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AULA 6

TREINAMENTO DA FORÇA
E DA VELOCIDADE

Prof. Bruno Gil Aldenucci


TEMA 1 – VELOCIDADE

Velocidade é a capacidade de se mover rapidamente, estando relacionada


com o tempo e o espaço (percorrer o maior espaço no menor tempo possível). O
tempo de reação e a velocidade de seguimento vão influenciar na velocidade de
deslocamento. O primeiro está relacionado com a velocidade em que o atleta
percebe um estímulo, visual ou sonoro, e como que esse estímulo é captado pelos
seus receptores, conduzido por uma via aferente até seu sistema nervoso central
e novamente conduzido por uma via aferente até seus músculos. Além disso, há
a ativação dos seus músculos – quanto maior a sua potência, a sincronização
entre as unidades motoras, quanto mais fibras de contração rápida, melhor será
a reação (Baechle; Earle, 2010; Bompa, 2005, 2002).
A velocidade de seguimento está relacionada com a velocidade com que
se realiza um gesto. Por exemplo, no gesto da corrida, um membro inferior deve
sair do solo e tocá-lo novamente em uma passada. A velocidade que se leva para
sair do ponto zero até o ponto final do movimento é considerada a velocidade de
seguimento do membro inferior. Assim, temos a velocidade do membro inferior
esquerdo, do membro inferior direito, do membro superior esquerdo e direito e
assim por diante. Quando treinamos com alto volume, muita repetição e baixa
carga, conseguimos aumentar essa velocidade de seguimento, aumentando
então, a velocidade de reação e diminuindo o tempo de reação. Melhorando a
velocidade de seguimento, conseguimos melhorar o tempo de deslocamento total,
ou seja, se o atleta consegue ter uma resposta mais rápida ao sinal inicial sonoro
ou visual e consegue realizar um gesto motor com seguimento no menor tempo
possível, a velocidade de deslocamento, que será o tempo gasto do ponto inicial
até o ponto final, será maior (Gomes, 2009).
A velocidade é necessária para quase todos os esportes. Deve ser
incorporada nos programas de treinamento, tanto para atletas amadores quando
para atletas profissionais. Esta capacidade inclui desde gestos básicos, como
corrida e deslocamentos, até a velocidade específica do esporte. Como exemplo,
temos a velocidade com que uma bola percorre um espaço, que depende da
técnica e da qualidade do arremesso ou do chute do atleta (Bompa, 2005, 2002).
Existem dois tipos de velocidade. Um deles é a velocidade geral,
capacidade de realizar qualquer reação motora de maneira rápida. É avaliada de
uma forma global, com o praticante não se atendo ao gesto específico. Quando

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levamos em consideração o gesto específico, a velocidade é considerada
específica, que é a capacidade de realizar um exercício ou uma tarefa em uma
determinada velocidade. Por exemplo, o arremesso no basebol ou chute do
futebol, nesse caso é específico, avaliando um seguimento com gesto do esporte
(Bompa, 2005, 2002).

