Você está na página 1de 132

í', /t.

; i
7 :- m
’ . , 1 ' í í í í :í :

• _^ '.- ', . .*1- '» •?•■ í;^' ^ '•>


^ -I ^
>'■ . Y ■*. , . ^.T W . T Í '* , : ,V ‘ <^:

'V ^ ^ '-S'"‘ •• y ..: < ■‘- 4 ’ <- í^ í..-


V. ■■'• -Ò
.A ^yk
'•V /1 '/' ->
Do mesmo autor

Ligeiras notas sobre redacçSo official (1914).


Um ensaio de phonetica differencial luso-castelhana — Dos
elementos gregos qne se encontram em espanhol (these de
concurso)(1919).
Método prático de análise lógica — lle d . 1920, 2“ ed. 1921.
Grammatica da lingua espanhola (1920).
Como evitar as syllabadas em latim (1920).
Método prático de análise gramatical (1921).
4

que no D iõ lec fo C a ip ir õ m ostrou


a verdadeira directriz dos estudos
dialectológicos no B rasil.

A. N .
Bibliografia

Amaral (Â.v.Aüru) — O dialecto caipira.


B arbosa (K l y ) — Replica.
B ritto {P aulino de) — Brasileirismos de collo-
cação de pronomes.
G omes íAlfrêdo ) — Oraigmatica poríugueza, pgs.
472-Q2.
L amejka de Andrade — üramtnaíica da Hngua
ponugueza (em colaboração c o m
Paclieco Junior), pgs. 44 e 65.
L eite (S olidonio) — A lingua portuguesa no
Brasil.
L eite de Vasconcelos (José) — Esquisse d’une
dialecíologie portugaise.
L emos (V irgílio de ) — A lingua portugueza no
Brasil, memória apresentada ao 5®
Congresso Brasileiro de Oeographia.
Maciel (Maximlnü) Grammatica descriptiva,
pgs. 302, 300-401.
Mauro (Antonio) — Estudos de português.
Nogueira (J úlio) - O exame de portuguez, pgs.
Õ4-5, 223-47.
P aranhos da S ilva (J osé J orge ) — O Idioma do
Hodierno Portugal comparado com o
do Brasil.
P aciilc.o J unior Grammatica da língua por-
V íLigueza (V. Lameira de Andrade).
O dialecto brasileiro (Revista Brasileira
turno V, pgs 487-Q'^).
~ 6 —

P ereira (^Eduardo C aflos) --Grammatica des-


críptiva (curso superior) passirn.
Orammatica Histórica, pgs 185-Qü.
Ribeiro (João) — Diccionario Qramniatical.
Romero (S ylvio) — Â poesia popular no Brasil -
Capitulo VIll — Transformações da
lingua poríugueza na America.
S ousa da S ilveira (A’lvai>o F erdinando) —
Trechos Selecíos, pgs. 33-45.
A língua nacional e o seu estudo.
PREFÁCIO

Sempre nos interessaram as questões de dia-


lectologia portuguesa no Brasil. Anotavamos o
quô-de mais importante encontrávamos quer na
fonética, quer na morlologia, quer na sintaxe,
quer no léxico.
Só depois, entretanto, que o grande mestre
da filologia românica, em escrito que se dignou
dirigir-nos, pediu-nos informações a respeito das
alterações sofridas no Brasil pela língua portu­
guesa, tivemos ideia de concatenar nossas notas.
Receberam elas grato agasalho na concei­
tuada Revista do B rasil e agora, com ligeiras mo­
dificações, aparecem em volume.
Conhecemos bem o nosso meio; não igno­
ramos os remoques que nos hão de trazer os
estudos de patologia linguística que empreen­
demos.
Paciência. Nosso trabalho não é para a g e ­
ração actual; daqui a cem anos, os estudiosos en­
contrarão nele uma fotografia do estado da língua
e neste ponto serão mais felizes do que nós que
nada encontrámos do falar de 1822.
Carpent tua pom a nepotes.
o diaiecto brasileiro

E’ facto por demais sabido que, mesmo den­


tro do próprio território, por diversas causas entre
as quais sobresaem a lei do menor esforço e a ne­
cessidade de clareza de expressão, as línguas
tendem a alterar-se.
Maiores alterações sofrem ainda, quando são
transplantadas de uma região para outra. Assim,
o latim se transformou nas acíuais línguas ro-
mânicas e estas, por sua vez, nas colônias muito
vieram a diferir do falar das metrópoles: baja-se
em vista o francês do Canadá e o espanhol da
América. Outro tanto aconteceu ao português im­
plantado em nosso país.
As principais causas destas alterações são de
ordem etnológica e de ordem m esológica; só um
apurado estudo pode fixá-las de modo preciso.
Apesar de descoberto em 1500, o Brasil só
começou própriameníe a ser colonizado em 1534
com o regimen das capitanias hereditárias ; pode
dizer-se que daí data a introdução da língua por­
tuguesa .
Nem que fosse falada apenas por portugue­
ses e seus descendentes puros, nem por isso dei­
xaria ela de alterar-se graças às causas que apon­
támos acim a; mas a língua portuguesa no Brasil
sofreu grandes alterações porque teve de ser
aprendida por homens de duas raças que falavam
línguas de estrutura iníeiraniente diversa do tipo
flexionai.
O índio foi o primeiro a aprender o portu­
guês; é latiiral, pois foi o povo autóctone.
Só mais tarde aparece o outro factor ettio-
gráti f. o r.egro. “No Brasil, o escravo negro foi
introdii/ido ao tempo dos primeiros estabeleci­
mentos. A escravidão vermelha precedeu de certo
á nem’a ; e daquella já se fala em 1531, quando
Martini Affonso concedeu a Pedro de Góes per­
missão de levar para a Europa dezesete escravos
imlios; mas desde cedo na capitania de S . Vi­
cente são escravos negros que trabalham na
agricultura da caniia. Deve datar peio menos do
anno de 1532'’. (João Ribeiro-Hisioria do Brasil),
Como se vê, é práticarneníe sii. tiltânea a
aprendizagem do português pelo índio e pelo
negro.
Desde meados, pois, do século XVI, colonos
portugueses, índios, africanos, seus descendentes
puros ou mestiçados, começaram, cada qual a
seu jeito, a modificar a língua portuguesa e mais
tarde as modificações por êles introduzidas vie­
ram a constituir a variante brasileira.
O afastamento da metrópole, a independên­
cia política e outras causas tornaram autônomo
o português do Brasil. "‘A lingua nacional, diz
João Ribeiro, é essencialmente a lingua portu­
guesa, mas enriquecida na América, emancipada
e livre nos seus proprios movimentos” . Submeter
o nosso falar diferente às formas portuguesas é
mn absurdo desprezível e servilniente colonial,
como diz o sr. Rupert Hughes relativamente ao
falar norte-americano. Certas leis da gramática
: "t

V :{ujj:iiesa r,erderani r;'Vicação entre nos; f 1;;-


mo-í difereníeniente sem qiic por isbo falemos
rr <Ío, pois nos exprimimos de acordo com os
novob rumos por que marchou no Brasil a língua
poríuí^itesa.
O que se deu pode perfeitamente ser com­
parado com n processo de multiplicação vej*eíal
conhecido peio nome de merjrulhia: até st cria­
rem raizes, o ramo vere^ado e mergulhado iio
"Olu é susieníado pela seiva do vegetal que sofre
a operação; uma vez brotadas raizes que possean
haurir seiva para a nova planta, um corte no
rair.o a epar.i c ela >'ai separadamente pr- -egiiir
sua evolução.
í*rosseguimos hoje evolução à parte, eomo
a península ibérica prosseguiu a sua depois do
desmembramento do império romano. Apesar da
consíaníp iinmigração portuguesa, apesar do
constante 'iitercâmbio literário entre Portugal e
Brasil.nada pode deter a nossa marcha.
F.-.tamos assisiindo aos pródromos de uma
transformação linguística que pouco percebemos;
CíUitemplarnos o ponteiro das horas e como não
w vemos mexcr-se, cremo-ío fixo,
Na América espanhola dá-se o mesmo. Re­
ferindo-se a enxurrada de neologismos de cons­
trução que inunda e turva grande parte do que
lá se escreve, diz Andrés Heilo que ^alterando ia
estructiira dei idioma, íiende a convertirlo en una
nuillitud de dialecíos irregulares, lit enciosos, bár­
baros; embriones de idiomas futuros, que durante
una larga elaboración reproducirían en América
" que íué la Europa en el tenebroso período de
ha corriípción dei latín.>
— i4 —

Essa varianté independente constitui porém,


um díalecto?
A resposta depende do conceito que se fizer
de díalecto.
Querem uns que as variedades só constituam
dialectos quando houver dificuldade de compre­
ensão mútua entre os que a falam e os que os
falam a língua mãe; dão outros, como o insigne
Leite de Vasconcelos, a maior autoridade em
dialectologia portuguesa, o nome de díalecto às
diferenciações locais de uma língua, admitindo
dentro dos dialectos os suLdialectos e dentro
dêstes as variedades.
Haja ou não haja díalecto brasileiro, questão
que se discute desde a célebre polêmica entre
Alencar e Castilho, o que não se pode contestar
é a existência de variação entre a língua do Bra­
sil e a de sua antiga metrópole e é isso princi­
palmente o que nos interessa e o que nos cumpre
estudar.
Leite de Vasconcelos, no «Esquisse d’une
dialectologie portugaise» mostra nosso dever de
estudar o português do Brasil.
O grande Meyer Lübke, na «Indrodução ao
estudo da filologia românica». só se refere ao
chileno porque o castelhano do Chile é a única
variante românica que até hoje recebeu Um estu­
do scieiitífico e lamenta a escassez do material no
tocante à evolução do romànico nas colônias.
São do mais alto valor scieníífico os casos
de patologia linguística apresentados pelos dia­
lectos; teem mais importância do que as questi-
únculas fúteis sôbre colocações de pronomes e
outros assuntos.
— 15 —

Les anciens grammairiens, diz Leite de


Vasconcelos, et encore anjourd^hui laplupart des
personnes, considèrent le parler dii peuple un
jargon dépendaní du caprice individiiel, quoíqu’il
nV aíí rien de plus faux que cetíe idée. Sans
douíe, je ne demande pas que les personnes in-
síruites parleni et écrivent le langage du viilgaíre.
Chaque chose a sa place. Quand je soutiens que
la langue populaire ne mérite ancitn discrédit, je
veux dire par là que tous les phénomènes qu’on
y observe sont du même ordre que ceux de touíes
íes aulres langues; et il ne peut pas cn être autre-
ment, car i’esprií liumain esí un.
Quel que soÍt le point de vite auquel nous
considérons !a diaíectologie, eKe a une grande
importance. En premier líeu, elle sert à ía glot-
tologie générale, parce que, comme les dialectes
ont un devellopement plus libre et plus sponíané
que Ia langue dus lettrés, qui esí en paríie très
soumise à la íradiíion Htéraire, et dans le íéxique,
dans le style, et même dans la symaxe, aux goúts
et aux caprices des écrivains en renom, on y peut
plus facilemení surprendre 1’aclion des forces vi­
ves du langage.
Si de Ia glottologie générale nous passons
à la glottologie romane,personne ne révoquera en
duute combien iníeréssant est d’observer quel
degré de différentiaíloii a éprouvé le latiu à
Textremité occídentale de la Romania, dans la
bouche d’un petií peuple, qui, non content de le
parler en Europe, i’a poríé et propage depiiis les
roes du ‘Proniontorium Sacrum> » jusqu aux
rivages des Amazones, et jusqu’ à Timor, dans
Larchipcl asiatique.
10

En descendrnt à rexamen des détails ; nuus


trouvons que les oialectes porfiigais enrichisscnt
la glottologie romane.
Dans !e domaine spécial de la laugue por-
fugaise, Tétude dos dialectes facilite colle de la
langue générale.
L’importanco de la dialectologie portugais.
peuL encore être appréciée sous d'autres a^pects.
De niême que la flore, ía faune, Ic clímat caraclé-
risení physiquement une région, de niêmc le-'
dialectes, aussi bien que les couíumes, le type
anatomique, ies aptUudes esthéthíques, intello'
ctuelles et morales, les tendances morbides, ca-
racíérisent dans une certaine manière à Tantliro-
polügie eíà 1’anthropolügie et à rellimdogie.
Melhor do que fez o mestre nestes írectioò,
não poGeriamos mostrar o valor dos estudo^
dialectológicos.
No estudo dialectológico que tra<^ar tere­
mos em vista fazer da língua do |)ovo uma
fixação que de futuro scja aproveitável. Pouco
nos inícrt-isa a língua das classes cultas, primeiro
porque é correcta, segundo porque lhe falta a
naturalidade, a espontaneidade da língua popu­
lar. Iremos ver os êrros, tentar explicar a razão
de ser deles, do mesmo modo por que o médico
-♦estuda a eiíologia das moléstias. Não os apadri­
nharemos embora reconheçamos que, por maior
que seja a campanha contra o analfabetismt>
mudos deles hão de implantar se na linguageir
culta fuíiira, como nos ensina a história da
filoloGria,
— 17 —

Em que consistem as diferenças entre o


português do Brasil e o de Portugal ?
diferença mais notável (da língua das cií-
lônias e ex-colôniasj relaíivameiite aos românicos
europeus dá-se naturalmente no vocabulário, por
isso que a peculiar cultura dêstes países quase o-
obriga a receber muitas palavras estranhas.
A evolução fonética e a constituição das for­
mas revelam, pelo contrário, tendências que não
se diferençam essencjalmente das que se ob r-
vam nos díalecíos da língua m ãe; e, às vez^
apresentam também um grande senso conserva­
dor. , fMeyer Lübke.)
Podemos acrescentar que o acento nacional
(sotaque) difere muito e que a sintaxe apresenta
variações importantes.
Mesmo assim, o português do Brasil não é
o que em filologia românica se chama um dia
lecto crioulo.
Dialecto crioulo é unia linguagem formada
por palavras europeas com gramática de povo
selvagem ou bárbaro.
Dialectos crioulos do português sfn» o indio-
português, o cingalês, o macaista, o íimorens -,
o caboverdiano, o giiineense, o falar do golfo da*
Guiné e o das costas da Alri a .
Nestes dialectos, «a estrutura morfológica,
sobretudo, tem um aspecto muito distinto da do
românico, como tosca adaptação desta a um pen­
sar linguístico de índole muito diferente?* (Meyer
Lübke).
Um espécimen de tais dialectos tínhamos
ô

na linguagem di*s pretos minas, hoje qnase total­


mente desaparecida, (l)
A’s causas etnológicas de alteração do por­
tuguês do Brasil cumpre adicionar as que come­
çaram a acíuar no século X IX : aimmigração ita­
liana em .S. Paulo, a polaca no Paraná e a alemã
em Santa Ca.arina e no Rio Grande do Sul.
Não podemos prescindir também do caste­
lhano das fronteiras.
Ao lado das tendências destrutivas, modifi-
cadoras, cumpre assinalar as reaccionárias, con­
servadoras, representadas pela manutenção de
arcaísmos (o que Bello também notou no espa­
nhol sul-americano), pela avultada e constante
immigração portuguesa, pelo combate ao analfabe
fismo, pelo estudo dos velhos clássicos portu­
gueses, cada vez mais cuidado.
Aceitemos o ponto de vista de Leite de
Vasconcelos e com êle chamemos dialecto ao fa­
lar do Brasil; vejamos se o dialecto brasileiro
apresenta subdialectos.
«Si en país de cierta esíensión, diz Rodolfo
Lenz no prólogo do seu Dicionário eíitnológico
das palavras chilenas derivadas de línguas indí-

(1) Júlio Ribeiro, em A Carne, apresenta o seguinte


fspécimen de dialecto crioulo :
Zélomo, disse Joaquim Canibiuda, ussê penso
hê nu quê ussê vai fazê, lapássi ?
— Pensô, mganga.
Intonsi, us'ê qué mêmo si jissá rimanári ri San
Mif^ué rizama ?
Qué, mganga.
Q —

íjenas americanas, es poblado por jen.. s quetraen


de su patria anterior un lenguaje mas o ménos
uniforme, en eslado natural de lascosas (es decir
prescindiendo de Ia influencia de la cultura) den­
tro de un tiempo mas o ménos corto se notará
que el lenguaje comienza a variar. Estas varia-
ciones no serán en todas Ias comarcas unas mis-
mas, sino Ias unas se producirán aqui, Ias otras
allá, í, en jeneral, la diferencia de lenguaje entre
dos lugares será tanto mas grande cuanto mayor
la distancia jeográfica; cuanto menores Ias rela­
ciones mutuas entre los dos puntos. Entonces
deberemos decir que en el país se habla un g ru ­
p o de dialectos, es decir, idiomas que se distin-
guen cada uno dei vecino sin que lleguen a ser
recíprocamente incomprensibles».
Tal foi o que se deu em nosso país ; a enor
me extensão territorial sem fáceis comunicações
interiores quebrou a unidade do dialecto, fra­
gmentando-o em subdialectos.
Para isso contribuiu muito também o modo
iiferente de povoamento das diversas regiões.
Raja Gabaglia, em brilhante conferên­
cia feita no Curso Jacobina, sintetizou admira­
velmente as grandes linhas de penetração da civi­
lização no Brasil.
Dêste modo se explica a maneira por que
foi feito o povoamento do nosso país:
Vinda da Europa^ a civilização implantou-
se no litoral, formando nele focos donde irradiava
Desde os primeiros anos o interior começou a
ser procurado. Há dois focos de irradiação mais
importantes : S . Paulo e Pernambuco. Segue-se-
— 120 -

lhes a Baía. \’eein depois S- Luiz do Maranhão,


o Amazonas e o Rio de Janeiro.
Os paulistas foram os grandeh desbrava-
doras do país. Miras, Goiás, Mato Grosso, Pa­
raná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul a eles
muito devem.
Pernambuco difundiu a civilização pela Pa­
raíba, pelo Rio Grande do Norte e pelo Ceará,
que p'>r sua vez a levou ao Acre.
A S . Luiz do Maranhão se acha \inculada a
colonização da Amazônia.
A influência baiana se estende a Ser^ij)e,
Alajíoas e à parte norte do Lspirito Santo.
Ao Rio de janeiro, capital da colônia desde
l7 0 j, se vincula a colonização do Estado dr» Rio
de Ja leiro.
As vias de comunicação, as relações comer­
ciais e intelectuais, certas vicissitude históricas
li.*jaram diversas partes do vasto território, cons­
tituindo reqiõcs perfeitamente caracterizada.- .
De um modo geral se pode reconhccor uma
grande divisão: nnrte e sul; norte, até a Baía e
sul, daí para baixo.
E’ palpável a diferença entre o falar can­
tado do nortista e o falar descansado do sulista.
No léxico são grandes as diferenças que se no
tam entre os diversos Estados do Brasil ; basta
comparar um livro de Alfredo Rangel e um de
Monteiro Lobato.
Com os poucos dados de que dispomos mal
podemos esboçar uma divisão do dialecto brasi
leiro. Talvez possamos admitir quatro siibdi-
alectos: o nortista (Amazonas, Pará, litoral doi>
Estados desde o Maranhão aíé a Baía), o fíumi-
— 2] —

nense (Espírito Santo, Rio de janeiro, sul de


Minas e zona da mala, Distrito Federal), o ser­
tanejo (Mato Grosso, Goiás, norte de Minas,
sertão dos Estados litorâneos desde o Maranfião
à Baía) e o sulista (S. Paulo, Paraná, Santa Ca­
tarina, Rio Grande do Sul e triângulo mineiro).
Cada um destes subdialecíos apresenta, pe­
quenas variedades que aíiás não são de grande
'mportância.
Os alicerces do edifício da dialectologia bra-
siRura estãi> na variedades. Estudadas estas, po­
de fazer-se um estudo sintético dos subdialecíos;
caracterizados estes, só então, por nova síntese,
poderemos chegar a conclusões seguras a res­
peito do dialecío brasileiro.
Que requisitos deve preencher quem se pro­
ponha a estudar uma variedade?
Em nossa opinião, deve ser ou uma pessoa
inteirameníe alheia à variedade que vai ser estu­
dada, 0 u unia pessoa inteirameníe alheia à s
demais variedades do subdialecto.
Filho de pais cariocas, nascido e criado no
Distrito Federal, de onde nunca nos retirámos
por prazo excedente a um mês, achamo-nos por
conseguinte na segunda hipótese e nos cremos
legítimo representante da fala genuinamente ca­
rioca.

------- : ' 0 < ---


•V »*!

