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MANIFESTAÇÃO

DA GINÁSTICA

Patrick da Silveira Gonçalves


Ginástica circense: teoria,
objetivos e práticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a origem e a evolução da ginástica circense.


„„ Identificar os elementos e materiais presentes na ginástica circense.
„„ Discutir a ginástica circense como ferramenta pedagógica para esti-
mular o desenvolvimento motor.

Introdução
Você já deve ter percebido que, ultimamente, as práticas circenses têm
ganhado cada vez mais adeptos nos diferentes espaços sociais, inclusive
na ginástica de competição. No entanto, nem sempre foi assim. Em alguns
períodos, a história do circo, que se confunde no tempo com a própria
história da ginástica, e a sua qualidade artística foram banalizadas, sobre-
tudo no quando da profusão da cientificidade, que buscava considerar
válidos apenas movimentos mensuráveis e universalmente reproduzidos.
Recentemente, a prática circense tem ganhado força e considerado
um instrumento recreativo, artístico e pedagógico. Exemplo disso é a
glamourização que passou a envolver o circo, por meio de espetáculos
cada vez mais grandiosos e de grandes companhias circenses, como
o Cirque du Soleil, que vem ganhado destaque por introduzir números
inovadores e compostos por muitos elementos artísticos.
Neste capítulo, você estudará a origem e a evolução histórica da
ginástica circense, relacionando-a à origem da ginástica, identificará os
principais elementos e materiais presentes nos bastidores do circo e,
ainda, compreenderá como essas atividades podem ser importantes
elementos para o desenvolvimento motor.
2 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

Ginástica circense: origem e evolução histórica


Pelo fato de a ginástica e o circo apresentarem elementos muito próximos,
pode-se imaginar que ambos têm a mesma lógica interna em algumas de suas
manifestações. Tanto a ginástica quanto o circo são termos que englobam
um espectro amplo de atividades corporais. Por isso, enfatizaremos neste
capítulo a ginástica como prática de exercícios físicos sistematizados e o
circo como as atividades artísticas que se expressam nesse espaço social.
As duas práticas existem desde a Antiguidade. Em determinados períodos
históricos, aproximam-se de tal maneira que se torna impossível dissociá-las,
imbricando o termo “ginástica circense”. Contudo, em outros momentos,
pode-se observar um distanciamento entre elas, motivado principalmente pelo
movimento científico das práticas corporais, que não reconheciam as práticas
expressivas e artísticas como legítimas. Para compreender como a ginástica
circense emerge na sociedade, torna-se necessário verificar como a ginástica
e o circo se constituíram historicamente.

Origem da ginástica
Como brevemente apresentado, a ginástica compreende uma prática milenar.
Para Souza (1997), ela se confunde com a história do surgimento da huma-
nidade. Na Pré-história, servia como um modo de manter a sobrevivência.
Na Antiguidade, afirmava-se como uma das formas de culto ao corpo. Na
Idade Média, ganhou o formato de prática corporal para as elites e como
uma possibilidade de aperfeiçoar os exércitos que empreendiam batalhas
motivadas principalmente pela Igreja. Já na Idade Moderna, surge como uma
forma de educar a população e, também, como busca de certa assepsia moral
e física. Na contemporaneidade, podemos observar o surgimento da ginástica
sistematizada, com o início da ginástica científica.
O termo “ginástica”, no entanto, remete ao termo de origem grega gym-
nos, atribuído ainda na Antiguidade. Ayoub (2003) explica que o significado
conferido pelos gregos correspondia à “arte de exercitar o corpo nu”. A nudez
aderida pelos gregos durante as práticas de exercícios físicos buscava livrar o
corpo de toda a superficialidade do mundo material. Nesse sentido, a ginástica
era praticada como uma arte de aperfeiçoamento físico e estético dos cida-
dãos, empregada, portanto, para fins competitivos, educativos, terapêuticos
e artísticos.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 3

Origem do circo
O circo tem uma história mais recente que a ginástica, porém também se
constitui como uma prática milenar. Sua expressão mais evidente remonta ao
Império Romano, cuja política ficou conhecida como “pão e circo”, por volta
do século I a.C., que buscava oferecer à população espaços (chamados, em
latim, de circus, em razão do formato circular de tais espaços) e momentos
de contemplação de dança, música, poesia, corrida de cavalos e de combates
entre gladiadores (RAMOS, 1983).

A expressão da política do “pão e circo” foi descrita pela primeira na “Sátira X”, de Juvenal,
humorista e poeta romano. Juvenal criticava o modo como o império romano conduzia
o povo, por meio de políticas que garantissem a alimentação básica e momentos de
divertimento, desviando o interesse da população de temas de cunho político.

