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AULA 2

BIOMECÂNICA APLICADA AO
ESPORTE E À ATIVIDADE
FÍSICA

Profª Jerusa Petróvna Resende Lara


INTRODUÇÃO

Cinemática linear e angular dos corpos

Entendemos o movimento como sendo a variação de posição espacial de


um objeto ou ponto material em relação a uma referência no decorrer do tempo,
ou seja, é a ação de mover, fazendo com que um corpo deixe o lugar que
ocupava e passe a ocupar outro. Os movimentos podem ser divididos em três
tipos: translação (lineares), rotação (angulares ), e combinados (mistos) ou
gerais (Figura 1) (Corrêa, 2014).

Figura 1 – Tipos de movimento

Fonte: Lara, 2022.

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Para descrever o movimento dos corpos sem levar em consideração as
causas dele, usamos a cinemática. A cinemática envolve o estudo do tamanho,
sequenciamento e cronologia do movimento, ou seja, envolve o formato, o tipo,
o padrão e a sequência de movimento linear ao longo do tempo (Amadio, 2011).

TEMA 1 – MOVIMENTOS LINEARES

O movimento linear ou de translação ocorre quando todos os pontos do


corpo se movem na mesma distância ou direção, ao mesmo tempo, ou seja, o
movimento linear é o movimento em que todas as partes de um corpo se movem
paralelamente a todas as outras e na mesma direção. Mesmo sendo um
movimento linear, ele ainda pode ser dividido em linear retilíneo e curvilíneo. O
linear retilíneo é denominado quando a direção não é modificada e o curvilíneo
quando a direção muda constantemente (Hall, 2015).

Figura 2 – Movimento retilíneo e curvilíneo

Fonte: Lara, 2022.

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A análise cinemática do movimento é uma grande aliada da correção de
técnica esportiva, melhora do desempenho, além da reeducação do movimento
modificado por alguma lesão ou limitação motora. Por exemplo, um profissional
da área de Educação Física pode utilizar de métodos e conceitos cinemáticos
para corrigir a técnica de um saltador em altura. Uma vez que o professor ou
treinador tem o domínio da técnica ideal de salto, ele pode, por meio de uma
análise qualitativa, intervir no salto do atleta (Amadio, 2011; Amadio et al., 2002).

Figura 3 – Análise qualitativa do salto em altura

Créditos: sportpoint/Shutterstock.

Podemos pensar ainda sobre os primeiros passos de um bebê. Quando


precisam aprender uma nova habilidade motora, o processo de aprendizagem
passa a ser refletido por uma modificação progressiva na cinemática do
movimento e visivelmente conseguimos identificar uma oscilação laterolateral do
centro de massa durante a caminhada e isso ocorre pelas as mudanças normais
na antropometria e na coordenação neuromuscular que acompanham o
crescimento (Figura 4).

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Figura 4 – Análise cinemática da caminhada de um bebê

Créditos: Monkey Business Images/Shutterstock.

Esse tipo de análise de movimento por cinemática pode ser quantitativo


ou qualitativo. A análise qualitativa consiste na observação sistemática e na
avaliação qualitativa (não numérica) do movimento humano, no sentido de
aumentar a sua eficiência (Latash; Zatsiorsky, 2016). Quando a análise tem por
objetivo quantificar o movimento humano, passamos, então, a ter a análise
quantitativa.
Ao observar uma saída de bloco na natação, o técnico, biomecânico, ou
profissional responsável consegue realizar uma descrição qualitativa da saída
levando em consideração o posicionamento ideal do corpo no bloco. A amplitude
de flexão do joelho da perna da frente e de trás é algo determinante para que o
atleta consiga otimizar a força exercida no bloco, portanto, por meio do olhar ou
filmagem da saída, é possível intervir e pedir para que o atleta “dobre mais a
perna” da frente, ou seja, flexione mais o joelho, ou alinhar a cabeça ao tronco,
ou ainda “esticar a perna detrás”, no caso estender o joelho que fica em contato
com a pedaleira do bloco. Uma análise cinemática qualitativa mais detalhada
seria, por exemplo, descrever a sequência precisa e a sequência de movimento

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dos segmentos corporais, qualificando o grau de habilidade do nadador (Figura
5).

