Você está na página 1de 28

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CIDADE
PARA
QUEM ?

JULIA SANTANA
RAFAEL FERREIRA
TASSIO CHISTIANO SANTOS
THÁSSILA BERNANDES

Fonte: GUJSP
JULIA SANTANA
RAFAEL FERREIRA
TASSIO CHISTIANO SANTOS
THÁSSILA BERNANDES

COMO VIVE A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Trabalho apresentado a professora Ema Claudia


Ribeiro Pires como parte dos requisitos necessários ao
cumprimento da disciplina de Antropologia e
Sociologia Urbana, do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Faculdade de Artes Visuais.

Goiânia/ 2023
SUMÁRIO
01 INTRODUÇÃO ------------------------------- 03

02 ESPAÇOS PÚBLICOS -------------------------- 06

03 ARQUITETURA HOSTIL ------------------------- 08

04 PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA EM GOIÂNIA ------- 12

05 HABITAÇÃO EM PRIMEIRO LUGAR ---------------- 23

06 CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------- 26


INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma


reflexão sobre a situação dos moradores de
rua em Goiânia, a partir dos conceitos
abordados nas aulas de antropologia e
sociologia urbana sobre o Homem e a cidade,
e como elas se relacionam com a Arquitetura
e Urbanismo. Tendo em vista que pessoas
desabrigadas é um problema de cunho
social, é dever do Arquiteto e Urbanista
compreender como seu trabalho pode
interferir na vida dessas pessoas, e dessa
forma desenvolver propostas projetuais mais
inclusivas, principalmente se destinadas para
as áreas públicas.

Fonte: UFMG.br | 03
Um dos reflexos do intenso processo de exclusão Apesar da realização de alguns programas sociais,
social é a população em situação de rua que, em poucas políticas públicas são desenvolvidas para
decorrência da ocupação do solo urbano estar solucionar esse problema. As Organizações Não
baseada na lógica capitalista de apropriação Governamentais (ONGs) e as Instituições
privada do espaço mediante o pagamento do Religiosas se destacam nos serviços de amparo a
valor da terra, não dispõe de renda suficiente para essas pessoas, atuando na distribuição de
conseguir espaços adequados para a habitação e, alimentos, roupas e cobertores. Outro trabalho de
sem alternativas, utiliza as ruas da cidade como assistência são os abrigos temporários e os
moradia. albergues que, de um modo geral, são
considerados insuficientes para suprir a demanda
Conforme definição da Secretaria Nacional de dessa população.
Assistência Social, a população em situação de
rua se caracteriza por ser um grupo populacional O desinteresse do Estado influencia diretamente no
heterogêneo, composto por pessoas com comportamento da sociedade, haja vista que os
diferentes realidades, mas que têm em comum a moradores de rua são tratados, ora com
condição de pobreza absoluta, vínculos compaixão, ora com repressão, preconceito,
interrompidos ou fragilizados e falta de habitação indiferença e violência. Nesse sentido, devem ser
convencional regular, sendo compelidas a utilizar a desenvolvidas políticas que atuem na causa do
rua como espaço de moradia e sustento, por problema, não somente em serviços de
caráter temporário ou de forma permanente. distribuição de alimentos e outros objetos,
proporcionando dignidade para todos os
Entre os principais fatores que podem levar as habitantes.
pessoas a irem morar nas ruas estão: ausência de
vínculos familiares, perda de algum ente querido,
desemprego, violência, perda da autoestima,
alcoolismo, uso de drogas e doença mental.

| 04
ESPAÇOS
PÚBLICOS
A função dos espaços públicos na sociedade
contemporânea tem sido amplamente discutida e
analisada por diversos sociólogos ao longo dos
anos. Esses espaços desempenham um papel
crucial na construção e na manutenção da
sociedade, proporcionando locais de interação,
expressão cultural e troca de ideias. Dentre os
estudiosos que abordam essa temática, podemos
citar o Henri Lefebvre, Jane Jacobs e David Harvey,
seus ideais de espaços públicos serão utilizados
para a compreensão de sua função perante os
indivíduos que se encontram em situação de rua,.
De acordo com Lefebvre, os espaços públicos são
locais de encontro e resistência. Na obra, o " O Direito
a Cidade ", ele alega que essas áreas são palco de
luta e participação democrática dos indivíduos, além
de propiciar o acesso igualitário aos recursos
urbanos. Para Lefebvre, esses espaços são arenas
Fonte: ARCHDAILY
onde a identidade e a cidadania são negociadas e
redefinidas.

