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Curso de Áudio e Amplificadores Profissionais WR Kits

Módulo 4 Aula 4

Projeto de Fontes de Alimentação para Amplificadores

Autor: Eng. Wagner Rambo

O primeiro ponto importante a se destacar é que sempre são aconselháveis fontes


lineares para circuitos amplificadores, pois conseguimos uma melhor imunidade a ruídos com
diversos artifícios da eletrônica clássica. Vamos aprender a projetar a fonte de alimentação
correta para o projeto, seja simétrica ou simples, para amplificador transistorizado ou valvulado,
para etapas de potência ou pré amplificação.

Fonte com ponte de diodos: Iniciaremos pelo projeto de fontes de alimentação simples
(também conhecidas como assimétricas), que apresentam um nível de tensão positivo em
referência ao GND. Uma topologia muito utilizada neste tipo de projeto é a vista na Figura 1.

Figura 1 - Fonte de alimentação simples com ponte retificadora.

No circuito, aplicamos o sinal da rede elétrica na entrada (tomada de energia) e


passamos pela chave on/off. Esta chave deverá suportar a tensão e a corrente que circulará por
ela, quando fechada. Também temos um fusível de proteção em série com a entrada e a tensão
AC chega ao primário de um transformador. O transformador tem a tarefa de isolar
galvanicamente os circuitos eletrônicos da rede de energia bem como rebaixar (ou elevar, no
caso de amplificadores valvulados) a tensão de entrada. Temos no secundário do transformador
uma tensão AC para qual o mesmo foi projetado. O circuito da Figura 1 apresenta apenas um
enrolamento de secundário, por este motivo o método mais adequado para retificar a tensão
(rebater os semi ciclos negativos para o lado positivo) é através da ponte de diodos.

Os diodos também precisam ser mencionados de acordo com a corrente que circulará
por eles. Finalmente, temos o capacitor 𝐶1 responsável por reduzir o ripple (ondulação) da fonte
para um nível de tensão contínua (DC). O capacitor 𝐶2 é responsável por filtrar espúrios e
frequências mais altas, algo que 𝐶1 não é capaz devido sua alta capacitância e também ao
aspecto construtivo do mesmo. Como 𝐶1 consiste em um eletrolítico, o mesmo apresenta os
condutores enrolados para admitir maior capacitância em menos espaço, o que denotará
indutâncias parasitas. Essas indutâncias parasitas se opõe à frequências mais altas, daí a
necessidade de adicionarmos o capacitor 𝐶2 em paralelo com 𝐶1 que pode ser com dielétrico de
poliéster ou mesmo cerâmica.
Para o primeiro projeto, vamos considerar um amplificador que precisa de uma fonte
simples de 60𝑉 e fornecerá a potência máximo de 18𝑊 em uma carga de 8Ω (Figura 2).

Figura 2 - Amplificador de 18W.

De posse desses dados, a corrente de saída pode ser calculada pela Lei de Joule

𝑃 18
𝐼 = √ = √ ∴ 𝐼 = 1,5𝐴
𝑅 8

Como regra geral, dimensionamos a fonte para fornecer o dobro da corrente ou, no
mínimo, 50% a mais. Vamos considerar que desejamos reduzir custos, portanto calcularemos
para 50% mais de corrente
1,5
𝐼 = 1,5 + = 2,25𝐴
2
Agora já sabemos a corrente que a fonte deverá fornecer. O capacitor 𝐶2 pode
apresentar valores típicos entre 47𝑛𝐹 e 470𝑛𝐹. Em geral, utiliza-se 100𝑛𝐹, valor comum
quando deseja-se o corte acima de 50, 60𝑘𝐻𝑧. O capacitor 𝐶1 é dimensionado seguindo uma
regra muito simples: para cada Ampère de corrente, utiliza-se 1000𝜇𝐹 de capacitância. Este
método funciona porém não é o ideal, uma vez que teremos alta ondulação nos picos de
corrente. A tensão de ripple é dada pela equação
𝐼
𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 =
𝑓𝐶
Uma regra de projeto que funcionará bem para a maioria dos casos é arbitrar uma
tensão de ripple de no máximo 1𝑉. A frequência, considerando uma rede de 60𝐻𝑧 e retificação
em onda completa, como da Figura 1, será 120𝐻𝑧. O capacitor mais indicado será portanto
𝐼 2,25
𝐶1 = = ∴ 𝐶1 = 18750𝜇𝐹
𝑓𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 120 × 1

