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DA GINÁSTICA
Introdução
Você já deve ter percebido que, ultimamente, as práticas circenses têm
ganhado cada vez mais adeptos nos diferentes espaços sociais, inclusive
na ginástica de competição. No entanto, nem sempre foi assim. Em alguns
períodos, a história do circo, que se confunde no tempo com a própria
história da ginástica, e a sua qualidade artística foram banalizadas, sobre-
tudo no quando da profusão da cientificidade, que buscava considerar
válidos apenas movimentos mensuráveis e universalmente reproduzidos.
Recentemente, a prática circense tem ganhado força e considerado
um instrumento recreativo, artístico e pedagógico. Exemplo disso é a
glamourização que passou a envolver o circo, por meio de espetáculos
cada vez mais grandiosos e de grandes companhias circenses, como
o Cirque du Soleil, que vem ganhado destaque por introduzir números
inovadores e compostos por muitos elementos artísticos.
Neste capítulo, você estudará a origem e a evolução histórica da
ginástica circense, relacionando-a à origem da ginástica, identificará os
principais elementos e materiais presentes nos bastidores do circo e,
ainda, compreenderá como essas atividades podem ser importantes
elementos para o desenvolvimento motor.
2 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas
Origem da ginástica
Como brevemente apresentado, a ginástica compreende uma prática milenar.
Para Souza (1997), ela se confunde com a história do surgimento da huma-
nidade. Na Pré-história, servia como um modo de manter a sobrevivência.
Na Antiguidade, afirmava-se como uma das formas de culto ao corpo. Na
Idade Média, ganhou o formato de prática corporal para as elites e como
uma possibilidade de aperfeiçoar os exércitos que empreendiam batalhas
motivadas principalmente pela Igreja. Já na Idade Moderna, surge como uma
forma de educar a população e, também, como busca de certa assepsia moral
e física. Na contemporaneidade, podemos observar o surgimento da ginástica
sistematizada, com o início da ginástica científica.
O termo “ginástica”, no entanto, remete ao termo de origem grega gym-
nos, atribuído ainda na Antiguidade. Ayoub (2003) explica que o significado
conferido pelos gregos correspondia à “arte de exercitar o corpo nu”. A nudez
aderida pelos gregos durante as práticas de exercícios físicos buscava livrar o
corpo de toda a superficialidade do mundo material. Nesse sentido, a ginástica
era praticada como uma arte de aperfeiçoamento físico e estético dos cida-
dãos, empregada, portanto, para fins competitivos, educativos, terapêuticos
e artísticos.
Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas 3
Origem do circo
O circo tem uma história mais recente que a ginástica, porém também se
constitui como uma prática milenar. Sua expressão mais evidente remonta ao
Império Romano, cuja política ficou conhecida como “pão e circo”, por volta
do século I a.C., que buscava oferecer à população espaços (chamados, em
latim, de circus, em razão do formato circular de tais espaços) e momentos
de contemplação de dança, música, poesia, corrida de cavalos e de combates
entre gladiadores (RAMOS, 1983).
A expressão da política do “pão e circo” foi descrita pela primeira na “Sátira X”, de Juvenal,
humorista e poeta romano. Juvenal criticava o modo como o império romano conduzia
o povo, por meio de políticas que garantissem a alimentação básica e momentos de
divertimento, desviando o interesse da população de temas de cunho político.
O discurso científico ousa definir um alfabeto gestual que julga válido e único.
Dele devia ser banido o gesto livre e encantatório dos artistas nômades que
ganhavam a vida como espetáculo do corpo. A inteireza deste gesto e do que ele
significa para quem o pratica, e para quem o vê, devia ser apagada da memória.
Atividades acrobáticas
De acordo com Soares (2001), as acrobacias são tão antigas quanto a história da
humanidade. Classificadas em aéreas, individuais ou coletivas e de trampolim,
consistem em colocar o corpo em situações que muitas vezes envolvem riscos
e que causam surpresa nos espectadores em decorrência da dificuldade com
que são executadas. A seguir, descrevemos as acrobacias mais apresentadas
na ginástica circense.
O equipamento do trapézio consiste em uma barra de aproximadamente
70 cm de comprimento, suspensa ao ar por duas cordas. Geralmente, nas ex-
tremidades da barra há pesos que mantêm a estabilidade do trapézio. O termo
“trapézio” resulta da forma geométrica que as cordas e as barras formam.
Existem diversas variações do trapézio, como mostrado a seguir.
8 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas
Classificação geral
Elementos de
das atividades Atividades circenses
diferenciação
circenses
Trampolinismo Trampolim e
minitrampolim
Atividades de encenação
Apesar de as atividades de encenação estarem mais próximas das artes cênicas
e das danças do que as ginásticas, foram incluídas aqui por pensarmos que a
ginástica engloba as atividades que têm como elemento organizador a explo-
ração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo. Nesse sentido,
também devem fazer parte as expressões corporais, que utilizam movimentos
12 Ginástica circense: teoria, objetivos e práticas
que muitas vezes se confunde com as cores, sombras e silhuetas que compõem
o ambiente. Além disso, trata-se de um exercício de coordenação motora
ampla, visto que o praticante deve posicionar seu tronco, seus braços e suas
pernas em uma posição que favoreça os contatos contínuos com os objetos e
de motricidade fina, ao agarrar o objeto com um ou mais dedos.
Por se tratar de uma atividade que, na perspectiva dos espetáculos circenses,
exige um nível considerável de destreza dos malabaristas, o professor deve
adaptá-la para garantir o êxito dos alunos. Inicialmente, pode solicitar sua
execução com apenas um objeto, lançando-o de uma mão para outra. Em
seguida, pode incorporar à atividade mais um objeto, tendo que lançá-los e
trocá-los de mãos ao agarrar. Essas atividades também podem ser efetuadas
em duplas, tornando-as mais fáceis à medida que a fase do lançamento do
objeto pode ser realizada pelo colega (DUPRAT, 2007). Também, podem-se
utilizar objetos e materiais resistentes ao ar. Assim, a fase aérea se estende
e o aluno ganha alguns segundos a mais para perceber o objeto e conseguir
adequar seu corpo aos movimentos exigidos para agarrá-lo. Nesse caso, os
balões, os tecidos leves (p. ex., tule) e as fitas podem constituir boas opções.
No link a seguir, você terá acesso a um estudo que buscou verificar se há melhorias
no repertório motor de alunos submetidos a um programa de atividades circenses
com exercícios de malabarismo.
https://goo.gl/WzUtym
Conteúdos atitudinais:
■■ criatividade na busca de soluções para problemas de movimento;
■■ solidariedade com os outros nas práticas corporais;
■■ disposição positiva em relação à investigação e à busca de respostas para pro-
blemas de movimento.
AYOUB, E. Ginástica geral e educação física escolar. Campinas: Unicamp, 2003. 136 p.
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Leituras recomendadas
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 568 p.
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