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D O S S I Ê

AGRICULTURA URBANA E ÊXODO RURAL

E a história humana não se desenrola apenas nos campos de


batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também
nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios [...].
Ferreira Gullar

ANA CAROLINA VINHOLI*

Introdução PEDRO MARTINS** O que torna a agricultura


urbana um objeto de interes-
RESUMO
Este texto trata de apresen- Este artigo investiga as práticas em agricultura se é o contraste observado em
urbana desenvolvidas no município de Itajaí/
tar e discutir parte dos dados le- SC, com o intuito de pontuar os principais po-
relação ao processo de urbani-
tenciais e obstáculos para a construção de um zação. A urbanização constitui
vantados em uma pesquisa mais processo de desenvolvimento territorial. Trata
ampla na qual se procurou esta- de identificar a prática de agricultura urbana a mais importante transfor-
como parte de estratégias institucionais e, no mação social da atualidade.
belecer a relação entre as práticas plano individual, como decorrência do êxodo
de agricultura urbana na cidade rural. A metodologia empregada baseou-se Segundo dados da ONU, apre-
na observação participante e em entrevistas
de Itajaí, em Santa Catarina, e a semiestruturadas aplicadas aos agricultores in- sentados por Miguel & Grando
dividuais e aos representantes das instituições. (2002, p. 09), no ano de 1800
possibilidade de esse fenômeno Conclui-se que a agricultura urbana é um fenô-
meno em expansão, possui uma estreita vincu- somente três por cento da hu-
contribuir para o processo de lação com o êxodo rural e serve de espaço para
a conservação de saberes tradicionais.
manidade vivia nas cidades, ao
planejamento territorial naquela
Palavras-chave: agricultura urbana; desenvol- passo que atualmente cerca de
cidade. Além de refletir sobre o vimento territorial; êxodo rural.
cinquenta por cento da popu-
fenômeno da agricultura urbana
ABSTRACT lação mundial é urbana – ainda
na atualidade, o texto trata, pon- This paper analyses the urban agricultural ac-
tivities undertaken in Itajai, a port city in Sou- que exista uma grande polêmi-
tualmente, de apresentar de for- thern Brazil. Its aim is to identify the city’s po- ca acerca do que seja rural ou
ma resumida um inventário de tential for establishing a process of territorial
development, as well as what obstacles should urbano1. Quanto mais o pro-
experiências institucionais e/ou be overcome. It understands the urban agricul-
cesso de urbanização avança,
tural activities as part of institutional strategies
coletivas envolvendo essa prática, and, from an individual perspective, as a result mais importante se tornam as
seguido de um resgate empírico of the rural exodus process. The methodology
employed consisted in participant observation iniciativas de práticas agríco-
da relação entre agricultura ur- and semi-structured interviews with individual las em áreas urbanas. Neste
farmers and representatives of the institutions.
bana e êxodo rural. Esta última The conclusion was that urban agriculture is a artigo, no entanto, nos limita-
abordagem foi realizada a partir growing phenomenon, has a close bond with
the rural exodus and serves as a space for con- remos ao propósito mencio-
de agricultores urbanos indi- serving the traditional knowledge. nado, envolvendo o inventário
Key-words: urban agriculture; territorial deve-
viduais. Tais propósitos foram lopment; rural exodus. de experiências institucionais e
abordados com a intenção de coletivas de agricultura urbana
esclarecer a situação das práticas * Mestre em Planejamento territorial e desenvol- e o teste de uma hipótese acer-
vimento socioambiental, pela Universidade do
relacionadas à agricultura urbana Estado de Santa Catarina (UDESC). Consultora ca da origem rural da maior
na cidade de Itajaí, localizada na da empresa Logos assessoria e projetos.
parte dos agricultores urbanos
** Mestre em Antropologia social, pela Univer-
entrada do Vale do Itajaí, litoral sidade Federal de Santa Catarina e doutor em individuais.
norte de Santa Catarina, a 80 qui- Antropologia, pela Universidade de São Paulo. Ao nos aproximarmos
Professor da Universidade do Estado de Santa
lômetros de Florianópolis. Catarina (UDESC). de Itajaí, observamos que o

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município também fez parte da história de um êxodo De acordo com Vesentini (1994), a intensa ur-
rural maciço na condição de cidade polo (grande por- banização que vem ocorrendo no Brasil tem sido
to regional), receptora de migrantes de todo o estado acompanhada por um processo de metropolização,
de Santa Catarina e de outros estados da Federação. isto é, a concentração demográfica nas principais áre-
Segundo dados oficiais (AMFRI, 2010), o município as metropolitanas do país. Esse fenômeno se iniciou
sofreu um inchaço na área urbana a partir dos anos a partir do momento em que a indústria passou a re-
1970, como demonstram os índices: em 1980 o mu- presentar o setor mais importante da economia na-
nicípio contava com 78.779 habitantes, ao passo que cional. Entre suas características, aparecem aspectos
em 2010 totalizava quase 145 mil habitantes. da passagem de uma economia agrário-exportadora
Segundo Wanderley (2009), o êxodo rural atinge para uma economia urbano-industrial, fato esse que
um grande número de pequenos agricultores, espe- só ocorreu no século XX e que se tornou mais pro-
cialmente os que não são proprietários ou os que o nunciado a partir da década de 1950.
são de forma insuficiente, o que os torna extrema- Tendo em conta a expansão das cidades, verifi-
mente vulneráveis, no que se refere à sua permanên- ca-se que este fenômeno vem acompanhado da ne-
cia no local de origem. Assim, o que mais põe em cessidade crescente de fornecer alimentos às famílias
risco a dinâmica do meio rural é o êxodo da sua po- que nelas residem. Os índices de pobreza das popula-
pulação, que se traduz pela perda direta e imediata da ções urbanas também têm crescido bem como a difi-
vitalidade social, representada pela saída em número culdade de acesso à alimentação básica.
expressivo de seus habitantes. O êxodo rural, segun- Como estratégia de planejamento urbano sus-
do a autora, está diretamente associado à estrutura tentável, algumas cidades brasileiras recentemente
fundiária dominante no País. têm desenvolvido projetos de fomento à prática de
Abramovay (1999) salienta que o êxodo rural agricultura urbana em diversas comunidades, em
brasileiro permanece muito significativo, em espe- alguns casos com apoio do poder público. Ao fin-
cial com a juventude rural, já que a contrapartida é dar o século XX, a FAO − Organização das Nações
a precariedade com que os núcleos urbanos absor- Unidas para a Agricultura e Alimentação − já estima-
vem seus migrantes rurais: aqueles que mais saem do va que 800 milhões de habitantes de cidades de todo
campo, sobretudo os jovens, são exatamente os que o mundo desenvolviam atividades relacionadas com
maiores dificuldades vêm encontrando em sua inte- a agricultura urbana (SATANDREU & LOVO, 2007).
gração aos mercados urbanos de trabalho. Essa prática vem sendo realizada tanto no hemisfé-
Com ele concorda Stropassolas (2006) ao es- rio Norte quanto no hemisfério Sul e tem recebido
tudar a realidade de jovens rurais no oeste de Santa apoio governamental em vários países, entre os quais
Catarina. Para este autor, existem outras motiva- podemos destacar Tanzânia, Zâmbia, Cuba, Filipinas
ções para o êxodo dos jovens, sendo uma das mais e Indonésia. No Brasil, cidades como Rio de Janeiro,
importantes a busca por um universo diferenciado, Belo Horizonte e Brasília possuem bons exemplos
por um projeto de vida diferente, além da migração desse movimento de produção, conforme registrado
para estudar – o que frequentemente significa uma por Machado & Machado (2002).
migração sem retorno. Pesquisa recente de Martins Moreira (2008) vê a agricultura urbana como
& Welter (2009), no entanto, mostra uma tendência um fenômeno social e político; fenômeno que possui
de inversão desta lógica, registrando tanto o proces- forte conexão com as questões e temáticas socioam-
so de migração cidade-campo quanto a permanência bientais e socioespaciais. Na interpretação do autor,
de jovens no campo em função da oferta de novas por sua dimensão política, a discussão sobre a agri-
oportunidades de acesso a bens e serviços até então cultura urbana traz consigo o debate sobre a pobreza,
inexistentes. as desigualdades sociais e o desemprego como efeitos

