Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
--TCC{UNICAMP
D928a
1670 FEF/556 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
EDUCAÇÃO FÍSICA
ALUNO
ORIENTADORA
Campinas
Julho de 2004
Resumo
O presente trabalho busca entender as origens do Circo, desde seu modo mais primitivo
de entretenimento até sua máxima contemporaneidade, utilizando, dessa forma, o conceito de
Arte Circense como fio condutor para o estudo. Através da p6squisa qualitativa, representada
pela revisão bibliográfica, encontramos entrelaçamentos na história do Circo e da Educação
Física, possibilitando entender algumas similaridades das áreas em questão, delimitando,
assim, algumas modalidades circenses que podem ser incorporadas ao conteúdo escolar. A
Educação Física constitui-se, portanto, num meio importantíssimo de promoção e divulgação
desse conhecimento, contribuindo desta forma para desenvolvimento do aluno como ser
humano integral, capaz de conhecer e apropriar-se das manifestações da cultura popular de
forma livre e criativa.
O Circo ....................................................................................................................................... !
A Evolução do Circo Antigo .................................................................................................... 1
Circo Moderno ......................................................................................................................... 2
Circo-Ménagerie ...................................................................................................................... 3
O Circo Novo ........................................................................................................................... 3
O Circo no Brasil. ....................................................................................................................... 5
Estrutura do Circo no Brasil .................................................................................................... 6
A separação entre atividades circenses, funambulescas e gímnicas .......................................... 8
Métodos de Ginástica ............................................................................................................. I O
Educação Física no Brasil ........................................................................................................ 1O
Educação Física na atualidade ............................................................................................... li
Abordagem construtivista .................................................................................................. 13
Abordagem Crítico-Superadora ......................................................................................... 14
Abordagem Crítico-emancipatória .................................................................................... 14
O que acreditamos .................................................................................................................... 15
A Arte Circense ........................................................................................................................ 16
O Universo Circense e suas modalidades ................................................................................ 17
Aplicabilidade do Conteúdo da Arte do Circo ......................................................................... 19
Relevância do conteúdo das Artes Circenses ........................................................................... 21
Considerações Finais ................................................................................................................ 24
Bibliografia............................................................................................................................... 27
O Circo
O circo exerce grande fascínio, utiliza-se do imaginário das pessoas, com isso o espectador
sente sensações jamais antes vivenciadas, uma vontade de gritar com as demonstrações de perigo
nas apresentações aéreas, onde o corpo é suspenso apenas pela força dos artistas que a qualquer
momento, por fatalidade, podem vir ao chão; sensações de medo e curiosidade quando homens
destemidos enfrentam feras incontroláveis, ou mesmo, sensações de satisfação quando um
número executado perfeitamente toca o coração desses amantes das artes circenses.
O Circo que conhecemos hoje é uma grande fusão de gêneros e tendências das mais
diferentes épocas e povos. Caracteriza-se como uma arte milenar, influenciada pelo meio em que
estava inserida, ele absorveu as mais diferentes tendências, criando um vínculo muito forte com a
sociedade e com o povo que dele fazem parte.
Um grande influenciador do circo foi o reino animal que fascina o homem que deseja
domesticar e adestrar diferentes bestas. No Egito antigo, há mais de 35 séculos, é que se tem
notícia da primeira coleção de animais exóticos. O povo da Índia e os chineses também se
entretinham com importantes coleções, como animais capturados nas diversas batalhas, eles eram
tratados como troféus das conquistas das grandes civilizações. Mas é a civilização Grega que
desenvolve os princípios da manipulação (ménagerie), em Cnossos, o primeiro anfiteatro que foi
criado em 2400 a.C., no qual jovens atletas faziam exercícios sobre um touro. (Jacob, 1992).
Antes de o homem tentar criar e adestrar os animais, a população já se entretinha com as
apresentações circenses, se é que podemos chamá-las assim, pois as primeiras infonnações sobre
o aparecimento das artes circenses ou entretenimento da população são datadas de mais de 3.000
anos em pinturas encontradas na China que retratavam acrobatas, contorcionistas e equilibristas.
De acordo com Mauclair (1995), a acrobacia foi a primeira manifestação artística corporal do
homem, além de uma fonna de treinamento para os guerreiros de quem se exigia agilidade,
flexibilidade e força. Com o tempo, essas qualidades se somaram a graça, a beleza e a harmonia.·
Segundo Castro (s/d), nas pirâmides do Egito existem pinturas de malabaristas e paradistas,
sempre associados a festas e ou demonstrações. Na Índia os números de contorção, saltos e
pirofagia fazem parte dos milenares espetáculos sagrados, junto com danças, música e canto. Na
Grécia, as paradas de mãos, o equilíbrio mão com mão, os números de força e o contorcionismo
eram modalidades olímpicas. As apresentações eram feitas em recinto fechado como também na
rua e praças.
O auge do circo no mundo antigo se dá em Roma, com a criação do Circus Maximus, com
capacidade para 300.085 lugares. Neste local eram realizados os jogos romanos, caracterizados,
segundo Jacob (1992), pelos combates de gladiadores e as corridas de charrete, além de propor
outros números de atrações, sendo os jogos antecipados por uma "parada", consistindo numa
fanfarra, comediantes mascarados e funâmbulos fazendo o povo rir. Também havia o desfile
sobre cavalos em galope e apresentações de doma de animais, como os sapos cantores, os ursos
boxeadores e os elefantes dançarinos.
Porém, as arenas passaram a ser ocupadas por espetáculos sangrentos, com a perseguição
dos cristãos, que eram atirados as feras, o que diminui o interesse por este tipo de entretenimento.
Os artistas passaram a improvisar suas apresentações em praças públicas, entradas de igrejas e
feiras populares, em suas barracas eram exibidos fenômenos, habilidades incomuns, truques
mágicos e malabarismo, instaurando assim a nação de artistas ambulantes (Castro, s/d).
1
A partir daí inicia-se uma fase negra na história dos funâmbulos, "artista que anda ou
dança em corda bamba, aquele que muda facilmente de opinião ou partido, inconstante"
(Michaelis, 2000) e saltimbancos (do italiano, saltar sobre os bancos), artistas que se
expressavam nas mais variadas formas: acrobacia, equilibrismo, salto, ilusionismo, mímica,
ventriloquia, música, entre outros, exibindo-se ao ar livre para qualquer platéia, uma vez que
dependiam de contribuições espontâneas para sobreviver.
Na Idade Média, a crise é agravada pela pobreza de toda a população, ocorre uma busca
pelo sagrado, pelo culto do espírito, e dessa maneira, os artistas passam a ser muito discriminados
pelas autoridades. Louis XIV proíbe que dançarinos de corte e outros artistas demonstrem suas
habilidades em via pública, provocando um agrupamento obrigatório das apresentações em feiras
(Jacob, 1992). Portanto os artistas acabam figurando a cena dos marginalizados, assim, sempre
procuravam novas cidades nas quais poderiam ganhar um pouco mais e ter mais respeito,
caracterizando o nomadismo dessas pessoas.
A partir do século XVII, esses saltimbanco~ consolidam uma forte dinastia na Europa,
estruturam-se em barracas que funcionavam como palcos. No século XVIII, havia vários grupos
de saltimbancos percorrendo a Europa, especialmente a Inglaterra, França e Espanha. Eram
freqüentes as exibições de destreza a cavalo, combates simulados e provas eqüestres. Este tipo de
espetáculo perdura mesmo com as novas tendências do circo moderno, é o verdadeiro circo
popular (Auguet, 1974).
Circo Moderno
2
como saltimbancos, equilibristas, saltadores e palhaços. Assim, os artistas não mais estariam se
apresentando em feiras e festas, teriam um lugar apropriado.
Na França, o sucesso de Astley foi tão grande que um domador de animais, chamado
Antonio Franconi, decide dar continuidade aos espetáculos circenses em locais fixos, recupera o
mesmo espaço usado por Astley e em 1807 abre as portas de seu estabelecimento, o Cirque
Olympique (Auguet, 1974).
Um dos netos de Franconi, Adolphe Franconi, associado a Dejean, proprietário de terras, se
tomam grandes diretores de circo, e criam o circo d'Été na Champs-êlysées e favorecem a
construção do Cirque d'Napoleon, inaugurado em 1852, que mais tarde se transforma no Cirque
d'Hiver.