Os diodos devem ser dimensionados também de acordo com a corrente máxima. Para
esta aplicação, podemos utilizar o modelo 1N5408 que é para 3𝐴. Em caso de ponte retificadora,
a corrente que circula por cada diodo é igual à metade da corrente, portanto
𝐼 2,25
𝐼𝐷 = = = 1,125𝐴
2 2
Logo, os diodos 1N5408 suportarão esta corrente com folga. Não podemos utilizar os
típicos 1N4007, pois são para o máximo de 1𝐴. A ligação de diodos em paralelo não é
aconselhável, uma vez que pequenas divergências entre os dispositivos farão com que um deles
conduza mais corrente que o outro. Para testes rápidos, pode-se utilizar resistores de
compensação em série com os diodos, como na Figura 3.

Figura 3 - Combinando mais diodos para correntes mais altas.

A potência dissipada no resistor deve ser calculada de acordo com a corrente que
circulará por ele

𝑃𝑅 = 𝐼 2 𝑅
No caso do projeto para 1,125𝐴 teremos

𝑃𝑅 = (1,125)2 × 0,33 = 417𝑚𝑊


Por precaução, utilize resistor para no mínimo 1𝑊. Novamente salientamos que este
arranjo deve ser utilizado com cautela. Preferencialmente utilize diodos que suportem a
corrente máxima individualmente.

Para uma tensão de pico da ordem de 60𝑉, precisaremos de um transformador de saída


que tenha o secundário a tensão 𝑟𝑚𝑠 de
+𝑉 60
𝑉𝑆𝐸𝐶 = = ∴ 𝑉𝑆𝐸𝐶 ≅ 42𝑉𝑟𝑚𝑠
√2 √2
E a corrente de saída deverá ser 2,25𝐴 como já verificamos anteriormente. Logo, a
potência no secundário será

𝑃𝑆𝐸𝐶 = 42 × 2,25 = 94,5𝑉𝐴


Para o cálculo do fusível, podemos considerar um transformador ideal, que terá a
mesma potência consumida no primário. Então podemos calcular a corrente do primário para
as tensões da rede utilizadas.
𝑃𝑃𝑅𝐼 94,5 94,5
𝐼𝑃𝑅𝐼 = ∴ 𝐼𝑃𝑅𝐼 (127) = = 744𝑚𝐴 ∴ 𝐼𝑃𝑅𝐼 (220) = = 430𝑚𝐴
𝑉𝑃𝑅𝐼 127 220
O fusível poderá ter uma corrente igual ao dobro da máxima corrente calculada, logo, o
valor comercial mais próxima será de 1𝐴. Frequentemente, os projetistas costumam considerar
um fator de 3 ou até de 5 vezes para o fusível, pois picos de corrente poderão provocar a queima
acidental do dispositivo. Para o nosso projeto, manteremos o fator de 2.

A fonte totalmente projetada pode ser apreciada na Figura 4. Já consideramos um


transformador com o primário contendo ambos os enrolamentos de 127𝑉 e 220𝑉 e previmos
uma chave seletora para a tensão de entrada conforme a rede local.

Figura 4 - Fonte de alimentação 60V/2,25A 𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 < 1𝑉.

No projeto, utilizamos 4 capacitores de 4700𝜇𝐹 ligados em paralelo para chegarmos à


capacitância próxima do valor calculado, garantindo um ripple inferior a 1𝑉 no pico de corrente.
Atenção para as tensões de trabalho dos capacitores, que devem ser superiores a 60𝑉. Optamos
por valores comercial seguros no valor de 100𝑉.

