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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE TECNOLOGIA
SOCIOLOGIA URBANA

ANA WALFRIDA
ANNA CLARA LASMAR
JONAS BELCHIOR
JOSIANE SILVA BENTES
LUIZ OTÁVIO GERONIMO
RAFAEL NASCIMENTO COSTA

COMUNIDADE 9 DE JUNHO

MANAUS - AM
2024
ANA WALFRIDA
ANNA CLARA LASMAR
JONAS BELCHIOR
JOSIANE SILVA BENTES
LUIZ OTÁVIO GERONIMO
RAFAEL NASCIMENTO COSTA

Nota: 8,5

COMUNIDADE 9 DE JUNHO

Trabalho apresentado para obtenção


de nota final na disciplina de
Sociologia Urbana, ministrada pelo
professor Fabio Candotti.

MANAUS – AM
2024
1.0 RESUMO

A invisibilidade imposta às populações marginalizadas no Brasil é o grande


desafio para a efetiva execução de políticas públicas que efetivamente
promovam justiça social. Partindo desta compreensão, em particular no
subúrbio manauara, é proeminente a realização de pesquisas que gerem
conhecimento sobre as condições de vida desta população, mas que também
apontem quais situações socioeconômicas contribuíram para a manutenção da
condição de marginalidade, pois para longe de teorias de meritocracia o que
verificamos na periferia de Manaus são populações relegadas à falta de
oportunidades: sem acesso a direitos básicos como saneamento básico e
segurança pública e que onde houve acesso à terra, os poderes locais e as
políticas locais não viabilizaram oportunidades reais de transformação das
condições de vida. Esta investigação ocorrerá através de uma proposta
metodológica que se desenha no sentido de apoiar uma análise interpretativa
das realidades com base em dados qualitativos coletados na pesquisa de
campo. O desafio estará na seleção de indicadores que possam desvelar onde
estão suas descontinuidades, suas rupturas, as irregularidades e
heterogeneidades que apontem para condição de vida atual dos moradores da
comunidade.

2.0 INTRODUÇÃO

No exposé de 1935 de Walter Benjamin, passagens, nos é apresentado a


seguinte frase “Assim como Napoleão não percebeu a natureza funcional do Estado
como instrumento de dominação de classe burguesa, tampouco arquitetos de seu
tempo reconheceram a natureza funcional do ferro, com o qual o princípio construtivo
inicia sua dominação na arquitetura (p.35)”. Tomando como ponto de partida o que foi
mencionado acima, a comunidade 9 de junho, também conhecida como “Bervely Hills”
ao longo dos seus 28 anos de existência, vem sofrendo inúmeras formas de violências
e falta de assistencialismo. Em primeira análise, deve-se entender o surgimento da
comunidade e como se constituiu a sua arquitetura ao longo das décadas. A partir das
reflexões da socióloga britânica Ruth Glass em sua obra London: Aspect of change
que explicita uma análise de transformação na Inglaterra a partir de uma ótica da
ereção de uma nova forma de dominação que iria se reverberar através de uma
arquitetura da dominação que culminaria nas expulsões de grupos sociais com maior
vulnerabilidade socioeconômica de suas residências. Trazendo para a realidade do
subúrbio manauara, a história da comunidade se embasa em questões de invasões de
terras de conflitos fundiários. Diante do exposto, para discorrer sobre as dinâmicas de
espaços urbanos também devemos considerar o texto de Antônio Arantes, Guerra de
lugares. “Os habitantes da cidade deslocam-se e situam-se no espaço urbano. Nesse
espaço comum, cotidianamente trilhado, vão sendo construídas coletivamente as
fronteiras simbólicas que separam, aproximam, nivelam, hierarquizam ou, em uma
palavra, ordenam as categorias e os grupos sociais em suas mútuas relações.” (1994,
p.191). Um dos problemas da pesquisa foi compreender como se desenhou a
formação da comunidade após um início cheio de variabilidades inerentes ao acesso a
terras e disputas de lugares e como foi articulado após os moradores se estabelecerem
as políticas que permitiram eles a serem reconhecidos enquanto comunidade e não
como invasores. Tudo isso foi discutido em pesquisa de campo e dados coletados.

3.0 METODOLOGIA

Metodologia que poderá ser abordada é da autora Colette Pétonnet que


utiliza a observação flutuante que seria deixar de se atentar ao
conhecimento e esperar o inesperado, Colette discorre dessa perspectiva
ao visitar cemitérios, logo ela espera que as coisas aconteçam sem a
interferência do locutor. A observação flutuante, por sua vez, exige do
observador um grau considerável de disponibilidade para, em um encontro
fortuito, sem hora marcada, identificar o início de uma viagem. Uma viagem
muito particular ao sentido que o outro dá àquilo que ali veio fazer. A
observação flutuante, por princípio, termina onde começa a observação
participante. (PÉTONNET, 2009, p. 193-196). Fazendo uma ponte entre a
referência bibliográfica e a pesquisa de campo ao iniciar, os locutores não
tinham um roteiro a ser seguido e esperaram tudo acontecer de forma
natural e assim foram surgindo os atores sociais que moram no local e
partir de conversas intimistas informações foram coletadas.

