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Avaliação Neuromotora e Cardiopulmonar

Conteudista: Prof. Me. Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho


Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites

Material Teórico

Material Complementar

Referências
1/3

Material Teórico

 Objetivo da Unidade:

Conhecer os testes e procedimentos mais adequados para cada capacidade


física a ser analisada.

Introdução
Olá, estudante, estamos na parte nal da nossa disciplina. Vale lembrar que, ao longo do
curso, vimos as principais bases para realizar avaliações físicas seguindo todas as normas,
com a qualidade e a precisão necessárias; compreendemos como é feita a antropometria, ou
seja, a medição do corpo humano; e vimos como essas medidas são interpretadas e avaliadas.
Agora, nesta unidade, vamos aprender como avaliar o desempenho físico do corpo humano,
analisando as principais capacidades físicas, como a velocidade, a força, a exibilidade e a
resistência.

A avaliação das capacidades físicas pode ser realizada de forma abrangente, como uma
veri cação de condicionamento físico geral e análise de padrões de saúde. Esse tipo de
avaliação é muito comum em academias de musculação e ginástica, que recebem um público
bastante diversi cado, como jovens, adultos e idosos, sedentários ou não, com alguns
cuidados especiais sobre doenças, lesões e restrições de cada cliente, entre outros. Também
pode ser realizado nas escolas, para análise das crianças em relação à saúde, e até na busca
por talentos motores com potencial esportivo (GAYA; GAYA, 2016).

No caso dos esportes de alto rendimento, a bateria de testes deverá ter uma relação muito
especí ca com a modalidade esportiva em questão. Para isso, o preparador físico ou o
siologista, que serão os responsáveis pela seleção e aplicação dos testes, deverão conhecer
muito bem as exigências físicas do esporte para o qual farão as avaliações (MARIA; ARRUDA,
2019). 

Por exemplo, as ações motoras e o desgaste físico que ocorre num jogo de vôlei são muito
diferentes do que acontece num jogo de futebol, como o número de saltos, os espaços de
corridas e movimentações, as velocidades das ações, as musculaturas e os membros
envolvidos, a duração das partidas, entre outros aspectos. Gomes e Souza (2008) apresentam
uma visão geral sobre a relação das capacidades físicas determinantes para o desempenho
físico no futebol (Figura 1). Repare que cada capacidade física é in uenciada pelas demais e
acaba gerando outras, como, por exemplo, a união entre força e velocidade, que resulta em
potência e assim por diante.
Figura 1 – Relação entre as capacidades motoras
determinantes no futebol
Fonte: Adaptada de GOMES; SOUZA, 2008

Caso essa mesma análise das capacidades físicas determinantes tivesse sido feita em relação à
ginástica artística, por exemplo, a exibilidade teria uma importância decisiva. Outra questão
importante a ser compreendida é em relação à coordenação motora, que poderá ser avaliada
como coordenação geral e coordenação especí ca, como a execução de fundamentos técnicos
esportivos (WEINECK, 2005). Por exemplo, se você analisar a coordenação motora geral de
um jogador de basquete e de um jogador de futsal, provavelmente ambos terão bons
resultados. No entanto, caso a avaliação seja de coordenação motora especí ca de uma
modalidade, ou seja, sobre a técnica esportiva, o jogador de basquete terá di culdades com as
técnicas do futsal, da mesma forma que o jogador de futsal terá di culdade com as técnicas do
basquete.   

Feita essa introdução sobre a importância das capacidades físicas, a in uência que cada uma
gera nas demais e sobre a especi cidade do que pretende-se avaliar, vamos conhecer vários
tipos de testes. É importante ressaltar que somente alguns testes serão apresentados para
cada capacidade física e caberá ao avaliador sempre buscar novas referências sobre os
melhores testes para aquilo que pretende avaliar.

Velocidade

Glossário
Velocidade é a capacidade que um indivíduo apresenta para
realizar ações motoras em um tempo mínimo e com o
máximo de e cácia (GOMES; SOUZA, 2008).

