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CURITIBA
2015
GUILHERME HIANCKI MONTEIRO
CURITIBA
2015
TERMO DE APROVAÇÃO
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O Reino Novo (c. 1550 – 1070 a.C.) trouxe ao Egito faraônico um novo
desafio: projetar-se como uma “potência” militar face aos reinos existentes no
Levante, desde o reinado dos primeiros faraós deste período. Esta projeção foi
fartamente e detalhadamente narrada em templos por todo o Egito por meio dos
quais esta monografia tem por objetivo entender seu funcionamento como
propaganda e como elemento protetor contra o caos simultaneamente, focando-se
no reinado de Ramsés III, que viveu na década de c. 1190 a.C., e que conta suas
peripécias militares contra os Povos do Mar – grupo multiétnico advindo do
Mediterrâneo Central e que penetrava em território egípcio desde o reinado de
faraós anteriores. Os relevos preservados no complexo funerário de Medinet Habu,
Tebas Ocidental, foram analisados por meio do estudo iconográfico de Richard H.
Wilkinson (1951 - ) e hieroglífico de Sir Henderson Alan Gardiner (1879 – 1963).
The New Kingdom ( c. 1550-1070 BC) brought the Pharaonic Egypt a new
challenge: to project itself as a " power " military face to existing kingdoms in the
Levant , from the reign of the first pharaohs of this period . This projection was widely
and in detail told in temples throughout Egypt through which this monograph aims to
understand its functioning as propaganda and as a protective element against chaos
simultaneously, focusing on the reign of Ramses III, who lived in the late c. 1190 BC,
and counting his military adventures against the Sea Peoples - arising multiethnic
group in the Central Mediterranean and penetrated Egyptian territory since the reign
of previous pharaohs. The reliefs preserved in the funerary complex of Medinet
Habu, Western Thebes, were analyzed using the iconographic study Richard H.
Wilkinson (1951 - ) and hieroglyphic Sir Alan Henderson Gardiner (1879-1963 ).
1. Introdução. ............................................................................................................................ 11
3. As Fontes e sua Análise – Medinet Habu e os Relevos dos Povos do Mar; .... 33
FIGURA 1 – MAPA DAS RELAÇÕES COMERCIAIS NA IDADE DO BRONZE, C. 1450 A.C. ........ 31
FIGURA 2 – EXEMPLO DE TEMPLO COM PIRÂMIDE. .......................................................... 35
FIGURA 3 – KARNAK, TRÊS SETORES; ............................................................................ 38
FIGURA 4 – RAMSÉS II COMO CRIANÇA; ......................................................................... 44
FIGURA 5 – EIXO OCIDENTAL DE TEBAS ......................................................................... 48
FIGURA 6 - KV38, TUMBA DE TOTHMÉS I; ...................................................................... 49
FIGURA 7 – PLANTA DE DEIR EL-MEDINA ....................................................................... 50
FIGURA 8 – CORTE LATERAL DO GRANDE TEMPLO DE MEDINET HABU ............................. 52
FIGURA 9 – PLANTA DE MEDINET HABU; ........................................................................ 55
FIGURA 10 – ASSENTAMENTOS EM MEDINET HABU ......................................................... 56
FIGURA 11 – PLANTA ESQUEMÁTICA DOS RELEVOS EM MEDINET HABU; ........................... 57
FIGURA 12 – DESENHO DA EPIGRAPHIC SURVEY MOSTRANDO A LOCALIZAÇÃO DAS IMAGENS
DOS POVOS DO MAR; ............................................................................................ 59
FIGURA 13 – ADAGA DE GEBEL EL ARAK, MUSEU DO LOUVRE; EM VERMELHO, AS
EMBARCAÇÕES. ..................................................................................................... 73
ARMAZÉNS. ........................................................................................................... 90
Lista de Tabelas:
TABELA 1 .................................................................................................................. 76
TABELA 2 .................................................................................................................. 83
Fichas de Análise:
11
essarelação é perceptível na essência de certas obras arquitetônicas e certos
lugares onde a guerra foi representada.
Outra grande dificuldade: entender os padrões de representação iconográfica
e da escrita hieroglífica. Hoje a historiografia sobre isto é farta, exceto em língua
portuguesa. Por isso, mesmo que em língua inglesa, nomes como o do egiptólogo
Raymond Oliver Faulkner (1894-1982) e James P. Allen (1945-) estarão presentes
neste trabalho para explicar os padrões da escrita egípcia, sobretudo do Reino
Médio. Por questões escasso tempo necessário para se completar esta monografia,
não serão feitas grandes trabalhos de traduções hieroglíficas; será utilizado, em vez
disso, as de James Henry Breasted (1865-1935) em sua vasta coletânea de textos
traduzidos.
Por fim, para se analisar o material de natureza iconográfica, grande foco
deste trabalho, serão utilizados os escritos de Richard H. Wilkinson (1951-) e de Sir
Alan Gardiner (1879-1963) – deste último principalmente sua Egyptian Grammar,
que contém a célebre listagem de hieróglifos e seus respectivos significados,
utilizada hoje em outras obras da qual são derivadas.
Desta forma, pode-se explicar qual a dinâmica usada neste trabalho. Será
dividido em três capítulos. O primeiro explicando rapidamente o contexto do reinado
de Ramsés III (c. 1194 – 1163 a.C.) e de seus antecessores, bem como
estabelecendo uma conceituação e discussão com relação à guerra e seu valor para
a sociedade egípcia, bem como a estrutura do exército egípcio entre os Reinos
Médio e Novo e sua respectiva utilização – principalmente contra os Povos do Mar,
grupo étnico que, na época, representava uma ameaça de invasão ao Egito.
O segundo segue uma linha mais teórica, abordando o histórico de
construção dos templos no Egito e sua significação simbólica. Em seguida, se faz
obrigatória uma abordagem sobre o funcionamento teórico da arte egípcia e suas
representações, somando-se como elemento de grande importância na arquitetura
religiosa egípcia. No capítulo 2 também se encontram as Fichas de Análise que
serão trabalhadas e analisadas, contendo as imagens extraídas de uma das obras
do Oriental Institute.
Por fim, o terceiro capítulo será onde se poderá visualizar a aplicação dos
conceitos explicados e entendidos nos dois primeiros, buscando compreender a
problemática de forma satisfatória. Será composto de uma série do que se
12
chamarão Extrações – o isolamento de pequenos trechos e pedaços da imagem – e
de uma leitura – sim, este é o termo que poderia ser empregado: a linha que separa
texto hieroglífico e imagem é muito tênue – da representação proposta. E, ao final,
será feita uma breve conclusão dos resultados vistos em todo o percurso desta
monografia.
É um privilégio dos historiadores o poder se lançar numa busca por fontes e
construir conhecimento por meio destas. O tempo e recursos gastos neste
investimento se tornam prazerosos quando se vê o fruto do trabalho pronto: mais
uma fatia, pequena, de conhecimento extraída do passado para os dias de hoje.
13
2. Capítulo I. Notas Introdutórias;
A partir de agora, visando o entendimento do contexto e da discussão proposta
por essa monografia, deve-se tecer algumas considerações introdutórias sobre
certas questões-chaves que serão cruciais para o alcance de tal objetivo, de acordo
com a historiografia consultada.
1
Datação feita com base na obra WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt.
New York. Thames and Hudson. 2000. p. 13 -14;
2
BAINES, John. MÁLEK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. p. 46;
3
DIJK, Jacobus Van. The Amarna Period and the Later New Kingdom (c. 1352 -1069) in SHAW, Ian
(org). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford. Oxford University Press. 2003. p .296;
4
Idem. p. 296;
5
Idem. p. 297;
6
BAINES, John. MÁLEK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. p. 46;
14
arquitetônicas7. Uma delas é Medinet Habu8, complexo funerário e um centro
administrativo de grandes proporções – fonte primária para esse trabalho. Tratar-se-
á deste mais à frente.
Duas coisas que marcaram o reinado desse faraó: a construção e suas
campanhas militares, no geral defensivas. Ramsés III não elaborou campanhas
contra oponentes de “grande porte”, se é que se pode assim chama-los, como os
hititas ou os Mittani. Seus grandes desafios são comunidades tribais ou nômades,
aliás um tanto conhecidas dos demais faraós anteriores, que volta e meia invadiam
as bordas do país: os líbios. Ainda no início de seu reinado, no 5º ano, os líbios
avançavam sobre o Delta, aproveitando a desordem que ainda restava para penetrar
no território9 e se instalar.
Jacobus Van Dijk relata que, inicialmente, houvera uma aceitação sobre essa
imigração, haja vista que à primeira vista seria pacífica10. Com o tempo, quando a
instalação desses começou a prejudicar a corte, o faraó precisara expulsá-los do
Vale do Nilo; constam em Medinet Habu alguns relevos mostrando essas
expedições militares de enfrentamento aos líbios. O risco era de que esses
influenciassem na sucessão ao trono, impondo seu próprio rei11.
Os outros opositores vieram de regiões mais distantes: são os chamados
Povos do Mar, um vasto grupo de comunidades tribais em constante movimentação
pelo Mediterrâneo oriental12. As fontes desse trabalho serão compostas de relevos,
ou desenhos de linha, resultantes do enfrentamento desses com os egípcios,
também dispostas no templo selecionado. Antecessores seus já haviam entrado em
conflito com os mesmos, inclusive Merneptah13, No entanto foi Ramsés III quem,
segundo a bibliografia consultada, teve um maior enfrentamento contra os mesmos
e isso é unânime nos textos sobre esse tema.
Ramsés III registrou a Guerra do Ano 8º em Medinet Habu como uma vitória.
Não foi o caso de algumas potências da região como os hititas. Hattusa, a capital
7
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo. Brasiliense. 1986. p. 74;
8
Idem, p. 74;
9
DIJK, Jacobus Van. The Amarna Period and the Later New Kingdom (c. 1352 -1069) in SHAW, Ian
(org). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford. Oxford University Press. 2003. P.297;
10
Idem, p. 297;
11
Idem, p. 297;
12
D‟AMATO, Raffaele. SALIMBETI, Andrea. Sea Peoples of the Bronze Age Mediterranean, c. 1400-
1000 B.C. Oxford. Osprey Publishing. 2015. p. 4;
13
Idem, p. 8
15
destes, caiu em meio à assaltos dos Povos do Mar14. Além dessa, pode-se
mencionar as cidades de Alalakah e Ugarit na Síria, Tarsis na Anatólia e a Cilícia
como alvos dos Povos do Mar15 e que então flertavam para o Delta do Nilo. Isso
serve como um panorama do contexto externo e dos povos contemporâneos ao
Egito dessa época.
Quanto à política interna, Ramsés III tivera outros obstáculos. Relatam-se
divergências entre sacerdotes de Amon e o faraó16, principalmente na região de
Karnak17; tal cargo se tornara hereditário a partir de então e os templos acumulavam
altas quantidades de terra. Soma-se a essa situação uma crise econômica de
grandes proporções e certa quebra nas finanças reais18.
Tal crise afeta diretamente à vila de Deir el-Medina, onde se encontram os
trabalhadores – principalmente construtores das tumbas do lado oeste do Nilo, em
Tebas -, deixando-os sem alimentos19. Resultado: trabalhos paralisados. No 29º ano
de reinado orquestra-se o que é chamado por Cardoso de greve20 - o que seria o
primeiro relato de uma na História.