1.1 Fatores que afetam a velocidade

Existem alguns fatores que afetam a velocidade, como a hereditariedade,


que influencia no tipo de fibra. As fibras do tipo 1 são fibras oxidativas de contração
lenta e as fibras do tipo 2 são fibras glicolíticas de contração rápida. Então, quanto
maior o número de fibras do tipo 2, maior a potência inicial, maior a aceleração e,
consequentemente, maior a velocidade (Baechle; Earle, 2010; Stoppani, 2009).
A hereditariedade também influencia na velocidade de condução nervosa,
em que os estímulos devem ser captados e conduzidos por vias aferentes até o
sistema nervoso central para sua interpretação, e então, por uma via eferente,
conduzir esse estímulo para os músculos. Quanto mais rápida a condução
nervosa, mais rápida será a ativação muscular e consequentemente melhor o
tempo de reação e a velocidade final (Baechle; Earle, 2010; Stoppani, 2009).
Outro fator influenciado pela hereditariedade é o metabolismo. Alguns indivíduos
possuem metabolismo oxidativo mais aprimorado, sendo capaz de manter
exercícios de longa duração por mais tempo, ou em uma melhor velocidade por
mais tempo. Outros possuem o sistema fosfagênio ou glicolítico mais aprimorado,
sendo mais eficiente em exercícios de curta duração, conseguindo maior
velocidade. Então o metabolismo é crucial, fundamental, para a manutenção da
velocidade, sem que haja fadiga tanto nos esportes de curta duração, quanto nos
esportes de longa duração (Powers e Howley, 2016).
O tempo de reação também afeta a velocidade. Este também tem influência
hereditária, que pode afetar na velocidade de condução dos impulsos nervosos,
entretanto, o treinamento pode favorecer o aprimoramento dessa condução
nervosa e dessa captação de estímulo.
A capacidade de superar a resistência externa, ou seja, a ação da
gravidade e a resistência do vento e do meio, também influenciam no
desenvolvimento de velocidade. Para lidar com isso, é necessária uma boa
técnica, evitando, por exemplo, que se tenha maior resistência do vento.

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Equipamentos também influenciam em melhor aerodinâmica, diminuindo assim a
resistência do vento.
A ação da gravidade pode ser desfavorável dependendo da técnica de
corrida. Por exemplo, um corredor deve ter o máximo de impulsionamento
horizontal. Muitos atletas acabam correndo com uma impulsão mais vertical. Com
a impulsão vertical, a ação da gravidade tende a puxar para baixo e, dessa forma,
ocorre maior gasto de energia e esforço para impulsionar a ação da gravidade de
puxar para baixo, não conseguindo se projetar para frente, tendo por
consequência uma velocidade prejudicada (Radcliffe, 2017; Bompa, 2005;
Noakes, 2003).
Para superar a resistência externa é fundamental o desenvolvimento da
potência, treinamentos específicos para incrementar a potência e a técnica
fazendo com que o praticante se aprimore para que possa realizar o melhor gesto
possível economizando o máximo de energia (Radcliffe, 2017; Boyle, 2011;
Beachle; Earle, 2010).
Outro fator que afeta a velocidade é a técnica. Como já dito, ela pode afetar
a resistência externa, diminuindo-a, mas também a técnica influi na velocidade,
pois ela favorece muito a economia de energia e economia de movimentos.
Quanto mais economia, mais se retarda a fadiga e mais velocidade se consegue
por maior tempo. Portanto, é fundamental que a técnica seja desenvolvida,
principalmente em fases iniciais e fases básicas da periodização (Noakes, 2003;
Magness, 2014).
A força de vontade e concentração são fatores que influencia no
desenvolvimento de velocidade e no desempenho atlético. Quanto maior a força
de vontade do indivíduo, sua tendência é de ter uma melhor performance ou maior
velocidade. Isso depende de questões motivacionais, e cabe ao treinador
influenciar ou estimular o praticante. A concentração também é fundamental: se o
indivíduo está focado em outras atividades ou outras preocupações e acaba
deixando de ter atenção no que realmente importa, perdendo a concentração no
tempo de reação, na ativação dos músculos e na técnica em si, terá sua
performance reduzida (Gomes, 2009; Bompa, 2005, 2002).
O último fator que interfere no desenvolvimento de velocidade é a
elasticidade muscular. Quanto maior a elasticidade, teoricamente maior a
amplitude de movimento, e com isso consegue-se também um gesto técnico mais
correto e uma economia desse movimento (Magness, 2014; Beachle e Earle,

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2010; Bompa, 2005; Noakes, 2003). Quanto maior a elasticidade, também
podemos ter maior desenvolvimento de potência, uma vez que a potência
muscular é o resultado da ativação do fuso muscular e do componente elástico
das proteínas não contráteis (Radcliffe, 2017; Boyle, 2011).
Um músculo encurtado possui uma produção de força menor, pela restrição
de movimento da actina com a miosina. Um músculo que tem uma maior
flexibilidade, pode ter uma maior movimentação dos sarcômeros, da actina e
miosina, pode ter uma maior elasticidade das proteínas não contráteis (Powers e
Howley, 2016). Pode também ter uma maior amplitude de movimento,
favorecendo a técnica e a execução do gesto motor (Magness, 2014; Bompa,
2005, 2002; Noakes, 2003).