O fator de ripple (𝛾) pode ser calculado como a razão entre a tensão 𝑟𝑚𝑠 e a tensão
média, multiplicado por 100. Quando mais próximo de 100%, melhor será o fator de ripple, pois
mais próximo de um nível DC ideal chegará a nossa fonte.
𝑉𝑟𝑚𝑠
𝛾= × 100%
𝑉𝐷𝐶𝑎𝑣

Considerando que nossa tensão de pico será 60𝑉 e a tensão de ripple 1𝑉, teremos uma
tensão mínima na ondulação de

𝑉𝑚𝑖𝑛 = 𝑉𝑃 − 𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 = 60 − 1 = 59𝑉

Calculando a tensão média


𝑉𝑃 + 𝑉𝑚𝑖𝑛 60 + 59
𝑉𝐷𝐶 𝑎𝑣 = = = 59,5𝑉
2 2
Calculando o fator de ripple
𝑉𝑟𝑚𝑠 42
𝛾= × 100% = × 100% ∴ 𝛾 = 70,58%
𝑉𝐷𝐶𝑎𝑣 59,5

Observando que este é o pior caso, considerando nosso pico de corrente e uma tensão
de ripple de 1𝑉.

Para o LED de indicação visual, pode-se utilizar o mesmo método clássico com resistor
limitador de corrente. Considerando um LED amarelo de 2𝑉 e corrente de 15𝑚𝐴 o resistor será
𝑉 − 𝑉𝐿𝐸𝐷 60 − 2
𝑅𝐿𝐸𝐷 = = = 3866Ω
𝐼𝐿𝐸𝐷 15 × 10−3
Você poderá utilizar o valor comercial de 4,7𝑘Ω ou mesmo um valor superior, caso
desejar a diminuição de brilho do LED. Utilizando LEDs difusos, em geral a corrente será de
15𝑚𝐴. A tensão varia conforme a cor. Vermelho (1,8𝑉), Amarelo (2,0𝑉), Laranja (2,0𝑉), Verde
(2,1𝑉), azul (3,1𝑉), branco (entre 3,1𝑉 e 4,0𝑉).

Exercício proposto: projete uma fonte com a topologia da Figura 1, considerando um


amplificador que precisa ser alimentado por 40𝑉 e forneça uma potência de 10𝑊 em uma carga
de 6Ω.

Transformador com tap central: Outra topologia de fonte muito conhecida é a que
utiliza um transformador com dois enrolamentos de secundário em série, surgindo o tap central.
A vantagem deste tipo de transformador é viabilizar o uso de apenas 2 diodos para retificação,
conforme podemos observar na Figura 5.

Figura 5 - Fonte a ser projetada para o amplificador de 5W e 20V.

Já vamos considerar o projeto para um amplificador que precisa ser alimentado com
20𝑉 e fornece uma potência de saída de 5𝑊 em um alto-falante de 16Ω. A corrente de saída
será

𝑃 5
𝐼 = √ = √ = 559𝑚𝐴
𝑅 16

Considerando uma margem de 50% acima teremos


559𝑚
𝐼 = 559𝑚 + = 838,5𝑚𝐴
2
Calculando o capacitor, para uma tensão de ripple máxima de 1𝑉 e uma frequência da
rede elétrica igual a 60𝐻𝑧 teremos

𝐼 838,5 × 10−3
𝐶1 = = ∴ 𝐶1 = 6987,5𝜇𝐹
𝑓𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 120 × 1

Na prática, poderemos utilizar dois capacitores de 4700𝜇𝐹 em paralelo.

O capacitor 𝐶2 poderá ter o valor típico de 100𝑛𝐹.

Os diodos podem ser os famosos 1N4007 uma vez que circulará uma corrente inferior a
1𝐴 por eles, para este amplificador.

A tensão de secundário do transformador será


+𝑉 20
𝑉𝑆𝐸𝐶 = = = 14,14𝑉
√2 √2
Nada impede de utilizarmos um transformador com enrolamento secundário de 15 +
15𝑉𝑟𝑚𝑠 que é facilmente encontrado comercialmente e corrente para 1𝐴.