Nesse mesmo tempo, os líbios continuam tentando entrar no território
egípcio21. O cenário que se tem então é de grande insegurança22: sacerdotes com
grande poder, invasões de tribos estrangeiras em um Estado com recursos
limitados.
Ao final do reinado, houve uma tentativa de assassinato do rei. Esta se deu
num harém em Per-Ramsés. Envolveu oficiais do exército, escribas e Tiy – uma das
esposas do faraó23. A ideia era assassinar o rei em meio ao festival anual de Opet,
que acontecia em Tebas; colocando como sucessor no trono Pentawet, filho da
mesma24. Mas a trama envolvia muito mais coisas de forma preparatória: Pierre
Montet afirma que um sujeito denominado Pen-Hui-Bin, um dos envolvidos
14
DIJK, Jacobus Van. The Amarna Period and the Later New Kingdom (c. 1352 -1069) in SHAW, Ian
(org). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford. Oxford University Press. 2003. P.297;
15
Idem, p.297;
16
Idem, p. 298;
17
BAINES, John. MÁLEK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. p. 46;
18
Idem, p. 298;
19
Idem, p. 298;
20
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo. Brasiliense. 1986. p. 74;
21
DIJK, Jacobus Van. The Amarna Period and the Later New Kingdom (c. 1352 -1069) in SHAW, Ian
(org). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford. Oxford University Press. 2003. p .298;
22
Idem. p. 298;
23
Idem, p. 298;
24
Idem, p. 298
16
coadjuvantes na trama, fabricava figuras de cera e escritos mágicos para
enfraquecer o faraó25.
Sem sucesso. O plano fracassou e os mesmos foram pegos. O desfecho
desse caso é ainda mais curioso: um julgamento26 e um “suicídio-forçado” dos
acusados capturados. Isso é apontado por Montet em sua obra, utilizando-se de
uma frase do próprio Papiro Harris que diz que “Morreram eles próprios.27”
O elemento greve e o plano de assassinato ao faraó são fatos ao seu modo
inusitados. O fim dos conspiradores, mencionados anteriormente, é outra
controvérsia: para o próprio Montet, a sugestão que Gaston Maspero faz é mais
plausível – a de que estes foram enterrados vivos 28.
25
MONTET, Pierre. O Egito no Tempo de Ramsés 1300-1100 a.C. São Paulo. Companhia das
Letras. 1989. p. 226;
26
Idem, p. 228;
27
Idem, p. 228;
28
Idem. p. 228;
29
PARENTE, Paulo André Leira. A Construção de Uma Nova História Militar. Revista Brasileira de
História Militar. Ano N/A. P.2;
30
SOARES, Luis Carlos. VAINFAS, Ronaldo. Nova História Militar. In. CARDOSO, Ciro Flamarion.
VAINFAS, Ronaldo (Orgs). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro. Elsevier. 2012. p. 114;
31
Idem, p. 114;
32
Idem. p.117;
33
KEEGAN, John. A History of Warfare. Nova York. Vintage Books. 1993. p.3;
17
Numa tradução livre, a abordagem de Keegan sobre essa passagem afirma
que a expressão de Clausewitz, localizada na sua obra máxima Da Guerra, deve ser
entendida à luz de seu tempo34. Em suma, o militar em questão vive numa
sociedade pautada pelos ideais Iluministas, pela primazia do uso da Razão, etc.
Clausewitz combatera, por exemplo, contra as forças napoleônicas na Rússia em
181235 e, mesmo que indiretamente, conhecia ao próprio Napoleão Bonaparte – ou
pelo menos, sabia como esse combatia e o nível de seu profissionalismo na
execução dessa atividade. Julga, portanto, as justificativas para a guerra – a
execução de metas políticas pelo uso da violência – e ela própria de forma
generalizadora.
A significação da guerra é um dos pontos-chaves nessa etapa desse trabalho.
Keegan aponta na obra acima citada, as várias conceituações dessa atividade no
tempo e nas mais diversas sociedades. Tal autor é citado por Vainfas e Luis Soares
como um dos principais membros da Nova História Militar36, depois de algumas
décadas de certo receio dos historiadores em tratar desse tema.
Logo após Clausewitz, a teoria marxista associa a guerra à luta de classes37 e
à etapa final do capitalismo, o imperialismo – teoria defendida por Lenin38. Após isso
a historiografia militar, já em declínio desde o final do XIX39, acabou por ser reduzida
cada vez mais e quase banida. As poucas instituições que realmente formavam
historiadores voltados para essa área eram as ligadas a alguma parte das Forças
Armadas40 - fenômeno que ocorre tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo
– o que aumentara uma distância já existente entre acadêmicos civis e militares 41.
John Keegan mesmo surge da Academia Real Militar de Sandhurst, Inglaterra, e
conta suas experiências como sendo um dos únicos civis nesse ambiente, onde
todos os outros componentes possuíam experiências práticas em guerras42.
A busca dos teóricos desse ramo hoje se dá na procura de novos campos
para o estudo das guerras, principalmente na História. A Nova História Militar tende
34
KEEGAN, John. A History of Warfare. Nova York. Vintage Books. 1993. p.3;
35
Idem, p. 16;
36
SOARES, Luis Carlos. VAINFAS, Ronaldo. Nova História Militar. In. CARDOSO, Ciro Flamarion.
VAINFAS, Ronaldo (Orgs). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro. Elsevier. 2012. P.120;
37
Idem, p. 119;
38
Idem, p. 119;
39
Idem, p. 119;
40
Idem, p. 120;
41
Idem, p. 120;
42
KEEGAN, John. A History of Warfare. Nova York. Vintage Books. 1993. p. 1;
18
a fazê-lo de forma a pensar não só o conflito ou a batalha em si, mas várias outras
estruturas adjacentes a esses como a economia, a psicologia, a sociologia, etc. 43 e,
acima de tudo, desvinculando a guerra de sua “subordinação à História Política44”.
Pode-se, então, buscar entender a forma com que essa atividade é vista na
sociedade egípcia e traçar um breve histórico de sua execução no decorrer da
história egípcia. Surge um grande obstáculo à frente: como definir algo que
supostamente não existe no vocabulário egípcio? O questionamento aparece por
meio da reflexão de Sheikh „Ibada Al-Nubi ao tratar do soldado na obra O Homem
Egípcio. Segundo o mesmo:
43
SOARES, Luis Carlos. VAINFAS, Ronaldo. Nova História Militar. In. CARDOSO, Ciro Flamarion.
VAINFAS, Ronaldo (Orgs). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro. Elsevier. 2012 P. 114;
44
Idem, p. 114;
45
AL-NUBI, Sheikh „Ibada. O Soldado. In DONADONI, Sérgio (org). O Homem Egípcio. Lisboa.
Editorial Presença. 1994. P. 135;
46
FAULKNER, Raymond O. A Concise Dictionary of Middle Egyptian. Oxford. Griffith Institute. 1991.
p. 196;
47
KEEGAN, John. A History of Warfare. Nova York. Vintage Books. 1993. p 132;
48
O número de divindades exposta por Keegan é um exagero; deve-se lembrar que Keegan não é
necessariamente um egiptólogo.
19
pedra e [puxadores] de trenós, a guerra deveria estar relegada à uma
49
função baixa e irrelevante .
Idealizações à parte – afinal, ver-se-á que nem tão bonito e perfeito era o
mundo egípcio – a síntese dessa afirmação é a busca pela manutenção da ordem
natural do mundo conhecido e sua preocupação com o sobrenatural, principalmente
depois da morte.
Valendo-se de uma comparação com outra sociedade, os sumérios, vê-se
que a geografia, para Keegan, tem outra aplicação para esta sociedade. De uma
forma diferente, o sumério50 sofria também com uma cheia e seca dos rios
principais, Tigre e Eufrates; porém isso traria o seguinte efeito político:
49
KEEGAN, John. A History of Warfare. Nova York. Vintage Books. 1993. p 132;
50
Idem. p. 133;
51
Idem, p. 133;
52
MONTET, Pierre. O Egito no Tempo dos Ramsés 1300-1100 a.C . São Paulo. Companhia das
Letras. 1989. p. 203;
53
Idem, p. 203;
54
Idem, p. 203;
20
Mas tudo muda se a condição primordial não é preenchida. A terra do
Egito fica à deriva. Não há mais autoridade, porque todos querem
comandar. Cada um assassina seu irmão. Logo, suprema
vergonha, o estrangeiro é o senhor. O povo não tem mais o que
comer. Nada mais chega da Síria nem de Kuch. Não são mais
apresentadas oferendas nos templos dos deuses, que desviam o seu
55
olhar dos que lhe foram infiéis.
55
MONTET, Pierre. O Egito no Tempo dos Ramsés 1300-1100 a.C . São Paulo. Companhia das
Letras. 1989. p.. 203;
56
FIELDS, Nic. Soldier of the Pharaoh, Middle Kingdom Egypt 2055-1650 BC. Oxford. Osprey
Publishing. 2007. P. 4.
57
Idem, p.4;
58
Idem, p 10;
59
Idem, p. 10;
60
Idem, p. 10;
21
62
esses havia o pequeno efetivo profissional e hereditário de soldados: os aqAwty
(“guerreiros”), mas a grande maioria dos soldados se encontravam no primeiro
grupo.
O nomarca foi nesse ínterim o responsável pelo treinamento – assumindo o
posto, então, de “supervisor dos recrutas63” (imy-r hwnw nfrw64) - dentro de seus
domínios, e, quando solicitado, atendia aos anseios do faraó nas mais diversas
atividades.
Aliás, com relação ao uso desses soldados é interessante destacar que nem
sempre eram chamados para um combate efetivo, principalmente no Reino Médio.
Algumas vezes esses contingentes eram selecionados para trabalhos pacíficos
como o da construção civil ou expedições na busca por recursos no estrangeiro65,
mesmo que treinados para o confronto quando necessário.
Combate esse que se restringia na época à infantaria, dispondo de
machados, adagas, lanças e escudo, e ao uso do arco e da flecha66. No âmbito
fluvial, destaca-se o uso das embarcações em, grosso modo, “operações anfíbias”67-
deslocava-se pelo Nilo até a região, assaltava-se a vila, fortaleza, ou seja,
enfrentava-se o oponente e retornava-se à embarcação – desde 3000 a.C.
aproximadamente68.
Essa situação é a forma, por exemplo, com que posteriormente – quando do
conflito contra os hicsos, ao final do Segundo Período Intermediário – um soldado
de nome Amósis, filho de Abana, combateu69, por volta de 1560 a.C. Seu relato em
sua tumba em El-Kab conta que certa embarcação denominada O Touro
Selvagem70, a qual estava embarcado, patrulhava o rio e realizava transporte de
tropas, provisões e etc. Quando necessário, a tripulação desse navio deveria descer
61
Ou simplesmente nfrw conforme: FAULKNER, Raymond O. A Concise Dictionary of Middle
Egyptian. Oxford. Ashmolean Museum. 1991. p. 132;
62
Transliteração conforme: FAULKNER, Raymond O. A Concise Dictionary of Middle Egyptian.