Segundo Weineck (2005), a velocidade normalmente é subdividida em velocidade de reação e


velocidade de movimentos. A velocidade de reação está relacionada à velocidade com que o
corpo humano percebe um estímulo (visual, sonoro, cinestésico) e reage a isto. Poderá ser um
estímulo simples, estereotipado, como um nadador aguardando o sinal sonoro para iniciar
uma prova ou poderá ser um estímulo complexo, como ocorre nas artes marciais ou nos
esportes coletivos, que a forma segundo a qual o atleta reage depende de vários fatores, como
a proximidade do adversário e os movimentos que ele fará na sequência.

Outra subdivisão é em relação à velocidade de movimentos, que poderão ser cíclicos ou


acíclicos. Os movimentos cíclicos são aqueles repetitivos, como um ciclista ou um remador faz
durante toda a prova, com pouca variação de movimentos. Já os movimentos acíclicos também
são chamados de agilidade e são caracterizados por movimentos aleatórios, com mudanças de
direção, saltos, dribles, entre outros. Por exemplo, num jogo de futebol, o atleta usa a
velocidade cíclica quando está correndo sem a bola, praticamente em linha reta, mas usa
muito mais a velocidade acíclica, mudando rapidamente de direção da corrida, muitas vezes
com a bola nos pés e desviando dos adversários. Na Figura 2, um resumo sobre a capacidade
física de velocidade.

Figura 2 – A velocidade e suas as subdivisões.


Fonte: WEINECK, 2005

Re ita
Como podemos testar a velocidade?
A velocidade de reação não é algo simples de medir, pois é muito rápido entre o estímulo e a
reação, dependendo totalmente de equipamentos eletrônicos para essa medição. Na Tabela 1,
uma demonstração dos resultados de esportistas treinados em comparação com a média da
população.

Tabela 1 – Tempo de reação motora simples com diferentes estímulos

Público Tipo de sinal Tempo de reação (s)

Som 0,05 – 0,16


Esportistas
Luz 0,10 – 0,20

Som 0,15 – 0,25 ou mais


Não Esportistas
Luz 0,20 – 0,35 ou mais

Fonte: Adaptada de GOMES; SOUZA, 2008

Para a velocidade de movimentos, existem vários testes de campo conforme veremos alguns
na sequência. É importante ressaltar que há diferença de testes para velocidade cíclica (em
corrida de trajetória reta) e velocidade acíclica (agilidade, em corrida com mudanças de
direção). Outra questão importante é a forma de registro do tempo. Para os clubes que
possuem recursos nanceiros, é comum o uso da fotocélula, um sistema eletrônico
extremamente preciso que inicia e naliza o registro do tempo quando o atleta passa,
interrompendo o sinal e enviando o resultado automaticamente para o computador (Figura 3).
Quando não há recursos para isso, o cronômetro de mão também pode ser utilizado, no
entanto, o avaliador deverá ser o mesmo para diferentes atletas, pois o tempo de reação do
avaliador também irá in uenciar na medida nal.

Fotocélula no teste de agilidade 


(equipamento amarelo de frente para o tripé)
ACESSE

Teste de Velocidade de Deslocamento


Esse teste pode ser realizado com 20 metros para crianças, ou com 30 metros para adultos, de
corrida num trajeto reto. Não poderá ser num espaço curto, pois o avaliado ainda estará
acelerando e o teste não irá registrar a velocidade, mas sim a aceleração, ou seja, é necessário
um espaço mínimo de 20 a 30 metros para atingir a velocidade máxima. O avaliado deverá
iniciar a corrida partindo de uma posição estática e não poderá iniciar embalado. O
cronometrista irá registrar o início a partir do movimento inicial e encerrar quando o avaliado
passar pela marca nal. Repare na Figura 4, que apresenta dois cones posicionados 2 metros
após a linha de chegada. Dessa forma, deve-se orientar que as crianças corram até esses
cones (22 m), pois, dessa forma, elas não desacelerarão ao passar pelos 20 metros, perdendo
velocidade e prejudicando o teste.