•'1

m
■■ V wv
Fonología

o traço que caracteriza de um modo geral a


pronúncia carioca é o mesmo que distingue a de
todo o Brasil: há mais frouxidão, demora, sono­
ridade (Alfredo Gomes), suavidade (Julio No­
gueira) do que na pronúncia de Portugal. “La
prononciation brésilienne, comparée à la nòtre,
diz Leite de Vasconcelos, a quelque chose de
trainanr'.
Os fonemas são por assim dizer os mesmos
de Portugal; não houve criação de fonema novo
algum. Pelo contrário, alguns fonemas dialecíais
portugueses não se encontram no Brasil.
VOGAís — Em relação à quantidade vocálica,
observemos que, como em todo o Brasil, no Rio
de Janeiro não há o ^ brevíssimo que existe em
Portugal com valor parecido ao do e mudo fran­
cês: q u erer- qiiêrê (R. ].\^qii rer (P .); dente
denti (R. J.), dent' (P .).
O 0 proíònico também difere; assim, é breve
em Portugal e longo no Rio de Janeiro: m oral =
mural (P ), m oral (R. J-). automóvel = autumóvel
(P.), automóvel (R. J.).
Quanto ao timbre, observemos que não exis­
tem as vogais proiônicas abertas que em Portugal
•representam a sobrevivência de antigos hiatos;
padeiro p àd eiro (P.) {arúi^o p a a d eir o ,c fr. esp.
panadero\ pàd ero (R. J.), esquecer esquecer (P.)
24

antigo scu fctr no Cancioneiro de D. Dinis), rs-


(R, J .) . Também não existem outras i>ro-
rônicas aberfas, como as que precflem os grupos
ct. C{\ pf, pç : direcção, director, aáoptar, excepçõo
soam direcção, dirèctor, adòpfar, cxcèpção em
Poruigal e direcção, dirèctor, adôptar, cxcèpção
■if' Rio de Janeiro. O mesmo se dá em Ooa.
As proíônicas são geralmeiite fechadas ; mo
n il m ural (P ), m ôral (R. j ), auiomóvel -autii-
móvel (P.), automóvel (R. j.), lenheiro lênhero
J.j, linJidro (P.). Com o c encontramos em
figuns casos c surdo i no Rio de Janeirci e
í.urdo brevíssimo '=‘m Portugal: pequeno piqueno
(R. J.}, pequeno ( P e n i outroj a concordância é
perfeita: real, leal, lUitro, leão (surdo).
VooAíS TONiCAs Como na passa em do
latim para o português, é quase inatacável a resis
téncia dessas vogais.
Não existe a tônico fechado senão diante de
nasais: c a d a ^ c á d a e não cãda, para p á ra e
não p á ra (excepto em linguagem afectada), mas
más e não más (excepto em linguagem afectada).
Na primeira pessoa do plural do préíerito
perfeito simples dos verbos da primeira conjuga­
ção, dizemos amámos, igual ao presente (como
também fazem os espanhóis), embora na es­
crita usemos acento agudo. Aliás o a aberto
provêm da analogia com amastes, amaram ; o a
fechado é a forma que teria dado a aplicação
das ieis fonéticas (Meyer Lübke).
Seguido de Ih, c soa como na maior parte de
Tr.ib-os-Moníes, Alto Minho (Arcos), Baixo Douro
(hiaião), Beira Alta e quase todo o Sul de Por­
ta g.ni : espeUw espelho e não espCilho,
2 ^ -

Seguido de nh^ ch, x, j , o e soa como no


norte de Tras-os-Montes (Rio Frio) e quase todo
o sul de Portugal : fen/io, fech o, mexo, vejo
tênho, jêch o, mêxo, vejo e não tân ho,fâc!w , rnâxo,
v a jo .
Diante de nasais é fechado; não há dife­
rença entre dêm os (presente) e demos (pretérito),
entre lênios e lem os.
Diante de nasal, o é fechado i tanto se diz
cómo no verbo, quanto na conjunção: Antônio,
cônego, tônico, e não Antônio, cônego, tônico.
Vogais átonas Sofrem as mais arbitrárias
transformações que variam do enfraquecimento à
-npressão.
O a soffre redução para c surdo on fechado:
Jan u ário ~ Jen uário, facto aná!og<» ao t[uc ja
.-e dera em latim ; numa inscrição do século IV,
a de n. 1.708 do VI vol. do Corpiis Jnscriptionum
Lafinarum, e em outras, aparece a forma Jem i-
a r iiis ;
jan ela je n e la ;
inveja- in v eje;
razão, manhã rezão, menhã (por tiissiiiiiia
ção ); aliás rezão se acha em Portugal de>de o
‘^éculo XVÍ
salada, badalada, embalsamar, lanterna se­
cada, badelada, etnbalsemar (cfr. ital. balslmo). len-
terna (cfr. esp, linterna).
Passa o a para o por influência de labiais :
também tombem ou tomêm (cfr. Jam es —fo m e)
O a nasal ora se denasaiiza, ora muda para
i ; ó rfã -^ órfa; ambição Imbição. A segunda
Tendência já se verificou em enteado, enguia, e m ­
pola na i>assagem do latim para o português ;
2n

existe desde o século XVÍ pelo menos, na Beira,


no Minho e no Sul do país.
O e protônico ou se conserva, ou passa para
/: nasalizando-se ou não: erguer, herdeiro — êr-
gner, herdeiro e não irguer, hirdeiro (sílaba fe­
chada); fechadura, lenheiro, invejoso, velhaco —
fêLhadiira, lênheiro, invejoso, velhaco e não fch a^
dura, linheiro, invejoso, velhaco (diante de palatal);
pedir, pequeno - pidir, piqueno e não p"dír,
pequeno ; errado, educar, elogio, eleição - enrado,
inducar, inlogio, inleiçao (classe baixa) e não ir
rado, idiicar, ilugio, ileição (sílaba aberta). Esta
repugnância pelo e inicial isolado já é antiga (cfr
enxetnplo, enxaguar, inverno, inliçom ; em fr. en-
glise, englantier) (J. J . Nunes).
Final, passa a ser surdo como no Sul de Por­
tugal e no Entre-Douro e Minho, em Ooa, em
Ceilão c em Macau: fo n te- fo n ti e não f o n f .
A preposição de se pronuncia dê em expres­
sões consagradas: dê manhã, d ê noite, cor dê rosa,
conto d ê réis, pon-dêAô^
O e nasal protônico passa por i, como no
Norte e 110 Centro de Portugal e na Estremadura
Cistagana : embaraço, enganar, entender t^im -
baraço, inganar. intender. Postônico e final, perde
a nasalização, como no Entre-Douro-e-Minho:
virgem, vagem = virge, b ag e. Facío idênticto se
dá no galego {image, por ex.) e se deu em crime,
gume, perite, etc. na passagem do latim para o
português. Em ontem, a pronúncia popular onte
é a verdadeira pois o m final é uma nasal de con­
taminação (Cornu, Romania XI, pg. Ql, apud
Nunes).
— 27 —

Já vimos que o e brevíssimo não existe no


Brasil; lev a r— levar e não Vvar.
O i profônico ou se conserva, ou passa para
e, ou se nasaHza.
Ministro, vizinho -m inistro, vizinho como
na pronúncia portuguesa afeetada, (Leite de Vas­
concelos) e não tnnistro, vizinho, conforme ten­
dência já antiga em Portugal (Nme^). Direito
dereito (cir. esp. derech^ , diferença, difam ar,
virtude, Virgínia. Virgílio, Firmino, ordin ário —
deferença, defam ar, vertude, Vergínia, Vergílio,
Fermino, orden aria.
O caso Vergílio não se explica pelas formas
com e que aparecem nas inscrições e sim por
corruptela igual às outras; ao lado de vergere
se aponta vírga para étimo do nome, mas não é
êste o logar próprio para discutirmos o caso.
Igual, ignorante ~^inguá, inguinorante (classe
baixa), nasalizado pela repugnância ao isola­
mento como no e (cfr. o fr. antigo ingal).
Postônico, passa para e nos sufixos em i l :
f á c i l —fá c e l (talvez por analogia com amável).
Nasal, protôníco, passa para e : princípio, iti
grato, in v eja — prencipío, engrato, enveje, como
no Alentejo e no Algarve ; aliás as formas com en
são as regulares (cfr. víndícare==^sç^. vengar, fr.
venger, it. vendicare).
O o protônico é fechado e não surdo: s o fr e r
^ s ô f r e r e não su frer e às vezes muda-se em u :
cozinha =^cazinha. No Sul de Portugal o o átono
diante de l soa como no Brasil: so ld a d o ^ sô ld a d o
O 0 nasal ou precedido de nasal passa às
vezes para u : co m er— cumer, co m p a d re-cu m p a -
dre, como no Alto e Baixo Minho, em grande
— 28

parte de Tras-os-Montes e da Beira Alta e de


quase toda a Esiremadura.
Nob mc nossílabob dá à o : bcm —bão (cfr. ra-
zoii — razão) .
Por dissimilação o r? ás vezes se permuta
coni a : salu ço.
Poucas alierações apresenta o í/; em urina
muda-se em ou, como em Ponup^ai, fenômeno
que Nures atribui à sentclhança de côr entre o
líquido e o m etal; alterações esporádicas do u
nasal apresentam as palavras ungiicnto e umbigo
— inguentOy im h ig o : inibigo se acha em Gil Vi­
cente, I, Í72, 329, 389 e em Probo encontra-
se imbilicus.
Como na passagem do latim, o horror ao
proparoxítono acarreta a síncope das átonas
postônicas: príncipe, m áscara, cócega, música,
pêssego, córrego, chtcara, árvore, mármore, pól­
vora, Á lvaro, a b ó b o ra — prinspe, mascra, cosca.
musga, pesco, corgo, chi cr a, arve, marme, porva,
Arvo, aborba ou abobra.
A forma chacra é mais etim o lógica do que
chácara, segundo as abaiisadas opiniões de
Tschudi e Middendorí, citadas no Dicionário de
R. Lenz-
SiMivoGAis — O i palataliza o /, o o eo
â precedentes: fam ilia — fam ilha, como no Alen­
tejo (cfr. lat. f i l i a - filha)', demonio — demonho,
como também se diz em Portugal (cfr. lat. se~
niore=^ senhor), pentiar, codia (dissílabos), como
em Alandroal.
Entre duas vogais pronuncia-se com a se­
gunda, como no Sul de Portugal, e não com a
primeira : ceia =r ce-ia
2Q —

Postônico, precedendo imediatamente a vo-


final, é absorvido: história, dúzia, colégio, p o ­
licia, glória = histora ou hestora, duza, culejo, po~
liça, (rimando com preguiça numa quadra po­
pular), g lora (cfr. esp. limpio, tiirbio, ag r avio, ner-
vio, vidrio com limpo, turvo, e tc ).
O u é atraído ou absorvido: tábua, régua,
estátua, n ód oa'{ o - M) — tauba ou taha, reiiga,
estaiita ou esfátula (por afeciação), noda ou nodia.
Fenômenos análogos se passam em andaliiz com
com as tres primeiras palavras.
Depois de q antes de c, cai absorvido pelo
a, esoecialmente se êsíe é tônico: quase = caje,
Se não é, o íz assimila-se ao // e depois ambos se
reduzem a uma só vogal; quantia, quaresm a, qua­
renta = contia, coresma. corenta. Em qu atorze
ora soa o ii, ora não soa.
D itongos — O ditongo a i passa a ei em
treição. Raimundo (cfr. am a{v) i amei), o que
se pode explicar também com a conservação de
uma forma arcaica R eim undo. Sofre redução
para a em saiba, caiba, A delaide - saba, caba,
D elade {oxx D elaidá), úváwíq de x : c a i x a ^ caxa,
como no 5ul de Portugal e em Goa (cfr. esp.
caja), absorvido o i pela pa^aíal.
Resiste nos monossílabos: pai, vai, ca i.
A classe culta pronuncia levemente o i.
O ditongo au átono passa a o (cfr, lat. auru
~ ouro, esp. it. oro, fr. or): Augusto, autoridade,
aumento == Ogusto, oturídade, ou otoridade,
omento
Final e átono, o ditongo ão perde o pri­
meiro elemento : orfão, órgão, sótão, Estêvão,
Crístovão = orfo, orgo, etc. (cfr. saram po,
30 —

fra n g o , de sarâm pão, fra n g ã o ) Na palavra bênção


se reduz a a, por causa da flexâo genérica femi­
nina: bença.
Nos verbos am provenientes de iint latino
dá uni ou 0, como no Entre-Donro-e-Minho, Sir.-
fões e Rezende ; foram = fóru m ou fo r o (fuerunt),
O ditongo ei se reduz a e, como acontece
diante de consoante no oriente de Tras-os-Mon-
íes (M ^■■rvo), em parte da Beira Baixa e em
lodo 0 t ul de Portugal, excepção feita de alguns
lugares vizinhos da Beira Baixa (Alvaiázere) e de
Lisboa ; beijo, peixe = bêjo, pêxe e não baijo
paixe.
Fenômeno análogo se passa nos Açores,
eni Damâo, i a costa noroeste da índia, em Coa,
em ( eüno, em >Macau, em Java, em Malaca, no
Cabo Verde, na Guiné, em S . Tcimé, na ilha do
Príiicij e, na de Ano Bom, em Angola, no es-
pai liol (cir. beso, dejar) t no dialecto piemontês
Ifa it, feit, f e t ) .
Resiste nos monossílabos: dei, sei, lei, rei.
A classe culta pronuncia levemente o i.
Sá de ^ iranda, no soneto O sol é gran de,
etc. rima naves com mudaves.
Nas palavras quêmar, mantêga, têma a au-
sê.icia do ditongo está mais de acordo com a
etimologia.
A’tono e final, no plural do sufixo vel, re­
duz-se a i : comestíveis, razoáveis comestíves,
rezoáves.
O ditongo nasal grafado em soa com e
nasal e i, como no Baixo Alentejo e no Algarve:
também = tom bei e não tambãe, o que representa
31 —

a conservação brasileira de um arcaísmo prosó­


dico (Bourciez).
O ditongo eUf átono e inicial, passa a o-
Europa, Eugênià, Eulália, E ujrásia Èiiridice. =
Oropa, Ogêna, Olalha, O frásia, Oriilis.
No ditongo ie dá-se redução para e: quie­
to — queto. O mesmo se deii no latim vulgar,
como atesta a forma Qui ta, que está no C. 1. L.,
VIU, Ô.126. Aliás, quieto é uma forma artificial,
erudita; a normal é quedo, hoje antiquada {ie ^ e,
como em pariete = p ared e e íí = d). O italiano
apresenta quieto e cheto com a redução.
O ditongo ou em sua marcha evolutiva se
reduz a ô, como se dá em uma parte oriental de
Tras-os-Montes e da Beira, no Algarve e nas
regiões estremenhas e alentejanas que desco­
nhecem assim, outro ~ ôtro e não outro.
Fenômeno idêntico se passa em Damâo, na
costa noroeste da índia, em Macau, em Java, no
Cabo Verde, na Guiné, na ilha do Príncipe, na
de Ano Bom, em Angola, e no espanhol: outro
— ôtro.
Por aparecer em todos os dialectos extra-
continentais, Leite de Vasconcelos conclui que
já se reduzira r.a época dos descobrimentos (sé­
culo XVI).
A alternância para oi que começou a apa­
recer desde o século XVI e que Bourciez atribui
aos judeus, é reiativamente rara nas classes cul­
tas. A classe baixa usa só uma das formas, sendo
que diz sempre coisa, dois, doido, foice, toicinho,
biscoito, oito, moita, afoito, açoita'^,
O ditongo ui nasal se reduz a « em muito
— 32 —

rrr munto (classe baixa), o que íanibêm se dá em


Portugal.
H iatos — O hiato ie se transforma em i a :
sociedade, piedade, ^ sucladade, p iad ad e (nome
de uma estação suburbana) (cfr. apiado-m e, esp.
piadoso .
Em oa nota-se a tendência para acabar com
o hiato ditorgando a primeira vogal: b o a ~ b o u a ,
como em certas partes da Beira.
Em Joaquim dá-se a redução de oa em a :
Jaqu im .
C onsoantes simples — Ao passo que o des­
tino das vogais é regulado pela acentuação, o
das consoantes é dependente da posição.
As iniciais geralmente se manteem, as me­
diais se transformam e as finais caem.
Vejamo-las uma a uma, na ordem alfabéti-
tica, que é mais prática.
B — Quer inicial, quer mediai, permanece
inalterado, como acontece no Sul de Portugal,
não havendj absoliitamente a tendência para
mudal-o em n, como ha na Beira, no Entre-Dou-
ro e-Minho e na parte sul de Tras>os-Montes.
C — Inicial, muda-se para^ esporadicamen­
te, como em Gosme, gosm ético (influência de gos­
m a?), fenômeno análogo ao passado com *cat-
tiis, colaphus colphos ~ gato, golpe, g o lfo .
D — Como no Alentejo, palataliza-se quan­
do precede um i : lendia. A Dra. Nella Aita o
compara, nestas condições, com o g prepalatal
explosivo italiano (Escoiço de foreíica compara­
da luso-italiaiia, pag. 29).
G — In'cial, diante de e ou de i, passa a z
&s'pQxáá\z2imtn\ç:: g en eb ra —zinebra. Interno tarn-
— 33 —

béin : registro => rezisto (l), indigestão—indizestão


irir trazer de *tragere, fran zir, esparzir).
J — Sofre idêntica transformação; Joaquim
hs vezes soa na classe baixa como Ja q u im ; iguaí
f 'clo se dá em São Ton)é e na ilha do Príncipe.
L — O / final cai, como em andaluz; so l= só .
Pensa Leite de Vasconcellos que antes de cair
' .tc‘ l se mudou em r: sol = *sor— só e alega que
ijo Amazonas se diz anim al^ animar, m alvado—
marvado. Não nos parece qve assim tenha sido;
primeiro, porque não ha vestigio de forma em r,
SI gundo porque as consoantes finais podem cair
Independentemente de transformações;se o /'pode
rair, o / também pode. Em marvado o caso é
diferente: o / está agrupado.
A classe culta pronuncia levemente o /final.
Aí — Para o m final, que é uma verdadeira
notação léxica, veja-se c e o .
N — Final e proferido, cai: im an - irna.
R — Final, cai: m ar má, como acontece
Pin próciise diante de consoante no Centro e no
Morte de Portugal.
Fenômeno idêntico se passa em Damão,
iia costa noroeste da índia, em Ceilâo, em Ma-
raii, em Malaca, no Cabo Verde, em S . Tomé,
I*rfncipe e Ano Bom. Também no francês {ai-
nuT aimé), no andaluz e no alto aiagonês.
A cLasse culta pronuncia levemente o r final.
— liiic'al, passa ás vezes a x, o que tam­
bém se dá no Sul de Portugal: serin ga^ xerin ga,
saticho-^Xancho, sacho—xacho. O segundo caso

0 ) RODRIOUES LOBO, CÔrte na aldeia, dial. XV,


•ii*içna rezi$fado.
— 34- —
e o terceiro se podem explicar por assimilação;
o primeiro é explicado por Meyer Lübke por
meio da inflMência palatalizante de um i (cfr. en-
xalmos^ desenxabido^ enxerga, de salma, sapidiis
e serica) e por Pi dal pela pronúncia mourisca.
ínter'or, há também palat..lizações : sangue-
süga^sanguexuga (influência de chupar?)
$ Final, cai como em audaluz-, uurives^ori-
ve. Isto tem repercussão na morfologia corno
veremos adiante. As classes cultas pronunciam
o s final, mudando entretanto numa cliiante,
como no Snl de Portugal. Há quem atribua esta
pronúj cia ao influxo português, sem explicação
maior. Oia, influxo português há em todo o
Brasil; além disso, em Portugal tanto se diz s fi
nal con’o x quanto como ç (Centro e Norte , O s
reverso é pouco da índole das línguas români-
cas.
José Oiticica dá a êsíe vício o nome de
chichismo.
T — Diante de e surdo ou / é palaíalizado,
como na Estremadura; pentear =^pentiar. Como
em relação ao d. o fenômeno foi notado pela
Dra. Nelia Aita que compara ao c palatal italiano
o t carioca antes de i.
V — Inicial, o v muda-se em bs Esses dois
sons são de mui fácil confusão; é a menos enér­
gica a oclusão dos lábios, basta uma pequena
abertura para o b explosivo passar a v íricativo
Estabelecida a confusão, dão se mudança» intei­
ramente arbitrárias.
Exemplo: v a rrer= b a rrer barrer), va-
g e m ^ b a g e , verru ga^ berru ga. Em Portugal, o v
com o ô (mais do que o b com o v) se confunde
•^3

na Beira, no Eníre-Douro-e-Míiiho, e na parte


Sul de Tras-os-Montes a regra é nunca pronun­
ciar V e substituí-io sempre por b. O fenômeno
é estranho à m?ior parte do Sul do país; em Bar­
rancos (Alentejo) e Vila-Real (Algarve) a confu­
são é devida ao espanhol onde, como é sabido,
não ha v senão na pronúncia afectada e na dia-
lectal.
Já na passagem do latim para o português
se observa a permuta do v em b: vagina-^baí-
nha, vesica- -bexiga.
X — O som duplo na fala popular é facili­
tado: fix o ^ fic h e . Poucas palavras, aliás, conhe­
ce o povo nas quais o x tenha aquelle som.
Z — Finai, soa x, como no Sul de Portugal:
luz —lüx. Compare-se com o s reverso.
O íonema z ê de quase passa a j na fala
popular: caje.
C onsoantes agrupadas — Os grupos con-
sonântxos recebem tres tratamentos: ora alteram
uma das consoantes, ora intercalam uma letra
que lhes facilite a pronún- ia, ora suprimem
uma das consoantes.
intercalam vogal os seguintes: bc, bd, bj^
bn, bs. bt^ bv, cç, cniy cn, ct, djy drriy dn, dq,
gniy gn, muy pÇy pn. pSy pt, x (cs), tm. Assim obce-
cudOy obduraxy objecto, abnegado^ ábsolutoy obter,
óbvio, infecção, acmey acne, infecto, adjacente, ad ­
m irar, adnato, adquirir, advogado, pragm ática,
ignorante, mnemônica, recepção, pneumático, psi­
cologia, excepto.fixo, atm osfem , se ouvem: obice-
cado, obidurar, etc. Este defeito é comum ás
duas classes sociais, sendo que a classe inculta
— >D

ignora muitas palavras que apresentam dêsses


grupos.
Alteram uma das consoantes os> grupos; bl,
cli fl, gl, Ib, Ic, Id, If, /ff, Int, Ip, Is, it, h% k/t, Iz,
pl, sL Em todos eles, menos no último, o / se
muda em r, porque, como diz Meyer Lübke, o r
é a consoante i-iais vizinha do /.
V^ejamos exemplos .
bl —hhco.. broco (termo carnavalesco), (cfr.
blandUy blank, blaesi% bíitu- brando, branco,
brazão, hredo) ;
*'l ^clister^^risteU cla sse—cr asse (cfr clavicu-
la ^ cr a v elh a ). Em recrutar, por uma ten­
dência antagônica ou de afecíaçúo se ouve
/ recu lü tar; aliás, m espanhol e italiano
a palavra é com /, assim como no íranrés
antigo (Gastou Paris).
fl —flo r f r ô (ou fulô), a flito —a frito, forma
que já aparece no português arcaico
(cfr. f lo r f r o l arc., fla c c u ■ fra c o , flu t
fr o ta ) ;
gl inglês = íngrês (ou ingmlês), como no
português ardigo;
Ib Albino ^Arblno\
Ic -calcar = c a r c â , sulco—sarco (como em
espanhol e como se encontra na cantata
D ido de Oarção); o mesmo se passa em
síciliano
Id m aldito~ m ardito, como em andaluz;
If alfaiafe--^arfaiate\ em A lfredo, por dissi»
milaçâo, cai o por afectação às ve­
zes ouve-se I f onde ha r f : g a lfo —garfo\
Ig -algum —argum; às vezes por, afectação.
‘) í

ouve-stí onde ha rg: vel^onha vi't<ro


nha\
Im alm a arma\ como em aiiduluz e no fran­
cês popular de Paris artesse, armanach,
(C-Nizard). A palavra armazém^ de origem
árabe, devia ter /, como em espanho
{almúcén).
IP g o lp e—gorpe^ como em siciliano ;
Is -bolsa -borsa. aliás eíimojóg[camente devia
ser assim (grego biirsa).
It falta—fa r ta , como em anda luz.
A palavra escolta, do italiano scorta devia
ter r como em francês {escorte').
Iv aívo—arvo\
Ich —colcha -corclia\
Iz —colza=rcorza\ (1):
pl —p lan tar—prantar, como aparece no por­
tuguês antigo (cfr. placere, plumbu, platea,
planeta, plaiii-prazer, prumo, praça, pranto,
prato)\ 0 mesmo se passa no abrucês: ha
um grupo p l na palavra plam onia. dt;
pneumonia, talvez por influência de pu l­
mão-,
sl - -é raríssimo este grupo; há uma mudança
esporádica para /z em deslocador (termo
de circo de cavalinhos).
Estas alterações quase que só aparecem na
classe inculta,
Nos grupos constituídos por s e outra
consoante (5 impuro), se a consoante for sur­
da, o s torna-se reverso como quando é fin a l:

