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O decênio decisivo

Propostas para uma política de sobrevivência

23/V/2023 Luiz Marques


luiz.marques4@gmail.com
Explicação do título do livro

• Há amplo consenso científico de que o que


fizermos até 2030 será decisivo para a viabilidade
das sociedades

• Este decênio é o momento divisor de águas em


todo o arco da civilização humana

• O que está em jogo é nossa sobrevivência


8 Propostas para
uma política de
sobrevivência
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Oito propostas para uma política de sobrevivência
1.Diminuição das desigualdades (renda mínima e renda máxima!)
2. Redução drástica do consumo de materiais e de energia fóssil
3. Extensão da ideia de sujeito de direito às demais espécies
4. Ampliação das reservas naturais (fora dos mercados globais)
5. Desglobalização econômica, condição para a descarbonização
6. Alimentação desglobalizada e à base de nutrientes vegetais
7. Governança global democrática (soberania nacional relativa)
8. Aceleração da transição demográfica (direitos das mulheres)
Essas 8 propostas são obviamente
inexequíveis, mantido o ordenamento
socioeconômico e jurídico atual
Mas há três razões
para considerá-las
como imperativas
1. Mantido esse ordenamento global, as
negociações internacionais hoje em pauta
mostram-se ainda mais inexequíveis:
• “Manter o aquecimento médio global entre 1,5 oC e 2 oC
em relação ao período pré-industrial” (COP21, 2015)
• “Diminuição de 45% das emissões de GEE até 2030 em
relação aos níveis de 2010” (IPCC 2018)
• “Eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis” (G7 2009)
• “Conservação de pelo menos 30% das terras, água doce,
áreas costeiras e oceanos até 2030” (COP15, 2022)
....
....

• “Reduzir a quase zero a perda de ecossistemas de alta


integridade ecológica” (COP15, 2022)

• “Reduzir em 50% o excesso de fertilizantes e o risco geral


representado por pesticidas até 2030” (COP15, 2022)

• “Reduzir o desmatamento em 50% até 2020 e eliminá-lo


até 2030” (Declaração de Nova York, 2014)

• Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (2015)


2. Essas 8 propostas para uma política de
sobrevivência são a condição de possibilidade
do avanço dessas negociações

(Estamos cada vez mais distantes das


metas acordadas pelas nações na
ECO 1992)
3. Sobretudo, não há outra saída, nem mais
tempo para gradualismo: “FAZER OU MORRER”
Emissões de
GEE

Jeff Tollefson, “The hard truths of climate change – by the numbers”.


Nature, 18/IX/2019
3. Sobretudo, não há outra saída, nem mais
tempo para gradualismo: “FAZER OU MORRER”

Jeff Tollefson, “The hard truths of climate change – by the numbers”.


Nature, 18/IX/2019
Aumento das emissões globais de GEE

2019: 57,4 Gigatoneladas


2023: 58,3 Gigatoneladas
2030: 61,9 Gigatoneladas

https://worldemissions.io/
Aumento das emissões globais de GEE

2019: 57,4 Gigatoneladas


2023: 58,3 Gigatoneladas
2030: 61,9 Gigatoneladas

https://worldemissions.io/
Aumento das emissões globais de GEE

2019: 57,4 Gigatoneladas


2023: 58,3 Gigatoneladas
2030: 61,9 Gigatoneladas

https://worldemissions.io/
Aumento das emissões globais de GEE

2019: 57,4 Gigatoneladas


2023: 58,3 Gigatoneladas
2030: 61,9 Gigatoneladas

2019 – 2030: + 4,5 Gt


+ 8%
(ao invés de -45%)

https://worldemissions.io/
2024 superará 2016 e 2020 (1,3oC), ultrapassando 1,4oC
“Sugerimos que 2024 provavelmente estará fora do gráfico, como o ano
mais quente dos registros históricos”
We suggest that 2024 is likely to be off the chart as the warmest year on record (Hansen et al., 22/IX/2022)
2024 superará 2016 e 2020 (1,3oC), ultrapassando 1,4oC
“Sugerimos que 2024 provavelmente estará fora do gráfico, como o ano
mais quente dos registros históricos”
We suggest that 2024 is likely to be off the chart as the warmest year on record (Hansen et al., 22/IX/2022)

2016 – 2040
0,36 oC / década
James Hansen (XII/2021)...