| 05
Entretanto, para a teórica urbana Jane Jacobs, A partir desses ideais, é possível concluir que os
á vitalidade dos espaços públicos é de suma espaços públicos são destinados a todos os
importância para a manutenção da saúde das indivíduos da sociedade, que deveriam ser
cidades. Ela defendeu a diversidade de usos e a compartilhadas e oferecer locais de convivência,
interação entre residentes como elementos lazer, interação e permanência. Ao considerar que,
chave na criação de comunidades vibrantes. comumente, o direito a moradia própria acaba por
Jacobs argumentou que espaços públicos bem ser negado a diversos indivíduos que se tornam
projetados promovem a segurança, a coesão vítimas do capitalismo, lhe sobram apenas os
social além de um senso de pertencimento. paragramas de habitação social dirigidas pelo
Ademais, Harvey faz um estudo sobre a estado, e os espaços públicos para ocupar. No
relação do capitalismo com os espaços públicos. entanto, em muitas cidades ao redor do mundo, os
Ele explorou como a reconfiguração dos espaços espaços públicos de certas regiões, principalmente
urbanos e a gentrificação muitas vezes resultam em áreas que concentram a classe burguesa,
na marginalização de certos grupos sociais e na acaba por ser negado aos indivíduos sem moradia
privatização dos espaços públicos, limitando a que utilizam deles para se abrigarem a noite, seja
democracia e a participação cívica de todos os através da utilização de equipamentos urbanos que
indivíduos da sociedade.. dificultem esse ato, ou força policial. N cidade de

| 06
ARQUITETURA
HOSTIL
APOROFOBIA EM GOIÂNIA

A aporofobia é de origem grega e remete à aversão


ou desprezo aos desfavorecidos financeiramente
(às pessoas pobres e em situação de rua e
despejo). A fobia está intimamente ligada à
arquitetura hostil que diz respeito a equipamentos
urbanos que impedem a permanência das pessoas,
principalmente as que estão em situação de rua. No
Brasil, as diferentes formas e graus de exclusão e
omissão estatal para com esse grupo, tem
configurado na perspectiva das regiões
metropolitanas. A população do estado de Goiás é
predominantemente urbana (90,29%) conforme o
senso do IBGE, 2010. Em 2020 foram registradas
2.449 famílias em situação de rua, sendo que 46,06%
estavam concentradas na capital estadual (MDS,
2021). O grupo populacional em questão é
caracterizado, predominantemente por pessoas em
situação de vulnerabilidade social e em situação de
Fonte: ARCHTRENDS
rua.

| 07
Imagem: A prefeitura alega que as pedras teriam sido colocadas embaixo de um dos
viadutos da capital para interromper a deterioração da construção, após uma suposta erosão
do terreno, no Setor Sul em Goiânia - GO. Foto: Eduardo Ferreira. Fonte: Jornal O Hoje (2022). | 08
Imagem: A prefeitura alega que as pedras teriam sido colocadas embaixo de um dos
viadutos da capital para interromper a deterioração da construção, após uma suposta erosão
do terreno, no Setor Sul em Goiânia - GO. Foto: Eduardo Ferreira. Fonte: Jornal O Hoje (2022). | 09
Imagem: Pedras assentadas na lateral de viadutos, que, como “arquitetura hostil”
Imagem: Na entrada do banco, as grades servem para afugentar os tem como objetivo manter afastados grupos “indesejáveis”, como moradores de | 10
moradores de rua. Foto: Desconhecido. Fonte: Projeto Colabora (2016). rua e skatistas. Foto: Desconhecido. Fonte: Projeto Colabora (2016).
Imagem: Estrutura metálica e desumana colocada em frente a
uma sede do banco Itaú em Goiânia, no centro da cidade, em
Goiânia - GO. Foto: Desconhecido. Fonte: Mídia NINJA (2021).