Devido a grande rivalidade entre Astley's Amphitheater e Royal Circos, Hughes prefere
partir para Rússia, implanta o circo com características similares as que utilizavam na Inglaterra,
consegue fama e reconhecimento, influenciando as novas tendências do circo russo. A partir
deste evento, muitos artistas e circos buscam novas alternativas para diferenciar e incrementar
suas apresentações, uma destas é a imagem do balé, dança e elegância juntos, desta fonna o circo
russo vai se estruturando, iniciando uma tradição de muita qualidade e força.
Nos Estados Unidos, como em outras partes do mundo, este tipo de espetáculo não
encontra espaços adequados, mantendo-se ao ar livre. Quando, no início do século XIX, Purdy
Brown, juntamente com os innãos Nathan e Seth, cobrem a arena com uma "cava" (tenda), que
possuía um mastro central, surge o Circo Americano. Mas foi nas mãos de Phineas Taylor
Barnum que o circo coberto foi difundido, pois ele era um homem de negócios e um
extraordinário publicitário. Utilizou cartazes coloridos e uma tenda enonne, dando novo ritmo
aos espetáculos (Jacob, 1992).
Circo~Ménagerie
O Circo Novo
Como podemos ver a história do Circo está repleta de momentos que foram necessários e
essenciais para que esta arte ganhasse força e pudesse sobreviver, muitas vezes quase se
dizimando em determinadas épocas, mas através da forte ligação com a sociedade perdura até
hoje.
3
Na segunda metade do século XIX, o Circo sofreu wna nova influência. De acordo com
Bost (1931), surge um rival nomeado de Music-Hall, podendo ser entendido como Casa de
Espetáculo, pode ser caracterizado por dois gêneros de espetáculo profundamente diferentes, um
deles o Grande Espetáculo e outro o Music-Hall de variedades ou de atrações, este último segue a
mesma linha das apresentações de circo, tendo duas grandes diferenças, o clown não tem espaço
no espetáculo do Music-Hall e em contrapartida os cantores ganham um espaço de destaque.
O primeiro music-hall de variedades tem início quando surge a idéia de transportar a cena
da pista para o teatro, arte cênica e circo se entrelaçam e envolvem os acrobatas criando novas
perspectivas. De outro lado, o Grande Espetáculo, será introduzido na França, possuindo
características bem distintas. Em Paris foram criados dois grandes music-halls: o Palace e o
Moulin-Rouge. Foram reinos das mulheres nuas, decorações voluptuosas, dos milhões
desperdiçados; foi o reino da vedete; o reino das luzes e cortinas; dos espetáculos sem alma no
qual a única intenção era tocar os olhos, os ouvidos dos espectadores (Bost, 1931).
Os circos fixos que fizeram sucessos nas capitais, em fins do século XIX e início do século
XX, fecham as portas, podendo dizer que houve um retomo ao circo ambulante. Para Henri
Thétard (apud Auguet, 1975), os sintomas alarmantes do declínio do circo estão na carência de
diretores, incapazes de atrair o público pelas novidades e qualidade de seus espetáculos. Outra
causa foi a consciência profissional dos artistas, muitos dos artistas de circo se direcionam para
os music-halls e as feiras populares tentando a sorte por eles mesmos. Além do cinema que afere
ao circo wna concorrência séria. Mas o grande rival do circo não foi os outros tipos de
espetáculos ou formas de entretenimento, e sim, o desafeto do público, pois mesmo havendo
espetáculos de qualidade, estes não são mais prioridade dos espectadores.
Depois da revolução, em 1919, o novo governo soviético cria decretos de nacionalização do
circo e dos teatros, e este projeto se concretiza, em 1927, com a abertura do Curso de Arte do
Circo. É uma primeira tentativa de desenlace de uma nova forma estética, sinal novo de interesse
por disciplinas não tão populares. A União Soviética cria urna nova tendência que influenciará
muitas produções através do mundo, ficando marcada na história do circo como uma vitrine
cultural (Jacob, 1992).
A criação do Estúdio de Moscou, em 1972, vem completar o dispositivo pedagógico
excepcional que permite a realização de grandes números aéreos (Mauclair, 1995). Na França, a
primeira escola de Circo é a Escola Nacional de Circo Annie Fratellini. De acordo com Jacob
(1992), esta escola é inaugurada 1974, neste mesmo ano, Silvia Montfort e Alexis Grüss abrem as
portas de sua escola, "École du Cirque". O governo Francês cria, em 1984, na cidade de Châlons-
em-Champagne, um estabelecimento que utiliza o modelo soviético como linha norteadora,
chamado de CNAC (Centre National des Arts du Cirque).
O contato entre os tradicionais do Circo e a vanguarda do teatro resulta na criação de um
conceito, circo como arte. Dança clássica e teatro fazem parte do currículo. São criadas formas de
espetáculo com temas, usando novos aparelhos; diretores de teatro são chamados para dirigir os
espetáculos e músicos fazem composições especiais sob medida. São as primeiras visões do
Circo Novo.
A multiplicação das escolas de circo é um passo decisivo para a democratização do saber,
conhecimento este que se encontrava enraizado nas tradições circenses, podendo ser esquecido ou
perdido, ocasionado pela crise vivida por essas famílias, e agora pode ser aprendido e usufruído
por inúmeras pessoas que buscam na multidisciplinaridade a criação de coisas novas e diferentes.
De acordo com Mauclair (1995), a arte da rua causa grande influência na revolução do
circo. Os futuros diretores do circo novo foram os mesmos artistas que tiveram seu primeiro
contato direto com o público nas praças, aprimorando a técnica clownesca suscitando numa nova
4
geração dentro do picadeiro. Os pioneiros do circo novo tiveram como tema de seus espetáculos
as constantes do universo como um todo ou do circo tradicional (Jacob, 1992). Eles os
teatralizaram, tentando abolir as rupturas ou quebras entre os diferentes números, criaram um
ritmo novo e, sobretudo, envolveram todos os artistas num senso de exploração, um estado de
ligação entre os artistas que busca através da tentativa em conjunto criar novas maneiras de
correlacionar os números entre si.
Na França, a partir dos anos 70, foram formados diversos grupos circenses, Trapanelle
Circus, o Cirque Amour, Cirque Univers, Cirque Nu, Circo Zíngaro, Cirque Baroque, entre
outros. Em vários países simultaneamente acontecem à mesma situação, na Austrália, com o
Circus Oz (1978), e na Inglaterra, com os artistas de rua fazendo palhaçadas, truques com fogo,
andando em pernas de pau e com suas mágicas.
No Canadá, os ginastas começaram a dar aulas para alguns artistas perfonnáticos e a fazer
programas especiais para a televisão e em ginásios em que os sal tos acrobáticos eram mais
circenses. Em 1981, criou-se a primeira escola de Circo para atender a demanda dos artistas
performáticos. Em 1982, surge em Quebec o Club des Talons Hauts, grupo de artistas em pernas
de pau, malabaristas e pirofágicos. Esse foi o grupo que em 1984 realiza o primeiro espetáculo do
Cirque du Solei!.
Uma grande revolução acontece, o espaço cênico muda, de acordo com a polivalência dos
acrobatas que com criatividade exploram diferentes lugares servindo as novas exigências do
espetáculo. Paralelamente com as pesquisas em matéria de espaços e de artifícios ou técnicas
cênicas, tudo se enriquece, desde a criação de figurinos, uma cenografia adaptada, além da
iluminação e das músicas, mas uma característica importante que se cria é a cumplicidade entre o
ator-acrobata e o espectador.
A partir da aparição e formalização do circo novo, as duas fonnas de espetáculo circense, a
antiga e a nova coabitam segundo seus princípios. De acordo com Jacob (1992), passado o tempo
da emergência de formas diferentes, inspirações e estímulos pelo novo, insufladas pelas escolas,
no fim dos anos 80, é preferido chamar estas novas tendências de Circo Contemporâneo.