(1) Em íoscano, l diante de consoante também


passa a r.
36

fera. txperança. extadv. igual fenômeno se


nota no Sul de Portugal, no romeno e no abru
escama, esfera, esperança, estado-, txcama, ex-
cês. Se a consoante for sonora, o s soa como
y, o que também se dá no Sul de Portugal: esbel-
to, rasgo, desde, mesmo—ejbelto, rajgo, dejde,
mejmo.
Estas pronúncias são comuns ás duas
classes.
Vejamos agora os grupos que sofrem o
terceiro tratamento:
dr —com padre^ com pade (cfr. f r a t e r frad e);
gn -repugnar-=. repiiiiar, slgn ifirar sinificar,
como em andaluz (cfr. m alignas ma-
linc) :
gr —alegre—alegiie, negro—nega (é do carnaval
de 1021 uma canção que documenta a
ultima palavra);
Ih A dificuldade da pronúncia do / molhado
é evitado com a supressão da vibrnnie, fi­
cando em seu lugar o i quc oiíginaria-
meníe produziu o molhamento: filh a fi-
ia, fo lh a " fo - ia . Igual fenômeno se nota
em Ceilâo, Cabo Verde, S. Toimí, Prínci­
pe; e também no francês {bufaille\, no
provençal. no veneziano, no loiubaitlo e
no rcmano, no andaluz, no leonOs, no
asturiano e no espanhol americano. Em
Portugal, em Olivença, dá-se o mesmo,
por influência do andaluz Inicial, o Ih 6
contrário à índole da nossa língua, cm
espanhol e catalão é normal o ll iniciai.
A unica palavra genuinamente portuguesa
ccm Ih inicial é lhe que, perdendo o nio-
39 —

lhamento, se reduz a le. o que tambêtn


acontece em Portugal. Por afecíação,
produz>se às vezes a tendência oposta,
de modo que, palavras que devem ter i,
teem t h : arfalhate, em vez de alfaiate, te­
lha de aranha (aqui por influência da pa­
lavra telha).
Ir —b ilro - birro ;
mb tambêm=^tamêm, tomem (e igualmerite/n/»-
bêrn)’, a nasal labial assimila e absorve a
bilabial. ígual fenômeno se observa em
Portugal e em Bogotá;
nh -com panhia=cum panÍa, para evitar a dupla
palatalização, como também acontece na
Toscana;
pi­ ~~próprio=prôpio; o rcai no segundo gru­
po, por dissimilação, como em espanhol;
se nascer, descer, crescer,= n a c e r , decer, cre-
cer, como em o Norte de Portugal e em
espanhol {nacer, crecer)-, igual simplifi­
cação se deu no sufixo 'ncoalivo: p ad ecer,
conhecer, amanhecer-,
4 - consoante artem ísia^ ariem ija,con \ o em
Portugal; o i que desaparece, palaíaliza o
s ^,cfr. cerevisia =^ervcja)\
rt -A ’s vezes cai o Fortunato —Fiitunato; o
mesmo se deu em grego, ex. K oata no
Corpus Inscripfioniim ( roecariim, e em la­
tim. ex. : Fortunate, C . I. L. VI. 2-2.'56;
tr —registro— rezisto, quatro^-- quato.
Grupos de tres consoantes só há deis que
mereçam atenção: nst e xt.
O primeiro perde o n\ indrnm ento istru-
mento, Consiantino=-^Custantino (cfr. rnonstrare^
40 -

m ostrar). E’ verdade que há formas arcaicas


estromento, Costantino, mas cremos qiic não se
irata de arcaísmos conservados e sim de igual­
dade espontânea de tratamento de um grupo de
pronnúcia difíciK
No segundo [xt— cst^^ o c assimüou-se ao 5
e êste evolveu mais tarde em x sob a influência
de i precedente (Nunes^. Em *extrilmcre, o i re­
sultante do c perdeu-se {astrever. galego estre-
ver)\ provavelmente na linguagem vulgar linha-se
«nbstiiuido o x por s, à semelhança <k* rscclsum,
dcstera^ sestu, encontrados em inscrições.
Diversos fenoaíení^s eoní.tuos Até
.igora tratámos dos fonemas considerando-os
isoladamente as mais das vezes; vamos ver ago­
ra a influência recíproca de uns nos outros e
diversos fenômenos importantes’
Assimilação: seduzir = sudiizir, SancJw
XanchOy sach o—xacho, tam bém - tam àn, ( a rios
^'arro, Jesiis= Z esiis, exigir^ -cgigir J o s r Zozé.
Dissimüação; manhã menhu^ borbolvUi- -
harbíilcfa, soliiço^saliiço-, A lfred o ^ A frcd o , cére­
bro—celebro, (em latim já celebriim, celebro no
( spanhol antigo),/7/’d/;/'/o=/7/‘d/7/í). arm ário aU
nidrlo (afectação; a forma existe no espanhol),
clister—crlstel (com uma forma intermediária
*crister^ segundo Nunes), Frederico Federico
(cfr. esp., ital. >.
Prótese: em verbos é o preíixo vernáculo
a, com valor expletivo: alem brar (em Camões),
fíwóísírfír (idem), apreparar., arreceher (num can­
to de pasítorinhas do Natal), arrepetir (no jogo
dos bichos), avoar, arrecear, arresponder (cfr
alevantar, ahimiar, afear, acontecer ancjicndei,
41 —

atravessar, adormecer, assovíar, arrebentar, etc.);


nos substantivos é afílutinação do artigo definito
feminino: adália, anoz^ arrã, (cfr. abrunho^ avtn-
ca, arruda, adiiela ameaça, aleíião. abantesm a).
Suarabácti: SUvério—Silivério, S ilv estre^
Silivestre, P lín io—Pilinio, recnita-:::zreciduta (cfr.
caranguejo, fev ereiro, e tr. ) .
Epentese : estralar,bonecra (Madnreira Feijó
monecra)-, selectra. lagostra {cU . lastro,
mastro, estrela, registro listra, etc. Quando
de uma síncope resulta o grupo mr, contrário á
índole da língua, intercala-se uma consoante <’a
natureza do //;, o b\ câm ara cam ira —cam bra,
número=num^ro-^mimbro inculta); o mes­
mo se passou em iim erii^ ombro, m em orare^ lem -
brar, e tc .,no grego, por e\., gam brós, gam ros,
no espanhol {hombro, cohombro)& no francês
{chambre, nom bré). Dá-se também em Portup.al
o fenômeno.
Paragoge Apesar de rara, encontra-
quando uma palavra termina por consoante que
de acordo com a índole da língua não deve ser
final: s o b = s o b iJ s a a c ~ Is a q a c , tkalw eg—tálvegue.
etc.; encontra-se às vezes, na classe inculta, ade
um s nos advérbios em mente-, sómente—sómcu-
tes (cfr. antes alhures, nenhiires).
Aférese - E ’ • a do : con~
tecer, qiientar, repender, namiar. rançar g a r r a r ,
im aginar dá m aginar, como trm Portugal e em
galego. E’ a tendência oposta á prótese. A d e­
laide dá D elaida ou D elaide porque o « e coti^i-
derado artigo e se degliiíiiia. Sebastião tem o hi-
pocorístico B astião que aparece também ♦ ni
italiano (Benevenuto Cellini). A verbo a p a g a r -.e
1 <>

confunde com pogar\ ouvimos um Irocadilho com


êstes dois verbos; um indivíduo dizin para o
outro: *^paga o bonde, senão eu p ag o a luz'’ .
Estes factos se dão na dasse inculta.
Síncope - As tendências contra o propa­
roxítono que lauto influiram na passagem do
latim para o poriuguez, continuam a aceníuar-
se: relâm pago= relam po, p á ssa ro ^ p a sso , árvo­
re ^arve, m árm ore ^marme^ pólvora porva.
Quando em virtude da síncope 'ertas con­
soantes ficam em contacto dão-se importantes
alterações: pêssego, cócega—pexco, roxea, mâsi-
Cã- musga.
O caso do c ^ g se parece como o de ami-
cu --am igo, mas aqui se deu ouiru fenômeno: o
c em contacto imediato com o (assim como
acima o g com o s s = ç ou c brando) teve de aco­
modar-se e transformou-se na sonora.
Há um caso de haplologia em paralcHpí-
p ed o = p a ra lep íp ed o (cfr. idolatria, bondoso, p er­
da, etc.). Estes fenômenos se notam na classe
inculta.
Apócope Já vimos a apócope dab con
soaníes finais; o horror ao proparoxfloní* acar­
reta às vezes a apócope da sílaba final: legiti­
mo- legite. Na preposição é rara a sinalefa,
aparece em expressões fixadas: copo d'água.
estrela d'alva, vinha d'alhos, fio s d'ovos. obra
d!arte^ Outros casos: vW alma, minh'alma, d'alma.
n'água, Don Ana, S a n f Ana, galin ha d ’Angola,
costa d!Á frica, d'a g o ra .
Metáíese e hipéríese torm eniar tru­
me ntar la g a rto —largato. lagartixa-^ largatixa
(influência dc largarl), caderncia -rardeneta.
43 ~

procfssâo=^piircissão, teatro^ 4 n a to ( jm o iio ita­


liano popular); esses fi.‘nômenos se passam na
classe inculta.
Nasauz \ção Há aip^uns casos: m ajor,
cemitério, condessa, maçã, m aribondo—manjor.
cenientério (como em espanhol), condessa (ana­
logia com condensai), mançã (há um arcaísmo
mançãa) (cfr. mãe, mensagem, mim, muito em-
pingem, etc que apresentam fenômeno idên­
tico).
Palatalização — Já vimos casos quando
tratámos das semi vogais, do e do
Outras alterações apresentam as palavras
por diversas causas, das quais Já demos exem­
plos: analogia, cruzamento de palavras, etimolo­
gia popular {vagalum e=cagaliim é), sacristão=^
sancristão), mudança de sufixos (v* morfologia).
A persistência do acento tônico ligeiras
excepções apresenta: Oscar. A ída, míope são
formas correntes no Rio de Janeiro. Em ruim
que o povo faz monossílabo e acentuado no ii,
verifica-se a lei fisiológica segundo a qual de
duas vogais recebe o acento a que tem mais so ­
noridade (Meyer Lübke).
As palavras muito usadas sofrem, como é
sabido, as mais arbitrárias transformações, Você,
que já sofreu tantas mutilações, ainda continna a
experirjientál-as: chega a reduzir-se à ultima síl-
lab a: ce é b e s ta ! Senhor, quando proclííico, per­
de a palatal, desloea o acento e dá simplesmente
seò, seu, que se confunde com o possessivo A s
formas está, espera reduzem-se a tá (como em
Ceilão e em andaluz), pêra, o que se dá também
na Estremadura.
44

Kesta-nos iraíar dos casos de fonética


sintáctica. O 5 ou finais nos artigos e adjectivos
deíerminativos, alteram-se conforme a consoante
iiii-ial : os jarros-- uj jarras^ as chaves =-axh
cliaveXj dez réis d ê r é is : o v também ; dois vinténs
d oi gintêm-, a vogal nasal / acarreta desenvol­
vimentos : vim a q u i= v i nha-qui (como iio Minho)
ü que se pode comparar com vinu vi o—vinho, e
nem itm^nenhum; m-\-b rn - m ; um bocadinho -
um mucadinho (cfr. também—tam êm ).
A propósito de certas modificac^ões fonéticas
e de outra natureza, diz o Dr. Soli(’ônio Leiie em
seu trabalho A lingua portuguesa no B rasil:
^‘Muitü antes de D. João VI assentar a Côrte
na c/dade do Rio, já os seus moradores e os da
Bahia frequentavam Moçambique, de onde tra­
ziam, desde 1645 escravos e tartaruga, cm re­
torno dos generos levados do Brasil.
Nas viagens áquella praça, então parte (du
raníe muitos annos) do Estado da índia e centro
do commercio com as terras da África oriental e
da Asia. iam os navios a Oôa, onde se achava o
Conselho de Fazenda.
Demais, todo o commercio de Moçambkiue
foi longo tempo monopolio dos baiieanes. judeus
asiaticos, que levavam constantcmcuic riquezas
para Damão e Dio, onde se formara a companhia
commercial que elles representavam ; e. além
delles, que, desde 1687, permaneciam tempora­
riamente em Moçambique, enconfravam-se alli os
gentios de Damão e Dio, e uma população branca
de indivíduos casados com filhas dos naturae-»
dessas cidades e de Goa.
Não podendo os naviijs “largar’’ dos \ 'ftos
— 4*5 —

da índia antes da monção de Janeiro a principie^


de Fevereiro, as suas tripulações eram obrigadas-
a esíanciar durante muitos mezes.
“Depois do tratado de ISIO, informa Xavier
Botelho, só a praça do Rio de janeiro continuou
a frequentar a de Moçambique, aonde chegam
todos os aniios de quatorze até dezeseis navios e
ás vezes mais desde Maio até o cabo de Agosto •,
• recolhem-se desde fins de Outubro até fins d
janeiro, para encontrarem mar, bonança e ventos
de bervir’ .
Era, portanto, natural que os tripulantes dus
navios brasileiros, que andavam á escravatura,
fossem transportando para o Brasil, em cada
viagem, expressões a que os habituara o falar
daquelles com os quaes viviam allí em demorado
contacto, renovado todos os annos.
Por isso entre os dialectos indo-porlugu». ses
e a linguagem do nosso povo notam-se os mesmos
traços communs que elles apresentam, na sua
maior parte, comparados entre s i; como, por ex­
emplo, simplificação de tei» em «e» e de <ou» em
»ô»; apocope de «r> no infinitivo dos verbos ; re-
ducção dos exdruxulos; preposição de quieíação
com os verbos de movimento; uso de termos poi
tugueses antiquados e principalmeníe de formas
archaicas’*.
Parece haver exagero na explicação ilo
ilustre beletrista. A inflnênda asiática, se real, lol
muito restricta, não se estendeu a todo o Brasil e
aquelas alterações encontram por todo o tei-
ritório do nosso país.
Deu-se mera coincidência. O português ai-
teroij-se paralelamenfe na Ásia e na América e de
4“C>

mudo independente. Factos destes sào muito


comuns na dialectologia. O espanhol c seu
dialecto andaluz apresentam também aquelas re­
duções e apócopes e no emtanto elas se ex­
plicam sem interferência estranha. O mesmo se
den em Goa e no Brasil.
Morfologia

S ubstantivo—A flexão numérica por meio


de s desaparece de todo nas classes incultas :
livro (singular e plural) (cfr. francez livre livres)
O plural é indicado pelos adjecíivos deter-
minativos que precedem o substantivo, como
acontece na costa noroeste da Índia, em Cochim,
em Ceilão, no Cabo Verde, na Guiné, em S ,
Thom é: os livros- -os livró, dois livros—dois li­
vro, meus livros—meus livro, estes livros—estes
livro, poucos livros—poucos livro.
Por afeciação, às vezes aparecem com
plural cumulativo certos m onossílabos: leis
íczes, p és— peses, p ó s - póses.
Os nomes em ão na classe culta, tendem a
fixar a ícrma õesj que é a mais geral; capitães em
vez de capitães^ cidadões por cidadãos^ nos
meetings.
Certos nomes terminados por s no- singular
tendem a criar uma forma sem s que não dê a
impressão de plural: um pire. dois pires, um
alicate, dois alicates (cfr. ceroiila, calça, tesoura,
que já teem singular hoje).
R ei tem um singular rês, cujo 5 talvez ve­
nha da necessidade de alongar a palavra ou de
expressões como dia de reis, reis m agos.
Ha vacilações na metafonia do plural dos
nomes que teem o fechado na penúltima sílaba ;
a analogia com o singular faz ovos como plural
de 0U(7, a ai>ctaçãü pur voníade de acertar íaz
há/sos para plural de òo/so,
Certas palavras muito empregados no plural
começadas por vogal tendem a fixar o s= z do
artigo: (7/wos. {)//ws~zano, zoio (meu zoio=meu
olho, dia de zano-=dia de annos, na linguagem
infantil).
As palavras femininas devem terminar por
(I i- as que terminam por a devem ser femininas.
\ssim, /renc, A delaide, M atilde, miosotis dão
frena D eloida (cfr. esp. Adelaida) M atllda,
Irena, m iow ta nas classes incultas; cometa, sis­
tema. fan tasm a (íiterárianiente ambíguo) são
<"emininos.
Ladrao só apresenta ua classe inculta o fe­
minino ladrona\ alem ão, alemoa-. conde, con­
densa-, m orador, m oradeira; tigre é feminino
como em italiano ; cam arada toríia-se cam arado
por ser jnasculino, saca-rolha, hwça-perfum e são
lomininos porque o primeiro elemento termina
ern a .
O sufixo ito é raramente usado nos dimi-
nutivos. A íorma píntainko é inteiramente des­
conhecida do povo, o qual só á\xpintinho.
Conforme observou Sonsa da Silveira
(C<mferência no Curso Jacobina, t920}, o dimi-
nutivo apresenta metafonia na vogal do radi­
cal, conforme a significação. rodinha, f o ­
lhinha. modinha, corpinho, soam rodinha, fo lh i­
nha, modinha, corpinho quando querem dizer
uma roda pequena, etc. e rudinha, fulhinha, mu-
dinha, curpinho, quando significam o fogo arti­
ficial, o calendário, a cantiga, a peça do vestuá­
rio
4 -Q

Fora disso, a vogal é fechada normalmente


{pedra^ pédrinhd) e não aberta, como no Norte e
Centro de Portugal ipédrinha), nem brevíssima,
como no .Sul [p'drinha).
Adjectivo o plural do adjectivo procli-
íico se mantêm por meio de s por uma necessi­
dade psicológica; do contrário, não tendo .ç o
substantivo nada ficaria para indicar a plurali­
dade.
£sía é geralmente a posição dos determina-
tivos: os qualificativos, que quase sempre são en-
clííicos, não teem plural, senão na procbse: boas
festa s .
As formas gradativas analíticas dominam
sôbre as sintéticas. O povo evita mais grande,
mais bão, porque sabe que é errado e entretanto,
cumulativamente, diz mais mió, mais maiô, porqtn*
esta atenuadíssima nestes adjectivos a fôrça gra­
dativa. Diz íambêm mais piô^ mais m enó. Usa
muito o superlativo com bem\ conhece algumas
formas -dntéticas Santíssimo (termo eclesiásti­
co), grandissíssim a, coisissima, etc.
O demonstrativo êsse está em decadência-,
ajiarece, entretanto, principalmente em expres-
-^ões estereotipadas: O ra essa! H om e e ssa !
O demonstrativo mesmo é mêmo, como na
Fsiremadura e em andaluz,
O povo quase não usa o possessivo vossoy
salvo em expressões fixas: Vossa Senhoriay venha
d nós o vosso reino, seja fe ita a vossa vontade,
bem dito é o fru to do vosso 'ventre.
Usa muito das expressões do S r ., da S r *,
em vez de seu, s u a .
- 50 —

Nüs numerais diz ôiío^ dizasseis, dizôito ou


duzòito, como no Sul de Portu|2^aI, dizassete^
dizanove, coren ta.
Como nota Leite de Vasconcelos, o povo
^eralmente faz moderado uso dos ordinais, com
excepçâo dos primeiros da série c dos que en­
tram em expressões petrificadas: prem ero, sigun-
dOj tercero^ quarto, quinto, sexto, (fixados nos dias
da semana), sétimo (missa de sétimo dia), décima
(imposto), vigésimo (por causa do bilhete de
loteria).
Nos indefinidos notemv s nÓs tudo, em vez
de nós todos, como em Macau, e menos, no fe­
minino plural, por falsa analogia; menos livro, me~
nas caneta.
P ronome — Tu tem emprego emfático,
vós só aparece em expressões petrificades: bem-
dita sois vós.
Desconhecem as variações, o, a, os, as (v,
sintaxe), excepío em expressões fixadas^ Deus o
leve\ Deus o favoreça! Como vemos lhe se trans­
forma em le, como em espanhol; emprega-se
como forma obiecliva de você e n3o de êle e
não leni plural: quem le disse isto'? quem deu isso
a vocês? Por influência da forma mim, weobjecto
indirecto às vezes é mim: êle vai mim dá um
chapéu. Com a preposição com aparece nós e
não nosco; curnígo nas classes baixas, commigo
na classe culía, como no Sul de Portugal. Usa-
se pouco a variação nos (aparece no P ad re
nosso). O indefinido a gente equivale a nós.
— 51 —

Tudo isto é observado quase só nas classes


incultas.
Verbo — O povo apenas emprega o verbo
nas 1.®® e 3.®® pessoas. Mesmo quando usa a 2.^
do singular por ênfase, o verbo não vem nessa
pessoa; vem na 3" do mesmo número.
Como em francês, são iguais a 2.^ e 3.“
pessoas do singular e a terceira do plural quasi
sempre: tu ama, êle ama, eles am a. A primeira
do plural, quando paroxítona, perde o 5 final;
quando proparoxítona, perde a desinência toda:
têmo (temos), tinha (tínhamos). A classe baixa às
vezes tira a sílaba toda, mesmo nas formas pa-
roxítonas; nós canta.
Certos tempos faltam completamente ou são
raramente empregados: o mais que perfeito sim­
ples do indicativo, os futuros do indicativo, o
condicional, o perfeito e o futuro simples do
subjuntivo. o presente pessoal do infinitivo.
Muitos dêsses tempos aparecem em fra­
ses petrificadas: tom ara! pudera! quem me dera!
quem havera de d iz e!
A linguagem do futuro é dada por enálage
pelo presente do indicativo ou com o verbo ir e
o infinito do verbo que conjuga: Vou lã hoje\ von
me encontrar logo com você na cidade.
O povo evita muitas vezes o presente e o
imperfeito do subjuntivo, usando os tempos
correspondentes do indicativo.
Verbo am ar — amo, ama, ama, amamo, ama]
amava,—, —, —, —; amei, amasses, amou. ame-
— 52 —

mo (l), amaro; ama você, ame vocês; ame, —, ^


_, amemo (rara), ame; amasse, —, —, —;
amá, —, —, — , —; amá.
Verbo dever — Devo, deve, deve, devemo.
deve; devia,—, —, , — : devi, devesses, de­
veu, devemo (2), devero; deve você, deva vocês; '
deva, — , —, —, —; devesse, - , — , —, —; deve,
— —, ; devê.
Verbo p a rtir — Parto, parte, parte, parti-
mo. parte; partia, —, —, — ; parti, partisses,
partiu, partimo, partiro; parte você, parta vocês;
parta. —, - , —, — ; partisse, —, —, —, - ; parti,
parti.
Vejamos agora diferenças de metafonia.
Os verbos da primeira conjugação com e
fechado na penúltima sílaba abrem-no nas for­
mas rizotônicas. daí; féck o, fechas, íêcha, fécham\
avéxo, avéxas, avéxa, avéxarrv, em compensação,
enxergar faz enxergo, enxêrgas, enxerga, en
xêrgam .
Os com a precedendo nasal teem a vogal
fechada e não aberta nas ditas formas: apânho,
châmo, sâno\ etc. e não apánho, chúnw, s á n o .

(1) A classe culta diz amamos, conforme vimos.