Figura 3 – Teste de velocidade de deslocamento de 20


metros
Fonte: GAYA; SILVA, 2007

Teste de Agilidade – Quadrado


O teste é realizado num quadrado desenhado em solo, antiderrapante, com 4m de lado e 4
cones de 50 cm de altura. O aluno parte da posição de pé, com um pé avançado à frente
imediatamente atrás da linha de partida. Ao sinal do avaliador, deverá deslocar-se até o
próximo cone em direção diagonal. Na sequência, corre em direção ao cone à sua esquerda e
depois se desloca para o cone em diagonal (atravessa o quadrado em diagonal). Finalmente,
corre em direção ao último cone, que corresponde ao ponto de partida. O aluno deverá tocar
com uma das mãos cada um dos cones que demarcam o percurso. O cronômetro deverá ser
acionado pelo avaliador no momento em que o avaliado realizar o primeiro passo tocando com
o pé o interior do quadrado. Serão realizadas duas tentativas, sendo registrado o melhor
tempo de execução. A medida será registrada em segundos e centésimos de segundo (duas
casas após a vírgula). Exemplo: 5,23 segundos (GAYA; SILVA, 2007).

Figura 4 – Teste de Agilidade – Quadrado


Fonte: GAYA; SILVA, 2007
Teste de Agilidade – Illinois Agility Test
O comprimento do percurso é de 10 metros e a largura (distância entre os pontos de partida e
chegada) é de 5 metros. Quatro cones são usados para marcar o início, o m e os dois pontos
da virada. Outros quatro cones são colocados abaixo do centro a uma distância igual à parte.
Cada cone no centro está a 3,3 metros de distância. O atleta deve posicionar-se 50cm atrás da
linha de largada. No comando ‘Vai’, o cronômetro é iniciado e o atleta inicia o mais
rapidamente possível, correndo ao redor do campo na direção indicada, sem bater os cones de
novo, para a linha de chegada, em que o tempo será parado e o registro (escore) do teste se dá
em segundos (s). O mesmo procedimento é feito para analisar o dé cit técnico em conjunto
com a agilidade, no qual o atleta realiza o teste conduzindo e controlando uma bola, para
casos especí cos de futebol e futsal, ou driblando (quicando a bola) nos casos do basquete e
handebol (MARIA; ARRUDA, 2019). 
Figura 5 – Teste de Agilidade – Illinois Agility Test
Fonte: Adaptada de MARIA; ARRUDA, 2019

Teste de Agilidade – Triângulo Reversão


Esse é um teste interessante, pois testa a agilidade com diferentes formas de movimentação,
ou seja, corrida de frente, de costas e lateralmente. O início e o término do teste ocorrem no
mesmo cone. Para iniciar, no sentido anti-horário, o avaliado deverá começar correndo de
frente, depois com passadas laterais, depois de costas, até que inicia a reversão, no sentido
horário, de frente, de costas e lateralmente para nalizar. É comum os atletas confundirem
qual tipo de corrida deverá fazer em cada trecho. Assim, deve-se permitir que os atletas
simulem algumas vezes, para que consigam aprender o teste.

Figura 6 – Teste de Agilidade – Triângulo Reversão


Fonte: Adaptada de DOS SANTOS, 1998

Força
Glossário
Força é a capacidade que um indivíduo apresenta para superar
a resistência externa e de ação oposta a essa resistência, por
meio dos esforços musculares (GOMES; SOUZA, 2008).

A capacidade da força pode ser exigida de diferentes formas, de acordo com o esforço
realizado. Isto é, dependerá da quantidade de peso que o indivíduo deverá levantar, ou da
velocidade em que deverá realizar o movimento e até do número de repetições que deverão ser
realizadas. Por isso, basicamente a capacidade de força é subdividida em três: força máxima,
potência e força de resistência. Portanto, é necessário compreender as diferenças de cada
força, para então poder realizar as avaliações de forma adequada.