O Circo no Brasil
No Brasil, mesmo antes do circo de Astley, já havia os ciganos que vieram da Europa, onde
eram perseguidos. Entre suas especialidades incluíam-se a doma de ursos, o ilusionismo e as
exibições com cavalos. Há relatos que eles usavam tendas e nas festas havia bagunça, bebedeira,
e exibições artísticas, incluindo teatro de bonecos. Eles viajavam de cidade em cidade, e
adaptavam seus espetáculos ao gosto da população local (Torres, 1998). Contemporaneamente,
grupos de saltimbancos, conhecidos como volantis ou bulantis, percorriam o território nacional,
alcançando o stahts de circense somente a partir do século XIX (Oliveira, 1990).
Durante o decorrer do século XIX e XX, muitos artistas chegam ao Brasil, não se filiam a
nenhum circo, apresentando seus números em praças públicas. A estrutura do circo no Brasil não
é equivalente aos circos estrangeiros, e por esse motivo os imigrantes sentem a necessidade de
adaptar-se a nova realidade, começam a sair da rua para apresentar-se em espaços fechados,
havendo, inclusive, a cobrança de ingressos. De acordo com Silva (1996), as apresentações em
recinto fechado podem ser reconhecidas como: circo de tapa-beco, circo de pau-a-pique, circo de
pau-fincado ou circo americano.
As primeiras informações são do circo tapa-beco, consistindo em um terreno baldio, com
casa a seu lado, cobria-se à frente e o fundo com uma cortina, denominada pano-de-roda (com a
intenção de não deixar a pista à vista, sendo necessário entrar para assistir o espetáculo). Ao
5
centro vinha um picadeiro feito com corda, delimitando o espaço da apresentação. Preservando o
alicerce do circo, aparece o mastro, e no topo do mesmo era colocado um travessão, este
denominado de "escandalosa", formando um meio 'T no qual na ponta eram presos os aparelhos
aéreos.
No caso do circo de pau-a-pique, a madeira era cortada e disposta em círculo, enfincada no
solo, uma peça do lado da outra, rodeada pelo pano de algodão. Ainda não havia iluminação,
apresentando os espetáculos no período diurno. O engraçado é que a sociedade se envolvia com o
circo, muitos dos espectadores para não ficarem sentados no chão, levavam de casa sua própria
cadeira (Silva, 1996).
Uma nova tendência de estrutura de circo cresce no inicio do século XX, é o circo de pau
fincado, as diferentes formas de circos coexistem dependendo das -condições financeiras para se
estruturarem melhor ou pior. Nesta estrutura, a volta ao redor do circo pode ser feita pelo pano de
roda ou com chapas de alumínio, e a cobertura, feita de pano, podia ser parcial, sobre o público,
ou total. Surgem as arquibancadas para melhor acomodação do público. A apresentação noturna
pode ser realizada graças à iluminação com candeeiros, posteriormente por lampiões.
O último tipo foi o circo americano que começa a ser usado no Brasil, difundindo-se a
partir de 1940 (idem). A estrutura fica muito mais ágil e moderna e a lona fica estendida por
estacas. Esta fonna é utilizada até os dias de hoje, nos circos "tradicionais", nos quais os paus
foram substituídos por peças de ferro e alurninio.
6
O circo-teatro vem para suprir as dificuldades enfrentadas por diversas companhias
circenses. Devido à escassez de público, estes circos sofrem para manter os animais de grande
porte, dado aos elevados custos de aquisição de comida e tratos especiais, tornando inviável a
exibição de animais ferozes para a maior parte das companhias.
O espetáculo circense no Brasil não se preocupa com o real e a verossimilhança, e por este
motivo o melodrama se alia de uma maneira natural ao circo. Segundo Duarte (1995), muitos
jornalistas da época criticavam tais apresentações, devido à falta de profundidade e caráter
civilizador e moralizador, além de serem sensacionalistas e exagerados. Mas a critica não fazia
jus a bilheteria, pois cada vez mais o público comparecia às apresentações e se entretinha com os
melodramas. Para ilustrar um pouco como eram estas performances, usamos um trecho do livro
Noites Circenses:
Portanto, a ligação entre o circo e o melodrama foi muito forte, ambos descompromissados
com o real, levavam o público a sentir as mais diferentes sensações, como tensão, perigo, morte,
alegria e emoção.
Instalando-se na periferia das grandes cidades e voltados para as classes populares, a
modernização do Circo não se deu em termo de espaço e equipamentos: investiam em elemento
humano, suas destrezas, habilidades e criatividade. Por isso, os palhaços são figuras centrais,
dependendo deles o sucesso do espetáculo.
Em meados do século XX, os circenses começam a questionar a vida dentro do circo.
Sabendo que se seus filhos permanecessem e aprendessem os oficios circenses jamais sairiam
desta vida, começam a mandar os filhos para casas de parentes com residência fixa, para que
iniciem seus estudos buscando ter uma vida diferente.
Ocorre uma ruptura do conhecimento circense, por ser um ensinamento oral e,
praticamente, de vivenciar o dia-a-dia, tal aprendizado foi se perdendo, pois os futuros
conhecedores desta arte não mais se encontravam no circo.
De acordo com Silva (1996), alguns circenses, a partir da década de 70, preocupados em
transmitir a técnica circense fundam escolas no Brasil, tentando com isso fazer renascer esta arte,
mesmo que não fosse com seus próprios filhos.
A primeira escola que se instalou no Brasil chamava-se Piolin, em São Paulo, no estádio do
Pacaembu (1977). Em 1982, surgiu a Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro, e outras
escolas foram criadas ao longo dos anos, como em Salvador, Belo Horizonte e em outros estados,
nas quais os jovens de todas as classes sociais têm acesso às modalidades circenses.
Formados, os ex-alunos vão trabalhar nos Circos brasileiros ou no exterior, ou formam
grupos que se apresentam em teatros, ginásios e praças. Atualmente, a Intrépida Trupe, os
Parlapatões, Patifes e Paspalhões, a Nau de Ícaros, o Circo Mínimo, Linhas Aéreas e Teatro de
Anônimo, entre outros, formam o Circo Contemporâneo Brasileiro.
7
A separação entre atividades circenses, funambulescas e gímnicas
8
A ciência tinha que se impor, e para que isso fosse possível a Ginástica Científica tem a
necessidade de cortar os vínculos com seu núcleo primordial; tudo que se relacionava com os
espetáculos próprios do mundo do entretenimento, o circo e as festas populares, deveriam ser
recusados:
9
de pais para filhos, criando o vínculo familiar, tendo a familia como alicerce da lona do circo.
Essa mentalidade se manteve até fmal do século XX, suas técnicas desenvolvem~se de maneira
um pouco mais lenta, pois os movimentos ensinados são passados de geração para geração, nas
quais não havia um estudo ..cientifico" dos movimentos e técnicas; porém os significados desses
gestos sempre estiveram presentes, despertando o riso, o temor e, sobretudo, a liberdade.
Em contrapartida, na ginástica científica predominava o princípio da utilidade dos gestos e
da economia de energia, na busca de um corpo milimetricamente reformado, simétrico, enfim,
perfeitamente sintonizado com os preceitos cientificas. Sendo a técnica do movimento seu
principal objeto de estudo, não se preocupando com seus significados ou emoções.
Métodos de Ginástica
!O
A partir do Brasil Império começa a estruturar o conhecimento a respeito da educação;
diversos livros são apresentados; entre eles, "Estatutos Higiênicos sobre a Educação Física,
Intelectual e Moral do Soldado", do Dr. Eduardo Pereira de Abreu, que apresenta a educação
física como importante peça na formação do soldado, podendo ser ministrada em escola ou
isoladamente. Os exercícios físicos têm um caráter higiênico, busca a melhoria da saúde, das
capacidades fisicas da população e aspectos ligados a higiene pessoal. De acordo com Castellani
Filho (1988), os preceitos médicos ditavam as regras, buscando uma política populacionista,
visando criar uma população racial e socialmente identificada com a camada branca dominante.
Para Marinho (1980), quando o Brasil toma-se República, em 1889, continua tendo
problemas estruturais no âmbito escolar, por não terem espaço próprio reservado para a prática da
ginástica, sendo ministradas dentro das próprias salas de aula, de maneira insuficiente. A
ginástica encontrada nestas instituições poderia ser de origem alemã e sueca, além de haver
práticas desportivas como o remo, natação, esgrima, tênis, entre outros (Marinho, s/d).
