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Crise nas livrarias Cultura e Saraiva abala o cenário editorial no Brasil

As livrarias Saraiva e Cultura, as duas maiores redes do setor no país, entraram em


recuperação judicial e anunciaram o fechamento de dezenas de lojas

Por Nayara Batschke, da EFE access_time 26 dez 2018, 06h44

São Paulo — Após o anúncio de duas redes de livrarias entrarem em recuperação


judicial, a indústria do livro brasileiro passa por um “momento-chave” que exige reflexão
e criatividade para pensar em novos atores que permitam compor o cenário editorial do
país.

Seja por razões econômicas ou culturais, vender livros no Brasil nunca foi uma missão
fácil, mas a indústria editorial alcançou certa estabilidade e experimentou um “boom”
nas duas últimas décadas, alinhada com a bonança econômica do país no início do
século.

Efeito do sonho da consolidação do Brasil como uma potência mundial não ter
terminado de se concretizar, embora as grandes empresas do setor continuem a ter
esperança de “um país que não se realizou”, contou em entrevista à Agência Efe o
editor Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras, associada da Penguin
Random House.

“Trata-se de uma crise derivada da dificuldade de adaptação das grandes livrarias a um


Brasil que não se realizou. O crescimento brasileiro parou, mas o mercado editorial
como um todo continua vivendo nessa esperança de crescimento”, afirmou Schwarcz.

Recentemente, as livrarias Saraiva e Cultura, as duas maiores e mais famosas redes


do setor no país, entraram em recuperação judicial e anunciaram o fechamento de
dezenas de lojas.

Esses dois grupos são os responsáveis por 40% do faturamento das principais editoras
do Brasil, explicou o presidente da Câmara Brasileira do Livro, Luis Antonio Torelli.
“O problema é esse modelo de negócios das redes maiores, que se transformaram em
megalojas. Esse modelo é muito difícil de administrar e ofusca o produto principal, que
é o livro”, argumentou Torelli.

Diante desse cenário “trágico”, tanto Torelli como Schwarcz concordam que a indústria
editorial brasileira, a exemplo do que aconteceu em países como França, Espanha,
Alemanha e Argentina, precisa se reinventar e para isso apostam nas pequenas
livrarias como o modelo comercial “do futuro”.

Na contracorrente da tempestade que se abateu sobre as grandes redes brasileiras, a


Livraria Simples luta pela sobrevivência apoiada na premissa de proporcionar um
atendimento “único e personalizado” aos seus clientes.

“O grande diferencial do nosso negócio é que oferecemos um serviço mais


especializado e conseguimos atender de uma maneira mais carinhosa, mais atenta,
com mais conhecimento e com mais dedicação”, disse Felipe Faya, um dos sócios, que
sem publicidade, placas ou maiores alardes, constrói “dia após dia” sua clientela em
um discreto imóvel a poucos minutos da Avenida Paulista.

Faya acrescentou que, além do livro “como produto, existe no país uma crise histórica
de leitores”.

Aos 40% de brasileiros que admitem não ler frequentemente, é preciso refletir sobre
um modelo de negócios que beneficia as grandes companhias e estrangula os
pequenos livreiros, já que as condições de compra e consignação não são as mesmas
para todos.

“Entendemos que o nosso negócio está em crise, sempre esteve e continuará estando
no futuro se não se trocar o modelo do mercado do livro, que hoje é muito perverso
com as pequenas livrarias”, explicou Faya.
Por isso, uma das estratégias da Livraria Simples é a busca constante pelo equilíbrio
entre as estratégias comerciais da empresa e a promoção de ações sociais e de
fomento à leitura.

Uma “tarefa difícil” mas que está tendo frutos: “A única maneira de formar novos
leitores é através da transformação das livrarias em centros culturais, em pontos de
encontro que interajam com os moradores locais”, concluiu Faya.

https://exame.abril.com.br/economia/crise-nas-livrarias-cultura-e-saraiva-abala-o-cenario-editorial-no-
brasil/

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