Há uma frase infantil que fixou o p : nós quando nos jun-
temo, pintem'..
Segundo Meyer Lfibke a forma amos, como em
espanhol, é a daria a aplicação das leis fonéticas; o mes­
mo autor as crê influenciadas por aniásies, amàram.
A forma emos, que também aparece no Norte e no
Centro de Portugal, íorna-se assim um diacríiico da for­
ma amos do presente.
(2) A classe culta diz devémos e não devémos, con-
ff^rnie vimo: na fonologia,
— 53

Os verbos em ci na penúltima sílaba íeem


b tratamento dos com e, porque ei^4\ peneirar
faz penêro, e tc ., a leijar faz aléjo, e t c .
Os com ou na penúltima sílaba íeem o tra­
tamento dos com 0, porque oua^o: agourar,
pousar, estourar, roubar, poupar, azem agóro,
dóro, etc. Endeusar costuma fazer endeóso, etc.
e não endeuso, etc
Nos verbos com hiato na penúltima sílaba,
dá-se a substituição por ditongo nas ditas for­
mas: sáudo, embanho (embainho), arruino.
Os verbos com o prícedendo nasal íeem a
vogal fechada e não aberta: tomo, tomas, toma,
tomam, tome tomes, tome, tom em . costuma
fazer soo, etc. Voar faz vuo.
Na segunda conjugação, os verbos coni e
fechado na penúltima sílaba, abrem no quando
tônico, excepto antes de o: dahi parecer e dever
fazerem pareces, parêce, parecem , dêves, dêve,
devem Esquecer tem o e átono sempre fechado
ou surdo e não aberto como em Portugal: esquê-
ci^ esquici, esquécesse—esquêcesse.
Quando o e precede nasal é sempre fecha­
do : gêmes, gem e, gêmem, e não gem es, etc.
O i de viver, por dissimilação, segundo Nu­
nes, ou por analogia, talvez, sofre metafonia :
veve, vévem.
Os verbos com o na penúltima sílaba pre­
cedendo nasal, teem a vogal fechada quando há e
na última : cômes, côme, comem, e não comes, etc.
Na terceira conjugação, alguns verbos com i
na penúltima sílaba, por analogia com os da se­
gunda conjugação que teem e, mudam o / em ^
aberto : desistir— ; a r resistir (resistir)—ar-
■» *^
— 54

reseste (Leite de Vasconcelos registrou rescstez,


no Alentejo).
Os verbos despir, medir, pedir, servir, ferir,
mentir, sentir, vestir, por analogia com a primeira
pessoa ou por arcaísmo, fazem dispe, mide, etc.
Os verbos cobrir, tossir, acudir, sacudir fa­
zem cübre, fnsse (por arcaísmo conservado?), etc.
Os verbos subir, sumin fazem sube, sume
(arcaísmo?).
O verbo entupir faz entopes, etc., e não en­
tupes, etc., como é o certo.
Estes êrros são da classe inculta.
Verbos irreoulaf es — Os verbos em iar
confundem.-se muito na linguagem popular com
os em car : confrareio, copeio, vareio (formas re­
gistradas por Nunes e L. de Vasconcellos em
^Qtx\\x^2^), g lo reio ,fa n ta seio vXq, Avaliar aparece
como avaluar, como em espanhol ; vadiar dá
vadeia, registrado pelo folclo re carnavalesco em
1Q21 ; atumiar ÚÁ alumeia, forma mais correcta
(Nunes), que amdase encontra num provérbio ao
lado de candeia e na expressão p o r essa luz que
me alumeia !
Verbo d ar - Dou, dá, dá, damo, dá ou dão
(mantida por ser um monossíiabo tônico); dava,
—, , —, — ; dei, désses, deu, dêrno, dero ; dá
você,de vocês;dê—,—,— ;desse, —,—; dé,
dá.
E star- Na fala popular perde a sílaba ini­
cial (v. fonologia), fenômeno também notado
no andaluz, e atribuído à influência de ter, in­
fluência que no perfeito do indicativo é bem ma­
nifesta (Meyer Lübke).
Tou (stou), tá (stás), tá (stá), tamo, tão (mo-
— 55 —

nosílabo tônico) ; íava, —, —, —, — ; tive, ti­


vesses, teve, íivemo, tiveru; esteje (nas intimações
policiais : esteje preso !) você, esteje vocês ; íeje,
, , —, — ; tivesse,—, t iv é ,- ,- - —,
— ; íá (star).
Caber — Cabo(pres. do ind.,) caba, etc.
n o d o au b . ; cube ou cabi no preí. perf., e ca-
besse no imp., cubé e cabe no fut. do sub.
D izer— digo, diz, diz, dizemo, diz dizia, —
, ,— ; disse, dissesses, disse, dissemo, disse-
ro ; diz você, diga vocês ; diga, —, —, —, ;
dissesse,—,—,—,— : dissé ou dizê, —, —, — , — ;
dize.
F azer faço, faz, faz, fazemo, faz ; fazia,
—, .—,— ; fiz, fizesses, fez, fizemo, fizero ; faz
você, faça vocês ; faça, —, — , —, — ; fizesse,
—,—, . - ; fizé ou fazê, —, —, —, — ; fazê.
H aver— hê, há, há, havemo, há ; havia, — ,
—, —, — ; este verbo só é usado pelo povo nas
linguagens de futuro. O impessoal é ter (v. sin­
taxe) .
P oder—Posso pode, pode, podemo, pode ;
podia, —, —, - , — ; poude (afectação para acer­
tar), pudesses, poude, pudemo, pudero; possa,— ,
— . —, — ; pudesse, —,—,—, — ; pudé ou podê,
. —, — ; podê.
Querer — Quero, qués, qué, queremo, qué ;
queria, —, —, — , —; quis, quisesses, quis, quise-
mo. quisero ; quêra, —. —. —. — ; quizé ou que-
rê, — . —, —, — ; querê.
Saber — Sei (às vezes sê), sabe. sabe, sabe-
mo, sabe ; sabia, — . — , — . — ; sube, subesses.
soube, subemo, subero ; sabe você, saba vocês ;
— 56 —

saba, — , ; subesse, —, subé


ou sabe, —, —, —, — ; sabe.
Ser — Sou, é, é, somo ou semos (l) (há uma
anecdota fixando esta forma), são; era,- ,— ;
fui, fosses, foi, forno ou fumo (influência de /«/,
como no galego), fôro ; seje você, seje vocês ,
seje,—, — , (2); fosse,—,—,—, (há uma for­
ma regular sêsse fixada numa phrase pílhérica :
antes sêsse) fô ou sê,—, — , — ; sê.
Ter — Tenho, tem, tem, temo, tem ; tinha,
— ,—, ,— ; tive, tivesses, teve, tivemo, tivero ;
tem você, tenha vocês ; tenha, —, —, —, —,
(3 ) ; tivesse, , , —, — ; tivé ou tê f como nas
classes médias aparece nos compostob manter,
conter, e tc.),—.—, —,- ; tê.
Abster, deter, reter às vezes apresentam pre­
téritos regulares absü, este, eu, etc. por atenuação
do sentimento da composição.
Entreter (aliás entertê) apresenta tempos re­
gulares : enterfe ou entrete, enterteu.
T razer - Trago, traz, traz, trazemo, traz ;
trazia, - , —, —, — ; truxe, truxesses, trouxe,
truxemo, truxero ; traz você, traga vocês; traga,
—,— ,— ; truxesse,— ,— : truxé ou íra-
ze,— ,- , ,— ; trazê.
Valer — Valo, vale, vale, valemo, vale {val

(1) Tamtiêm era Portugal ; em andaluz,


(2) Nas classes médias tenhamos por influência das
formas rizotônicas como quer joSo Ribeiro e nao do im­
perfeito tínhamos, como quer Meyer Lübke.
(3) Nas classes médias sêjamos por influência das
formas rizotônicas.
57

só aparece no provérbio ouro é o que ouro vat) ;


vala,— — — —.
Ver—Vejo, vê, vê, vemo, vê; vía, —,—
vi, vissis, viu, vimo, viro ; ve você, veja vocês ;
veja ou v e j e , ; v i s s e , ; vê (1),
— ,— ,— ,— {ver na classe culta, porque a forma
verdadeira lembra o verbo vir) ; vê.
O composto rever faz reveu na 3^ pes.sing.
do pretérito.
O verbo precaver, por influência de ver e
de vir, tem para presente do indicativo e do sub-
juntivo as formas precavejo, precaveja, precave-
nho, precavenha (classe média).
Despedir e impedir —Na classe média apre­
senta formas despeço, impeço, despeça, impeça,
muito correntes, como se fossem compostos de
pedir.
Ir Vou, vais, vai, vamo ou vamo, influên­
cia de vou, cfr soa e somos) vão ; ia,* , , —, — ;
fui, fosses, foi, fômo ou fumo, foro ; vai você, vá
vocês ; vá,— ,—,—, —; fosse,— ,— .— ; fô ou i,
—,—,—, — (a classe média diz i r ) ; i.
Vir -Venho, vem, evem (a conjunção ?),
viemo (a forma verdadeira lembra o verbo ver)
vem : vinha,—-,— ,— ; vim, viesses,veiu, viemo,
viero; vem você, venha vocês ; venha,- ,— ;
viesse.— ,—, — : vié ou vim,—, —, —, — ; vim
(com a nasal que aparece em toda a conjugação
quase). Intervir na classe média faz no pretérito
interviu.

(1) Como em Goa.


5Ô —

Por—Ponho, põe, põe. pomo, põe ; punha,


— — .— ; pus, pusesses, pôs. pusemo, pusero í
põe você ponha vocês : ponha.— . —.—.- ; pu­
sesse.—,—,—,— : pusé ou pô (na classe média
/7Ôr),— ; pô.
A fôrça niveladora da analogia dá aos ver­
bos abrir e cobrir os particípios arcaicos e regu­
lares aõrido, cobrido ; os verbos pagar, gastar,
gan har apresentam em todo vigor os particípios
regulares em detrimento dos outros; escrever
apresenta escrevido.
Os verbos pronominais teem me na primei­
ra do singular e se nas demais pessoas (compare-
se a junção de autós, da 3! pesssoa, a todos os
reflexivos gregos) ; há verbos pronominais que na
linguagem popular deixam de sê-lo : zangar-se
(eu zanguei có’êie).
O imperativo negativo muitas vezes se for­
ma com o indicativo : não f a z isso. Fulano.
A fôrça niveladora da analogia criou ao
lado das formas irregulares do futuro simples do
subjuntivo outras moldadas sôbre o infinitivo,
como nos verbos regulares, as quais lendem a
prevalecer.
Quase todas estas anomalias relativas aos
verbos se encontram só na classe incuUa.
P reposição— As preposições simples são :
a, inté (geral em Portugal) e té, cum (antes de con­
soante ^ e co' (antes de vogal ou de nasal), contra,
de (v. foriologia), desde, im (às vezes ni), entre,
pra (como em galego e como às vezes aparece
em poesia), pru, sem.
A locução p o r amor de está tão desfigurada
que quase fica irreconhecível: prum ode.
— 59 —

Advérbio — Tem po: hoje, onte, amanhã,


anteonfe, íresantoníe, agora, ainda, logo, já, sem­
pre, nunca, em antes, de‘ípois (arc.), cedo, tarde,
antão. premero.
Lugar: aqui, ali, aí, cá,!á,dentro, fora, adien-
íe, dêtrás, atrás, longe, perto, junto, emcima, em­
baixo, adonde (que ainda existe em hespanhol).
Modo : bem, má, assim, tamêm, tomêm ou
tombêm, ariná, mió, pió, dêpressa, divaga.
Quantidade : mais, menos, munto (l), pouco,
meio, tão, tanto, quanto, bastante, caje.
Afirmação : sim ; negação : não ; dúvida :
tarvez ; exclusão : só.
Na próclise a negação não se transforma em
num, como no Centro e Norte de Portugal.
Usa-se mais aqui do que cã : êle stá aqui e
não êl cá stá ; usa-se muito mais em vez de j â :
não voa mais, em vez de yá não vou .
Aparecem muitos advérbios com flexão gra­
dativa ; a g o n n h a mesmo, até toguinho, assinzinho,
bem cedinho, pertinho, devagarinho, falou baixi­
nho, andou direitinho. Em vez de p rím e ro o povo
diz mais preniero, para sentir bem afôrça compa­
rativa latente no advérbio.
C onjunção • - Copulativa ; e ; disjuntivas .*
ou, nem ; adversativas .' mas, mas porém ; conclu­
siva : logo ; concessiva : mesmo que ; final : p ra
q u ê ; condicional : si ; causai : p ru q iiê ; compa­
rativas : cumo, que ; integrantes : que, si ; correla-

(1) Como em Damao ; note-se a tendência simpli-


ficaíiva do ditongo (cfr, chuva, fruto, enxuto, cutelo,
lutar).
ÓO

tiva : q m : modais ; cumOy cunform e \temporais :


quandOy emquanto^ em antes que, despois que,
inté que, logo que, sempre que,
M as porém, que se acha nos Lusíadas, III, 9Q,
por exemplo, é usado na ênbase ; a classe culta
diz às vezes más com a fechado, por afectação.
Interjeição—Apenas cabe mencionar umas
interjeições usadas quase que só pela classe incul­
ta : uê !. ^óte !, etc.
Cí^MPosiçÃo E DERIVAÇÃO — Pouca coisa há
que respigar neste domíniu, mas para não deixar
de apontar factos característicos, citemos a troca
de sufixo em bebedor em vez de bebedouro, a in­
fluência do suffixo \el em fâ c e l e d ifícd , o uso
desnecessário do prefixo des em destrocar=\xocaa
pela necessidade de frisar a idéa de mudança, o
mesmo uso em desinfeliz -■infeliz, influenciado
talvez por formas como desinquieto, desensofrido

— >xo«----------
Sintaxe

o gênio de uma língua se encontra princi-


paímente na sintaxe ; por isso tantas dificuldades
apresenta esta parte da gramática.
Ainda é cedo para se fazer a sintaxe do
dialecto, quaníu mais a das Varijdades ; entretan­
to é imprescindível que se acumulem os mate­
riais que mais tarde permitam uma síntese.
Entre os que se teem ocupado mais com
a sintaxe é de justiça destacar José Jorge Pa-
ranhos da Silva e Antônio Mauro.
Por emquanto as divergências sintáticas são
grosseiros solecismos que não merecem guarida,
mas lembremo-nos de que é assim que se consti­
tuem as línguas. Os solecismos praticados nas
diversas partes da România são hoje construções
de línguas cultas. Outro tanto acontecerá com os
nossos, num futuro que ninguém pode prever.
A prova da vitalidade que êles já possuem está
em que alguns são perpetrados com toda a cons­
ciência pela própria classe culta quando fala
despreocupadamente. E’ o menor esforço, a pre­
guiça do falar, a necessidade de acomodar a ex­
pressão à mentalidade da classe inculta e todos
nós sabemos quanto é perniciosa a influência dos
maus hábitos. Por conseguinte, é uma mera ques­
tão de relativismo; o que hoje é considerado er­
rôneo, daqui a séculos será uma linguagem casti­
ça onde por sua vez novos solecismos hão de
— Ó2

surgir porque, embora daqui até lá talvez não


haja mais analfabetos, sempre haverá uma classe
que fale bem e outra que se exprima menos bem.
A sintaxe do substantivo e a do adjecíivo
nada de característico por assim dizer nos revelam.
Notemos os comparativos analítico-sintéii-
cos : mais mió^ mais pióy mais maió^ mais menóy
que íeem paralelo nas formas mais superior, mais
injerior e outras, que a classe cu'ía deixa escapar.
Em Feriião Lopes, D. João I, cap. 26 da
I p ., encontra-se : %.Via. .. como todos andavam
alevantados, que se poder ia seguir m ais p eio r^.
O caso se explica pe1a obíiteração da fôrça
gradativa nas formas sintéticas, de modo que,
para sentir o grau, o povo se obrigado a lançar
mão do advérbio; outro tanto se deu quando se
empregaram as preposições porque os casos per­
deram suas desinências, quando a niigo, tigo, etc
se acrescentou de novo a preposição. É' a ten­
dência analítica que procura cada vez mais do­
minar.
Na sintaxe do pronome encontramos farta
messe.
A flexão casual, que tanto sofreu na passa
gem do latim para o português, foi acolher-se
nos pronomes como último refúgio e lá mesmo
não a deixou em paz a tendência desíruidora po­
pular.
E’ um dos brasileirismos mais característi­
cos o uso do pronome em caso recto na função
de objecto : vi êle, encontrei ela.
A respeito do assunto diz Ruy Barbosa na
Réplica : «Entre as formas classicas ha muito en­
velhecidas e exíinctas uma houve que, não sei
— 63 —

porque, passou despercebida aíé hoje aos estu­


diosos e aos scieníes.
Costumam todos os philologos designar
por brasileirismo (e eu em tal conta sempre o tive,
até não ha muito) o uso do pronome pessoal elle^
ella, elles, elíes,. omo objeclo do verbo: vi elLe^
Eu deixei eUe* . Dessa pratica, entretai.to, bastan­
tes casos se me deparam nos clássicos mais anti­
gos. Ex :
<E el-rei, sabendo isto, houve mui grande
pezar, e deiíou-o logo fora de sua mercê e degra^
dou ELLE e os filhos a dez léguas de onde quer
que elle fosse». (F ern . L o p e s : D. P edro /,
c. 4-.)
«Deu üs bens d’alguns áquelles que lh’os
pediam, os quaes se houveram por mui aggrava-
dos, dizendo que culpava elles, porque se ciavam
tão azinha, não se podendo mais defender, aos
inimigos». (F ern . hov^% D . Fernando, q . 3 6 .)
«El-rei mandou-o logo prender, e levaram
ELLE e Matheus Fernandes a Sevilha.» I b ., c.
4 6 .)
Rogando-lhe» (eí-rei). «por suas cartas ao
cardeal, que absolvesse elle e seu reino d’algum
caso d’excommiinhão ou interdicto.» Ib., c . 64 )
«E ás horas que o infante veiu foi recebido
por uma mulher de sua casa, e levado escusa­
mente onde D. Maria estava, e elle, quando en­
trou, viu ella e seus corregimentos assim dispos­
tos para o receber por hospede». {Ib., c. lOO.).
«Os cardeae- outrosim privaram i-lle d'al-
gum direiio, se o no papado tinha > {Ib., c.
106.).
«Traziam (quatro honrados senhores um
„ 64 —

panno d’ouro tendido em hastes, que cobria e l l e


e 0 cavalio .» (/ô , c. 16 7 .).
«Que em tal caso houvessem e l l a por sua
rainha e senhora». {Ib.^c. I 5ft.)
«Ei-rei de Castella lão vinha senão por pas­
sar seu caminho, e não por cercar elles nem ou­
tros». (F ern. Lopes : D . Jo ã o /, parte 1% c, 00 .)
fMartim Annes veiu alli olhar como ia a hos­
te, trazendo já comsig-o muitos mais do que d’an-
tes trouvera, e nomeamos elle mais que nenhum
dos outros, porq" ‘ elle principalmeníe era 0 que
fazia fazer estas espo*'adas». (/&., p. H, c. õ5.)
«Parecendo-me vai que esta nossa vinda
aqui pera desastres foi, e não mais. Mas, assi de
jon^e os nrífrarz ELLLS a veitura, que, loí^oao co­
meço, se não podem conhecer». (Bernardim :
Men. e M oça, c. 23, o. 1 -O.)
Sousa da Silveira, em seus Trechos Selectos,
tratando das diferenças entre o portuRfuês arcaico
e o português moderno, cita o emprego, como
complemento directo, das formas tônicas dos
pronomes pessoais, êle (s), ela i s ) ; diz que êsse
emprêgo ainda perdura na linguagem falada bra­
sileira e cita os tres seguintes exemplos tirados
dos Textos arcaicos de Leite de Vasconcelos :
«Item mandamos que todolos porcariços
que trexerem porcos no campo dem eles a seus
senhores.

E todolos mançebos que seruirem a plazo


in gaados paguem eles a rrazum d^este preço de
suso dito. •
65 —

.........paguem eles de suas soldadas.»