Figura 5 – Análise qualitativa da saída de bloco na natação

Créditos: Gorodenkoff/Shutterstock.

A análise qualitativa passa ser quantitativa quando conseguimos


mensurar a observação. Por exemplo, durante um saque viagem de voleibol, um
comentarista esportivo pode dizer que o saque foi rápido e potente. Essa
avaliação teve como forma visual e perceptiva do comentarista, porém, para
efetivamente saber se o saque foi rápido, normalmente é utilizado radar de
velocidade da bola. E para saber se foi potente, precisamos fisicamente saber o
que é potência (potência é o produto entre força e velocidade), e só assim seria
possível mensurar essa variável, porém, os comentaristas qualificam o saque
quando sentem que o atleta aplicou uma força grande na execução do
fundamento.

TEMA 2 – POSIÇÃO, VELOCIDADE E ACELERAÇÃO LINEAR

Na descrição do movimento, para cada finalidade, modalidade esportiva,


gesto motor, a posição do corpo ou segmento corporal, assim como a velocidade
e aceleração são variáveis importantes para determinar a eficiência e
desempenho.

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2.1 Posição

Em física, assim como em biomecânica, a posição de um corpo é a


especificação de seu lugar no espaço. A identificação da posição de um corpo é
feita a partir de um vetor, denominado vetor posição, que pode ser escrito em
função de um sistema de coordenadas de certo referencial, ou seja, para saber
a posição de um corpo no espaço, é necessário um sistema de referência inicial.
A unidade de medida da posição no Sistema Internacional de Unidades (SU) é
o metro (Hall, 2015).
A partir do momento em que o corpo se desloca no espaço, podemos
medir sua distância percorrida ou seu deslocamento. Em biomecânica, essas
duas grandezas são diferentes, em que a distância percorrida é a somatória
entre todas as pequenas distâncias no espaço, enquanto o deslocamento é o
vetor diferença entre a posição de saída e a posição de chegada. Se calcularmos
a distância percorrida e o deslocamento de uma prova de 50 m de nado livre da
natação, veremos que a distância percorrida é o percurso total do atleta, ou seja,
50 m tanto na piscina longa (50 m) quanto na piscina curta (25 m), porém, o
deslocamento do nadador equivale ao comprimento da linha reta imaginária que
conecta a posição inicial do atleta até a posição final. Portanto, em piscina longa,
o deslocamento do nadador é de 50 m, enquanto na piscina curta é de zero, pois
começou e terminou a prova no mesmo ponto (Figura 6).

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Figura 6 – Diferença entre distância percorrida e deslocamento

Fonte: Lara, 2022.

Outra diferença é que a distância é uma grandeza escalar, enquanto o


deslocamento é uma grandeza vetorial. Consequentemente, o deslocamento
inclui mais do que apenas o comprimento da linha entre as duas posições.
Igualmente importante é a direção em que ocorre o deslocamento.

2.2 Velocidade

Se o propósito da análise cinemática é saber quanto rápido foi feito o


deslocamento do atleta durante a prova de natação, precisamos entrar no
conceito de velocidade. A velocidade mede o quanto um corpo se desloca em
um determinado intervalo de tempo; sendo assim, ela pode ser definida pela
variação de uma distância percorrida pelo tempo gasto nesse percurso. Portanto,
a velocidade é uma grandeza vetorial com módulo, direção e sentido. O SU para
a velocidade é m/s (Corrêa, 2014; Hall, 2015).

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∆𝑆
𝑣⃗ =
∆𝑡

Em que ΔS= posição2 – posição1, em que posição1 representa a posição inicial


do corpo em um ponto temporal e posição2 representa a posição final corporal
em um ponto posterior.
Como exemplo, podemos pegar o tempo de Cesar Cielo na prova de 50
m livre, piscina longa, que foi de 20,91 segundos e calcular a velocidade média
dele durante a prova. Teremos:

50 − 0
𝑣⃗ = ~2,4𝑚/𝑠 ~8,6𝑘𝑚/ℎ
20,91 − 0

Sempre que duas ou mais velocidades atuam sobre um corpo, as leis


vetoriais algébricas regem a velocidade e a direção final do movimento é a
resultante dos vetores de velocidade. A velocidade de um canoísta em um rio é
a soma vetorial da velocidade do canoísta e da velocidade da corrente (Figura
7).