TEMA 2 – AVALIAÇÃO DA VELOCIDADE

A velocidade, agilidade e potência são três capacidades que estão


intimamente ligadas, sendo difícil separá-las. Quando vamos avaliar a velocidade,
estaremos avaliando também, de certa forma, a agilidade, a aceleração e
potência. Alguns testes são mais específicos para velocidade e alguns, que
envolvem esportes acíclicos, são mais voltados para velocidade com agilidade.
Basicamente a agilidade é a capacidade de mudança de direção brusca, a
capacidade de aceleração e desaceleração (Young et al., 2001; Sheppard; Young,
2006; Young; Farrow, 2006). Portanto, aqueles testes onde o atleta deve realizar
acelerações e desacelerações bruscas ou mudanças de direção também estão
avaliando a agilidade.
Avaliar é fundamental para controlar a evolução e identificar as maiores
necessidades do atleta. Sem uma avaliação, não se tem como personalizar um
programa e dificilmente conseguimos quantificar a evolução para eventualmente
readequar os programas de treinamento. Alguns testes podem ser realizados para
avaliar a velocidade. Podemos avaliar o tempo de reação e podemos avaliar o
tempo de deslocamento (Bompa, 2005, 2002).

2.1 Avaliação da velocidade de reação

Teste da régua: o avaliado fica sentado, com o cotovelo fletido a 90º, com
a mão aberta. O avaliador posiciona uma régua acima da mão do avaliado, explica
ao avaliado que, quando for dado o comando “já”, ele soltará a régua e o avaliado

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deve fechar a mão para segurá-la. O avaliador deve cronometrar o tempo que o
avaliado leva para segurar a régua a partir do comando. O teste deve ser realizado
três vezes e, em seguida, deve ser feita a média. Quanto menor o tempo, melhor
a velocidade de reação do atleta (Carnaval, 2002; Marins; Giannichi, 1998).

2.2 Avaliação da velocidade de deslocamento

Teste de corrida de 50 metros: traça-se uma linha de largada e uma linha


de chegada, posicionando o avaliado 5 metros antes da largada. O intuito é que,
nesses 5 metros, ele possa atingir uma velocidade para que no teste não seja
avaliada a sua aceleração, apenas a velocidade de deslocamento. O avaliador
deve, então, marcar o tempo do avaliado a partir do momento que ele passar da
linha de largada (após percorrer os 5 metros) até a linha de chegada. Dessa
maneira, o tempo de reação não interfere no teste e é possível observar a
velocidade de deslocamento em 50 metros. Esta é aplicada para alguns esportes
que possuem característica de deslocamento com distâncias próximas de 50
metros – um jogador de futebol, por exemplo, dificilmente realiza deslocamentos
tão grandes quanto esse. Dentro de um time, no caso do futebol, o lateral irá
realizar esse tipo de deslocamento, mas outros atletas não, como o goleiro, para
o qual é mais interessante avaliar o tempo de reação e outros tipos de teste de
velocidade mais específicos do que um teste de corrida de 50 metros (Carnaval,
2002; Marins e Giannichi, 1998).
Teste de corrida de 30 metros: é utilizado para crianças de 7 a 18 anos.
Depois de traçada uma distância de 45 metros, o avaliador dispara o cronômetro
quando o avaliado passar a linha dos 15 metros, com o mesmo objetivo do que é
feito no teste dos 50 metros). Os primeiros 15 metros servem para que o tempo
de reação não influencie no resultado do teste. Teste aplicado para crianças e
adolescentes, sendo que depois é mais utilizado o teste de 50 metros (Carnaval,
2002; Marins; Giannichi, 1998).
Teste de shuttle run: é mais utilizado para esportes acíclicos e para
esportes que possuem grandes deslocamentos. O avaliador coloca duas linhas
com uma diferença de 5 metros. O avaliado sai de uma linha e precisa cruzar a
segunda, retornando para a inicial, contando, assim, um ciclo. Deve-se completar
cinco ciclos. Nesse teste, podemos avaliar a velocidade de deslocamento e a
agilidade, pois influencia a aceleração e a mudança de direção. É muito utilizado
em esportes como futebol, futebol americano, rúgbi, entre outros que possuem