Um segundo período é encontrado a partir da década de 20 até a década de 50, no qual a
ginástica francesa é oficialmente decretada nas instituições militares como a forma de se
exercitar. Em 1922, é criado o Centro Militar de Educação Física, destinado a dirigir, coordenar e
difundir o método e suas aplicações. Em 1928, a Reforma Fernando de Azevedo estabelece que a
educação fisica seja ministrada todos os dias em caráter obrigatório (Marinho, 1980).
A visão eugênica tende a ser a idéia influenciadora desta época. O governo ditatorial de
Getúlio Vargas discursava por uma educação física, de acordo com Daolio (1997), com a
fmalidade de fortalecimento do homem brasileiro. A fim de atender às necessidades de segurança
da pátria e suprir a carência de mão-de-obra especializada na industria nacional, essa nova visão
está vinculada aos ideais militaristas.
Mesmo após o fim do governo ditatorial, a ginástica francesa perdura como grande
influenciadora da Educação Física. Porém, mais recentemente temos -como condutor da Educação
Física, a aptidão fisica, estimulada pelo governo militar, que passa a ser um mecanismo de
preparação de novos atletas, tentando descobrir novos talentos na obtenção de medalhas em
grandes competições nacionais e internacionais, continuamos a ter uma visão biológica, apenas
mudando um pouco o enfoque.
A Educação Física como matéria curricular é entendida na fonna de atividade - ação não
expressiva de uma reflexão teórica, caracterizando-se, dessa fonna, no fazer pelo fazer
(Castellani Filho, 1988, p.l08). Desta forma a educação fisica se caracteriza por uma atividade
sem grandes conflitos em relação ao intelecto, é considerada uma ·atividade que melhoraria
apenas o físico sem grandes influências na mente.
Atividade pautada principalmente na biologização do movimento humano, materializando-
se por meio de práticas desportivas, visando basicamente a formação de atletas e ao
desenvolvimento da aptidão fisica, desenvolvida por meio de uma pedagogia tecnicista. A
Educação Física volta-se para a construção de um corpo ordeiro, disciplinado, forte e alienado,
garantindo saúde e aptidão fisica ao trabalhador, preparando-o para as exigências das técnicas do
trabalho (Caparroz, 1997).
Observando a Educação Física, ao longo dos séculos, seu conceito e a sua utilidade vêm se
desenvolvendo conforme as exigências da sociedade, podemos dizer que, durante os séculos XIX
e XX, ela vem suprir os preceitos de:
11
Nacionalismo dos países europeus; à preparayão para a guerra; à ética burguesa
e à educação das elites; à disciplina corporal e ao surgimento da recreação com
disciplina escolar e atividade social; à reabilitaçã-o dos jogos olímpicos e aos
movimentos de ginástica artística; a prática esportiva como meio de lazer e ao
esporte praticado como espetáculo; à medicina esportiva à politização das
competições internacionais; à massificação do esporte e da recreação e,
finalmente, à comercialização das atividades físicas como espetáculo e prática
(Mclntosh apud Costa, in Moreira, 1992, p.38).
12
que, através do movimento, cuida do corpo e mente" (idem, p.80), podemos citar a abordagem
Desenvolvimentista como uma proposta desta visão, a qual tem como principal objetivo
fundamentar-se através das explicações dos processos de crescimento, de desenvolvimento e de
aprendizagem motora do ser humano. Para Tani (1988), principal defensor dessa abordagem, sua
proposta pauta-se na existência de uma seqüência normal desses processos, podendo desta forma
orientar as crianças de acordo com suas reais necessidades e expectativas.
Abordagem construtivista
Muitos teóricos apontam João Batista Freire como o maior representante e divulgador dessa
abordagem. Freire (1989) propõe uma educação de corpo inteiro, valorizando a prática da
educação fisica, seguindo o pressuposto corpo e mente indissociáveis. De acordo com essa teoria,
os jogos desenvolvidos no contexto educacional devem ser trabalhados de maneira diferente,
atendendo a determinados objetivos. como o desenvolvimento de certas habilidades motoras ou
habilidades perceptivas, ou a formação de noções de lógicas, como seriação, conservação e
classificação, ou o trabalho visando a cooperação.
Esta proposta discorda da abordagem desenvolvimentista, quando não aceita uma
padronização do mundo, observada através dos padrões de movimento. Para tal, Freire. lança
mão da manifestação de esquemas motores, isto é, "organização de movimentos construídos
pelos sujeitos, em cada situação, construções essas que dependem, tanto dos recursos biológicos
e psicológicos de cada pessoa, quanto das condições do meio ambiente em que ela vive" (idem,
p.22). Afirma de maneira contundente que a tarefa fundamental da escola é promover o fazer
juntamente com o compreender.
Pautando-se em Piaget, esta concepção entende os esquemas motores como sendo a
construção, pelos sujeitos, de movimentos corporais específicos, no intuito de adaptar-se ao
mundo, na resolução de problemas, sempre dirigidos para um fim e orientados por uma intenção.
13
Abordagem Crítico-S operadora
Esta abordagem compreende a educação fisica como "matéria escolar que trata,
pedagogicamente, temas da cultura corporal, ou seja, os jogos, a ginástica, as lutas, as
acrobacias, a mímica, o esporte e outros" (Coletivo de autores, 1992, p.18).
Segundo Daolio (2004), a reflexão pedagógica deve levar a um projeto político-pedagógico
que seja diagnóstico, por implicar a leitura dos dados da realidade; judicativo, porque julga a
partir de uma ética que representa os interesses de determinada classe social; e teleológico,
porque aponta para uma direção clara de transformação da realidade.
O conhecimento da Educação Física infonna os requisitos para selecionar, organizar e
sistematizar os conteúdos de ensino. Tais conteúdos são provenientes de conteúdos culturais
universais, conhecimentos incorporados e reavaliados pela sociedade.
Tanto Coletivos de autores (1992), como Daolio (2004), definem a Educação Física como
uma disciplina que trata do conhecimento da cultura corporal, consistindo em temas ou formas de
atividades corporais, tais como: jogo, esporte, lutas, ginástica, dança.
O jogo pode ser entendido como um artificio do ser humano, de maneira criativa, de
modificar, imaginariamente, a realidade e o presente, satisfazendo a necessidade de "ação" das
crianças. O esporte como uma prática social, envolve códigos, sentidos e significados da
sociedade que o cria e o pratica. A Ginástica como uma forma particular de exercitar-se, que tem
entre seus fundamentos, "saltar", "equilibrar", "rolar/girar", ••trepar" e ..balançar". A Dança como
a representação da vida, uma representação estilizada e simbólica (Coletivo de autores, 1992).
Desta forma, é proposta uma série de atividades que compõem a cultura corporal, repletas de
significados e símbolos de uma sociedade ou de uma época.
Abordagem Crítico-emancipatória
Elenor Kunz propõe uma abordagem que considera a educação fisica como parte de um
sistema maior, sócio-educacional, sócio-econômico e político. Para isso, critica a exclusividade
da abordagem das ciências naturais e propõe a consideração das ciências humanas e sociais para
melhor compreensão e atuação da área.
Esta abordagem cria uma concepção dialógica que pressupõe o envolvimento do homem
como sujeito da ação, responsável por sua intencionalidade, caracterizando o sentido/significado
dos movimentos, desta maneira não analisa o rendimento físico e o comportamento em suas
formas isoladas.
O mesmo autor concebe a educação física como uma práxis social, considerando o dialogo
homem/mundo a partir da concepção dialógica, chegando ao conceito de "cultura do
movimento", defmindo-a como:
14
identidade pessoaVidentidade social, a questão do sentido/significado, a preocupação com a
dicotomia mente/corpo, considerando-os relevantes na formação do profissional desta área.
Para que a teoria crítico-emancipatória possa se concretizar, a maioridade e emancipação
devem ser colocadas como tarefas da educação. Emancipação sendo o processo de libertação do
jovem das condições que limitam o uso da razão crítica e com isso todo o seu agir social, cultural
e esportivo. O uso da razão critica é, assim, a capacidade de avaliação e análise intersubjetiva das
condições de racionalidade.