De acordo com Gomes e Souza (2008), podemos classi car a força em:

Força máxima: a maior força que o sistema neuromuscular é capaz de


desenvolver, por meio de uma contração máxima e voluntária. Exemplo: levantar
um objeto muito pesado;

Potência: também chamada de força explosiva ou de força rápida, é a capacidade


demonstrada na superação de certa resistência no menor tempo possível. É a
manifestação das capacidades de força e de velocidade relacionadas com o esforço
em uma ou poucas repetições. Exemplo: a maior parte dos movimentos no
esporte, como os saltos, lançamentos, chutes, cortada no vôlei, entre outros;

Força de resistência: é caracterizada pela capacidade do atleta de realizar, durante


um tempo prolongado, os exercícios com o peso, mantendo os parâmetros do
movimento. É a superação da fadiga realizando um alto número de repetições de
movimentos. Exemplo: remadores que repetem movimentos durante toda a prova,
ciclistas ao subirem uma montanha, entre outros.
Re ita
Como podemos testar a força? 

Como já sabemos das subdivisões dos diferentes tipos de força, também existem testes
adequados para cada tipo de força que será testada.

Teste de Força Máxima – 1 Repetição Máxima (1RM)


É a quantidade máxima de peso levantada uma vez durante a realização de um exercício
padronizado de levantamento de peso. Para testar 1 RM de um grupo muscular, como exores
de cotovelo ou extensores de joelho, é escolhido um peso para o dispositivo do exercício,
porém abaixo da capacidade máxima de levantamento do indivíduo. Se uma repetição é
completada, acrescenta-se peso ao dispositivo do exercício, até alcançar a capacidade máxima
de levantamento. Os acréscimos de peso costumam ser de 1 a 5 kg durante o período de
avaliação. Essa técnica é habitualmente utilizada com halteres, anilhas e aparelhos
convencionais em salas de musculação (MARIA; ARRUDA, 2019).

Teste de Força Máxima – Repetições Máximas


O teste de carga por repetições máximas, também conhecido como teste submáximo,
possibilita a identi cação da força máxima sem a necessidade do teste especí co de carga
máxima, fazendo uso de equações matemáticas. É importante ressaltar que a não utilização de
testes de carga máxima possibilita a redução ou a exclusão do risco de lesões por esforço
máximo, assim como torna possível a realização de testes em exercícios variados em uma
única sessão de treinamento sem estimular a fadiga central. O teste de carga por repetições
máximas propriamente dito consiste na inversão do teste de carga máxima, ou seja, realiza-se
um número máximo de movimentos com a carga não variável (MARIA; ARRUDA, 2019).
Para obter o resultado do teste, deve-se utilizar uma fórmula capaz de inferir a força máxima
do avaliado (BRZYCKI, 1993 apud MARIA; ARRUDA, 2019): 

1RM (kg) = carga do teste / (1,0278 – repetições máximas x 0,0278).

Por exemplo, vamos supor que foram realizadas 5 repetições com 50 kg. Então teremos:

1RM (kg) = 50 / (1,0278 – 5 x 0,0278);

1RM (kg) = 50 / (1,0278 – 0,139);

1RM (kg) = 50 / 0,8888;

1RM (kg) = 56,25 kg.

Figura 7 – Teste de Força Máxima para braços


Fonte: Getty Images
Teste de Potência de Membros Inferiores (Salto Horizontal)
Deve-se xar uma trena no solo, perpendicularmente à linha limite, cando o ponto zero
sobre ela. O aluno coloca-se imediatamente atrás da linha, com os pés paralelos, ligeiramente
afastados, joelhos semi- exionados, tronco ligeiramente projetado à frente. Ao sinal, o aluno
deverá saltar a maior distância possível. Serão realizadas duas tentativas, registrando-se o
melhor resultado. A distância do salto será registrada em centímetros, com uma casa decimal,
a partir da linha inicial traçada no solo até o calcanhar mais próximo desta. Exemplo: 214,5
centímetros (GAYA; SILVA, 2007).

Figura 8 – Teste de Potência – Salto Horizontal


Fonte: GAYA; SILVA, 2007

Teste de Potência de Membros Inferiores (Salto Vertical)


Esse teste consiste em duas fases (GOMES; SOUZA, 2008): 

Primeira fase (A): o avaliado eleva o braço para se conhecer a altura com o braço
estendido;
Segunda fase (B): executam-se três saltos verticais tentando alcançar a maior
altura possível. Após a execução, utiliza-se o melhor resultado, subtraindo-o do
valor da fase (A).