A potência no secundário será

𝑃𝑆𝐸𝐶 = 15 × 1 = 15𝑉𝐴
Considerando um transformador ideal, a corrente máxima no primário será
𝑃𝑃𝑅𝐼 15
𝐼(127) = = = 118,11𝑚𝐴
𝑉𝑃𝑅𝐼 127
Logo, um fusível para 500𝑚𝐴 atenderá muito bem. A fonte projetada pode ser conferida
na Figura 6.

Figura 6 - Fonte com transformador com tap central.

A chave seletora de tensão da rede está omitida, mas pode ser utilizada assim como no
circuito da Figura 4. A tensão de trabalho dos capacitores deve ser superior aos 20𝑉 previstos
para a tensão da fonte.

Exercício proposto: projete uma fonte com a topologia da Figura 5, considerando um


amplificador que precisa ser alimentado por 30𝑉 e forneça uma potência de 12𝑊 em uma carga
de 4Ω.
Fonte simétrica: Uma topologia muito comum para fontes simétricas é a demonstrada
na Figura 7. Utilizando um transformador com tap central e uma ponte retificadora, obtém-se a
referência das tensões justamente neste tap.

Figura 7 - Fonte simétrica típica para amplificadores.

O método de projeto é muito semelhante aos anteriores. Vamos considerar um


amplificador com as características conforme a Figura 8.

Figura 8 - Amplificador de 22W com fonte simétrica.

A corrente drenada pela saída pode ser obtida novamente através da Lei de Joule

𝑃 22
𝐼 = √ = √ = 2,34𝐴
𝑅 4

No caso de fontes simétricas, pode-se considerar que a metade desta corrente será
drenada pela fonte positiva e pela fonte negativa, portanto
𝐼 2,34
𝐼(+𝑉) = 𝐼(−𝑉) = = = 1,17𝐴
2 2
Com a margem de 50% teremos

𝐼 = 𝐼(+𝑉) × 1,5 = 1,17 × 1,5 = 1,76𝐴

Logo, um transformador de 11 + 11𝑉 por 1,8𝐴 será o suficiente para este amplificador.

Exercício proposto: conclua o projeto da fonte da Figura 7.


Na Figura 9, apresentamos outra topologia possível para fonte simétrica.

Figura 9 - Fonte simétrica utilizando transformador com dois enrolamentos independentes.

Para o projeto desta topologia, utilizam-se as mesmas técnicas já vistas até o momento,
observe que temos dois enrolamentos independentes de secundário. Podemos desenvolver o
projeto de uma única fonte, considerando uma tensão simples e copiar os valores para a fonte
negativa. A desvantagem desta topologia se dá no uso de duas pontes retificadoras e em utilizar
um transformador mais complexo.

Exercício proposto: projete uma fonte com a topologia da Figura 9 para acionar um amplificador
que necessite de tensão simétrica de ±25𝑉 e acione um alto-falante de 16Ω com uma potência
de 12𝑊.
Uma prática comum em fontes de alimentação é utilizar resistores em paralelo com os
capacitores, de modo a provocar sua descarga quando o amplificador for desligado.

Figura 10 - Resistores para descarga dos capacitores de ripple.

Lembre-se de dimensionar os resistores para a potência adequada, de acordo com a


tensão e com a corrente. O mesmo método pode ser aplicado em fonte simples.

Outro artifício que visa melhorar a qualidade das fontes de alimentação, principalmente
em amplificadores high-end, é o uso de circuitos snubbers em paralelo com os diodos da ponte
retificadora (Figura 11).

Figura 11 - Ponte retificadora com circuitos snubber.

Estes circuitos visam suavizar os picos negativos de alta velocidade oriundos do ripple
da fonte, evitando que ruídos extra possam ser reproduzidos pelo alto-falante do amplificador.
A Figura 12 ilustra o efeito que os circuitos snubbers causam no ripple.
Figura 12 - Tensão de ripple sem circuitos snubbers (a). Tensão de ripple com circuitos snubbers (b).

Reguladores de tensão: não abordaremos este assunto pois temos um conteúdo vasto
no canal do YouTube. Acesse https://youtube.com/canalwrkits e busque pelo tema de sua
preferência. Alguns reguladores comuns: série 78xx, 79xx, LM317, LM350, LM723.