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do desenvolvimento do capitalismo. Neste artigo, hortaliças, além da venda de adubo orgânico gerado
queremos demonstrar, também, a ligação entre a pelos próprios animais. A importância da agricultura
agricultura urbana e o êxodo rural ou, melhor dizen- urbana como fonte de renda é salientada pelo agri-
do, mostrar como o êxodo rural revela-se o motor da cultor urbano (60 anos) do bairro Espinheiros, em
agricultura urbana na cidade de Itajaí. sua fala:
A categoria agricultura urbana, registra-se em
tempo, mostrou-se desconhecida para os entrevis- Eu boto aqui no carrinho de mão as
tados que tampouco se reconhecem como agricul- verduras e vendo aqui no bairro, em
tores urbanos. Essas categorias, no que diz respeito outros loteamentos, eu vendo aqui nessa
redondeza. A venda de porta em porta
aos praticantes de agricultura urbana em Itajaí, são
pode chegar até R$ 400,00 por mês”. Para
recursos descritivos externos2. complementar sua renda, foi constatado
Os dados coletados através de abordagem qua- também que algumas pessoas alugam
litativa buscaram a interação com os sujeitos obser- imóveis, fazem artesanato (pano de prato
vados e a compreensão da sua condição e intencio- e renda de bilro), são representantes de
nalidade, tomando-se como recorte os praticantes de produtos de beleza ou realizam a coleta de
agricultura urbana e seus interlocutores. O universo materiais recicláveis.
da pesquisa contemplou agricultores urbanos que
Há, no entanto, distinção entre as práticas insti-
possuem quintais domiciliares e aqueles que parti-
tucionais e a realidade dos agricultores individuais,
cipam de hortas comunitárias ou projetos de hortas
como se demonstrará a partir de agora.
medicinais, servidores públicos, representantes de
organizações não-governamentais e iniciativas de-
senvolvidas em entidades assistenciais. Para a coleta Agricultura urbana em espaços coletivos
de dados empíricos, o trabalho de campo foi realiza-
do nos meses de março a julho do ano de 2011. Junto Nesta categoria de “espaços coletivos” incluímos
aos agricultores urbanos, como observação partici- todas as iniciativas não-individuais de agricultura ur-
pante, voltou-se a atenção para momentos de comer- bana, como organizações não-governamentais, insti-
cialização, cuidados com a horta, trato dos animais, tuições públicas e privadas, escolas e cooperativas.
preparação de temperos/hortaliças para a venda e ou- Uma das organizações não-governamentais en-
tros eventos relacionados ao tema da pesquisa. Além volvidas com a promoção da agricultura urbana em
disso, foram realizadas 28 entrevistas semiestrutura- Itajaí é o CEPAGRO (Centro de Estudos de Agricultura
das com o propósito de captar a particularidade dos em Grupo), organização que vem atuando desde o
sujeitos e ampliar, assim, o nível de compreensão da ano de 2006 no município. A organização foi fun-
sua realidade. O trabalho de campo também incluiu dada em 1990, por pequenos agricultores e técnicos
uma consulta sobre o desenvolvimento dos projetos interessados na promoção da agricultura de grupo,
e ações levados a efeito por organizações não-gover- como forma de viabilização das pequenas proprieda-
namentais e poder público. des rurais. Segundo um agrônomo que atua no mu-
A pesquisa abordou famílias de distintas con- nicípio junto às hortas comunitárias,
dições financeiras, desde aquelas que pagam aluguel
em áreas periféricas até aquelas com poder aquisitivo O projeto de agricultura urbana em Itajaí
mais alto. A renda familiar desses agricultores urba- continua no planejamento do CEPAGRO
nos é garantida, em sua maioria, pela aposentadoria. como um trabalho que foi desenvolvido.
Construímos uma metodologia de
Contudo, foi verificada uma complementação de ren-
implantação de hortas comunitárias,
da, em alguns casos, através da prática da agricultura tivemos a construção de relações com
urbana, por meio da comercialização de temperos e outras organizações para trabalhar o tema