O teste poderá ser realizado num poste especí co com hastes móveis que indicam a medida
(Figura 9), ou mesmo numa parede, em que os avaliados encostam os dedos com giz,
deixando a marca na parede.

Figura 9 – Teste de Potência – Salto Vertical


Fonte: SILVA; SOUZA; et al, 2018
Teste de Potência de membros superiores (arremesso do
medicineball)
A trena é xada no solo perpendicularmente à parede. O ponto zero da trena é xado junto à
parede. O aluno senta-se com os joelhos estendidos, as pernas unidas e as costas
completamente apoiadas à parede. Segura a medicineball de 2 kg (ou saco de areia com 2 kg)
junto ao peito com os cotovelos exionados. Ao sinal do avaliador, o aluno deverá lançar a
bola a maior distância possível, mantendo as costas apoiadas na parede. A distância do
arremesso será registrada a partir do ponto zero até o local em que a bola tocou ao solo pela
primeira vez. Serão realizados dois arremessos, registrando-se o melhor resultado. Sugere-se
que a medicineball seja banhada em pó branco para a identi cação precisa do local onde tocou
pela primeira vez o solo. A medida será registrada em centímetros com uma casa decimal.
Exemplo: 547,5 centímetros (GAYA; SILVA, 2007).
Figura 10 – Teste de Potência – Arremesso do
Medicineball
Fonte: GAYA; SILVA, 2007

Glossário
Resistência é a capacidade que um indivíduo apresenta para
suportar a fadiga (GOMES; SOUZA, 2008).
A compreensão sobre a resistência é um pouco mais complexa que as demais capacidades
motoras, pois há uma in uência direta sobre a intensidade (ritmo) e o volume (duração ou
distância) do exercício no sistema de fornecimento de energia do corpo humano. Por
exemplo, somos capazes de caminhar durante longas distâncias e várias horas. Caso o ritmo
aumente para um trote ou corrida, diminuirá a nossa capacidade de suportar tanto esforço e
iremos cansar rapidamente. Resumindo, há uma relação inversamente proporcional entre
intensidade e volume. Isto é, quanto maior for a intensidade, menor será o volume suportável.
Quanto menor for a intensidade, maior será o volume suportável.

A explicação básica é que o nosso corpo tem uma capacidade limitada de gerar energia na
musculatura (fontes conhecidas como fosfagênios e glicogênios musculares), que servem
para exercícios intensos de curta duração. Quando essas fontes energéticas não conseguem
suprir a demanda, o corpo acaba sendo obrigado a diminuir o ritmo para atividades menos
intensas e passa a utilizar a via aeróbia, que depende de os pulmões oxigenarem o sangue e,
por consequência, transformarem-no em mais energia nos músculos. Esse é o caso dos
exercícios de longa duração, como uma corrida de maratona (42 km).   

Dessa forma, a resistência basicamente é subdividida em três tipos (GOMES; SOUZA, 2008):

Anaeróbia alática: ligado à utilização dos fosfagênios, presente nos músculos em


atividade, principalmente da creatina fosfato (CP). Exemplo: corrida de 100 metros
ou outros exercícios muito intensos com duração aproximada de até 30 segundos;

Anaeróbia lática (glicolítica): pressupõe a dissociação anaeróbia do glicogênio


(com provisão insu ciente de O2) com a formação do lactato. Exemplo: corrida de
800 metros ou demais esportes intensos em que há substituições ilimitadas
(basquete, futsal), com duração do esforço de aproximadamente até 3 minutos;

Aeróbia (oxidativa): por conta da oxidação, ou seja, com a participação direta de


O2, de hidratos de carbono e de gorduras que o organismo contém. Exemplo:
maratona de 42 km, provas longas de ciclismo de estrada, com duração acima de
10 minutos até várias horas.
No esporte, existem casos ainda mais complexos do que os exemplos citados, pois possuem
longa duração, na qual, pela lógica, predomina a resistência aeróbia, porém há variações de
ritmo durante as partidas e os lances decisivos são realizados em grande velocidade,
predominando a resistência anaeróbia. O futebol e o rúgbi são exemplos dessa complexidade,
com longa duração de jogo e poucas substituições. Espera-se que, mesmo cansados, os
atletas sejam rápidos para superarem a marcação adversária. Nesses casos, entre outros, a
resistência é conhecida como mista, por exigir contribuições de ambas fontes energéticas
(vias glicolítica e oxidativa). 