Para obter tensões reguladas a partir de CI’s reguladores, pode-se utilizar a fonte
principal do circuito amplificador, contanto que respeite a tensão máxima suportada pela
entrada do respectivo CI (vide datasheet).

Fonte para amplificador valvulado: as mesmas técnicas de projeto podem ser utilizadas,
no entanto vale ressaltar que o secundário do transformador deve fornecer uma tensão
superior. Em compensação, a corrente é menor do que em amplificadores transistorizados.
Além disso, é comum o transformador para um amplificador valvulado apresentar mais
enrolamentos de secundário, um deles dimensionado para a alimentação dos filamentos e o
outro para a tensão de ajuste de 𝑏𝑖𝑎𝑠 (no caso de amplificadores mais sofisticados).

Na Figura 13 apresentamos uma típica fonte para amplificador a válvula, devidamente


projetada para o circuito amplificador “amp_valv_3_WR” que apresentamos na aula 10 do
módulo 3. No projeto, utilizou-se uma válvula duplo diodo retificadora EZ81, mas nada impede
o projetista de utilizar diodos de silício convencionais. O enrolamento com a mais alta tensão
será de 285 + 285𝑉𝑟𝑚𝑠 para uma corrente de 350𝑚𝐴. O enrolamento para gerar a tensão
negativa de polarização (como vimos deve ser ajustada para −36𝑉) pode fornecer apenas
50𝑚𝐴 de corrente. O enrolamento que requer maior corrente é o destinado aos filamentos.
Para determinar a corrente necessária, precisa-se somar o consumo previsto para o filamento
de cada uma das válvulas contidas no circuito.
Figura 13 - Fonte para amplificador valvulado amp_valv_3_WR.

O referido amplificador utiliza: 2 válvulas pentodo EL34 (6,3𝑉/1,5𝐴 cada) e 2 válvulas


duplo triodo 12AX7 que terão seus filamentos ligados em paralelo. Como cada filamento da
12AX7 consome cerca de 300𝑚𝐴, podemos considerar o valor de 6,3𝑉/600𝑚𝐴 cada. Ainda,
devemos levar em consideração o filamento da válvula duplo diodo EZ81 de 6,3𝑉/1𝐴. O
consumo de corrente total previsto para os filamentos será portanto

𝐼𝑓𝑖𝑙 = 1,5 + 1,5 + 0,6 + 0,6 + 1 = 5,2𝐴

Como de costume, utilizaremos a margem de segurança de 50% a mais

𝐼𝑓𝑖𝑙 = 5,2 × 1,5 = 7,8𝐴

O enrolamento destinado aos filamentos poderá ser de 3,1 + 3,1𝑉𝑟𝑚𝑠 para 8𝐴 de


corrente. Utiliza-se um enrolamento com tap central aterrado neste caso, de modo a contribuir
para filtragem do ruído da rede elétrica. Os dois extremos resultarão na tensão AC próxima de
6,3𝑉.

Projeto de filtros 𝝅: com intuito de rebaixar a tensão da fonte principal aos diversos
níveis necessários e garantir uma maior imunidade a ruído para os estágios mais sensíveis do
amplificador, é comum desenvolver-se projetos dos filtros 𝜋, que têm esse nome por lembrarem
o formato da letra grega (Figura 14). Os filtros da fonte também ajudarão a suavizar a variação
de alta velocidade oriunda do ripple, conforme analisado anteriormente na Figura 12.
Figura 14 - Filtro 𝜋 com indutor choque (a). Filtro 𝜋 com resistor (b).

Um indutor de choque (conforme Figura 14 (a)) tem que ser projetado de acordo com a
tensão na saída e a corrente que por ele irá circular. Quando percorrido por uma corrente
elétrica variável, ocorre o fenômeno da autoindução. O indutor em série conforme circuito,
aproveita parte da tensão de ripple positiva, gerando uma suavização na tensão mais baixa da
ondulação. Em amplificadores de mais baixo custo, utiliza-se o filtro 𝜋 implementado com
resistor, uma vez que reduz os custos e até mesmo economiza espaço no projeto.

O mesmo método de filtragem se aplica a amplificadores transistorizados e valvulados.


