na página 1de 2

Sistematizar

conhecimentos

A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e


crescimento

A evolução demográfica

Objetivo 1. Relacionar a economia pré-industrial com o modelo demográfico antigo


Na Idade Moderna (séculos XV-XVIII) vigorou na Europa uma economia de tipo pré-industrial, isto é, caracterizada por
uma base agrícola e pelo atraso tecnológico. A maior parte da população (cerca de 80%) dedicava-se à agricultura
utilizando utensílios rudimentares (foice, enxada), empregando, exclusivamente, a força animal e humana, praticando
o pousio e desconhecendo o uso de fertilizantes. A debilidade tecnológica não permitia aumentar a produtividade,
logo, o aumento da população era “bloqueado” pelas fomes.
Em resumo, as crises alimentares ajustavam as populações às subsistências. Este equilíbrio precário entre os
recursos alimentares e o contingente populacional só viria a ser rompido em meados do século XVIII, graças às
revoluções agrícola e industrial.

Objetivo 2. Caracterizar a demografia pré-industrial


Antes da Revolução Industrial do século XVIII, a Europa caracterizava-se, no que diz respeito à população, por aquilo
a que se chama o modelo demográfico antigo ou modelo demográfico de Antigo Regime (séculos XV, XVI, XVII,
primeira metade do século XVIII), apresentando os seguintes indicadores:
• Uma Taxa de Mortalidade (número de óbitos por cada 1000 habitantes, numa dada região) muito elevada, na
ordem dos 35‰.
• Uma Taxa de Mortalidade Infantil (número de crianças mortas antes de perfazerem o primeiro ano de vida por
cada 1000 habitantes, numa dada região) muito elevada, contribuindo, em primeiro lugar, para a elevada TM
geral (no século XVII, em cada 100 crianças nascidas, 25 morriam antes da idade de 1 ano).
• Uma Taxa de Natalidade (número de nados-vivos por cada 1000 habitantes, numa dada região) ligeiramente
mais elevada do que a TM (na ordem dos 40‰), o que permitia, em anos normais, um ligeiro crescimento da
população.
• Casamentos tardios, que atuavam como meio de controlo da natalidade.

Objetivo 3. Reconhecer uma crise demográfica


No modelo demográfico antigo, as crises demográficas eram frequentes. Caracterizavam-se por uma elevação brusca
das mortes para o dobro ou triplo da Taxa de Mortalidade corrente (picos de mortalidade), acompanhada de uma
quebra muito acentuada dos nascimentos e dos casamentos (recuo da natalidade e da nupcialidade), a que se seguia
uma fase de recuperação da crise, restabelecendo-se os índices habituais de mortalidade, natalidade e nupcialidade.
Estas crises, geralmente de curta duração (alguns meses), são uma característica do modelo demográfico antigo e
explicam-se pela quebra do equilíbrio, já de si precário, entre mortalidade e natalidade, devido a uma fome ou a uma
epidemia.

Objetivo 4. Avaliar a incidência destas crises nos séculos XVII e XVIII


No século XVII, em virtude do arrefecimento climático, as colheitas apodreciam, pelo que o preço dos cereais se
elevava e, em consequência, os mais pobres eram atingidos (por vezes morriam) pela fome.
Por seu turno, a fome tornava os corpos menos resistentes às epidemias: a doença, transportada por bandos de
esfomeados, acabava por atingir ricos e pobres. Foi o caso da peste bubónica, que voltou a atingir violentamente a
Europa entre 1590 e 1670. A falta de condições de higiene e de assistência médica, em especial nas cidades,
agravavam o panorama das crises populacionais.
Somava-se a estes dois fatores a guerra, responsável por um número elevado de perdas humanas, quer pelo
confronto entre tropas inimigas, quer pelos efeitos da passagem dos exércitos pelas aldeias (devastação dos campos,
desorganização económica, fuga das populações). A Guerra dos 30 Anos (1618-1648), em especial, contribuiu para
os picos de sobremortalidade do século XVII que afetaram, em particular, a Alemanha.
No século XVIII, as crises demográficas esmoreceram, em virtude da transição para um novo modelo demográfico.

Objectivo 5. Explicar a alteração demográfica verificada na segunda metade do século XVIII


A partir do século XVIII (1730-1740), na Europa e a nível mundial, verificou-se um crescimento demográfico até então
nunca registado e que não mais voltaria a conhecer retrocesso: tratava-se da transição para um regime demográfico
moderno.
Esta alteração explica-se, em primeiro lugar, pela redução da Taxa de Mortalidade, em especial da mortalidade
infantil. A criança torna-se a preocupação central da família: nasce com o auxílio de um obstetra – médico com
formação adequada – o qual substitui a parteira suja e ignorante; passa a ser criada pela mãe (e já não por amas,
no campo, a troco de dinheiro) e deixa de ser enfaixada. Os cuidados com a criança são, simultaneamente, uma
causa e um reflexo da redução da Taxa de Mortalidade Infantil.

Relativamente à redução geral da Taxa de Mortalidade na Europa Ocidental, foram avançadas várias propostas de
explicação:
– os avanços na produtividade agrícola (que explicariam o recuo da fome, contribuindo para uma maior resistência à
doença);
– os progressos na higiene (pelo uso do sabão, nomeadamente);
– as conquistas na medicina (graças, por exemplo, à vacina contra a varíola, descoberta por Jenner, à prática da
quarentena para os enfermos de doenças contagiosas e ao desenvol- vimento, já referido, da obstetrícia);
– o desenvolvimento dos meios de transporte (facilitando o acesso aos bens essenciais de consumo);
– a ocorrência de menos guerras;
– o clima mais favorável (resultando em boas colheitas);
– o recuo da Peste (desde 1720).

Enfim, todo um conjunto de fatores (dos quais é difícil destrinçar o mais importante) concorreram para o surgimento
de um novo modelo demográfico. O recuo da mortalidade, juntamente com a manutenção de uma Taxa de Natalidade
elevada, provocaram o rejuvenescimento da população e o aumento da esperança média de vida. No século XVIII,
Thomas Malthus reflectia, na sua obra Ensaio Sobre o Princípio da População, as preocupações com este crescimento
populacional, ao preconizar a limitação dos nascimentos como único meio de evitar as catástrofes alimentares que
adviriam da desproporção entre o crescimento da população e o dos alimentos.

Você também pode gostar