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e, na nossa visão, Itajaí é uma referência atualmente, atende 79 idosos. Segundo a nutricionis-
e serve como exemplo para outras ta do Asilo, “A função principal da horta é alimentar
comunidades visitarem e conversarem os idosos tentando, no futuro, suprir até 80% da ne-
com as pessoas sobre os potenciais e
limites da prática de agricultura urbana.
cessidade de alimentos, já que hoje ainda adquirimos
muitos alimentos de fora”.
Outra instituição que fomenta a agricultura ur- Também envolvido nas atividades de agricultura
bana no município é o CEPESI (Centro Público de urbana está o Carmelo de Santa Teresa. Trata-se de
Economia Solidária de Itajaí), através da Feira de um convento da Igreja Católica, localizado no bairro
Produtos Orgânicos de Itajaí. A feira ocorre, sema- de Cabeçudas, de freiras que vivem enclausuradas,
nalmente, desde novembro de 2010, no centro de em uma vida de recolhimento e oração; são intitu-
Itajaí, e envolve em torno de 21 famílias, disponibi- ladas de Carmelitas Descalças do Carmelo Santa
lizando para a comercialização: verdes, temperos, Teresa. Desenvolvem trabalhos ligados à jardina-
raízes, suco de uva, mel, tomate, abóbora, rabanete, gem e à horta, fazem terços, escapulários, pinturas,
pães, geleias, batata, banana, maçã, morango, berin- confecções em gesso e bordados (viático, toalhas de
jela e outros. Há registro de uma agricultora urbana altar e outros). Uma das Carmelitas discorre3 sobre
de Itajaí que comercializa temperos na feira. as atividades relacionadas à horta desenvolvidas no
Na mesma linha, foi mapeada outra iniciativa, convento:
esta desenvolvida pela instituição assistencial Lar
A nossa horta já tem uns 20 anos. É
Fabiano de Cristo. Trata-se de uma instituição sem
mantida por 5 irmãs enclausuradas. Tudo
fins lucrativos que visa atender famílias de baixa ren- que plantamos é para nós, que somos
da da cidade. A principal missão do Lar é “promo- em 15 religiosas. Temos plantado aqui
ver a família, a criança, o adolescente e o idoso em no convento: cenoura, alface, beterraba,
situação de vulnerabilidade social visando a capaci- repolho, brócolis, salsinha, algumas árvores
tação humana e a integração entre criança, adoles- frutíferas, nozes, laranja, caqui, nona e lichia.
De chás, temos hortelã e erva-cidreira.
cente, família e idoso.” Atua em Itajaí há 34 anos, com
Compramos adubo orgânico, mas também
o apoio da CAPEMI e da prefeitura municipal. Tem ganhamos esterco de peru e de gado.
32 funcionários e quatro voluntários. O Lar realiza Aproveitamos tudo que sobra da cozinha e a
dois programas: o sociofamiliar e o socioeducativo. irrigação é feita pela água da chuva e também
A entidade oferece vários cursos profissionalizantes pela água da rede.
para a comunidade e atividades diversificadas para as
crianças. O projeto de horta na instituição se iniciou Quanto a ações de farmácia popular, foi iden-
em 1995. Os alimentos produzidos são destinados tificado na pesquisa o trabalho desenvolvido pela
para idosos (50) e crianças (240) que a instituição Pastoral da Saúde do bairro São João. É um trabalho
atende. Para uma das administradoras da instituição, voluntário, iniciado no ano de 2003, com apoio da
Paróquia São João Batista, da Prefeitura Municipal de
Os benefícios da horta advêm do Itajaí através da Secretaria de Obras (auxílio men-
aproveitamento do espaço vazio, economia sal nas capinas do horto medicinal) e da Ação Social
nas contas, alimentos frescos que auxiliam Arquidiocesana de Florianópolis (ASA). Atualmente,
na saúde (sucos naturais e saladas), e serve
como instrumento pedagógico para as
o grupo conta com 13 voluntários que desenvolvem
crianças, utilizado pelas educadoras. trabalhos no horto medicinal (área cedida pela filha
de uma voluntária, próximo de sua sede). Realizam
Ainda relacionado à prática da agricultura ur- atendimento à comunidade, semanalmente, visi-
bana no município está o Asilo Dom Bosco que, tam idosos e doentes, fazem estudos e manipulação

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de receitas, óleos para massagem, produzem sabo- Segundo a assistente social, através do espaço da
netes medicinais, tinturas e travesseiros de ervas. horta é possível “Fazer uma reflexão com os internos
Priorizam o estudo e a manipulação de plantas medi- de que eles irão semear e logo irão colher. É uma ati-
cinais como alternativa de saúde para as pessoas. De vidade que está sendo para o bem de todo mundo.
acordo com uma voluntária, a Pastoral da Saúde do Quando cheguei, observei que a área era ideal para a
bairro São João horta. Antes isto tudo aqui era mato”.
Quanto ao cultivo de hortas em unidades esco-
Trabalha com três dimensões: a lares, há conhecimento de uma horta instalada no
comunitária, que busca dar informações
Colégio São José, entidade privada, localizada no
diretamente à comunidade e envolvê-la;
a solidária, pois se trata de um trabalho centro da cidade. A iniciativa é desenvolvida por uma
samaritano, seguindo exemplo de Jesus; e, freira de 82 anos que reside no colégio e que reativou
por último, tem como objetivo a dimensão o espaço da horta recentemente. Segundo a religiosa,
política institucional, que busca levar o os alimentos são destinados às crianças que almoçam
conhecimento dos direitos às pessoas. durante a semana na creche e para consumo das frei-
ras que residem no colégio. Conforme expõe a Irmã
O Centro de Convivência do Idoso (CCI – São
que cuida da horta no colégio,
Judas) também se insere como uma das entidades
que promove a prática da agricultura urbana no mu-
O gosto pela horta surgiu em 1965,
nicípio de Itajaí. A instituição atende em torno de quando fui morar em Nova Trento e, como
380 idosos. No espaço, são desenvolvidas atividades Irmã, dava aula para alunos de Educação
de dança, bordado, pintura, jogos, caminhadas e a para o lar. Uma das atividades realizadas
horta. Segundo a educadora social da instituição, é foi o cuidado com a horta. Nesse período,
importante contei com o apoio de um agrônomo
da ACARESC (Associação de Crédito e
Utilizar supilho fino no canteiro para Assistência Rural de Santa Catarina), que
morangos, para conter a praga do caracol. dava orientação de como plantar.
Aprendemos isto em curso dado pela
Epagri. Aproveitamos as folhas do pátio – é Outra iniciativa desenvolvida em unidade es-
uma riqueza da terra – e os restos de cascas colar, agora pública, é o trabalho promovido pelo
da cozinha são depositados na horta. Instituto LouvaDeus, uma organização não-gover-
namental. Com sede em Itajaí e fundado em 2009,
A Casa de Apoio Social, localizada no bairro São
tem como representante um médico psiquiatra que
Judas, também desenvolve ações de agricultura urba-
também tem formação em agronomia. A instituição
na em Itajaí. A entidade abriga atualmente 15 pessoas
implantou, no início de 2011, um projeto de plantio
do próprio município que não têm onde ficar ou vie-
vertical na unidade escolar Colégio Gaspar da Costa
ram de outros lugares do estado, permanecendo na
Moraes. A instituição visa envolver famílias carentes
Casa por um prazo máximo de 45 dias.
que possuem filhos na escola, repassando informa-
O espaço da horta foi ativado em fevereiro de 2011,
ções sobre compostagem, captação de água da chuva
depois do estímulo dado por uma assistente social que
e alimentação saudável através do sistema de plantio
percebeu o potencial de uma área ociosa na Casa e su-
vertical, chamado vertsolo. O sistema vertsolo, que
geriu a mudança daquele lugar, antes “em mato”, para a
consiste na elaboração de cultivos em vasos super-
construção de canteiros produtivos. A funcionária veio
da área rural da cidade de Ipira/SC e é filha de agricul- postos, por isso chamado de horta vertical, está sen-
tores. Sua família vive da atividade agrícola, com gado do implantado, experimentalmente, com ajuda de
de corte, possui vaca de leite somente para subsistência; alguns voluntários.
planta milho, feijão e frutas.