Oxford. Griffith Institute. 1991. p. 47;
63
FIELDS, Nic. Soldier of the Pharaoh, Middle Kingdom Egypt 2055-1650 BC. Oxford. Osprey
Publishing. 2007. p. 11;
64
Idem, p. 11;
65
Idem, p. 8;
66
Idem, p. 12;
67
Idem, p. 26;
68
Idem, p. 26;
69
Grandes Civilizações do Passado. A História Cotidiana às Margens do Nilo, Egito 3050-30 a.C.
Barcelona. Folio. 2007. p. 106;
70
Idem, p. 109;
22
e combater às margens do rio e retornar a ele, ilustrando bem esta forma de
guerrear.
O domínio militar egípcio em determinadas localidades foi mais notório, ainda
no Reino Médio, haja vista a construção de estruturas militares, sobretudo na Núbia,
local de intenso confronto desde a unificação uma vez que essa região era
responsável por grande parte do comércio e de onde viriam as próprias tropas
auxiliares de núbios juntamente com grande variedade de produtos71. Os fortes
egípcios surgiram com maior frequência no sul do Egito, destacando-se os de
Buhen, Semna Ocidental, Uronarti e Aniba72. Ao norte, no Delta do Nilo, outras
fortalezas se fizeram importantes, como as conhecidas Muralhas do Príncipe73, de
Amenenhat I, para defender tal região de ataques externos.
O Segundo Período Intermediário revelou, como se percebe anteriormente,
certa continuidade nas técnicas de combate do Reino Médio o que pode ser
mostrado pelo relato do guerreiro Amósis de Abana. Entretanto, é a partir da
reunificação, guerra que esse indivíduo estava envolvido, que se marca o início do
Reino Novo – período no qual a bibliografia consultada revela uma grande
importância do exército e do desenvolvimento bélico na história egípcia.
Para Ciro Flamarion Cardoso, por exemplo:
Uma das características desse novo exército é o poder que seus chefes,
subalternos ao faraó – ele é o supremo comandante -, obtiveram. Na citação de
Cardoso, identifica-se uma questão relevante: a relação dos militares com a posse
da terra. Ibada Al Nubi explica bem essa relação e vai mais além, conforme abaixo:
71
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo. Brasiliense. 1986. p. 23;
72
VOGEL, Carola. The Fortifications of Ancient Egypt, 3000-1780 BC. Oxford. Osprey Publishing.
2010. p. 27;
73
SHAW, Ian. Egyptian Warfare and Weapons. Buckinghamshire. Shire Publications. 1991.p.16-17;
74
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo. Brasiliense. 1986. p. 23;
23
ocupa o seu posto e as vantagens que lhe estão associadas, ou
seja, o usufruto de um pedaço de terra, normalmente situado em
zonas circunscritas, para que se possam constituir autênticas aldeias
militares, cujos residentes tinham à sua disposição um campo e os
75
escravo que foram recebendo como recompensa da sua bravura .
75
AL-NUBI, Sheikh „Ibada. O Soldado. In DONADONI, Sérgio (org). O Homem Egípcio. Lisboa.
Editorial Presença. 1994. p 150;
76
Idem, p. 150;
77
Idem, p. 150;
78
CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo. Brasiliense. 1986. p. 23;
79
SPALINGER, Anthony J. War in Ancient Egypt: The New Kingdom. Oxford. Blackwell Publishing
LTD. 2005. p 8;
24
O arsenal egípcio sofreu alterações, influenciados pelos povos vizinhos. O
arco figura como um dos principais exemplos. Morkot afirma que o arco composto,
vindo da Ásia, sobrepôs o que era utilizado anteriormente, tonando-se mais forte e
resistente do que os demais e contando com um alcance de tiro maior80; houve a
introdução de uma cimitarra curva, denominada khopesh81, também vinda do
Oriente, que era utilizada por diversos tipos de soldados, mas, sobretudo pelo faraó
quando este oferecia os cativos à divindade e entre outros. Uma das mudanças mais
significativas estava relacionada à estrutura militar egípcia; para entendê-las é
necessário observar a dinâmica externa ao qual o Egito se encontrava, analisando a
atuação dessa força bélica caso a caso.
O Reino Novo foi para o Egito a época de maior projeção no estrangeiro. Em
toda a Síria e Levante, dezenas de cidades e vilarejos, tais como Tiro, Sidon,
Qadseh, Meggido, entre outras, foram cenários de disputa entre as forças egípcias,
hurritas e, posteriormente hititas. Uma certa relação de vassalagem entre as regiões
conquistadas pode ser resumida da seguinte forma por John Baines:
87
KOCHAV, Sarah. Israel. Barcelona. Folio. 2006. p. 224;
88
Grandes Civilizações do Passado. A História Cotidiana às Margens do Nilo, Egito 3050-30 a.C.
Barcelona. Folio. 2007. p. 114;
89
Idem, p. 118;
90
SPALINGER, Anthony J. War in Ancient Egypt: The New Kingdom. Oxford. Blackwell Publishing
LTD. 2005. p 101;
91
SPALINGER, Anthony J. War in Ancient Egypt: The New Kingdom. Oxford. Blackwell Publishing
LTD. 2005. p. 101;
92
MORKOT, Robert. G. Historical Dictionary of Ancient Egyptian Warfare. Maryland. The Scarecrow
Press Inc. 2003. p. 145;
26
que buscava derrubar o rei; para isso, contou com o auxílio de outro reino da
Península da Anatólia: os hititas93 e conquistara a metade oriental do reino,
enquanto Supilulima I, o rei hitita, tomaria a outra metade, transformando Mitani num
de seus vassalos – o governante da parte ocidental do território chamou-se
Shatiwaza, filho de Tushratta que assassinou seu pai94.
Surgiu dessa forma outro dos principais rivais do Egito no Reino Novo. De um
aglomerado de tribos que migraram para a Península Anatólia, no 3º milênio a.C.95,
os hititas estavam, a partir do séc. XIV a.C., no seu auge96, confrontando-se com
Mitani na busca pelo domínio de certas localidades na região norte da Síria e
Levante, inclusive a Cilícia.
Existiam neste cenário três grandes forças buscando o controle dessa região:
os egípcios, o que restava de Mitani e o reino Hitita97. O sistema de alianças é
demonstrado pelas Cartas de Amarna, principalmente sobre o reinado de Akhenaton
e Tutankhamon, e, sobretudo, entre hititas e egípcios – Tushratta ficara sem aliados,
haja vista as relações estáveis entre os dois98 (nessa época, o centro da atividade
faraônica se internalizou haja vista as reformas religiosas de Akhenaton). Além
desses, estavam cercados por outros reinos que se lançavam à expansão territorial
como os assírios.
Michael Roaf menciona que:
O mesmo autor afirma que isso levou aos assírios a expansão às regiões limítrofes
do reino hitita100.
As relações entre egípcios e hititas logo se deteriorariam. Na XIX dinastia
Sety I (c. 1305- 1290 a.C.) entrou em guerra contra os hititas, tomando deles
93
MORKOT, Robert. G. Historical Dictionary of Ancient Egyptian Warfare. Maryland. The Scarecrow
Press Inc. 2003. p. 145;
94
Idem, p. 145;
95
NOSSOV, Konstantin S. Hittite Fortifications, 1650-700 B.C. Oxford. Osprey Publishing. 2008.p.4;
96
Idem, p. 5;
97
ROAF, Michael. Mesopotâmia. Barcelona. Folio. 2006. p. 137;
98
Idem, p.137;
99
Idem, p 139;
100
Idem, p. 139;
27
novamente as posses na Síria101. Sob o reinado de Ramsés II essa confrontação
assumiu níveis maiores, sobretudo no episódio de Qadesh, o ato maior do embate
entre as duas potências, onde se vê o auge do militarismo egípcio, com sua máxima
organização e profissionalismo, mesmo que sem um desfecho definido. Tal é
importantíssima para se entender também o poder que o discurso real possuía;
deve-se, portanto, entender como ela funcionou.
Qadesh, ou Tell Nebi Mend, representava uma posição de extrema
importância para ambos os lados102. Significava o controle de uma região, um vale,
ao norte da Síria, próxima ao rio Orontes. Estava, porém, sob o comando hitita, o
que representava para o Egito uma enorme desvantagem, haja vista que fica a mais
de 1600 quilômetros de distância de suas fronteiras originais; além disso foi muito
bem protegida por muralhas, situada no topo de uma colina e era capaz de abrigar e
acomodar o exército hitita de forma satisfatória103.
Ao 5º ano do reinado de Ramsés II os hititas haviam ajuntado vários vassalos
para combater os egípcios, uma verdadeira coalizão de todos os povos da faixa
norte da Síria. Avançaram do Delta à Qadesh e, quando estavam acampados ao sul
desta cidade, chegaram dois beduínos para falar com Ramsés II sobre a localização
do rei hitita104, passando uma informação falsa ao faraó. O Poema de Qadesh
menciona também outro elemento: a divisão do exército egípcio em vários grupos
menores:
Observou, o miserável, vencido chefe de Hati, junto com os vários
países aliado, que estavam estacionados em formação de batalha,
escondidos ao noroeste da cidade de Qadesh, enquanto Vossa
Majestade estava sozinho consigo mesmo, com sua guarda pessoal,
e com a divisão de Amon que marchava atrás dele. A divisão de Rá
cruzara sobre o leito do rio ao sul da cidade de Shabtuna, à um iter de
distância [aproximadamente 1 milha e meia segundo Breasted] da
divisão de Amon; [...] a divisão de Ptah estava ao sul da cidade de
Aranami; e a divisão de Seth estava marchando sobre a estrada
105
[...].
106
HEALY, Mark. The Warrior Pharaoh: Ramesses II and the Battle of Qadesh. Oxford. Osprey
Publishing. 1993. p. 32;
107
Op. Cit. p. 148;
108
MONTET, Pierre. O Egito no Tempo dos Ramsés 1300-1100 a.C . São Paulo. Companhia das
Letras. 1989. p. 253;
109
MORKOT, Robert. The Penguin Historical Atlas of Ancient Greece.Londres. Penguin Books. 1996.
p. 22;
110
Idem, p. 22;
29
que é cercada por uma muralha de pedras e pelas diversas representações de
soldados já encontradas.
As rotas navais comerciais são algo a se levar em consideração quando se
busca entender as relações entre egípcios e o restante do Mediterrâneo. Morkot
afirma que:
111
MORKOT, Robert. The Penguin Historical Atlas of Ancient Greece.Londres. Penguin Books. 1996.
p. 28-29;
30
Figura 1 – Mapa das Relações Comerciais na Idade do Bronze, c. 1450 a.C.
MORKOT, Robert. The Penguin Historical Atlas of Ancient Greece.Londres. Penguin Books. 1996. p.
28 -29;
31
A forma obscura com que os Povos do Mar surgiram nessa realidade faz
necessária uma breve análise sobre os grupos principais dessas populações.
Entenda-se que essa definição é criada por egípcios e é uma generalização; seus
nomes derivam, geralmente, dos lugares de origem 112 – o que gera uma série de
especulações sobre a localidade exata de onde procederam tais pessoas. As razões
para as migrações desses grupos também são controversas. Segundo Raffaele
D‟Amato, variam desde movimentações de povos guerreiros, “bárbaros”, busca por
novos ambientes para colonizar, a queda desse sistema Palaciano no Egeu, etc 113.