Em lugar de ensinar os esportes pelo simples desenvolvimento de habilidades e técnicas do
esporte, numa concepção crítico-emancipatória, deverão ser incluídos conteúdos de caráter
teórico-prático que além de tomar o fenômeno esportivo transparente, permite aos alunos melhor
organizar a sua realidade de esporte, movimentos e jogos de acordo com as suas possibilidades e
necessidades.
Esta abordagem ressalta que a Educação Física, além do trabalho produtivo de treinar
habilidades e técnicas, possui outros aspectos, como: interação social, acontecimento observado
em todo processo coletivo de ensinar e aprender, mas deve ser tematizado como objetivo
educacional que valoriza o trabalho coletivo de forma responsável, cooperativa e participativa;
linguagem, a tematização feita pela Educação Física como categoria de ensino, ganha
importância maior, pois não só a linguagem verbal ganha expressão, mas todo o "ser corporal" do
sujeito se toma linguagem (Kunz, 2001).
Assim, ao induzir a auto-reflexão, a pedagogia crítico-emancipatória oportuniza aos alunos
assumirem um estado de maior liberdade e conhecimento de seus verdadeiros interesses, ou seja,
esclarecimentos e emancipação.
O que acreditamos
A Educação Física é uma ''{.. .] prática pedagógica que tematiza com a intenção
pedagógica as manifestações da cultura corporal de movimento" (Bracht, 1999, p.16), sendo
apresentada na forma de jogos, de exercícios ginásticas, de esportes, de dança, entre outras, pois
são movimentos humanos com determinado significado/sentido, inseridos num contexto
histórico-cultural.
Para tal, Betti (1994), afirma dois tópicos para se entender a educação fisica: (1)
corpo/movimento, termo que confere especificidade à educação fisica, área que tem nas
atividades corporais de movimento, simultaneamente, seus meios e fins; e (2) acesso à cultura
corporal de movimento, sendo o objetivo da educação fisica escolar a integração da
personalidade do aluno nessa esfera da cultura. Desta maneira, o objetivo da Educação Física é a
cultura corporal de movimento, compreendida como a forma de comunicação com o mundo.
Segundo o mesmo autor, o papel da educação fisica, quer na escola, no clube ou academia,
seria fazer a mediação do saber orgânico para a consciência, levando o sujeito à autonomia no
usufruto da cultura corporal de movimento. Tal "saber orgânico" é a fusão de um saber sobre
algo - ação pedagógica da área, e um saber fazer - saber corporal no sentido de sentir-se e
relacionar-se.
Acreditamos desta forma que os valores da Educação Física estão pautados em alguns
princípios, mencionados e bem definidos por Betti (1999): (1} princípio da não-exclusão,
devendo incluir a totalidade dos alunos aos conteúdos e métodos da educação fisica; (2) princípio
da diversidade, que defende que os conteúdos do programa de educação fisica ofereçam
variedades; {3) princípio da "alteridade" (Daolio, 2004, p.71), devendo considerar o outro (aluno,
15
cliente, atleta) numa relação de totalidade, não como objeto, mas como sujeito humano, ouvindo-
o, conhecendo-o, aceitando-o como ser humano global.
Ainda buscando uma maior compreensão, Daolio (idem), fundamentado nas pesquisas de
Clifford Geertz, propõe uma visão de ser humano mais ampliada, trazendo a tona uma concepção
sintética, passando a tratar os fatores biológicos. psicológicos, sociológicos e culturais como
variáveis de um sistema de analise. Isto é, busca um todo indissociável, sem privilegiar um ou
outro aspecto. Desta forma, a Educação Física passa a ser urna área que trata do ser humano nas
suas manifestações culturais relacionadas ao corpo.
O educador fica responsável por conduzir todas essas variáveis e tentar construir junto com
seus educandos um ser vivo muito mais humano, que saiba relacionar-se e respeitar as normas e
regras vigentes, "socializando~se" (Pérez Gallardo, 2003), e que não fique apenas seguindo-as,
mas que tenha capacidade de argumentá-las. Portanto, a Educação Física também é responsável
pela criação de um homem contemporâneo que tem sua autonomia, sua emancipação e consegue
a partir da convivência com seus semelhantes, de maneira mais humana, um convívio social mais
harmonioso.
Assim, teríamos uma educação fisica diferenciada, que trataria de um ser humano cultural,
considerando as influências que sofre da sociedade e as que exerce sobre ela. Podendo definir a
Educação Física escolar ao nível de vivência (Pérez Gallardo, 2003), preocupando-se com o
desenvolvimento de cada aluno, não os comparando com os demais, mas preocupado com o
melhor aproveitamento individual. Ou mesmo pode estar inserida ao nível da prática, podendo ser
entendida como o aprimoramento de detenninadas habilidades ou atividades, preocupando-se
com o rendimento de cada indivíduo e do grupo em geral, sempre pautados no respeito e
conduzida por valores sociais e por uma ética de respeito aos indivíduos.
Nosso trabalho, a princípio, propõe-se a investigar a Arte Circense num âmbito escolar que
possa ser enquadrado como vivência e/ou prática, tais conceitos serão aprofundados mais a
frente, no item "Aplicabilidade do Conteúdo da Arte do Circo".
A Arte Circense
16
Para a perpetuação destas caracteristicas, Silva (1996) lança mão do tenno Circo-família,
um ctrco que desenvolveu relações sociais e de trabalho específicas, resultante das interligações
entre as variadas famílias circenses, das adaptações sofridas pelos artistas imigrantés e a
consolidação do circo como uma escola, fundamentada na transmissão oral dos saberes e práticas,
através da memória e do trabalho, constituindo em pressupostos na aprendizagem de fazer-se e
tomar-se circense, desta maneira para ser circense, era necessário nascer no circo ou ser
"adotado" por uma destas famílias. Portanto os conhecimentos que fazem parte da vida dentro do
circo são aqueles responsáveis pela produção, reprodução e manutenção do circo.
Ao considerarmos que tais conhecimentos e vivências eram de fundamental importância
para a sobrevivência do circo, não podemos, nós, que nos encontramos fora dessa sociedade,
utilizannos um mesmo conceito tradicional que envolve relações sociais especificas e uma
cultura própria. Para tal, preferimos utilizar o conceito de "Arte Circense" ou "Arte do Circo"
como aquele capaz de exprimir toda relação existente entre o contato dos tradicionais com os
novos artistas, que se incorporaram ao "circo tradicional" e desenvolveram, juntamente ou
concomitantemente, os moldes de Circo Novo ou Contemporâneo.
Graças a esse contato é importante ressaltar um aumento na diversidade circense, com
relação ao nível técnico, material e meios de difusão, inclusive nos meios de comunicação,
tornando o circo um fenômeno sócio-cultural.
Portanto, a partir deste conceito, norteado pela visão contemporânea de circo na qual a
mescla de diferentes artes é essencial, incorporando pessoas de fora da lona, artistas que
desenvolvem as modalidades e técnicas circenses, os conteúdos serão oferecidos em ambientes
externos ao circo.
17
auxiliar e facilitar o entendimento do professorado de nossa área, propomos uma classificação do
conteúdo circense relacionado com as ações motoras gerais.
Ressaltamos que todas as modalidades circenses estão permeadas pela encenação dos
artistas, por esse motivo não podemos deixar de mencionar a grande importância que as artes
cênicas e a dança têm para o Circo Contemporâneo. Portanto, é de fundamental importância
trabalhar concomitantemente as ações motoras gerais e a expressão corporal.
A expressão corporal que entendemos neste estudo é aquela que contribui na construção de
um conhecimento mais artístico, não apenas da técnica das modalidades circenses, mas sim o
como podemos transformar esta técnica em algo gracioso, engraçado, belo. Assim, podemos
trabalhar com diversas vertentes do teatro, desde trabalho vocal ate um trabalho mais especifico,
como o caso do palhaço.
Pela grande variedade e possibilidades, a arte circense exerce um fascínio nas crianças que
buscam novas descobertas. Para uma Educação Física que tenha corno pressuposto básico o da
diversidade, proporcionando a maior variedade de movimentos e ações corporais enriquecendo o
repertório motor, devemos fazer, aqui, algumas ressalvas para se trabalhar a arte circense no
âmbito educacional.