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Figura 7 – Resultante da velocidade de um canoísta descendo um rio com
velocidade da corrente em direção perpendicular à da canoa

Fonte: Lara, 2022.

Em muitas modalidades esportivas a velocidade é o parâmetro-chave de


desempenho. Se pensarmos na natação e nas provas de corrida do atletismo, o
atleta mais veloz vence; portanto, saber mensurar essa variável ajuda no
aprimoramento e no aumento de rendimento desejado.

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Sabemos que a velocidade é o produto da frequência pelo comprimento
(v= * f). A frequência (f) é a quantidade de repetições por uma medida de tempo
(minutos ou segundo) e comprimento () é uma medida de distância. Na natação,
a velocidade do nadador é o produto da frequência de braçadas pelo
comprimento de braçadas e no atletismo é o produto da frequência de passada
pelo comprimento de passada. Em uma prova de 100 m nado costas em piscina
curta (25 m), duas atletas com tempo de 59,60 s e 57,76 s são comparadas em
relação às velocidades parciais (trechos sem aproveitamento da impulsão do
bloco ou viradas), o comprimento de braçada e frequência de braçada (Figura
8).

Figura 8 – Velocidade, comprimento de braçada e frequência de braçada de duas


nadadoras durante prova de 100 m costas (dados reais de atletas de alto
rendimento)

Fonte: Lara, 2022.

Nota-se que o comprimento de braçada da nadadora mais rápida é


sempre maior que a nadadora menos rápida, e o inverso acontece com a
frequência de braçadas, portanto, uma combinação das duas variáveis para que
não altere a velocidade de nado é importante. A variação na velocidade ocorre
pela combinação de aumentos e/ou diminuições na frequência de braçada e
comprimento de braçada. Valores máximos ou mínimos de qualquer uma dessas
variáveis irá gerar tempos mais lentos, entretanto, as velocidades máximas
resultam de uma combinação ideal entre elas. A vitória da nadadora mais rápida

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(vermelho) vem dos trechos em que há aproveitamento da saída do bloco e das
viradas nos 25, 50 e 75 m da prova.
Essa relação entre comprimento e frequência almejando a maior
velocidade também acontece em provas de corrida. Corredores de longas
distâncias também usam o ritmo (pace) para controlar a corrida, além do
comprimento e frequência de passada.
O ritmo é apresentado como unidades de tempo divididas por unidades
de distância. O ritmo é o tempo necessário para percorrer uma determinada
distância e é quantificado, por exemplo, minutos por quilômetros, ou seja,
quantos minutos são gastos para percorrer cada Km. Imagine que um
maratonista tenha completado uma prova (42 km) no tempo de 02:27:41, isso
daria um pace médio de 03:30 min/Km. Para cada quilometro percorrido, o tempo
gasto seria de 3 min e 30 segundos em média. O ritmo também pode ser
controlado parcialmente durante a prova e muitas vezes a distribuição do ritmo
de prova é uma estratégia elaborada para que o atleta atinja seu melhor
rendimento (Figura 9).

Figura 9 – Exemplo de distribuição do ritmo de prova na Maratona de Buenos


Aires

Crédito: Lara, 2022.