Podem-se citar os seguintes grupos, muitos deles mencionados nas fontes egípcias:
os Sherdens, os Peleset, os Tjekker, os Denyen, os Shekelesh, os Ekwesh, os
Teresh, os Karkisas, os Lukka e os Weshesh. São representados com suas
principais características em termos de vestuário, elmos e armamentos114.
Esses dados são cruciais para se entender, e observar, o que será
apresentado nas fontes dessa monografia. Alguns desses serão recorrentes com o
decorrer dos trabalhos aqui demonstrados e, ao final, serão ligados com as
informações sobre arte e a arquitetura religiosa, haja vista que são elementos
dessas relações que aparecem nas paredes das mesmas.
112
MORKOT, Robert. The Penguin Historical Atlas of Ancient Greece.Londres. Penguin Books. 1996.
p. 31;
113
D‟AMATO, Raffaele. SALIMBETI, Andrea. Sea Peoples of the Bronze Age Mediterranean, c. 1400-
1000 B.C. Oxford. Osprey Publishing. 2015. p. 4;
114
Idem, p. 4;
32
3. As Fontes e sua Análise – Medinet Habu e os Relevos dos Povos do Mar;
115
D‟AMATO, Raffaele. SALIMBETI, Andrea. Sea Peoples of the Bronze Age Mediterranean, c. 1400-
1000 B.C. Oxford. Osprey Publishing. 2015. p 42;
116
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p. 16;
33
por um poste que no seu topo possuía uma figura de falcão – a divindade local,
associada à realeza117.
Fazendo um parêntese nessa sequência, Wilkinson relaciona, na mesma
obra, as teorias de desenvolvimento do templo, que surgem recentemente – e que
se fazem interessantes nesse momento. Segundo o mesmo, o egiptólogo David
O‟Connor, analisa que essas estruturas, principalmente no Pré-Dinástico e Reino
Antigo, seguiriam a um mesmo padrão, assemelhando-se ao templo de
Hierakômpolis, formando as bases para as construções posteriores, haja vista que
possuem características em comum.
Abydos representa para Wilkinson uma forma de se ver os templos dos
primórdios do Egito: a do templo “fortaleza dos deuses”, citando uma definição
criada por O‟Connor, para quem as estruturas encontradas nessa cidade se
assemelhavam aos palácios reais118. Havia, nessa região, um apelo muito forte à
relação entre faraó e Hórus, o que é visto em rituais denominados Cortejos de Hórus
– por meio do qual se faziam jornadas à esses locais a cada determinado tempo.
Por volta das primeiras dinastias do Reino Antigo, Abydos tornou-se um centro
religioso de grande importância, por causa da crença em Osíris-Khentamentiu
“Primeiro dos Ocidentais”, ou seja, soberano dos mortos119 - a quem os faraós das
dinastias posteriores davam extrema importância.
No Reino Antigo, o templo atinge grandes níveis de complexidade. É nesse
período que essas construções estão intimamente relacionadas às pirâmides.
Wilkinson relaciona a mesma à uma superestrutura composta da pirâmide em si,
unida a um templo mortuário, cercada por um muro120. Na figura 2, uma
representação de um modelo de complexo do Reino Antigo e suas estruturas:
117
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p. 17;
118
Idem. p. 19;
119
BAINES, John. MALÉK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. P. 144;
120
Op cit, p. 20;
34
Figura 2 – Exemplo de Templo da pirâmide.
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson. 2000.
p. 21;
129
BAINES, John. MALÉK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. p.90;
130
Idem, p. 91-92;
37
Figura 3 – Karnak, três setores;
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and
Hudson. 2000. p. 154;
38
Wilkinson mostra ainda uma descrição das funções simbólicas e mágicas do
templo, em sua composição máxima até Reino Novo. Elementos que vem desde os
primórdios e que formam o conjunto da obra nos períodos posteriores, quase uma
junção de todas as peças necessárias para a totalidade que se veria a partir de
então.
Iniciando, portanto, pelo item mais icônico dessa arquitetura que é o pilono,
construído como torre-portão do templo é onde surgem as já mencionadas
representações da cena do faraó golpeando seus inimigos131. O caráter de fortaleza
é reforçado com a função simbólica de defesa, fortaleza, bastião, contra o caos e
suas investidas132. Vale ressaltar que é no pilono que se encontram as bandeirolas,
nTr, relacionados ao conceito de divindade. O pilono esta relacionado ao hieróglifo
Axt, horizonte, o qual era uma representação dessa forma escrita133, realçando o
caráter simbólico da construção. A citação abaixo resume bem essa outra função do
templo:
131
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p. 60;
132
Idem, p. 60;
133
Idem, p. 77;
134
Idem, p. 79;
135
Idem, p. 55;
39
erguidos em pares no Reino Novo, geralmente à entrada do templo, e relatam, nos
textos que os preenchem, as vitórias que o faraó obteve em campanhas e, por
causa disso, seriam oferecidos como presentes aos deuses136.
No geral, muitos templos possuem colossos. Wilkinson os relaciona ao culto
ao faraó, haja vista que ficavam para fora dos portões, portanto, acessíveis aos
adoradores137. Outra região pública, que merece destaque agora, é o santuário –
área geralmente com teto aberto, cercada – pelo menos no caso de algumas
construções do Reino Novo – por estátuas da realeza ou privadas, erguidas como
memorial138. Nessa última área de acesso ilimitado é onde se encontram altares de
oferenda e, em alguns casos, escadas que levam ao teto da sala hipóstila139.
Essa parte em questão serve para ocultar dos olhos de quem estiver no
santuário o que se passa na capela da barca e no santuário onde se localizava a
estátua do deus adorado no templo, haja vista que se trata de uma sala em colunata
– que servem para segurar e suportar o teto do recinto – que representam as várias
espécies de plantas do pântano criacional. As colunas mais comuns se dividem em
três ou quatro tipos principais, onde se destacam as do tipo palmiforme, lotifrme e a
papiriforme. Encontram-se, ainda, colunas finalizadas com algumas características
peculiares como a face de uma divindade a exemplo da hathorica, em Dendera, no
templo do período Greco-Romano, onde existe a face da deusa Hathor140.
Os santuários que vem depois da sala hipóstila são os locais mais reservados
do templo. Existe um que recebia a barca, objeto de procissão em festivais, com a
face do deus, e outro para a estátua da divindade representada no templo141. Ambos
são o coração toda a construção.
Existem outras características menores que são encontradas nos templos.
Pode-se citar as criptas, onde eram guardados os materiais de culto e outros
objetos, bem como os lagos sagrados, para a purificação, as capelas menores que
rodeavam o templo principal, denominadas Orelhas da Audição142 – geralmente
onde se entrava para cultuar e interceder diante de uma divindade – além de
136
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p, 55;
137
Idem, p. 60;
138
Idem, p. 63;
139
Idem, p. 69;
140
Idem, p. 67;
141
Idem, p. 70;
142
Idem, p. 71;
40
armazéns, fornos, nilômetros (usados para medir e prever as cheias do rio), etc.
Muito comum é a existência de muralhas para cercar o templo. Serviam como
proteção efetiva contra ataques externos ou levantes populares, delimitando o
espaço de culto em detrimento do espaço público.
Numa tradução livre, essa representação funcionava como uma via de mão-
dupla, tanto o faraó representava a humanidade diante dos deuses quanto o
contrário. O uso de atributos sobrenaturais é uma das coisas que o faraó utilizava
para “conter o não governado”, no caso de Narmer, o invasor estrangeiro que não
pertenceria ao cotidiano egípcio, por isso deveria ser barrado, combatido e
controlado.
Sobre o relevo de guerra, Wilkinson afirma que:
143
SHAW, Ian. Egyptian Warfare and Weapons. Buckinghamshire. Shire Publications. 1991.p 9;
144
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 195;
41
Desde a época do Reino Novo, os muro externos da maioria dos
templos egípcios (incluindo os pilonos e o primeiro pátio) mostram
cenas que representavam a destruição dos inimigos. Ainda que estas
cenas possam representar inimigos reais, o motivo é simbólico,
portanto, representa o conceito mais amplo de caos e desordem que
ameaçava a sociedade egípcia, e o equilíbrio do mesmíssimo
cosmos. Por isso, a representação da destruição destes inimigos não
é um mero alarde militar, mas uma contenção simbólica do caos e do
estabelecimento a ordem e harmonia com a cenas, criando para seus
próprios lugares uma garantia mágica de segurança e calma para o
145
culto do deus que lá se encontra.
145
WILKINSON, Richard H.The Complete Gods and Godesses of Ancient Egypt. New York. Thames
and Hudson. 2003. p. 76;
146
Idem, p. 76;
147
Idem, p. 75;
148
Idem, p. 152;
149
Idem, p. 152;
150
Idem, p. 197;
42
esta característica e se autoproclamam “Amado de Seth151”, como no caso de
Tothmés III.
Analisando certos elementos artísticos e religiosos, pode-se compreender
como estes influenciavam a arquitetura. O posicionamento e localização das
imagens é algo que deve se levar em consideração, Wilkinson, por exemplo,
relaciona a existência de certos elementos na arquitetura que demonstram esse
apelo ao religioso152. Nesse critério incluem-se a localização do templo no espaço,
a orientação geográfica do mesmo, seguindo o ciclo solar, etc 153. Esse item é
visualizado várias vezes nos templos do Reino Novo, pela forma do disco solar
alado, principalmente no templo de Ramsés III154. No templo, isso se mostra nas
diferenças do tamanho dos muros externos – quanto mais próximos ao santuário,
menores os muros155.
Gestos também devem ser analisados de forma cuidadosa. Cada qual tem
uma interpretação correta, e podem até ter mais de uma forma de ser percebida na
arte egípcia. Wilkinson trabalha com grupos gestuais, principalmente relacionados a
certas posições das mãos, e até expressões corporais, dos personagens
desenhados, cuja classificação elenca os seguintes casos: dominação, submissão,
proteção, louvor, invocação, oferenda, luto e alegria156.
A integração ente escrita hieroglífica e imagem é algo que é levado em
consideração quando se pretende analisar a iconografia egípcia. Neste caso,
Wilkinson afirma que:
151
WILKINSON, Richard H.The Complete Gods and Godesses of Ancient Egypt. New York. Thames
and Hudson. 2003. p. 197;
152
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 75;
153
Idem, p. 75;
154
Idem. p. 75;
155
Idem, p. 76;
156
Idem, p. 213-215;
43
formas hieroglíficas na arte egípcia raras vezes se dá em completo
157
isolamento da palavra escrita .
Isso significa que se encontra com larga frequência essa interação entre
formas e texto. No entanto, Wilkinson não se refere somente ao escrito propriamente
dito. Uma imagem pode ser o texto, por assim dizer, e vice-versa. O melhor exemplo
que pode ser analisado, e trazido a este contexto, é a estátua onde Ramsés II se
representa como uma criança – dedo à boca, faixa lateral de cabelo – ou, segundo
Wilkinson, relacionando com a palavra ms, “menino”158, tendo um disco solar à altura
da cabeça, rA, e uma planta, que Wilkinson relaciona com a palavra sw formando o
nome do faraó, Ra-Mes-Su, ou Ramsés159, conforme Figura 4:
SANTOS, Moacir Elias. Hieróglifos: Entre o Simbólico e o Mágico. In. IX Jornada de História Antiga.,
2010, Rio de Janeiro. Anais do I Encontro Internacional e II Nacional de Estudos sobre o Mediterrâneo
Antigo. Núcleo de Estudos da Antiguidade da UERJ. 2010. P. 5;
157
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 169;
158
Idem, p. 168;
159
Idem, p. 168;
44
Wilkinson trabalha também com o conceito de Analogia Visual e da Metáfora
Visual, para explicar essa característica. O primeiro pode ser visto em casos onde os
hieróglifos podem ser vistos em formas cuja utilização é diferente do seu significado.