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Uma das iniciativas pioneiras em agricultura origem rural, sendo oriundos de diversos municí-
urbana de Itajaí, voltada à organização comunitária pios do estado de Santa Catarina, dentre eles: Barra
em produção orgânica destinada à comercialização, Velha, Blumenau, Brusque, Concórdia, Gaspar, Itajaí,
é oriunda da experiência da Horta Comunitária do Ituporanga, Laguna, Nova Trento, Rodeio, Vidal
Portal, localizada no bairro Espinheiros, estimulada Ramos e Videira. Muitos dos agricultores urbanos
desde 2006. Esse projeto teve a participação inicial de entrevistados têm em sua raiz familiar modos de vida
oito famílias (que em sua maioria já produziam em presentes no campesinato brasileiro4.
seus quintais) e estruturou-se em parceria com o po- Através da história de vida dos agricultores ur-
der público local, através da Secretaria da Agricultura banos – entendidos aqui como os sujeitos que desen-
e Desenvolvimento Rural, Secretaria do Bem-Estar volvem práticas agrícolas em contexto urbano –, fica
Social e do CEPAGRO. evidente sua familiaridade com as atividades agro-
Atualmente, o projeto é mantido por quatro fa- pecuárias5 relacionadas ao ambiente rural6. Em sua
mílias remanescentes, com funcionamento distinto maioria, alegam ter ajudado, ainda quando crianças,
daquele que caracterizou o seu início. Um dos par- em tarefas na propriedade rural, onde residiam com
ticipantes prepara o canteiro e os demais semeiam, seus familiares. Conforme um agricultor urbano (44
ficando a cargo de cada um decidir o destino da pro- anos), morador no Promorar II,
dução (cada um se responsabiliza pela compra de
suas mudas), se para a venda ou para a subsistência É do costume. Desde pequeno que eu
da família. A limpeza do terreno é feita por todos do trabalhei com isto. Geralmente o pai já dizia
pra gente pela manhã: ‘vocês levam as vacas
grupo. As despesas com adubo são compartilhadas,
lá pra capinzeira, vocês limpam as cocheiras,
assim como as contas de óleo diesel e energia. A falta vocês botam o pó de serra’. Por isto eu faço
da propriedade do terreno, no entanto, causa insegu- assim, eu aprendi com o meu pai.
rança quanto à continuidade do projeto.
Registra-se também a horta comunitária do Foram narradas atividades agrícolas ligadas à
Colégio São Vicente, localizada no bairro São produção de cana de açúcar, tendo como objetivo a
Vicente. Sua proposta se iniciou em 2007, com a in- alimentação dos animais domésticos (chamados de
tenção de envolver os beneficiados por cestas básicas criação7), produção de melado e açúcar mascavo,
e medicamentos doados pela Ação Social do bairro fumo, hortaliças, milho (fubá), feijão, arroz, café, ai-
São Vicente, organização vinculada à Igreja Católica. pim (farinha), raízes como batata-inglesa, batata-do-
Sete voluntários participam, ativamente, do manejo ce, cará e taiá. Nas propriedades rurais, eram comuns
da horta dessa entidade; em sua maioria, são mulhe- criações de porcos (dos quais se retira a banha e a
res idosas; além disso, há o envolvimento do padre da carne e se produzem os embutidos), galinhas (carne e
paróquia, que adquiriu um microtrator e se encarre- ovos), marrecos (carne), bois (carne), cavalos (mane-
ga de preparar os canteiros. jo na lavoura, através de tração animal, e como trans-
Os cultivos são feitos em terreno cedido pela porte da família) e vacas leiteiras (leite).
Prefeitura de Itajaí ao projeto, através de convênio Uma agricultora urbana (53 anos) do bairro
que garante à ação social o seu usufruto enquanto es- Ressacada narra quais produtos eram produzidos no
tiver sendo utilizado para esse fim. campo e qual o seu destino:

Relação da agricultura urbana com o êxodo rural Meus pais plantavam cana de açúcar,
faziam açúcar. Eles plantavam mandioca,
faziam farinha, tinham engenhos, eles
A amostra colhida em campo revela que a plantavam milho, faziam fubá também.
maioria dos agricultores urbanos individuais tem E os engenhos até pouco tempo ainda

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existiam, eles faziam melado, o açúcar, ao campesinato8, como sugeriu Queiroz (1973), ou
cachaça, farinha, polvilho pra fazer o à campesinidade, como prefere Woortmann (1990).
cuscuz. O milho eles usavam mais pra Os agricultores urbanos, quando residiam na
tratar os animais, pra fazer fubá, pães,
área rural, tiveram, em sua maioria, a posse da ter-
bolos; eles tinham vaca de leite, faziam
queijo, nata; tinham galinha, porco... ra, ocupando, em muitos casos de forma partilhada,
propriedade com familiares. Conforme expõe uma
Já uma agricultora urbana (71 anos), residente agricultora urbana (70 anos), do bairro Cidade Nova:
no bairro São Vicente, menciona a qualidade dos
Sou de Gaspar, morei até os nove anos
alimentos da época e discorre sobre a jornada de
lá. Trabalhava em um engenho de cana
trabalho: e de farinha. Tinha cinco irmãos, todos
trabalhavam na roça comigo. As terras
Eu sei que o pai plantava arroz. Então o pai eram do meu avô, a família morava tudo
comprou outro terreno e lá ele plantava junto no mesmo terreno, que era grande.
milho, feijão, aipim, cana pro trato. Onde
a gente morava, só tinha mesmo o pasto No entanto, duas situações distintas mostram
e pouca coisa plantada. O arroz era pra
aqueles agricultores familiares que eram e continuam
vender. Imagina, há 65 anos atrás era feito
tudo no manual. Cortava tudo na mão, sendo arrendatários, como é demonstrado pelo agri-
não tinha máquina pra colher. Semeava a cultor urbano (50 anos) da Fazenda: “Meus pais mo-
mudinha, eu sei que ele colocava num saco ram em Alagoas, na região de Itapiraca. Eles ainda
o arroz, eles deixavam molhado lá no valo hoje não têm terra. Eles alugam, eles arrendam por
de água... Quando ele ficava inchado, daí um ano”.
eles semeavam pra nascer mais ligeiro. A Aqueles que não possuíam terra viviam migran-
semente era crioula. Não é que nem hoje
do para conseguir trabalho, como demonstra um
em dia, transgênica. Antigamente, era
somente o arroz amarelão e o amarelinho; agricultor urbano (50 anos), do bairro Espinheiros:
só sei que o pai sempre falava. O que ficava
em casa era tudo descascado no pilão. Desde que nós nascemos, desde
Eles aravam, depois ajeitavam o terreno, pequeninho, com dois, três meses, a mãe já
colocava a água e semeava à mão, que nem levava pra roça. Daí então nós se criamos
semeio o azevem e a aveia pras vacas. na roça. Eu nasci em Nova Trento e, com
três anos de idade, fui pra Alfredo Wagner.
Nós nunca tivemos terreno próprio, só
A divisão do trabalho no meio rural, descrita pe-
trabalhamos de arrendeiro. Ia se criando
los agricultores urbanos, revela distinções por faixa na roça assim: ia lá, já carpia a planta,
etária e gênero, como notou Welter (1999) ao obser- tudo. Daí foi, fomos trabalhando e, com
var um grupo rural, em Santa Catarina. Constatou-se dez, doze anos de idade, nós já fazíamos
que às mulheres cabem as funções que dizem respei- empreitada pra sustentar a casa. Daí se foi,
to ao lar, como assegurar a alimentação da família; mudança e mais mudança, que o pai já teve
mais de 30 e poucas mudanças − vê que
quando necessário, a saúde dos familiares e, muitas até lá no Oeste catarinense nós chegamos
vezes, auxiliar nos plantios. Aos homens cabem a a morar.
missão do manejo da terra e a comercialização dos
alimentos depois da colheita. As crianças, desde Há situações, entretanto, em que a agricultura
cedo, são estimuladas a ajudar seus pais, auxiliando urbana acontece em áreas que ainda são considera-
na busca de lenha, no trato dos animais, na coleta das perímetro rural, mas, em virtude da expansão
de ovos e em outras tarefas quando solicitadas pela da cidade, hoje são áreas periurbanas, como bem
mãe ou pai. Essas características estão vinculadas notou Ávila Sánchez (2011). Nesse caso, não ocorreu