Caracterizando a Educação Física Escolar como uma disciplina generalista, lúdica tendo
requisito primordial uma vivência motora, podemos destacar alguns pontos relevantes na
implantação destas modalidades neste contexto. Devemos observar a infra-estrutura, condição
previa dos alunos, formação especializada do professor e a segurança da atividade, diminuindo os
fatores de risco.
Desta forma, o papel fundamental da Educação Física escolar é proporcionar o contato das
crianças com a cultura corporal existente no circo, em um nível de exigência elementar,
destacando as potencialidades expressivas e criativas, além dos aspectos lúdicos desta prática.
Assim as modalidades que necessitam de pouca infra-estrutura, como as que utilizam materiais
18
de tamanho pequeno e as que não utilizam nenhum tipo de material, são consideradas como as de
mais fácil aplicabilidade na escola.
As modalidades que exigem materiais de médio e grande porte poderiam ser trabalhadas no
ambiente escolar respeitando condições como infra-estrutura, segurança adequada e capacitação
profissional. Concordando com Bortoleto e Carvalho (2003), estas modalidades poderiam ser
trabalhadas em horários extracurriculares, como conteúdo complementar.
O circo sempre esteve relacionado à prática de entretenimento nas suas mais variadas
formas nas mais diferentes sociedades, principalmente, era visto como uma atividade
profissional, responsável pelo sustento de muitas pessoas. Com o surgimento do Circo Novo, a
Arte do Circo vem sendo amplamente difundida, surgindo novas áreas de aplicação no âmbito
social, como a do lazer pessoal, coletivo e educativo.
Desta forma, como já aconteceu com outras atividades, como o esporte, a pintura e a dança,
as quais muitas pessoas utilizam como forma de trabalho (meio de subsistência) e outras utilizam
como forma de lazer, recreação e como conteúdo no âmbito educativo, com a Arte do Circo não
está sendo diferente, ela começa a transcender o âmbito profissional, e passa a ser observado em
outros domínios da atividade fisica, como no âmbito recreativo e educacional.
Contudo, é importante para nós, profissionais da Educação Física, entendermos quais são as
características relativas a cada âmbito. Assim, preocupando-nos com o desenvolvimento do
conteúdo da Arte do Circo, encontramos em Bortoleto e Carvalho (2003) uma sistematização que
busca caracterizar os três âmbitos de atuação (recreativo, educativo e profissional), definindo o
público alvo, as conseqüências pedagógicas e necessidades para um bom aproveitamento deste
conteúdo.
-Recreativo:
Inclui a atividade circense como parte da cultura fisica em geral, e com uma
intencionalidade fundamentalmente recreativa e de lazer, realizada fora dos centros educativos
(escolas). Esta prática terá um enfoque lúdico, buscando a sensação de prazer, diversão e
satisfação.
As necessidades materiais (infraestrutura), a fonnação "específica em circo" dos
profissionais responsáveis, os recursos motores dos alunos e os cuidados com segurança são
mínimas neste âmbito, pennitindo que qualquer pessoa possa participar.
-Educativo:
Atividades circenses realizadas dentro das escolas como conteúdo curricular. Entendemos
que também devem ter um enfoque lúdico, de tomada de contato com a cultura corporal circense,
de desenvolvimento de uma motricidade generalista e de base.
Deve ser uma prática no nível de "iniciação", que enfatize os aspectos relativos à expressão
corporal, como à capacidade criativa, à comunicação, à interpretação, à estética do movimento,
finalizando com o aumento dos conhecimentos da cultura corporal, próprios do universo do
Circo. As necessidades encontradas neste âmbito são as mesmas apresentadas no recreativo.
- Profissional:
As atividades circenses adquirem um enfoque prático de rendimento, que requer ampliar a
cultura corporal circense e ao mesmo tempo desenvolver uma motricidade específica. Neste
âmbito, igualmente ao esporte de alto nível, leva os praticantes a buscarem o maior rendimento
possível, dentro de um alto nível técnico gestual, possibilitando sua utilização de fonna
19
profissional. As necessidades materiais, de formação específica do professorado e dos alunos são
relativamente altas.
Buscando um maior aprofundamento no processo de ensino-aprendizagem, Perez Gallardo
(2003) propõem urna ''postura didática" do profissional, postura esta que o professor deve adotar
para viabilizar as trocas entre a cultura corporal entendida por ele e a cultura corporal que o
educando tem, sendo importante considerar as experiências e vivências anteriores.
Devido às características do meio escolar e da maioria das atividades desenvolvidas com a
comunidade, de acordo com Perez Gallardo (idem), como vimos anteriormente em Bortoleto e
Carvalho, descreve três formas de aplicar os conteúdos, sendo que cada um envolve interesses
diferentes.
-Vivência:
Seu objetivo central é colocar em contato com a Cultura Corporal os alunos, partindo do
pressuposto de que a cultura é um patrimônio universal, ao qual todo ser humano deveria ter
direito. O interesse pedagógico não esta centralizado no domínio técnico dos conteúdos, mas sim
no domínio conceitual deles, dentro de um espaço humano de convivência, onde possam ser
vivenciados aqueles valores humanos que aumentem os graus de confiança e de respeito entre os
integrantes do grupo.
As atividades devem seguir uma planificação para possibilitar a incorporação de muitas
técnicas de execução, que permitam a sua transferência para varias outras situações ou contextos.
Podemos associar esta forma de aplicação com o âmbito recreativo apresentado por
Bortoleto e Carvalho (2003), sendo o prazer de participar, um dos principais atrativos da prática e
também, no âmbito educativo, não requerendo dos praticantes grandes exigências na execução
dos gestos.
-Prática:
É um espaço de livre organização dos alunos, onde eles escolhem as modalidades e/ou
elementos da Cultura Corporal que foram vistos na aula de Educação Física (Vivência) e que
despertaram maior interesse neles. O objetivo do professor de Educação Física para esse espaço é
fazer com que os alunos aprendam a dominar e estabilizar as técnicas de execução dos conteúdos
escolhidos. Aqui aumenta o tempo de experimentação e existe uma maior preocupação com a
técnica. Seus espaços ideais são as atividades extra-escolares e as comunitárias, as que deveriam
ser organizadas e administradas pelos próprios integrantes do grupo social e gerenciados pelo
professor de Educação Física.
-Treino:
Seu objetivo é fazer com que o aluno interiorize as técnicas de uma modalidade da Cultura
Corporal. Para isso, ele precisa de uma quantidade muito maior de tempo de treino, uma
disposição particular para ser bem sucedido nessa modalidade, de material especifico e de um
professor ou técnico com conhecimento aprofundado da modalidade. O alvo principal do
professor ou do técnico é a execução correta das habilidades que fazem parte dessa modalidade,
para que o aluno ou atleta possa participar com êxito de eventos competitivos e demonstrativos.
Seu espaço é o extra-escolar, preferencialmente clubes e Instituições que visem o rendimento e a
competição.
A capacitação restringe-se ao ensino de elementos técnicos das habilidades corporais com
fins claros de desempenho. Esta forma de atuação esta intimamente ligada ao âmbito profissional,
apresentada anteriormente, buscando o maior rendimento possível.
Contudo, em todos os âmbitos ou formas de atuação o profissional de educação fisica deve
estar preocupado com formação humana, independente do nível de atuação. Capacitando o
20
indivíduo numa esfera do conhecimento, permitindo aumentar as possibilidades de interação com
seus colegas, fazendo dele uma pessoa importante e necessária para seu grupo social.
Por isso que as atividades circenses podem ser inseridas na cultura corporal de movimento
pois fazem parte de uma cultura especifica, dentro de uma cultura universal e é d;
responsabilidade do profissional de educação fisica desenvolver e transmitir tal cultura,
ampliando o conhecimento dos indivíduos.
21
Neste trabalho entendemos como capacidade motora, o potencial do individuo para adaptar-
se e ~obreviver em seu meio ambiente, seja fisico ou social (Perez Gallardo, 2000). Estas
capactdades, usualmente, são classificadas em três grupos: grupo I, grupo 11 e grupo III.
Grupo I - são aquelas que dependem principalmente do tipo de fonte energética utilizada
na execução de habilidades motoras, tais como: força muscular; velocidade da contração
muscular; resistência da contração muscular, e; potencia da contração muscular (idem,
p.26).
Podem ser trabalhadas nas mais diversas modalidades circenses, como nas acrobacias (de
solo, em duplas e grupos, banquinas) as quais evidenciamos a força muscular geral e específica
em alguns movimentos, além da potência e resistência da contração muscular; nas paradas de
mãos (solo e mão-jotas) desenvolvendo resistência e força muscular; nos saltos (mini-tramp e
trampolim acrobático) melhorando a velocidade de reação e potência da contração muscular;
Trapézio (volante ou fixo), Tecido e Corda Vertical, dando ênfase a força muscular, resistência
da contração muscular e velocidade da contração muscular.
Grupo 11 - capacidades que dependem principalmente da qualidade das estruturas do
organismo: coordenação motora; flexibilidade corporal; equilíbrio motor (idem, p.30).
Coordenação motora é entendida como a atuação do sistema nervoso central e da
musculatura esquelética, na execução de um movimento harmônico. Pode ser classificada em:
coordenação motora geraL desenvolvida pelas acrobacias, trampolim acrobáticos, saltos, tecido,
corda vertical e trapézio, e; coordenação motora especial, relacionada à execução de tarefa
especifica, sendo:
Coordenação visomotora - são orientadas pela percepção visual, tais como: malabarismo,
equilíbrios de objetos.
Coordenação óculo-manual - em que a percepção visual tem grande ênfase no controle dos
músculos da mão. Podemos encontrar nas atividades de malabarismo e paradismo.
Coordenação cinestésica - infonna sobre a posição do corpo, das extremidades e do tronco.
Observadas nas modalidades: paradismo (chão e mão-jota), malabarismo, equilíbrio corporal
individual e de objetos, tecido e corda vertical, nas mais diferentes acrobacias, nos equilíbrios
sobre objetos (monociclo, rolo americano, perna de pau e bola), trampolim acrobático.
Coordenação tátil - infonna sobre a forma e textura dos objetos tocados, sendo
desenvolvida pelo malabarismo, equilíbrios de objetos, paradismo em diferentes estruturas.
Coordenação acústica - responsável pela recepção acústica de estímulos durante a execução
do movimento. Relacionada ao controle no malabarismo, paradismo, equilíbrio sobre objetos,
além de coordenar movimentos com estímulos vindos do ritmo e melodia de músicas utilizadas
durante uma apresentação ou montagem de coreografia.
Flexibilidade corporal considerada como a capacidade do indivíduo de executar
movimentos de grande amplitude {adaptado de Perez Gallardo, 2000), podendo ser chamada de
mobilidade articular. Será desenvolvida de modo geral, principalmente, no contorcionismo e em
outras modalidades nas quais a plástica do movimento é exaltada pela flexibilidade, como no
Tecido, Trapézio, Trampolim acrobático, acrobacias e equilíbrios individuais. E de maneira
específica, nas modalidades que requerem amplitude de movimento em determinadas
articulações, como nos dedos das mãos (malabarismo), punhos e ombros (paradismo).
Equilibrio motor está relacionado com as superfícies de apoio, com a localização do
centro de gravidade do corpo, com a forma como o peso está distribuído na superficie de contato
e com a qualidade das estruturas orgânicas (Pérez Gallardo, 2000), sendo desenvolvida de
maneira estática através das atividades encontradas nas modalidades como paradismo e
equilíbrios individuais; e de maneira dinâmica, nos equilíbrios de objetos, equilíbrio sobre
22
implementas (monociclo, rolo americano, perna de pau, bola de equilíbrio, bicicletas especiais) e
em equilíbrios acrobáticos (em duplas e grupos).
Grupo 111 - capacidades que dependem principalmente das experiências para seu
desenvolvimento: orientação cinestésicas; estrutura do esquema corporal; orientação e/ou
percepção temporal; expressão corporal.
Orientação cinestésica - deve ser entendida como a capacidade de saber perfeitamente
qual é a posição do corpo ou parte do mesmo, em relação aos objetos e às coisas no meio
ambiente. Desenvolvida em todas as modalidades circenses aplicadas no âmbito escolar, pois
todas se constituem em atividades que dependem da relação entre o corpo, sua posição e os
implementas característicos de cada modalidade, como bolinhas, claves (malabares), aparelhos
aéreos (tecido, corda, trapézio), rolo americano, perna de pau, monociclo, nas acrobacias de
modo geral.
Orientações espaço-temporal - essa capacidade está mais relacionada com a forma de
perceber as informações relativas às estruturas do meio ambiente e com a duração dos
acontecimentos que nele acontecem. Sendo subdividida em orientação espacial e orientação
temporal.
Orientação Espacial depende fundamentalmente do desenvolvimento dos órgãos da visão,
que fornecem os pontos de referência do corpo e dele no meio ambiente, além das sensações
cinestésicas que informam a localização do corpo em relação a esse meio ambiente.
Orientação temporal ou percepção temporal esta associada aos órgãos da audição, atuando
combinados com os órgãos da visão e da própriocepção. Refere-se à noção de adaptação rítmica e
da estruturação do tempo.
Ambas as orientações podem ser aprimoradas com atividades relacionadas ao malabarismo,
equilíbrios sobre implementas (perna de pau e monociclo), equilíbrio de objetos, acrobacias em
geral e acrobacias aéreas. Utilizando o ritmo interno dos indivíduos, o ritmo do aparelho/objeto
manipulado ou utilizado e o ritmo externo como música e estímulos diversos.
Estruturação do Esquema Corporal tem relação com a organização das sensações
relativas ao próprio corpo, como também, das informações relativas ao mundo externo,
interagindo para dar uma imagem real do próprio corpo e do que podemos fazer com ele. Todas
as práticas circenses enquadram-se no desenvolvimento desta capacidade, desde que acentuem a
consciência corporal, fazendo o aluno refletir sobre seus atos motores, compreendendo o que se
passa com seu corpo, partindo de um estímulo e finalizando em uma tarefa.
Expressão Corporal é a capacidade que permite expressar idéias, pensamentos, emoções e
estados afetivos com o corpo. De acordo com Perez Gallardo (2000), essa capacidade integra
todas as outras, vistas anteriormente, servindo como meio de comunicação com o meio social.
Deve-se levar em conta o grau de desenvolvimento, maturidade e experiências individuais
adquiridas no meio físico e cultural.
Lembrando que o circo tem como característica fundamental à apresentação das técnicas e
habilidades desenvolvidas permeadas pela intencionalidade do praticante, esta capacidade estará
sendo evidenciada sempre que houver uma representação das modalidades aprendidas, qualquer
que seja a modalidade circense.
Vimos até aqui as contribuições das atividades circenses relacionadas à melhoria das
capacidades motoras. A seguir, iremos identificar quais são as habilidades motoras e como as
modalidades circenses podem auxiliar na maturação corporal dos indivíduos.
O processo de aquisição de habilidades motoras está intimamente ligado à função de
controle das informações necessárias ao ato motor, desta forma a "habilidade motora é uma ação
complexa e intencional, envolvendo toda uma cadeia de mecanismos sensoriais, central e motor
23
que, através do processo de aprendizagem, se tornou organizada e coordenada de fonna a
alcançar objetivos predetenninados com máxima certeza" {idem, p.SS).
Este processo de aprendizagem está intimamente ligado ao processo de desenvolvimento
motor, entendido como as mudanças comportamentais e estruturais que ocorrem nos indivíduos
desde o nascimento até sua morte. Neste ponto é interessante observar um modelo de divisão, em
três períodos, da seqüência de desenvolvimento motor, proposta por Perez Gallardo (2000),
sendo: movimentos reflexos; movimentos específicos do ser humano, e; movimentos
culturalmente detenninados.
Os movimentos culturalmente determinados são constituídos de habilidades especificas a
uma detenninada cultura e de seus hábitos. A influência do ambiente cultural, aqui representada
pelo vasto universo da Arte Circense, estâ presente durante todo o processo de desenvolvimento
motor no qual os movimentos específicos do ser humano são aprimorados.
Estes movimentos específicos podem ser classificados em diferentes tipos de habilidades,
entre elas: habilidades de manipulação simples (empurrar, puxar e carregar ou transportar);
habilidades de locomoção (rastejar em decúbito ventral, dorsal e lateral; na posição de gatinho,
sentado; quadrupedia ventral e dorsal; e bipedia), e; habilidades de manipulação combinada
(lançar e receber, saltar e cair e subir e descer). Notamos que todas as modalidades circenses
podem auxiliar na aprendizagem e desenvolvimento de uma ou outra habilidade, pois o circo é
uma cultura rica em elementos corporais e motores.
Com tudo isso, a arte circense já poderia ser considerada como um conteúdo pertinente à
educação física, capacitando os alunos, ou seja, proporcionando o desenvolvimento das
capacidades biológicas e das habilidades específicas do ser humano, facilitando a apropriação de
todas as manifestações da cultura corporal que sejam relevantes para a convivência em seu meio
fisico e social.
Podendo ainda, auxiliar na formação humana do indivíduo: as normas, as regras e os
regulamentos que servem de base para a organização de um grupo social. Tendo como
pressuposto o desenvolvimento de um individuo capaz de ser procriador, junto com outras
pessoas, de espaço humano de convívio social desejável. Nesta perspectiva, os conteúdos das
atividades circenses estão repletos de aspectos, integrantes da formação humana, como: a
responsabilidade, cooperação, auto-respeito, respeito pelos outros, honradez, solidariedade,
organização, criatividade, individualidade, identidade, confiança em si mesmo, carinho.
Através de todas essas linhas transcorridas é que procuro mostrar como a Arte Circense é
relevante no desenvolvimento de um ser humano completo, e deve ser aplicada na escola,
reconhecendo a escola como uma instituição social cuja finalidade principal é a transmissão da
memória cultural (resultante da aprendizagem e sedimentação dos saberes adquiridos), ou seja,
dos saberes produzidos historicamente pelo ser humano nas relações culturais.
Considerações Finais
24
mescla de linguagens. Desta forma, os conteúdos do Circo podem ser encontrados em escolas
especializadas.
Ao compreender a cultura como algo público, a qual todos devem ter acesso, é de
responsabilidade dos educadores proporcionar momentos ou criar situações nas quais esta prática
aconteça. Como vimos anteriormente, definindo as formas de aplicação do conhecimento,
podemos, como educadores fisicos, propiciar atividades nos mais diferentes níveis de
profundidade, amplificando a Cultura Circense.
Na forma de vivência, tanto na escola como no âmbito recreativo, devemos proporcionar
um primeiro contato do maior número de pessoas possível com esta cultura. Enriquecendo os
indivíduos em seus aspectos motores e sensitivos, como o prazer de participar de uma atividade
lúdica, instigando um maior interesse pelo conteúdo circense.
Na forma de prática, devemos ter como objetivo ampliar o conhecimento dos alunos sobre
a cultura circense em geral, fazendo com que os alunos aprendam a dominar e estabilizar as
técnicas de execução dos conteúdos escolhidos, buscando não o melhor rendimento, mas sim o
melhor desenvolvimento do indivíduo, incentivando a criatividade, espontaneidade e os demais
aspectos relacionados ao desenvolvimento da capacidade de expressão corporal.
Na forma de treino, seu objetivo é fazer com que o aluno interiorize as técnicas das
modalidades da Cultura Circense, devendo estimular o aumento da qualidade e da quantidade da
produção artística como forma de entretenimento, na busca do melhor rendimento. Isso só
ocorrerá com a prática mais intensa, densa e especializada, visando à harmonia entre a estética e a
técnica.
Neste sentido, a Arte Circense pode ser praticada desde os níveis mais elementares até os
níveis de alto rendimento, onde estas ações se aproximam da perfeição. Acreditamos que os
profissionais de educação fisica sejam capazes de proporcionar, seja no nível da vivência, da
prática e do treino, um crescimento do Circo como um rico conteúdo motor, repleto de
significados culturais, específicos de uma população.
Dado às características das mais diferentes modalidades circenses, consegue-se trabalhar
atividades sem implementas (mãos livres), até chegar a estruturas grandes e específicas, como no
caso do trapézio de vôos. Contudo, esta cultura circense seguindo o pressuposto de níveis de
atuação, pode ser desenvolvida de maneira parcial ou mesmo integral em diversas localidades. É
responsabilidade do educador desenvolver as modalidades circenses em variados locais, visto que
não é necessário um ambiente especializado, mas sim força de vontade para se trabalhar com tais
conteúdos.
Como destacamos durante o trabalho, o conteúdo apresentado como Arte do Circo é rico
em aspectos motores e culturais, desenvolvendo nos indivíduos desde aspectos de capacitação,
fatores biológicos, fisiológicos e cognitivos, até aspectos de formação humana, representados
pelos valores humanos (respeito mútuo, confiança em si mesmo e nos outros, cooperação,
respeito, entre outros). Esta prática mostra-se como um conteúdo relevante na maturação do ser
humano, principalmente no ambiente escolar, cuja finalidade está na transmissão do legado
cultural existente, conduzindo os alunos no seu desenvolvimento completo.
Em especial devemos destacar o alto grau de ludicidade que estas atividades proporcionam;
o prazer da prática, as sensações de desafios transpostos, as trocas de experiências bem sucedidas
devem estar presentes nestas atividades. Compreendendo um conceito de "Circo para todos",
gerando um maior número de pessoas que reconheçam o Circo como cultura popular de extrema
riqueza, conduzindo-a, como em muitos países, como prática do dia-a-dia, prática de recreação
ou de convívio social, ou até mesmo como se fossem jogos e brincadeiras populares.
25
Desta fonna, os alunos conhecendo aspectos integrantes da cultura circense, podem portar-
se mais criticamente, aumentando sua curiosidade, atuando diretamente na expectativa com
relação aos espetáculos de Circo, podendo vir no futuro a despertar uma formação profissional.
Por fim, entendemos que o mundo do Circo é extremamente rico culturalmente, e que os
aspectos motores encontrados nesta sociedade podem ser considerados parte integrante do
conteúdo da Cultura Corporal de Movimento; ou seja, conteúdo da Educação Física que
acreditamos. Para que seja integrada à cultura escolar, depende, exclusivamente, do esforço dos
profissionais encarregados da formação cultural em sua totalidade, nossos educadores.
26
Bibliografia
27
MOREIRA, W. W. (org.). Educação fisica & esportes: Perspectivas para o século XXI.
Campinas: Papirus, 1992. (coleção corpo e motricidade), IOa edição, 2003.
OLIVEIRA, J. A. de. Circo. Organizador; versão em Inglês Izabel Murat Burbridge. São Paulo:
Prêmio, 1990. (Biblioteca Eucatex de Cultura Brasileira)
PEREZ GALLARDO, J. S. (coord.). Educação Física: contribuições à formação profissional. 3a
Edição. Ijuí: Editora UNIJUi, 2000. (Coleção educação).
-;----::c-,:;----;;c,· Discussões preliminares sobre os objetivos de formação humana e
de capacitação para a Educação Física Escolar. do berçário ate a quarta serie do ensino
fundamental. Tese de Livre Docência. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual
de Campinas, 2002, Campinas.
-;:--,--,-----==-- (org.). Educacão fisica escolar: do bercário ao ensino médio. Rio de
Janeiro: Lucema, 2003.
PUBLIO, N. S. Evolucão histórica da ginástica olimpica. Guarulhos: Phorte e Editora, 1998.
SILVA, E. O circo: sua arte e seus saberes: o circo no Brasil do final do século XIX a meados do
XX Campinas, 1996, 162p. Tese (Mestrado)- Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, 1996.
SOARES, C. L. Educacão Física: raízes européias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 1994.
=,..-:::--:-·· Imagens da educacão no como: estudo a partir da ginástica francesa no Século
XIX. Campinas: Autores Associados, 1998.
SOUZA, E. P. M. de Ginástica Geral: uma área de conhecimento da Educação Física. Campinas,
1997, 162p. Tese (doutorado) -Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação
Física, 1997.
T ANI, G .... [et al]. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista.
São Paulo: EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
TORRES, A. O circo no Brasil. Colaboração Alice Viveiros de Castro e Márcio Carrilho. Rio de
Janeiro: FUNARTE; São Paulo: Atração, 1998. (História Visual- 5)
28