Como exemplo, Wilkinson aponta o espelho e vários outros objetos em forma do
hieróglifo para vida, anx. No segundo caso, usa-se um conceito maior e mais abstrato
para se referir a outro respectivo. Observa-se isso nas várias representações em
que um babuíno é representado, relacionando-se à Thoth, divindade da escrita e dos
escribas, que possuía o símio como sinônimo de sabedoria, conhecimento, juízo,
etc160.
No entanto, na obra Magya y Símbolo em el Arte Egípcio, Wilkinson aponta
algumas facetas de análise que serão importantes para o entendimento da relação
imagem-texto. Primeiramente, deve-se compreender como a escrita hieroglífica
funcionou. James P. Allen, na obra Middle Egyptian: An Introduction to the Language
and Cultures of Hieroglyphs, explica que os caracteres egípcios atuavam ou como
ideogramas – um símbolo, uma ideia – ou como fonema – um símbolo, um som,
quase como um alfabeto - , ou ainda como um determinativo – um ícone que
compõe o final da palavra e indica seu real sentido161. Nesse caso, Wilkinson
apresenta a mesma forma de análise textual e de interpretação da língua. Mas o
mesmo vai pouco mais além: utiliza-se do conceito de analogia visual, quando um
objeto, ou o que quer que seja, tem uma aparência relacionada a uma segunda
ideia, como o exemplo do espelho que, em seu formato, dialoga diretamente como o
162
símbolo para a palavra vida , anx .
A metáfora visual também é uma forma de se compreender a arte egípcia.
Nessa se utiliza um determinado ícone para representar uma ideia – pessoa,
conceito, divindade, etc – mais complexa por meio de seu simbolismo. O exemplo
citado por Wilkinson é o uso de um babuíno, em determinados locais, para
representar a Toth, haja vista que:
160
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p.174 - 175;
161
ALLEN, James P. Middle Egyptian: An Introduction to the Language and Culture of Hieroglyphs.
Cambridge. Cambridge University Press. 2010. p.3;
162
Op cit. 182;
45
O babuíno (Papio hamadryas) aparece, desde os tempos mais
antigos, em diversos contextos da arte egípcia. (…) Desde o Reino
Antigo este símbolo foi associado a Toth, o deus da escrita e
patrono dos escribas. Como animal sagrado desta atividade, o
babuíno aparece com frequência sentado sobre a cabeça ou ombros
163
de um escriba, como se o dirigisse .
163
WILKINSON, Richard H. Como Leer el Arte Egípcio: Guía de Jeroglíficos del Antiguo Egipto.
Barcelona. Crítica. 2004. p. 85;
164
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 188;
165
Idem. p. 188;
166
Idem. p. 190;
46
alegoria do estabelecimento da ordem cósmica167, sendo o segundo eixo elencado
por Wilkinson: A Manutenção da Ordem.
Resgatando uma das outras funções do próprio monarca, há a terceira e
última etapa que serve para entender e analisar as fontes: O Serviço aos Deuses. O
faraó atuava como um intermediário entre deuses e humanos, cuja satisfação das
divindades era o requisito essencial para que Maat fosse preservada168, e isso pode
ser representado de inúmeras formas possíveis.
167
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 196;
168
Idem, p. 192;
169
BAINES, John. MALÉK, Jaromír. A Civilização Egípcia. Barcelona. Folio. 2008. P. 84;
170
Idem, p 84;
47
Figura 5 – Eixo Ocidental de Tebas
WILKINSON, Richard H.The Complete Valley of the Kings – Tombs and Treasures of Egypt’s Greatest
Pharaohs New York. Thames and Hudson. 1996. p.16;
171
WILKINSON, Richard H.The Complete Valley of the Kings – Tombs and Treasures of Egypt’s
Greatest Pharaohs New York. Thames and Hudson. 1996. p.15;
172
Idem, p. 15;
173
Idem, p. 14;
48
É durante o Reino Novo que as tumbas do Vale dos Reis começaram a ser
construídas, a partir de Amenhotep I174, segundo faraó da XVIII Dinastia175. Na
Figura 6, um modelo de uma tumba desse período:
174
WILKINSON, Richard H.The Complete Valley of the Kings – Tombs and Treasures of Egypt’s
Greatest Pharaohs New York. Thames and Hudson. 1996. p. 15;
175
Idem, p. 88;
176
Idem, p. 95;
49
próprios)177, abriga o sarcófago e os recipientes canópicos178. Serve, portanto de
modelo – de certa forma – para os que vieram depois desse, embora maiores que o
mesmo; e, com o decorrer do tempo, estas estruturas se tornaram cada vez mais
complexas.
Em Tebas Ocidental é onde se localiza a força de trabalho, conforme
Wilkinson, do Vale dos Reis. Trata-se da vila de Deir el-Medina, a cidade dos
construtores de tumbas. Fundada na XVIII dinastia, a vila chegou a ter mais de 100
famílias identificadas pelos documentos da mesma em seu auge179. Seu layout
pode ser visualizado na Figura 7.
177
Extraído de: http://www.thebanmappingproject.com/atlas/index_kv.asp?tombID=undefined Acessado em
21/10/2015;
178
WILKINSON, Richard H.The Complete Valley of the Kings – Tombs and Treasures of Egypt’s
Greatest Pharaohs New York. Thames and Hudson. 1996. p.95;
179
UPHILL, Eric P. Egyptian Towns and Cities. Buckinghamshire. Shire Publications. 2001. p 23;
180
Idem, .p. 25;
50
delas, grande parte da burocracia faraônica relacionada à construção em Tebas ali
se encontrava.
Essa vila se relaciona com Medinet Habu, abordada logo à frente, por causa
dos ocorridos do ano 29 do reinado de Ramsés III, c. 1165 a.C., o levante dessas
pessoas contra a falta de fornecimento do alimento. Esses trabalhadores se
reportaram ao complexo administrativo que havia no templo vizinho, e não voltaram
a trabalhar – pelo menos os grupos que param dia a dia de executar as tarefas – até
receberam o pagamento em grãos181.
Pode-se, por fim, após esse panorama do que se encontra no Vale dos Reis,
entrar mais profundamente no complexo mortuário de Medinet Habu e explorar as
fontes iconográficas selecionadas. Recorrer-se-á a um dos trabalhos mais completos
sobre o mesmo que é a obra dirigida por Harold Hayden Nelson, Earlier Historical
Records of Medinet Habu, uma coleção de cópias, no formato desenhos de linha,
dos relevos encontrados nas paredes do templo, no caso dessas, da face norte.
Medinet Habu é um dos monumentos mais preservados de Tebas Ocidental.
É um complexo que começou a ser construído no Reino Novo e se prorrogou até o
Período Tardio, apresentando sua constituição total como é vista hoje. Seu nome
vem do árabe e significa “Cidade de Hapu”, por causa de um templo de Amenófis
filho de Hapu que existe a poucos metros deste; entretanto, na Antiguidade, era
chamado de Djamet, em língua copta182.
Sua construção vem de períodos pré- XVIII dinastia, mas não há informações
suficientes, segundo Harold H. Nelson, sobre as edificações anteriores183. A partir
dos reinados de Tothmés I, Hatshepsut e Tothmés III o templo começava a tomar a
forma que se conhece atualmente. Uma inscrição relevante da época diz o seguinte:
Ele fez [isso] como seu monumento para seu pai, Amon-Rá, rei dos
deuses, fazendo para si um grande templo sobre o [...] distrito que
Tothmés III [chamou]: “Esplêndido é o Trono de Amón”; de fino
arenito branco; ele deve-se, portanto, ser dado vida, para sempre. [...]
Ele fez [isso] como seu monumento para seu pai, Amon, Senhor de
Tebas, celebrante sobre o “Esplendor do Oriente”, erigindo para si
uma esplêndida entrada de fino arenito branco, [em] seu lugar de
costume de início. Minha Majestade estabeleceu isso mais uma vez,
ele deve-se, portanto, ser dotado de vida para sempre. [...] Vossa
181
WILKINSON, Richard H.The Complete Valley of the Kings – Tombs and Treasures of Egypt’s
Greatest Pharaohs New York. Thames and Hudson. 1996. p.23;
182
Idem p.193;
183
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses III.
Chicago. The Chicago University Press. 1930. p.1;
51
Majestade tem encontrado isso iniciando da queda à ruina; ele deve
ser dotado de vida como Rá, para sempre. [...] Fazendo para si
“Esplendor do Ocidente”, como abrigo de seu senhor e para os
senhores do distrito de Thamut [...]. Ele fez a “Câmara do Cemitério”
para seus pais, os senhores do reino esplêndido [...]. Ele fez o
“Possuidor da Eternidade” para seu pai Ptah-Tatenen do “Senhor da
184
Vida” [...]
Harold Nelson aponta que essa inscrição pertence à XX dinastia. Isso ele
declara pela menção que faz ao epíteto usado, Esplêndido é o Trono de Amon, que
não aparece na construção de Ramsés III, e por causa do aparecimento de Thamut,
um dos nomes da região185.
Analisando sua arquitetura pela obra de Uvo Hölscher, The Excavation of
Medinet Habu, Vol I – General Plans and Views, percebe-se que este templo
obedece aos “padrões” do molde do Reino Novo. Pode-se ver isto quando se
compara a Figura 8, abaixo, com o que foi trabalhado no Capítulo 2 desta
monografia, visto principalmente no corte lateral do templo, acima na imagem:
N HÖLSCHER, Uvo. The Excavation of Medinet Habu, Vol I. General Plans and Views.. Chicago. The
University of Chicago Oriental Institute Publications 1934. p.61;
184
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt – Vol II: The Eighteenth Dynasty. Chicago.
The University of Chicago Press. 1906. p. 257;
185
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses III.
Chicago. The Chicago University Press. 1930. p.2;
52
A estrutura segue um eixo que vai da entrada ao santuário, a parte mais
reclusa do templo. São dois pilonos de entrada, um que dá para a primeira corte –
com representações da clássica cena de execução - e outro que dá para a segunda.
A primeira corte é preenchida aos lados por colunas em estilo papiriforme, no lado
do palácio, e por estátuas do faraó ao lado norte. A segunda corte é um tanto menor
e também ladeada por colunas e estátuas, da mesma forma que na primeira. São
duas salas hipóstilas que seguem estes dois perímetros e contem dois pequenos
santuários em salas menores ao seu lado: o santuário de Osíris e o de Rá. Por fim,
chega-se ao Santuário de Amon.
David O‟ Connor relaciona a construção com os demais templos do eixo
ocidental de Tebas, principalmente o templo de Hatshepsut em Deir el Bahari, e
sobretudo à execução de festivais anuais envolvendo as duas margens do Nilo 186.