Embora as atividades circenses remontem a um período de milhares de


anos, foi apenas em 1770 que o Astley’s Amphitheatre, inaugurado em Londres
por Philip Astley, ganhou a forma como o conhecemos atualmente, isto é, por
meio de espetáculos de acrobacias, funambulismos, equilibrismos, contor-
cionismos, entre outros movimentos e práticas corporais, dando origem ao
chamado “circo moderno” (BORTOLETO; CARVALHO, 2004).
No Brasil, o movimento do circo moderno também está inserido no contexto
do fim do século XVIII. Em grande parte, os artistas de circo originavam-se da
Europa Ocidental, formando as dinastias circenses (MARTINS, 2010, p. 10).
O conhecimento dos artistas circenses brasileiros era, então, passado de
geração a geração, de modo pouco sistematizado. A primeira escola de ati-
vidades circenses, no entanto, surgiu quase dois séculos depois. Em 1975,
em São Paulo, a Academia Piolin de Artes Circenses (DUPRAT, 2015) foi a
primeira instituição a oferecer o ensino das atividades circenses de maneira
sistematizada. Desde então, pode-se notar um crescimento de tais instituições,
ainda que a maneira artesanal de transmitir os conhecimentos produzidos nos
bastidores continuem existindo.
4 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

O que podemos observar nas trajetórias tomadas pela ginástica e pelo


circo é que ambas se originam como uma maneira de expressão artística pelo
uso do corpo. Ainda que tenha havido diferentes revoluções em relação ao
pensamento e ao significado atribuído às práticas corporais, o circo permanece
como uma expressão artística e a ginástica, por sua vez, como uma ciência.
Os diferentes rumos tomados por essas duas manifestações podem remeter
aos objetivos a elas atribuídos ao longo do tempo. Ao passo que a ginástica se
propunha a certo utilitarismo (educação, preparação para o trabalho manual,
preparação para as batalhas militares), o circo se apresenta — e ainda o faz
— ao entretenimento (CRESPO, 1990).

Afastamento entre o pensamento científico e o


pensamento artístico
Na modernidade, as diferenças entre a ginástica e o circo se aprofundaram.
Na visão de Soares (1994), a ginástica moderna representa o cientificismo,
por meio de exercícios cada vez mais sistematizados com fins sanitários,
militares e competitivos, perdendo seus elementos artísticos. A busca da
eficiência e do aperfeiçoamento físico e moral destinado à ginástica fez com
que muitos adeptos ao cientificismo assumido condenassem o circo. Sobre o
caráter científico que procurou apagar o movimento artístico circense, Soares
(2001, p. 115) aponta que:

O discurso científico ousa definir um alfabeto gestual que julga válido e único.
Dele devia ser banido o gesto livre e encantatório dos artistas nômades que
ganhavam a vida como espetáculo do corpo. A inteireza deste gesto e do que ele
significa para quem o pratica, e para quem o vê, devia ser apagada da memória.

Na mesma direção, Vernetta Santana, López Bedoya e Panadero Bautista


(1996) mencionam que, no ano de 1869, a Federação Italiana de Ginástica
proibiu a prática do circo, uma vez que o ginasta (que exercia movimentos
úteis, científicos e eficientes) era confundido com o acrobata (em uma visão
equivocada de que este produzia movimentos inúteis e sem objetivos para o
aprimoramento moral e físico).
Ainda que o circo não fizesse parte das instituições escolares, militares e
competitivas, que se dedicaram na modernidade ao pensamento científico, ele
continuou crescendo. Diferentemente da ginástica, que, em sua racionalidade,
buscava criar métodos para aplicação à população, o circo se manteve em
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 5

pequenas comunidades, a partir de famílias que procuravam o entretenimento


e o nomadismo. Desse modo, podemos identificar no circo certa oposição
ao pensamento científico e positivista que marcou boa parte da Idade Mo-
derna, sobrevivendo e resistindo pela intuição artística, apesar do processo
de marginalização que precisou enfrentar. Enquanto os ginastas se ocupavam
em buscar movimentos e gestos cada vez mais eficientes do ponto de vista
científico, elaborando padrões universais, os artistas dos circos procuravam
criar movimentos mais difíceis de realizar e inéditos para a população, partindo
de um aprendizado próprio ou de experiências de outras pessoas, garantindo
os riscos que caracterizam os espetáculos circenses.

Interseções entre a ginástica circense


e a ginástica de competição
Mais recentemente, podemos observar uma reaproximação entre a ginástica
e o circo, fator mais evidente no esforço de produções teóricas em evidenciar
tal relação. Uma das publicações pioneiras que trataram de sistematizar as
práticas corporais que ocorrem no interior dos circos foi elaborada em 1964,
por Enrique Alemany Clavero, a partir de um tratado sobre a aplicação das
ginásticas desportiva, ornamental e circense (ALEMANY CLAVERO, 1964).
A interseção entre a ginástica e o circo tem crescido até os dias atuais, isto é,
o esforço do circo em adotar critérios científicos em suas apresentações e o
esforço da ginástica em empregar elementos artísticos e inéditos (apesar de
não abandonar os elementos científicos e racionais) são bastante evidentes hoje.
Atualmente, pode-se reconhecer que muitos dos elementos da ginástica
circense têm sido cada vez mais incorporados à ginástica de competição. Por
exemplo, a argola, a barra fixa, o cavalo e a trave de equilíbrio presentes na
modalidade da ginástica artística, as bolas na modalidade de ginástica rítmica,
a modalidade olímpica do trampolim, entre outros elementos, surgiram na
ginástica do circo e foram gradativamente incorporados à ginástica competi-
tiva. O trapézio, bastante característico do circo, também foi muito utilizado
por ginastas, principalmente em seus treinamentos, por possibilitar um maior
empenho da força e da agilidade. A música e os movimentos expressivos,
elementos também incorporados à ginástica, tiveram sua origem nas práticas
circenses. Antigamente, a música era utilizada como uma maneira de atrair
a atenção do público para os espetáculos. Ainda, a ginástica acrobática, uma
das modalidades esportivas da ginástica, não deixa de ser uma versão atual
e competitiva das ginásticas praticadas no circo.
6 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