Re ita
Como podemos testar a resistência? 

Como já sabemos das subdivisões dos diferentes tipos de resistência, também existem testes
adequados para cada tipo de resistência que será testada. Basicamente testes curtos, por volta
de 1 minuto de duração, são bastante intensos e buscam analisar a resistência anaeróbia.
Existem os testes mais longos, eventualmente acima de 5 a 12 minutos, que buscam analisar a
resistência aeróbia. 

Teste da Resistência Muscular – Saltos 


Esse teste anaeróbio consiste em o avaliado saltar uma corda elástica com altura de 40
centímetros durante o tempo de 60 segundos. O resultado é dado pelo número de saltos
realizados (GOMES; SOUZA, 2008).
Figura 11 – Teste de Resistência Muscular – Saltos
Fonte: GOMES; SOUZA, 2008

Teste de Resistência Abdominal


O avaliado posiciona-se em decúbito dorsal, com os joelhos exionados a 90 graus e com os
braços cruzados sobre o tórax. O avaliador xa os pés do avaliado no solo. Ao sinal, o avaliado
inicia os movimentos de exão do tronco até tocar com os cotovelos nas coxas, retornando à
posição inicial (não é necessário tocar com a cabeça no colchonete a cada execução). O
avaliador realiza a contagem em voz alta. O avaliado deverá realizar o maior número de
repetições completas em 1 minuto. O resultado é expresso pelo número de movimentos
completos realizados em 1 minuto. Exemplo: 41 repetições/min.

Figura 12 – Teste de Resistência Abdominal


Fonte: GAYA; SILVA, 2007

Teste de Resistência Anaeróbia – RAST


O RAST (Running-based Anaerobic Sprint Test), que signi ca Teste Anaeróbio de Corridas
Máximas, foi desenvolvido pela Universidade de Wolverhampton (Grã-Bretanha). É um teste
de campo, constituído de 6 corridas de 35 metros com velocidade máxima e intervalo de 10
segundos entre as corridas. Cada uma das 6 corridas terá o tempo registrado e deveremos
saber o peso corporal do avaliado. Todos os dados serão inseridos nas fórmulas, que irão
informar:

Potência (W): peso (kg) x distância² (m) / tempo³ (s), sendo que a potência será calculada em
Watts, o peso será em quilogramas multiplicado pela distância, que será inicialmente elevada
ao quadrado em metros. No m, o tempo de cada corrida será elevado ao cubo em segundos
para realizar a divisão nal.

Assim, com base nas seis medidas de tempo, será possível calcular a potência máxima e a
mínima, selecionando o melhor e o pior resultado de potência e inserindo cada um por vez na
fórmula:

Potência (Máxima ou Mínima): potência (W) / peso (kg)

No m, será possível calcular o índice de fadiga do avaliado no teste, de acordo com a fórmula:

Índice de Fadiga: potência máxima – potência mínima / tempo total das 6 corridas (s)

Para mais detalhes sobre o teste RAST, consulte os vídeos indicados nos Materiais
Complementares no nal desta unidade (PEREIRA JUNIOR, 2019).