O mesmo autor, tratando de brasileirismos,
diz o seguinte :
«Anda, tambêni, rotulado de brasileirismo o
emprego, que em nossa linguagem familiar se faz,
dos pronomes êle {s), ela {s) como complemento
directo. Entretanto, é sintaxe do português ar­
caico.»
Aos exemplos acima aduzidos acrescenta
mais os dois seguintes, tirados da Sintaxe H istó­
rica^ de Epifânio :
«Perdi (p/c que foy arrê(= a rem) m ilhor.»
(D. Af^ Sanches, Vat.,2\)-
«desque vi ela-*. (Vasco Rodrigues de Cal-
velo, Vat. ■'ôS).
J . J . Nunes, em sua G ram ática Histórica^
cita um exemplo do Livro de Esopo [que en forca­
riam elle) e outro de um documento do s é c .
XIII publicado por P. d’Azevedo na Rev. Lusit.
VIII, pag. 3Q.
Eduardo Carlos Pereira, em sua G ram m atica
H istórica, apresenta onze exemplos alguns dos
quais já citámos acima.
Com a nossa opinião concorda a de Ama­
deu Amaral que sustenta no D ialecto Caipira que
o brasileirismo se produziu independentemente
de qualquer relação histórica com o fenômeno
que se verificou, sem continuidade, no período
antecla'ssico do português.
Eduardo Carlos Pereira admite uma opi­
nião ecléctica. Entende êle que no Brasil êite
óó

emprego do pronome recto não obedece sómen­


te à antiga tradição da língua, mas também à ne­
cessidade de clareza, pelo menos em relação ao
pronome átono o, íz, os, as.
«Este acciisativo, diz êle, sobre fraco, é ain­
da aíteniiado na pronuncia brasileira, de sorte
que se tornam obscuras ou ambíguas certas phra-
ses de uso frequente, taes como : vi o, vi~a, eu o
vi, oüvi-o, ouvi-a, eu o ouvi. Na linguagem fami­
liar difficultosameiite articulamos, sem confusão,
tas grupos {ylo e viu, vi-a e via, eu o vi e eu ouvi,
ouvi-o e ouviu, oiivi-a e ouvia, eu o vi e eu ouvi).
Urgidos pela lei suprema da linguagem, que é a
clareza, remove o povo a difficuldade lançando
mão, por instincto ou atavismo, do uso archaico
do pronome recto ; vi elle, vi ella, ouvi elle, ouvi
ella. eu ouvi elle . »
—Outro emprego, que também pode ser
considerado um brasileirismo, apesar dos prece­
dentes clássicos, é 0 do pronome lhe (pronun­
ciado le pelo povo, como vimos na fonética) na
função de objecto directo : eu le vi,eu vou le vi-
sífar afnatihã >.
Este emprego tarnbêm é corrente em Ooa.
No português clássico houve hesitação que
acarretou dupla sintaxe para uns tantos verbos
{socorrer, igualar, atalhar, contrariar, obedecer,
desagradar, assistir, resistir, contentar, chamar,
e tc .). Fartos exemplos de Camões, Fr. Heitor
Pinto, Vieira, Gabriel de Castro e outros nos
aponta em seu livro Sousa da Silveira que pensa
que «em nossa língua falada, vive a dupla sinta­
xe antiga, gozando, talvez de preferência a forma
Ihe^.
()/ -

Parece não i>er jjrtciso recuner à continui­


dade da sintaxe antiga para explicar o fenômeno
e o próprio autor nos indica a solução natural,
comprovada até pela gramática comparada.
Assim como os pronomes me, te (e também
nos e vos) exercem as funções de objecto directo
e de objecto indirecto, por analogia, lhe, que ex­
erce só a de indirecto, por terminar do mesma
modo que os outros, passou também a exercer a
de objecto directo.
Facto análogo se passou no espanhol; é
célebre questão do leismo e do loismo. «Confor
me á la etimologia Ias formas la^ lo. Ias, los, diz
Ciiervü, son acusaiivos netos, como que cor.íi-
núcn los casos latinos illani, illiim, illas, illos ; le,
les son uativos de los dos gêneros como sus ri-
ginales illi, illis. La confonnidad dei uso con la eti­
mologia ha perseverado ui la mayoría de ios
pueblos que hablan nuesíra lengua; pero en Cas-
tilla y León comenzarom desde temprano a c ui-
fundirse los casos, tomándose primero /c coino
acissáiivü en lugar de lo masculino, luego les por
loSy y íinalmeníe/fl, Ias y lo, los por los dati\os le,
le s * .
Esta última troca não se verificou em por­
tuguês,
- As reduzidas de infinitivo, nas quais apa.-
rece a preposição p ara, teem o pronome em caso
oblíquo om vez detê-lo no caso recto : isto / para
MIM levar.
Explica-^e ; a preposição atrai o p io n o m c
para o caso oblíquo, ex : com prei um chapéu p a r a
MIM ; de modo que, quando ela rege a red u zid a
- Ò8 —

toda de infinitivo, dá a impressão de só reger o


pronome ; daí o engano.
A impressão é tão forte que o uso correcto
do pronome passa aos ouvidos do povo como
um êrro e êle o emenda do modo apontado.
Cumpre notar que o povo às vezes procura
acertar; vimos casos de emendas infelizes na fo­
nética {arfalhaü\ velgonha, etc) e na morfologia
{Iczes) ; se erra, não é por falta de vontade da
acertar.
Nas locuções verbais formada^ com os
mandary deixar^ ja z e r , veTy ouvir, etc, se­
guidos de outro no infinitivo, aparecem prono­
mes pessoais em caso recto quando deviam vir
em caso oblíquo : deixa ele vir cá, em vez de det-
Xü-o vir Cfl.
Quer na função de sujeito quer na de obje-
ctü (principaímente nas terceiras pessoas), o povo
só compreende o emprego da forma proveniente
do nominativo latino e por isso, assim como diz
eu vi êle, diz também deixa êle vir, embora neste
caso especial o sujeito do infinito devesse vir em
acnsativü.
—Muitas vezes as formas rectas aparecem
regidas de preposição : ela q u er ir sem eu, e .m k e
Ui e e l e .
O caso recto é mais enfático ; daí o sen em­

prego. Alêni disso actua a tendência a destruir


as flexões.
São correntes as construções ; estou zan­
gado consigo ç: outras do mesmo jaez.
£ste uso, mais corrente em Portugal do que
nu Brasil, aparece nos melhores escritores. São
0 ^ 1

Jtí Herciliano os dois seguintes exemplos citadus


por Leite de Vasconcelos ; carta que me dirí-
‘^e tem um sabor a c re ... queimei-a. . . Não é por
mim ; é por si . Ha dois periodos na sua carta
que me affli.íreni, não por mim, mas por si* ~
íCartab, t. 1, p. lO). Meyer Lübke lhe dá iquari-
da em sua Gramática das iínjruas românicas (vol.
II!, Pfís. 65-Ó).
Sendo da primeira pessoa o sujeito, entende
hduardo Carlos Pereira que não há nisso incon­
veniência, antes há vantagem prática.
Não deixa de ser incorrecío este emprego
Je si, consigo pois, na qualidade de reflexivos de
*erceira pessoa, não se devem referir à pessoa com
quem falamos.
E’ um caso de analogia sintática. O prono­
me de tratamento familiar é você cujas concordân­
cias se fazem na terceira pessoa : você sl m achu­
cou, você perdeu seu chapéu, ciz ; daí a generali­
zação das mesmas concordâncias, com o intuito
íalvez de tomar mais leve a frase com o empre­
go de si, consigo. E’ muito mais suave dizer : es­
tou muito zangado consigo do quz estou muito
zangado com você. O dissílabo paroxítono dá me­
lhor harmonia à frase do que o dissílabo oxítono
E u povo, que não se preocupa com gramatiqui-
es, não hesita.
O mesmo se pode dizer em relação do tra­
tamento cerimonioso de Sr.
—Em matéria de colocação de pronomt's
pessoais oblíquos grande a divergência entre o
falar de Portugal e o do Brasil.
O melhor ponto de vista nos parece ser o dv
"0

Said A!i, que explica o caso p ir uma questão de


fonética.
<A\té a^^on., dizêle uo capítulo CoUocaçào de
pronomes^ das D ifficuldades da lingua portuguc-
züy estudámos a collocação dos pronomes com­
plementos rja lín.',uac;em de Portugal. Resta-nos
ver se no Brasil íMde existir exactamente a mes
ma collocação*
Fu.'dando-se eila na pronuncia própria do
falar lusitano, inipos-ivel será haver entre nós
identidade de collocação, se não é idêntica a pro­
nuncia. Lá os pronomes são aíonos ; o e final
em me. tc, se é tão abafado que mal se ouve. Cá
estamos habituados a empregar já certa acentu­
ação quando o pronome vem anteposto ao verbo,
dizendo aproximadamente/7z/,/í, si \ para nós,
brasileiros, .seria extremamente difficil pronun­
ciar á portiigaeza mc, te, sc, O pronome relativo
pronunciamo-lo com íendencia para qid, ao pas­
so que o som lusüano aproxima-se de que.
Lm {'oríugal fala-se mais depressa, a liga­
ção das palavras é facto muito ccmmum ; no Bra­
sil pronur.cia-se mais pausada e mais clarameníe
Em si;mma,a phonetica brasileira é em geral
diversa da phonetica lusitana.

A nossa maneira phaníasista (como alguns


ihe chamraTi de collocar os pronomes, forçosa-
mente diversa da de Portugal, não é errônea, sal­
vo se a grammaíica, depois de annunciar que ob­
serva e registra factos, depois de .econhecer que
os phenomenob linguísticos tem o seu historico.
71

rt bua evjlu<;ao, ainda se julga com o direiro de


atirar, ciosa e receiosa da mutabilidade, por dma
do nosso idioma, a túnica de Ncssms das regras
arbitrarias e inflexíveis.
As línguas aíteram-se cusn a nüdariça de
meio ; e o nosso modo do falar diverge e ha de
divergir, em muitos ponto.s, da linguagem lusi­
tana. Muitas são já as differenças actuaes, que
passam despercebidas por não haver um estudo
feito neste sentido. N«ão é caso para eternamente
nos julgarm os infc’‘iores aos nossos '^maiores».
De raciocínio em raciocinio chegaríamos
a(í absurdo de considerar extraordinário conhecc-
lor da nossa Üiigua e mais profundo do que o
?nais c jiío brasileiro, o canipi> lez analphabeto
■que, tendo iido a fortuna de nascer na Beira ou
t m Tras Montes, pronuncia aionos os prono­
mes e, co^^.‘que^teme^tc, os colloca bem á por-
uigueza.
A verdadeira conclusão seíentifica não pode
ver •^J^.ão esta : em Portugal é certa a collocação
düh pronomes por ser de uso geral; no Brasil
uinbLín é certo o nosso modo de empregar os
oronomes por ser igualmente de uso geral
tm que pese aos grair.maiicos, o nuico cri­
tério para julgar da correcção da linguagem é,
como muit : beni diz o pínlosopho Savee :
•Custom ülout a m determ ine x^diat is r ig h t and
nof thp dictam o f g ra m m a ria n s, Íiowí vrr
t m in e n í» .
— E' comunismo (em todas as cíass^ ^ so-
riais) começar o período por pronome oblíquo :
me dá nm copo d'agua, m e diga nma c o is a , .Sen-
72

íu’-se que a ênclise soa de rrodo estranho : dá-


me, d ig a-m e.
A’s outras lín.yitias românicas não repugii?
este uso ; encontramo-lo em espanhol, em ita­
liano, em francês.
A má colocação em frases negativas ou cti-
meçadas por pronome relativo é vulgar {como
também se dá no português da A’sia e no da
Ah rica) : não zanguc-eie comigo, o homem que
suicidoii-se ontem . Sem lusitanismo ]3odemos di­
zer que tais frases ferem os ouvidos das pe^s(>as
cultas.
A variação pi onc minai antes da negaçãe,.
apesar de estar correctíssimamente ccdocada, de­
sagrada ao ouvido brasileiro. Poderemos escre-
ver êle se não zangou, mas dizer, não o diremo-’
sem afedução. Com toda a naturalidade e cerífi
dizi niüs ; êle não se zangou.
Kepugna ao ouvido das pessoas ila classe
culla a colocação do pronome oblíquo cicpois d(
particípio passado, fado de que há exemplos
comquaiiío raros, em bons autores : d a tinha
saído-SiXi bem nos exam es.
De Felinío Elísio, nos M ártires, liá doi^ ex-
rmplos, citados por Sousa da Silveira ;
Na- veias, esgotado tíie a uascent» . (1,

julgadu-xr a si mesma emnuideceu |li,


425).
E mais èste, citado por Eduardo Carlos Pe-
rcira : cTinha d Olmacé trazido-/;/c’ já o meu suj»-
íento nesse dia tinha eu feito o retrato de mei.
amigo e mettido-u numa b<tcetmlia que nunca
largtiei de mim .
‘ 73

A !ingua{»em Ubual não emprega as coni-


binaçõts dos pronomes niCy te^ lhe com os prono­
mes o, ip', os, os : mo, ma, mos, mas, etc ; faz eli­
pse do segundo quando não faz de ambos ;
Eíe te à^eu o ch a p eiil —Me deu (ou D eu).
- ^Sem querer indagar se o povo considera
se sujeiio ou não, o que é absolutamente desne­
cessário pois o povo não sabe dessas coisas de
análise lógica, fala como bem entende, não ))o-
demos deixar de registrar as frases como : aluga-
se cômmcklos, vende-se m ateriais e outras que
diárianieitte vemos em letreiros pela cidade. Nes­
tas frases, icontra a opinião da maioria dos gra­
máticos, ()\verbü fica no singular, deixando de
concordar com cômodos, materiais, etc, os ver­
dadeiros síjeitOí, segundo os doutos. O povo,
um pouco Alir. jourdain, sente em m ateriais,
côm odos a líunção de objecto directo e dá às
frases venàc-sc m ateriais, aluga-se côm odos a
mesma sint;^:e de vendi os m ateriais, alu giiei cô­
m odos . \
—Não usam absolutameníe no Rio de Ja­
neiro, excepti por afecíação, formas verbais pro­
paroxítonas, Acompanhadas de dois pronomes
enclíticos: dá\amo-vo-lo {Q. Viana). Com um só
raramenie exiite ; dávam os-lhe.
—Nas etp” constituídas por verbo
auxiliar e infinsivo, o pronome pode ser proclítico
ao auxiliar (cobcação muito ao sabor português)
ou enclíticü aolnifinitivo (colocação portuguesa
ou brasileira). Há. porém, uma colocação genui­
namente brasilc Vn: o pronome vem entre os
dois verbos, Ex \Não fa ç a isso, Fulano \ê le pode
SE aborrecer. \
— \a cla.i-‘ inculta, os veibus prciominais
apresentam às vezes dois pronomes t»blíquos :
ela s* casou-s^'.
A ênclise lira um pouco da força pronomi­
nal do verbo ; daí a necessidade do reforço por
meio do jirononie proclítico.
Nos mesmos verbos, o prononi'* desapa­
rece no paríicípio passado: entretanto, wi ênfase,
usam 110 desnecessariamente e ainda o (colocam
m al: urna menina cham adas^ M a ria . I
- Em matéria de tratamento, vigor^ a maior
mistura possível, o que também se (U na Amé­
rica espanhola : voce f a i onte o cinema ^ N ão te
v i E’ um vestípio da vitalidade do pronome
dasepunda pes ,oa do sinpular. /
—Na ênfase o povo usa o relatif • cujo em
vez de o qual para dar mais força: c\u’iieu a ba­
nana cujA banana f e z m al a êle. I
Este sokcismo, muito comum lá Hnpuagem
tabelioa, também existe na Espanha (/na América
espanltola.
Naf oraçOes relativas onde Uue represen-
tí: função d'ferente da de sujeito o f objecto di
recto, em vez de empregá-lo região da compe­
tente preposição, usam no sem eia / a empregam
110 fim da oração com um pronu^ie pessoal : a
pessoa QU' tu fa le i com ei.a. « m v/z de a pessoa
OOM Qi'EM ca ffí^ei.
Isto'lembra uin pouco a sinjhxe inglesa em
frases como the man whom / havaspokcn o f .
A rr.z.lo dL. -e facto nos par/ce ser a seguin­
te : as funções normais de que Ài) as de sujeito
e objecto directo, de modo qu/, pelo costume,
que Vem iníciandn a frase ; a pcisna q u e , .. ; de-
- /:>

yia-se continu'ir . . . falo u comrnigOy i..as o inter­


locutor quer salientar que foi êle quem falou e
não outrem e por isso continua: . . . que eu fa le i,
aí sente a necessidade da relação sintática e para
remediar a situação emprega a preposição e o
pronome pessoal: . . . com e la . Dá-se um cruza­
mento sintático qut para o povo é uma cons­
trução mais fácil do ou e: a pessoa, com quem eu
falei
—O povo desconhece às vezes a fôrça sin­
tética de quem e por isso freqüentemente usa que
depois de q u em : quem que disse isto ?
Talvez se possa explicar a frase por uma
elipse : quem (fo i que) disse Isto ?
Usa-se qualquer um e não um qualquer,
como em PortugaL
—O interrogativo e exclam ativo o que, tão
condenado pelos gram áticos, é de uso corren-
físsim o : o QUs é i s s o o Q U E ?Í
Uma vez ou outra aparece em bons autores
0 aposto a que interrogativo.
Vejamos os seguintes exemplos que colhe­
mos em Ruy Barbosa e Eduardo Carlos Pereira
«O que farey a estes rostos que tão asinha
se mudam? (SA 6. M ir a n d a , O bras 2,98).
«E isso que (D. F i ancisco Manoki.,
í^eira de Annexins, p. Io).
tO que foi isto ? (C astilho. Fausto, p . 177)
- O que são os ventos ? ( C a m il l o . C avar em
aiifitís, p. 211).
< 0 que é a propriedade ?-» i A l e x a n d r e H i r
cuLANO A propriedade literaria, p . j) .
«Sei. O que ? O que tu não tens niiiino
para me dizer *Garrett, a Viag 2 :o7).
— 7o

A pequena extensão do interrogativa e a


sna atonicidade em posição proclítica reclamaram
o reforço, segundo pensa E . C . Pereira.
Ruy Barbosa, que na Replica tratou exausti-
vamente do assui to, explica deste modo o
solecismo :
«Como nas construcções affirmativas o ar­
tigo preceda o adjectivo que, determinando o
obfecto, ou indivíduo, por e!le representado,
dessas phrases passou facilmente esta syntaxe,
cm corruptelas do uso vulgar, para as interroga­
tivas. Dahi provavelmente 0 contagio, que, por
inadvertencia, leva, uma ou outra vez. os seus
effeitos até á pratica dos bons escriptores. Por­
que de outro modo não seria possível explicar
a enx rtia do artigo nessa especie de sentenças,
nas que a própria natureza dclle está em antago­
nismo com aquella fiincção».
O interrogativo o que, a princípio estranho
à língua mesmo nas interrogações indirectas, mais
tarde, para evitar dubiedade de sentido pois que
sem 0 se confundia com a conjunção integrante,
começou a aparecer.
Admittida a forma o que na interrogação
indirecta, diz Said Ali na Lexeologia do portugiiez
historico, estava dado o primeiro passo para a sua
admissão nah perguntas directas. Aqui de facto
penetrou, menos pelo sentido dubio da forma pri­
mitiva do que por uma questão de ordem plione-
tica. Que tornara-se vocábulo atono ou quasi
aíono ; o que possuia acentuação forte, que con­
servou até hoje.
//

No principio ou no meio da oração,


simples (não preposicionado) pode ser substi-
luido por o que, desde que o escripíor queira
pôr em relevo o interrogativo. A neces^idade
desse relevo no começo da pergunta não a senti­
ram os escripiores senão modernameníe. Ao
senso commum parece tão legitimo dizes o qu e?
eonio 0 que dizes ? A grammatica, reconhecendo
iterrogativí^ accentuado no primeiro caso, re-
conhece-o também no segundo
Dá em egídda exemplos de GarreÜ, Hercula
no e Castilho.
O verbo/'í’/' vai substituindo havern o eni
prego impessoal «í/íJ tem águo mi bica^
E. C . Pereira cita um exemplo deste barba-
rismo A rte d e fu rta r ■
. A um M estre d e Lisboa
ouvi d izer que bastava numa C am ara tres verea­
dores e TINHA sete
Há evidentemente um quiasma sintático-
nao h á água na bica 4- a bica uao tem água mio-
tem água na biea.
Esta substituição de haver por term ã^ . íem
de espantoso. A significação eíimológica de
haver (do latim habere) é ter ; nas linguagens
compostas haver íoi substituido por ter\ quem
sem afecíação dirá h e i ja n t a d o muitas vezes vm
sua casa. em vez de t e k h o j a n t a d o muitas vezes
em sua casa ?
O mesmo barbarismo, segundo Júlio M o­
reira, se encontra no indo-português do N o rte :
T em um Iwm' que tanto se cll corre, su b a r r ig
mine ha correg á ou enche. T em um honi q u e
p o r cll noite c di nu tem sucego, T em um hom '
que p or rU tem svt ovid.
1

— 7Õ

—O v«.rbü íiaver, im pessoalnieníe emprej^a-


do vai indébitamente para o p lu r a l' h o u v i ram
coisas interessantes naquele dia^
N o t e - s e q u e q u a s e s e m p r e i.^ío s e d á c o m
o u tras fo rm a s q ue n ã o o p re se n te d o in d icativ o ;
p a r e c e q u e o s i n g u l a r há e s t á d e tal m o d o c r i s i a -
liz.ido q u e r e s i s t e à d e t u r p a ç ã o
D e s t a s in ta x e , c o n s i d e r a d a aliás le g itim a
p e l o g r a m á t i c o R i b e i r o d e V a s c . m c e l l o s e R iiy
B a r b o s a cita e x e m p l o s c l á s s i c o s :

^Hajarn festas de p ra z e r.

H ajam c a n ;o s para o u v i r •,

(C amões, Auto de El~RelSeleii-


co, ed. crií. do Porto, v. VI, p. 204)-
*Taes/mtvnw que certificavam que o nu s"
ire era morto-. (Fernã Lüues, D . J o ã o }, p. h
c . 12).
‘O coraçãode quantos lii Zwtva///eia dado
.a grandes puuam eníos*. (/ò ., c. :ü ).
^Honverarn algumas escaramuças. «(Duar-
1 , N üni s , Cj'on/cas dei Rey D . Jo ã o . D . D uarte
D . A f} ., p. 557).
vFazer resistência a quesquer movimentos
qui* naqiiella comarca houvessem {Ib. p. 130).
ainda que hajam outras razões ( V ie ir a
Im dit, v. II. p 32).
Houveram phiíosophos». (ü . F ra'. isr.o
MAN'Iu j . Serões, p • 373^.
«d se ainda houverem prolixos ociosos edi-
íores. . (Fíií.''Jí ^ E lisi , Obr. v ., p. 4 l).
«Apt it' <i houveram . í/ô.. v. XUl, p. 52sp
' hep:am a affirmar haverem por lá, aind-i
fio século passrdo, hospítaCíí>I {C asthho, A p r i­
mavera. p. 275)
Solecismo igual existe na América hespa-
nhola (Gram. da Real Academia, ed. I 017 . i - •
26 5 ;P e Ilo , Oram. Cast. ed. ] 0 i 6, p. 206).
Ciiervo explica mui racional mente o fenô­
meno : nas locuções de que s'' trata, é visível
ccmn se foi obsciirecendo o svieiio 1' prei^omi
nando o acusativo até vir a ser o objecto princi­
pal do conceito, ou seja, o sujeito psícoldgicíj :
daí provem pela tendência natural a restabe­
lecer a harmonia entre a fórmula psicológica e
expressão r-amatical, se diga hubieron fiesti 5, ka-
bian ciiatro dias.
Pode dizer-^e também que se deu uma nju-
tação seniâiitica no 'verbo haver. Queiram ou nãt'
queiram os gramáticos, venha ou não venha êlo
de habere, ter, o povo sente nestas frases impes
soais a ^ig^ificação de existir.
\1' prec.so reconhecer que quem fa z a lii'-
gua é o pt)vo e que as palavras íeem o direito de
mudar de significação.
—Caso análogo se dá com o verbo f a z t r :
FAZEM dois anos que eu estive aqui.
Em vez ue que eu estive sujeito ; f a z
isto é, completa—predicado gramaucal; anoò
— objecto directo, 0 povo sente, faz em {\sio
passam-sep dois ai.os (desde) que eu estive
aqiii,
O mesmo solecismo se encontra no Chile.
—O verbo chamar, no sentido de d ar nom e
rtü

c uáí.dü com a prepobição de : você me cham ou d i:


jY w (foclore).
Explicação lógica do facto dá o professor
Álvaro Guerra: por uma interferência semântica
dc frases equivalentes com sintaxe diferente {clas­
sificar di\ qualificar de, acoim ar de, taxar dé)
passou-se a dizer cham ar dc^
Desta sintaxe há um exemplo de Vieira :
'rhamdudo-\\\e: de maus homens e gerações adul­
tera^ . {Sermões, ed. 1Q07, Porto V. III. pg. I3i).
Nas expressões verbais usa-se mais o ge-
rúndio do que o infinitivo regido da preposição
a : iiQum cuNV USANDO corn ela, em vez de,
i iguM A coNVfiRSAP com Ha.
— O emprego tio indicativo nas formas im ­
perativas negativas se explica pela dificuldade
que traz ao povo o uso do su b ju n tiv o : n ã o c h o r a ,
meu filho.
—O horror que o povo sente pelas formas
do subjuntivo é tal que freqüeníemente substitui
o presente e o imperfeito deste modo pelos tem­
pos correspondentes do indicativo: não quero
que He VAi.
O subjuntivo é menos usado e é mais difí­
cil do que o indicativo.
Com os verbos p a g a r, gastar, ganhar,
aceitar, estão ainda em inteiro uso os particípios
regulares, como em espanhol, em compensação,
com o \ç:xho pasm ar se usa o particípio moldado
no substantivo: fiq u ei p a s m o . Numa ronda infantil
ficou fixado o particípio regular: ...d e p o is do
joelho cm terra, f a z a gente fic a r pa sm a d a ,
O verbo m atar tem por afectação o partí-
cípio irregular morto com o auxiliar ter ; eu tinha
— ò l -