“O teto de aquecimento global de 1,5°C


será ultrapassado nesta década”
Em 2023, a OMM confirma James Hansen e colegas:

“Há 66% de chance de que a temperatura média


anual global supere 1,5 oC acima dos níveis do
período pré-industrial, em ao menos um dos
próximos cinco anos (2023-2027)
James Hansen (XII/2021)...

“O aquecimento global de ao menos 2°C já


é inevitável no futuro da Terra”
James Hansen (XII/2021)...

“Esse nível de aquecimento ocorrerá em


meados do século”

James Hansen, Makiko Sato & Pushker Kharecha, "November Temperature Update and the Big
Climate Short". Earth Institute, Columbia University, 23/XII/2021
<http://www.columbia.edu/~jeh1/mailings/>.
Após 1,5oC, os impactos do clima
tornam-se cada vez mais graves
IPCC, Sexto Relatório de Avaliação, 2022
IPCC, Sexto Relatório de Avaliação, 2022
1,5 oC x 2 oC
Até 2030
Até 2050
+1,5 oC a 2 oC implica novas pandemias

https://www.carbonbrief.org/analysis-the-climate-papers-most-featured-in-the-media-in-
2022/?utm_campaign=Carbon%20Brief%20Daily%20Briefing&utm_content=20230105&utm_medium=email&ut
m_source=Revue%20Daily
https://climatecentral.org/pdfs/2019CoastalDEMReport.pdf
Em 6 países, ~300 milhões de pessoas vivem hoje em
terrenos que serão inundados nas marés altas em 2050

SRTM = Shuttle Climate Central’s


Radar Topography CoastalDEM = Digital
Mission NASA Elevation Model
Santos: zonas inundadas na maré alta 2050 e 2100
Rio de Janeiro zonas inundadas na maré alta em um
aquecimento médio global de 2 oC
Rio de Janeiro zonas inundadas na maré alta em um
aquecimento médio global de 2 oC
Rio de Janeiro zonas inundadas na maré alta em um
aquecimento médio global de 2 oC
Rio de Janeiro zonas inundadas na maré alta em um
aquecimento médio global de 2 oC
EUA, Mediterrâneo e o Brasil estão entre as regiões mais
vulneráveis do planeta

“O limiar de 2 oC das temperaturas médias em relação ao período pré-


industrial pode ser ultrapassado em 2030 no Mediterrâneo, no Brasil e
nos EUA contíguos”

“The 2 oC threshold of average temperatures in relation to the pre-industrial period


could be crossed in 2030 in the Mediterranean, Brazil and the contiguous USA”

Sonia Seneviratne et al., “Allowable CO2 emissions based on regional and impact-related
climate targets”. Nature, 529, 28/I/2016
As 3 regiões fora dos polos em que a temperatura
pode atingir 2 oC já em 2030
Os próximos poucos anos serão provavelmente os
mais importantes em nossa história

Obrigado!
luiz.marques4@gmail.com
Quatro dossiês maiores
Crises socioambientais crescentes e
convergentes em ao menos 4 dossiês
maiores:
1. Desestabilização do sistema climático
2. Aniquilação da biodiversidade
3. Poluição e intoxicação dos organismos
4. Crise da democracia e aumento das desigualdades
Temperaturas mais altas significam:
• Mais eventos meteorológicos extremos
• Mais elevação do nível do mar
• Mais degelo terrestre e marítimo
(b) destruição das florestas:
2002 – 2021: perda global de 68,4 Mha de cobertura
arbórea nas florestas primárias úmidas (-6,7%)
2021: 11,1 Mha de perda global nos Trópicos:
3,75 Mha de perda em florestas tropicais primárias

Perda por incêndios


Perda de cobertura arbórea (desmatamento e degradação)

2021 Brasil: >15 mil km2

https://research.wri.org/gfr/latest-analysis-deforestation-trends
Após um decréscimo de mais de 80% no desmatamento por
corte raso na Amazônia entre 2004 e 2012, a destruição volta a
crescer e explode sob Temer-Bolsonaro (2018-2021).