Além disso, é possível reconhecer um movimento contrário de incorporação


de elementos. Cada vez mais adeptos das ginásticas têm buscado o desen-
volvimento profissional no circo, para as atividades da ginástica circense.
Exemplo disso, como apontam Vernetta Santana, López Bedoya e Panadero
Bautista (1996), é o Cirque du Soleil, a maior companhia de circo do mundo,
com origem no Canadá e que se apresenta em turnês mundiais. Muitos dos
seus treinadores já foram atletas da ginástica, e a seleção para novos artistas,
anunciada em suas páginas na internet, faz o apelo para que ginastas de todas
as modalidades se inscrevam na companhia circense.

Vários atletas da ginástica competitiva buscam no circo a sua carreira profissional. Da


mesma forma, vários artistas do circo acabam aderindo à ginástica competitiva, ainda
no início de sua carreira. Assim, tanto a ginástica circense quanto a ginástica competitiva
têm buscado, além dos elementos que as compõem, os recursos humanos para a
formação de suas equipes e companhias.

Desse modo, é possível reconhecer que a ginástica circense, que surgiu


nos guetos, por meio de núcleos familiares que se apresentavam de maneira
itinerante nas diversas comunidades, com seus elementos artísticos que causam
impacto e surpresa, levando o corpo ao seu desempenho máximo, criando
movimentos inéditos e quase impossíveis de realizar, está bastante presente
nas modalidades ginásticas, que, por sua vez, perpassaram por um momento
cientificista que as afastou das artes. É importante destacar também que a
ginástica circense continua se desenvolvendo tal como era antigamente, ou
seja, debaixo de uma lona, ao centro de um círculo formado por espectadores
que se impressionam com os movimentos, de maneira itinerante e buscando
novas comunidades para se apresentar. Este último movimento da ginástica,
o mais tradicional do circo, também tem ganhado adeptos fora das lonas.
Cada vez mais, vemos instituições de ensino, clubes e companhias de dança
se apropriando de elementos da ginástica circense para diversos objetivos —
voltados para o desenvolvimento motor de crianças e adolescentes, com fins
terapêuticos e de preparação física ou por sua capacidade estética. Isso ocorre
com maior intensidade a partir da década de 1990. A seguir, identificaremos
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 7

os elementos e materiais mais comuns de realizar na ginástica circense e que


fazem com que essa arte encontre diversas possibilidades e objetivos.

Elementos e materiais presentes na


ginástica circense
Como destacamos anteriormente, nas últimas décadas o movimento de iden-
tificação e sistematização das atividades circenses tem aumentado não so-
mente dentro do circo, propriamente dito, como também em outros espaços.
Evidentemente, o modelo artesanal como o circo é concebido faz com que as
atividades sejam muito variadas e flexíveis, criando-se, de constante, tal como
a arte, outras maneiras de expressão artística. No entanto, algumas formas de
classificação das atividades das práticas circenses, de modo geral, já foram
elaboradas. Assim, é possível obter uma diferenciação e a classificação entre as
diferentes atividades circenses de acordo com as ações motoras empregadas e a
necessidade — ou não — de materiais de pequena, média e grandes dimensões.
De maneira mais ampla, Duprat e Pérez Gallardo (2010) elaboraram que as
atividades podem ser classificadas em atividades acrobáticas, de manipulação
de objetos, de equilíbrio sobre objetos e de encenação. O quadro a seguir nos
auxilia a observar como as diferentes atividades podem ser classificadas.
Pela elaboração das classificações das atividades circenses, abordadas
na perspectiva de Duprat e Pérez Gallardo (2010), elaboraremos uma breve
explicação sobre cada uma das atividades.

Atividades acrobáticas
De acordo com Soares (2001), as acrobacias são tão antigas quanto a história da
humanidade. Classificadas em aéreas, individuais ou coletivas e de trampolim,
consistem em colocar o corpo em situações que muitas vezes envolvem riscos
e que causam surpresa nos espectadores em decorrência da dificuldade com
que são executadas. A seguir, descrevemos as acrobacias mais apresentadas
na ginástica circense.
O equipamento do trapézio consiste em uma barra de aproximadamente
70 cm de comprimento, suspensa ao ar por duas cordas. Geralmente, nas ex-
tremidades da barra há pesos que mantêm a estabilidade do trapézio. O termo
“trapézio” resulta da forma geométrica que as cordas e as barras formam.
Existem diversas variações do trapézio, como mostrado a seguir.
8 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

Quadro 1. Classificação das atividades circenses

Classificação geral
Elementos de
das atividades Atividades circenses
diferenciação
circenses