MOKTü .niiito passarinho na fazen da. Antigamente


havia ê$ie emprego, mas não se trata de arcaísmo
conservado ; é vontade de acertar no particípio
irregular. Citemos alguns exemplos:
Fambem nos tinham mortos muitos e bons
>oldados>. {FR. i.uiz de souza, An. de D
Jo ã o W .)
«Também estavam em grande aperto, que
lhe tiuliinn os nossos mortos muytos remeiros».
(C astaníi ., 5,31).
<dons trabucos nossos que lhe tinham m orta
geiile y . d e B a r r ü s , D ec. 2,5,7).
—O colectivo gente leva o verbo às vezes
à primeira pessoa do plural; a gente vamos.
Quando a pessoa que fala diz a g en te tem
em mente a sua pes.>oa e a dos interlocutores ;
daí por «ilepse o verbo deixa a concordância for­
mal que exige terceira pessoa do singular ; a gcn
tf voi.
Igual solecismo há no Sul de Portugal; na
Hngua antiga o verbo ia para a terceira pessoa
doplura’ : a gente vão (L. de \'asconcelos).
-O mesmo indefinido a gente, assim como
o pronome nós, na fala da ínfima classe, em vez
do adjectivo todo, recebe o pronome tudo : a gen­
te Uido, nós indo.
Explica-se isto pelo predomínio do sentido
colectivo
Os verbos de movimento são co nstruíd os
com a preposição em e não com a : f u i n a casa
de José.
E’ cei to que em indica lugar onde e a lugar
pa'a onde, mas, como provaram Amadeu Amaral
8 2

e Sousa da Silveira, íal sintaxe se encontra no^


melhores clás‘?icos:
<era vindo nesta terra» íJoÃo de B arros,
Ciar. U. 345)
«-que de mal vai eni peior» (S a’ dk M iraí^da
(Obras h 229).
*N algum porto seguro, de verdade,
Conduzir-nos__ »
(C amões, lus . II, 32)
i.sta simaxe não repugna à índole das lín­
guas uoviiatinas, tanto que, alêm do latim que
usa /Vcom acusativo, aparece em italiano, em
francês : arrivato UiRoma (Maní^^ni), M aíbroiigh
s'en va-t' en g u erre.
O caso se explica do seguinte modo : o
verbo indica o ponto terminal dêste movimento’,
finndo subentendida a direcção.
O solecismo se encontra também em Ooa c
em Angola.
Com o verbo estar dá-se vacilação entre
a e em, o que também se dá em francês, italiano
e rom e'O (Meyer Lübke).
Fm certas frases em que os portugueses
usam cr, nós usamos e m ; estar à portz, estar à
jan ela, estar à m es a ; o a português é o a d latino
junto de, o em brasileiro traz idea de lugar
onde.
Nos objectos indirectos de verbos bitrar
siF''os nota-se a tendê 'cia sintética de fazer elipse
da preposição, quando o objecto representa pes­
soa: pergunta êlc, vou contá papai, vou d izê
m am ai
«3 —

A razão parece ser esta: o verbo exige


objecto directo de coisa e indirecto de pessoa ;
não há, por conseguinte, possibilidade de con­
fusão, daí para simplificar a frase tirar-se a prepo­
sição.
Este facto faz lembrar os verbos latinos com
dois acusativos r docere pueros gramm aticam
—Nota-se também a elipse da preposição
em adjuntos adverbiais da lu gar: fu i a teatro, vou
o cinema
A desnecessidade completa da preposição,
já se dá com os adjuntos adverbiais de tempo.
O caso lembra o emprego do acusativo la­
tino com verbos de movimento : eo rus, ítaliam
vcnit, etc.
—Na locução não deixar dc, que é uma
verdadeira litote, o povo sente a atenuação da
idea negativa e a reforça por meio de uma segun­
do não expletivo, que o faz dizer justamente o
contrário daquilo que queria dizer.
A classe culta diz ; não deixou de f a z e r
(isto é, fez), não deixou de não fa z e r (isto é, não
fez). O povo, que aliás só emprega a íociiçâo na
primeira hipótese, diz contudo , não deixou de
mio fa z e r .
Negação expleíiva em caso análogo se en­
contra em francês: j e craiiis quHl Ni vien n e.
Atenuação e reforço da negação fambêm
se notam em outros casos.
O povo diz: ninguém não vem, porque sente
pouco a idea negativa contida em n in gu ém .
Em francês se dá o m esm o; personne exige
o emprego da negativa n e ;
Personne n’e<t sujei à pliis de fantes que
Ô4

ceux qui n agissent que par réflexion {V auvi r -


NA< l!hS).
Este pleonasmo existiu no português arcaico
e íem sido usado por bons escritores em nossos
dias.
Ei^ um exemplo de Zurara, Crônica de D.
Pedro, 2 3 7 ; Posto que nada non vissem.
Machado de Assis íem êste exemplo no
B raz Cubas, cap. so:
Como p o d e ser assim, disse elle, se nunca ja ­
mais ninguém n ã o viu estarem os homens a con­
templar o seu proprio nariz ?
Já vimos na morfologia o caso úq desinfelíz
O prefixo in dá uma negação atenuada.
des é mais forte; dai seu emprego que, na língua
culta, viria aliás destruir o efeito de in ; desinfeliz
o contrário de infeliz, logo feliz .
O advérbio meio, por atracção, varia de
gênero e n ú m e ro : ela está m eia doente, êles estão
meios aborrecidos connosco.
Dêsse facto há exemplos clássicos:
t^Meios mortos de medo» (L itcina).
cEdificios meios cobertos de areia. {Jo4o
DE Barros ).
«Uus caem meios mortos.. (C amõis , L m .,
lli, 30, V. 7).
«A carne dos cavallos meiu crua». (D.
NuNrs, Cron», v, 11, p. S3).
tM eios fieis e meios gentis>. (V iura , Serm .
V. II, p, I2õ).
«Os outros corpos estão meios podres».
{B i-knardes, N . Floresta, v . H, p ■ ' >5).
«A i n f l u e n c i a eclipsada . (K, da ^ h-va
Fastos da igreja, v 1, ed. iô70, p 84).
*M eia quebrada, oii cruz», {A. Hí.r :Ui,\No
Poesias, p . ] 2õ) -
«Deixando a porta meia aberta . (C asti-
1 lit q ( 'amòes, p. i .
N ã o c r e m o s q tie s e j a c a s o de conservaçcão
de arcaísm o
—Os advérbios de liij^ar sejíucni ^eralmeiite
o verbo: esfã aqví âle, tenho vontade de ir \.k
(Brasil), èle < \ está, tentv^ vontade de \.k ir (Por-
tu jral).

- » o ---------
?'•■ W''^: ; : ' t* !^ • ÍSBÍ'-’ . 'W iai
k í - ' : - ' ’ a > < . í a t1 • . ««BK .^‘ I f . f i

.p d;^
K jw . r ü í ^ - ; fr • ■'•^ ' ,« f e 3

|là f e 't * 't ^ ^ i* ,.if ^ ,-=í’t 5- - .■ ®

ií- ' * S - '*■' *■'■' ''"'* * •''” •S; ‘‘'-


?» - ; , . . ; ; , 3 ® ' ’- >f.yí-<
'V ••■' • •'•* í •-i ■ i.'lw s r - - :
i "s^s ■'•■K-' ■ -■ ''.V iP i í w - ''

g V-t' ^' r ■ ''“ ~'v '^fiaSií' ‘ t i í


LÉ X IC O

A p rinci|)al c a r a c t e r í s t i c a d o i é x i c n c a r i o c a
é, s e a s s i m n o s p o d e m o s e x p r i m i r , o s e u c o ^ m o -
p cd itism o .
C o m efeito, cap ital e m a is im p o rta n te c i d a d e
d o B r a s i l , o R io d e J a n e i r o e x e r c e s ô b r e o r e s t o
d o p a í s u m a f o r ç a c e n t r í p e t a q u e a c a r r e t a p a r a (»
v o ca b u lá rio c a rio c a te rm o s o riu n d o s de to d o s o s
listad o s.
A o la d o d e s ta f o r ç a e x is te a co n tra 'ria , q u e
e s p a l h a p e l o p a í s ii d e i r o o s n e o io ^ n 's {n o s c a r i o c a s
c o m o s e d e u h á t e m p o s c o m o v e r b o avaralhat
* co m a p alav ra/M rrr/w , por exem p lo .
L> v o c a b u l á r i o c a r i o c a , a o l a d o d o s ele­
m e n to s p o r t u g u e s e s , tu p is e a f r ic a n o s , c o m u n s
At o d o o B r a s i l , c o n t ê m e l e m e n t o s e s t a d u a i s e
elem en to s pró p rio s.
Ü s e le m e n to s e s ta d u a is se iiic«)rp oran i p o r
l e n t a i n f i l t r a ç ã o e, m a i s r a r a m e n t e , cx-aOnipto
A in filtra ç f io l e n t a e s c a p a à a p r e c i a ç ã o : u m a
p e s s o a n a t u r a l d e im i E s t a d irtro d iiz o íernui
n u m p e q u e n o c í r c u l o o t e r m o v ai c o m e ç a n d o a
se r u s a d o fóra d êste c ír c u lo e c o m o a n d a r d o
te m p o se g en eraliza. Q u e m p o d e rá s e g iií-!o d e s d e
o n asced ou ro ?
— 88

A i n c o r p o r a ç ã o iineciiaía p o c ie s e r m a i s b e m
a p re cia d a . V ejam o s, por ex e m p lo , o que se deu
•■oin a p a l a v r a urucubaca. E s t a p a l a v r a , a p e s a r d e
c o n h e c i d a d e j^ rand e n ú m e r o d e c a r i o c a s q u e
m an tin h am re la ç õ e s c o m p e s s o a s do n orte, era
ií^norada d e m u ita ^ e n t e . Uma circu n stân cia
even tu al d eu -lh e u m a a p lic a ç ã o q u e a im p ô s à
G en eralid ad e d a p o p u la ç ã o e assim in c o r p o r o u -
s e e la i m e d i a t a m e n t e a o l é x i c o c a r i o c a .
O s e l e m e n t o s p r ó p r i o s o u s e c r i a m cx nlhilo
c o m o p a la v ra s p rim itivas, o u s ã o m e r o s d e riv a d o s
c o m p o s to s ou p arassin íéíico s, c a lca d o s so b re p a ­
la v ra s já e x i s t e n t e s . S ã o g e r a l m e n í e e x p r e s s õ e s
d e gíria q u e c o n s e g u e m n o b ilita r-se u m p o u c o
m ais; ora são criações ca rn a v a le sca s. Toda a
gen te sab e a im p o rtâ n cia q u e p ara o p o v o ca rio c a
assu m e o C a r n a v a l ; d e sd e jan eiro tu d o g ira em
torn o d o C a r n a v a l; su rg e m m o d a s novas, n o v as
c a n ç õ e s , e t c . ; daí a n e c e s s id a d e de n o v o s te rm o s
q u e o ra te e m vid a e fê m e ra , ora c o n s e g u e m
m an ter-se.
A ’s v e z e s o t e r m o n ã o é n o v o , é u m t e r m o a n ­
tig o c o m sig n ifica d o n o v o ,c o n s e r v a n d o em m u ito s
c a s o s a p rim itiv a s ig n if ic a ç ã o . S irv a de e x e m p lo
a p a l a v r a pirata \ Qü ®/o d a s p e s s o a s d o p o v o q u e
o u sam , d e sco n h e ce m -lh e a sign ificação p ró p ria .
A g r a n d e d i f i c u l d a d e d a o r g a n i z a ç ã o d o lé ­
x ic o c a r i o c a está n a p e n e tra çã o d o s te rm o s e sta ­
duais. T a ! ou qual te rm o estad u al p o d e s e r c o i ih e -
e s d o d e u n t c a r i o c a iju e f r e q ü e n t a c a s a d e fa­
m ília p r o v e n i e n t e d a E s t a d o o n d e o t e r m o é c o r ­
ren te e e n tre ta n to a g e n e ra lid a d e da p o p u la ç ã o o
ign ora.
8Q

Só depois que tivemos léxico das varieda­


des subdiaiectais poderemos ter os dos subdia-
lecfos e, assim, por exclusão, destacar os termos
estaduais que lograram foros de cidade no Rio
de Janeiro.

--------- ----------
i'? ' ■■

•^.V/ T

'. ':4h. # 1.T


VOCABULÁRIO
Vocabulário
y
a!(»afá furtar um objecto, tsLi*ndtMi-
dü*o.
A h a r b a í l o —atrapalhado (uma barba «;ramie é
coisa que atrapalha),
%ba ri*a<*ar. al>ai*ra<‘á postar-se um homem
com unia mulher num canto a conversar.
Ib ÍK c o ita r . abi>»<*oilá- conseguir, obter,
endinheirado.
al>*i< iiá— segurar um indivíduo
pelo botões do paletó.
% f> rid e ira . a b r i d c r a a caf liaçs, porque
abre o apetite.
tK iía iita r-N o . s e a i l i a i i í á tomar confiança
% ro t> ar-se. s e atbl»á -aíarantar-se,
A jy re íía ílo indivíduo que vive à custa, de uma
família.
tü f iiê a —indivíduo esperto.
Iijiiiktar. a j u i i t á — amasiar-se.
a r o a d r — coisa que não presta.
.%ía%aiK^a. lait a a e a ferro da parte superior
do bonde eléctrico
A l í i i l i a v a r . salíiilisii á —fazer uma coisa ãs
pressas e imperfeiíamente.
Aiikioía<IÍulia* a rm o fa d íiiilia H o m e m
elegante e efeminado.
%m*.i relíY o opihação, cor açafroada.
— U 4 —

Am nbroisia certo doce de leiíe.


A m o la r^ a n i o l á - a b o r r e c e r .
\i M í o r i i i I i a — m u ílier q u e traz d e P a ris v e stid o s,
c h a p é o s , e o s v e n d e p articu larn ieu te p elos
li o íeis.
Au|«;n b a r u l h o , i n t r i g a , c o n f u s ã o .
A p a r e l h o , a p a r e í o —t e l e f o n e .
A r a jí e i i i , a r a jç e - -oportunidade
Vr a m e - dinheiro.
A r a n h a —certo carro; pessoa vagarosa.
A r a r a —indivíduo tolo, inábil.
Á r e a —pátio de unia casa.
A r r a n jí» — amásia, namorada.
. i r r o m h a -í/e—, isto é, de primeira ordem.
A r r u m a í l e i r a . a r r u m a < l e r a empregada
que arrum a a casa.
A r v o r a r , a r i o r â improvisar-se
^ t r a r a r . a l r a r á —chegar perto.
.^ira.Hadir esfaimado.
A II<o- abreviatura de automóvel
^ ^ v a o í ilh a r . a v a e a i á iicai: acüY.?rdãdo.
A v a n < ;a —atirar-se com esganação para o lugar
onde estão as comidas,
a a ir a r . a v a is e á —atirar-Se.
%wir cavalo que nas corridas jierde M-mpre.
A z o iá a r . namorar
A xeií< ‘. a n a m o r o ,
iz o ilí^ à r a . a x o t e r a —namoradeira
A z o u g u e indivíduo esperto,
A z u là o certo siri.
i z u l a r . a / a i ú —fugír
í5 a e a in -ir< e coisa velha.
IS a e la p a r t i d á r i o d a s o c i e d a d e c a r n a v a l e s c a
Tenentes do Diabo.
- 0.5 —

r<>, í^í»;çam'í‘‘r o —bonde de baí^aj^Ciii^,


individi:o que vem no fim.
K a jç a r o t o —cédula de iSiXX").
Bsijiçaii4;a desordem, confusão.
R;st:;im«*<‘ai% I»a^oic<*iíl—fazer bagunça.
I S a ía e u —indivíduo «íorducho, inchado à se­
melhança do peixe que tem êsse nome.
K a H a - ^rande.
Efiala — corresponde ao rebuçado português.
BíalesíMK h a i e r o - vendedor de baías.
Kfiambu i« bane valentão.
CSaiiaxsia indivíduo sem energia; gesto ubscem^
Kan<*ai% b a n ío t fingir uma coisa que não
somos.
ISaiiideira. b;:iieS<‘ ra—sinaleiro de encru­
zilhadas de bondes.
fSauKÓ- barulho, questão.
B a i> liiía ? '- pôr água no leite ou nu vinho.
?5;ii'a< u --ü duble zero no dominó, irmã de
caridade, automovel p?rdo e arredondado.
S&arbueUíielsn frades do Castello.
tS a rii'a i'“-dar o contra; pôr uma barra.
&CarrSg;a gravidez.
B a i n t a - asneira.
f'» a ta í‘a r . 4K*;í dansar o batuque., bater
no piano com um dedo só.
I t a l i i q i t o dansa africana; fixado no fo c lo re :
Batuque na cozinha sinhá não qué ;
Pru casa de batuque eu quemei meu p é .
B a U i t a indivíduo de valor.
B o i ^ a la indivíduo de beiço grande.
lío ijo -ile -IVjMle uma B aham in a.
—bala de evo, enrolada em
papel de seda recortado.
ie e lix :í i'ío - aníijra moeda de níquel de 50 réis,
do teni]:K) do ministro B elisário de Souza.
iS f^ rlíiifia —jo<íO de prendas ern que indivíduo
se senta à parte e as outras pessoas dizeni
coisas a respeito dêle: estar na , isto é,
em evidência,
tfiessa. à , muito
b e s is i dizer ou fazer besteiras
IS ib la (classe inculta) indivíduo protestante que
lê a Bíblia.
f iie lf io ir o , b i c l i e r o —vendedor do jo;jfo dos
bichos.
K í c l i o —indivíduo valente, hábil; /:’ um b ich o !
Virar , en uvecer-be. Bicho carpinteiro—
bicho (ideal) 'ue faz os meninos ficarem
irrequietos nos bancos, carteiras, cadeiras
B ic h o -d o - mato, criança acanhada. Nos
colé^rios, alumno novo
fSifo—indivíduo inglês, comedor de bife
B i s p o —fumaça que entra na comida.
B l o l a r —passar um bluff.
B l o c o , b c o c o -grupo de carnavalescos.
Boc«V to lo ; B rás —, indivíduo tolo.
iSoíIoga coisa que não presta.
B o i a comida, feijão ralo de quartel.
B o i a r , b o iji dansar rnal a quadrilha, comer.
B o l a carne com estriquinina que desumana-
mente atiram à rua para os cachorros come­
rem ; quantia com que se suborna um fiscal;
so ffrer d a —, não ter o juízo perfeito.
B o l a c h a bofetada.
B o i a d a - massagada de dinheiro.
B o l i n a —indivíduo que no bonde desrespeita
as senhoras.
P7

K o l i i i a ^ o n i —acto de bolinar.
B o l i i i a r de^.respeitar uma senhora no bonde.
B o m b a reprovação; um doce com recheio de
creme
B o iii- b o o u ilo —certo doce.
B o n o c a . b n n e e r a pedaço de pano em que*
se amarra anil, cinza para tirar a sica do
doce de caju, etc.
B o r b o le t a ^ b r a b u l o t a - certo fogo de salão.
B o r r a o l m d o —mosquito cuja picada é muito ■
dolorosa e deixa um ponto vermelho
B o r v a d o r mau pintor de casas
B o t a -obra mal feita.
B o t a r « b o til- pôr ovos.
B r a i n a r , b r a n i á - protestar gritando.
B r o r a - fome.
B i*o o iiai'« b r o f h s i —dar pancada.
B r o n a ío - dinheiro de cobre, dinheiro
BiK ^lia—comida que se leva num passeio; certa
planta; má aquisição {levar uma —).
B I I l a r protestar {paga e não bufa).
B u r a r a —jogo infantil em que se cava um
buraco no chão para se atirarem boias, m oe­
das, pedras.
B ii r r a <la~besteira.
B u r r o , /?/•« , muito.
t 'a b r a homem de cor.
C sib iiln má sorte, indivíduo de má sorte.
t'a .b iiiig o - indivíduo à-toa
<'a\‘u -u iiH ie i.s —máquina'ômle se punha uma
moeda de níquel parayreccber m uitas... dc
vez em quando. /
C .'a rrta d a aniolaçáo /
f a r r t r indivíduo mas^antc.
— Q 8 —

t‘a«*eteá —massar, amolar


( 'a c h o r r a d a —acção vil.
C a d á v e r —credor.
€ 'a d e ia —prisão.
« * 4'afa^ esita< l:i -acto de cafügeste.
—vagabundo profissional, valentão.
<’aíaiM li»—lugar retirado.
C a ^ à o medroso.
€-aga-.sel»o —vendedor de livros velhos ; sebo
somente também,
C a ia r , r a i á - botar muito pó-de-arroz no rosto.
C a ip ir a —roceiro.
< * a ip » r a infeliz.
C’a ip o r i« iu o — infelicidade.
€'ai:va>ilo»fósforoN. e a ix a - d e - fo s fr o —
bonde pequeno.
C’aix:i»d'(»<‘ uEos« e a ix .a -d o e o — indivíduo
que usa óculos ou pince~nez.
<'afií! tolo; não sou cajú que nasce com a cas­
tanha p a ra baixo.
4 a le a u t e , e a r e a u te ~/m , a pé.
« 'a l i s t o —um pequeno cálice.
€ a lo m b o —inchação.
€’a l o t e - não pagar a dívida, calotear, caloteiro,
^ 'a lu n d ii- veneía.
C a m a r a d a , «‘a m a r a d o —nome delicado de
chamar o soldado.
( a m b a - e h i l r a , eaailia-ek irrsi,— (popular
e mais eímológico)—certo pássaro.
C a n d o iig a s . esiiid ou ga— termo de carinho
<"aii«1oiigaeir(K e a iid o n ^ a e r o intrigante
í ’ane<|u in lia— chícara pequena para café.
<i'angallias. e a n g a ia —óculos.
C a n g o t e —parte traseira do pescoço, nuca.
~ 99

<'<111ha I l h a —certo peixe; tão boa ê a canhanha


como a corcoroca,
C anhílo— mulher feia.
<'aniço—perna fina,
C a n ja —coisa fácil
C'aiijerr‘—feitiçaria.
C a u j i e a —o que no norte se chama m iingiizá.
Ca ijiq n in lia —o que no norte se chama can­
jica.
C an oa—grupo de policiais em diligência.
C'aunc1o—óculo de alcance; você há de ver isto
p o r um canudOj isto é, de longe,
c a to —o diabo.
C ap ach o—indivíduo servil.
(Tapado—porco capado e gordo.
C a p a d ó c io —vagabundo profissional, tocador
de violão, valentão, beberrão.
C ap an ga—guarda-costas de político.
C a p a n g a d a —grupo de capangas.
C ap en ga—indivíduo que puxa da perna.
C a p eta —o Diabo.
Capitííto—o interior da laranja quando se cor­
tam com faca os gomos.
C ap oeira, c a p n e ra —indivíduo hábil no jôgo
nacional de defesa.
C a p o e ira g e m , ca p u e ra g e —jôgo nacional
de defesa, como a savate francesa, o box
inglês, o ju d siu japonês.
C a p o te—ter menos de trinta pontos na bisca.
C ara—um—, um sujeito, um indivíduo.
C a r a -d u r a —bonde de bagagens e passageiros;
indivíduo cínico.
C a ra m in g u á —dinheiro.
— 100 —