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a migração dos agricultores familiares para áreas ur- Eu comecei com sete anos a trabalhar
banas e, sim, sua permanência na área rural – que na roça, fui até os 18 anos. Lá não tinha
se transformou em área periurbana pelo avanço da condições de estudar, daí estudava um
mês e o resto ia pra roça. O pai, com nove
urbanização –, dando sequência às práticas agrícolas filhos, falava: “tem que trabalhar, tem
que sempre realizaram. É o que expõe uma agriculto- que trabalhar, senão não dá conta”. Eu
ra urbana (59 anos) do bairro Fazenda: “Sou natural só ia uma vez por mês na escola, lá eles
daqui, nasci em Itajaí. A propriedade é herança das chamavam cartilha. Era muito trabalhoso,
minhas avós materna e paterna. Continuo plantando a gente nem tinha comida, tinha lá um
desde criança até hoje”. cafezinho pela manhã, nunca tinha terra,
nós sempre alugamos terra. Na época, a
O acesso à terra, para esses agricultores periur- gente produzia abóbora, milho, tudo pro
banos ainda em espaço rural, simboliza não somente gasto. Daí veio depois esse tal de fumo,
ter “posses”, mas garante a reprodução social de suas muito trabalho, não conseguia muito
famílias, legitimando seus modos de vida e continui- dinheiro, não. Plantava só duas tarefinhas,
dade. Quando não ocorre, cabe às famílias migrarem, aquele ganhozinho não dava pra nada.
deixando para trás um sentimento de “pertencimen- Quando chegava final do ano, já tava
devendo quase tudo. Daí falei: “vou sair
to” àquela paisagem, para um lugar distante e, muitas fora, vou aprender uma profissão” e foi
vezes, sentido como indiferente. onde eu consegui realizar os meus sonhos.
No fumo eu fiquei uns dez anos.
Migração campo-cidade
Outro aspecto pertinente ao impacto das polí-
A saída do campo para a cidade observada na ticas neoliberais para os agricultores familiares no-
pesquisa é justificada por inúmeros motivos; um de- vamente se faz presente na fala de uma agricultora
les, e mais presente, é a ausência de perspectivas de urbana (71 anos), do bairro São Vicente:
uma vida melhor, obrigando os jovens a migrarem
Em Presidente Getúlio, a gente plantava
para a cidade, com a intenção de “serem alguém na aipim, mas daí o aipim não deu mais preço.
vida”. Então, começamos a ter vacas, vendia leite
Segundo uma agricultora urbana (64 anos), do e criava porcos; nós tinha uma granja
bairro São João, em sua cidade natal não havia condi- de porco, criava para os Pamplona. Nós
ções para permanecer, cabendo somente a saída: tivemos uns oito a dez anos granja, mas,
depois que o Fernando Henrique entrou,
acabou no segundo mandato dele. O porco
Eu saí de Imaruí porque era uma cidade
tava R$ 1,20, ele colocou pra R$ 0,80 – R$
muito pobre. Ainda na cidade tinha um
0,70, lá ficou um ano assim. Nós fomos
comércio, umas padarias, mercado, tinha
levando, a gente não queria fechar. Mas um
uns aposentados lá. Tudo que era moço
dia eu disse: “vamos acabar com os porcos,
e moça, assim como eu, chegando a uma
nós estamos colocando todo o nosso
idade que pudesse morar fora, saía de lá e
dinheiro aqui em cima e não vai dar”. E os
ia trabalhar. O meu marido veio pra Itajaí
nossos vizinhos dizendo, “leva, vamos em
com a família toda. Os pais venderam tudo
frente, vamos levando”, porque tinha mais
lá e vieram colocar um armazém aqui.
gente lá que trabalhava com os Pamplona
em Presidente Getúlio. Daí todo mundo
O cenário de miserabilidade, ao qual os agricul- acabou. O mais forte da comunidade faliu.
tores eram submetidos em decorrência do emprego O meu marido disse que não ia plantar
das políticas neoliberais, é aqui registrado com a nar- mais nada pra sustentar o governo, o que
rativa de um agricultor urbano (50 anos), residente ele tava fazendo com os colonos tudo era
no bairro Fazenda: brincadeira. Daí muita gente foi trabalhar