Atividades acrobáticas Aéreas Trapézio, lira e tecido

De chão Paradismo; acrobacias


dinâmicas e
estáticas em duplas;
trios e grupos

Trampolinismo Trampolim e
minitrampolim

Atividades de Manipulação de objetos Malabarismo


manipulação
Prestidigitação (mágicas
que se utilizam de
movimentos rápidos
com as mãos) e
pequenas mágicas

Atividades de Equilíbrio do corpo Perna de pau e


equilíbrio sobre em movimento monociclo
objetos
Equilíbrio sobre Rola-rola e corda bamba
superfícies instáveis

Atividades de Expressão corporal Elementos das artes


encenação cênicas, dança,
mímica e música

Palhaço Diversas técnicas


e estilos

Fonte: Adaptado de Duprat e Pérez Gallardo (2010).

No trapézio fixo, o trapezista (nome dado ao artista do trapézio) executa


figuras, truques e quedas individuais e o trapézio permanece quase estático,
ou seja, o balanço do equipamento (ainda que ocorra por conta da ação dos
movimentos do trapezista sobre a barra e as cordas) não é intencional. Em
geral, essa modalidade é desenvolvida de maneira individual. O trapézio com
balanço consiste em uma variação do trapézio fixo, em que o trapézio, como
o nome sugere, balança-se em trajetória pendular. Essa variação pode ser
desenvolvida por uma ou duas pessoas utilizando o mesmo trapézio, quando
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 9

recebe o nome de trapézio doble. O trapézio duplo ou múltiplo consiste na


realização de figuras e truques realizados por duas ou mais pessoas, em que
todas elas se encontram em suspensão. A diferença entre o trapézio duplo e
o doble consiste na quantidade de cordas. Enquanto no trapézio doble existe
apenas um trapézio para sustentar os trapezistas, no duplo, ou múltiplo, existem
cordas ao lado do trapézio, que podem ser utilizadas pelos trapezistas para
auxiliar a sua sustentação. O trapézio de voos compreende uma das modali-
dades mais tradicionais do circo de lona, por sua capacidade de surpreender o
público, colocando o trapezista em maior risco de queda, além de ser bastante
difícil de executar. Ele incide no balanço do trapezista em um trapézio, uma
fase aérea, em que se executam movimentos, e outro trapézio, ou aparador,
no qual o trapezista deve realizar o pouso. O trapézio Washington tem uma
base mais larga e pesada, em que o trapezista equilibra o corpo, por meio, por
exemplo, de paradas de mão ou de cabeça. Finalmente, o trapézio casting
representa uma variação do trapézio tradicional, em que, no lugar da barra
para a sustentação, o trapezista é sustentado pela cintura, por meio de uma
cinta metálica ou de tecido, em que são permitidos movimentos de flexão de
quadril e tronco para realizar os movimentos suspensos.
A lira circense, que não deixa de ser uma variação do trapézio, consiste em
uma base de apoio no formato de círculo, estrela, quadrado ou gota, suspensa
por uma corda. Diferentemente do trapézio, no entanto, o artista deve adaptar,
nesse caso, o equipamento ao seu formato, exigindo maior flexibilidade que
o trapézio. Sua principal característica consiste no giro que realiza com o
auxílio de distorcedores nas extremidades da corda. O objetivo da lira circense
é o mesmo que o do trapézio, ou seja, realizar figuras; a lira gira e o artista
fica suspenso e fixo pelos braços, pelas pernas, pelos pés, pela cabeça ou por
outra parte do corpo.
O tecido circense, assim como a corda circense, consiste em uma ou
mais faixas de tecido com uma das extremidades suspensas no teto do local
do espetáculo e a outra solta próxima ao solo. Nesse equipamento, geralmente
o artista inicia sua trajetória em solo, agarrando-se pela corda até uma altura
considerável do chão. Além das figuras agarrando-se na corda, é comum que
o artista realize travas e quedas preso à estrutura do tecido (ou da corda).
Nas atividades de solo, os paradismos são bastante comuns. Nessas ativi-
dades, uma ou mais pessoas realizam paradas de mãos sob diferentes truques
e posições de membros inferiores, além de contorções, pranchas e equilíbrio.
Em solo, também são realizadas acrobacias dinâmicas, estáticas e em grupos
nas quais os indivíduos realizam manobras com o impulso do próprio corpo
ou com o auxílio do impulso de outros participantes.
10 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

No trampolinismo, os principais equipamentos utilizados são o trampolim


(também conhecido como cama elástica) e o minitrampolim (uma estrutura
menor). No trampolim, o artista deve se manter saltando e, nas fases aéreas,
realizar figuras e movimentos acrobáticos. É possível também realizar dife-
rentes pousos ao retornar ao solo, entre um salto e outro, como deitado de
costas, de bruços e sentado. O minitrampolim geralmente consiste em apenas
um salto — o artista, por meio de uma corrida de aproximação, impulsiona-se
com o auxílio do equipamento e realiza movimentos acrobáticos na fase aérea,
também sendo possível saltar sobre obstáculos ou passando o corpo por algo
que exija habilidade e riscos, como um arco em chamas.