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mudança de direção. Nesse teste, é percorrida uma distância que chega a 50
metros por serem 5 ciclos de 10 metros: 5 metros de ida e 5 metros de volta
(Carnaval, 2002; Marins e Giannichi, 1998).
Teste de agilidade do quadrado: é um teste em que são avaliadas a
velocidade e agilidade. O avaliador coloca quatro cones e o avaliado deve
percorrê-los até que forme um quadrado. Para isso, deve sair em diagonal e voltar
em linha reta. O teste de agilidade do quadrado também avalia acelerações e
desacelerações com mudança de direção e a velocidade. É importante ressaltar
que o teste sempre deve ser realizado da mesma maneira: é preciso sair em
diagonal e voltar reto; se houver solicitação para tocar no cone, é necessário tocá-
lo de frente se a corrida for de frente. Também é preciso sempre usar a mesma
distância e terreno, para que o reteste seja fidedigno possa realmente levar em
consideração as marcas obtidas (Carnaval, 2002; Marins e Giannichi, 1998).
Teste de agilidade em T: o avaliador usará quatro cones, colocando-os
em uma disposição que forme um T. Marca-se o início da reta vertical como o
ponto A, o ponto B sendo o final da reta (base do T) e o ponto C e o D formando
uma linha horizontal (topo do T). Do ponto A para o ponto B, temos 9,14 metros;
do ponto B para o ponto C, temos 4,57 metros; e do ponto C para o D, 4,57 metros.
Nesse teste também são avaliadas a velocidade e a agilidade em deslocamentos
laterais. O avaliado deve percorrer do ponto A para o ponto B de frente em uma
corrida frontal; em seguida, quando tocar o cone B, irá para o cone C com
deslocamento lateral; toca no cone C e, depois, vai com deslocamento lateral até
o cone D; volta com deslocamento lateral até o cone B e volta com uma corrida
de frente para o cone A. Assim, conseguimos avaliar a velocidade e agilidade de
deslocamento lateral (Carnaval, 2002; Marins e Giannichi, 1998).
Esse teste é muito importante para alguns esportes que utilizam esse tipo
de comportamento, como o vôlei, no qual temos alguns tiros curtos e
deslocamentos laterais, e o tênis, que possui deslocamento anterior, posterior e
lateral.
Também é necessário estar atento à forma de execução, ao terreno e à
distância percorrida, que deve ser adaptada para o sistema métrico, em que 9,14
metros representam 10 jardas e 4,57 metros representam 5 jardas. Como o teste
foi feito principalmente para o futebol americano, foram utilizadas as jardas. Pode
ser adaptado para 10 metros e 5 metros, porém, deve sempre ser feito da mesma
forma para manter a fidedignidade dos resultados.