Um desses é o Belo Festival do Vale, que acontecia uma vez por ano desde o Reino
Médio. Consistia na travessia com as barcas dos deuses da tríade tebana a Margem
Ocidental de Tebas, numa procissão em visita dessas aos templos funerários dos
faraós deificados e às outras divindades, assemelhando-se ao ritual mortuário onde
os parentes de determinada pessoa já falecida visitam o morto, levando oferendas e
etc187.
As relações de Medinet Habu com Deir el Bahari se dão, segundo O‟Connor
em seu próprio formato e estrutura interna. O mesmo afirma que:
186
O‟CONNOR, David. The Mortuary Temple of Ramesses III at Medinet Habu. In O‟CONNOR, David.
CLINE, Eric (Orgs). Ramesses III: The Life and Times of Egypt’s Last Hero. Michigan. The University
of Michigan Press. 2012. p. 214;
187
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p, 193;
53
barcas dos reis retornavam a seus respectivos templos no Banco
188
Oeste .
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and
Hudson. 2000. p, 193;
192
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p, 198;
55
No quadro da Figura 10 encontram-se assentamentos que vão da XX
dinastia, a época de Ramsés III – até o século IX da nossa era, cujas habitações
estão próximas a uma igreja copta desta época, ao sul da planta.
HÖLSCHER, Uvo. The Excavation of Medinet Habu, Vol I. General Plans and Views.. Chicago. The University
of Chicago Oriental Institute Publications 1934. p.39;
56
Logo à frente foi construído um pequeno templo nos reinados de Hatshepsut
e Thotmés III, que foi incorporado ao complexo posteriormente. O templo central,
chamado de “O Templo de User-Maat-Rá-Meriamom Unido com a Eternidade na
Possesão de Amon em Tebas Ocidental”194, é a maior estrutura do perímetro. Outra
denominação encontrada para esse local é a de “Casa de Milhões de Anos do Rei
do Alto e Baixo Egito, Usermare Meriamon, Durável pela Eternidade na Propriedade
de Amon ao Oeste de Tebas”195
O templo é planejadamente decorado com material de fundamental
importância para essa monografia. O‟Connor em sua obra tem uma imagem que
detalha muito bem essas representações e suas localidades. Nas paredes externas,
no geral, encontram-se as narrações das vitórias obtidas contra os Povos do Mar,
contra os líbios, núbios, bem como o aparecimento do faraó em festivais, conforme
se observa na Figura 11:
O’CONNOR, David. The Mortuary Temple of Ramesses III at Medinet Habu. In O’CONNOR, David. CLINE, Eric (Orgs).
Ramesses III: The Life and Times of Egypt’s Last Hero. Michigan. The University of Michigan Press. 2012. p. 258;
194
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p. 196;
195
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses III.
Chicago. The Chicago University Press. 1930. p.2;
57
Nas próximas páginas, serão exibidas algumas imagens, extraídas do
primeiro volume da coleção Epigraphic Survey, que serão utilizadas como fonte para
esse trabalho em suas respectivas fichas de análise e, posteriormente no capítulo III,
falar-se-á sobre a natureza dos relevos como um todo, bem como uma análise sobre
seu conteúdo.
58
Figura 12 – Desenho da Epigraphic Survey mostrando a localização das imagens dos Povos
do Mar, grupo 29 – 43;
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of
Ramesses III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p.30;
59
3.3.1. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 29
60
Descrição Geral da Imagem:
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 86;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 41-42;
61
3.3.2. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 31
62
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 92;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 42-43;
63
3.3.3. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 32
Acima da Batalha:
“[...] [em] ao vê-lo, quando Seth está furioso, derrubando o inimigo diante da barca celestial,
atropelando as terras e países prostrados, esmagados [...] diante de seus cavalos. Seu calor
consome [os] como fogo, desolando seus campos”.
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 93;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 43-45;
64
3.3.4. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 35
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 99;
65
3.3.5. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 37
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 103;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 45-46;
66
3.3.6. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 42
67
Sobre os Escudeiros
“Vida ao bom deus, alcançando com os braços, tornando cada pais em algo que não existe, fortemente
armado, poderoso, hábil de mão, Rei Ramsés III”.
Sobre os Prisioneiros
“Disse os chefes, derrotados de Thekel: [...] como Baal [...] dar a nós [a respiração que tu dás]”.
Referências:
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 114;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 46-47;
68
3.3.7. Ficha de Análise Integrada.
Imagem 43
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 115;
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago.
The Chicago University Press. 1906. p. 47-49;
70
4. A Análise Iconográfica e Textual dos Relevos;
Se pode, após isso, seguir às notas finais e conclusões, buscando entender a
função desses relevos como propaganda, ou não. Primeiramente, deve-se
compreender o quê está aparecendo nas fontes e qual o seu simbolismo.
Observando-as de forma inicial, percebe-se que a iconografia apresenta não só uma
espécie de relato da guerra; existem junto às cenas inúmeros itens simbólicos que
devem ser analisados e que podem definir as imagens como propaganda ou não.
Definindo propaganda como “disseminação de ideias, informações ou
rumores com o fim de auxiliar ou prejudicar uma instituição, causa ou pessoa 196”, ou
ainda “doutrinas, ideias, argumentos, fatos ou alegações divulgadas por qualquer
meio de comunicação a fim de favorecer a causa própria ou prejudicar a causa
oposta197”, pode-se iniciar a discussão sobre suas propriedades, mesmo que esta
seja uma definição não tão abrangente.
No entanto, antes de se penetrar nos debates sobre seu uso, deve-se fazer
um levantamento detalhado do que se vê – ou se lê – nas imagens propostas. Vale
ressaltar: a escolha foi feita pelos relevos da parede externa da face norte; nas
outras localidades do mesmo complexo existem muitas outras imagens
semelhantes, mas são as do conflito no ano 8 que interessam neste momento.
Um dado importante é a metodologia que será utilizada para compreender o
significado dos relevos. Será composta pelas Fichas de Análise Integradas, que já
se encontram presentes no texto. Isto será sucedido por uma análise textual, das
narrativas que os escritos trazem, apontando os meandros da campanha. A análise
iconográfica será dividida em duas etapas: a primeira será composta de extrações
das imagens, que podem tornar eficaz a solução da problemática proposta,
enquanto a segunda será feita por meio da leitura das imagens de acordo com o
que Wilkinson propõem na obra Como Leer el Arte Egipcio.
Deve-se, primeiramente, estabelecer uma descrição do que se observa nas
imagens, começando pela Imagem 29. Trata-se da preparação para a saída para a
batalha; a distribuição das armas. O faraó se encontra em uma bancada
conclamando o exército e atrás dele existem dois soldados segurando abanadores.
Ali se encontram várias hierarquias militares, alguns ajoelhados e outros em pé
196
Extraído de: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=propaganda Acessado em 10/11/2015;
197
Idem. Acessado em 10/11/2015;
71
rendendo honras ao rei enquanto alguns oficiais entregam o armamento e
equipamento à tropa. Percebe-se a diferença entre as classes militares pelo cabelo
que este usa e pelo seu tamanho em relação aos demais, no alto da imagem, alguns
deles carregam uma espécie de estandarte, contendo uma pluma em cima.
A Imagem 31 é a marcha para a guerra. O faraó se encontra em seu carro
empunhando seu arco. A tropa marcha enfileirada, organizada. Do grupo principal
de soldados, destacam-se alguns outros diferentes. Aparentemente, trata-se de
oficiais e, quanto mais próximo do faraó, maior é o indivíduo; à frente do rei, existem
dois príncipes, identificados com a faixa lateral de cabelo. Abaixo desses se
encontram os vários tipos de “mercenários”, grosso modo, incluindo os Povos do
Mar além do grupo dos carros. Um detalhe interessante: entre as rodas do carro do
faraó existe um leão, correndo junto com este.
A batalha terrestre contra os invasores ocorre na Imagem 32. Como a maioria
das cenas de confronto do Reino Novo a batalha é o caos e a desordem
personificada. Soldados egípcios e inimigos se encontram juntos num mesmo canto
da cena, enquanto o faraó os ataca com arco e suas flechas. Os oponentes
raramente resistem ou combatem o exército numa cena semelhante a essa, são
sempre vítimas do rei. Nessa imagem em questão observam-se mulheres e crianças
fugindo em carros de boi enquanto os homens morrem ou fogem.
A Imagem 35 é a cena da caçada real. Ramsés III se encontra atacando a
três feras, seguidos na linha debaixo pelas suas tropas. Os leões não oferecem
resistência; são caçados de forma deliberada. Uma grande falha existente na figura
e acaba ocultando o terceiro felino.
A batalha naval é tratada na Imagem 37: o rei está em pé – em cima de
alguns inimigos, enquanto dispara com seu arco nos navios inimigos. É
acompanhado por alguns oficiais, que carregam novamente os abanadores. Na
parte inferior da cena a tropa egípcia captura os oponentes e os executa. Um
detalhe também pode ser analisado: quando soldados aparecem matando aos
inimigos, são representados de forma semelhante à Paleta de Narmer. As
características das embarcações de ambos os lados são explicitamente abordadas
pelo relevo; sobretudo, as que pertencem ao inimigo estão na grande maioria das
vezes de cabeça para baixo enquanto a esquadra egípcia os ataca. No mar a
batalha também é o caos, de uma forma muito semelhante que nos combates de
72
infantaria; verifica-se uma reminiscência do período Pré-Dinástico neste caso. Trata-
se do relevo existente na Adaga de Gebel el Arak, encontrada ao sul de Abydos e
preservada hoje no Museu do Louvre, Paris; possui 25 centímetros de comprimento
e é feita de um canino de hipopótamo198; com ambos os lados desenhados, possui
representações de animais, pessoas e batalhas incluindo no rio; porém, no caso da
adaga, os navios do inimigo permanecem flutuando normalmente, enquanto seus
soldados estão na água, não apresentando o mesmo grau de destruição que
Medinet Habu mostra, conforme Figura 13:
198
Conforme: http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/dagger-gebel-el-arak Acessado em 13/11/2015;
73
quantidades de mortos em batalha, retirando e empilhando as mãos dos mortos em
combate, próximos a uma fortaleza egípcia. Em três registros de imagem, vê-se na
primeira o faraó em uma bancada – semelhante à primeira – em diálogo algumas
lideranças do exército; logo abaixo, na segunda camada, estão os responsáveis pela
contagem de mortos, tal qual a célebre imagem existente no caso da guerra contra
os líbios, enquanto na terceira e última observa-se uma espécie de marcação dos
prisioneiros, bem como sua separação. Na parte esquerda da cena esses cativos
estão sendo marcados e listados, enquanto no final desta, os outros esperam
sentados seus destinos. O conjunto desta última linha mostra algo muito parecido
com uma inspeção ou uma seleção; nas imagens anteriores verifica-se o uso de
mercenários, um conceito meio equivocado em se tratando de um serviço
compulsório: o inimigo combatendo o próprio inimigo.
Por fim, a Imagem 43 retrata a apresentação dos cativos à tríade tebana.
Esta se apresenta à esquerda da cena; Amon está sentado num trono enquanto as
demais divindades se encontram atrás dele. Curiosamente metade dos aprisionados
não é da etnia que Ramsés III combatera neste episódio, muito menos os que se
encontram sobre os cartuchos199; parecem-se muito mais com os líbios que com os
invasores em questão.