Atividades de manipulação de objetos


As atividades de manipulação de objetos como uma maneira de apresentação
também são bastante antigas. Alguns registros apontam que os malabares já
eram praticados em diversos locais da Antiguidade, como na China, no Egito,
em sociedades pré-colombianas, etc. (AGUADO JÓDAR; FERNANDEZ
ORDÓÑEZ, 1990). Nas atividades circenses, as atividades mais comuns são
o malabarismo e a prestidigitação.
O malabarismo compreende várias categorias de execução. O malaba-
rismo de lançamento, consiste em lançar e receber objetos, utilizando uma
ou ambas as mãos, em geral realizado com três ou mais bolas ou maçãs. O
malabarismo de equilíbrio dinâmico busca manter equilibrado e de modo
instável algum objeto, como equilibrar uma vassoura na vertical com a testa.
O malabarismo giroscópico busca manter um ou vários objetos em rotação
sob um ponto fixo, como manter pratos em rotação sobre a extremidade de um
cabo de vassoura. Por último, o malabarismo de contato consiste em manter
um objeto (geralmente esférico) em constante contato com o corpo, movimento
em que o artista realiza giros e trocas de posições sem perder o contato.
A prestidigitação é uma arte que, por meio de movimentos rápidos e pre-
cisos, tem os objetivos de divertir, iludir e transportar a imaginação, fazendo
o espectador crer que algo impossível de realizar foi, de fato, feito. Geral-
mente, é realizada com cartas, lenços e pombos. Apesar de fugir ao espectro
das ginásticas, que se utilizam geralmente de grandes grupos musculares, é
importante destacar a prestidigitação em virtude das habilidades que exige
para ser realizada.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 11

Atividades de equilíbrio sobre objetos


Muitas vezes como um modo de impressionar os espectadores, essas atividades
empregam outros elementos, como as acrobacias e os malabarismos. Com o
risco de queda reduzido, pelo fato de serem geralmente realizadas próximas
ao solo, chamam a atenção sobretudo pelo equilíbrio e pela coordenação
empregados pelo executor.
A perna de pau consiste no fato de o artista se manter equilibrado sobre
pernas fictícias de madeira presas às pernas ou aos pés do artista, mantendo o
executor a alguns metros do solo. Corriqueiramente, é utilizada por palhaços
e combinada com malabarismos de lançamento. Por sua vez, o monociclo
utiliza um equipamento composto por um assento sobre uma roda, movido pela
propulsão empregada em pedais. O desafio do executor é manter-se sempre
em equilíbrio, já que a superfície do solo, em contato com apenas uma roda,
permite ficar parado por poucos instantes. Tanto na perna de pau quanto no
monociclo, a superfície na qual o artista se apoia, isto é, o solo, é estável.
Em superfícies instáveis, as atividades mais comuns são o rola-rola e a
corda bamba. Na atividade rola-rola, o executor da atividade deve se manter
em equilíbrio sobre um ou mais objetos cilíndricos, que, na posição horizontal,
tornam-se bastante instáveis. Nessa atividade, é bastante comum utilizar várias
pranchas para a sustentação do artista, além de elaborar vários níveis de objetos
cilíndrico e sob pranchas, aumentando a dificuldade do equilíbrio. Também
é frequente realizar malabarismos e acrobacias sob a prancha.
Uma das atividades que aumentam o risco de queda de seus executores
consiste na corda bamba, bastante tradicional no circo. Nela, o artista deve se
deslocar sobre uma corda suspensa a vários metros do solo e presa às superfícies
fixas somente pelas extremidades. Além de superar a superfície estreita, o
artista deve manter-se em equilíbrio com os movimentos promovidos na corda
por seu deslocamento. É bastante comum que os praticantes dessa modalidade
se utilizem de barras longas, segurando-as com as mãos próxima ao corpo em
posição transversal ao corpo, promovendo maior equilíbrio.

Atividades de encenação
Apesar de as atividades de encenação estarem mais próximas das artes cênicas
e das danças do que as ginásticas, foram incluídas aqui por pensarmos que a
ginástica engloba as atividades que têm como elemento organizador a explo-
ração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo. Nesse sentido,
também devem fazer parte as expressões corporais, que utilizam movimentos
12 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

ritmados e sincronizados à música. Essas atividades podem ser combinadas


com outras atividades, acrobáticas, de manipulação de objetos ou de equilíbrio
sobre os objetos. Até mesmo a encenação do palhaço, que tem como objetivo
principal divertir por meio de situações cômicas, combina sua atuação quando
emprega prestidigitação, malabarismos e pernas de pau. Assim, os elementos
de artes cênicas, dança, mímica e música, assim como da arte do palhaço,
podem ser pensados dentro da perspectiva da ginástica circense.
Uma vez abordados os principais aspectos que envolvem a ginástica cir-
cense, é possível pensar que cada uma delas consegue envolver diferentes tipos
de combinações, o que abre espaço para uma infinidade de possibilidades.
Evidentemente, buscamos abordar os aspectos gerais da ginástica circense.
Seria impossível elaborarmos um tratado que abordasse todas as atividades
desenvolvidas nos bastidores dos circos, haja vista a maneira como emergem na
sociedade, cada qual com as suas peculiaridades. No entanto, essas atividades
gerais têm se destacado em locais que extrapolam o circo propriamente dito,
isto é, vêm ganhando espaço em escolas, clubes, academias, praças, teatros
e outros locais de apresentação e busca de práticas corporais. Em destaque,
as atividades circenses, por sua característica lúdica e desafiante, que resulta
em um engajamento de quem a pratica, também têm sido utilizadas com o
objetivo do desenvolvimento motor de crianças e adolescentes. A seguir,
apresentaremos como essas práticas circenses, em uma proposta pedagógica,
auxiliam o estímulo do desenvolvimento motor.