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2.3 Aceleração

A aceleração linear é definida como a taxa de mudança na velocidade ou


a mudança na velocidade que ocorre durante um determinado intervalo de tempo
(t) (Latash; Zatsiorsky, 2016):

∆𝑣
𝑎⃗ =
∆𝑡

Em que Δ é dado pela velocidade 2 – velocidade1, em que velocidade1


representa a velocidade do corpo em um ponto temporal inicial e velocidade 2
representa a posição corporal em um ponto posterior.
As unidades de aceleração são unidades de velocidade divididas por
unidades de tempo (m/s2) e assim como deslocamento e velocidade, a
aceleração também é uma grandeza vetorial.
Um atleta que acelera a uma taxa constante de 2 m/s2 está aumentando
sua velocidade a 2 m/s a cada segundo. Se pensarmos na aplicação dessa
grandeza física para análise do rendimento esportivo, basta pensarmos na prova
de 100 m no atletismo. Saber a aceleração, ou seja, o quanto o atleta consegue
variar de velocidade, saindo parado do bloco de saída, em um intervalo de
tempo, permite fazer inferência em relação à capacidade de aceleração desse
atleta, principalmente nos 30 m iniciais conhecidos como fase de aceleração da
prova. Normalmente, o atleta depois dos 60 m de prova já não consegue mais
manter sua velocidade e começa a desacelerar (aceleração negativa), ou seja,
a velocidade no tempo posterior é inferior ao tempo anterior.
Estudos mostram o diferencial do atleta Bolt nessa prova exatamente por
ele conseguir manter sua velocidade (aceleração=0, pois não há variação da
velocidade) por mais tempo de prova e sua desaceleração acontece apenas nos
80 m de prova, fazendo com a essa velocidade mantida gere vantagem temporal
em relação aos seus oponentes. Comparando a velocidade de Bolt, Carl Lewis
e Bem Johnson durante a prova de Londres em 2012, é claro a diferença nos
últimos 40 m de prova, pois os oponentes já não conseguem segurar a
velocidade máxima alcançada e passam a desacelerar até o final, porém, Bolt
mantém a velocidade perto de 44 km/h em 30 m de prova e desacelerou nos
últimos 10 m visivelmente por saber que já estava com a vitória garantida.

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Figura 10 – Análise da velocidade da prova de 100 m nas Olimpíadas de Londres

Fonte: “Rio 2016 | Usain Bolt - Conheça os segredos do homem mais rápido do mundo”, [s.d.].

TEMA 3 – POSIÇÃO, VELOCIDADE E ACELERAÇÃO ANGULAR

Os movimentos angulares ou de rotação são aqueles nos quais os pontos


se movem em linhas circulares ao redor de um eixo, conhecido como eixo de
rotação (Latash; Zatsiorsky, 2016). O exemplo aplicado ao corpo humano é a
movimentação articular, em que um segmento se aproxima ou se afasta de um
segmento proximal, em torno de um eixo que passa pela articulação. Exemplo:
perna se movimenta em relação à coxa, em torno do eixo da articulação do
joelho, ou ainda uma bailarina quando rodopia em torno do eixo longitudinal que
passa pelo corpo (Figura 11).

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Figura 11 – Movimento de rotação em torno do eixo longitudinal

Fonte: Lara, 2022.

Na maioria das atividades humanas, os movimentos são realizados por


meio de uma combinação das duas formas de movimento (de translação e de
rotação), e podem ser tratados como movimentos gerais, ou combinados.
Quando observado no plano sagital ou lateralmente, durante atividades de
deslocamento que não apresentam uma fase aérea, como o caminhar ou mesmo
a marcha atlética, o centro de massa (CM) do indivíduo apresenta um
deslocamento que pode ser considerado linear. Porém, esse padrão de
deslocamento do CM é produzido pelos movimentos de rotação das articulações
do quadril, do joelho e do tornozelo (Hall, 2015).

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Figura 12 – Movimentos combinados. Linear: progressão do centro de massa;
angular: flexão e extensão das articulações envolvidas no movimento

Créditos: Maridav/Shutterstock.

3.1 Posição, velocidade e aceleração angular

Da mesma maneira que é que possível calcular as variáveis que


quantificam o movimento translacional de um corpo, por analogia também
podemos quantificar o movimento angular pela posição (θ), velocidade (ω) e
aceleração (α) angulares. Nesse caso, o deslocamento é uma medida angular
(em graus °), a velocidade em °/s e aceleração como °/s2 (Latash; Zatsiorsky,
2016).