199
Esse nome vem de cartuche; é a definição criada pelos expedicionários franceses, durante as
campanhas napoleônicas no Egito, uma vez que se parece com uma munição de fuzil utilizados pelos
soldados; conforme: WILKINSON, Richard. Como Leer el Arte Egipcio: Guía de Jeroglíficos del
Antiguo Egipto. Barcelona. Crítica. 1995. p. 207;
74
Egito200”, na Imagem 29; “O Rei, rico em poder, em sua saída ao norte, grande em
temor, pavor dos Asiáticos, único Senhor, hábil em mãos, (...) como Baal, valente em
força (...) 201”, na Imagem 31; e entre outros.
A depreciação dos inimigos é uma constante nas narrativas expostas: “os
inimigos que não conhecem o Egito202”, “os países rebeldes203” e, sobretudo,
aparentam estar sempre tomados pelo medo e pavor ao ver o rei em marcha. São
denominados pelo texto pelo título de Nove Arcos ou PsDt., ou ainda Asiáticos. A
primeira definição significa, segundo o Concise Dictionary of Middle Egypt, Países
do Mundo204. Ambos fazem menção aos vizinhos e, sobretudo, aos inimigos do
Egito.
O aparecimento de divindades no texto é algo comum. São responsáveis pela
proteção do monarca, pela vitória nas batalhas, etc. Nos textos são lidos os nomes
de Amon, divindade tebana – tratado como pai do faraó. O nome de Seth é lido na
cena que representa a batalha campal. O texto afirma que o rei ataca como “quando
Seth está enfurecido205”. No confronto naval, o faraó associa-se ao deus Baal; trata-
se do deus canaanita das tempestades e ligado à guerra e à fertilidade, cujo animal
de culto era o touro – uma das nomenclaturas dadas ao rei egípcio206.
200
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago. The
Chicago University Press. 1906. p. 41;
201
Idem. p. 43;
202
Idem. p. 41;
203
Idem, p. 43;
204
FAULKNER, Raymond. A Concise Dictionary of Middle Egypt. Oxford. Griffith Institute. 1991. p. 95;
205
BREASTED, James Henry. Ancient Records of Egypt, Vol VI – The Twenty Dynasty. Chicago. The
Chicago University Press. 1906. p. 43;;
206
WILKINSON, Richard. The Complete Gods and Godesses of Ancient Egypt. Londres. Thames and
Hudson. 2003. p. 102-103;
75
oponentes que o faraó, quando representado nos pilonos dos templos. Como de
praxe, nas cenas de conflito não existem soldados egípcios caídos, apenas
invasores, o que pode ser um ponto a considerar sobre a problemática deste
trabalho.
Imagem 29;
Extração 2: Príncipe;
observar trança de cabelo
lateral e posição das mãos –
idêntica a que o faraó mostra;
Imagem 29;
76
Extração 3: Prisioneiro na
bancada onde o faraó está;
Imagem 29;
Imagem 29;
Extração 5: Líderes do
exército e estandartes
terminados em pluma,
representando a ordem;
Imagem 29;
Extração 6: Tropa em
marcha para Zahi; observar a
diferença de tamanho entre
os que estão abaixo (mais
próximos ao faraó) e os que
estão acima;
Imagem 31;
77
Extração 7: Disco Solar
contendo duas serpentes que
vestem as coroas do Alto e
Baixo Egito;
Imagem 31;
Imagem 32;
Imagem 32;
Imagem 32;
78
Extração 11: Soldados
invasores em fuga; observar
o equipamento e armamento
que carregam consigo;
Imagem 32;
Imagem 32;
Imagem 32;
Imagem 35;
79
Extração 14: Ramsés III na
batalha naval contra os
Povos do Mar, disparando
flechas nas embarcações;
observar que o rei pisa em
inimigos;
Imagem 37;
Imagem 37;
Imagem 37;
80
Extração 17: Execução de
cativo;
Imagem 37;
Imagem 42;
Imagem 42;
Imagem 42;
81
Extração 21: Líbios
aprisionados quando o faraó
está diante da tríade tebana
(líbios não aparecem
combatendo neste episódio);
Imagem 43;
Imagem 43;
Imagem 43;
82
4.2. Análise Iconográfica, Segunda Etapa: Elementos Simbólicos;
Feito isso, pode-se tecer uma análise mais profunda sobre as imagens
selecionadas. A divisão desta etapa se dará da seguinte forma: primeiramente será
confeccionada uma tabela contendo uma descrição de acordo com a lista de
hieróglifos criada por Gardiner. O que será feito é uma leitura das imagens como um
texto, uma narrativa, por meio dos caracteres que aparecem na Tabela 2:
Tabela 2
Análise
Textual/Iconográfica
Símbolo207 Classificação Significado
Adoração; Respeito;
A30 Louvor;
Adoração; Respeito;
A4 Louvor;
Abanador; Sombra;
S35
Respiração; Vida209;
Pluma de Avestruz;
Associado à Maat,
H6
deusa da justiça, ordem
cósmica, verdade211;
207
Símbolos retirados com auxílio do software JSesh;
208208
WILKINSON, Richard. Como Leer el Arte Egipcio: Guía de Jeroglíficos del Antiguo Egipto.
Barcelona. Crítica. 1995. p. 37;
209
Idem, p. 191;
210
Idem, p. 191;
211
Idem, p. 115;
83
Prisioneiro212;
A13
Força Militar;
T10
Dominação;
Proteção; Defesa
E22 Representação
Heráldica213;
S7 Coroa Azul;
V9 Sn eternidade214;
212
WILKINSON, Richard. Como Leer el Arte Egipcio: Guía de Jeroglíficos del Antiguo Egipto.
Barcelona. Crítica. 1995. p. 31;
213
Idem, p. 81;
214
Idem. p. 193;
84
wAs cetro; domínio;
S40
poder;
C12 Amon;
Alguns itens desta tabela serão repetidos na sequência de imagens e tem sua
devida importância; os gestos, os objetos que os indivíduos carregam, algumas
divindades e símbolos relacionados à própria natureza foram localizados e
selecionados para esta tabela. Os gestos mais comuns são os que são
representados pelos itens A4, A26 e A30; no caso do primeiro e do último é possível
se observar os invasores na mesma posição inúmeras vezes, principalmente quando
enfrentando ao faraó. No caso do A26, vê-se apenas o rei e alguns líderes nesta
posição, relacionada ao ato de chamar ou discursar, principalmente na primeira
Imagem.
Na lista existem alguns itens simbólicos que merecem destaque como as três
coroas, duas que o rei não utiliza – a branca e a vermelha – mas que são
encontradas no disco solar, ou melhor, nas serpentes que saem deste simbolizando
o Alto e Baixo Egito. A coroa azul é usada quando o faraó esta combatendo ou
diante das divindades na última imagem. O disco solar, nas duas vezes que
aparece, contém os símbolos da vida anx. Nas imagens das batalhas, o disco é
substituído pelo abutre, que segura em suas mãos o anel Sn e ou o estandarte em
pluma.
215
NELSON, Harold Hayden (Diretor). Medinet Habu, Vol I: Earlier Historical Records of Ramesses
III. Chicago. The Chicago University Press. 1930. p. 85;
85
Destaca-se o elemento A13 porque este aparece, na maior parte das vezes
de forma direta nos relevos. No entanto, algumas vezes este item aparece em
lugares inusitados, como na bancada da Imagem 29 e na roda do carro de guerra na
Imagem 31, conforme Figura 14:
Por fim, pode-se trabalhar com mais alguns símbolos que foram encontrados
e podem ser relevantes. O primeiro deles é o leão, também da Imagem 31.
Wilkinson aponta que o leão, ou deitado ou em pé, pode representar uma espécie de
proteção do faraó, por isso a esfinge, geralmente, se relaciona com o corpo deste
animal. No entanto, o que aparece nesta imagem está correndo embaixo do carro e,
na seguinte, o faraó caça a três animais que fogem desesperadamente. Vale
ressaltar que esta cena se encontra no meio de uma entrada lateral do templo.
O outro elemento é o arco. Esta arma simbolizava a dominação do oponente,
haja vista que é retratada em alguns relevos similares estrangulando aos inimigos do
rei. Na Imagem 31 é segurado pelo faraó de forma simbólica, talvez possa ser
associada a essa mesma característica.
86
Por fim, os últimos – mas não menos importantes – são os estandartes e a
pluma. Os dois estandartes aparecem várias vezes, sobretudo o abanador S35 –
muito comum na arte egípcia desde os primórdios da história egípcia. É carregado
por atendentes do rei, seguindo-o onde quer que este vá, simbolizando o ar, a
sombra e a respiração e, indiretamente, relacionado à vida. Contudo, o S37 – que
nada mais é do que um pequeno estandarte com uma pluma de avestruz, H6 – tem
os mesmos significados, porém aparecem nas mãos dos líderes do exército e
carros. A pluma H6 tem um significado mais conciso: representa Maat, a divindade
da justiça, ordem cósmica e verdade – mencionada nos capítulos anteriores.
Aparecem nos estandartes da Imagem 29, também nas mãos dos líderes que
exaltam ao rei. Ainda cabe mencionar o cetro wAs que simboliza o poder e a
dominação, neste caso, nas mãos do deus Amon, na Imagem 43.
216
ERBOLATO, Mario. Dicionário de Propaganda e Jornalismo. Campinas. Papirus. 1985. p. 281;
87
Desta forma, pode-se lançar a primeira hipótese. O relevo de guerra pode ter
dupla função simultaneamente: como propaganda político-militar e como narrativa
simbólico-religiosa, cuja função era a manutenção da ordem cósmica.
Com relação ao mencionado acima, Peter Burke tem outra visão sobre o
assunto, principalmente em se tratando de iconografia que retrata o líder como
representante de uma forma idealizada:
217
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: História e Imagem. Bauru. EDUSC. 2004. p.81;
218
Idem. p. 183-184;
88
Ibada Al Nubi tem uma visão parecida com isso, ao trabalhar com o soldado
egípcio:
De facto, nesta época, a par desta repetição de avisos aos jovens
para que não se deixem transviar pelo fascínio dos cavalos e das
armas, há uma propaganda particularmente eficaz que, das paredes
exteriores dos templos e dos seus pátios se estende a todo o país,
narrando em complexas figurações os vários momentos dos feitos
militares do soberano, representado como comandante das suas
tropas e não como solitário massacrador ritual de prisioneiros perante
o deus titular, representações essas que se repetem em diferentes
períodos e em localidades diferentes: a batalha de Qadesh, de
Ramsés II, tem uma série de réplicas que derivam todos dos mesmos
cartões (iguais e, por isto mesmo, oficiais) e que, por todo o lado,
colocam sob olhares de toda a gente os dramáticos momentos da
batalha, as fileiras de soldados, os mortos, os locais onde tudo
ocorreu. Assim são celebrados, nos relevos de Karnak, os feitos de
Seth I na Síria, ou os de Ramsés III contra os Povos do Mar, no seu
219
templo funerário de Medinet Habu .