Teste de Resistência Aeróbia (12 minutos – Cooper)


O famoso teste de Cooper é amplamente utilizado para veri car o nível de condicionamento
físico de atletas e de não atletas, como em concursos nos quais há exigências físicas. O teste
deve ser aplicado num local em que é possível saber a distância total que cada um correu. O
grande segredo para aplicar esse teste é que o avaliador deverá medir todo o trajeto, seja
colocando cones ou fazendo marcas no chão a cada 5 metros. Por exemplo, numa pista de
atletismo com 400 metros, vamos contar quantas voltas cada avaliado completa, além dos
metros que ele fez ao término do tempo de 12 minutos. Também poderá ser num campo de
futebol. No m, devemos inserir a distância total na fórmula que irá estimar o volume máximo
de oxigênio (VO2máx) do avaliado, demonstrando a capacidade aeróbia (MARIA; ARRUDA,
2019).
VO2máx (ml/kg/min) = (distância em metros – 504,9) / 44,73.

Por exemplo, vamos supor que o avaliado tenha percorrido a distância de 2000 metros. Então
teremos:

VO2máx = (2000 – 504,9) / 44,73;

VO2máx = 1495,1 / 44,73;

VO2máx = 33,42 ml/kg/min.

Vale lembrar que existem outros testes para veri car a resistência aeróbia, com menor
desgaste físico, mais adequado para crianças e idosos, como o teste de 9 minutos (GAYA;
SILVA, 2007), de caminhada de 3 km, entre outros.

Flexibilidade

Glossário
Flexibilidade é a capacidade que um indivíduo apresenta de
amplitude de movimento possível em uma ou várias
articulações (GOMES; SOUZA, 2008).

A exibilidade, que também pode ser chamada de mobilidade articular, in uencia diretamente
nos movimentos dos membros, tronco e quadril. Nos esportes, há exigências especí cas de
exibilidade de acordo com a especi cidade de movimentos. Por exemplo, no futebol, espera-
se que os jogadores tenham boa exibilidade no quadril e pernas. No handebol, no vôlei e no
basquete, espera-se que tenham boa exibilidade nos ombros e tronco. Nas ginásticas, a
exibilidade é uma das capacidades determinantes de resultados e, por isto, deve ser muito
trabalhada em todas as articulações dos ginastas.
Re ita
Como podemos testar a exibilidade? 

A exibilidade é basicamente testada utilizando medidas previamente estabelecidas para


determinados movimentos do corpo humano. As medidas podem ser em relação à distância
(centímetros) ou em relação à angulação (graus) dos movimentos dos segmentos corporais.

Teste de Flexibilidade (Sentar-e-alcançar)


O avaliado deve estar descalço e sentar-se de frente para a base do banco de Wells (caixa de
madeira com a ta métrica na mesa), com as pernas estendidas e unidas. Coloca uma das
mãos sobre a outra e eleva os braços na vertical. Inclina o corpo para frente e alcança com as
pontas dos dedos das mãos tão longe quanto possível sobre a régua graduada, sem exionar
os joelhos e sem utilizar movimentos de balanço (insistências). Cada avaliado realizará duas
tentativas. O avaliador permanece ao lado do avaliado, mantendo-lhe os joelhos em extensão.
O resultado é medido a partir da posição mais longínqua que o avaliado pode alcançar na
escala com as pontas dos dedos. Registra-se o melhor resultado entre as duas execuções com
anotação em uma casa decimal. Exemplos: 24,5 centímetros (GAYA; SILVA, 2007).
Figura 13 – Teste de Flexibilidade (Sentar-e-alcançar)
Fonte: GAYA; SILVA, 2007

O teste de sentar-e-alcançar também pode ser realizado sem o banco de Wells, apenas com a
ta métrica xada no chão. Neste caso, o avaliado deverá car com as pernas um pouco
abertas e com os pés na marca de 38 cm. Para mais detalhes sobre o teste realizado sem o
banco de Wells, veja nas indicações de material complementar no nal desta unidade
(PROESP-BR). 

Além desse teste, é possível avaliar a exibilidade com base no ângulo de mobilidade das
articulações, com um equipamento chamado de eximetro ou goniometria. Outra forma é com
o exiteste, uma escala de mobilidade que é baseada em movimentos previstos num mapa de
8 posições (ver Flexiteste em Material Complementar). Tanto a goniometria como o exiteste
são mais complexos de serem realizados, pois requerem maior conhecimento do avaliador, no
entanto, são mais completos que o teste de sentar-e-alcançar, pois analisam várias
articulações do corpo. 
Você já percebeu que existem diversos testes para analisar as capacidades físicas, não é? Nesta
unidade, foram apresentadas algumas das formas mais comuns, no entanto, você poderá
encontrar vários outros testes, de acordo com o seu foco de pesquisa, modalidade esportiva ou
até o público com alguma característica especial. 