∆𝜃 ∆𝜔
𝜔
⃗⃗ = ; 𝛼⃗ =
∆𝑡 ∆𝑡

Compreender o movimento angular é particularmente importante para


quem estuda o movimento humano porque a maior parte do movimento humano
voluntário envolve a rotação de um ou mais segmentos ao redor das articulações
em que eles se movem. Para exemplificar, podemos pensar nas articulações
corporais e medir a amplitude de movimento do joelho durante uma execução de
agachamento e ainda velocidade de execução desse movimento sabendo o
quanto variou o ângulo de flexão/extensão em função do tempo de execução do
exercício.
Supondo que um atleta execute um exercício de agachamento partindo
da posição em pé, em que o ângulo de joelho (ângulo entre perna e coxa) é
considerado a 180° e chega na posição em que o ângulo do joelho é 90°. A

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amplitude de movimento será de (180-90°) 90°. Se o atleta executa o movimento
em 2 segundos, a velocidade angular dele foi de:
∆𝜃 90°
𝜔= = = 45°/𝑠
∆𝑡 2𝑠

Ou seja, se deslocou 45° a cada segundo.

Figura 13 – Amplitude de movimento durante exercício de agachamento

Créditos: Lio putra/Shutterstock.

Podemos ainda entender e comparar grupos pensando em amplitude


articular. O padrão articular do quadril, joelho e tornozelo pode variar em uma
marcha a 5 km/h quando comparamos idosos corredores, idosos sedentários e
jovens corredores.

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Figura 14 – Marcha a 5 km/h de idosos corredores, idosos sedentários e jovens
corredores

Fonte: elaborada com base em Alcantara, 2013.

TEMA 4 – RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO

Para que possamos estudar os movimentos dos corpos, precisamos


entender que, para um corpo sair do seu estado de movimento (parado e
começar a se movimentar ou em movimento e começar a parar), precisamos
entender previamente como se dá as resistências desse movimento. Sabemos
que para que o corpo saia da sua inércia (propriedade dos corpos em
permanecer em movimento acelerado ou retardado), é preciso que forças
atuantes sobre ele vençam a sua resistência e isso depende das propriedades
do corpo, como a massa.

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A massa é uma grandeza invariável que mede a quantidade de matéria
presente em um corpo. A unidade no sistema internacional é representada
em quilogramas (Kg) e, independentemente do local no qual o corpo esteja (na
terra, no espaço, a lua etc.), sua massa será sempre a mesma, diferentemente
da grandeza peso, variável conforme a localização, pois depende da gravidade
(Corrêa, 2014).
Para fazer com que dois corpos de massas diferentes (m e 2*m) se
desloquem com a mesma aceleração linear a, é preciso que a forças diferentes
sejam aplicadas a esses dois corpos, sendo a força para tirar o corpo de massa
m do seu estado de inercia sendo F, enquanto que a força para tirar o corpo de
massa (2m) de 2F. Portanto, a massa mede sua resistência à aceleração, que
surge a partir da aplicação de uma força.
Quanto maior for a massa inercial de um corpo, menor será a aceleração
linear por ele adquirida quando estiver sofrendo a ação de uma força. Em outras
palavras, a massa inercial mede a resistência que um corpo apresenta ao sofrer
a aplicação de uma força.
Na aplicação do esporte, podemos pensar em uma máquina capaz de
arremessar bolas com uma força constante de 10N, qual é a aceleração de
saídas de diferentes bolas dessa máquina? A bola de menor massa terá a maior
aceleração (Figura 15).

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Figura 15 – Aceleração de diferentes bolas de diferentes massas

Fonte: Lara, 2022.

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Se fizermos a analogia para movimentos angulares, deverá existir uma
grandeza física que também quantifique a resistência de um corpo em girar. A
propriedade inercial dos corpos em rotação que representa a resistência à
aceleração angular tem relação tanto na massa, quanto na distância em que a
massa está distribuída do eixo de rotação, com isso, temos o conceito de
momento de inércia (Latash; Zatsiorsky, 2016).