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AGRICULTURA URBANA E ÊXODO RURAL

em empresa, trabalhar fora, só plantava vontade de permanecer com as atividades do campo,


pra comer. Nós continuamos ali, eu fui mesmo em perímetro urbano:
trabalhar como doméstica, ali no centro
da cidade. Eu tava trabalhando dois anos Eu estou aqui no Promorar há 11 anos.
e pouco lá. E o meu marido tava em casa, Aqui mudou pouca coisa. Quando eu vim
cuidando dos porcos, porque a gente pra cá eu já pensava: ‘pra eu ter os meus
queria acabar, mas não dava pra acabar de bichos. Ali ainda vai demorar pra crescer,
hoje pra amanhã; você tinha que primeiro então eu vou comprar um lote ali’, porque
despachar as matrizes, porque tinha os lá no São Vicente já não podia ter animais.
porquinhos pequenos, tinha que esperar
até a metade do ano para engordar tudo
isso ali. Pararam também com as vacas,
Sair do rural para a cidade remete, na voz dos
antes dos porcos, por causa do baixo preço. agricultores urbanos, a um deslumbramento, espe-
Eu fazia queijo colonial, nata e queijinho. rança de melhores condições de vida para si e seus
Toda semana eu carregava na bicicleta e familiares. No entanto, as condições a que são sub-
ia pro centro vender pro meus fregueses, metidos nesse novo lugar, como pagar aluguel de sua
de vinte e poucos anos. Quando eu parei, residência, quando antes no campo tinham casa pró-
os clientes falaram: “o que nós vamos
fazer agora?” Eles queriam também uma
pria, pagar por alimentos e água, antes gratuitos, são
pessoa de confiança, que era limpo. Eu não “sentidos” como impactos da saída, não com gosto.
gostei dessa mudança; eu gostava mais de A chegada de muitos agricultores familiares a
trabalhar na roça, mas a gente viu que não este novo lugar de morada, a cidade9, vai gerar inú-
dava. Hoje só sobrevive é o grande, que meras alterações nos modos de vida dessas famílias,
tem bastante terra, que trabalha só com anteriormente locadas em outra paisagem. É o que
máquina. Mas o pequeno não vale a pena,
como a minha irmã, coitada, que mora
demonstra um agricultor urbano (44 anos), morador
longe do centro de Presidente Getúlio. do bairro Promorar II:
Plantam um pouco pro gasto e ainda bem
que são aposentados. Senão, iam fazer o Eu não gosto de morar na cidade. Muito
quê? A sorte foi que veio a aposentadoria barulho, muita incomodação, porque
como agricultor. se tu tem um galo que canta muito alto,
eles reclamam, se tu tem um cachorro
A saída do campo para a cidade, em alguns ca- que late muito, eles reclamam, é bicho. A
coisa que eu mais gosto pela manhã é ver
sos, possibilitou melhores condições de vida em ocu-
um galo cantar, mas antes disso, em 2005,
pações que proporcionavam melhor renda, como nós tínhamos galinha aqui, tivemos 70
na construção civil. Assim narra o motivo da mi- galinhas, eu criei um porco mestiço com
gração uma agricultora urbana (48 anos), do bairro javali.
Carvalho:
Outra narrativa se faz presente com a agricultora
Eu saí da minha cidade e vim direto pra urbana (71 anos), do bairro São Vicente, ao se referir
Itajaí, quando me casei. A família do meu à falta de perspectiva ao chegar à cidade:
marido também vivia da roça, meu marido
chegou a ir pra roça; viviam do fumo.
Cheguei na cidade com 60 anos. A vida
Viemos pra cá porque ele já trabalhava na
toda vivi na roça. Mudou totalmente
área da construção.
as nossas vidas porque lá, quando tu
acordava, tu ia tratar as criação. Chegamos
Outra ocorrência é a migração dentro do pró- aqui, nada disso não tinha mais. À noite,
prio município, como é o caso do agricultor urbano a gente chegava, ia pro rancho tirar leite,
(44 anos), do bairro Promorar II, que menciona a tratar das galinhas, porco, vaca, cavalo,

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Ana Carolina Vinholi e Pedro Martins

pato, que eu tinha de tudo. Lá não faltava passeio aos finais de semana, conforme expõe o agri-
nada. Cheguei aqui tinha que comprar cultor urbano (50 anos), do bairro Fazenda:
tudo. Eu nunca que comprei verdura,
mas quando cheguei aqui eu tive que Meu sonho é ter uma chacrinha. Vai ter
me acostumar. Tudo tinha que comprar: nela tudo que tem plantação. Ter uma
verdura, fruta, parece que o mundo tinha vaquinha, tirar um leitinho, comprar
desabado em cima de nós, porque a gente um cavalinho. Vai ser um sonho, já
não tava acostumado com isso. está começando a chegar perto [está
procurando terreno para comprar]. Pra ir
A ruptura dos laços familiares – entre quem saiu aos domingos, finais de semana.
e quem ficou no campo – também deixa marcas que
permanecem na memória dos que tiveram que ir Outros anseiam, ao contrário, fixar raízes no
para a cidade, conforme nos conta a agricultora ur- campo e voltar à dinâmica anteriormente vivencia-
bana (48 anos) do bairro Carvalho: “Eu sentia muita da, como é o caso do agricultor urbano (60 anos), do
saudade da minha cidade, do lugar onde cresci. Eu bairro Espinheiros:
chorava muito, saudade da família, do meu trabalho,
do lugar”. Eu tenho um sonho de conseguir o meu
Uma agricultora urbana (75 anos), do bairro São terreno e fazer um tapume de peixe bem
caprichado. Depois, continuar com a
Vicente narra, na sequência, não só as mudanças no
minha horta, criar uns porquinhos,
quadro de saúde daqueles que migraram para a ci- galinha, gado, umas 2, 3 cabeças de gado,
dade, mas também seu impedimento para retornar só pra gente ir comendo, matando. Este é o
ao rural: meu sonho, ainda.

Meu pai sentiu muita diferença quando Este também é o sonho da agricultora urbana
veio pra cá. Ele entristeceu muito, ele (50 anos), do bairro Espinheiros:
queria ir embora. Eu penso que no meu
pai bateu a tal da depressão, ele ficou Meu sonho é assim, eu sempre digo pros
magrinho, ele não comia. Ele queria voltar, meus filhos, quando tiver dinheiro, não
mas não tinha nem mais como a gente precisar depender de firmas, essas coisas,
voltar pra lá, porque ele foi obrigado a eu quero voltar pra Vidal Ramos; eu quero
vender a terra lá pra comprar essa aqui, ter uma casa assim bem no meio de um
que hoje aqui é a minha casa. pasto, aquele sossego, aquelas árvores. Este
é um dos meus sonhos, é sair da cidade.
Houve aqueles que foram beneficiados com a Eu nunca gostei muito de barulho, dessas
movimentação da cidade, como a agricultora urba- coisas assim, meu sonho é voltar realmente
na (61 anos), do bairro Cordeiros, que disse ter um pro interior; eu acho que é o meu único
aumento da venda de seus produtos agrícolas: “A sonho. Tem a tua alface, aquelas coisas que
tu planta ali tu mesmo vai colher. Isto, sem
expansão da cidade facilitou as nossas vidas, porque
dúvida, é o meu único sonho de consumo
assim as pessoas começaram a vir aqui em casa para que eu tenho na vida.
comprar, aumentou as vendas”.
Para uma agricultora urbana (71 anos), do bair-
O desejo de retorno ao campo ro São Vicente, o retorno ao campo só seria possível
se a condição do agricultor familiar fosse favorável:
Muitos agricultores urbanos anseiam voltar ao
campo, retomar a criação de animais num espaço Eu tenho muita saudade do que eu vivi
maior, mas não como residência e sim como casa de em Presidente Getúlio por 30 anos, dos