Teremos uma tensão menor nos circuitos mais sensíveis que são as etapas de equalização e pré-
amplificação e a tensão maior estará nas etapas de potência. Para trazer um exemplo,
projetaremos o filtro da fonte do amplificador valvulado amp_valv_3_WR que utiliza 4 tensões
diferentes. O filtro se apresentará conforme Figura 15.

Figura 15 - Filtro 𝜋 a ser projetado.

A tensão +𝑉1 (que também poderia ser chamada de +𝐵1 ) é para acionamento do
transformador de saída que está ligado nas placas das válvulas de potência. A tensão +𝑉2 é para
polarização das grades de blindagem. A tensão +𝑉3 alimenta o circuito inversor de fase e +𝑉4
alimenta o pré-amplificador. O indutor de choque deve suportar uma corrente de no mínimo
350𝑚𝐴 e sua indutância pode ser aproximada pela equação
𝑉𝑒𝑓 300
𝐿1 = = ∴ 𝐿1 ≅ 857,14𝑚𝐻
1000 × 𝐼 1000 × 350 × 10−3
Na prática podemos utilizar um indutor de 900𝑚𝐻 por 400𝑚𝐴. O mesmo deve ser
fabricado sob medida para o projeto. Um ponto interessante de se destacar é o fato de que a
indutância é inversamente proporcional à corrente. Quanto menor a corrente, maior a
indutância necessária para o choque. Caso o amplificador seja desenvolvido visando economia
em componentes, pode-se simplesmente substituir o indutor de choque por um resistor. Para
cálculo dos resistores, utilizaremos a queda de tensão sobre eles e a Lei de Ohm. Calculando 𝑅1

𝑉𝑅1 = 𝑉2 − 𝑉3 = 300 − 250 = 50𝑉

𝐼𝑅1 = 100𝑚 + 50𝑚 = 150𝑚𝐴


𝑉𝑅1 50
𝑅1 = = ∴ 𝑅1 = 333,33Ω
𝐼𝑅1 150𝑚

𝑃𝑅1 = 𝑉𝑅1 × 𝐼𝑅1 = 50 × 150𝑚 ∴ 𝑃𝑅1 = 7,5𝑊

Na prática podemos utilizar um resistor de 330Ω por 15𝑊 para trabalhar com folga.

Calculando 𝑅2

𝑉𝑅2 = 𝑉3 − 𝑉4 = 250 − 220 = 30𝑉

𝐼𝑅2 = 50𝑚𝐴
𝑉𝑅2 30
𝑅2 = = ∴ 𝑅1 = 600Ω
𝐼𝑅2 50𝑚

𝑃𝑅2 = 𝑉𝑅2 × 𝐼𝑅2 = 50 × 150𝑚 ∴ 𝑃𝑅2 = 1,5𝑊

Na prática podemos utilizar um resistor de 620Ω por 3𝑊 para que trabalhe com folga
também. Os capacitores podem ser calculados pegando o valor comercial mais próximo superior
à regra de 1000𝜇𝐹 para cada Àmpere. E tensões de trabalho com margem de 50% acima.

𝐶1 = 1000 × 10−6 × 350 × 10−3 = 350𝜇𝐹 ∴ 𝐶1 𝑐𝑜𝑚 = 470𝜇𝐹/600𝑉

𝐶2 = 1000 × 10−6 × 200 × 10−3 = 200𝜇𝐹 ∴ 𝐶2 𝑐𝑜𝑚 = 330𝜇𝐹/450𝑉

𝐶3 = 1000 × 10−6 × 100 × 10−3 = 100𝜇𝐹 ∴ 𝐶3 𝑐𝑜𝑚 = 220𝜇𝐹/400𝑉

𝐶4 = 1000 × 10−6 × 50 × 10−3 = 50𝜇𝐹 ∴ 𝐶4𝑐𝑜𝑚 = 100𝜇𝐹/350𝑉

O filtro 𝜋 totalmente projetado pode ser visto na Figura 16.

Figura 16 – Filtro 𝜋 projetado para o amplificador valvulado.