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TEMA 3 – MÉTODOS DE DESENVOLVIMENTO DE VELOCIDADE

Existem vários métodos para aprimorar a velocidade. A primeira coisa que


temos de pensar quando vamos trabalhar com intensidade ou qualquer outro tipo
de treinamento é na frequência, intensidade, tempo, volume e descanso (ACSM,
2014).
Frequência: o treinamento de velocidade deve ser realizado de duas a
quatro vezes por semana, para dar o descanso adequado, por ser um trabalho de
alta intensidade em que precisamos de grande potência. O treinamento de
velocidade pode causar uma fadiga precoce e com isso gerar grande desgaste
(Bompa, 2002; Young, 2001).
Intensidade: pode ser submáxima ou supramáxima, sempre preconizando
boa técnica. Pode-se controlar a intensidade por meio da frequência cardíaca,
pela percepção subjetiva de esforço ou pelo lactato.
Tempo: se for curto, estamos preconizando o movimento de aceleração;
se for longo, estamos melhorando a resistência aeróbia. Os dois vão melhorar a
velocidade, entretanto, deve-se buscar a especificidade. Se no esporte são
utilizados mais deslocamentos longos, é interessante pensar em treinos com
deslocamentos longos. Deve-se manter a velocidade por todo o trajeto, se a
diminuição da velocidade é um sinal de fadiga, então deve-se percorrer um trajeto
menor do que onde se teve a perda de velocidade. Em média, são utilizados
deslocamentos de 5 a 20 segundos.
Volume: o volume do treinamento de velocidade deve ser baixo e
específico. Quando o objetivo é técnico, a velocidade de segmento e o volume
são mais altos, ou seja, vamos repetir várias vezes até que o praticante consiga
melhorar o gesto técnico e melhorar a velocidade de segmento. Mas, de forma
geral, o volume para treinamento de velocidade não é muito elevado, pois ele é
altamente fatigável e é necessário o descanso (Gomes, 2009; Bompa, 2002;
Young, 2001).
Intervalo de descanso: o intervalo de descanso deve ser necessário para
quase total recuperação da sua capacidade de trabalho, não deve passar de 4 a
6 minutos. Pode-se utilizar intervalos de até 10 minutos. Como os estímulos são
submáximos ou supramáximos, ou seja, de alta intensidade, precisamos ter a
recuperação completa ou quase completa dos nossos sistemas energéticos de
curta duração. Intervalos de 2 a 6 minutos são utilizados com descanso ativo;

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intervalos com mais de 6 minutos combinam descanso ativo e passivo. O atleta
pode realizar um tiro e permanecer 2 a 6 minutos em descanso ativo como uma
caminhada ou um trote leve. Se for maior que 6 minutos de descanso após o tiro
o atleta pode permanecer com um descanso passivo de cerca de 2 a 4 minutos e
em seguida começa a fazer um descanso com trote ou uma caminhada leve
(Baechle; Earle, 2010; Bompa, 2005, 2002).

3.1 Métodos para desenvolver o tempo de reação

Para desenvolver tempo de reação, utiliza-se um sinal sonoro ou visual e


repete-se várias vezes uma distância curta, para não atingir a fadiga
precocemente. Existem alguns métodos para desenvolvimento de tempo de
reação, listados a seguir.
Método analítico: estimula o praticante a utilizar posições que facilitam o
seu deslocamento, como elevar os braços e inclinar o tronco à frente (Bompa,
2005, 2002).
Método senso-motor: ao final de uma repetição, o treinador diz o tempo
para o praticante, estimulando o atleta a direcionar o tempo de reação. Durante
todas as repetições, o atleta deve permanecer naquele tempo, ou pode ser
induzido àquele tempo, agora que ele sabe o quanto levou para percorrer o trajeto.
O objetivo é fazer com que o atleta consiga manter e controlar o seu ritmo, tendo
um controle da sua velocidade de reação (Bompa, 2005, 2002).
Reação a um objeto em movimento: muito utilizado em esportes
acíclicos, como o tênis, em que o treinador lança uma bola e o indivíduo precisa
ter a velocidade de reação para poder rebatê-la. O futebol, o basquete, o vôlei,
todos os esportes acíclicos e que utilizam bolas seguem esse tipo de treinamento.
Esportes de tiro também – no caso, treina-se a reação a um objeto em movimento
(Bompa, 2005, 2002).
Reação seletiva: trata-se de outro método que utiliza a prática da
modalidade esportiva, existindo durante a prática uma execução do movimento
em que o praticante precisa ter uma reação e treinar o seu tempo de reação. Muito
comum no boxe ou nas lutas (Bompa, 2005, 2002).