| 11
PESSOAS EM
SITUAÇÃO DE
RUA EM GOIÂNIA
A aporofobia é de origem grega e remete à
aversão ou desprezo aos desfavorecidos
financeiramente (às pessoas pobres e em
situação de rua e despejo). A fobia está
intimamente ligada à arquitetura hostil. No Brasil,
em contrapartida, as diferentes formas e graus
de exclusão e omissão estatal para com esse
grupo, tem configurado na perspectiva das
regiões metropolitanas. A população do estado
de Goiás é predominantemente urbana (90,29%)
conforme o senso do IBGE, 2010. Em 2020 foram
registradas 2.449 famílias em situação de rua,
sendo que 46,06% estavam concentradas na
capital estadual (MDS, 2021). O grupo
populacional em questão é caracterizado,
predominantemente por pessoas em situação de
vulnerabilidade social e em situação de rua.

Fonte: A REDAÇÃO | 12
No Brasil, em contrapartida, as diferentes formas A exposição à insegurança, como nos casos de
e graus de exclusão e omissão estatal para com ataques violentos, e acesso a substâncias
esse grupo, tem configurado na perspectiva das psicoativas também se fazem presentes
regiões metropolitanas. Conforme consta até o (GOIÂNIA, 2019) na realidade da população de
último levantamento de 2014-2015 havia cerca rua. Essas questões, dado a mobilidade da
de 559 unidades de prestação de serviços de população, também estão relacionadas ao
assistência social privada sem fins lucrativos nosso modelo de urbanização. Estudar essa
com serviço especializado para pessoas em dinâmica, do ponto de vista da geografia é,
situação de rua. portanto, uma tarefa urgente para romper com
a invisibilidade a qual essas pessoas estão
Dentre as principais unidades de assistência à
submetidas e retomar a justiça social por meio
pessoas em situação de rua estão:
de política públicas.
• o Centro de Referência Especializado para Ocorreu um aumento significativo de famílias
População em Situação de Rua – Centro Pop; em situação de rua no estado de Goiás,
• o Centro de Referência de Assistência passando de 51 no ano de 2012 à 2.449 em 2020,
Social – CRAS; o que significa uma multiplicação de 48,01 vezes
• o Centro de Referência Especializado de (MDS, 2020). Em 2012, o fenômeno foi registrado
Assistência Social - CREAS em apenas 16 municípios goianos, evoluindo
• e o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS. para 131 municípios em 2020. Em esfera nacional,
Entretanto, Sarmento (2020) aponta para a até março de 2020 tínhamos um número
dificuldade de acesso aos benefícios e os estimado de 221.869 pessoas em situação de
aspectos burocráticos para a obtenção deles, rua (IPEA, 2020), sendo que a estimativa não
como no caso de programas como programas inclui os possíveis reflexos da crise provocada
de transferência de renda, programas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
habitacionais e atendimentos médicos.

| 13
O levantamento mais recente sob o título de Entretanto, em 2019, os estudos do Núcleo de
Censo e Perfil da População de Rua na cidade Estudos e Pesquisas sobre Criminalidade e
de Goiânia foi feito em 2014-2015. Em 2019, os Violência (NECRIVI), identificou e I apontaram o
estudos do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre perfil da população em situação de rua − que
Criminalidade e Violência (NECRIVI) identificou estão nas ruas e/ou em vulnerabilidade social.
353 pessoas em situação de rua em Goiânia. Em sua maioria são pessoas sozinhas (91,8%),
Dentre essas pessoas identificadas pelo estudo, do sexo masculino e que se identificam como
não se incluiu catadores de reciclados, negros (75,4% - frequência de 266 pessoas).
trabalhadores de rua e outros, uma vez que
“embora tenham a rua como espaço de
sociabilidade e de sobrevivência econômica,
possuem um local de moradia” (GOIÂNIA, 2019).

Imagem: Perfil da população em situação Imagem: Perfil da população em situação


de rua quanto idade (%). Fonte: GOIÂNIA de rua, quanto ao local e sexo (%). Fonte:
(2019). Adaptação: Autores. NECRIVI (2019). Adaptação: Autores.
| 14
Quanto ao tempo e o motivo principal de Quanto a violência sofrida pela população em
estarem em situação de rua, a pesquisa aponta situação de rua, cerca de 63,6% pessoas já
que grande parcela dessa população se sofreram violência, destacando principalmente
encontra há mais de dois anos nas ruas e o agressão física, agressão verbal, ameaça e
principal motivo são problemas familiares. furto.
Embora o problema com drogas esteja entre os
três principais motivos, foi identificado que o
consumo de álcool − cerca de 66,3%, − é a
substancia psicoativa de maior destaque.

Imagem: Perfil da população


em situação de rua, quanto ao
tempo e motivo (%). Fonte:
NECRIVI (2019). Adaptação:
Autores.

Quanto as atividades remuneradas, cerca de


48,1% não possuem trabalho, e cerca de 61,5% já
trabalhou de carteira assinada. Por fim, o estudo
indicou que 74% desse público não dispõe de
Imagem: Perfil da documentos pessoais, fato que nos indica
população em
situação de rua, valores ainda mais emblemáticos (GOIÂNIA,
quanto ao tempo
e motivo (%). 2019).
Fonte: NECRIVI
(2019). Adaptação:
Autores.

| 15
MAPA DE CALOR DAS CONCENTRAÇÕES DE PESSOAS
SETOR NORTE EM SITUAÇÃO DE RUA NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE
FERROVIÁRIO
REGIÃO DA 44, RODOVIÁRIA E
PRAÇA DO TRABALHADOR
SETOR LESTE VILA NOVA
REGIÃO DA PRAÇA BOAVENTURA

SETOR LESTE
SETOR OESTE VILA NOVA
REGIÃO DA PRAÇA DAS MÃES
REGIÃO DA
E LAGO DAS ROSAS
PRAÇA BOTAFOGO E
MARGINAL BOTAFOGO

SETOR LESTE
UNIVERSITÁRIO
REGIÃO DO TERMINAL
PRAÇA DA BÍBLIA

SETOR CENTRAL
E SETOR SUL
SETOR CENTRAL REGIÃO DA AV.
REGIÃO DE TODO O BAIRRO UNIVERSITÁRIA E CATEDRAL

| 16
MAPA DE CALOR DAS CONCENTRAÇÕES DE PESSOAS
SETORES AEROVIÁRIO E EM SITUAÇÃO DE RUA NA REGIÃO OESTE DA CIDADE
RODOVIÁRIO
REGIÃO DO SHOPPING CERRADO E
TERMINAL DO DERGO
SETOR CAMPINAS E
ADJACENTES
REGIÃO DA PRAÇA DA MATRIZ,
PRAÇA JOAQUIM LÚCIO E PRAÇA 'A'

SETOR
COIMBRA
REGIÃO DO MOREIRINHA E
AV. T-2

SETOR CIDADE
JARDIM
REGIÃO DO DETRAN/GO

| 17
MAPA DE CALOR DAS CONCENTRAÇÕES DE PESSOAS
EM SITUAÇÃO DE RUA NA REGIÃO SUL DA CIDADE

SETOR MARISTA
REGIÃO DA AV. 85 E AV. MUTIRÃO

SETOR PEDRO
LUDOVICO
REGIÃO DO TERMINAL
ISIDÓRIA E AV. CIRCULAR

SETORES BUENO
E SERRINHA
REGIÃO DO VIADUTO
DA AV. T-63

| 18
CREAS
NORTE
RELAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS CAPS NEGRÃO
DE ASSISTÊNCIA EXISTENTES DE LIMA

CAPS CRAS VILA


CAPUAVA ISAURA

CAPS
CENTRO

CENTRO POP
CAPS
UNIVERSITÁRIO

CRAS CREAS OESTE


BAIRRO GOIÁ
CREAS
CRAS VILA CENTRO-SUL
CANAÃ
LEGENDA

CENTRO POP
Centro de Referência
Especializado para População
CAPS em Situação de Rua (PONTUAL)

SUDOESTE CREAS
Centro de Referência
Especializado de Assistência
Social (REGIONAL)

CAPS CRAS
MARISTA Centro de Referência de
Assistência Social (SETORIAL)

CAPS
Centro de Atenção Psicossocial
(PONTUAL)

CRAS VILA
UNIÃO

CRAS VILA
REDENÇÃO
| 19
Nessa perspectiva, Goiânia, como capital e Entre os principais fatores para o crescimento
cidade metropolitana, apresenta uma dos desabrigados estão o aumento do
característica de atração de fluxos migratórios desemprego e falta de qualificação profissional.
socioeconômicos, no qual, em parte, as pessoas Indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra
estão em busca de trabalho e equipamentos. de Domicílios (Pnad), do IBGE, demonstram o
Apesar de os dados desses estudos se impacto negativo que a pandemia gerou nos
mostrarem um grande passo para quantificar e empregos. Durante o primeiro ano da pandemia,
qualificar a população de rua, é fundamental uma média de 377 brasileiros perderam seus
compreender que não se pode apontar que eles empregos a cada hora no Brasil. O pior mês foi o
sejam um padrão característico da população de agosto de 2020, no qual 1,4 mil brasileiros
em situação de rua nos municípios goianos, perderam seus empregos por hora.
principalmente nos municípios interioranos.
Os dados mais recentes do IBGE mostram que o
A pandemia de Covid-19 afetou severamente Brasil continua registrando alta taxa de
toda a população brasileira, causando desocupação (13,2%), com 13,7 milhões de
desemprego em massa, perda de renda e pessoas desempregadas. A informalidade
agravando o estado de vulnerabilidade de também cresceu. O número de pessoas que
milhares de cidadãos. O que já era possível se trabalham por conta própria, em estado de
ver nas ruas de Goiânia, agora está vulnerabilidade e sem direitos garantidos,
contabilizado em números. Segundo dados da chegou a 37,1 milhões. O valor representa 41,1%
Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social dos 90,2 milhões de pessoas ocupadas no País.
(SEDHS), nos quase 20 meses de pandemia, o
número de pessoas vivendo ou trabalhando nas
ruas de Goiânia cresceu quase 50%, chegando a
1,8 mil pessoas.

| 20
Imagem: Pessoas em situação de rua, em Goiânia - GO. | 21
Foto: Fábio Lima. Fonte: Jornal O Popular (2023).
Imagem: Pessoas em situação de rua, na Praça Boaventura, no Setor Leste Imagem: Pessoas em situação de rua, debaixo de pontes e viadutos da Marginal
Vila Nova, em Goiânia - GO. Foto: Fábio Lima. Fonte: Jornal O Popular (2023). Botafogo em Goiânia - GO. Foto: Fernando Leite. Fonte: Jornal Opção (2023).

Imagem: Pessoas em situação de rua, no Coreto da Praça Cívica, no Setor Imagem: Moradores em situação de rua na Rua 200, no Setor Nova Vila em | 22
Central, em Goiânia - GO. Foto: Domício Gomes. Fonte: Jornal O Popular (2023). Goiânia - GO. Foto: Wildes Barbosa. Fonte: Jornal Opção (2023).
HABITAÇÃO EM
PRIMEIRO LUGAR-
FINLÂNDIA
Estima-se que nada menos que 150 milhões de
pessoas ou 2% da população mundial não tenha
onde morar. É um problema grande nos países em
desenvolvimento e, também, em países
desenvolvidos. Londres, Berlim, Paris e outras grandes
cidades dos países mais prósperos da Europa
tentam, sem sucesso, conter ou reduzir o número de
sem-teto em suas ruas. No entanto, há uma
exceção, a Finlândia é apontada como o país da
União Europeia mais próximo de resolver a questão
da população em situação de rua.

Muitos países apresentam soluções de moradia


temporárias e condicionais aos moradores de rua. Já
a Finlândia oferece a eles, desde o início, habitações
permanentes, sem impor condições. Concede ainda
assistência social para ajudá-los a colocar a vida
nos eixos, lidando com questões como vício em
drogas e desemprego.

Fonte: BBC NEWS | 23


Antes de 2008, o governo finlandês tentou resolver Em 2008, o país adotou um politica de “Habitação
o problema das pessoas sem moradia, mas não em Primeiro Lugar” (Housing first) e agora é o
estava funcionando muito bem. Abrigos de curta único país da União Europeia onde o número de
duração foram construídos, mas isso não ajudou pessoas em situação de rua está diminuindo.
com a falta de moradia de longo prazo. Ainda Desde quando a política foi adotada, a falta de
havia cerca de 8 mil desabrigados moradia de longo prazo diminuiu cerca de 40%,
(aproximadamente 0,15% da população do pais). quando haviam 4.341 pessoas que foram
A situação chegou ao ponto de comunidades relatadas como desabrigadas, no final de 2020.
inteiras vivendo em barracas no centro da capital.

Pessoas vivendo em barracas no centro de Helsinque. | 24


Fonte: HYPENESS.
Com o novo programa o governo finlandês Para que tudo isso acontecesse, a Finlândia teve
decidiu que deveria adotar uma abordagem que investir muito dinheiro, porque obviamente,
diferente e simplesmente dar às pessoas um eles precisavam de casas. Assim, os
lugar para morar. Não importa quanto tempo apartamentos foram comprados no mercado
uma pessoa fique sem moradia , ela recebe uma privado, novos edifícios foram construídos e os
casa e apoio para que possa permanecer lá. edifícios antigos foram reaproveitados e
renovados.
A ideia por trás do programa Housing First é que,
para lidar com os problemas que uma pessoa A fundação diz que esta abordagem de conceder
pode ter e que a colocam em risco de ficar sem habitação permanente é mais eficaz do que
teto, ela precisa de uma moradia estável. abrigos temporários, usados ​em muitos outros
países, uma vez que são computados todos os
Por exemplo, eles não podem vencer seus vícios custos sociais que este programa ajuda a evitar.
se forem expulsos de um abrigo pela manhã
Muitos deles têm problemas psicológicos e físicos Segundo informações governamentais o objetivo
que precisam de cuidados, e alguns deles é reduzir a reduzir pela metade o número de sem-
podem não ter educação ou habilidades que teto até 2023 e acabar totalmente com essa
seriam úteis para o trabalho ou apenas para o situação até 2027.
dia a dia – o programa inclui apoio em tudo isso.
Como resultado desse sistema de apoio, 4 em
cada 5 pessoas afetadas voltam a ter uma vida
estável.

| 25
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Embora os espaços públicos sejam feitos para todos
sabemos que ele não integra todas as pessoas. As pessoas
que vivem em situação de rua são estigmatizadas pela
sociedade, marginalizadas e excluídas de direitos e
garantias. São invisíveis pela maioria da comunidade, e
principalmente pelo Estado na aplicação de políticas
públicas que visam melhorar essa drástica situação. São
raras as pesquisas realizadas para obter informações e
estatísticas sobre a população em situação de rua no Brasil,
com muitos dados alterados por interesse político o que
dificulta a realização de ações públicas para alcançar a
todos que necessitam.

O espaço público nas regiões marcadas pelo fenômeno


social da população em situação de rua precisa ser
repensado, revitalizado por políticas públicas específicas, e
não generalizantes, que priorizem a assistência integral aos
moradores em situação de vulnerabilidade absoluta.

É preciso repensar a cidade para todos, assegurando um


ambiente urbano digno para todos os seus frequentadores,
sejam moradores com residência fixa ou transeuntes,
visitantes e turistas, e todos os egressos da população em
situação de rua que poderiam habitar a região de forma
regular e digna.
|26
REFERÊNCIAS
CERQUEIRA, Wagner. População em Situação de rua. Disponível em:
<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/populacao-situacao-rua.htm>. Acesso em
agosto de 2023.

BBC. Como a Finlândia conseguiu tirar da rua e reintegrar os sem-teto. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-39453230>. Acesso em agosto de 2023.

HYPENESS. Finlândia está perto de não ter mais ninguém em situação de rua dando teto a quem
precisa. Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2021/05/finlandia-esta-perto-de-nao-
ter-mais-ninguem-em-situacao-de-rua-dando-teto-a-quem-precisa/>. Acesso em agosto de
2023.

TEIXEIRA, Jéssica. O Espaço Público e a População em Situação de Rua. Disponível em:


<https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-espaco-publico-e-a-populacao-em-situacao-de-
rua/744132905>. Acesso em agosto de 2023.

OLIVEIRA, Jaquelinne Neves de. A evolução da população em situação de rua nos municípios
goianos entre 2012 e 2020: uma reflexão sobre a pobreza urbana manifestada nas cidades.
Elisée: Revista de Geografia UEG – Goiás, v.11, n.1, jan./jun. 2022.

Você também pode gostar