𝐼 = 𝑚 ∗ 𝑟2

Em que I=momento de inércia m= massa do corpo e r= distância da massa ao


eixo de rotação.
A distribuição da massa em relação ao eixo de rotação é mais importante
do que a quantidade total de massa corporal para determinar a resistência à
aceleração angular, porque r está elevado ao quadrado.
Usando os conceitos do momento de inércia para aplicação como
profissional da Educação Física, podemos eleger o exercício abdominal de maior
dificuldade. Primeiramente, precisamos identificar qual tipo de movimento é, e,
nesse caso, é um movimento de rotação, com o eixo de movimento passando
pelo quadril da atleta, e o objetivo é aproximar o tronco das pernas. Nesses dois
casos, o exercício B tem maior grau de dificuldade que o exercício A, pois se
analisarmos o momento de inércia do B (resistência ao rodar = mr2), o
espalhamento da massa com os braços estendidos para atrás faz com que a
distância dessa massa ao eixo de rotação (quadril) seja maior que a situação A,
portanto, a resistência na execução de B é maior, precisando, dessa maneira,
de mais força nos músculos abdominais que quando comparado ao exercício A
(Figura 16).

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Figura 16 – Dois tipos diferentes de execução do exercício abdominal. A: com
as mãos atrás da orelha, e B: os braços estendidos atrás da orelha

A B

Créditos: solar22/Shutterstock.

TEMA 5 – RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTO LINEAR E ANGULAR

É possível estabelecer uma relação entre grandezas lineares e angulares.


Para isso, consideraremos um objeto que executa um giro completo em
movimento circular e uniforme. Quanto maior o raio entre um determinado ponto
de um corpo e o eixo de rotação, maior será a distância linear percorrida por
esse ponto durante um movimento angular. Essa observação é expressa na
forma de uma equação simples:

𝑆⃗ = 𝑟 𝜃

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Figura 17 – Relação entre velocidade linear e angular

Fonte: Lara, 2022.

A distância curvilínea (S) percorrida pelo ponto de interesse é o produto


do raio r, e da posição angular (θ). Analogamente, essa relação vale para
velocidade e aceleração (Hall, 2015).

𝑣⃗ = 𝑟 𝜔 𝑎⃗ = 𝑟 𝛼

Como aplicação desse conceito, podemos pensar em uma das catracas


de uma bicicleta de marchas que possui, aproximadamente, 10 cm de diâmetro.
A roda da mesma bicicleta possui 70 cm de diâmetro. Sabemos que durante um
movimento, a velocidade angular da catraca e da roda são as mesmas, portanto,

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se a velocidade angular da catraca for de 60 rad/s, a velocidade linear da roda
será de 85,7 m/s (v=0,7 m*60 rad/s), ou 23,8 km/h (Figura 18).

Figura 18 – Relação entre velocidade da catraca e da roda da bicicleta

Fonte: Lara, 2022.

Com essa relação, é importante ressaltar que a velocidade linear de uma


bola de tênis, durante uma rebatida, não é a mesma velocidade linear do ponto
de contato da mão do atleta com a raquete.

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REFERÊNCIAS

ALCANTARA, C. P. A. Análise cinemática e cinética dos membros inferiores


na corrida em adultos e idosos. 2013. p. 35-42.

AMADIO, A. C. et al. Métodos de medição em biomecânica do esporte: descrição


de protocolos para aplicação nos centros de excelência esportiva (Rede
CENESP-MET). Revista Brasileira de Biomecânica, v. 4, p. 57–67, 2002.

AMADIO, A. C. A Biomecânica em Educação Física e Esporte. 2011. p. 15-


24.

CORRÊA, S. C. Fundamentos da Biomecânica. [s.l: s.n.].

HALL, S. J. Biomecânica. 7. ed. 2015.

LATASH, M. L.; ZATSIORSKY, V. M. Biomechanics and motor control


defining central concepts by Latash, Mark L. Zatsiorsky, Vladimir M (z-
lib.org).pdf. [s.l: s.n.].

RIO 2016. Usain Bolt - Conheça os segredos do homem mais rápido do mundo.
Disponível em: <https://esporte.band.uol.com.br/rio-2016/usain-bolt/>. Acesso
em: 2 mar. 2022.

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