Com este trecho, Al Nubi relaciona os relevos com certo fascínio que a
atividade militar poderia causar na juventude egípcia, sobretudo masculina. E isso
seria possível em função dos relevos funcionarem como uma verdadeira
propaganda de guerra, com o poder de gerar comoção e desejo de participação nas
campanhas militares, haja vista que seus receptores veem o faraó vencendo
sempre no front de batalha.
Com relação à vitória invariável como tema dos relevos, Al Nubi tem uma
explicação:
A vitória, ou aquilo que se considera como tal, não é apenas um dado
de facto óbvio; mostra-se também o modo como se obteve essa
vitória, especificando até os pormenores não essenciais mas
característicos, como os pastores dos países inimigos impelindo com
fúria o seu gado para longe do campo de batalha. É certo que, mais
do que uma dimensão histórica, essas reproduções conferem aos
factos de guerra a dimensão de uma narrativa que excita a
220
fantasia .
219
AL-NUBI, Sheikh „Ibada. O Soldado. In DONADONI, Sérgio (org). O Homem Egípcio. Lisboa.
Editorial Presença. 1994. p 155;
220
Idem. p 155-156;
89
Simbel com os grandes colossos de Ramsés II como uma forma de propaganda, por
causa do gigantismo destas estátuas221. Abu Simbel também se localiza
praticamente na fronteira sul do território, portanto a relação do tamanho com a
localização pode ser algo a se levar em consideração. Esta relação pode ser
visualizada em duas dimensões: o macro, ou seja, onde no terreno o templo está
assentado e sua relação com o contexto externo – cidades, vilarejos, outros templos,
etc.; e no micro, a organização e disposição da iconografia no próprio templo.
Como já foi mencionado, o templo de Medinet Habu é cercado por outras
construções administrativas como depósitos, casas dos trabalhadores do complexo,
palácios e etc. A parede norte está voltada para a região onde se localizavam os
depósitos222, estruturas longas para armazenar como se pode observar na Figura
15.
HÖLSCHER, Uvo. The Excavation of Medinet Habu, Vol III. The Mortuary
Temple of Ramses III, part I. Chicago. The University of Chicago Oriental
Institute Publications 1941. p. 127;
221
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 46 – 47;
222
HÖLSCHER, Uvo. The Excavation of Medinet Habu, Vol III. The Mortuary Temple of Ramses III,
part I. Chicago. The University of Chicago Oriental Institute Publications 1941. p. 65;
90
Chama a atenção para esta característica justamente o fato do aparecimento
da cena de caçada aos leões, Imagem 35, na frente dos armazéns, próximo à
entrada lateral do templo conforme Figura 16. Quem entra por essa porta precisa,
necessariamente, olhar para a imagem gigantesca do faraó em perseguição aos
animais ferozes que, nesta situação, estão em fuga – desesperados de medo,
conforme Extração 13.
Além disto, o confronto com animais selvagens, hostis, é para o egípcio, mais
uma forma de se conter o caos e manter a ordem cósmica. Mas esta atitude vai de
encontro com a destruição de inimigos, como já o foi mencionado anteriormente.
Nas construções religiosas, isto se mostra claramente nas clássicas cenas que são
mostradas nos pilonos, aquela onde ele executa os inimigos – todos de uma vez.
Wilkinson aponta que no Reino Novo, esta cena foi, em certo modo, substituída 223
223
WILKINSON, Richard H. Magia y Símbolo em el Arte Egípcio. Madrid. Alianza Editorial S.A. 2003.
p. 196;
91
pela que mostra o faraó disparando contra seus inimigos em batalha, algo que se
repete nesta sequência pelo menos duas vezes, nas Imagens 32 e 37.
Em algumas imagens, como se pode observar nos fragmentos retirados na
segunda etapa da análise iconográfica, principalmente nas extrações 10, 12 e 17,
soldados egípcios ou ainda mercenários repetem a mesma posição de ataque que o
rei faz quando executa os oponentes, embora em tamanho reduzido. Desta forma, o
faraó pode indicar a superioridade do seu exército. Em suma: estes fragmentos
repetem o desenho da Paleta de Narmer.
O prisioneiro também é uma forma de se mostrar estas duas dimensões da
arte egípcia – a propagandística e a apotropaica. Este surge em vários casos nas
imagens escolhidas, inclusive em lugares de difícil acesso aos olhos, como o já
citado exemplo da Extração 3 e da Figura 15. Na Imagem 37 – Extração 14 –
Ramsés III pisa em inimigos enquanto dispara com o arco nos navios invasores. Na
Imagem 43 – Extração 21 – aparecem soldados líbios acorrentados abaixo dos
invasores. Isto pode significar que o desenho reafirme a supremacia do faraó sobre
um inimigo já vencido, como os líbios.
Outro dado interessante que pode mostrar o funcionamento desta dimensão
político-simbólica é o uso do Disco Solar com duas serpentes, que vestem as coroas
branca (S1), do Alto Egito, e vermelha (S3), do Baixo Egito, simbolizando o domínio
e o governo sobre as Duas Terras, ou seja, manifestando o caráter unificador do
faraó.
Concluindo, por fim, a discussão, percebe-se que sim os relevos seriam
utilizados como uma forma de propaganda político-militar, haja vista os elementos
que nela existem que se referem à dominação dos oponentes, mostrando o poder do
faraó sobre a terra, etc. No entanto, deve-se concordar com Barry J. Kemp quando
este afirma que:
É um erro, também, explicar a repetição da vitória [em batalha]
apenas como uma propaganda. Pouco disto estivera visível ao povo
como um todo, estando muitas vezes no interior do templo, ou ao
menos encoberto pelas grandes muralhas externas. Isto representa
uma constante atualização de fórmulas teológicas, particularizadas
por cada rei. Isto é também como aquela grande cena de vitória e
a listagem de lugares conquistados frequentemente ocorrem nas
paredes dos templos, particularmente nas torres dos pilonos na
92
entrada, onde era considerado como uma proteção mágica eficaz em
224
salvaguardar o Egito da hostilidade estrangeira .
224
KEMP, B. J. Imperialism and Empire in the New Kingdom Egypt. In. GARNSEY, P.D.A;
WHITTAKER, C.R. (Orgs). Imperialism in the Ancient World. Cambridge. Cambridge University Press.
1978. p. 8;
93
Como foi visto, percebe-se uma busca imensa por parte do faraó em se
mostrar como cumpridor de suas tarefas básicas – mantenedor da ordem,
representante dos deuses no Egito, etc, e Ramsés III parece ter cumprido estes
objetivos; por causa disto, deve-se a este rei a expansão do templo de Medinet
Habu e a confecção e destas imagens, utilizadas como seu relato deste fato
histórico, mesmo existindo poucas fontes para se contrapor a estes dados. Deve-se,
portanto, confiar no que seus artistas representaram, para poder interpretar estes
fragmentos do conflito contra os Povos do Mar.
No entanto, algumas ressalvas podem ser feitas quanto à diferença discurso e
realidade. Ramsés II, seu antecessor, replicou diversas vezes, como uma
propaganda, a sua vitória sobre os hititas, mesmo que a famigerada Batalha de
Qadesh tenha terminado com um acordo entre as partes do conflito. E algo
semelhante pode ser visto no reinado de Ramsés III: o estudo das intempéries do
reinado e dos desafios que este líder precisou enfrentar, enquanto faraó, pode servir
como uma mostra da realidade na qual o Egito passou nesta época, onde a
desordem efetivamente atuava – a vida real, cotidiana.
94
5. Conclusão;
Por fim, podem-se tecer as considerações finais e estabelecer uma síntese do
que fora discutido nestas páginas. Com relação à resposta à problemática proposta,
sim, o relevo tem essa dupla função, simultânea, de propaganda e de proteção
simbólica contra o caos e seus agentes – como os invasores externos.
Propaganda pela forma com que o faraó é representado e lida com a campanha
militar: este é glorificado de inúmeras formas, ou pelo menos ordena que o façam
nas paredes dos templos. Qual a atmosfera de respeito que se pode ter ao se entrar
num templo egípcio e ver os enormes pilonos mostrando o faraó em proporções
gigantescas, executando aos cativos com as bênçãos dos deuses do Egito, como a
Figura 18 representa abaixo:
N HÖLSCHER, Uvo. The Excavation of Medinet Habu, Vol I. General Plans and Views..
Chicago. The University of Chicago Oriental Institute Publications 1934. p.69;
95
A análise sobre o militarismo egípcio acabou funcionando quase que como
um anexo neste trabalho, haja vista a quantidade de material sobre a construção do
templo e da arte egípcia. Procurou-se trabalhar com a Nova História Militar, onde a
guerra não é entendida como uma definição homogênea para todas as sociedades
no tempo, sobretudo com o trabalho de John Keegan, mesmo que com falhas em
alguns dados sobre o Egito Antigo – como quando este apontou uma quantidade
irreal de divindades egípcias. Fugiu-se, portanto, da clássica definição de guerra
como um dos meios para atingir objetivos políticos, que nasce com Clausewitz e
perdura até os dias atuais em alguns lugares; apropriou-se da noção de que o
conflito armado para o egípcio representa este confronto com o caos – pelo menos
em seu discurso – o que é visto nas cenas militares, fontes deste trabalho.
No entanto, confiar demais nas fontes tem seus dilemas: ignorar que as
guerras do Reino Novo tem sua natureza política é, no mínimo, ingenuidade.
Quando Ramsés II entrou em guerra contra os hititas em Qadesh, fechou um acordo
com o rei deste povo e mandou construir inúmeros relevos narrando sua vitória
sobre eles, o elemento político está mais do que presente, aliado ao próprio
elemento religioso. E o mesmo se repete com os demais faraós em várias épocas
distintas, e mais ainda na Baixa Época, quando reis estrangeiros, gregos e romanos,
se representam como faraós para se legitimar como governante das Duas Terras.
Exemplo clássico: os reis da Dinastia Ptolomaica, entre os anos c. 300 e 30 a.C.
Encontram-se algumas estátuas de César Augusto, imperador romano,
representado como faraó225.
Portanto, esta é uma discussão que se faz pertinente. Medinet Habu pode ser
entendido como um dos vários laboratórios existentes no Egito para se compreender
a arte egípcia e suas peculiaridades. Resta a nós, do século XXI, estudar e
preservar estes sítios arqueológicos para que o conhecimento sobre esta sociedade
– e muitas outras – possa multiplicar e se fazer comum entre os historiadores. E isto
se torna um desafio cada vez mais difícil de alcançar, haja vista a destruição
sistemática de inúmeros locais em função do terrorismo, principalmente no
225
WILKINSON, Richard. The Complete Temples of Ancient Egypt. New York. Thames and Hudson.
2000. p. 27;
96
Crescente Fértil - Síria, Líbano, Palestina, Iraque, Israel, Egito, etc. Cabe lembrar a
recente implosão do templo existente em Palmira226.
Com todas as dificuldades para a realização da pesquisa, esta se deu de
forma satisfatória e respondeu à problemática. Pôde-se entender um pouco mais
sobre esta sociedade que foi quase infinita em possibilidades de pesquisa e
produções de fontes. Cada pequeno hieróglifo tem seu determinado lugar nos
imensos relevos e textos analisados; cada imagem tem sua função e padronização
nos vários milênios de história que o Egito ainda nos tem a revelar.
226
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150823_ei_palmira_templo_rm Acessado em
26/11/2015;
97
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