3.1 PESQUISA DESCRITIVA

A comunidade por sua vez não é muito extensa, tendo como ponto de
referência um campo logo em sua entrada. Composta por apenas três ruas
(Rua Japiim, Rua Uirapuru e Rua TV Uirapuru) a espacialidade entre as
casas dos moradores e outras ruas se dá por meio da Rua 50 que liga o
bairro principal as às ruas que a população mora. As casas em sua grande
maioria apresentam tons de reformas hibridas como se passaram de casas
de madeira para alvenaria, embora ainda haja resquícios dessa
metamorfose urbana, como a existência de casas de madeira ao lado de
casas bem estruturadas na sua arquitetura. As ruas são estreitas, com
calçadas curtas gerando a problemática urbana em que o deslocamento de
pedestres acontece na própria via, e casas em sua maioria geminadas,
ligadas umas às outras parede com parede e muros altos, mas é ao final da
Rua Uirapuru que nos deparamos com uma grande diferença entre as
residências que se encontram nos acessos principais, casas pequenas com
características rurais, a maior parte em madeira, inseridas em terrenos
abertos com a presença de vegetação, o que não se constata na parte
inicial dos trechos. Convém ressaltar, sobre a falta de pavimentação das
ruas que compõem a comunidade e o esgoto a céu aberto que reverbera
mau cheiro pelas vielas mais escondidas que ligam as três ruas da
comunidade. Nas palavras de Foucault (1987) “Parece-me que, no final do
século XVII, a arquitetura começa a se especializar, ao se articular com os
problemas da população, da saúde, do urbanismo”. Nos faz refletir sobre
as inúmeras disparidades sociais que estão presentes nesse determinado
local, tais como a violência simbólicas que os moradores vêm sofrendo ao
longo das décadas e o plano de invisibilização do estado para tal população
fazendo com que as políticas básicas de assistencialismo assistência social
não cheguem para todos que vivem na comunidade.

3.2 DADOS COLETADOS

No ano de 1996 um terreno foi invadido por um grupo de 5 pessoas que


souberam de um espaço de terra que se encontrava vazio. Liderados por
Dona Maria (nome fictício) e seu marido Alfredo (nome fictício) e outros três
amigos, chegaram e começaram a ocupar. Iniciaram a construir suas
pequenas tendas em um domingo e no dia seguinte, outras famílias
chegaram ao local. As famílias de moradores das redondezas, pediram para
que seus familiares fossem para a “invasão” que após inúmeras
reintegrações de posse, em um dia 09 de Junho receberam a notícia que
aquela área poderia receber esses moradores. Essa comunidade é ,
também conhecida como invasão da Sesau, Bervely Hills e Greenvily.

4.0 PROBLEMA

Para discorrer sobre a problemática que está sobreposta a comunidade vale


ressaltar que a falta de assistencialismo assistência social está muito
presente em diversos campos dentro da comunidade. Tais como, falta de
saneamento básico, porque quando chove as ruas alagam a casa de alguns
moradores com água de esgoto,; falta de ruas pavimentadas, uma vez que
o fluxo de carros por dentro da comunidade se intensifica em horário de
pico, pois, os motoristas veem as ruas da comunidade como um atalho para
cruzar certas distancias e fugir do trânsito, e as ruas cheias de crateras
dificultam a passagem tanto de moradores e visitantes; e falta de
segurança, tendo em vista após o depoimento de alguns moradores que
estavam acontecendo pequenos furtos de celulares em determinados
horários pelas redondezas. Tudo isso nos faz pensar como se houvesse um
plano de manutenção para tal população se manter em uma situação
marginalizada como se o direito de ser cidadão estivessem aos poucos
sendo negado.

De acordo com um entrevistado, Sr. Eduardo Jorge Ferreira Lima, de 64 anos,


conta que a comunidade morro da preguiça a região é formada por duas
comunidades que são Morro da Preguiça e 9 de junho, esta última chamada
antigamente de Greenville. Na comunidade existia um prédio da SUSAM que
ocupava uma boa parte do terreno,; hoje em dia só restam pedras que um dia
foram fundação do edifício, que lugar para a sede da associação local. No
centro das comunidades possuem um campo de futebol, futsal e uma quadra
de vôlei que está sendo construída. O morador também mencionou a
associação dos moradores que promovem atividades para os residentes como
Judô, Escolinha de futebol e promovem campeonatos que pessoas de outro
bairro também participam.