Ginástica circense como ferramenta para o


estímulo do desenvolvimento motor
O desenvolvimento pode ser definido como uma série de mudanças que ocorrem
durante a vida de todos os seres vivos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Muitos
estudos buscaram identificar e descrever como se dá o desenvolvimento, fo-
cando em aspectos humanos específicos, isto é, alguns procuraram identificar
como os seres humanos desenvolvem seu intelecto, sua moral, sua afetividade,
sua motricidade, entre diferentes campos de análise. E é no desenvolvimento
motor que buscaremos estabelecer as relações com a ginástica circense.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 13

Primeiras considerações sobre o


desenvolvimento humano
Para iniciar essa análise, é preciso tornar evidente que o processo de desenvol-
vimento se dá ao longo da existência dos indivíduos, ou seja, o desenvolvimento
é vitalício e cumulativo. Além disso, outras características do desenvolvimento
são relevantes, conforme apontam Papalia e Feldman (2013).
O desenvolvimento depende da história e do contexto os indivíduos, sendo
desigual em sujeitos aparentemente iguais. Por exemplo, crianças que nascem
e vivem em condições de vulnerabilidade social, com condições de alimen-
tação inadequadas, possivelmente apresentarão um desenvolvimento físico e
cognitivo menor do que aqueles com condições adequadas.
O desenvolvimento é multidimensional e multidirecional — ocorre o
tempo todo, em todas as dimensões humanas e de maneira conjunta, em que
uma dimensão afeta a outra, apresentando momentos de grande aumento, de
estabilização e de declínio. Por exemplo, crianças desenvolvem-se adquirindo
capacidades cognitivas, motoras, afetivas e sociais nos seus primeiros anos de
vida. No início da fase adulta, algumas capacidades tendem a se estabelecer.
Quando idosos, há um declínio, sobretudo, dos aspectos físicos, por vezes
associado a declínios no desenvolvimento cognitivo, pela evolução das demên-
cias, como o Alzheimer, ainda que o vocabulário possa continuar evoluindo.
O desenvolvimento é flexível e plástico — muitas das capacidades fun-
cionais são passíveis de modificações e aperfeiçoamento ao longo da vida dos
indivíduos. Mesmo em idades avançadas, pode-se melhorar, por exemplo, as
capacidades de força, memória e atenção. No entanto, quanto mais as capa-
cidades evoluem, menor é a amplitude de suas possíveis modificações, ou
seja, a evolução das capacidades tem limites mesmo em crianças pequenas.
Feitas as primeiras considerações sobre o desenvolvimento humano, fo-
caremos então na perspectiva do desenvolvimento motor. Como abordado
anteriormente, as atividades circenses englobam uma série de elementos para
que os movimentos, as figuras e as encenações sejam realizados e com um
grande potencial para estimular o desenvolvimento motor, principalmente de
crianças, cenário em que os avanços nas habilidades motoras e nas capacidades
físicas são bastante evidentes.
14 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

Estimular o desenvolvimento motor pela


ginástica circense
Ainda que as atividades circenses possam ser inseridas desde o nascimento da
criança, permitindo que experimente sentidos, cores, sons e outras situações
sensitivas típicas do circo, é a partir da segunda infância, por volta dos 3 anos
de idade, que a ginástica circense ganha maiores possibilidades em razão do
maior controle motor. Nessa fase, que se dá geralmente ainda nos primeiros
anos da infância, elas estão ativamente envolvidas na exploração e na expe-
rimentação de seus corpos, descobrindo e desenvolvendo com intensidade
as suas capacidades motoras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
As acrobacias de solo representam uma importante ferramenta para a força
dos grandes grupos musculares, a agilidade, a flexibilidade, a coordenação,
o equilíbrio, o controle do corpo e o esquema corporal. Evidentemente, há
inúmeras maneiras de realizar as acrobacias, que podem ser individuais, em
duplas, em trios ou em grandes grupos, sem um limite de participantes. Quando
realizadas em duplas ou com mais participantes, as acrobacias auxiliam, ainda,
no sentimento de cooperação, já que a confiança e o trabalho em equipe devem
ser empregados para a execução da tarefa.
Muitas das acrobacias, quando realizadas em movimentos ou por saltos,
podem provocar lesões nos participantes. Por isso, o professor de Educação
Física deve preservar a integridade física de seus alunos, adotando uma se-
quência pedagógica condizente com a idade e o nível de aprendizagem dos
participantes, especialmente quando se trata de crianças. Inicialmente, é
possível reproduzir figuras acrobáticas estáticas a partir de imagens demons-
tradas aos alunos — essa prática facilita a reprodução, já que os estudantes
podem apenas copiar as posições preestabelecidas, e, mesmo assim, não retira
as possibilidades de desenvolver a motricidade dos participantes (Figura 1).