https://www.gov.br/inpe/pt-br/assuntos/ultimas-noticias/divulgacao-de-dados-prodes.pdf
O desmatamento por corte raso decresce 11,27% entre agosto de
2021 e julho de 2022, mas com novos vetores de destruição
Novos vetores de desmatamento em 2018-2019:
Acre e BR-319 (Manaus –Porto Velho)
BR-319
INPE: “cenas prioritárias” de desmatamento em 2022
(c) aumento dos rebanhos de ruminantes
Abertura de pastagens =
~90% do desmatamento

https://infoamazonia.org/2023/02/17/o-desafio-de-zerar-o-desmatamento-diante-da-alta-demanda-por-carne/
IBGE: 89 M de cabeças de gado na Amazônia
(~40% do rebanho brasileiro)

Luciana Gatti et al., “Amazon carbon emissions double mainly by dismantled in


law enforcement”, 2022 (pre-print)
“O metano pode estar aquecendo o planeta
mais rapidamente do que predito”
Resultado: aceleração do aquecimento
1880 – 1950 = 0,04 oC / década (NOAA)

1950 – 2020 = 0,14 oC / década (NOAA)

1970 – 2015 = 0,18 oC / década (NASA)

2016 – 2040 = 0,36 oC / década (Hansen & Sato)


2. Aniquilação da biodiversidade

(a) Perda de habitat

(b) Agrotóxicos
IUCN: espécies avaliadas e ameaçadas em 2020
~129 mil espécies
avaliadas

~37 mil
espécies
ameaçadas

https://www.iucnredlist.org/resources/summary-statistics
IUCN: espécies avaliadas e ameaçadas em 2021
138.300 espécies
~129 mil espécies
avaliadas
avaliadas

~39 mil
espécies
ameaçadas

https://www.iucnredlist.org/resources/summary-statistics
IUCN: espécies avaliadas e ameaçadas em 2022

150.300 espécies
~129 mil espécies
avaliadas
avaliadas

42.100
espécies
ameaçadas

https://www.iucnredlist.org/resources/summary-statistics
1970 – 2022: declínio médio de 69% em quase 32 mil
populações de 5.230 espécies de vertebrados avaliadas
1970 – 2022: avaliações cobrem 420 mil pontos do
planeta em 195 países

https://youtu.be/9ekytYxYM4Y
(b) Agrotóxicos
Uso de pesticidas em 1990: 0,88 kg/hectare
(b) Agrotóxicos
Uso de pesticidas em 2020: 5,94 kg/hectare
4. Crise das democracias e aumento das
desigualdades
Fosso crescente das desigualdades (socioeconômicas,
gênero, racial, acesso à saúde, educação, cultura
etc.), com aumento preocupante:

• do militarismo e dos riscos de uma guerra nuclear;


• do fanatismo religioso;
• da manipulação corporativa dos algoritmos nas
redes digitais, fomentando a desinformação, os
negacionismos climático, antivax, anti-ciência etc.
A crise das democracias e o aumento
das desigualdades são, obviamente, um
mal em si mesmo;

Mas ela é, também, o principal obstáculo


ao combate aos três grandes dossiês
acima evocados (clima, biodiversidade e
poluição)
Essas quatro crises maiores de nosso tempo
agem em sinergia.

Ao se reforçarem e se amplificarem
reciprocamente, elas representam uma
ameaça existencial crescente às sociedades e
à sua capacidade de lidar com essa ameaça
de modo democrático e informado pela
ciência.
Essa ameaça não é mais um problema
futuro.
É uma ameaça à sobrevivência das
sociedades no horizonte de tempo do
segundo quarto de século, quando o
aquecimento médio global atingir ou
ultrapassar 2 oC acima do período pré-
industrial.
Emissões globais de GEE por país

https://worldemissions.io/
IPCC, Sexto Relatório de Avaliação, 2022
1,5 oC x 2 oC
Até 2050, a emergência climática forçará até 113 milhões de
africanos a migrarem dentro da África (~5% da população)

https://theconversation.com/climate-change-will-force-up-to-113m-people-to-relocate-within-africa-by-
2050-new-report-193633
2050 – 2100

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