C a r a i i i e u —partidário do ciube carnavalesco


dos Democráticos.
C arap iiia—carpinteiro.
«T aro am a iio —italiano.
<’areea, qjaereea—calvo.
Ca vi oca—natural do Distrito Federal.
C avoaa—indivíduo que não paga.
C a r r in ^ i« - d e 'm à o —carrinho de ferro com
duas rodas e impeliilo por detrás.
C a rro çsV o —o duble seis do dominó.
C a sin h a - latrina.
ía s t iç a l ilo in fe rn o , caíiçíi cio in ­
f e r n o - pessoa baixa.
C atólico com o juizo inalterado por bebida.
C a t r a ia - indivíduo ronceiro.
C ava i t t i s l a —indivíduo que dá o caváco, isto é,
se aborrece com uma brincadeira.
C avação —obtenção das coisas por meios
pouco dignos.
Ca —d a r o —, aborrecer-se.
C avad o r—indivíduo hábil em cavar.
C a v a la ria n o —soldado de cavalaria.
C a v a r—obter as coisas por meios pouco dignos.
C ax c^ r-en ^ u en g iie - faca velha c h e i a de
dentes.
C a x u m b a —parotidite.
C eb o la —relógio grande.
C eg o n h a —indivíduo de perna comprida.
C h a le ira , ch alera adulador.
C h a le ira r, cliaSerá—adular.
C h a m in é, c b e m in e — cartola.
C h an falh o, e h a a fa io — sabre.
C b aran ga—banda de música.
C lin r u tn —indivíduo de côr preta,
101

C h a t c a n —quarto.
C h e ir o - v o r ílo —cebolinha.
C h e t a — dinheiro.
1 'h i c o t e - q a e i i n a d o —brinquedo infantil em
que uma criança esconde um objecío para
outras procurarem.
C ta ílín d r ó —prisão na delegacia.
l ' h i l i q n e —ataque.
C h i in p a r —atirar.
C ltln C r in i—barulho.
C h i n f r i u i —ordinário.
C h i s p a r , s is p A —correr como uma chispa.
C h iq u ê —luxo.
C h o e o l a t e i r a , c h i o u l a t r r a —rosto.
C’h u é —ordinário.
C h u la —certa dansa.
C li n l i p a —uma espécie de pancada.
C h u iu h a d o —embriagado.
C h u v a —ébrio, embriaguez.
C ig a n o —sovina {clganagem ).
C i u r m a —abreviatura de clncrnatôgrafo.
< 'in z a —s a i r ~ f haver muito sangue derramado,
muita cabeça quebrada.
C 'iv il, r i v i —o guarda civil.
C i v i l i s t a —partidário de Ruy Barbosa, contrá­
rio à eleição de militar.
C lo v e —
< 'o b r e —o dinheiro.
C’o b r r i r o , c o b r e r o —ferida ocasionada por
m ijo de aranha, lagartixa, sapo.
C o c a d a —pancada dada no queixo d e baixo
para cima.
C o c h e —carro que conduz o caixão de defunto
30 cemitério.
— 102 —

C o o liie Jia r , —falar baixo e ao


ouvido.
C’o e lii« ‘I io —acío de cochichar.
C o ch ila r, c n c h flá —dormitar.
C o c h i lo , c n c h i l o acto de cochilar, descuido.
C o c u r u t o —alto da cabeça.
Coi<)—namorado; co ió sem s o r t e .
C o i s í s s i m a -superlativo de coisa , u s a d o
quando se quer negar de modo absoluto:
— nenhum a.
C oli» —apontamentos ou indicações verbais que
os estudantes usam durante as provas.
<l'olar —usar cola ; aceitar jantar.
í^ o la -t iid o —bisnaga de goma arábica.
1 ^ o le ir o -fla -te r r a —certo pássaro.
C o le ir o -d o -r c iiio ^ —ídem.
C o m a d r e —ourinol de doente.
í^ o m e r—ser subornado, entrar na negociata.
Coiuesi c - b e h e s — jantares, banquetes.
^ 'o iiic ta caixeiro viajante.
C o m p a d r e , c n m p ..d e —protagonista de re­
vista teatral.
C o m p r o m e t i d o , c u m p r e m e t í ilo —noivo.
C o n d e s s a , c o n d e s s a — fruta parecida com a
de conde.
C o n d u e t o r , e u n d f t ô — o recebedor das pas­
sagens de bonde.
C o iit in a io , e o n t i n o —empregado superior ao
servente nas repartições públicas.
C o n t r a b a n d o —mulher não legítima.
C o n t r a - v a p o r , e o n t r a - v a p ò — r/c/' u m — ,
opor-se.
C o n r e n t i l h o —casa de tolerância.
— 103

C o M v id a d o —ô m —, isto é, bem arranjado,


bem machucado.
C o q u e —rolo de cabelo de mulher,
C o r c o r o e a —um peixe (v. carihanha).
Cor da— , excitar alguém a falar.
C o r d ã o —grupo de carnavalescos que desfila
pelo meio da rua.
< 'o r o e a —velha desdentada e feia.
C o r o u e l , e o r o n é —roceiro endinheirado e
tolo que estipendia amantes caras.
C o r r e i ç ã o , e u r r e ç ã o —certa formiga.
C o r t a - j a e a —uma dansa.
C o s t e l e t a —cabelo que desce para o queixo
junto às orelhas.
C o t a d o —hem —, com mais probabilidades de
triunfo.
C o tò —truncado, cortado.
C o x id o —prato feito com carne de vaca, aipim,
abóbora, couve, toucinho, linguiça, etc.
C r a v o - d e - d e f n n t o —flor amarela.
C r i a ç d o —(de galinhas).
C r i o u l o —nome delicado de tratar as pessoas
de côr preta,
r i s i i i a r —apelidar.
< 'r is t ilo —intacto, com o juizo inalterado por
bebida.
t 'i i r a -cozinheiro; alteração do inglês co o k ,
C i i e r a —hábil.
C u jo —sujeito, indivíduo.
C i i i i t b a e a —peixe de boca muito feia.
C n iiibu rí# ,—fruto da sapucaia, em form a de
cabaça vazia, larga no interior e com en­
trada estreita ; m acaco velho não m ete a mão
na cumbuca.
— 104 -

C im h a —empenho.
1 'u p iiu —formiga que danifica móveis, casas.
C ia r a iid e i r o , c u r s io d e r o —indivíduo que
cura por meio de beberagens, rezas, etc.
C u rio sa —parteira não diplomada.
Cutul>a—de primeira ordem.
C iH u iiii*. r u t i i r á —outra forma de catucar.
O a ii a d o —íerriveí, ousado.
O a n d ii—modo carinhoso de ensinar as cri­
anças a a n d a r : dandá p a gan há tentem,
lia r sair premiado (bicho).
iV ebíq u ista—indivíduo que gosta de debicar.
H e e it l id o —indivíduo que não trepida em dar
pancada.
D e e I a X-a çilo — {scilicet a morosa).
d etá —pôr galinha ao chôco.
Ite-m e a - r a r a - de graça.
l> e -m e ia -jo ta —idem.
líe iM o c r a tíí partidário do clube carnavalesco
dos Democráticos.
O í*priidura—má situação.
D e rre te r-se , si d e rrete—fazer corte, na­
morar.
De.sabr:lado—sem escrúpulos.
D e sb a g a d o — sem bago (dinheiro).
D esí‘a lç a d e iia . d e se a lça d e ra —descom­
postura .
D eseiiib estar, d e sim b e std —tomar o freio
nos dentes.
SiesM iaurlia-prazer—indivíduo que sobre­
vêm para aborrecer a outros que se estavam
divertindo.
De sm ítuebo—aborto.
D e sp a e b a d o —indivíduo sem cerimônias.
- 105 —

O e s v i o —esifc/* no—^isto é, desempregado.


a > ia b r e t e —jogo em que se esconde uma carta
e se emparelham as demais até se descobrir
qual foi a escondida.
(1 ilig e u v « i—antigo veículo para
passageiros.
l> lp lo iti:ie ia ., d c p lo m a e í» ~ c e rim ô n ia , de­
licadeza.
O i r p a r a r , d L s p a r á —fugir.
5 intriga.
9 > is ti'ito policial),
O iv i n o {scilicet Espírito Santo).
O o d o i—termo infantil; estar—, isto é, doente.
D r o g a —coisa que não presta; d ar em
D o n t o r , d o t o —ourinol.
D m i g a —o dois de ouros, de copas, etc.
K l é r t r i r o —bacharel—, indivíduo que se for­
mava em pouco tempo, rapidamente como
a electricidade ; fazia dois ou tres anos do
curso na mesma época.
1i^iubaçai% i m b u ç a —enganar.
K im b a tn r a iv i n i b a l i i c á ficar perplexo.
d m b í r a , i m b í r a —certa corda, estar na— ,
isto é, em má situação.
X lm b o S a r, i i u b o l á —agarrar-se a alguém para
brigar.
m n ib o n d o —complicação.
K m b r n l h a r , e i n b r u i á enganar como um
comerciante o pode fazer pondo dentro do
embrulho um gênero deteriorado ou de
pouco valor.
K ia p a c la ^ im p a d a - indivíduo imprestável que
que fica ocupando lugar.
lü in p a ta ., i m p a t a —indivíduo que traz c o -
— 106 —

acção a outros que querem fazer qualquer


coisa sem que êle veja.
f]iiip e l& o a d o , l i u p i l i e a d o —nascer—, isto é,
ter muita sorte.
K m p i.s to la r —dar p isto lã o .
K n i p a l l i a r . i m p u í á —impingir.
K i i f a í l e r n a v d o —terno de roupa.
áOai<‘a f i f a r —
K n e a la c r a i% e n c a l a c r á —endividar.
f<iiK‘:ili^ tr a i% i u e a l i s t r á —ficar envergonha­
do.
JH üiieapotado, in e a p o t a c l o — de asa caída
(pinto).
T ]m ''araiiga]ji'. í n c a r a n g á —entrevado.
K m p a r a p it a r . i n e a r a p i t i á —trepar, empo-
ieirar-se.
líiio a iT c g a c lo —indivíduo que toma conta de
casa de cômodos.
X / iio o m e n d a v , in o n m e u d á — fazer uma fei­
tiçaria contra um indivíduo.
K i i c o s t a d o —funcionário que não é do quadro,
F i i e r e i s o a , in c r e n e a ^ —dificuldade, compli­
cação .
l í n c r c i i c a r s i u c r c i i c á -ficar difícil,
l í u c r e s p a r , i n c r e s p í i —rebelar-se.
K iiá r a q a e c f id o —vestido de fraque.
lí o g a i i i S x - l a r , i a g a i u h c l á —adular,
l í n g a s g a —íç a lo —peixe de espinhas miudinhas,
líu g - r a .v a te , i u g r a x a t e - engraxador de bo­
tas .
l í n g r o l a r —falar inexplicada, gaguejadamente.
lín g r o s > s a d o r , iii g r o s s a d d —indivíduo que
en grossa.
— 107 —

Xiiigroí^sameiito, in g r o ssa m e iito —acto


de en grossar.
E n g r o ssa r , iiig ro ssá —adular.
E n g u iç a r , iugtii<;á- não querer funcionar.
E n jo a d o , iiijiiad o—indivíduo que aborrece
a outrem.
E u jn d a d o —^parecido com um Ju das.
E n rasrad a« ãnrasrada—situação má.
E n ta la d ela ., iiit a la d e ia —situação de so­
lução difícil.
E n ta u lia , in ta n h a —sapo enorme.
E n tie a r , in t ic á —implicar.
E n to r n a r , in to r u á —beber.
E n tu sia sm a d o , intu.siasm adu—cheio de
si.
E n v e n e n a r —atribuir maus propósitos.
E n x e r id o , iiiv ir id o - metido onde não é
chamado.
E sb o d e g a r, isbud^^gá—destruir, deteriorar.
E seafe der-se—muscar-se.
E se a iu a d o , ix e a m a d o —estar—, ter expe­
riência.
E sea rra p a eh a r«se—sentar-se abrindo as per­
nas.
Es€‘ova<leIa, is e o v a d e la —repreensão, cen­
sura.
E sp a llia r-se , s*ispaiá —desafiar.
E sp aiid on gad o —desasado.
E sp a n iio la , í.^-panhola —a epidemia de gri­
pe de iQlôque se disseminou pela Alemanha
depois que da Espanha chegou um subma­
rino com marinheiros doentes.
E s p a i i l a - e o l d —artigo pirotécnico que estala
quando piando.
— lOÔ —

C ^ sp e e ia l, i ^ p i e i á —bonde não público.


K s p ig 'a , i s p i g a —má aquisição.
Jí^^spigado, is p i^ a d o - s a ir fazer má aquisi­
ção.
E s p i n a f r a r —retrucar com vantagem.
E s p o n j a ébrio.
E s q ^ n e u ta d o —alcoolizado.
l<Ls42nerdo, i s q u o r d o — d e—, isto é,
de des mtendido.
E s 1 r a la d a i s t r a l a d a —b ar uIhad a.
E s t a l a g e m . is t a í a f ç o —habitações colectivas
com que a Saúde Pública está aos poucos
acabando.
E s t a l o , i s t a l o —composição detonante e ino­
fensiva que as crianças atiram ao solo.
E s t o p a d a . is to p a d a .—aborrecimento.
E s t o u r a r , i s t o r á —desbaratar.
E s t r a n j a , í s t r a i i j a —o estrangeiro.
E s t r e p a r - í< e , s ^ is tr í p á —sair-se mal.
E s t r e p e —indivíduo que não presta.
E s t r i i a r — dar o estrilo,
E s t r í l o —g"iío da protesto, raiva.
E s t u p o r a i* , í s t o p o r á —apanhar vento (a quei­
madura).
E x p l i e a r - u e , s i i> p l i e á —pagar,
E x t r a v a g a i n t e , i x t r a v a g a i i l í '- - ii'dÍvíduo
dado a orgias.
F a c a d a —pedido de dinheiro.
F a e e i r a r - s e , s i f a e e r á apelintrar-se.
F a r e i r i e e . f a e i r i e e —acto de ser faceiro.
F a c e i r o , l a e e r o —pelintra, elegante.
F a c h a d a —o rosto.
F a .le a t r u s i, f a c a t r u a —tratantada.
F a i i d a g n a ç u grande fandango^ baile.
— 109

F a q a i s l a —manejador de fa c a .
F a r o f a —jactância.
F a r o f o i r o , l a r o f e r o —indivíduo que faz f a ­
rofa.
F a r o l —anel de brilhante.
F a r r a —orgia.
F a r r i s í a —freqüentador de fa r r a .
F a t i o t a —terno de roupa.
F a v a —m andar à —, mandar bugiar
F a x i n a —trabalho grosseiro de quartel.
F e c h a — f e c l i a —pânico que faz os negocian­
tes fecharem suas casas por ocasião de
barulhos, meetings, etc.
F e i j ã o , í e j ã o —sub-oficiaí comissário da Ar­
mada.
F e r r i n l i o s , f e r r i n h o —instrumento musical,
triangular, feito de ferro.
F e x iiih a — uma arriscar pouco di­
nheiro .
F i g u e i r a , f i g u e r a —plan tar uma—, cair.
F i g u r a ç ã o —/ízaer uma~~~y fazer bonito.
F i g u r a n t e —pessoa que dansa a quadrilha de
lado oposto ao marcante.
F i l a r , f i l á —não comprar cigarros para fumar
os dos outros.
fa z e r também o seu , aproveitar-se também.
F i a a l —algarismos terminais dos bilhetes de
loteria, correspondendo aos do jôgo dos
bichos.
F i n g i ç ã o —pintura que finge granito ou már­
more.
F i n g i d o r , f in g id ô —pintor \2íl fin g iç ã o .
F i t a —ostentação mentirosa.
F l t e i r o , i i t e r o —indivíduo que faz fitas.
110 —

F l a u t a —indivíduo preguiçoso.
F l a u t e a r , f í o t i á —não cumprir o prometido.
F l u m i n e n s e , f r u m i n e n s e —natural do Es­
tado do Rio de Janeiro.
F o í ç u e t e —reprensão.
F o l g a —passageiro cuja passagem não foi co­
brada antes da chegada do fiscal do bonde.
F o n ó g -r a fo —indivíduo que repete as coisas
inconscientemente.
F o r a —dar , retirar-se.
F o r m i g ã o —seminarista.
F o r m à g u e i r o , f u r u i i g u e r o —multidão.
F o r r o b o d ó —baile.
F o s q u i u l i a — mofa.
F r a r e à o —fracção de bilhete inteiro de loteria.
F r a u r O s —falso; fa la r —, pagar.
F r e g e o u ír e g e - m ô s r a —casa de pasto de
ínfima classe.
F r e s e a t a , à —sem paletó ou com roupas leves,
F r o n s i i p í e i o , f r o i i s p i ç o —o rosto.
FroM A o—pouco enérgico.
F r u t a - d e - e o ia d e —nome vulgar da anona {ata
ou pinha em outros pontos do país.)
F u b á —farinha de m lho, arroz, etc.
F n i n l i a —cara d e—, rosto fino.
F u m a r , í i i m á —zangar-se.
F u n ç s lo , 1o i i <;íío —baile,
F u n g a g á —música.
F u r a - b o lo ^ , f u r a - b o l o —o dedo índex.
F u r i í o —indivíduo que sabe abrir caminho, ar­
ranjar coisas.
F u t i c a r , f u t i e á —coser mal e ás pressas.
F u s r i c a r , f u x i e á —intrigar.
F u x i c o —intriga.
111

Fu xilai*^ f a z i l á —estar com a maneira da saia


aberta.
d a f o r í n l i a —cabelo em pé.
O ale^ço—português.
O a l i i t l s e i r o , jja liiih < ‘r o —as galerias do te*
atro.
C S a lo p a « te —tísica que mata em pouco tempo.
C r a n e ii» '—pequeno serviço remunerado.
O a iilia i% íç a u h á —sahir premiado (jogo dos
bichos).
C iía ra p a —caldo de cana, coisa fácil.
G a r g a n t a —indivíduo que não cumpre o pro­
metido ou que está contando uma mentira.
G a r i —varredor de rua; há uns trinta anos a
Prefeitura contratou o serviço de limpeza
das ruas com a Empresa Gary.
G a r ib i il« le —p ã o -d e -ló enrolado e c o m
marmelada.
G a s g n i t o —indivíduo de voz esganiçada.
G a s p a r i n h o —bilhete de loteria.
iioítsk,—am arrar a - , tomar uma bebedeira.
G a t o —partidário do clube carnavalesco dos Fe-
nianos.
tit a to - p íiig n d o —indivíduo sem importância.
G a u d e r a r , g o d e r á —ficar perto de pessoa
que está comendo, para ver se ganha um
pouco do que está sendo comido.
tiia iid c rio ^ g o c io ro — indivíduo que g a u d e r a .
Ga z r t a — —, deixar de ir à escola para
ficar brincando pelas ruas.
G e l a r —fazer uma canalhice.
G ê n e r o s — {scilicet alimentícios).
G e r a l — a entrada mais barata nos teatros c
drcos,
— 112

O e r in g o iiy a —coisa desajeitada.


G i g a jo g a —
© i r a —adoidado.
© i r a f a —indivíduo alto.
© o c l a —indivíduo ambicioso.
© og’<^—pomo de Adão.
© o í a —ataque de~~, ataque epiléptico; mal d e —,
epilepsia.
© o t a - s e r e n a —amaurose.
© r a d e s — prisão policial,
© r a v a i i ç o —hora do —; isto é, da comida,
© r a v a t a —laço que os ladrões atiram sobre o
pescoço dos incautos que à noite passam
perto de muros.
© r a v a t e i r o , g r a v a t e r o —ladrão que atira
gravatas.
© r i m p a r . g r i m p á —recalcitrar.
© r i i i g o —pessoa que fala com sotaque espa­
nholado.
© r o íig a —coisa.
© r u d e —comida,
© « t l e —jogo infantil com bolinhas de vidro.
©nln<^— madeira de que se fazem figas.
© u r i —menino.
© u r i z a d a —meninada.
l l a b i l i t a r - . s e —{scilicet para a sorte de S. João,
de Natal, comprando bilhetes de loteria).
H ó s t i a —fatia fina de queijo.
I g r e j i i i l i a —reünião de pessoas dispostas a se
ajudarem, aplaudirem, etc. mütuamente.
(saV/ce/ de se aturar^.
S n ip r o v is a d o —orgulhoso.
In a n a — começar a — , frase que se diz
quando uma coisa vai começar. Em iô97
113 —

havia na rua do Ouvidor uma mulher, a


Inana, que flutuava no espaço sem nenhum
ponto de apoio. Na porta um italiano gri­
lava : A Inana vai com eçar a prin cipiar!
ffiiíV‘rn'^1—pedra —, o nitrato de prata.
f u U u í c lo —alegre.
Í M je c ç ílo —aborrecimento, massada.
f n ^ e e t a r , f n j e t á -aborrecer, massar.
i3n.'9ta3aç>iTo, iistaía-eslo. — eléctrica).
slneo^ is ta n a ta n o —{scilicet retrato).
l i i t e i * e s ^ a i i t e —estado —, gravidez,
l i i t r a j â i o —receptador de objectcs furtados,
f í i c a r , ise A —açular o cachorro.
Ja.5> otiertI»a—mulher de c6r preta.
J a b u r u —indivíduo íristonho.
J a r a —chapéu côco.
J a a t a r a J o —almoço às quinze horas nos do­
mingos.
J e c a —matuto (Do conto de Monterio Lobato).
J i n j » a r , j i n ^ á —sacudir com o corpo.
J i r a u — arrumação de madeira.
J o ç a —coisa.
J<»iig'o— dansa de pretos.
J i i c l a » , Ju < la —boneco de pano que as cri­
anças queimam no sábado de aleluia, in
divíduo mal trajado.
J u n t a i ^ jw i i t í í— amasiar-se.
J u r u r u —triste (aves).
—recriminação longa.
f..a^alh4é—indivíduo sem importância.
\nx\fk—am arrar a —, deixar de namorar.
ÍA e tr it—fa z e r , d a r uma- , fazer bonito.
F V—{scilicet importância).
— 114 —

f^iingua-de-K Q ^ra—assovio carnavalesco que


se desenrola com o ar.
J i i n ^ n i ç a — encher—, tomar tempo.
I L o m b e ir a , l o i n b e r a — preguiça.
.'9]la4‘a<*oa—moléstia que de vez em quando
ataca uma pessoa.
5 Ia í'a iiib iiz io --tris to n h o .
^ a e l i a i i i b o i n b a —antigo veículo para passa­
geiros.
^ la e b a ^ a r ., i n a c n e b á —enraivecer,
i t l a f a á —pequeno parque com barraquinhas de
jôgo, música, eíc.
M a la c * a Á 'n to —raquítico, eníermiço.
]U a !-a Ja m b i':id $ > —mal vestido,
m a l d i t a , m a r d i t a —uma febre.
m a lh a i% i n a í d —surrar o Judas,
m a l í e i a - d e - u i u l b e r , m a lic * e -d e -m iii^ —
a sensitiva.
H a i n a d o —bêbado.
m u o i a t a —comida.
M a i u p a r r e a r , i s i a m p a r r i á — contempori­
zar.
m a n á —coisa boa.
m a n d i n g a —feitiço,
m a ii d iiig a id a —feitiçaria.
m a n d i i i g n e í r o , i n a n d i n g i i e r o —feiticeiro,
m a n g n a id —pistola—^pessoa alta.
m a n t e i g a , l u a i i i e g a —í/cr—, facilitar apega
(nos jogos infantis).
m a r a v i l b a , m a r a v í a —um pastel,
m a r e a - d e - J u d a s —indivíduo baixo,
m a r e b a n t e —o que m archa.
m a r e b a r , m a r c b á —dar dinheiro.
115 —

.l i a r i a m i j o n a —mulher com saia muito com­


prida.
l l a r i i K i b a —mau piano.
l I a i ’inili<‘l r o , m a r i n h e r o arroz com casca,
l i a r i a Ia doce de goiaba ou banana, enrolado
em folha'de bananeira (— de capote).
l l a r m e l a d a —a nota má, que começa por m.
l l a r o m b a r . m a r o m b a — atirar pedras, ten-
tear.
l l a r o i s e a —esperteza.
l l a r o t e i r o —esperto,
l l a r r e r o —indivíduo ladino.
.T la r r e q w iiilia —prostituta da rua das Marrecas.
.IB astij^o—comida,
l l a t a - b i r l i o —aguardente.
l l a t a - f o m o —doce farinhento e grande.
T ía ta N g a le g o — de o dia 7 de Setembro.
lIata«mo.H<^l}nito—empregado da Saúde Pú­
blica.
lla i a - p x o llii o s , a i a t a - p i o i o — o dedo po­
legar .
l l a t é r i a —pus
M a x i x e —uma dansa requebrada.
M e d a ilifto —figurão que já teve valor e que
continua a ter por inércia.
—chícara de café, maior que a cane-
quinha.
lle io - q la i l o —indivíduo baixote.
l l e li n « lr o .s a —moça exageradamente elegante.
H e iM lu b i—o amendoim.
M e x e r , m e x e —implicar.
I I e x e r i q u e i r » , m i x i r i q a e r a —a tangerina,
porque se denuncia pelo cheiro.
M i i a i c a —maminha.
116

M in a —coisa que se póde explorar.


lli i M l i n l t o —0 dedo mínimo,
um lamaçal.
M is t o —bonde que recebe passageiros e carga.
M i t r a —0 uropígio das galinhas, por sua forma
pentagonal.
M iu d o s —interior do boi.
M oelftiSa—corcunda.
M o e o tó —^{lerna de vaca.
.t l o c r , im if*—enraivecer.
M o l lia d ii r a , n i o i a d n r a —gratificação.
M ondroiig-4; português.
M o r d e d o r —indivíduo que m orde.
3 í o r d e r —pedir dinheiro emprestado.
M o r t a lh a ., r.i«orT,aia— prpel de cigarro.
M o s r a —indivíduo que fica importunando nâs
casas comerciais; co m er—, ser logrado.
M o s r a - m o r l a -moíeirâo.
3 I o x í u i f a d a —coisa desordenada,
iviínam ha—feitiço, contrabando.
M a q ia r —músculo; a —, à força.
M a r iiia d n —
M n x i b a —maminha pelancuda.
^ 'â L o -n io -to q u o s—
]I¥ a v iz -d e -fo ra —trecho que nada tem com o
assunto que deve ser tratado (nas provas
escritas de exame).
^V eneii—estar a —, isto é, sem dinheiro,
ílíe r v o s o -nervosidade; estar com u m ~ .
] ^ ie o la a — moeda de níquel.
O b r a casa em construcção.
O flf-sid e, o f - s a d r —(termo de futibol) excluído.
O lh o - d e - b o l, ô io - d e - b o i- - u m coquinho,
ôlho grande.
— 117

< (lh o -*d e -m o stq iiito , ô i o -d o -m o s q u it o —


brilhante muito pequeno.
O llio -fle -^ a n ta -I^ n z ia — berloque represen­
tando dois olhos arrancados.
O iiz o - lo t r a s , o n z e - l e t r a —alcoviteiro (pala­
vra que tem onze letras).
O p a irm ão d a—, beberrão.
^D oehata—indivíduo que usa roupa branca em
dia de chuva.
O s t r a —indivíduo que custa a largar de um
íugar.
P a e h u l a —elegante ridículo.
P a c h o r r a —paciência.
P a c h i i e l i a d a —bambochata.
P a i- t f o íio - fantasia carnavalesca d e preto
velho.
P a m o n l i a — mingau de fubá de arroz, envol­
vido em folha de bananeira; indivíduo
mòleirão.
P a i i o l a —o foco do formigueiro, molar muito
deteriorado.
P a n e l i n h a -V. igrejinha.
P a n g a r c —cavalo que corre ma).
P a n q u e c a —pândega, coisa fácil, b o a .
P a p a —///zc, coisa boa.
P a p a - g o la h a ., papa-q^iiaiaha^— natural de
S. Gonçalo, lugar onde ha muita goiaba.
P a p a - h ó s t i a - indivíduo que comunga f’*e-
qüentemente.
P a p a - m o « c a —unia aranha.
P a r a f u s a r ., p a r a f u s á — meditar.
P a r e d e —greve.
P a r e i l r o —maioral (termo ressuscitado p o r
Coelho Netto quando em J910 propôs na
llô

Câmara uma saudação aos republicanos


portugueses).
P a ta (| u e ii* o , p a t a q n e r o —empregado que
nos circos acende as luzes, apronta os
aparelhos, etc.
P a u - aborrecido.
P an i»d ’á g a a —ébrio.
P a n -c le » e a E > e le ira —indivíduo que auxilia um
namoro.
P a 11-d e - v i r a r - t r i p a —indivíduo alto e magro.
P é - d e - a a j o —pé grande.
P a u - v e s t i d o —indivíduo mal feito de corpo c
deselegante embora bem vestido.
P é - d e - a l f e r e s —fa z e r seu —, fazer a côrte.
P é - d e - e a b r a —alavanca bífida com que os la­
drões arrombam as portas.
P é -d e -u io le c | iie —doce de açúcar com amen­
doim .
P é - d e - p a l a — o diabo.
P r p é —indivíduo que capenga.
P e i x ã o —mulher grande.
P e ix e -e í^ p a d a —o sabre dos polícias.
P e íe y ia cédula de papel-moeda.
P e u e i r a r , p e i i e r ã —chover levemente como
se fosse através de uma peneira.
Pt^netra^—indivíduo que entra nas festas sem
ser convidado.
P e p i n e i r a . p e p i u e r a —coisa que se explora.
Pi» r íi a i i i b u e a n a —navalha.
1’^ eriióstSeo—falador.
P e r o b a —aborrecido.
i * e r u —indivíduo que rodeia os que jo g am ;
trote em que os estudantes põem o paletó
às avessas.
119

P e r u a r —ficar como peru,


P esaílo ^ en caip o rad o
P e s c a r —aventurar em exame.
P e s e ía — hoa indivíduo que não presta.
P e t a — mentira.
P é - t e m —coisa em que a pessoa se pode firmar,
pôr exemplo, no jogo do dominó, pedras
em que se baseiam cálculos de ganho.
P i c a r e t a — indivíduo que sabe cavar as coisas.
P i d à o —indivíduo que pede muito.
P i f í i o —bebedeira.
P i l e q t i e —idem.
P i l h a —indivíduo irritável.
P i l o t o —indivíduo zarolho (porque os pilotos
fecham um dos olhos quando fazem suas
observações).
P i n d a íto a —falta de dinheiro.
P íM g a —bebid?.
P i i i g c i í t e —indivíduo que fica seguro ao es­
tribo do bonde.
P i» ig o -d ’a g » a brilhante falso.
P i s i o i a —coisa que não presfa.
W *ipi~ f a z e r —, ourínar (infantil).
P i q u e —brinquedo infantil.
P i r a t a —indivíduo sem escrúpulos, tratante, en­
ganador de moças.
P i s a - m a i i s i i i h o —indivíduo dulçuroso.
P i s e a - p i s e a —indivíduo que tem o cacoete de
piscar os olhos.
P is to ls lo * —carta de empenho.
P i v e t e —menino de que os ladrões se utilizam
para a passagem de frestas de portas ou
janelas.
— 120 —

P i x u t e —esplêndido, elegante (do francês


pschu tt).
P i a n i s t a — indivíduo fértil em planos.
P l a t a f o r m a —discurso em que os candidatos
á presidência da República ou dos Estados
expõem seu programa.
P o l e i r o , p i i l e r o —as arquibancadas do circo.
P o m a « la —empáfia.
P o m a < lis :a —indivíduo que tem pom ada.
P r a g a —piolho de galinha.
P r e b e u d a —«OTíZ boa—^ coisa que não presta.
P r e p a r a ç ã o —feitiço.
P r e s s ü o —colchete de pressão.
P r e s t a ç ã o —homem que vende objectos a pres­
tações .
P r i n e ê s —fantasia carnavalesca à Luís XV.
Pr«í:t —orgulho.
P r o f e t a —acendedor de combustor de gás da
rua.
P r o u t i d d o —falta de dinheiro.
P r o s i t o —sem dinheiro.
P r o s a —adi. jacíancíoso ; subst. conversa, nar­
ração jactanciosa.
P r o s i s t a indivíduo que gosta de contar
prosas
P i i u g a —indivíduo sem valor.
P u x a d o —construção ligeira anexa a um prédio.
P n x a - p n x a —uma bala pegajosa.
t| E ieb ra—d e—, alêm do que se compra.
< | u e b r a d e ir a , q u e b r a d e r a -falta de di­
nheiro .
t| n e b r a d o s —dinheiro miudo de trôco.
Q u e b r a d i i r a —hérnia.
121 —

Q i i c i jo , q i i e j o —t* um—, é uma coisa difícil


de se \zztx\—do-reino, calva.
Q u e im a , q u e m a —liquidação a qualquer
preço.
Q u e i m a r , q n e iiu t —vender a qualquer preço,
—se^ aborrecer-se.
Q u i m b a i i c í e i r o —feiticeiro
Qu i ml i n s — pessoa de quem F .
gosta muito.
Q u i< ;;»qiie—antigo botequim barato em pavi­
lhões nas ruas e praças.
C la ijta n d a —coisa que se traz arrumada.
^ ( u iz ila —birra.
K a b a n a f l a —arremêsso.
R a 1 > e e ila ~ carro que conduz cadáveres ao ne­
crotério .
R a b i r l t u —namoro.
R a b o - d e - a r r a i o —certo passe de capoeira-
gem.
R a II elo a - grupo de carnavalescos.
R a i i z i i i z a —impertinente.
R a n z iu z a v—ficar ran zin za.
R a s t e i r a , r a s t e r a —passe de pé para fazer a
pessoa cair, cilada.
R a t o —ladrão aduaneiro
R e b a t e r , r e b a t e —fazer descer o bolo ali­
mentício,
R e b im b a r —
R e b o e a r « r e b o e á — levar alguém para algum
lugar.
R e b o q u e —carro engatado ao eléctrico.
R e e o - r í ^-o—instrumento que faz um barulho
que se traduz por estas duas sílab as.
R e e r u t « i, r e c u l u t a —inexperiente, neófito.
— 122

R e s o l v i d o —disposto a tudo.
R o d í z i o —certa manobra eleitoral para fazer
vencer uma chapa completa.
R ô l o —barulho, briga.
R d t n i i i —porta e janela com veneziana.
R o u p a - v o llia . K *o u p a-v ela—comida que se
faz com os restos do cozido; doce que se
faz com restos de outros.
R os^o—severo.
SabãLo—repreensão.
S a í*o -i*ô to - indivíduo incapaz de guardar um
segredo.
S a i a - d e - b a i x « — o que no norte se chama
an ág u a.
S a í d o —assanhado.
S a lg a d o —caro.
S a ls e ir o ^ s a r s e r o —barulho, briga.
S a m b a —baile.
S a m b a r , s a m b á —bailar.
S a n g r a r —dar resultado (v. facada).
S a n g r i a —vinho com água e açúcar.
San ta^ -llm zia—a palmatória.
S a p o r a - assanhada.
S a p e r a r , s a p e r á —intransitivo—ser sapeca^
transitivo— atirar.
S a p o —fiscal disfarçado (da Prefeitura, áz.Lighf).
S a r i l l i o —barulho, briga.
S a r n a —indivíduo massante.
S r e i i a — demonstração espetaculosa.
S e i s n i a r , ^ ris iu á .—antipatizar.
S e r r e i a —agente da polícia secreta.
S e g u r o —sovina.
S e r e s t a —serenata.
123

f4ere'4t^ irí», s e r e s t e r o — indivíduo que faz


serestas.
S olar —cozinhar mal (bôlo).
.S o l i t á r i o —jarro comprido; anel com um bri-
Ihaiitão isolado.
S o n d a r , so iad á informar-se caladamente.
S o p a —coisa fácil.
S u c o -coisa excelente ; é o —
S u iío —tífíz/* 0 — , reiirar se.
S n j o - o diabo.
T a o lio — piano velho.
T a p a d o —burro.
T a p e a r , t a p i á —enganar.
T a s c a r , t a s o á —rasgar (balão).
T a x i , t a q u e s —automóvel de praça com taxí­
metro .
T e b a s , te to a —indivíduo hábil.
T e l e í b i i a d a - telefonema.
T c i i d i n l i a —botequim baraío que substituiu os
antigos quiosques.
T e s o u r a —maldizente.
T e s o u r a r , t i s o r á —falar mal.
T e s t a m e n t o —carta grande.
T i a —solteirona.
T i ç à o —negra.
T i e o t i e o -escola primária.
T i n i r , í i i i i — estar a - , não ter dinheiro.
T i o —'indivíduo de côr preta.
T i r a - t e i i n a s , t i r a - t e n i a —o revólver.
T i r i r i c a —//íTfír— , ficar aborrecido.
T i r o —dramalhão que rende dinheiro em deter­
minados dias, como, por exemplo, Os dois
P rose ritos no dia i ° de Dezem bro.
T o r c e d o r —pessoa que torce.
124

'J’o i‘cefi’, tr o i* ê —fazer votos pela vitória de al­


guma causa ou pessoa ou sociedade.
T r a l » » l l i a r , t r a b a i á —roubar.
T r a b a l h o , t r a b a i o —feitiço.
T r a jç a r , í r a g á —engulir a fumaça do cigarrro.
T r a n s a ç ã o —indivíduo que vive de expedi­
entes.
T r a s t e —indivíduo que não presta.
T r e i n p e —grupinho de pessoas que andam
sempre juntas,
T r e p a - m o le q w e —um producto pirotécnico.
T r i b o t e —esperteza no jôgo.
T r i n e a - e s p í i i l i a —valentão,
T r i s i q u e —moda.
T r o ç o s —objectos, moveis.
T r o m b a —cara amarrada.
T r o í e —brincadeira para envengonhar alguém
(estudantes).
T r o u x a —tolo,
T i i r i i m b a i u b a —barulho, briga.
T o r u j i a —indivíduo de valor.
T u t u —indivíduo de importância.
I " r s o —indivíduo insociàvel,
X ^ ru eu baeis - -gettatura.
V a r a —pequeno rateio para pagar as despesas
de botequim,
^ «■^rbo— deitar o —, fazer discurso.
V e r m e l h i u l t a —jogo de cartas em que entre
as de paus e espadas há uma de ouros ou
copas, que a pessoa deve mostrar para poder
ganhar.
V ig é s im o —fracção de bilhete de loteria.
V í r g u l a —palavra com que se reclama uma
excepção ao que se está dizendo. I :x ; vi
— 125 —

ern tal lu g a r Fulano, Beltrano, Sicrano.


Beltrano, vírgula, in te r v é m B e ltr a n o .
X a d r e z —prisão.
X a ro p a d a —coisa massante.
X a r o p e — massante.
X iit a r —dar um x u te .
X iite — pontapé (futibol); do inglês shoot.
K ebra— b u r r o .
5 K ( '-l* e r e ir a —g ravidez.
!ííiiih o = m o c in h o nam orado, é o sufixo dim i-
nuíivo, desagregado de radica! algum e
com vida p ró p ria : Quem é aquele z in h o que
vai a lil O italiano apres-^^nta caso anáígo
com o sufixo accio.
S o u a —região urbana, parte de um arrab ald e;
conhecido n a —, co rrer a —, estraga d a, lugar
0 !ide vive gente de classe b a ix a.

— o

L
■íí,

c». J
Observação
Is to n ã o p a s s a d e u m a te n ta t iv a d e v o c a b u l á ­
rio d a s l o c u ç õ e s p o p u la r e s d o R io de ja n e iro ;
é u m li g e ir o e s b o ç o q u e o u t r o s p o d e r ã o m e l h o r a r .
R e co n h e ce m o s q ue há quem m e lh o r d o q ue
n ó s , p o d e f a z e r ê s te t r a b a l h o . R a u l P e d e r n e i r a s ,
o a p r e c i a d o a u to r das Scenas da Vida Carioca,
E ly s io d e C a rv a lh o , o c o m p ila d o r d o d ic io n á rio
d e g í r i a , C a r l o s B i tt e n c o u r t e C a r d o s o d e M e n e z e s ,
a p a r c e r i a q u e n a s c e n a te a tr a l ta n t o te m m o s tra ­
d o c o n h e c e r a a lm a d o n o s s o p o v o , O d u v a ld o
V ia n n a e ta n to s o u tr o s .
N is to , c o m o e m t u d o , n o c o m e ç o é q u e e s tá
a d if i c u l d a d e . A p areçam (>s a p e r f e í ç o a d o r e s .
T>-f6 f i. >

^^^■
v^' >. Vv. ”) . ■ ■ ■ '■ ■ . "1^
1' ■4>- ‘ .
' r“ í> •

iMíRlvf;v''*•’
' v '
t.1,1 í^-r
\A
rrr

íi‘.*, 'r^ .-., ‘ ,' ■


:. - 'í

í> v il»
...
^» V*** J- •
^
'“
S y ,-: 'í
,1
^ > r - ' • :■

'ii>' .•.’'i'^~2iv.ffl"'

■• , "'•?:'"';•■ . ' Ma:— . ,..


wmm k ■'

' 1^•'V 1» ^ •mi ..▼


|'.V• ■."rv
. . 1‘; ■ ' ' ' :JQl!
* «

-■ .r- #■■■■ ' * * 1 ■; >' ■' ■•' ■•’<J--'- f ; í 5 ;# r j


ti -^ílfU
-: > ■ ,
PT^ r ^ '♦ ■ ‘ í i ' '* • •■ '» ' i t * f i" ' •■•■•é' - >^,4 -‘ y •* í ’< ^ V £

n|^ V^ i jt* tV’ 4. Í^if!'&i/Tllí *' ^ '^t,' ‘ • ■I'* ' ’■^

V-
4-^ ^■-■;:^:í <
■4*. • '*'_.-J.
í ,.4 uv - .4 ■ , r - ': ,
? S - :- ^ H k-
, V . «'^v. ;y •• . ..f . . •

f e b - W i í e á L '. ^ * ^ •
/ .«V’-.\
: v ,/;.
;•< •“.
*4

■■ -m
Si •t:
;í?3 ••■rí'
- • "*•■ -. - i :^ '
ÍT T
. í..
/ ,. r :
^ 7 ^ 'S V A- \\ \ :''
M‘/ V"^* i'' r».*^ ■'■ /7' * : i-; V

'•V.t •

\>
s , . , , -
I
^ É k lJ:l'4 '.-'-T ^ T r í''a ^ 4 i M. -''-.-no. " - - - --^
' / ■< w

jy

L’- ' : - ■<'.;•: ■, v / V ; ■ • ^ ^ y v v • ■ ^ . ■ l P \


1 \

<<■ >' *

* í r ;- • ;

* / #* ■♦-/■, ’ í <
OUTRAS EDIÇÕES DA LIVRARIA SCIENTIFICA
BRASILEIRA
Arahit fic (tp/hireccr: • ' \
CO..Cri|r<>JAí:Tl.TAL d a v i d a , por E . Roiiiie*te-rrníÇK^
Mnsoii 'Nacional e da-Univcrsidade do I’arai:iin\’)
A <; prrJo
l\'TRnui;C<;:Àí> A TMF.n|?IA DA RELAnVlDADF. í>or- -
' Aiii >ri■,o Costa !a Escfda Polvtecbnica), **
DlRFir-» COMWERCIAL, por Alfredo Rns$e!l (da PacnUUdc
do Iiiroit») do Rio dc Janeiro). . :
JS r j>n'paraçíio:
\ot'lCIA> AT1’ AZADAS, por CajnNtrano de Abreu (d<^C|gllç^
■..k' l'edro !l).
FRAOMI NTDS F. RELÍQUIAS, (inéditos) de Eiich')fep j
Ctinlia ^
INTKODI 'CÇAO AO FS i L'DO ÜA-CHLWICA, por Jiilio 1 o h ^ ^ ; ’
^ wTuin Tda I’oI\tovdiiiii a'». ‘45* A*
A llO in i,'!\ W TD RAL '..A ESCOLA PRIMARIA, por •.
4 Iv ciaoíle 1’intn (do Museu Nacional)
” a SII\ 'Nt‘MLA DE- vkWÍP' », por Mlvrio de V.attps (do Obsèr-
W* ,r.< r^o Ngciniml e d,i t ’'-ola Pol\tecíinica).
CC^N i ■'S ril‘ lORp^iAS (pajiiuafi didacticas) de Asíi'^ Cfnua
(dl l.scoh No'innl de S. Paid'^). tí»:
il<\PlllA tíERAL» f: r Rajâ. fíabaglia (do Colle>;io \
P-.dro II). ’ ,
|EORl\ DO^ MEC.\N'lSMOS, por lielford Roxo (da Escola
W Í’''E. l-L.in'>a^. ^
l;Rr\'l Ai\K) lõA INÍ'>Ed’ENI)F.NCI \, coUectaiiea e*^oinin<-n-
taifv dü- principaes lincuiuentos rclalivd-. ã Indepomleucia
' iN.acional com pn-f icio c r de C.ipisti ano ile Alireu.
u
CypRVOI )!;- MINliRALODl A E . iEüL< Kj IA (ticori,(:ft e prat-co)f^
por ,E vera-^do l>ackheu>er, 2 ;>ri)".os yoliiiiies, para, uso
espec ;d d< cnpéiiliciros e arcliitectos.

Você também pode gostar