Sentado Seis apoios Em pé Decúbito dorsal

Figura 1. Exemplos de posições estáticas para acrobacias de solo.


Fonte: Adaptada de Duprat (2007).
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 15

O trampolinismo pode ser desenvolvido em diferentes equipamentos (p.


ex., cama elástica, maca russa, báscula russa e minitrampolim), exigindo,
além dos conhecimentos sobre o esquema corporal e a coordenação motora
ampla, uma percepção espaço-temporal, já que os movimentos corporais mais
evidentes são realizados durante a fase aérea, entre uma e outra aterrisagem.
Também estimula a flexibilidade e a agilidade, em razão dos movimentos
realizados na fase aérea.
Como proposta pedagógica sistematizada, é importante que o professor exija
inicialmente poucos movimentos corporais, iniciando apenas pelo simples salto
e levantando os baços no mesmo instante em que salta ( flic-flac), aumentando
a altura do salto. Com isso, a coordenação dos alunos e o reconhecimento dos
tempos e espaços relacionados à tarefa são facilmente aprendidos pelos alunos
(DUPRAT, 2007). Em seguida, pode-se solicitar um movimento de grandes
grupos musculares, como o salto carpado. Posteriormente, conforme o avanço
de cada indivíduo, é possível combinar diversos tipos de saltos (na posição
carpada, na posição grupada, etc.). Com o tempo, pode-se realizar mais de
um movimento durante o salto e realizar diversos tipos de aterrissagens (sen-
tado, de bruços, quatro apoios, etc.). Na Figura 2, podemos visualizar alguns
movimentos simples como possibilidade de introdução ao trampolinismo.

Figura 2. Exemplos para introdução ao trampolinismo.


Fonte: Duprat (2007, p. 69).

Os malabarismos consistem em manter algum material sob controle. Por


isso, estimulam diferentes habilidades de percepção, como: a habilidade sen-
sorial, pelo tato ao objeto lançado e recebido; a habilidade espaço-temporal,
por precisar adequar os movimentos corporais à trajetória do objeto; e as
habilidades de figura-fundo, por ter que reconhecer o objeto, em uma posição
16 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

que muitas vezes se confunde com as cores, sombras e silhuetas que compõem
o ambiente. Além disso, trata-se de um exercício de coordenação motora
ampla, visto que o praticante deve posicionar seu tronco, seus braços e suas
pernas em uma posição que favoreça os contatos contínuos com os objetos e
de motricidade fina, ao agarrar o objeto com um ou mais dedos.
Por se tratar de uma atividade que, na perspectiva dos espetáculos circenses,
exige um nível considerável de destreza dos malabaristas, o professor deve
adaptá-la para garantir o êxito dos alunos. Inicialmente, pode solicitar sua
execução com apenas um objeto, lançando-o de uma mão para outra. Em
seguida, pode incorporar à atividade mais um objeto, tendo que lançá-los e
trocá-los de mãos ao agarrar. Essas atividades também podem ser efetuadas
em duplas, tornando-as mais fáceis à medida que a fase do lançamento do
objeto pode ser realizada pelo colega (DUPRAT, 2007). Também, podem-se
utilizar objetos e materiais resistentes ao ar. Assim, a fase aérea se estende
e o aluno ganha alguns segundos a mais para perceber o objeto e conseguir
adequar seu corpo aos movimentos exigidos para agarrá-lo. Nesse caso, os
balões, os tecidos leves (p. ex., tule) e as fitas podem constituir boas opções.

No link a seguir, você terá acesso a um estudo que buscou verificar se há melhorias
no repertório motor de alunos submetidos a um programa de atividades circenses
com exercícios de malabarismo.

https://goo.gl/WzUtym

Do mesmo modo, os malabarismos de contato e de equilíbrio dinâmico


também são excelentes para a obtenção do esquema corporal, ao passo que
exigem o constante contato dos objetos com o participante. Além disso, consti-
tuem ferramentas para o desenvolvimento do freio inibitório, da propriocepção
e da coordenação motora fina, explorando diversas partes do corpo. Nessas
atividades, o professor pode sugerir que os alunos explorem o equilíbrio
instável, que tem apenas um ponto de contato, e o equilíbrio marginal, no
qual o objeto (geralmente em formato esférico) pode tomar várias direções
enquanto há o contato. A Figura 3 nos auxilia a exemplificar, respectivamente,
atividades de equilíbrio instável e dinâmico.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 17

Figura 3. Exemplos de atividades de equilíbrio instável


(esquerda) e dinâmico (direita).
Fonte: Adaptada de Duprat (2007).