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3.2 Métodos para desenvolver a velocidade de deslocamento ou
velocidade final

A velocidade de deslocamento ou velocidade final está diretamente


relacionada com a técnica. Quanto melhor a técnica e quanto maior a repetição,
maior a velocidade de seguimento, melhor o engrama motor e,
consequentemente, melhor a velocidade de deslocamento ou velocidade final.
Método alternado: realiza-se movimentos com baixas e altas intensidades,
ou seja, o indivíduo faz uma corrida com certa intensidade e, após determinado
tempo, coloca-se em alta intensidade. Faz um tiro e, de repente, volta à baixa
intensidade. O método alternado também pode ser considerado um método
intervalado com descansos ativos (Bompa, 2005, 2002).
Método da desvantagem: coloca os melhores em desvantagem. Por
exemplo, em alguns tiros, os melhores começam a uma distância maior,
estimulando uma maior aceleração e também fazendo com que os atletas que
estão em vantagem precisem se desenvolver ao máximo para evitar que aqueles
que começaram em desvantagem os ultrapassem (Bompa, 2005, 2002).
Método que utiliza revezamentos: métodos de treinamento em jogos
eliminam a pressão e geram divertimento. Os praticantes podem realizar corridas
de revezamento, jogos que estimulam o tempo de reação e a velocidade. Como
exemplo, temos o jogo da velha. Desenha-se o jogo da velha no solo e separa-se
duas equipes com quatro integrantes, cada um com a sua pedra. Ao comando do
treinador, eles devem sair até o jogo da velha e ter um raciocínio ao jogar a sua
pedra, retornando em seguida e, ao tocarem em seu colega, este deve sair para
fazer sua jogada. O tempo de reação, velocidade de deslocamento e agilidade,
bem como o raciocínio são desenvolvidos nesse tipo de prática (Bompa, 2005,
2002).

3.3 Barreira de velocidade

Depois de um certo nível, o atleta pode apresentar estagnação e presenciar


monotonia no treinamento. Então, utiliza-se resistência decrescente para facilitar
as acelerações, pois o atleta já pode apresentar um cansaço e uma monotonia,
que fazem com que ele tenha dificuldade de manter a velocidade. A resistência
decrescente torna seus estímulos menos intensos para que ele possa ter sua
aceleração e sua execução facilitadas, para que o treino não se torne tão
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exaustivo e monótono. Cabe ao treinador criar uma periodização, um
planejamento adequado para que os atletas tenham um período de descanso
ideal e possam evitar a fadiga excessiva ou overtraining, além de tirar a
monotonia, fazendo com que os treinamentos sejam alinhados e sempre
estimulando a melhor performance (Bompa, 2005, 2002).

TEMA 4 – VELOCIDADE EM ESPORTES CÍCLICOS

Esportes cíclicos são caracterizados pela repetição contínua e prolongada


do gesto esportivo, como a corrida, o remo, o ciclismo, natação, entre outros.
Todos têm em comum o gesto principal sendo repetido diversas vezes durante
toda a competição.
Nos esportes cíclicos, a técnica possui um peso muito grande no
desenvolvimento de velocidade. Ao contrário do que muitos pensam, a corrida,
por exemplo, necessita de muita técnica. O gesto técnico executado com
perfeição facilita a velocidade final do esporte cíclico. Na corrida, o indivíduo vai
repetir o gesto da passada e movimento dos membros superiores repetidas vezes
durante um longo período, e quanto mais aprimorado for o gesto, melhor será a
velocidade de seguimento, melhor será a execução de um ciclo de passada e
melhor então a sua velocidade. Então, é primordial o desenvolvimento e o
aprimoramento do gesto motor para, posteriormente, desenvolver a velocidade. É
necessário o treino técnico exaustivo antes de realizar os treinos de velocidade
(Bompa, 2005, 2002; Dantas, 1998).
Na periodização, é sempre necessário ter períodos de desenvolvimento
técnico para manter o máximo possível a técnica aprimorada. