Você está na página 1de 81

Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.

com
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Somos Madrastas é uma comunidade para acolher mulheres que se tornaram


madrastas. Esta jornada pode trazer bastante solidão e sentimentos confusos.

Somos Madrastas é um projeto que busca encontrar um lugar de afeto e de amor


para você que não sabe direito como lidar com este novo papel na sua vida.

Maternar uma criança que não nasceu da sua barriga pode ser assustador, mas
você não está sozinha. Vamos caminhar juntas? ​Por relações mais leves, pacíficas
e saudáveis emocionalmente para nós e para as nossas famílias.

. Acesse o nosso site: www.somosmadrastas.com.br


. Siga o nosso instagram: @somos.madrastas
. Assista ao TEDxFloripa 2019 “Por quê madrastas são associadas à maldade?”
com a fundadora da Comunidade Somos Madrastas Mariana Camardelli:
https://youtu.be/Uw67pIBjfQc
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

O que você vai encontrar neste ebook:

COMO VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI


A jornada da separação
Talvez você sinta culpa
Sentir culpa x Ser culpado
​Quais os deveres de um pai no seu lar com seus filhos?
Mecanismos de recompensa
Uma entrevista sobre culpa e saudade com o meu marido

RELAÇÃO COM AS CRIANÇAS.


O adulto tem o dever de orientar a criança
Os combinados precisam ser feitos em conjunto - e precisam ser
cumpridos
Mimar é um desserviço
Fazer junto é a melhor forma de ensinar
Comida
Tela & Obrigações
Consumismo

RELAÇÃO COM A MÃE DAS CRIANÇAS

RELAÇÃO COM A MADRASTA


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Olá, pai da criança!


Seja bem-vindo!!! E, se você que está lendo, não é o pai da criança, a
madrasta que comprou esse livro para ler junto, estudar para argumentar
melhor ou presentear, seja bem-vinda também!

Durante quase três anos do meu trabalho no Somos Madrastas, sempre


escutei questões referentes à forma com que os pais se colocam, agem e
reagem na educação dos filhos e na relação com as mães - e isso sempre foi
uma tema com várias dificuldades para todos os lados.

Lendo relatos no Instagram, atendendo pessoas e escutando


experiências, decidi fazer esse ebook buscando organizar o que acontece e
sugerir alguns antídotos para que as relações familiares sejam mais pacíficas e
harmônicas.

Que seja uma boa leitura, que seja benéfico para você e para sua família!

Com carinho,
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A jornada da separação
(ou a frustração de não ter ficado junto, ou talvez até a frustração por ter tido um
filho com alguém com quem você não estava se relacionando)

A nossa sociedade se organiza em núcleos familiares. Desde a infância, somos


impactadas por essas imagens - o amor romântico que vai fazer tudo ter sentido, os
filhos que trarão completude para a nossa existência, os almoços na casa da vovó
com todos sentados à mesa naquele estilo família comercial de margarina… E por aí
vai.

Além disso, também como sociedade, ainda temos algumas crenças muito
enraizadas sobre o que significa o divórcio: ainda é um grande tabu, ainda é um tema
visto como "fracassei".

Não, ninguém casa para depois se separar. Mas será que o peso desse
casamento "ter dado errado" tem que ser tão grande?

Depois de ouvir relatos de homens em atendimento, acredito que a raiz dessa


culpa que acomete tantos homens separados é, justamente, o peso de "sair de casa",
"largar a mulher", "abandonar os filhos".

Esses termos estão entre aspas porque é assim que as pessoas costumam falar,
mas uma separação não significa nada disso. Separar-se é uma decisão complexa,
dolorosa para os dois lados e que fragiliza todos os envolvidos. Mesmo sendo a
melhor saída para uma relação que não está funcionando, vai haver um longo período
de recuperação.

Existem muitas histórias de pais ausentes sim, mas cair nessa ameaça de
estereótipo e abrir mão das rédeas da sua relação com a mãe das crianças e da
educação dos seus filhos, definitivamente, não é a melhor saída para a sua vida como
pai.

PARA ENTENDER MELHOR: O que é ameaça de estereótipo?


Fonte (https://www.significados.com.br/estereotipo/)
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Stereotype threat and the intellectual test performance of African Americans (CM Steele,
J Aronson)

O estereótipo é aquele conceito que pode ser entendido como um rótulo, um


lugar criado pelo senso comum que deseja padronizar grupos ou pessoas de acordo
com uma opinião preestabelecida. Facilmente, pode levar ao preconceito e quase
sempre não considera a individualidade daqueles que são estereotipados.

A ameaça do estereótipo é um fenômeno que acontece quando esse indivíduo,


que já está fragilizado pelo próprio estereótipo, deixa de ter bom desempenho em
determinadas tarefas justamente por estar vulnerável, criando, assim, uma condição
perfeita para que ele se sinta ansioso, inseguro e incapaz.

Por exemplo: as madrastas têm um estereótipo associado à maldade. Aí, de


repente, algo ruim acontece e na raiva de se vingar dele, ela fala: "Vocês não vivem
falando que eu sou má? Então agora vocês vão ver o que é maldade mesmo!". Pronto,
ela caiu na ameaça do estereótipo daquele grupo. Isso pode acontecer em outras
esferas também.

O perigo dos estereótipos é que eles podem criar preconceitos.

Todo jogador de futebol é festeiro e pagodeiro?


Todo político é corrupto?
Toda pessoa obesa é preguiçosa?
Todo pai que se divorcia e casa novamente abandonou a primeira esposa?
Toda segunda esposa roubou o marido da outra e destruiu um lar?

São as crenças que nos levam a estereotipar grupos e, a partir disso, julgamos
pessoas e situações com base nas ideias pré concebidas que temos.

Talvez você tenha escolhido ter filhos com a sua primeira esposa, talvez tenha
sido um relacionamento curto. Fato é que você escolheu ser pai. E essa escolha traz
consigo responsabilidades muito importantes - muito além de viver para satisfazer
nossas crianças, precisamos viver para criá-las de forma íntegra e autônoma para a
vida adulta que levarão lá na frente.

Os meus pais se separaram quando eu tinha 9 anos. Desde então, passei a viver
tendo padrasto e madrasta. Eu alternava finais de semana em cada casa, mas, durante
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

a semana, ficava quase todo tempo na casa da minha mãe e do meu padrasto. Então,
automaticamente, eu passava menos tempo da minha vida com meu pai, mas isso
nunca fez com que ele deixasse de educar a mim e à minha irmã de acordo com o
que ele acreditava.

Nunca fomos compensadas, nunca deixamos de ter obrigações, nossos


"crimes" de crianças e adolescentes nunca tiveram como atenuante o fato de
convivermos menos com ele.

Eu entendo que existem muitas situações de insegurança real, de ameaças e


até de processos judiciais, mas será que vale realmente a pena tratar a criança como
uma coitadinha porque existem todos esses problemas na esfera dos adultos?

Tendo sido uma filha que também se tornou enteada, eu tenho certeza que a
resposta é não. E aqui falo em especial do meu pai, sabe? Ele sempre teve valores
muito claros, sempre teve uma autoridade importante conosco, sempre mostrou bons
caminhos e correções necessárias de rota enquanto a gente crescia.

Hoje, sou uma mulher empreendedora, criativa, corajosa, aventureira, feliz (na
maioria dos dias) e cheia de planos (apesar de já ter até falido!) porque meus
guardiões (pais, padrasto e madrasta) sempre me trataram como alguém que era
capaz - e não como uma vítima.

Esse é meu convite especial para você, pai da criança: eu entendo que foi difícil
demais se separar ou ter que carregar a tristeza de um relacionamento que sequer
aconteceu, mas não deixe que esse fato tome conta do todo: ser um bom pai é mais
importante que ser um pai legal. Ser um bom pai e educar seus filhos é mais
importante que viver compensando as crianças pelas frustrações da vida.

Estamos em 2022, momento em que é perfeitamente possível um casamento


"não dar certo" ou não durar “para sempre”. A gente tem o direito de se separar e de
refazer nossa vida afetiva. Nossos filhos também terão. Vamos entender que, por mais
duro que seja ver esse projeto de vida desmoronar, fazer com que tudo que segue
também se transforme em uma espécie de queda de braço também não será nada
construtivo.

Ainda, podemos refletir: o casamento pode ter “dado certo” até o momento em
que o casal decide se separar. Nem todos os casamentos terminam em brigas.
Justamente porque existe a lei do divórcio, e ela nos ensina que os casamentos
podem acabar, também podemos entender que a separação não deve ser vista como
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

uma sentença de fracasso. No tempo das nossas avós, por exemplo, era muito mais
difícil haver uma separação, hoje não. A separação é sim um acontecimento
importante na vida dos envolvidos e, a partir dela, é possível que os adultos
reorganizem suas vidas afetivas se assim desejarem.

O que é um casamento que dá certo? Por exemplo, um casal que teve uma boa
relação por 10 anos e se separou, não deu certo? Deu sim, durante 10 anos, e depois
acabou. O “dar certo” não é um ato contínuo no infinito, às vezes ele está localizado
num determinado espaço de tempo. E tá tudo bem se for assim, vida que segue.

Diante das frustrações da vida, queremos que nossos filhos sejam capazes de
entender e solucionar os desafios. Eu passei por isso quando criança e adolescente: vi
meus pais se separando e casando de novo. Fui educada de forma respeitosa e
sensata por todos. E é isso que eu sugiro que você também faça: separe a dor, a culpa
e a frustração que envolve o casamento que existiu da educação que você precisa
dar para os seus filhos.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Talvez você sinta culpa


O que é culpa? Como identificar? O que está por trás da culpa? Eu adoro
começar a conversar sobre um assunto tendo procurado no dicionário o que ele
literalmente significa. Olhando para culpa:

1. responsabilidade por dano, mal, desastre causado a outrem.


2. falta, delito, crime.

Só de olhar essas duas definições eu já consigo elaborar várias teses sobre o


que leva um pai separado a sentir culpa como, por exemplo, ele sentir que tem
responsabilidade por ter causado aquele mal para os filhos porque os pais estavam
casados e viviam juntos e agora não estão mais.

É completamente compreensível sentir culpa por ter criado esse dano na vida
dos filhos e está tudo bem com até aqui. Sentir culpa jamais será o problema em si
porque tudo que a gente sente deve ser validado SEMPRE.

O que escolhemos fazer como estratégia para lidar com a culpa é que pode
acabar nos levando para decisões equivocadas, especialmente com nossos filhos e
enteados.

Então vamos combinar:

1. Como pai, talvez você se sinta responsável por ter causado um dano aos seus
filhos quando decidiu, por qualquer que seja o motivo, não estar casado com
a mãe deles.
2. Esse sentimento pode se transformar em culpa - talvez uma culpa muito
grande.
3. Sentir essa culpa não pode ser um motivo para você deixar de ser o pai que
precisa ser para o melhor deles - e não para você viver aliviando a sua culpa.
4. Educar é uma missão, é um dever que temos quando colocamos pessoas
nesse mundo (ou adotamos pessoas já existentes).
5. Educar a partir dessa culpa é uma armadilha sem volta - além de estar
sofrendo hoje, seus filhos também sofrerão no futuro.

As crianças não têm parâmetros sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, o


bem e o mal. As crianças talvez não saibam, por exemplo, que comer só miojo e
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

salsicha faz mal para a saúde. Somos nós, adultos, que temos a responsabilidade de
orientá-las, inclusive corrigindo as rotas quando for necessário.

Esse é um treinamento diário, que demanda esforço contínuo. Com nossos


filhos treinamos diariamente nossa tolerância, respeito, assertividade e também a
nossa capacidade de pedir ajuda.

É possível dizer a eles que sabemos o que é melhor naquele momento: “Eu sei
o que é melhor para você, eu posso acolher a sua frustração agora, mas não posso te
dar o que você está me pedindo” - esse é o tipo de frase e de comportamento
fundamental quando precisamos colocar limites claros e precisos na vida das
crianças. E o mais importante: é exatamente isso que elas esperam de nós.

Talvez as crianças não tenham essa consciência hoje, mas, quando forem
adultas, saberão que a formação do caráter de um indivíduo é feita através dos
hábitos, experiências e relações que estabelecemos com outras pessoas e com o
mundo. E cabe aos seus guardiões o papel de guia para a construção de relações
éticas e saudáveis e a manutenção da segurança física e emocional.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Sentir culpa x Ser culpado


Outro ponto interessante quando se fala em culpa é o entendimento real do
que está acontecendo. Se eu me distrair mexendo no celular e bater meu carro no
carro da frente, com certeza, eu sou culpada. Não importa o quanto eu argumente, eu
sou culpada. Posso até dizer, por exemplo, que eu estava recebendo uma notícia
trágica naquele momento no celular, uma coisa que de alguma forma justifica meu
comportamento - mas, por bater no carro da frente, eu sempre serei culpada. Além
do mais, checar mensagens enquanto dirigimos é proibido por lei. Então, todos os
fatos mostram que eu sou a culpada, concorda?

O fato de eu estar recebendo uma notícia trágica naquele momento me faz


sentir menos pior, eu me sinto menos culpada porque existia uma razão para me
distrair. Mas nada disso muda o fato de que eu tenho que me responsabilizar pelo
dano causado ao motorista da frente, certo?

Agora, vamos transpor essa situação para algo que acontece entre um pai que
casou novamente (com a madrasta) e seus filhos. Faz algum tempo que os dois
querem fazer uma viagem sozinhos para descansar, curtir um romance, conversar, e
os planos se materializam. Dois dias antes da viagem, o enteado mais novo telefona
pedindo para passar o sábado com eles. O pai cogita levar a criança na viagem ou até
mesmo cancelar porque se sente culpado: parece que, de alguma forma, está
negando a presença do seu filho ou até abandonando a criança de novo (já que,
teoricamente, o primeiro abandono aconteceu quando ele não ficou com a mãe dela).

Ele tem culpa de marcar uma viagem com a própria esposa? Nunca.
Ele se sente culpado? Muito.

Essa história aconteceu comigo. Ela quase se transformou em uma briga


daquelas bem feias e cheia de acusações.

"Você nunca dá prioridade para mim e para o nosso casamento!"


"Mas você sabia que eu tinha filhos!"
"Sabia mesmo. Quem errou fui eu, nunca deveria ter casado com você."

E assim a coisa desanda pior que maionese caseira em dia de verão.


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A falta de entendimento do que está por trás dos comportamentos que temos é
o primeiro gatilho para que as brigas sejam um amontoado de cobranças em tom
agressivo e desgastante.

Como pai - mas também como marido! -, tente separar as coisas coisas fazendo
as perguntas abaixo:

● O que estou fazendo causa danos reais para os meus filhos?


● Eu preciso assumir alguma culpa na situação que tenho à minha frente? Ou
preciso apenas entender qual é a minha responsabilidade?
● De que forma eu me sinto culpado com a situação que se apresenta?

Meu marido se sentiu culpado por dizer não ao pedido do filho. E ele merece
ser acolhido nesse sentimento. Mas ele tinha, de fato, culpa, por ter planejado uma
outra coisa enquanto a criança estaria com a mãe? Certamente, não.

Quando a gente consegue medir com mais realidade o que está acontecendo,
deixamos de ser apenas dominados pelas nossas emoções. Raciocinar e ponderar o
que pode ser a melhor solução para todos, nesse caso, foi a coisa mais certa a se
fazer. E sempre será, pode apostar.

"Meu filho pediu para passar o sábado, mas temos uma viagem programada. O que
você acha que podemos fazer?"
"Tem algum motivo especial para esse pedido?"
"Tem uma final de futebol."

Um exemplo ilustrativo de como a conversa poderia ser mais gentil e


compassiva, avaliando as reais possibilidades de atender às necessidades de todos.

A criança queria companhia para o futebol. A madrasta queria um tempo de


descanso e romance. O pai - hmmmm, me diga, eu acho que você queria os dois,
certo?

É na base do entendimento das necessidades e da avaliação das possibilidades


que a gente consegue criar os cenários que contemplam todas as pessoas da nossa
família. Não vai ser na base da culpa, nunca.

Se você agir decidindo sozinho o que você imagina que seja melhor com base
nesse vazio que o sentimento de culpa traz, talvez você acabe agindo para
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

compensar seu filho por algo que nem precisaria ser compensado e deixando de lado
essa mulher incrível com quem você mesmo se casou.

Faz sentido para você?


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A partir daqui, você vai encontrar também textos de pessoas convidadas. São
pessoas cujos caminhos cruzaram os meus de um jeito ou de outro, e a maioria se
deve ao projeto do Somos Madrastas. Sempre que estivermos lendo o conteúdo de
uma pessoa convidada, trarei sua mini bio abaixo do título.

​Quais os deveres de um pai no seu lar com seus filhos?


Por Ana Paula Silva, advogada colaborativa certificada pelo Instituto Brasileiro de Práticas
Colaborativas, Presidente da Comissão de Advogados IBDFAM/PA, estudante de Psicanálise, filha de
pais separados, mãe, madrasta.

A resposta a esta pergunta é muito simples: os deveres são os mesmos da mãe,


com a distribuição justa e equilibrada das funções de cuidar e prover.

Se formos seguir à risca a lei, ambos os pais, não importando em que condição
conjugal se encontrem (casados, separados, com guarda compartilhada ou unilateral),
têm o dever de estar comprometidos com o cuidado de seus filhos,
independentemente do gênero.

Isto porque pai e mãe têm o encargo legal de exercer o poder familiar, o que
significa que são obrigados a, juntos, dirigir a criação e a educação dos seus filhos.

Mas peculiaridades sociais de constituição de funções relacionadas a gênero


nas famílias, na prática, diferenciam muito o modo de exercício da coparentalidade de
modo genuíno, comprometido e responsável.

É preciso naturalizar a participação masculina nos cuidados com os filhos como


também nos cuidados domésticos. A função de cuidador atribuída ao sexo masculino
ainda é vista com muita restrição.

Em certa medida, aos poucos, os pais têm estado mais presentes, mas muito
aquém ainda do que é esperado da função real de cuidar; em alguns casos, ainda são
meros ajudantes coadjuvantes.

Culturalmente, a mulher cuida. O pai provém. Por isso, ainda que os homens
estejam mais em casa hoje em dia, a participação masculina ativa ainda é vista como
um suporte, ou seja, a corresponsabilidade vem, na prática, disfarçada de “ajuda”. Dar
banho, jantar e pôr pra dormir, à noite, quando chega do trabalho é efetivamente a
coparentalidade? Claramente que não.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Quando há separações, fica mais evidente a noção de que ainda é muito difícil,
tanto para as mães saírem da posição oficial de cuidadoras, quanto para os pais
criarem coragem de abrir mais tempo no seu dia para ser preenchido com a
participação na vida e rotina de seus filhos.

Embora a lei determine que, na guarda compartilhada, o tempo de convívio


com os filhos deva ser dividido de forma equilibrada entre mãe e pai, sempre tendo
em vista as condições práticas e os interesses dos filhos, na realidade, nas
separações, a maioria das mulheres fica com a guarda exclusiva dos filhos e, aos
casais que dividem o tempo com maior paridade, o cuidado ativo com os filhos é
claramente desequilibrado entre pais e mães.

E quando se trata de filhos pequenos? Bebês exigem ainda maior tempo de


dedicação das mulheres. Quando a separação se dá nesta fase, o período geralmente
ofertado aos pais ou buscado por estes fica ainda mais reduzido, sobrecarregando
física e mentalmente as mães.

Mas, como resposta a esse desequilíbrio estrutural de funções de cuidar e


prover, é possível perceber uma evolução gradual nos operadores de leis, como
reflexo das demandas reais.

Recentemente foi aprovada uma recomendação do Conselho da Justiça


Federal, na IX Jornada de Direito Civil, no sentido de que “a tenra idade não impede a
fixação de convivência equilibrada com ambos os pais”.

Entendeu-se que a situação é especificamente grave quanto à convivência


fixada em favor dos pais homens, diante da questão sociológica enraizada que,
equivocadamente, atribui apenas à mulher a capacidade para cuidar.

Na prática, isso quer dizer que filhos estarão mais tempo com seus pais desde
bebês e pais já estão sendo convocados a assumir os cuidados, devendo manejar
ativamente o zelo e a proteção, e trabalhar, diariamente, para que seja enxergada na
rotina com os filhos a sua participação efetiva.

O mito de que a mãe é a cuidadora e o pai é o provedor deve ser quebrado a


partir da exigência dos homens, nos locais em que trabalham, por maior tempo com
seus filhos. Muitos sequer tentam, com medo de perder seus empregos.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A coparentalidade exercida de fato não é algo extraordinário e deve ser


encarada como fundamental ao bom e saudável desenvolvimento das relações de
afeto com os filhos. É um dever legal, mas merece ser elevado a dever moral, natural.

Se as mães vêm perseguindo seus espaços de trabalho, buscando melhores e


equilibradas condições de aperfeiçoamento e desenvolvimento profissional e salários
nivelados aos dos homens, os pais devem procurar preencher seus espaços
enquanto cuidadores, equilibrando as posições de cuidar e prover a homens e
mulheres. Ganham todos: filhos, mães e pais.

Está bem dito: o dever é dos dois. E o dever não apenas de manutenção
material, o dever da educação, do cuidado, da criação.

Estar casado ou solteiro, com a mãe das crianças ou com a segunda esposa,
nada disso é justificativa para descuidarmos do mais importante que existe na vida de
uma criança, que é a oportunidade de ser educada e crescer com recursos
emocionais para se desenvolver.

Encontre mais conteúdo em: @direitodefamiliaoficial


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Mecanismos de recompensa
Nosso cérebro tem um sistema próprio que processa as informações
relacionadas ao prazer e satisfação. O principal neurotransmissor relacionado com
esse sistema se chama dopamina, popularmente conhecido como um dos hormônios
da felicidade - sim, também é esse hormônio que liberamos quando comemos
chocolate, por exemplo.

Os hormônios são parte do sistema endócrino que é muito complexo e que


produz várias substâncias químicas capazes de estimular todos os órgãos a
produzirem respostas. E a resposta da mensagem enviada pela dopamina é a
sensação de prazer que toma conta de todo o corpo.

A dopamina é aquele combustível que impulsiona as pessoas a irem em busca


de suas metas, que dá o estímulo necessário para a ação. É o neurotransmissor que
emite os sinais de alívio da dor e atua no sistema nervoso central de forma rápida e
está intimamente associado ao sistema de recompensa do cérebro (SRC).

A neurocientista Suzana Herculano Houzel explica que o sistema de


recompensa é um mecanismo de sobrevivência que associa os prazeres a
determinadas atividades de preservação da vida, os chamados básicos, como a
obtenção de alimentos, água e calor. Há também aqueles associados a outros
aspectos da evolução humana, como a satisfação por aprender algo novo, receber
um elogio ou sentir-se amado.

Nós sempre lembramos daquilo que foi bom, agradável ou prazeroso porque os
eventos com essas características ficaram gravados na nossa memória. Uma das
funções do SRC é mapear as oportunidades de encontrar mais satisfação e
bem-estar, aquelas que provocaram muitos movimentos elétricos e químicos nos
neurônios. Assim, a dopamina ensina o cérebro a querer buscar mais oportunidades
semelhantes.

Mas existe uma grande diferença na ativação do SRC nas crianças e nos
adolescentes. Enquanto que as crianças facilmente sentem-se motivadas e
conseguem sentir prazer nas atividades porque estão cheias de receptores de
dopamina, os adolescentes parecem habitar no mundo do tédio e da preguiça, que é
justificado pela perda destes receptores. É uma condição biológica natural da idade e,
para que o prazer e a satisfação sejam novamente encontrados, é preciso estimular
ainda mais o sistema de recompensa através de práticas saudáveis como o esporte,
as artes e as atividades em grupo.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Fonte: O cérebro em transformação, Suzana Herculano Houzel, Ed.Objetiva,2005


Um ABC de endocrinologia,Kevin J Catt- Edizione Scientifiche e Tecniche Mondadori,1975

A gente gosta de estar bem, de se sentir bem. Evolutivamente, isso foi


importante para nossa sobrevivência. O bebê chora até ser atendido quando está com
fome, por exemplo. Se ele não chorar cada vez mais alto, dificilmente vai chamar a
atenção de seus cuidadores.

Nossos mecanismos para sentirmos prazer ao invés de dor são muito eficientes.
A gente sempre vai procurar o que faz a gente se sentir melhor, especialmente se os
benefícios de uma segunda escolha forem a longo prazo.

Quem nunca abriu a geladeira procurando por prazer? Por algum alívio
momentâneo? Você pode até ter tentado se convencer de que era fome, mas estaria
disposto a comer um repolho para matar sua fome? Acredito que não. A vida moderna
transformou bastante nossa relação com a busca por um prazer sem fim. Precisamos
tomar cuidado com isso porque ensinar nossos filhos, desde cedo, de que tudo é
possível nesse sentido pode ser uma grande armadilha para os adultos que eles vão
ser.

E o que isso tem a ver com um pai separado educando seu filho? O que isso
tem a ver com a culpa que a gente sente desempenhando esse papel de
parentalidade?

Quanto mais eu me sinto culpada por algo na minha relação com a minha filha,
por exemplo, mais eu tendo a compensá-la. Falando sobre pais separados, fica ainda
mais fácil recorrer a algum mecanismo de compensação - que ativa esse sistema feliz
por algum tempo e faz a gente se sentir mais amados pelas crianças.

Vamos a um exemplo ilustrativo:

Eu passo o dia inteiro fora de casa trabalhando, e, na volta, meu filho está
morrendo de saudades. E também morrendo de vontade de comer um sorvete. Tudo
bem, vamos comer o sorvete. Vai ser uma bola para cada um, ok? Se eu deixo, ele
come o pote inteiro. Quando termina a primeira bola, ele pede mais uma.

Duas coisas podem acontecer dentro de mim neste momento:

1. Eu relembro meu compromisso com a alimentação saudável, sem excesso de


doces, e sigo firme: “filho, entendo que sorvete é delicioso demais, mas o limite
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

é uma bola”. Ele pode ficar frustrado, chorar, brigar comigo. E eu sigo lembrando
do meu compromisso com uma educação para hábitos saudáveis.

Eu me sinto péssima. Além de ter passado o dia inteiro longe, agora eu fui a
responsável por frustrar meu filho. Agora ele está chorando muito triste porque
não teve o que queria.

E eu também não tive uma descarga de dopamina para fazer eu me sentir bem,
muito pelo contrário. Me sinto mais culpada ainda: será que eu deveria estar
mesmo trabalhando fora o dia inteiro? Os sentimentos se misturam. Eu também
fico incomodada.

Dica: A gente pode aumentar o nível de dopamina no nosso cérebro com


atitudes simples que envolvem o bem estar, quer ver? Tomar um banho gostoso
cantando com seu filho, colocar uma música e dançar, pedir um abraço. A
dopamina é a mesma, sabia? Ou então fazer uma meditação, uma aula de yoga,
preparar uma refeição saudável. Manter uma boa rotina de sono e atividades
físicas regulares colabora para a produção desse hormônio, que é super
importante para manter o corpo e a mente em harmonia.

Já no segundo cenário:

2. Eu me conecto com a culpa de ter passado o dia inteiro fora de casa. Eu preciso
me sentir melhor quando essa culpa me atravessa, então eu cedo ao
compromisso da alimentação equilibrada e deixo ele comer a segunda bola.
Sou eu que preciso aliviar a minha culpa e me sentir melhor, e me sentir amada
pelo meu filho é uma forma de conseguir isso. Então eu deixo. Ele fica muito
feliz e animado, não tem choro nem confusão. Está tudo em paz.

O exemplo do sorvete pode parecer simplista, mas a gente age assim em várias
outras áreas com as crianças. Permitimos que elas não cumpram os
combinados “só por hoje”. “Meu filho gosta tanto de videogame, então hoje ele
vai jogar até de madrugada”. Combinamos de não comprar nada no shopping,
só de ir ao cinema, mas, na saída, ele insiste que quer muito um tênis novo e a
corda vai arrebentar para o lado mais fraco (ou mais culpado).

Os nossos fantasmas aparecem e a gente acaba criando mecanismos de


compensação para aliviar a suposta dor deles - mas somos nós que não
conseguimos lidar com a frustração dos nossos filhos.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A nossa missão como adultos não é fazer as crianças felizes o tempo todo. Não
é viver ao redor delas evitando que fiquem infelizes. A nossa verdadeira missão
é fazer com que eles sejam capazes de lidar com todos os tipos de
acontecimentos da vida, sejam eles bons ou ruins.

Fazer tudo que as crianças querem para que nos sintamos amados como pais e
cuidadores é a pior forma de lidar com as culpas que carregamos dentro de
nós.

Esse estilo de parentalidade em que a criança "coordena" o que é feito, o que se


come, os horários das coisas e nunca pode ser contrariada se chama permissividade.

Numa relação saudável entre adultos e crianças, a premissa mais importante é


a de que quem sabe o que é melhor para aquela criança é o adulto. Mas nesse estilo
de parentalidade, essa hierarquia não existe. Quem comanda a cena é sempre a
criança.

Perguntei para as madrastas da comunidade o que os companheiros delas


deixam as crianças fazerem porque se sentem culpados com a separação, e as
respostas foram decepcionantes, apesar de não serem surpreendentes.

O mote é sempre essa permissividade. Quase que por penitência, os pais


permitem que as crianças durmam mais tarde que o normal, relaxam na alimentação
e na tolerância ao barulho e buscam recompensar seus filhos e filhas com doces,
telas e presentes (e não são só eles porque não são raras as vezes em que a família
do companheiro, como avós, tios e tias, agem da mesma forma).

Recebi relatos sobre pais que não cobram que as tarefas da escola sejam feitas,
que os dentes sejam escovados, que se tome banho ou que haja apoio nas atividades
domésticas como arrumar as camas e lavar a louça.

Por conta da culpa, está liberado dormir na cama do pai e da madrasta ou


fazê-los dormir separados por ciúmes ou, no caso dos mais velhos, trazer as
namoradas para dormir em casa sem combinar. Os limites parecem ser alargados em
termos práticos, mas também em relação às questões comportamentais.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Do lado da criança, tratamento ríspido com a madrasta, do lado do pai, uma


certeza estranha de que, quando os filhos estão em casa, é ele quem manda em tudo
sozinho.

Pelos depoimentos recebidos, percebi que, quanto menor a frequência dos


encontros entre pais e filhos, mais acentuado é esse comportamento: testemunhos
como “não vai ser aqui em casa, vindo de 15 em 15 dias, que vamos conseguir mudar
a alimentação das crianças” ou “na casa do pai, não existe a palavra ‘não’ porque as
crianças não estão aqui sempre” são bastante representativos dessa percepção
enviesada.

E a permissividade anda de mãos dadas com um comportamento de quem


evita conflitos e de quem teme. Evita-se falar de médicos, de vacinas, de notas baixas,
de rotinas, de sentimentos. Evita-se colocar limites e dar broncas por medo de que os
filhos não gostem de estar ali e, por isso, não queiram voltar no próximo final de
semana.

Parece mais fácil deixar para fazer tudo de mais legal que existe justamente
quando as crianças estão ali, para, de alguma forma, convencê-las de que, mesmo
separado de sua mãe, é bom estar com o pai.

A culpa não reflete apenas em atitudes direcionadas às crianças. Diversas


histórias são também sobre um pai que aceita tudo que a mãe decide, sem espaço
para negociação ou combinados, ou que não busca diálogo com a ex-esposa para
evitar desgastes.

A situação pode ficar ainda mais complexa quando o casal tem seus próprios
filhos, o enteado tem uma criação completamente diferente e, mais uma vez, há
permissividade.

E talvez você já tenha ouvido falar na carta "o filho é meu". É quando a madrasta
aponta alguma questão sobre rotina ou educação e o pai simplesmente responde: eu
que decido sobre isso, o filho é meu. Deixa ele fazer.

E assim, dias passam e a madrasta acaba se afastando quando a criança chega.


E não é por falta de amor ou de carinho com a criança: é porque ela simplesmente
não aguenta mais ver as coisas completamente distorcidas e nada sendo feito a
respeito.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Esse cenário entre os adultos não se sustenta a longo prazo. As discordâncias


precisam, de alguma forma, serem conversadas para que não exista uma cisão na
relação entre o casal. Fora isso: quem gosta de viver em clima de guerra?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Aos pais, sem culpa.


Por Tanise G. Mateus, psicóloga, especialista em Psicoterapia de Adultos e em Vincularidade (relações
conjugais), pós-graduanda em Psicanálise e Relações de Gênero, mãe, madrasta, esposa, escritora,
empresária, tutora de vários pets.

A Mari é minha amiga querida e mentora nesse mundo das relações


madrásticas, que eu tenho estudado a fundo e até me aventurado a escrever sobre.
Imagina o orgulho que eu fiquei quando ela me chamou para estar aqui? Então,
missão dada, missão cumprida! Ou comprida...
Aqui, usarei linguagem binária e falarei em termos hetero e cisnormativos.
Amigos e amigas que estão em relações homoafetivas ou trans, aguardem, vou fazer
uma versão exclusiva pra vocês.
Minha missão nesse e-book para os “pais” é contribuir sobre a culpa. Bora lá,
uma pequena contribuição da psimadrastamãe sobre a culpa paterna. Debrucei-me
em meus alfarrábios e comecei minha pesquisa. E aí ela chegou, a dita, a própria, a
evitada, a culpa!
E pra começar, dei um Google na expressão “de onde vem o sentimento de
culpa”:
“Surge quando alguém se arrepende por uma atitude que tomou ou quando
não aceita os seus defeitos, erros, fraquezas e, até mesmo, a sua insignificância na
condição de ser humano. Esse sentimento atinge com mais força as pessoas que
possuem uma espécie de delírio de grandeza e querem ser perfeitas.”
Respira fundo... Essa definição do Google parece xingamento. Mas a culpa não é
só isso aí, não... Estou culpada, mas não sou uma pessoa com delírio de grandeza!
Freud (o pai da psicanálise) nos explica que a culpa tem um caráter
fundamentalmente social que também expressa a sensação da necessidade de
punição por ter feito, pensado ou desejado algo mal.
Para ele, a culpa é o medo da perda do amor, mas anterior mesmo à ameaça
real dessa perda. É a sensação ou a fantasia, a possibilidade de que algum ato, desejo
ou pensamento do sujeito, coloque em risco o amor.
Na prática: a família tradicional tem passado por mudanças, e a separação
conjugal é um dos eventos que mais provocaram alterações na estrutura familiar,
pedindo reestruturações e adaptações nos papéis familiares.
O modelo patriarcal rígido está em crise, resultado de acontecimentos
históricos como as conquistas do movimento feminista, o desenvolvimento da pílula
anticoncepcional e suas consequentes transformações no mercado de trabalho.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Na família patriarcal, existia uma diferenciação e hierarquização entre homens e


mulheres, que se estendia ao papel familiar que cada um desempenhava: pai e mãe.
Mulheres cuidavam da casa e criavam os filhos, homens traziam o dinheiro e não se
envolviam afetivamente com os filhos. Com o surgimento das novas configurações
familiares (que nem são tão novas assim), há a possibilidade de ruptura do núcleo
familiar original e o surgimento de pelo menos dois novos núcleos familiares.
Tcharam! Cá estamos pai, filhos e madrasta!
Tá, e a tal da culpa?
Calma, gente, ela está aí, nas vidas de todos nós... Isso porque com as novas
realocações dos papéis, o relacionamento entre pai (homem que exerce a função
paterna) e filhos precisou ser revisto.
Por herança cultural, a sociedade ainda se comporta de maneira patriarcal,
misógina, machista e exige que o cara seja o responsável financeiro pela família e
chegue em casa com a grana todo dia. Essa é a obrigação do pai: trazer a grana e
estar em casa no fim do dia. Tudo o que ele faz a mais o transforma em super pai. E se
ele não chegar em casa todo fim do dia, a ele compete o quê? O afastamento físico
provoca uma remodelagem na estrutura de funcionamento desse pai.
Com as novas famílias montadas, o pai precisa reencontrar seu espaço na vida
do filho. Se ele era um pai super presente e participativo, um pai apenas fisicamente
presente, ou qualquer outro tipo de pai presente, com a separação conjugal uma
nova modalidade de relacionamento se impõe. Soma isso a quebra das expectativas
frente da idealização que o pai tinha de família e da criação dos filhos, o tipo de pai
que cada um quer ser, o tipo de pai que cada um pode ser, mais o relacionamento
com a mãe das crianças, afetos e desafetos envolvidos, coloca tudo num caldeirão... E
corre, porque pode explodir!
A culpa aparece bem ali, tá vendo ela? Naquela frestinha entre a expectativa e a
frustração. Quando o pai pensa que teve um sentimento ou fez algo reprovável pelo
filho, ou pela expectativa que ele imagina que o filho tem... E aí é como uma goteira,
pequeninha, mas que faz um estrago enorme.
Qualquer processo de separação envolve a quebra de uma rotina, e essa perda
por si só já é angustiante. Perder a continuidade do convívio, o medo de perder o
vínculo ou a fantasia da incapacidade de construir ele, as ameaças que algumas
mães fazem (chantagens ou alienação parental - sugiro procurar um advogado
especialista), a impossibilidade de acompanhar a rotina diária entre outras mil
situações fantasiosas ou reais são angustiantes. E aí a goteira da culpa começa a
pingar…
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Voltando a Freud, a função paterna é responsável por colocar no sujeito a


noção de lei e limite. Do outro lado, para o filho não basta a presença física, sentir-se
querido e apoiado pelo pai é fundamental.
Muitos pais acreditam que, para conquistar ou não perder o amor do filho, não
pode ser autoritário, mas acabam esquecendo-se da importância do seu papel de
autoridade.
Autoritarismo é quando os pais ou líderes têm a palavra onipotente, em que
somente ele sabe e não dá ouvidos aos outros. Autoridade é quando os pais,
educadores e líderes, têm um posicionamento em que podem ouvir, dialogar,
combinar juntos o que vão fazer. Quando não exercem seu papel de figura de
autoridade, por culpa (aquela expectativa que imaginamos que a pessoa tem
grandiosa e fantasiosa), acaba por se tornar um pai permissivo.
Vamos fazer uma listinha de atitudes que ilustram esse perfil, já trazendo
exemplos de como isso se reflete na relação com a madrasta:
- pai que ajuda estudar para a prova, compra todos os livros do material escolar,
arruma junto à mochila para viajar, liga todos os dias, sabe o nome dos
melhores amigos, datas de todas as provas, vai a todas as reuniões da escola,
busca dia sim dia não para almoçar, cuida do uniforme para manter sempre
limpo e em ordem... Mas nunca, nunquinha vai dizer que primeiro precisa
combinar com a madrasta, pois o filho já sofre tanto tendo pais separados, isso
tem potencial traumático para uma pessoa...
- pai que troca a fralda, põe para dormir, leva na pracinha, sabe todas as comidas
preferidas, ajuda a fazer o almoço para não sobrecarregar a madrasta, conhece
todos os desenhos preferidos, planeja férias incríveis para a família, leva ao
pediatra, ao dentista, está sempre pronto para buscar em qualquer lugar... mas
nunca, nunquinha diz que primeiro precisa combinar com a madrasta, porque
deseja muito que um dia o filho opte por morar com eles então precisa criar
somente boas memórias...
- pai que diz sim pra tudo, absolutamente tudo: pode pular no sofá na cama, até
da janela... mas nunca, nunquinha pensa que aquela casa também é da
madrasta, porque assim não se estressa e não precisa ouvir a mãe reclamando
quando for levar o filho pra casa dela.
- pai que não sabe o que fazer, simplesmente não sabe. E por culpa de não saber
o que fazer não faz. Mas nunca, nunquinha aceita ajuda da madrasta porque o
filho pode pensar que o pai não sabe o que fazer e vai deixar de gostar dele.
A culpa é isso: essa expectativa que imaginamos que a outra pessoa tem. O
desejo deixa de ser nosso, ficamos presos à expectativa, que normalmente é algo
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

fantasioso e grandioso, e a frustração é certa. Aí começa a roda viva da culpa: o pai


passa a buscar formas de compensar os danos imaginários que a frustração causará.
Desenhando:
A Mari ama paçoca. Eu moro em Porto Alegre. Ela mora em São Paulo. Esses
tempos vi um café com paçoca e lembrei-me dela. Que delícia! Hummm... Vou fazer
um agradinho. Comprei pro meu marido o café com paçoca, mas ele não gostou. Não
sei como! MEU MARIDO NÃO GOSTOU!
Assim como meu marido não curte paçoca como a Mari, o filho não tem as
mesmas necessidades e traumas que o pai: são pessoas diferentes, com histórias
diferentes.
Meu marido não gostou. O filho pode acabar sentindo ausência paterna (lembra
que a função paterna é a que coloca limites?). Pai que não faz combinações não
exerce a função paterna. E criança sem função paterna cresce e pode virar um adulto
mais suscetível ao uso de drogas, depressão, fobias…
Quem gosta de paçoca é a Mari. Quem teve falta de presença paterna foi o pai,
não o filho.
Mas sentimentos são sentimentos e não podemos controlar, apenas sentimos.
Tem um tiozinho, que é pai da Logoterapia e Análise Existencial, que se chama Viktor
Frankl. Ele diz que a culpa é se mortificar olhando para trás e que isso não provoca
crescimento. Que a responsabilidade seria olhar a situação e refletir sobre o que pode
ser feito de forma diferente e, aí sim, provocar uma mudança.
Ou seja, a culpa pode servir como um alerta para ampliar as percepções,
reconhecer as responsabilidades e direcionar para um ajuste de conduta frente à
situação. Mas ela não pode ser um fator paralisante a ponto de impedir que o pai
tome decisões, nem ser um fardo imenso que a pessoa precisa carregar ao longo da
vida. Na bagagem da culpa, estão outras frustrações, misturadas a muitos
sentimentos que podem surgir sempre que os mecanismos que geram a culpa forem
acionados.

Encontre mais conteúdo em: @psitanise


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Relatos como esses não são raros na comunidade do Instagram.


Confusões, brigas, conflitos. Nós precisamos de ferramentas e de
inteligência emocional para criar nossas crianças com menos tretas,
concorda?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Convidei a Pri, uma madrasta e amiga que acredita no poder de transformação


da afetividade, para escrever sobre o tema.

Tire a culpa e traga a afetividade


Por Priscila Silva, jornalista, escritora, editora, madrasta.

Ah, mas falar é fácil… acertei? A culpa causa bloqueios, muitas vezes, não vistos
desta forma. Isso porque, quando acontece algo que machuca nossos sentimentos,
na maioria das vezes, nos culpamos, mesmo sabendo que não há motivo. E, mesmo
que haja, a culpa só deve existir para trazer a consciência necessária e seguir em
frente. O perdão está dentro de nós, portanto, é uma decisão seguir o caminho dele
ou ficar na escuridão da culpa.

No meu caminho, enquanto madrasta, precisei lidar com a culpa do meu


companheiro, que não se sentia presente, do pai que imaginava estar ausente pelo
fato de não viver mais no mesmo lar em que as filhas viviam e por muitas outras
culpas ainda não esclarecidas, mas que foram capazes de causar inúmeros bloqueios
no relacionamento da nossa família.

Quando eu conheci meu companheiro, a primeira informação que tive sobre a


vida dele foi que ele tinha duas filhas. No primeiro momento, eu fiquei feliz e pensei:
“Que legal pode ser participar da vida de duas meninas que já estão trilhando o
caminho da juventude, com seus sonhos e suas dúvidas e vários outros sentimentos!”
No segundo momento, quando me sentia parte da vida deles três, mas não de forma
completa, meu pensamento foi: “Para onde eu estou indo?”

Bem, para entender que essa culpa não fazia sentido e que, principalmente, eu
não precisava ter medo desse novo núcleo familiar, eu precisei falar - na maioria das
vezes sem ser ouvida - e acreditar que a afetividade ganharia essa luta - que ainda
não terminou.

Com o passar do tempo, meu companheiro percebeu o quanto a culpa distorcia


seus pensamentos e sentimentos. Como ela coloca as pessoas dentro de uma “bolha”,
não permitindo que elas vivam e aprendam com as conquistas e os fracassos. A culpa
o fez agir por impulso, a culpa o fez sentir medo de perder, a culpa o fez protegê-las
tanto (e isso é bom, mas com limite), mas tanto, que nosso relacionamento parecia ser
um erro o qual as fariam sofrer. Por quê?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Por uma culpa sem sentido, as decisões não planejadas em família começaram
a acontecer, as caixinhas começaram a ser separadas; era como se não pudéssemos
ser uma família. Eu comecei a me sentir excluída e imagino que as meninas possam
ter sentido certa confusão, afinal, eu e o pai delas já vivíamos uma vida juntos, mas era
como se estivéssemos em caixinhas separadas. Era assim que eu me sentia - e ainda
sinto, às vezes.

Sinto porque as caixinhas ainda existem. Sinto porque eu sou a madrasta e, em


alguns momentos, para o pai, a frase que prevalece é: “Elas são minhas filhas e as
decisões devem partir somente de mim, pois a responsabilidade é minha.” Ah, pais, se
vocês sentissem um pouquinho da dor que nós, madrastas, sentimos ao ouvir essa
frase, talvez vocês jogariam de vez a culpa no lixo.

Eu aceitei fazer parte desse núcleo familiar: eu, meu companheiro e minhas
enteadas. Eu fiquei feliz em fazer parte, eu visualizei a casa cheia, as festas de final de
ano, as viagens, poder trocar assuntos de meninas, ajudá-las, compartilhar, dar e
receber carinho, enfim, fazer parte como família. Por que todos esses sentimentos tão
genuínos deveriam despertar a culpa, o medo, o bloqueio, por quê?

A culpa nos faz deixar o tempo apenas passar, a culpa causa tanto medo, que
chega a bloquear momentos de alegria, transformando-os em momentos
inconsequentes e cheios de traumas. A culpa… para mim, representa o medo de viver
e achar que tudo deve ser perfeito.

E tudo bem, pai, se essa culpa já fez ou faz parte da sua vida, pois nem sempre
teremos exatidão em nossos pensamentos e sentimentos. Entretanto, é importante
que você tire a culpa da cena e deixe a afetividade entrar.

A afetividade educa, cura e nos faz entender que a vida é um eterno


aprendizado. A afetividade compartilha amor, cumplicidade, verdade e vontade de
fazer dar certo. Ela enche o tanque do amor de toda a humanidade. Mas, para isso,
precisamos deixá-la entrar.

Quando a culpa aparecer, escute o que ela tem a dizer, entenda e ressignifique
esse sentimento. Corrija o que precisa ser corrigido. Ainda que seja apenas um
pensamento equivocado, agradeça, perdoe e siga em frente. Mas, não se esqueça de
deixar na mochila apenas a afetividade. É ela que vai te ajudar a ser uma pessoa
melhor e mais leve. É ela que vai te ajudar a ser feliz no seu núcleo familiar - que,
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

ainda que você o veja como “torto” no início, o amor e o respeito são os sentimentos
mais importantes para nutrir uma família.

Escrita e perdão
Por Priscila Silva, jornalista, escritora, editora, madrasta.

Perdoar é fácil? Talvez seja fácil falar, mas, antes disso, precisamos decidir. O
perdão vem de dentro da gente, dos nossos sentimentos e da relação com a nossa
criança interior - que alimenta muitas memórias. Quando uma separação acontece
(ou mesmo qualquer outro problema), a culpa pode estar associada a uma memória
do passado nunca acessada. Por isso é tão importante decidir perdoar.

Pensando nisso, quando está difícil falar sobre perdão ou mesmo perdoar
alguém, eu escrevo. Por meio da fala, muitas decisões podem ser difíceis - e tudo
bem -, pois quando escrevemos acessamos lugares nunca visitados em nossa mente.
Lembre-se de lidar com as questões da forma como elas são possíveis na sua
realidade.

Se você está passando por uma separação ou já passou. Se você vive um novo
relacionamento e sente-se culpado em relação aos seus(as) filhos(as), pare, respire e,
antes de colocar seus filhos(as) dentro de uma bolha e impedi-los(as) de conhecer
uma pessoas que pode fazer parte da vida deles(as) de uma forma tão genuína,
pegue um papel e uma caneta e escreva por que você acha que precisa se perdoar.
Depois disso, escreva o que pode tê-lo levado a se sentir culpado. Em seguida,
perdoe-se e siga em frente.

Perdoar é uma decisão. Perdoar é se libertar das mágoas que nos causam culpa
e nos bloqueiam de viver uma vida autêntica. Esta é uma tarefa que você pode fazer
quando se sentir pronto. Você vai saber. Você vai sentir.

Encontre mais conteúdo em: @entrelinhasqueconectam


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

E aqui faremos a transição da primeira parte.


“Como você chegou até aqui?” para a segunda: a sua relação com as crianças.
Eu espero ter ajudado você a libertar algumas emoções aí dentro.

Também espero que você tenha se sentido extremamente desconfortável ao


ler este livro! É no desconforto que a gente expande nossos horizontes, que a gente
cresce. E se você quiser trocar alguma ideia sobre tudo isso, pode me escrever, tá?

Fiz uma pequena entrevista com meu próprio marido, o pai de todos os filhos
(até dos que eu não pari rsss)

Estou casada com Rodrigo há 8 anos. Temos 4 filhos ao todo: Augusto, com 18
anos, Vicente com 14, Flora com 5 e Martim com 9 meses.

Qual a principal mudança na sua vida de pai quando se separou?

Sempre tive um senso de paternidade muito forte e uma imensa vontade de


cuidar. A principal mudança que senti depois de me separar foi a oportunidade de
estar ainda mais próximo dos meus filhos e assumir a responsabilidade única de
cuidar deles enquanto estavam comigo. Não havia com quem compartilhar as
obrigações da paternidade.

Por mais paradoxal que possa ser, a separação me aproximou da minha família
e reforçou minha paternidade. Lembro muito também do sentimento de gratidão por
ter a oportunidade de estreitar meus laços de pai com os meus filhos e de valorizar
ainda mais cada momento que tínhamos juntos. Foi-se embora um sentimento de que
eles estavam sempre ali, disponíveis — não importa se ficasse mais tarde no trabalho
ou voltasse de uma viagem de dias.

Agora, pelo contrário, era preciso lutar para ficar mais tempo com eles. Então, a
principal mudança foi a saudade que aumentava quando não estava junto e um
sentimento de euforia quando estava próximo de ficar com eles. Gostei do sentimento
de reconstrução com eles, como o momento de sair para escolher uma cama, decidir
com eles como seria o novo quarto, o que gostariam de ter na casa nova. Foi um
momento muito difícil e também de bastante crescimento.

A separação da mãe deles foi na época do Natal. Minha terapeuta sugeriu


montar com eles uma árvore natalina. Compramos uma árvore juntos (um pinheiro de
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

verdade, que foi depois plantado no prédio onde morávamos) e fomos em uma loja
natalina escolher a decoração juntos.

Esta terapeuta querida também sugeriu a leitura dos mitos gregos à noite.
Então, na hora de dormir, lemos por um tempo razoável às quartas-feiras à noite e
finais de semana que estavam comigo “A sabedoria dos mitos gregos - aprender a
viver II”, de Luc Ferry. O livro explora a mitologia e os arquétipos humanos para
entender melhor nosso lugar no cosmos, assim como os desafios da vida humana.

Foi um período de mergulho nos nossos interiores e também no vazio. De


maneira figurada - e literal. O apartamento para o qual nos mudamos na zona oeste
de São Paulo ficava numa região com muitas ladeiras. Lembro bem de um dia, em
que eu, eufórico, estava indo para casa com eles depois de pegá-los na mãe. Resolvi
desviar um pouco o caminho para experimentar a sensação de descer as ladeiras
íngremes a certa velocidade. Era uma rua com três grandes ladeiras. Na primeira,
tivemos um leve frio na barriga. Na segunda, acelerei um pouco mais do que deveria
e o carro acabou ficando com as quatro rodas no ar, aterrissando meio de lado. Foi um
ato um tanto irresponsável, mas que rendeu boas risadas e a sensação de que não
seria um pouso fácil, mas seria, sim, possível. Foi o que acabou acontecendo, olhando
para trás, quase uma década depois. Na terceira, desaceleramos, curtindo a descida,
com uma sensação peculiar de agradecimento à vida! Ladeiras espirituais, eu diria
(risos).

Como foi para você passar da convivência diária para uma convivência menor?
Você sente saudades? Como você lida com a saudade?

Não foi fácil passar para uma convivência espaçada. Eu estava acostumado a
acordar com eles todos os dias, tomar café juntos, assim como colocá-los para dormir
na maior parte das noites. Também levar na escola, no clube, dentista etc.
Eu senti muitas saudades. Eu lidava com a saudade falando com eles e também me
ocupando com trabalho e outras atividades quando não estava com eles. Desde que
me separei, ligava para eles todos os dias praticamente, para falar por vídeo. Pela falta
de palavras deles, penso que achavam um saco. Eu tinha uma sensação de dever
cumprido. Um portal de dois ou três minutos.

Na pandemia, isso começou a mudar. Passei a lidar melhor com a distância e


aos poucos percebi que nosso amor não precisava necessariamente ser alimentado
por chamadas por vídeo. Afinal, para eles, não fazia muita diferença. A verdadeira
atenção que precisavam era no dia-a-dia, quando estávamos juntos, presencialmente.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Com certeza, não fiz tudo o que deveria, mas fiz tudo o que pude dentro das
minhas limitações. De qualquer maneira, acredito que os vínculos estabelecidos em
momentos importantes foram suficientes para estabelecer laços fortes. Não sei se me
admiram, mas tenho certeza de que sabem que podem contar comigo quando
necessário, em qualquer momento. Acho que a paternidade é, acima de tudo, isso.

Do que você sente medo na paternidade?


Você acha que ser um pai separado da mãe muda algo? O que muda para você?

Sinto medo de não estar presente quando precisarem. Sinto medo de ser
ignorado. Sinto medo de que não sejam felizes. Sinto medo de não ser suficiente.
Sinto medo de ser duro demais e sinto medo de ser permissivo demais. Sinto medo
de não encontrar o balanço. E sinto muito quando erro a mão. Sinto medo de que
façam escolhas erradas na vida porque não tinham a referência necessária. E tento
transformar este medo em ação e presença - o que se torna um pouco mais difícil em
caso de separação, pois não estou tão presente quanto gostaria. Esta é a principal
mudança.

Gostaria de morar em um lugar mais próximo à natureza, mas sei que a cidade
em que nasceram é uma cidade que gostam. Então, acima de tudo, escolhemos ficar
aqui, próximos a eles, para que tenham o apoio e referência da paternidade na última
fase antes da vida adulta. Até que possam voar sozinhos, talvez?

Você já disse sim para alguma coisa e depois se percebeu tentando compensar ou
agradar ao invés de educar e dar limite? Tem algum exemplo?

Eu gosto de torcer para o Grêmio no futebol. Já fui fanático, mas depois usei a
paixão por um time como linguagem para me conectar com os meus filhos. Com o
Augusto não funcionou, a gente acabou se conectando por meio de críticas ao
capitalismo e pensadores ocidentais. Não deu muito certo, pensando no futebol
(risos). Com o Vicente, foi certeiro. Ele é um torcedor fanático do Grêmio e isso nos
une. Certa vez, ele queria assistir a um jogo contra o principal rival, o Internacional, lá
em casa. Eu fiquei muito feliz com a vontade dele. Mas tão feliz que acabei
esquecendo que havia combinado de viajar com a Mari naquele final de semana.
Movido pela vontade de estar com ele (e com doses de culpa), nem pensei para dizer
sim. Ele ficou feliz, mas a madrasta não. Esse é um momento de divisão em que não
há solução possível. Ele ficou frustrado, Mari também e, no final, eu fiquei triste, me
sentindo incapaz.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Eu deveria ter lembrado do combinado, mas a culpa falou mais alto. O que fazer
neste caso? Lamentar e tentar lembrar do contexto como um todo na próxima. É um
aprendizado que não passa pelo racional. Gostaria de conseguir manejar melhor para
não deixar as pessoas frustradas ao redor. Este é um peso da separação. Não tem
certo e errado, neste caso só tem perda. Acho que lidar com isso e tentarmos evoluir
juntos é o aprendizado. Gostaria de pensar que existe uma solução positiva, mas aqui
o aprendizado passa pelo não. E a vida é feita de nãos. Então, lidar com o crescimento
pelo não, do limite, é um resultado positivo no final.

Nasci em 1976. Quando eu tinha por volta de 10 anos, os videogames


começaram a emergir. Tive o privilégio de ganhar um Odissey (quarentões
entenderão) dos meus pais por volta desta época. Por mais primitivos que fossem, já
eram feitos para viciar. Eu queria jogar o tempo todo. Meu pai e minha mãe criaram
uma regra em casa: videogames apenas nas quartas-feiras e depois da lição etc. Duas
horas, talvez. E finais de semana. Eu os odiava por isso e hoje em perspectiva vejo o
bem que me fizeram. Como não podia jogar, resolvi escrever um livro numa máquina
datilográfica sobre a humilde tentativa de explicar o mundo (risos). Escrevi algumas
páginas. Lembro bem disso, mas pouco das partidas de videogame. E lembro — hoje
com orgulho — da sensação e autoridade do limite. Nosso planeta tem limites, é
redondo, embora a gente insista em achar que não. Lidar com limites é bem-vindo e
necessário, relevante, fundamental para a educação. O ‘não’ dói na hora, mas constrói
no futuro. A conta é positiva no longo prazo.

Você se sente culpado por não estar todos os dias com seus filhos? De que forma
lida com essa culpa?

Já me senti muito culpado. E já fiz de tudo para estar com eles. Levar e buscar
na escola em dias que não estavam comigo para ficarmos 15 minutos juntos. Levar ao
médico ou qualquer coisa para estar com eles um pouco mais de tempo. Eu queria
estar presente. Uma tentativa de preencher um vazio que estava associado a ter saído
de casa por causa da separação.

Lembro de ter colocado tudo de lado para estar presente para eles. Para jogar
uma partida de videogame, por exemplo, “esquecendo” um convite de ver um filme
que tinha feito para a Mari. Também me lembro de várias vezes ter me colocado
numa situação difícil, diplomática, de querer agradar filhos e madrasta ao mesmo
tempo. Não dá, cada um tem suas vontades. É preciso combinar para que todo
mundo tenha seu momento. Muitas vezes, além da culpa, me sinto no lugar solitário
de querer agradar um pouco todo mundo e acabo desagradando a todos, inclusive a
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

mim, criando uma grande confusão. Nesse processo, acabamos buscando


combinados: tipo o filme de terça-feira com o filho, um momento de conexão
independente de qualquer outra coisa. A questão é que a vida vai mudando — a Flora,
irmã nove anos mais nova, nasce, por exemplo — e tudo muda. Nesta dinâmica,
sempre acesso uma culpa de não ter tido tempo suficiente para ficar com meus filhos,
divididos entre lares e atenções. Não sei se tem como lidar com a culpa de um jeito
definitivo, mas com certeza encontrar tempo de qualidade para cada um, com
combinados, é um caminho. Queria poder viver no multiverso da Marvel e me
multiplicar por aí, mas isso ainda não é possível.

Espero que esta pequena entrevista tenha ajudado a trazer uma nova
perspectiva de um outro pai que também vive desafios por ter se separado.

O Rodrigo ama ser pai. Não tem preguiça de nada, vive em função dos filhos e
da família. Eu brinco que ele tem mania de grupo: precisa da casa cheia de filhos para
se sentir em paz. Eu entendo demais esse sentimento e procuro, como madrasta,
fazer o possível para que a gente eduque esses seres humanos maravilhosos em um
ambiente feliz.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Relação com as crianças


Essa parte é mais prática. São dicas, experiências, ideias e vivências para ajudar
você a cuidar da rotina e do cotidiano de forma prática.

Fiz um resumo, e depois abri cada item para explicar melhor e trazer as
percepções de cada um.

● O adulto tem o dever de orientar a criança


● Os combinados precisam ser feitos em conjunto - e precisam ser cumpridos
● Mimar é um desserviço
● Fazer junto é a melhor forma de ensinar

Ao final, abri alguns outros pontos especiais como comida e telas, passando
pelos temas mais sensíveis que a gente precisa enfrentar no dia a dia com as nossas
crianças.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

O adulto tem o dever de orientar a criança


E mais: os pais têm dever e obrigação de orientar seus filhos. Sempre. E para
sempre.

Eu tenho 36 anos, moro em São Paulo e, de vez em quando, consigo ir para


Porto Alegre visitar meus pais. Agora imagine que eu chego para jantar na casa do
meu pai e da minha madrasta, super cansada de estar trabalhando tanto, cuidando da
casa, do trabalho, dos filhos e enteados. Entro, cumprimento, me sento no sofá e abro
um papel alumínio com cocaína.

Meu pai e minha madrasta se olham. Ela faz uma cara de espanto, mas não
comenta. Ela espera que ele fale algo. Eu me antecipo:

"O que foi, gente? Só um pouquinho. Só hoje. Eu ando tão cansada - pelo menos me dá
um barato bom essa cocaína, relaxem, não sou viciada. Sério. Não sou mesmo."

Meu pai olha e consente. Ela nunca vem aqui em casa… Faz um ano que ela não
conseguia vir e agora vou encrencar por causa de um pouquinho de droga? Só um
pouquinho…

Minha madrasta reprime. Não existe pouquinho!! Droga é droga. Não podemos
deixar ela cheirar cocaína, gente!!!

À noite, depois que vou embora, eles brigam. Ela tenta fazer ele entender que
não importa a frequência da minha presença, ele precisa (PARA SEMPRE!) me orientar
no que é certo e errado. Esse é seu papel!

Não importa onde eu moro, que idade eu tenho, se sou mãe, se sou
adolescente, se pago minhas contas: eu espero que meus guardiões sejam
orientadores e corretos para o resto da minha vida. E é isso que devemos aos nossos
filhos.

O exemplo da cocaína parece absurdo, concorda?

O que precisamos entender é que deixar uma criança comer doces o dia inteiro
tem o mesmo efeito em seu cérebro - e efeitos devastadores em sua saúde. Com as
telas, é o mesmo.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Pode ser que esse tema seja completamente novo para você. É chocante saber
disso. Este artigo do Jornal NEXO reuniu diversas pesquisas científicas sobre o
assunto:
https://www.nexojornal.com.br/externo/2022/01/15/O-efeito-do-a%C3%A7%C3
%BAcar-no-c%C3%A9rebro-de-crian%C3%A7as-e-adolescentes

Se o seu filho mora em outra cidade, se ele mora em outro país, se a


convivência é frequente ou quase inexistente: não importa. Seja pai e não deixe que
ele "cheire cocaína" sob sua tutela em nenhum momento da sua vida. Esse é o seu
dever. Dito isso, podemos usar algumas perguntas para, de alguma forma validar, as
decisões que tomamos - e especialmente para afastar essa culpa toda que toma
conta da gente quando queremos ser agradáveis e amados por nossas crianças.

Parece antinatural no começo, mas aos poucos você consegue treinar seu
cérebro para não deixar você cair na recompensa imediata de uma escolha.

Sabe aquela ideia de olhar algo que você quer comprar e esperar um tempo
para ver se você realmente precisa daquilo? É bem assim.

Pense na cena de uma criança que acorda com o celular, faz todas suas
atividades obrigatórias usando o celular, não ajuda em nenhuma tarefa doméstica,
quando o adulto chama para comer, ele se nega a deixar o celular. E quando
solicitado que desligue, a criança começa a gritar.

Três perguntas sobre essa frase "desligue o seu celular agora e vamos comer":

1. Tem potencial traumático?

Aqui estão todas as coisas que REALMENTE tem potencial de traumatizar uma
criança: abusos, negligências, humilhações, punições e violências de todos os
gêneros.

Ordenar que uma criança cumpra suas obrigações de criança tem potencial
traumático? Não. Nunca.

A questão é que temos uma mistura de cansaço (estamos exaustos da vida


moderna, trabalho e tudo o mais), medo (de desagradar, que ela não queira mais
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

voltar para a nossa casa) e culpa (já "abandonei" uma vez, por que complicar as coisas
agora?).

Use essa pergunta para comandar o seu cérebro de forma diferente. Educar
não é gostoso para a criança, gostoso mesmo é viver de sorvete e videogame, sim.

2. Causa um dano real ao meu filho? De que natureza?

Não deixe de educar por cansaço, por medo ou por culpa.

Tem dias mais difíceis, sim. Mas tente manter uma linha constante na sua
conduta de educação. Isso sempre vai valer o esforço.

Quando estiver prestes a permitir algo que a longo prazo fará mais mal do que
bem ao seu filho, pergunte-se: o NÃO que eu preciso falar agora causa algum dano
real? De que natureza?

Exigir que uma criança saia da tela e socialize com respeito ao momento da
refeição não causa nenhum dano real a ela.

Dar uma surra nela, chamar de imbecil e idiota - isso sim causa danos reais.
Traumatiza de verdade. Desligue seu celular ou você vai apanhar - isso sim causa
danos fortíssimos.

Um comando vindo da autoridade parental jamais será um problema em si, o


problema são as violências que usamos na comunicação.

3. Causa sentimentos desagradáveis?

O mais provável é que o seu NÃO cause algum sentimento desagradável. O que
a criança tinha como expectativa foi frustrado.

Lembre: seu papel dentro da parentalidade é criar pessoas que futuramente vão
para o mundo passar por frustrações, terão desafios e obstáculos.

A vida tem todos os seus desafios. Reconheça: eu sei que é chato ter que
desligar o seu celular agora, mas nessa casa todos almoçamos juntos sem telas.

Ponto final.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Se a criança desrespeitar você, responda: eu quero que você volte a falar


comigo apenas quando estiver com um tom respeitoso. E fim de papo. Se for mais
velho, espere que se acalme. Se for uma criança pequena, acolha com afeto. Você
está muito chateada porque pedi que desligasse o celular, né? Quer um abraço?
Depois disso, é hora de comer.

Não deixe de fazer com que as regras da casa sejam cumpridas porque você
tem medo que a criança não volte mais para a sua casa. Quanto mais cedo as
obrigações de todos estiverem claras e os combinados feitos entre a família, menos
risco você vai correr.

Imagine que você começa um trabalho novo em uma empresa super legal. No
primeiro dia de trabalho, você chega e espera que alguém lhe diga onde sentar e o
que fazer naquele dia. Espera que lhe expliquem como a empresa funciona. O tempo
passa, e nada. Você fica sentado no seu celular. Zero orientações.

No segundo dia, a mesma coisa acontece. De repente alguém lhe chama e


pede que faça uma planilha. Ótimo, agora eu sei o que esperam de mim. Você faz a
planilha rapidamente, em uma hora ela está pronta. Mas não foi orientado sobre para
quem deveria enviar o material. Então você senta e aguarda.

Dois dias se passam. De repente, uma pessoa aparece gritando: ONDE ESTÁ
AQUELA MALDITA PLANILHA????????

Pânico.

É um exemplo ilustrativo, mas é assim que a criança vai se sentir sem


contornos. O que esperam de mim? Qual meu papel? Que lugar ocupo nesta família?
De que forma pertenço e sou amado? Eu sou visto? Como? Em que momentos?

Deixar uma criança completamente solta, comendo tudo que quer, nos horários
que quer, sem ajudar nas tarefas de casa e sem colaborar com a pequena
comunidade em que vive fará dela uma adulta desregulada e extremamente mimada
- e quem estará lá para fazer tudo por ela depois?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Os combinados precisam ser feitos em


conjunto - e precisam ser cumpridos
A primeira coisa sobre combinados que você precisa lembrar é que ele deve
ser feito entre todas as pessoas envolvidas. Quando a gente fala para a criança: "só
mais meia hora e banho, combinado?" - isso não é um combinado.

Isso é uma ordem unilateral disfarçada de combinado. É uma negociação em


que a criança tem zero poder. Ela precisa apenas obedecer.

Quanto mais a gente conseguir criar combinados reais e negociados com as


crianças, mais chances temos de que elas de fato cumpram a sua parte.

A segunda coisa que você precisa ter em mente é que o limite não é
confortável. Você prefere ter um cartão de crédito sem limites com a conta sempre
paga? Ou ter que calcular os custos da casa e se manter dentro daquele padrão de
vida?

CLARO que a gente quer uma vida sem limites em que tudo pode e sempre
que somos confrontados com alguma barreira, nos frustramos. A frustração da
criança faz parte do processo dela - acolha, respeite e entenda que vai passar.

A sua paternidade não é pior porque a criança está incomodada com algum
limite que você deu a ela, pode confiar nisso.

Reflita (e converse com a sua esposa!) sobre os temas mais importantes para
vocês dentro de casa. Quais são as três coisas que vocês não abrem mão? Que são
muito importantes sobre os valores que desejam passar aos filhos?

Na minha casa, temos um compromisso com a comida e com a alimentação


das crianças. Esse compromisso envolve várias regras e combinados.

● Ter em casa sempre comida de verdade


● Cozinhar e limpar coletivamente
● Comer juntos e sem telas

Milhares de vezes reforçamos para os meus enteados a importância disso.


Centenas de vezes avisamos "hoje vamos cozinhar e jantar todos juntos, ok?". Algumas
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

vezes, também fui atrás do meu enteado mais novo que correu pro banheiro para
fugir de arrumar a louça, rsssss. E assim fazemos nosso papel: criar combinados e
regras que reflitam nossos valores e que criem harmonia na casa.

O que está pegando aí na sua casa? Telas, sono, alimentação? Converse com a
sua companheira, escute com empatia e amorosidade o que ela pensa sobre o que
está enxergando dentro da casa de vocês. Fale o que você enxerga e sente também.
Conversem juntos sobre alternativas e disponham-se a implementar juntos, cuidando
desse núcleo familiar tão bonito que estão construindo. Criem a comunicação
necessária para que os combinados funcionem.

Aliás, a comunicação é outro combinado que precisa ser criado e valorizado


com muita atenção. A família deve trabalhar para que sempre exista uma
comunicação constante entre pais e filhos. Pode parecer óbvio para aqueles que
moram na mesma casa, que se encontram todos os dias no café da manhã. Mas para
os pais que vivem separados dos filhos, em outra cidade ou em outro país, manter a
comunicação frequente pode ser bem estressante.

Existem limitações de idade, por exemplo, quando a criança ainda não domina
as tecnologias e não consegue se comunicar de forma autônoma usando o celular.
Para isso, é necessário que ela tenha o suporte de um adulto que cumpra a tarefa de
conectar o filho ao seu pai. E se o combinado é que uma ou duas vezes na semana o
contato será através de chamada de vídeo, isso tem que ser feito. Os horários
precisam ser estabelecidos para que tanto o pai, quanto o filho estejam disponíveis
para conversarem, levando em conta as atividades de cada um, fuso horário, rotinas,
etc. Os dois precisam manter o vínculo, saber quais são as novidades, como estão se
sentindo, olhar no olho (mesmo que através de uma câmera).

E quando o filho ou filha em questão é adolescente, domina a tecnologia, tem


seu próprio celular e responde as mensagens com monossílabos? - Oi filha, tudo
bem? Como foi o fim de semana? – Bom. – O passeio foi legal? Você gostou de
conhecer aquela praia? – Sim. – O tempo estava bom? Conseguiu dar um mergulho?
– Não. Lembre-se: você também já foi adolescente e certamente não teve muita
paciência para as conversas com os adultos. Adolescente quer andar em turma e se
relacionar com seus pares. O cérebro dele está fazendo poucas conexões que ativam
o sistema de recompensa, o SRC, lembra? Aquela motivação que transborda nas
crianças quase não existe no universo dos adolescentes. E isso é perfeitamente
normal. O desafio é gerar estímulos positivos para que seu filho participe da sua rotina
e você da rotina dele, mesmo estando fisicamente separados. Que tal convidá-lo a ir
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

com você fazer um passeio virtual por um lugar interessante na cidade em que você
mora? E depois, quando seu filho estiver aí, vocês podem fazer o passeio juntos.

A comunicação é mais do que um combinado, é uma necessidade humana que


cria vínculos e estabelece relações afetivas entre as pessoas.

Uma das formas de trazer para a conversa esses acordos é fazer uma reunião
familiar. Todos precisam estar presentes. O tópico em questão é colocado para
conversa, por exemplo:

● A pediatra orientou que as crianças devem dormir às 21h e aqui em casa as


crianças estão sem horário para dormir. Precisamos de um plano para mudar
isso.
● Alguém gostaria de sugerir algo para lidarmos com esta questão?
● Ouvir atentamente os que se manifestarem.
● Qualquer frustração pode ser acolhida: eu não quero! Na minha mãe, eu durmo
a hora que eu quero!
● Entendo filho, é frustrante. Quando você for adulto poderá decidir sobre
horários de dormir, agora nós precisamos seguir a orientação da pediatra. Ideias
para resolvermos?
● E assim a conversa pode seguir. Caso a criança realmente não consiga lidar com
a frustração, comece a chorar, brigar, saia da cena, respire. E calmamente diga a
ela que vocês irão voltar a este tópico até que ele seja solucionado.
● É meu dever como seu pai ser o guardião da sua saúde. Dormir é fundamental
para a saúde.

Essa cena é um exemplo para você entender a postura e a linguagem de uma


pessoa que paterna a partir de uma autoridade saudável. Pode adequar a linguagem
para a forma que você se sentir mais confortável, mas lembre: a autoridade e a
responsabilidade estão com você.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Mimar é um desserviço
Mimar tem a ver com fazer todas as vontades e caprichos. Hoje em dia, já
sabemos que coisas como acolher sentimentos das crianças e até mesmo dar
bastante colo não fazem mal algum (muito pelo contrário). Mas a gente precisa
separar o que são as necessidades emocionais das crianças de fazer absolutamente
tudo que elas querem - ou pior: deixar que façam apenas o que querem.

Se a minha filha cai no chão, eu devo socorrê-la sem minimizar sua dor. Ao invés
de falar que não foi nada, posso perguntar onde está doendo e se ela quer um beijo
para amenizar a dor. Estou acolhendo, validando, cuidando.

Mas se eu decido passar o dia inteiro dando a ela absolutamente tudo que me
pede porque mais cedo ela caiu e se machucou, estarei mimando, compensando,
sendo permissiva.

Precisamos confiar que as crianças não se transformam em coitadinhas quando


seus pais se separam (eu também passei por isso e posso garantir que não sou vítima
da decisão dos meus pais).

Mimar dá muito menos trabalho que educar, porque você raramente vai criar
atritos e conflitos. A criança exige, você faz. Fim de papo. Sem culpa, só descarga de
dopamina e sentimento de prazer. Ela quer, você aceita, ela te ama mais ainda e corre
menos risco de deixar de vir para a sua casa - especialmente se, do outro lado, existe
algum tipo de alienação parental ou de abuso psicológico com a criança.

Eu lembro uma vez, quando adolescente, que fiz alguma coisa errada e meu pai
me repreendeu. Fui para a casa da minha mãe para "fugir" da treta. Um tempo depois,
ao falar no telefone com meu pai, ele disse: "Pode ficar quanto tempo você quiser na
casa da sua mãe, mas isso não vai mudar o fato de que você errou e que a gente vai
precisar conversar sobre isso". Cataploft, todo meu plano perfeito de manipulação
desmontado em cinco segundos. Meu pai sempre esteve comprometido com a
minha educação.

Educar é um compromisso de que os limites estão acima dos desejos. Ele


certamente estava com saudades, queria me ver, me ama incondicionalmente. Mas
ele não deixou que nada disso ficasse acima do compromisso fundamental da
paternidade: criar com zelo, educar com bom senso.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Além disso, a nossa voz como adultos ficará instalada nas nossas crianças para
sempre. É o que elas enxergam e ouvem na infância que vai ficar ecoando
internamente para sempre na vida adulta.

Quando sua filha estiver chateada porque algo não deu certo e ela está
frustrada, você prefere que ela procure um colo para conversar ou chorar, ou que ela
vá ao shopping comprar várias coisas que não precisa para se consolar?

Os relatos da comunidade no Instagram provam que precisamos de mais


consciência na educação das crianças que moram em duas casas. As
crianças não são coitadinhas porque seus pais se separaram ou nunca
estiveram em uma relação. Elas merecem ser educadas e criadas de forma
saudável e respeitosa independentemente do estado civil dos seus
genitores.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Fazer junto é a melhor forma de ensinar


Tem uma frase bem famosa da Maria Montessori que diz “Nunca ajude uma
criança enquanto ela está fazendo uma tarefa na qual ela sente que pode ser bem
sucedida”.

A educadora e médica italiana criou uma metodologia para desenvolver as


potencialidades das crianças e que tem como base a liberdade e a criatividade. Ela
afirma que da liberdade nasce a responsabilidade que por sua vez, leva à disciplina.
No Método Montessori, a criança deve ser livre para finalizar uma ação para uma
tarefa específica. Somente quando ela coordena as suas atividades sozinha é que
estará pronta para ser disciplinada. Ao adulto caberia a função de observar sem
interferir, permitindo que a criança seja espontânea, capaz de se auto-corrigir e criar
soluções. Fonte: https://www.metodomontessori.it

Vivendo diariamente com o meu marido, pai dos meus enteados e dos meus
filhos, consegui observar uma coisa interessante: é possível substituir o fazer pela
criança por fazer com a criança.

Especialmente para os pais que têm convivência menor com seus filhos e que
sofrem de saudades, os momentos em que estão juntos podem ser especiais.

Ao invés de lavar toda a louça que o seu filho suja, porque é mais fácil que pedir,
porque você o ama, porque você não quer se indispor com ele ou talvez até porque
você acha que é tarefa sua, que tal ficar ao lado dele enquanto ele lava?

Ao invés de acordar e fazer o café da manhã para ele, que tal fazer o café e
deixar que ele prepare sua fruta ou seu pão? Esteja por perto, sem celular, esteja
presente.

Anuncie: filho, eu vou fazer o café, você pega as xícaras? Filho, estou colocando
a mesa, você pega manteiga e talheres, por favor?

Estou pegando meus sapatos para sairmos, você pega os seus? Sente-se e
coloque seus sapatos. E assim espere que seu filho também coloque os dele. Esteja
atento, presente, sem pressa e sem correria.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Não convide para escovar os dentes como quem convida para um sorvete:
obrigações devem ser feitas. Está na hora de escovar os dentes, você quer ir sozinho
ou vamos juntos?

Se o que você sente é saudade, vontade de estar perto, de companhia e de


afeto, por que realiza todas as tarefas pelo seu filho sozinho?

Além disso, as memórias mais importantes de uma infância não serão: nossa, eu
lembro aquele sábado que passei o dia todo no celular! Isso não estrutura um ser
humano, não cria experiências e repertório de vida. Que tal: eu lembro daquela vez
que fomos à peixaria e meu pai me ensinou a limpar um peixe, fizemos juntos no
forno e quase queimou, mas ficou gostoso.

Eu tenho várias dessas memórias muito presentes na minha vida, e eu espero


que depois de ler este ebook você consiga criar mais delas para seus filhos.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Comida
E já que eu comecei a falar em comida, vamos a esse tópico importante. E um
tanto polêmico.

Um estudo recente encomendado pelo Ministério da Saúde, o Enani - Estudo


Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, revelou que, no Brasil, cerca de 6,4
milhões de crianças estão com excesso de peso e 3,1 milhões estão obesas. Isso
significa que 7% das crianças brasileiras estão acima do peso ideal e 3% já sofrem com
a obesidade.

A obesidade infantil é um problema de saúde grave que pode ser causado por
fatores comportamentais ou genéticos. Porém, a pesquisa aponta que os alimentos
ultraprocessados são os principais responsáveis pelos números assustadores. A
criança obesa tem mais chance de se tornar um adulto obeso - é o que dizem os
especialistas. Além de ser um fator de risco para o aparecimento de outras doenças
como diabetes, pressão alta, problemas respiratórios, cardíacos e nas articulações.

O detalhe é que o estudo utilizou dados de 2019, ou seja, anteriores à


pandemia, o que significa que, durante esse período, a saúde das crianças pode ter
piorado muito, devido às mudanças de rotina, exercícios físicos e alimentação.
Fonte: Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica
(https://abeso.org.br/obesidade-infantil-as-razoes-por-tras-do-aumento-de-peso-entre-as-criancas-brasileiras)

As facilidades da vida moderna mudaram completamente a nossa relação com


a comida: ao invés de descascar alimentos, estamos, atualmente, muito mais
acostumados a desembalar produtos que parecem comida, mas, na realidade, são
produtos industrializados comestíveis - essa definição é de Michael Pollan, autor e
jornalista especialista no tema. (Se esse assunto desperta seu interesse, pesquise
sobre ele, você vai descobrir coisas incríveis.)

O tema da comida me fascina, e tenho uma experiência como madrasta em


relação aos meus enteados: eu ensinei os dois a cozinharem. Desde o começo,
quando me mudei para junto deles, vinham para casa pedindo doces, miojo. E eu
achava que dar basicamente esse tipo de comida para uma criança era uma
verdadeira forma de maltrato.

Explico: eu sou a adulta, eu sou uma das pessoas responsáveis por um ser
humano que ainda não tem discernimento para fazer as melhores escolhas. Eu sou
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

responsável pela nutrição dessa pessoa. Eu não sou responsável apenas por não
deixar morrer de fome, eu sou responsável por nutrir.

Por que então escolhemos caminhos mais fáceis de alimentação sem


incômodos do que os caminhos de nutrição?

Um pacote de miojo alimenta. Mas que nutrientes existem lá dentro?


Comer dezenas de doces em um dia talvez faça a criança gostar de você. Mas que
nutrientes ela está recebendo para o seu corpo se desenvolver de forma saudável?

Os alimentos ultraprocessados são mais baratos e estão disponíveis nos


supermercados em quantidades e cores absurdas. Eles também estão sempre à vista
nas exaustivas propagandas de televisão e se utilizam de uma linguagem de
marketing que captura as crianças. Mas elas não podem ir sozinhas ao supermercado
para comprar aquelas caixinhas marrons com o canudinho colado ou então o pacote
de bolachas mais colorido. Seria mais adequado que os adultos fizessem as escolhas
e optassem por alimentos de verdade, naturalmente coloridos e saborosos.

Um dos relatos que recebi em conversas com madrastas na comunidade foi


essa:

"Nada de comida saudável na nossa casa porque o pai acha tarde para mudar os
hábitos da casa da mãe, já que passam mais tempo lá".

Imagine que a escola do meu filho proporciona um lanche de sorvete. Todos os


dias tem sorvete. Meu filho AMA! Quando ele chega em casa, ao invés de servir um
prato de arroz, feijão, alguma verdura, ele me fala: quero sorvete.

Claro, filho! Imagine que eu vou tentar mudar hábitos que você já tem na escola,
vamos manter assim. Dá muito trabalho, né?

O que acontece na casa da mãe ou de qualquer outro familiar da criança não


muda o seu compromisso com a nutrição dela. Os bons hábitos que você conseguir
transmitir para o seu filho, mesmo que sejam poucos, serão muito importantes.

Não eduque em relação à comida com mecanismos de recompensa, com


preguiça e fazendo de tudo para não se incomodar. Talvez hoje você não se
incomode, mas seu filho no futuro terá alguma doença para lidar, pode ter certeza.

Resumindo:
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

● Estar na sua casa por apenas um final de semana não significa que todos os
controles sobre qualidade da nutrição do seu filho devam ser deixados de lado.
● Crianças não podem comer doces de maneira descontrolada - isso é prejudicial
para a saúde e trará muitos problemas no futuro.
● Horários e combinados (como o uso da tela) devem ser feitos e cumpridos -
independentemente da frustração que a criança demonstre com o tema.
● Se você não quer que seu filho coma alimentos ultraprocessados, não compre.
● Lembre: você é pai para criar o ser humano mais incrível que puder - e não o
mais mimado, sem controle e talvez com diabetes tipo 2 no futuro.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A culpa e a comida
Por Carolina Bourroul, nutricionista da família com enfoque materno infantil, mãe de 2 crianças e
madrasta de +2.

Sou uma grande defensora da infância, do olhar gentil e respeitoso para essa
fase tão importante, onde criamos nossos alicerces para a vida, tanto na alimentação,
quanto no nosso comportamento.

A educação alimentar na infância é importantíssima e, muitas vezes,


desvalorizada, e luto através do meu trabalho para mudar isso, plantando
sementinhas no mundo através dos meus atendimentos, cuidando da saúde e
criando um relacionamento leve e prazeroso com a alimentação desde o início da
vida.

Por que se alimentar bem, de forma variada, é algo tão difícil com as crianças?
Por que a culpa e o merecimento estão sempre juntos na refeição? E por que os
doces, industrializados e frituras são a salvação?

Vim aqui desmistificar tudo isso e ajudar a construir uma nova forma de olhar
para a alimentação e a relação com as crianças. E tentar diminuir de uma vez por
todas a culpa.

A infância das nossas crianças importa!

Digo isso porque é muito difícil lembrar/associar os nossos comportamentos -


alimentares ou não - com a nossa infância. Porém não é porque não notamos, que
deixa de ser verdade, não é mesmo? Precisamos nos conscientizar para entendermos
por que nos comportamos de determinada forma. Esse processo de
autoconhecimento ajuda a nos libertar de comportamentos desnecessários ou que
não precisam mais fazer parte da nossa vida.

Como por exemplo, se você foi uma criança que não podia sair da mesa até
raspar o prato e até hoje você come além do seu limite porque precisa comer tudo o
que tem na sua frente, a partir do momento que você entende de onde vem isso,
você pode se despedir desse comportamento, sabendo que agora você que decide o
quanto você vai comer, se baseando na sua percepção de fome e saciedade, e não
no tamanho do prato.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

A infância é a formação da nossa base, do nosso alicerce que vai nos sustentar
durante toda nossa vida. O comportamento alimentar impacta não só na nutrição e na
saúde, mas afeta de uma forma muito mais ampla, desde como nos relacionamos
com as pessoas, como nos vemos, como nos expressamos e, claro, como nos
alimentamos.

Quando falamos sobre a infância de crianças com pais e mães separados, a


culpa costuma ser uma grande companheira. E quando sentimos culpa, tentamos
nutrir a criança com algo que o pai e/ou mãe tirou dela, a tal da família do comercial
de margarina, e que, por essa falta, a criança sofre tanto. Essa tentativa costuma ser
focada em presentes, telas, falta de limites e descuido na alimentação da criança.

Difícil demais carregar um peso desses nas costas, né? Esse peso não precisa
existir… pra ninguém. Não estamos aqui para evitar que situações desafiadoras
aconteçam na vida das nossas crianças, estamos aqui para dar suporte para elas,
quando isso acontecer.

Uma criança feliz, precisa de cuidadores felizes, precisa de um ambiente seguro


para viver, precisa ter acesso a uma alimentação balanceada para se desenvolver
plenamente e precisa de amor, não importa se tudo isso está vindo de uma única casa
ou mais.

Ser um bom pai ou mãe não é sobre ser permissivo e tentar suprir as dores da
criança, ser um bom cuidador é sobre ensinar com afeto, impor limites ao mesmo
tempo que acolhe a frustração da criança.

O que a criança precisa sentir e saber é que independente do número de casas


que ela viva, com pais e mães separados ou não, ela vai ter acesso a esse amor
incondicional, que deveria ultrapassar a mágoa entre adultos separados, em nome
desse amor e proteção à infância dessa criança. E que essa família seguirá na sua
missão - às vezes, um tanto árdua - de criar e ensinar essa criança, ensinando sobre
limites, respeito e acolhendo suas dores, quando necessário.

Uma criança precisa ser ensinada a se alimentar bem. Ela aprende através da
alimentação que tem dentro de casa, aprende observando como nós, adultos, nos
alimentamos. Doces e industrializados não suprem a falta, não minimizam a culpa ou
melhoram relacionamentos entre mães/pais e crianças.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Uma criança não precisa de doces e industrializados para ser feliz e ter uma
infância boa, ao contrário, ela precisa aprender a se relacionar de forma saudável com
esses alimentos para aí sim, ter uma infância boa.

Quando associamos o ato de comer como recompensa ou para disfarçar


emoções e situações difíceis, ensinamos a criança que o alimento pode ser usado
para “tapar” aquela sensação ruim que ela sentiu, ou seja, interferimos no
comportamento alimentar dela, gerando uma relação dependente da comida/doce
em momentos de crise e isso certamente será levado até a vida adulta. Quem nunca
usou o tal famoso “eu mereço comer xyz porque tive um dia difícil, porque estou
triste...”?

Comida é afeto! E essa frase pode ir tanto para um lado bom quanto para um
lado ruim. Eu sempre uso pensando no lado bom dessa frase. Comida é
pertencimento, é união entre pessoas que amamos sentados na mesa juntos, falando
sobre coisas gostosas e comendo coisas ainda mais gostosas, é sobre tradição
familiar, aquele prato que tem toda semana na casa da avó ou que um pai ensina ao
seu filho a fazer e vira uma nova tradição. E não! Não estamos falando de um bolo,
somente, estamos falando de uma refeição completa.

Se está difícil por aí, comece aos poucos, dê um primeiro passo. Combine com
a criança que vocês farão um almoço juntos no final de semana, escolham a receita,
vão no mercado fazer as compras e faça dessa refeição um momento que vai além
dos nutrientes. Você vai ver que não precisa de doces para alegrar uma criança.

Faça combinações com as crianças, explique os motivos das mudanças na


alimentação e evite ao máximo gerar conflitos, brigas e castigos relacionados a
comida (esse é lado negativo da expressão Comida é afeto). Tenha paciência e
entenda que ninguém muda de comportamento da noite pro dia, não é porque você
combinou com a criança que, a partir de agora, ela irá comer frutas no lanche da
tarde, ao invés de doces, que ela não vai reclamar de não comer mais os doces. Aí
que entra a disciplina com gentileza, acolher e respeitar a frustração da criança ao
mesmo tempo que se mantém firme na sua decisão.

A alimentação é um assunto importante, e nós, adultos, temos grande peso e


responsabilidade em como nossas crianças se alimentam. É importante colocar
limites em doces, industrializados e frituras sim. Como também é importante dividir
um sorvete com a criança num dia de calor e saborear com muito prazer. O
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

importante é a frequência e quantidade desses alimentos, o importante é a presença


dos pais na vida das crianças.

Acredite: liberar doces sem controle algum ou oferecer doces como


recompensa para a criança não a deixará mais feliz e não fará bem para ela. Cuide
com carinho e atenção. Se não sabe por onde começar, peça ajuda! Precisamos pedir
ajuda quando algo está fora do nosso controle.

Pare de sentir culpa ao oferecer uma vagem para a criança e coloque limites na
quantidade de bolacha recheada.

E falando em culpa, a ideia não é culpar sua mãe, pai ou avós. Não queremos
apontar dedos, queremos entender seu comportamento e com isso fazer as
mudanças necessárias. As mudanças só são efetivas e realmente eficazes quando
entendemos nossa história, nos apropriamos de nós mesmos e do nosso passado.
Sabemos que sua mãe, pai e outros cuidadores fizeram o melhor que eles podiam,
baseado nas informações que eles tinham na época.

O que queremos com esse ebook é que mais pessoas tenham acesso a
informação de qualidade, entendam seu papel importante e fundamental na criação e
alimentação de uma criança, e, assim, teremos menos adultos desconectados com a
sua essência, com seus próprios limites do corpo, como fome e saciedade e claro,
transmitiremos para as novas gerações melhores ensinamentos sobre o comer.
Parece óbvio, mas às vezes precisa ser lembrado, pois a alimentação impacta
diretamente na saúde. Cuidar da alimentação da sua criança é cuidar da saúde dela.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Telas & Obrigações


Seria muito complexo, nos dias de hoje, proibir o uso das telas para as crianças
e adolescentes. Apesar de existirem orientações de órgãos interessados em seu
bem-estar, sabemos que a realidade bate à porta e faz a gente se virar como pode
quando precisa dar conta de trabalho, casa, filhos e todas as responsabilidades que
temos.

Um dos meus mantras em casa é que a tela vem depois das responsabilidades
serem cumpridas.

Eu, como adulta, tenho obrigação de fazer o jantar para as crianças, correto?
Não posso simplesmente me sentar no sofá e não fazer nada, né? Eu faço o jantar,
arrumo as coisas, e assim que eu tiver meu tempo livre, eu posso assistir uma novela
ou a minha série favorita.

Com a criança também precisa ser assim. Ela precisa entender que tem
obrigações (arrumar seu quarto, escovar os dentes, trocar de roupas, etc.). Depois que
cumprir suas obrigações e que estiver “em dia”, pode ter seu tempo de lazer – que
também pode ser tempo de tela.

Desde os dois anos, permito que a minha filha assista televisão. Nunca dei meu
telefone para ela, nem tenho jogos ou entretenimento instalados nele. Hoje, ela tem
cinco anos e até tenta pegar meu celular, mas eu realmente estou determinada a não
permitir.

Acredito que a televisão com moderação ainda tenha menos problemas que as
telas pequenas (celulares e tablets). Televisão dá para assistir juntos, temos todo
controle do que a criança vai ver e ela ainda fica de alguma forma livre – se move,
brinca e interage um pouco mais do que com as telas pequenas.

De um tempo para cá, minha filha começou a usar o tablet. Não tem sido fácil
conversar, controlar, combinar. E tem momentos que a gente só quer que eles fiquem
quietos e parem de incomodar para que possamos terminar outra tarefa, né? É
tentador, mesmo. Eu passo por isso e erro diversas vezes.

Quando meus enteados eram mais novos (hoje eles têm 18 e 14 anos), tivemos
algumas questões relacionadas ao tempo de vídeo game e jogos de computador.
Tivemos que limitar o uso a duas horas por dia, especialmente porque os jogos criam
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

descargas muito fortes de adrenalina no corpo das crianças, e elas não tem estrutura
para lidar com tanto.

Ficam agitadas, nervosas, impacientes. É como se o sistema nervoso delas


estivesse sempre sob ameaça – isso tem consequências para a criança que podem
chegar até a perda da qualidade do sono, alterações de visão e audição, por exemplo.

O pediatra Dr. Vinícius Ávila, que atua em Florianópolis há mais de 30 anos,


afirma que as crianças que brincam ao ar livre se desenvolvem melhor em todos os
aspectos. Já aquelas que ficam muito tempo expostas às luzes das telas têm
dificuldades para formar o banco de cores, uma vez que nas telas as cores são
sempre saturadas. Ao não encontrar tamanha saturação na natureza, elas acabam
perdendo o interesse pelas atividades em ambientes externos.

A recomendação do médico, de acordo com a Sociedade Brasileira de


Pediatria, é que, até os dois anos de idade, a criança não seja exposta a nenhum tipo
de tela, nem passivamente. Depois, o uso pode surgir gradativamente na medida em
que as crianças vão se desenvolvendo e crescendo, para que façam atividades físicas
autônomas e não somente aquelas comandadas pelos gráficos. As brincadeiras em
espaços ao ar livre evitam a incidência de miopia nas crianças, pois fazem com que o
olhar busque os objetos mais distantes.

A produção de melatonina (hormônio que regula o sono) é afetada pela luz azul
das telas e a falta desse hormônio pode provocar alterações de sono,
desenvolvimento físico e cognitivo, comportamento e rendimento escolar.

Além da visão, a audição é prejudicada pelos sons produzidos por


computadores e videogames e pelo uso constante de fones de ouvido. Brinquedos
digitais que possuem som produzem um tipo de vibração que é prejudicial ao
desenvolvimento do cérebro em formação. O ideal é, na medida do possível, procurar
estimular os filhos com músicas, instrumentos musicais e sons da natureza.

Em 2020, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual que orienta


sobre o uso de telas na infância, baseado em outro documento que havia sido
publicado, em 2019, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ambas afirmam que o
excesso de exposição às telas associado à falta dos estímulos ambientais, do contato
com os sons, com as cores e a textura da natureza pode causar déficit de atenção e
atrasos cognitivos nas crianças e adolescentes.
Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br) Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Dr. Vinícius da Costa Ávila, pediatra e homeopata


-https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-04/oms-criancas-devem-ter-tempo-em-frente-telas-limitado-1-hora
-https://www.radiopiratuba.com.br/noticias/noticia/id:4845;pediatra-alerta-criancas-que-brincam-ao-ar-livre-se-desenvolv
em-melhor-em-todos-os-aspectos.html

O que eu acho que precisamos observar quando se fala em telas e crianças:

● É preciso que exista um limite de tempo de uso.


● Esse limite de tempo de uso pode ser combinado em uma reunião de família.
Adultos fazem uma proposta, e as crianças negociam. Acredito que, acima de 4
ou 5 anos, dependendo do desenvolvimento emocional e intelectual da criança,
seja possível começar essa negociação.
● Essa reunião pode começar assim: o tempo de tela diário adequado para a sua
idade é X. Precisamos negociar os momentos e combinar esse tempo tendo
essa medida como base.
● A criança responde, negocia, combina.
● Você renegocia e fecha o acordo.
● O acordo é escrito e sempre que uma das partes estiver descumprindo o
acordo, a outra parte precisa relembrar: qual o combinado de uso de tela?

O que eu acho mais bacana desse estilo de combinados é que a criança


também tem responsabilidade de cuidar do que prometeu. Quando meu enteado já
estava há algum tempo jogando, por exemplo, eu passava no quarto e perguntava:
“quanto tempo você ainda tem?”. E ele me respondia. E eu não precisava
pedir/ordenar/comandar nada.

Também tem algumas regras que precisam ser colocadas pelos adultos dentro
desse sistema, e eu tenho algumas ideias sobre isso – baseadas em estudos, em
observação, em bom senso e em educação parental.

● Como eu falei acima, a tela é um tipo de lazer e, para mim, o lazer vem depois
do cumprimento dos meus compromissos e obrigações.

● Crianças não deveriam usar telas a partir de determinado horário da noite (nem
os adultos, mas quem consegue?). Na minha casa, depois das 19h, a minha filha
de 5 anos não usa telas.

● Não deveríamos deixar a criança pequena levar a tela para o seu quarto. O
tablet fica na sala, ela vai dormir no quarto.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

● Existe um grande debate sobre quando uma criança deveria ou não ter seu
próprio celular, eu não tenho ideia dessa resposta. Meus enteados ganharam
seus telefones por volta de 11 anos, e eu acho que foi uma decisão sensata por
parte dos pais.

● Crianças pequenas não deveriam ter celulares e muito menos serem deixadas a
critérios próprios com seus aparelhos. Deixar uma criança pequena com seu
celular, no seu quarto, “brincando” até de madrugada é um tipo de negligência.
Não pode acontecer de maneira nenhuma.

● A tela não pode se transformar em alívio emergencial. Estou entediada, estou


triste, estou cansada, estou ansiosa: tela. A tela é um tipo de lazer. Não pode se
transformar em um consolo para quando as coisas não funcionam da forma que
eu gostaria que funcionassem.

● Procure combinar os horários mais adequados para a criança usar a tela como
lazer: depois que voltar da escola, vai jantar e tomar banho. Quando estiver
pronta, pode brincar, por 30 minutos, no tablet. De novo: primeiro o que precisa
ser feito e depois o que eu estou fazendo como lazer.

● Tente não recorrer às telas na hora das refeições. Mesmo que você precise que
a criança esteja entretida porque está cozinhando, por exemplo, quando for o
momento de comer, peça que ela desligue o aparelho. Comer assistindo ou
jogando é muito prejudicial para a formação da relação entre crianças e
alimentação. Olhar para o alimento, colocar na boca, entender quando está
satisfeito: tudo isso é muito importante na infância - é nela que se formam os
hábitos que carregaremos para sempre (ou que vamos precisar de muita terapia
para mudar lá na frente!)

A palavra que vem para mim quando se fala em telas é resistência. Existe uma
indústria gigantesca por trás do entretenimento das telas – e é uma turma que sabe
muito bem como captar nossa atenção e nosso tempo.

Não sou a mãe que constrói foguetes de papelão para colorir com as crianças,
não sou a pessoa mais brincante do planeta não. E ainda assim procuro incentivar e
participar de atividades que desenvolvam o cérebro e a cognição das crianças.

Deixar nas telas dá muito menos trabalho. Mas eu me pergunto: nossas crianças
valem esse esforço, concordam?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Obrigações que eu acredito que as crianças têm que cumprir a partir dos 4 anos
– com os cuidadores acompanhando, não precisam saber ou fazer completamente
sozinhas, mas elas precisam ser capacitadas e orientadas diariamente a fazerem, todo
santo dia:

● Arrumar sua cama e dobrar seu pijama. Não aponte a qualidade da atividade,
apenas reconheça que a tarefa foi cumprida – também não precisamos viver
dando parabéns para as crianças por tudo que fazem. A vida lá na frente não vai
jogar confete porque uma pessoa adulta chegou ao trabalho no horário que
precisa chegar, certo?

● Tirar e colocar as próprias roupas. Levar as roupas sujas para o cesto.

● Comer e beber - pode ser que ela peça “ajuda” mesmo sabendo fazer. Eu gosto
de fazer companhia ao invés de dar comida na boca. Proponho brincadeiras
divertidas enquanto ela come. Quando ela pede ajuda, eu respondo: você sabe
fazer isso sozinha, eu acho que você não está precisando de ajuda, você está
querendo a minha companhia, certo? Normalmente, a resposta é sim. Podendo
estar perto, eu fico.

● Pegar seu copo quando pede água ou seu prato quando pede alguma comida
(deixe na altura da criança e sem riscos de quebrar algo).

● Escolher, pegar, colocar e retirar os próprios sapatos (escolha modelos fáceis e


simples que incentivem essa atividade).

● Aprender a escovar os dentes – acredito que por volta dos 4 anos, a gente pode
começar a ensinar a escovar os dentes. Primeiro, deixe a criança apenas criar
intimidade com a escova. Eu lembro do meu pai escovando meus dentes e
depois me deixando “brincar” com a escova. Já vi ele fazendo isso com a Flora.
Primeiro ele escova, depois dá a escova para ela. Com o tempo, a criança vai
criando intimidade com o objeto e você pode ensinar um ou outro movimento.
Conforme ela cresce, você vai trocando: ela se torna a atriz principal e você
entra para “finalizar” o serviço.

● Arrumar seus brinquedos, organizar os livros.


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

● Regar as plantas.

● Dar comida e água para o pet.

● Ajudar a preparar as refeições e lanches.

● Separar o lixo.

● Ajudar a colocar e tirar os utensílios da mesa.

● Lavar e secar a louça.

● Repor o rolo de papel higiênico, sabonete, toalhas.

A sua casa não é uma destinação de férias. Entendo profundamente a felicidade


que você sente quando tem seu filho por perto, celebre! Mas celebre com beijos,
abraços, tempo juntos e educação.

Celebre ensinando essa criança a se tornar uma pessoa da qual você e todos ao
seu redor terão orgulho e vontade de estar perto. Celebre reforçando seu
compromisso com uma paternidade saudável e íntegra, da qual você vai lembrar e
agradecer para sempre.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Dezenas de relatos parecidos com esse. As crianças não têm limite de


horários, não são supervisionadas a respeito dos programas que
assistem. Quais as consequências disso?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Consumismo
Uma das respostas que mais me chamou a atenção na caixinha de perguntas
do Instagram sobre permissividade foi essa:

"Toda vez que vai no mercado, meu marido traz um brinquedo e sempre dá
alguma coisa para comer na hora errada"

Fiquei abismada. Eu fico imaginando essa criança que já está acostumada a


receber "provas de amor" do pai em forma de coisas materiais. Eu ADORO comprar
coisas para os meus enteados e filhos quando vou ao supermercado, mas que tal
uma fruta preferida? Um iogurte gostoso (de preferência sem açúcar)?

A demonstração de amor pode ser feita com coisas, sim, mas a serviço de que
estão essas coisas? São mais objetos que causam alguma euforia na chegada e
depois se juntam a pilhas de brinquedos desinteressantes?

Comprar coisas para as crianças não é um problema. Pode virar um problema


quando isso é um hábito não construtivo, que não agrega nada e ainda causa outras
questões - como essa de comer nas horas erradas.

Eu lembro da alegria que eu sentia quando trocava de casa e via na geladeira


alguma coisa que meus cuidadores tinham comprado para mim e para a minha irmã.
A minha madrasta fazia questão de ter os ingredientes para um jantar japonês
delicioso (ela é descendente de japoneses, que sorte a minha né?). Verduras, carnes,
massa: a gente preparava tudo juntos, nós quatro. Essas cenas ainda vivem na minha
memória e eu tenho certeza que foram muito mais formativas para mim do que
ganhar uma caixa de chocolates.

Na casa da minha mãe, eu ia correndo abrir a geladeira para ver se ela tinha
comprado os frios do mercado municipal. Aqueles fatiados na hora, sabe? A primeira
coisa que eu fazia era correr na cozinha. E eles estavam lá: os frios. Ela lembrou, ela
cuidou, ela comprou. Que faceira eu ficava. A gente costumava fazer sanduíches
deliciosos com esses frios. Primeiro, todos juntos colocar tudo na mesa - e aí sim
sentar para comer. Cada uma podia montar seu sanduíche da maneira que quisesse.
Quando eu era criança e adolescente, a gente não tinha celular nem tablet, mas a
televisão não era permitida na hora das refeições. A gente conversava.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

O consumismo, especialmente de coisas materiais sem significado, que causam


euforia na hora que chegam (dopamina!!!) e depois ficam esquecidas, não é uma boa
forma de criar vínculos e memórias, e também não é a melhor forma de educar.

Podemos demonstrar nosso amor e nossa alegria por ter nossas crianças em
casa de outras formas:

● Pedindo ajuda em alguma tarefa doméstica


● Dançando uma música
● Jogando alguma coisa (uno, cartas, jogos de tabuleiro)
● Expressando: meu filho, que bom que você chegou! Eu estava com muita
saudade! Ele sabe disso, mas o reforço do amor nas palavras é sempre
maravilhoso e preenche os corações
● Comprando coisas significativas: um shampoo novo porque o do seu filho
estava acabando, uma fruta que ele adora, por exemplo
● Olhando aquele álbum de fotos, relembrando histórias e dando risadas

Minha filha adora livros de adesivos e atualmente está encantada com livros de
bonecas que têm várias roupas para tirar e colocar nas páginas. Esse livro é um
convite ao vínculo: a gente faz juntas, ela cria histórias, pede para escolhermos juntas.
É um objeto material que cria vínculo. Eu dei um desses para ela há meses, e ela usou
ele todinho. Fiquei muito tentada a comprar um novo na semana seguinte, mas
consegui me segurar.

Eu queria agradar, sim. Ela ficaria muito feliz. Mas será que teria o mesmo valor
se ela terminasse um e já ganhasse o próximo? Eu acredito que não. Ficamos algum
tempo desejando o livro novo. E quando ela ganhou, significou muito para ela.

Além disso, gosto de marcar os momentos de chegada e saída das crianças com
palavras de afeto.

● Que bom que você chegou


● Eu adoro quando você está aqui conosco
● Que a sua semana na casa da sua mãe seja gostosa
● O que você tem planejado para a semana na casa da sua mãe?

As coisas que estão implícitas merecem espaço na nossa fala. Expresse.


Abrace, fale diversas vezes as mesmas palavras de amor para o seu filho. É essa a
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

relação mais importante de todas. É isso que constrói o seu amor dentro dele - e não
os "deixa fazer, ele nunca vem". Pode confiar.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Os relatos são diversos… A comunicação entre o casal deveria ser a coisa


mais importante em um relacionamento. O que estamos fazendo para
aproximar essas distâncias, conversar sobre nossas culpas e sobre nosso
desejo de agradar nossos filhos?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Ser bonzinho ou ser um bom pai? Ser legal ou ensinar seu filho sobre a vida,
suas frustrações e desafios? Ser o pai que nunca usa a autoridade de forma
generosa para orientar seu filho porque tem medo de brigar e desagradar?
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Nesses três anos de projeto, já ouvi tantas coisas boas - e tantas absurdas! -
sobre a relação do pai com a mãe dos filhos.

Aqui, preciso comentar que existem diversas relações em litígio. Disputas


judiciais que acabam prejudicando a relação entre as pessoas. Pensão, direito à
convivência, etc. Em um mundo ideal, esse tipo de coisa não precisaria acontecer
para que acordos fossem viabilizados, mas sabemos que a realidade é bem diferente
disso. Eu sinto muito e me comovo bastante quando leio relatos de brigas
intermináveis, boletins de ocorrência e tudo o mais.

O que eu aprendi com todo este trabalho é que existem advogadas mediadoras
que estão interessadas em estabelecer alguns limites sem judicializar os casos. Se o
seu caso for assim, procure ajuda. Nem sempre que você procurar uma médica, terá
que fazer uma cirurgia. Nem sempre que você for à dentista, precisará arrancar um
dente. Então, nem sempre que você procurar uma advogada significa que o caso será
um processo judicial.

Ter apoio profissional para questões importantes pode ser o suficiente para que
os conflitos do dia a dia sejam resolvidos.

E agora vamos ver algumas coisas que podem acontecer na sua relação com a
mãe das crianças:

● Tenho medo de vingança ou retaliação se não fizer o que ela pede

Sabe aquele ditado que as pessoas fazem conosco apenas o que permitimos
que façam? Ouvi um relato de um casal de pai e madrasta em um atendimento sobre
esse tema.

"Não temos horários e dias fixos para as crianças virem. Sempre que a mãe
precisa fazer algo, ela avisa e deixa os meninos aqui. Quando ela quer, pega de volta.
Durante a pandemia isso até funcionou, porque não tínhamos compromissos de
viagens ou coisas na rua. Agora está muito difícil conciliar. A gente se sente dizendo
não para a presença dos meninos, mas a verdade é que estamos cansados da
imprevisibilidade da agenda dela!".
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Perguntei a eles quem foi que, desde o começo, por qualquer que seja o motivo
(culpa, saudade, vontade de ficar junto) aceitou esse "formato" de troca de casas.
Foram eles mesmos!

É preciso que os combinados sejam estabelecidos desde sempre de forma


previsível e organizada. Contratempos e exceções sempre vão acontecer, mas o que
eu acredito que é mais importante nisso é que as regras estejam acima das vontades
de cada genitor.

Um exemplo prático:

Um pai e uma mãe com duas filhas pequenas sempre discutiam na hora de
decidir quem buscaria as meninas. A madrasta não aguentava mais ver o marido
estressado reclamando que a mãe sempre fazia com que ele fosse buscar, sendo que
ambos tinham carro e condições de fazer o percurso.

O pai esbravejando porque toda troca de casas é a mesma coisa. A madrasta


cansada da situação. Brigas por coisas pequenas às vezes tem um enorme potencial
de tirar a gente do sério, né?

Foi então que, conversando com uma advogada mediadora, ela sugeriu: que tal
o genitor que vai ficar com as criança ser o genitor que busca? Assim, o pai escreveu
um email educado para a mãe dizendo que as combinações em cima da hora eram
difíceis para ele e que gostaria de propor esta regra "universal" de quem busca. Na
hora, a mãe aceitou. Nunca mais houve brigas por isso.

Agir com medo de que a mãe se vingue ou que faça algo para prejudicar a sua
relação com ela pode ter todo fundamento se você vive uma situação de litígio - mas
será que é sempre assim? Será que essa é a melhor forma de guiar uma relação?

● Não quero me indispor, prefiro evitar conflitos

Todas as vezes que você pensar que não quer se indispor, você deveria pensar
em seguida: qual custo disso pro meu filho?

Eu lembro que quando era adolescente, queria fazer as viagens da turma da


escola e a minha mãe nunca deixava. A minha irmã, quatro anos mais nova, fez
toooooooodas as viagens que eu não fiz. A razão principal: a nossa mãe achava que a
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

gente não deveria viajar. O nosso pai achava que sim. Porque a separação era recente
demais quando foi a minha vez de viajar, ele não se indispôs com ela. Preferiu aceitar
o que ela decidiu. Quando chegou a vez da minha irmã, ele "brigou" pelo assunto.

Depois de adultas, conversamos sobre isso com meu pai, que relatou o que
acabei de contar para vocês. Era medo, sabe? Insegurança, receio. E está tudo bem,
não morri por causa disso e já viajei bastante. Mas a pergunta que fica para você é:
qual o custo do que você simplesmente aceita para não criar conflitos? Quem paga
essa conta?

● Prefiro me incomodar com a minha eposa do que com a ex

Relembrando que eu também sou madrasta e talvez seja tendenciosa aqui,


rssss. Mas, falando sério, não faz sentido algum criar problemas com a sua esposa
para se proteger de problemas com a mãe das crianças!

O ideal seria que a gente conseguisse alinhar as coisas de forma a não ter
problemas com nenhuma das partes, certo?

O que eu acredito que funciona melhor é uma espécie de "aliança" entre pai e
madrasta, para depois ser conversado com a mãe.

Eu juro que isso muda toda a dinâmica entre o casal e vai fazer a madrasta se
sentir muito melhor.

Um exemplo real aqui da nossa casa:

Vamos viajar sozinhos sem as crianças por uma semana e isso envolve trocas
de calendários e logística de todos. Meu marido normalmente organiza a nova
proposta, me manda ou me mostra, a gente alinha e depois ele envia para a mãe das
crianças. Então sou incluída e me sinto parte das coisas que envolvem a nossa casa -
e também me sinto priorizada. Nada mais justo do que ser tratada assim no meu
próprio casamento, concorda?

Casei para compartilhar uma vida, projetos, sonhos, filhos, tudo. Não quero
participar de todos os assuntos, MENOS dos que envolvem as crianças ou a mãe
deles. Somos um casal o tempo todo, inclusive para os temas dos filhos "dele" (que
também são meus…. meus enteados!)
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

● É melhor não ter nenhum contato com a mãe

Desde que essa não seja uma orientação de advogada devido a processos e
litígios, viver evitando contato com a mãe simplesmente porque é uma relação difícil
para você pode acabar prejudicando as tratativas e as questões dos filhos,
especialmente sendo crianças pequenas.

Fazer da criança o principal mensageiro dos assuntos dos adultos pode criar um
peso enorme para ela. Por mais conturbado que seja manter um relacionamento
estável após separação, procure formas de que as coisas se estabilizem. Talvez seja
melhor mandar emails estruturados com combinações do que ter sempre
mensagens indo e vindo por Whatsapp, por exemplo.

Para o bem da infância e da adolescência dos nossos filhos, manter uma


comunicação organizada e que cuide de seus interesses é o melhor caminho.

Aqui algumas outras dicas essenciais para a relação entre você, seus filhos e a
mãe deles:

● Não falar mal da mãe das crianças, mesmo que internamente você tenha
vontade. Não importa se foi você ou a sua ex-companheira quem decidiu sair
de casa, ou se a decisão da separação foi em comum acordo. Não fale mal da
mãe dos seus filhos, principalmente se eles estiverem por perto.

O divórcio pode ter sido complicado, mas os filhos não precisam saber os
pormenores e nem tomar partido de um ou de outro genitor.

Recebi o relato de um pai que, quando decidiu se separar da ex-companheira,


tinha muito medo de perder o contato com a filha porque a mãe dizia que a
criança era dela. Ela estabelecia rigidamente os horários de buscar e devolver a
menina, era intransigente nos feriados e férias, não permitia ajustes de datas e
não se cansava em dizer que ele tinha decidido sair de casa, então ele deveria
arcar com as consequências.

Claro que esse pai foi em busca de seus direitos e, embora a guarda fosse
unilateral, ele sabia que podia (e queria) passar mais tempo com a filha. E todos
(filha, mãe, pai e madrasta) procuraram ajuda na terapia para resolver os
conflitos e ruídos da relação.

● Não impeça que a mãe faça contato com as crianças quando elas estão na sua
casa, afinal de contas você também quer conversar com seus filhos quando
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

eles estão na casa da mãe, certo? Então, para o bem de todos, combine
horários para as ligações, avise se naquele dia vocês vão fazer alguma atividade
fora de casa e passar o dia todo sem dar muita atenção ao celular. E quando
voltarem pra casa, estimule que o contato seja feito e deixe a criança livre para
conversar, sem que se sinta vigiada.

● Permita que seu filho fale da mãe na sua casa. Leio muitos comentários nos
grupos das madrastas que percebem que os enteados se sentem aliviados
quando podem falar da mãe ou contar alguma coisa que aconteceu na outra
casa sem que sejam reprimidos. A criança vive em dois mundos, duas casas, e
ela precisa de alguma forma juntar os dois universos dentro dela. Trazer a mãe
para a casa do pai e da madrasta, mesmo que seja só em pensamento ou em
palavras, traz conforto e aceitação.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Trago aqui alguns tópicos que estou acostumada a ler nos relatos e ouvir nos
atendimentos com as madrastas com algumas opiniões e ideias para solucionar:

● A disciplina que chega junto com a madrasta

É bastante recorrente ouvir das madrastas que, quando decidem morar junto
com pai e enteados, os atritos começam a acontecer porque é a madrasta quem
percebe falta de limites e de disciplina com as crianças.

É como se a casa do pai de alguma forma fosse uma festinha - e quando chega
a madrasta que cuida, educa e se preocupa com a criança, ela se torna a responsável
por apagar a luz da balada e desligar a música. Fim.

A mãe que não deixa uma criança comer todos os doces do mundo é uma mãe
zelosa. A madrasta que não permite isso é tida como controladora, intrometida, está
querendo regular as regras que o pai tem com a criança. Isso não pode acontecer.

Quando uma nova família se forma (pai, madrasta e enteados), a primeira coisa
a ser feita é um acordo entre os adultos.

De que forma vamos educar essas crianças? Qual será o papel de cada um na
nossa casa? Não importa quem estava no momento da concepção, se existem dois
adultos cuidando de crianças em uma casa, eles precisam fazer isso juntos e de
maneira coordenada.

Em alguns pontos a madrasta vai ter que ceder, em outros, o pai. E é assim que
funcionam as relações: precisam ser conversadas e negociadas. Pelo bem de todos.

● "Eu que mando"

As madrastas que participam ativamente dos cuidados com seus enteados


vivem assombradas com essa frase. Ajudar nas tarefas da escola, ir ao supermercado,
cozinhar, limpar a casa, pedir para tomar banho, colocar para dormir, negociar horários
de chegada com adolescentes. Cuidar de enteados dá um trabalhão - e a gente
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

entrou nessa juntos. O pior que pode acontecer é sermos invalidadas perante tudo
que fazemos.

É uma sensação de ser babá, sabe? Ou de ser completamente dispensável. A


gente não pode estar aqui para participar só quando interessa a um dos lados. Tem
que funcionar para os dois.

Quando estiver diante de algo que você e sua esposa discordam, olhem para o
fato e conversem a respeito. Temos um problema aqui e pensamos de forma
diferente sobre ele, vamos conversar?

Usar a carta do "é meu filho", ou "eu que mando" acaba por afastar a madrasta. E
não é para viver com lacunas que nos casamos, certo?

● Falta de combinados e avisos - a madrasta não é invisível

Esse é um dos pontos mais polêmicos de todos os relatos que eu leio e escuto.
A imprevisibilidade e as mudanças na agenda das crianças acabam refletindo
diretamente na agenda da madrasta. E quando a gente fala algo a respeito disso,
podemos ser acusadas de não querer as crianças por perto.

Agora vamos falar da minha filha: ela sai de férias com a avó e está programada
para voltar dia 21 do mês. No dia 19, meu marido sai mais cedo do trabalho e decide
me fazer uma surpresa: compra um buquê de flores, desce no hall e tira a roupa. Fica
totalmente pelado com as flores nas mãos e abre a porta.

Surpresa!!!! A Flora chegou antes e estamos sentadas no sofá: eu, a vovó e ela.
Nossa, como assim? A Flora chegou antes!!! Você não me avisou nada!

Claro que não, ela é minha filha. Ela entra e sai a hora que quiser da nossa casa.

Faz sentido? Claro que não. O argumento de que a casa também é da criança
não faz sentido porque não estamos falando sobre o direito de frequentar, estamos
falando sobre a logística.

Em momento algum o direito de estar na sua própria casa vai ser questionado,
mas que horas chega, vai jantar, que horas sai, quem busca, quem leva na escola.
Tudo isso tem que ser falado sim - e sempre!
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Todas as pessoas que moram numa casa precisam se comunicar sobre suas
atividades e horários - por que com os enteados seria diferente? Eu não posso sair de
casa e voltar às 2h da manhã sem sequer dizer onde estou, certo? Por que um
adolescente poderia?

Eu não posso sair de casa às 9h e dizer que volto às 13h e simplesmente não
aparecer até o dia seguinte, certo? Precisamos entender que os pedidos das
madrastas sobre alinhamento de idas e vindas são importantes para a organização da
casa e das agendas - não é um pedido de autorização, uma frescura.

● Não desautorize sua esposa - NUNCA E NA FRENTE DE NINGUÉM!

Assim como ela também não deve fazer isso com você. A coisa mais importante
entre um casal é a sua conexão, é um honrar e proteger um ao outro (mesmo que
discorde!).

Quando se abre um espaço porque você desautoriza algo que a sua esposa
tenha falado, pode começar um tipo de triangulação no meio - e isso só enfraquece o
casamento.

Exemplo: vocês estão na praia com toda a sua família, avós e tios, etc. Aí a
madrasta pede que as crianças coloquem a mesa para almoçar. Logo em seguida a
avó, por exemplo, fala que eles podem ficar jogando e ela mesma vai colocar a mesa.
Você fica em silêncio porque é melhor não se indispor com a sua mãe. As crianças
ficam sem fazer a tarefa. A madrasta é totalmente invalidada.

Essa triangulação de mensagens não pode acontecer, especialmente porque a


criança fica perdida na hierarquia. Os adultos responsáveis por ela naquele caso são
você e a sua esposa, a palavra de vocês precisa ter valor.

O "time" é composto por você, pai, e pela sua esposa. A dupla são vocês. O mais
importante são vocês dois juntos, conectados e alinhados. Não perca oportunidades
de reforçar sempre o laço com a pessoa que você escolheu se casar, não tenha medo
de se posicionar e fazer essa escolha valer cada dia mais.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

E quando bate aquela saudade?


Saudade da criança bem criança, de pegar no colo, de sentir o cheirinho. De
levar pra escola, de recolher os brinquedos do chão, de ouvir a risada pela casa. De
preparar a panqueca de brócolis ou o suco de maracujá que a filha adorava. No
sábado de manhã, era hora de ir à feira pra comprar a couve pro almoço. Depois,
andar de bicicleta, levar a cachorra pra passear, brincar na pracinha do bairro.

Aquele tempo já passou e o que ficou no coração do pai foi a lembrança e a


saudade de compartilhar momentos com a cria, que, depois da separação, tiveram
que ser reorganizados pelos acordos com a mãe da criança.

Dizem que a saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Os que
falam português sentem saudade. Os que pensam e escrevem em outras línguas
também.

O pai que não convive diariamente com o filho sente saudade da rotina, como já
bem disse nossa amiga Tanise G. Mateus no texto ali em cima. O pai que não vive na
mesma cidade sente saudade da convivência próxima e sabe que não vai estar
presente em todos os momentos ao longo do desenvolvimento do filho. O pai que
vive em outro país vai perder datas comemorativas, vai ver que a criança já cresceu e
que o chinelo não cabe mais no pé. A chamada de vídeo tenta encurtar as distâncias,
mas ela não substitui - nem nunca vai substituir - o contato físico, aquele abraço de
urso ou o cafungote, que é a famosa cafungada no cangote.

O pai sente saudade daquele filho que sempre será seu filho. Ele vai pedir pra
fazer mais chamadas de vídeo, mas nem sempre vai conseguir conversar porque o
videogame e o rolê com os amigos podem ser mais interessantes do que responder
as mensagens no grupo da família. O pai vai mandar cartas com fotos e bilhetinhos
dizendo que logo eles estarão juntos. Mas aí pode acontecer uma pandemia mundial
que impossibilita as pessoas de viajarem e deixa todo mundo trancado em casa
durante dois anos. E o pai vai perder. E vai sentir saudade e culpa. Aquela mesma que
já foi citada aqui várias vezes. Ela retorna como um algoz, pronta para criar mais
sofrimento.

O pai sente saudade e a saudade pode levá-lo a ser um pai mais presente se
ele tiver responsabilidade para sê-lo.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

E aqui um bônus se você se empolgar em colocar a sua criança na cozinha!

TEM CRIANÇA NA COZINHA!


pela nutricionista Bruna Paschoal

Antes de mais nada, quero fazer uma pergunta para você. Quando o assunto é
“criança na cozinha”, o que você pensa?
Sujeira, bagunça, perigo, “não pode”, “vai se queimar”, “larga isso”, mais trabalho,
mais louça.
Se passou pela sua cabeça alguma das respostas ou expressões acima, pode
ter certeza de que vocês, papais (ou avós, tios, tias, madrastas, padrastos, adultos
responsáveis), não estão sozinhos.
Criança na cozinha pode significar um mundo de oportunidades, novas
descobertas, desenvolvimento motor e cognitivo. A psicomotricidade fina, ou seja, as
competências necessárias para desempenhar tarefas como manipular objetos,
movimentar mãos, dedos, braços de acordo com a exigência de cada tarefa, é
extremamente trabalhada em momentos compartilhados na cozinha, por exemplo.
Mas como diminuir os riscos e evitar os acidentes aproveitando o momento de
forma agradável e segura?
Para isso não podemos deixar de lado alguns pontos importantes. Pense nisso
como um check list para quando você for fazer uma receita junto com a criança:
● Não subestime a capacidade da criança. Lembre-se que você dará uma
oportunidade para que ela se desenvolva e criará vínculo com ela.
● O ambiente está preparado para a atividade? Já deixe separado tudo o que vai
precisar antes de chamar a criança para participar, assim você poderá se atentar
ao desempenho dela e não precisará se ausentar para buscar ingredientes.
● Converse com a criança ou adolescente e informe sobre o passo a passo da
receita ou atividade. Assim, ela também aprende a importância da ordem de
cada etapa e diminui a ansiedade por não saber os próximos passos.
● Deixe a criança fazer “escolhas guiadas/ limitadas” por você. Ao invés de dizer:
“você só pode lavar as uvas e os morangos agora” tente dizer: “você prefere
lavar as uvas ou os morangos primeiro? Com qual dos dois prefere começar?”
Assim, você delimitará o que ela pode e precisa fazer, mas sem deixar que ela
tenha opções de escolha para expressar naquele momento.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

● Acompanhe sempre o processo. Um adulto responsável precisa estar atento


aos movimentos da criança e acompanhar a atividade, do preparo da receita até
o final.
● “Mão na massa”. Use tarefas possíveis para cada faixa etária enquanto você faz
as tarefas que a criança não pode fazer. Por exemplo: “Vou cortar o abacaxi
enquanto você lava as uvas e tira elas do cacho. Você quer lavá-las ou retirar do
cacho primeiro?”
Os benefícios não param por aí. Quando envolvemos as crianças no processo
de compra, escolha e preparo dos alimentos, elas apresentam menor seletividade
alimentar e menores chances de recusa na hora das refeições. Tendem a
experimentar novos alimentos e preparações com mais facilidade e interesse.
Além disso, estimulamos a autonomia deles quando damos tais oportunidades
em forma de atividades na cozinha e mostramos a importância da cooperação nas
tarefas da casa.
São tantas as oportunidades. Comece devagar, escolhendo uma receita mais
simples, com utilização de poucos ingredientes e fácil preparo. Aquelas que você,
adulto, já domina. Depois, vocês podem seguir evoluindo juntos!
Experimente, comece. Não precisa ser aquele mar de rosas e fluir lindamente
logo na primeira tentativa. Pode rolar estresse, criança cansada, falta de interesse no
meio do processo e está tudo bem, não force. Nosso papel é dar a oportunidade de
aprender e desenvolver novas habilidades para a criança.
Aqui vão algumas sugestões: Salada de frutas - espetinho de frutas (pode cortar
as pontinhas do palito de churrasco para que eles não se machuquem enquanto
colocam as frutas no palito), bolos (envolver nos processos de mistura dos
ingredientes, ligar e desligar batedeira e liquidificador, untar forma), almôndegas de
carne moída ou frango, kibe, pães, tortas, saladas, brigadeiro, biscoito, picolé de
frutas.
Compartilho com vocês três receitas de sucesso aqui de casa! Salada de frutas
no palito, picolé de frutas com água de coco e almôndegas de carne com aveia.

SALADA DE FRUTAS NO PALITO (OU ESPETINHO DE FRUTAS)


- Frutas picadas a gosto. Pode escolher as que tiverem disponíveis em casa ou
típicas da sua região. Espetar as frutas completando o palito. Dica: Misture frutas que
já são de hábito de consumo com frutas novas que ainda não experimentaram.
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

PICOLÉ DE FRUTAS COM ÁGUA DE COCO


As mesmas frutas cortadas para a salada de frutas podem virar picolé. Você vai
precisar daquele utensílio de plástico utilizado para fazer picolé. Colocar as frutas
picadas dentro do recipiente próprio, completar com água de coco e fechar com a
parte do palito. Levar ao freezer por no mínimo 2h ou até que endureça por completo.

ALMÔNDEGA DE CARNE COM AVEIA


- 500g de carne moída (aqui utilizo patinho moído)
- 4 colheres de sopa de aveia em flocos finos
- 1 ovo inteiro (clara e gema)
- sal a gosto
- Temperos naturais a gosto (aqui utilizo alho amassado, cebola ralada, ervas finas
desidratadas.
Misturar tudo muito bem (deixe que as crianças coloquem as mãos na carne
para misturar), fazer bolinhas (pequenas ou médias) e levar ao forno pré-aquecido a
200 graus por aproximadamente 30min ou até que fiquem douradas. Pode ser
preparado na Air Fryer por 15 min a 200 graus.
Dica: acrescentar cenoura ou abobrinha ralada na receita, fica ótimo e
agregamos ainda mais benefícios e valor nutricional nesta preparação.

Bruna Paschoal tem 30 anos, uma filha de 6 anos e uma enteada de 15 anos, é
nutricionista (CRN3: 41271), formada em 2014 pela Universidade Anhembi Morumbi.

Encontre mais conteúdo em: @nutri.brunapaschoal


Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

Você chegou ao final


deste ebook, obrigada.
Espero que estas palavras tenham mexido com você de alguma forma. E que
você desperte para mais consciência na forma como paterna.

Mesmo que você não tenha tido um bom pai ou não tenha sido um bom pai até
agora, tente exercer a paternidade da melhor forma que for possível pra você nesse
momento. Se, depois de ler esse ebook, você ainda se sentir inseguro, incapaz,
culpado e estressado, leia novamente. Reflita, mude suas atitudes, converse, peça
ajuda.

Seja um bom pai ao invés de viver querendo ser o pai mais legal que você
conhece. As suas crianças precisam de um bom modelo de guardião, e não de
permissividade e falta de limites.

Eu agradeço imensamente a sua confiança no meu trabalho e espero que a


gente continue se encontrando em outros conteúdos.

Um abraço,
Licenciado para - Caroline Christen Volkmann - 09005385979 - Protegido por Eduzz.com

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


A SOMOS MADRASTAS, 2022.
Este ebook ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de forma
alguma sem autorização expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso
de citações breves em uma resenha do ebook.

Você também pode gostar