Outra informação relevante é a respeito dos parâmetros de resultados para cada teste, que não
caberiam nesta unidade. Por isto, vários parâmetros poderão ser encontrados na literatura em
geral (ver, por exemplo, GAYA; SILVA, 2007 e GOMES; SOUZA, 2008). Além dos parâmetros
previstos na literatura, o avaliador poderá ter sua própria base de dados para comparação. Por
exemplo, comparar um atleta X equipe, ou o atleta no teste atual X o mesmo atleta no teste
anterior.

Em Síntese

Deve-se conhecer profundamente qual capacidade motora será


avaliada, de acordo com o público-alvo. No caso de atletas, deve-
se conhecer também o esporte em questão, pois existem testes
mais adequados para cada caso;

Devem-se conhecer as diferenças entre velocidade cíclica e


acíclica, incluindo os diversos testes para cada caso;

Devem-se conhecer as diferenças entre força máxima, potência e


força de resistência, pois cada uma possui características e testes
especí cos;

Deve-se conhecer as diferenças entre resistência anaeróbia


alática, lática e aeróbia. Além do volume (tempo da duração do
esforço) e da intensidade (ritmo), que possuem uma relação
inversamente proporcional de grandeza;

Devem-se conhecer as características da exibilidade e as várias


formas de avaliá-la.
2/3

Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados


nesta Unidade:
Vídeos
Teste do RAST: conceitos e aplicações

Teste do RAST: conceitos e aplicações

Teste do RAST: cálculos e resultados

YOUTUBE
Teste do RAST: cálculos e resultados

Teste do RAST: cálculos e resultados


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CONTROLE DE CARGA DE TREINAMENTO NA MUSCULAÇÃO̙4 MÓDULOS5
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VEJA EM YOUTUBE 

Site
Bateria de Testes: Flexibilidade (Sentar e Alcançar)
O site a seguir oferece explicações sobre o teste de sentar e alcançar, bem como esclarece
montar o teste sem o banco de Wells.

UFRGS
PROESP - Projeto Esporte Brasil
Bateria de Testes: Flexibilidade (Sentar e Alcançar) Com banco de wells
Material: Utilize um banco com as seguintes características: Sem banco de
wells Download: Clique aqui para fazer download do vídeo Download: Clique
aqui para fazer download do vídeo Imagens: Imagens: a) um cubo construído
com peças de 30 x
LEIA MAIS UFRGS 

Artigo
Per l de exibilidade de pro ssionais de educação física, pertencentes à turma de pós-
graduação em treinamento desportivo e siologia do exercício da Universidade Castelo
Branco (RJ)
O artigo a seguir oferece explicações sobre o Flexiteste, incluindo as imagens que servem de
referência para a avaliação da exibilidade:
Per l de exibilidade de pro ssionais de educação
física, pertencentes à turma de pós-graduação em
treinamento desportivo e siologia do exercício da
Universidade Castelo Branco (RJ)
Per l de exibilidade de pro ssionais de educação física, pertencentes à turma de
pós-graduação em treinamento desportivo e siologia do exercício da Universidade
Castelo Branco (RJ). Prof. Esp. Raphael Benassi, Profª Esp. Ana Carolina dos Santos
Salvador, Prof. Luciano Lopes Loiola, Prof. Luí Toledo, Prof.
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Referências

DOS SANTOS, R. L. Proposição do Teste de Agilidade Triangulu


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avaliação do desempenho motor. São Paulo: CREF4/SP, 2019.

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ALONGAMENTO INICIAL E O DESEMPENHO NO SALTO VERTICAL EM
ATLETAS ADULTOS DE HANDEBOL MASCULINO. Revista Saúde e Meio
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