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AGRICULTURA URBANA E ÊXODO RURAL

meus amigos. Claro que se fossem como os vizinhos, em se tratando de algumas mudas pere-
antigamente, só com os preços melhores. nes, como os temperos e os chás.
Aí a gente podia ter as galinhas, um No quesito irrigação, é pequena a ocorrência da
porquinho, se você quer uma carne você
sabe, porque você tratou. Não é só com
captação de água da chuva. A maioria das iniciativas
ração, que essa carne faz mal pra todo faz uso da água disponibilizada pelo serviço muni-
mundo. O que eu criava de pato lá... Era cipal de água, saneamento básico e infraestrutura
outro gosto. Imagina, tinha fogão a lenha e (SEMASA), gerando custos extras.
tudo, forno a lenha pra fazer pão. Frente à utilização da compostagem, falta orien-
tação aos agricultores urbanos de como realizá-la
Ainda as lembranças de um tempo “difícil”, adequadamente, já que se limitam a depositar no
como agricultores familiares, se fazem presentes nas solo os resíduos orgânicos ou a enterrá-los no pró-
falas dos, agora, agricultores urbanos. O retorno é prio canteiro, o que contrasta com experiências mais
percebido como “um sonho”, mas com uma íntima avançadas desenvolvidas em muitas cidades.
relação com o urbano, através de uma outra renda na Quanto a ações empregadas para controlar pra-
cidade que possa garantir momentos de contempla- gas e doenças, verificaram-se algumas medidas de
ção no rural. baixo impacto, como: o preparado de fumo, de pi-
menta e urtiga; de cebola; o uso da gordura de peixe;
A agricultura urbana e o desenvolvimento local cinza de fogão; calda bordalesa10; água de sabão e a
aplicação de cal virgem. Contudo, também se faz uso
As práticas agrícolas familiares ou/e individuais de agrotóxicos para controlar pragas e doenças nas
na cidade acontecem em quintais e são motivadas fases inicial e adulta da planta.
pelos seguintes aspectos: agregação na renda fami- A cidade de Itajaí é vulnerável às enchentes.
liar, terapia ocupacional, saúde, prazer e segurança Assim, várias áreas cultivadas têm sido atingidas
alimentar e nutricional através do plantio isento de nos últimos anos ou se encontram em área de risco.
agrotóxicos. Nesse sentido, foram observadas duas consequên-
Uma agricultora urbana (82 anos) do bairro cias da ocorrência das enchentes: em algumas áreas a
Centro elenca as motivações da prática de agricultu- produtividade do solo teve aumento após a passagem
ra urbana frente à saúde: “Dentre os benefícios de ter do fenômeno e noutras teve seu empobrecimento.
uma horta, é que a gente sabe que é puro, que é bom Ressalte-se neste momento é a inexistência de um
pra saúde, porque não tem agrotóxicos”. controle da qualidade do solo em grande parte das
Verificou-se, nos quintais domiciliares, nas hor- áreas de cultivos, pois não se tem conhecimento se o
tas comunitárias e nas hortas institucionais de Itajaí, solo encontra-se contaminado ou está adequado ao
a presença de 39 variedades de verduras, hortaliças e plantio. A ausência de um acompanhamento técnico/
raízes, 27 variedades de frutas, 13 variedades de con- agronômico evidencia essa situação como demanda.
dimentos/temperos, 59 variedades de ervas medici- O processo de recolhimento de adubos orgâ-
nais e 14 tipos de animais domésticos. nicos, presente na própria comunidade, é um dos
Os plantios urbanos apresentam, entre suas ca- fatores satisfatórios presentes na agricultura urbana
racterísticas, mudas e sementes adquiridas em agro- de Itajaí, pois destina os resíduos orgânicos de for-
pecuárias, de procedência convencional, ou seja, não ma adequada, bem como auxilia na adubação das
-orgânicas. Nota-se, assim, que há uma distância en- plantas. Nesse sentido, entende-se que a agricultura
tre o desejo de se praticar a agricultura totalmente or- urbana tende a promover nos agricultores urbanos
gânica e a possibilidade concreta de fazê-lo. Também de Itajaí o aproveitamento, de forma eficiente e sus-
se tem registro das possíveis trocas realizadas entre tentável, dos recursos e insumos locais − solo, água,

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Ana Carolina Vinholi e Pedro Martins

resíduos, mão de obra e saberes −, conforme ressal- envolvidos e implantar ações de formação, assessoria
tam em outro exemplo Lara & Almeida (2008). e acompanhamento político-organizativo dos grupos
de agricultura urbana desenvolvidos pelas organiza-
Considerações finais ções não-governamentais, organizações comunitá-
rias e movimentos sociais.
Em relação ao Poder Público, recomenda-se
O objetivo do artigo foi apresentar as experiên-
implantar, em sua estrutura organizacional, a agri-
cias de agricultura urbana desenvolvidas no municí-
cultura urbana como uma política municipal, pre-
pio de Itajaí, com o intuito de pontuar os principais
vendo um orçamento que se destine às implicações
potenciais e obstáculos para a construção de um pro-
financeiras; criar um espaço coletivo de diálogo mu-
cesso de desenvolvimento territorial, relacionando-a
nicipal, de planejamento e acompanhamento, que
com algumas das consequências do êxodo rural.
Percebeu-se que essas iniciativas são desenvolvi- formule uma visão de agricultura urbana fundada
das de forma espontânea, em vários bairros da cidade, na realidade e nos anseios dos agricultores urbanos
por mulheres e homens, de diversas idades e condições e atores potenciais de Itajaí; identificar as demandas
socioeconômicas, que encontram nessa atividade uma e desafios, bem como as propostas de ação de forta-
alternativa de melhoria da qualidade de vida (alimenta- lecimento através da elaboração de um plano de ação
ção, renda indireta, lazer), sendo também uma manei- e do seu acompanhamento/monitoramento; ampliar
ra de manter o vínculo com o meio rural. Percebeu-se as discussões sobre a agricultura urbana, levando o
também que existem na cidade de Itajaí várias áreas tema aos espaços públicos da sociedade e do gover-
– que, atualmente, se encontram ociosas – disponíveis no, como conselhos municipais e fóruns; e propor a
para o desenvolvimento da agricultura urbana. inserção da agricultura urbana como ferramenta de
Contrariamente à prática dos agricultores indi- gestão urbana nos programas estruturantes do gover-
viduais, a pesquisa constata que muitas das iniciati- no municipal.
vas institucionais são recentes. Isso pode significar Entre os fatores limitantes da prática da agri-
uma tendência decorrente das crescentes necessida- cultura urbana de Itajaí estão: a utilização de alguns
des postas pelo desejo de ampliar o acesso à alimen- agrotóxicos e o pouco aproveitamento dos resíduos
tação em quantidade e qualidade, tendência já con- orgânicos, sendo que a maioria dos problemas rela-
solidada em diversas cidades brasileiras e em muitos cionados com a má utilização dos recursos naturais
outros países. pelos agricultores urbanos se deve à falta de instru-
Entre as conclusões evidenciadas, concebe-se a ção, treinamento e acompanhamento, além da não-
agricultura urbana como um projeto viável que pode continuidade dos projetos, que sofrem pressão em
auxiliar na gestão da cidade e que pode ser empre- virtude da mudança de gestores públicos, enfraque-
gado como apoio para o desenvolvimento territorial cendo as iniciativas e desmobilizando a comunidade.
almejado em cartilhas públicas. Para tanto, existem A pesquisa constatou que as áreas agrícolas ur-
algumas recomendações que visam orientar a cons- banas em Itajaí constituem locais de grande impor-
trução de um plano de desenvolvimento para Itajaí, tância para os envolvidos, para a conservação dos
pautado na promoção da agricultura urbana. recursos naturais e da biodiversidade e, para a manu-
Em relação aos agricultores urbanos, é preciso tenção de saberes tradicionais, além de serem funda-
estimular ações que venham a fortalecê-los, através mentais na busca da sustentabilidade.
de apoio à sua organização coletiva; incluí-los, de Quanto à identidade dos agricultores urbanos,
forma efetiva, nos processos de planejamento e ges- embora não se reconheçam nestes termos, pode-se
tão da cidade; dar visibilidade às experiências que pensar que o universo simbólico rural permanece
demonstrem melhorias na qualidade de vida dos nos sujeitos migrados, dada a irredutibilidade de