Assim como as atividades já citadas, os funambulismos (atividades de


equilíbrio corporal) também são ferramentas pedagógicas que auxiliam na
obtenção do esquema corporal, para o desenvolvimento do freio inibitório,
da propriocepção e da coordenação motora ampla, explorando o equilíbrio
corporal e a transferência de peso de um membro para outro em diferentes
situações.
Por se tratar de materiais facilmente encontrados, como uma corda, o sla-
ckline (que, nos últimos anos, ganhou destaque), a prancha de madeira (pode
ser utilizada um pedaço de tábua qualquer, com dimensões suficientes para
o equilíbrio corporal) e o cilíndrico (passível de adaptação a qualquer outro
material resistente de formato cilíndrico), podem ser adaptados em qualquer
ambiente. Nessas tarefas, inicialmente o professor deve possibilitar o êxito
dos alunos, garantindo que a estabilidade e a dimensão das superfícies sejam
suficientes para mantê-los desafiados a realizar a prática (DUPRAT, 2007).
18 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas

Como o risco de quedas e de lançamento de materiais é grande, podendo


comprometer a integridades dos alunos, o professor precisa observar a altura
em que os praticantes ficam do solo e o espaço entre eles, evitando lesões
desnecessárias.
De fato, inúmeras outras práticas corporais podem ser realizadas para
ganhos de repertório e no desenvolvimento motor. Buscamos aqui apenas
identificar algumas possibilidades de execução, explorando as capacidades
físicas e habilidades motoras que as ginásticas circenses podem oferecer. No
entanto, como a essência da atividade circense sugere, tal qual os praticantes
do circo, nessas atividades as crianças e os adolescentes são estimulados a
criar movimentos e figuras novas, explorando ao máximo seu corpo e os
materiais utilizados. Nesse sentido, até mesmo as atividades de encenação
ganham importância no desenvolvimento motor ao garantir a elaboração de
saltos, saltitos e deslocamentos ritmados, típicos das danças.
Devemos lembrar também que a natureza do circo é lúdica, voltada ao
entretenimento e à diversão, o que pode tornar a sua prática mais engajadora.
Além disso, a ginástica circense se constitui uma série de outros saberes indis-
pensáveis à formação humana e que devem fazer parte do aprendizado de crian-
ças e adolescentes, não estando apenas relacionados ao nível procedimental.

Para compreender melhor as diversidades de saberes que englobam as atividades


circenses, elaboramos algumas possibilidades de aplicação nas perspectivas conceitual
(saber), procedimental (saber fazer) e atitudinal (saber ser).
„„ Conteúdos conceituais:
■■ expressão do corpo;
■■ habilidades motoras;
■■ materiais necessários à prática circense.
„„ Conteúdos procedimentais:
■■ análise e utilização de capacidades e recursos corporais expressivos;
■■ ajuste de qualidades de movimento e variações tônico-musculares;
■■ prática de atividades corporais que integram habilidades corporais e orgânicas,
perceptivas, imaginativas, expressivas, comunicativas no movimento pessoal
e grupal.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 19

„„ Conteúdos atitudinais:
■■ criatividade na busca de soluções para problemas de movimento;
■■ solidariedade com os outros nas práticas corporais;
■■ disposição positiva em relação à investigação e à busca de respostas para pro-
blemas de movimento.

Considerando o desenvolvimento algo que ocorre por toda a vida, podemos


afirmar que a ginástica circense também é útil na fase adulta. Em adultos jovens
e de meia-idade, o desenvolvimento motor tende a se manter estável. Assim,
a prática das atividades circenses na vida adulta pode ser fundamental para a
manutenção das capacidades e habilidades motoras, induzindo os indivíduos
a manterem o adequado nível de coordenação, agilidade, força e flexibilidade.
Com o processo de envelhecimento, os indivíduos geralmente enfrentam uma
degradação no desenvolvimento motor, isto é, a locomoção, a flexibilidade,
a força e a agilidade não se apresentam nos mesmos níveis que durante a
juventude. Nesse sentido, as atividades circenses, além de proporcionarem
uma prática prazerosa, podem amenizar os efeitos que o envelhecimento
biológico ocasiona no corpo humano.
Dessa forma, podemos reconhecer que a prática das atividades circenses
é tão antiga quando a própria humanidade — ela engloba diferentes modali-
dades, emprega diferentes materiais passados por diversas gerações e sofre
modificações que constituem o circo moderno. O caráter lúdico e desafiador
do circo recentemente tem ganhado adeptos de diversos espaços sociais. Em
especial, clubes, escolas e equipes de ginástica têm incorporado às suas prá-
ticas corporais elementos típicos do circo em virtude de suas possibilidades
de realização e, principalmente, da surpreendente capacidade física e estética
que exige de seus praticantes.

AGUADO JÓDAR, X.; FERNANDEZ ORDÓÑEZ, A. Juegos con malabares. Perspectivas de


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VERNETTA SANTANA, M.; LÓPEZ BEDOYA, J.; PANADERO BAUTISTA, F. El acrosport en la


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Leituras recomendadas
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 568 p.
MARTORELL, G. O desenvolvimento da criança: da infância à adolescência. Porto Alegre:
AMGH; Artmed, 2014. 400 p.
SALLES, J. F.; HAASE, V. G.; MALLOY-DINIZ, L. F. (orgs.). Neuropsicologia do desenvolvimento:
infância e adolescência. Porto Alegre: Artmed, 2017. 200 p.

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