A estrutura do bairro é bastante frágil devido a topografia em declive e o solo


volúvel devido a quantidade de águas subterrâneas (olho d’agua) dos lençóis
freáticos e devido ao igarapé que delimita as moradias. Nesse cenário uma das
queixas recorrentes dos moradores é o escoamento de águas pluviais que é
precário, pois os encanamentos usados no sistema hidráulico das ruas não
suportam a forte demanda principalmente em tempos de chuva. Segundo o Sr.
Eduardo a equipe de estrutura da cidade já esteve no local para fazer a obra
desses canos de escoamento a 16 anos, porém nada mudou.

5.0 CONCLUSÃO

A análise detalhada da comunidade 9 de junho, apresentada neste estudo,


ressalta as complexas interseções entre espaço urbano, condições
socioeconômicas e políticas públicas. A invisibilidade imposta às populações
marginalizadas no Brasil emerge como um desafio central para a efetiva
promoção da justiça social. A falta de acesso a direitos básicos, como
saneamento e segurança pública, é um reflexo da negligência estatal e de um
sistema que perpetua a marginalização dessas comunidades. A investigação
metodológica adotada, embasada na observação flutuante de Colette Pétonnet,
proporcionou uma compreensão profunda das realidades vivenciadas pelos
moradores. A pesquisa descritiva revelou não apenas as disparidades físicas,
como a falta de infraestrutura, mas também as violências simbólicas
enfrentadas diariamente pelos residentes. A origem da comunidade, marcada
por invasões de terras e conflitos fundiários, destaca a necessidade de políticas
públicas que reconheçam e abordem as questões estruturais subjacentes. O
relato dos moradores, como o do Sr. Eduardo Jorge Ferreira Lima, destaca
iniciativas locais de resistência e organização comunitária, apontando para
caminhos possíveis de empoderamento e transformação. No entanto, os
desafios persistem. A falta de assistencialismoassistência social, evidenciada
pela precariedade do saneamento, das vias pavimentadas e da segurança,
revela um sistema que perpetua a marginalização e nega aos moradores o
pleno exercício de sua cidadania,. éÉ imperativo reconhecer a urgência de
ações integradas e participativas que abordem não apenas as questões físicas,
mas também as dimensões sociais e políticas do espaço urbano. Sob a luz da
sociologia, urge a necessidade de ter uma visão crítica que tais atores sociais
estão sendo sobrepujados em condições subalterna diante do assistencialismo
público,. cComplementando com as concepções de Foucault, ainda que haja
de maneira não tatível a existência de uma necropolítica que visa invisibilizar
de maneira permanente determinadas populações, após as pesquisas de
campo e o depoimento dos moradores, tal comunidade se encaixa em diversas
frentes nesse campo de apagamento populacional, uma vez que sua história se
consolida a partir de uma série e ocupações fundiárias e embasamentos em
diversos campos do ilegalíssimosilegalismos, tais como, fraudações de
documentos de título residencial definitivo. Convém ressaltar, que dentro da
esfera política da comunidade para com as entidades estatais, a validação da
comunidade foi invalidada e reinventada inúmeras vezes, pois, como já
mencionado, existem diversas tentativas de legitimação de uma consolidação
de um novo nome e é notório perceber pois a comunidade é conhecida por
vários registros o que reforça ainda mais a concepção de apagamento
populacional.
REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Passagens. 2 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG,


2018. P. 35
GLASS, Ruth L. London: aspects of change. London: Mac Gibbon and
Kee, 1964.
PÉTONNET, Colette. L’observation flottante: l’exemple d’um
cimetièreparisien, L’Homme, Soraya Silveira Simões* oct-déc. 1982, XXII
(4r),
A guerra dos lugares. ARANTES, Antonio Augusto. In: FORTUNA, Carlos
(org.). Cidade, cultura e globalização. Oeiras (Portugal), Celta Editora,
1997, p. 259- 270.
FOUCAULT, M. . Vigiar e Punir: história da violência nas
prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987 (p.23)

O trabalho está bom. Bem escrito e organizado.

Ao contrário da propria bibliografia selecionada, o texto foca muito na


ausência de políticas públicas, inclusive confundindo assistência social com
outras formas de atuação do poder público. As referências, por outro lado,
discutem a formação de cidades modernas e as relações de poder que
produzem o mundo urbano. Nessas relações, o estado não aparece pela
presença ou ausência de serviços, mas como um conjunto de aparatos que
regula a vida social em composição e onfront com agentes e dinâmicas
econômicas e culturais. Ou seja, a cidade é efeito de lutas políticas, como o
interlocutor de vocês também mostra.

O trabalho poderia ter se prolongado um pouco mais, tanto na descrição da


história e da vida social do local, quanto na teorização, para além da crítica à
ausência estatal.

Expressão escrita: 2,0

Pesquisa de campo: 2,0

Uso da bibliografia: 3,5

Apresentação: 1,0
Nota: 8,5

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