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AGRICULTURA URBANA E ÊXODO RURAL

muitos aspectos da cultura. Assim, a reprodução em referente ao estudo que realizou sobre migrantes italianos e
caboclos nos campos de Lages. Para a autora, “no segmento
certa medida do modo de vida rural, através das prá- italiano, cabe aos meninos, em geral dos seis ou sete anos aos
ticas de agricultura urbana e do modo rural de ver e dez anos de idade, diferentes atividades executadas nesses
desejar o mundo, constrói, para o sujeito da pesquisa, primeiros momentos de suas vidas como acompanhamento
às mães. São tarefas das crianças recolher as vacas para que
uma identidade – ainda que esta não esteja absoluta- sejam ordenhadas, fazer a permuta de pastagens desses
mente explicitada. animais, tratar de galinhas e porcos, levar bezerros para
beber água, recolher lenha, buscar água em nascente
próxima quando não há água encanada, recolher ovos, e
Notas ainda levar almoço para o pai e os irmãos mais velhos que
1 É o caso da polêmica estabelecida por Veiga (2002), quando estejam trabalhando na roça e que não retornam para o
afirma que o Brasil é menos urbano do que se imagina. almoço quando esta fica muito distante da casa” (p. 119).

2 Diversos autores buscam conceituar agricultura urbana 9 De acordo com Endlich (2006, p. 24), “As transformações
e, em consequência, acabam por conceituar também o produzidas nas comunidades rurais pelo processo de
agricultor urbano. É o caso de Silva (2005), para quem urbanização são marcadas pela proposição ou imposição,
a agricultura urbana é entendida “não só pelo cultivo de ao homem rústico, de certos traços de cultura material e não
hortigranjeiros, frutas, flores e os bosques usualmente material. Impõem, por exemplo, novo ritmo de trabalho,
associados à coleta de combustíveis lenhosos, mas também novas relações ecológicas, certos bens manufaturados,
a apicultura, piscicultura e criação de gado para a produção racionalização do orçamento, abandono das crenças
de leite, ovelhas, carneiros e cabritos” (p. 409). tradicionais, individualização do trabalho e, finalmente,
passagem à vida urbana”.
3 A entrevista foi concedida por telefone à Ana Carolina
Vinholi, uma vez que a condição de clausura não permite 10 Calda bordalesa: preparado orgânico à base de cal e sulfato
outras formas de contato. de cobre.

4 Tal fato se assemelha ao que ocorre com os agricultores


urbanos de Belo Horizonte. Segundo Lara & Almeida
(2008, p. 23), “muitos/as são de origem rural e veem Referências bibliográficas
no desenvolvimento de atividades agropecuárias uma
maneira de manutenção de sua cultura e tradição, além de
buscarem na lida com a terra uma forma de lazer”. Segundo ABRAMOVAY, Ricardo. Agricultura familiar e
Queiroz (1973, p. 18), no campesinato a “família constitui desenvolvimento territorial. Reforma Agrária,
sempre a unidade social do trabalho e de exploração da
propriedade, sendo que os produtos, regra geral, satisfazem Rio Claro (SP), vol. 28, nº1, 2 e 3, vol. 29, nº1, p.
as necessidades essenciais da vida, as tarefas do trabalho 49-67, jan.1998/ago. 1999.
se dividem entre todos os membros do grupo doméstico,
em função das faculdades de cada um, formando assim AMFRI. Associação dos municípios da foz do rio
uma equipe de trabalho”. Woortmann (1990) prefere usar Itajaí. Dados estatísticos de Itajaí/ Municípios
o conceito de campesinidade, agregando à categoria um
conteúdo moral. AMFRI. Itajaí: AMFRI, 2010.
5 Essa atividade, de acordo com Lara & Almeida (2008, p. 12), ÁVILA SÁNCHEZ, Héctor. Agricultura urbana y
consiste no “cultivo de hortaliças, temperos e condimentos, periurbana como espacios de expresión de la
raízes e tubérculos (batatas), plantas medicinais, espécies
frutíferas e plantas ornamentais, bem como a criação de interfase urbano-rural. Reunião de Antropologia
animais de pequeno, médio e grande porte”. do Mercosul. Curitiba: IX RAM, 2011. p. 01-20.
6 Em um trabalho realizado no município de João Pessoa BLOEMER, Neusa Maria Sens. Brava gente
(PB), Rosa & Ferreira (2006, p. 194) identificam elementos
do mundo rural no modo de vida e na paisagem urbana. brasileira: migrantes italianos e caboclos nos
Para as autoras, “A existência de currais, estábulos, campos de Lages. Florianópolis: Cidade Futura,
granjas, chácaras demonstra a permanência de atividades
rurais não apenas como fonte de renda para alguns, mas
2000.
também como manutenção de hábitos peculiares de alguns ENDLICH, Ângela Maria. Perspectivas sobre o
moradores.”
urbano e o rural, in: SPOSITO, M. E. B. &
7 “Criação” é uma categoria nativa empregada pelos
agricultores urbanos e rurais para definir o conjunto de WHITACKER, A. M. (orgs.). Cidade e campo:
animais domésticos, criados com a finalidade de produzir relações e contradições entre urbano e rural. São
carne, leite e/ou ovos. Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 11-31.
8 Essas evidências são descritas também por Bloemer (2000),

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