Projeto bônus: Fonte de alta tensão para testes com válvula. Aos que desejam realizar
testes com válvulas, temos uma ideia segura para gerar alta tensão, você só precisa de um
transformador com dois enrolamentos independentes de primário 127 + 127𝑉𝑟𝑚𝑠 , que muitas
vezes você encontra até na sucata, e mais alguns componentes comuns. Confira o esquemático
completo na Figura 17.

Figura 17 - Fonte de 180V.

Os diodos são os retificadores 1N4007 em uma ponte convencional para retificação em


onda completa. No exemplo, consideramos um transformador com saída de 9𝑉/6𝐴 o que
garante uma potência de 54𝑉𝐴. Ligamos um dos enrolamentos primários na rede elétrica de
127𝑉. Por indução, teremos 127𝑉𝑟𝑚𝑠 disponíveis no outro enrolamento e, o mais importante,
isolados galvanicamente da rede. Retificamos esta tensão e filtramos com os capacitores 𝐶1 e
𝐶2 , obtendo aproximadamente 180𝑉𝐷𝐶 pois 127√2 = 179,6𝑉. Pela potência do secundário,
podemos determinar qual corrente máxima possível para este transformador. A corrente no
enrolamento de 127𝑉 utilizado para fonte será
0,5 × 𝑃𝑆𝐸𝐶 0,5 × 54 27
𝐼= = = ∴ 𝐼 = 212,59𝑚𝐴
𝑉 127 127
Um valor de corrente bem interessante, que já viabiliza o trabalho com diversos circuitos
valvulados. Aplicando os mesmos conceitos, você poderá projetar fontes de alta tensão para
quaisquer transformadores com dois enrolamentos de primário independentes. O único ponto
a se observar, é que é necessária a utilização nos 127𝑉, não podendo ser utilizado em rede de
220𝑉. Mas isso se resolve facilmente com autotransformador ou mesmo estabilizadores.
Projeto prático: realizamos o projeto de uma fonte simples, como forma ilustrativa para
demonstrar os métodos de análise que o projetista, ou mesmo o profissional de manutenção,
poderá adotar, verificar o correto funcionamento de fontes de alimentação lineares para
circuitos amplificadores. Na Figura 18 apresentamos a fonte prática que iremos analisar.

Figura 18 - Fonte projetada para um amplificador de 42V / 2A.

No projeto em si consideramos 2𝐴 como o pior caso (50% a mais). Tomamos como


exemplo um amplificador que drenará 1,3𝐴 da fonte, quando em potência máxima, logo
1,3
𝐼 = 1,3 + = 1,95 ≈ 2𝐴
2
A tensão de ripple para um caso extremo será
𝐼 2
𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 = = ∴ 𝑉𝑟𝑖𝑝𝑝𝑙𝑒 = 1,89𝑉
𝑓𝐶 120 × 4 × 2200 × 10−6
Na ponte foram utilizados diodos 1N5408 para 3𝐴, pois poderão controlar com folga a
intensidade de 1𝐴 em casos extremos. Utilizamos um transformador toroidal com secundário
de 30𝑉 e uma corrente de 7𝐴, que suportará tranquilamente a potência demandada. O valor
de pico na saída do transformador é

𝑉𝑃 = 30√2 = 42,42𝑉
Com uma carga, a tensão deve sofrer queda, resultando em um valor próximo de 40𝑉.

Considerando um alto-falante de 8Ω na saída, a fonte será capaz de acionar um


amplificador para uma potência de

𝑃 = 𝐼 2 𝑅 = 22 × 8 = 32𝑊
Fontes chaveadas: dada a complexidade no projeto e também devido ao fato das fontes
não lineares serem pouco utilizadas para circuitos amplificadores high end, não abordaremos
este tópico aqui. É válido que o projetista interessado em se aprofundar neste tópico, busque
informações nas seguintes obras:

- Projetos de Fontes Chaveadas (disponível em https://amzn.to/394zWgq);

- Eletrônica de Potência (disponível em https://amzn.to/32qJBfX).

Uma aplicação interessante para fontes chaveadas se dá em hometheater e som


automotivo, uma vez que são sistemas que necessitam ocupar menor espaço.

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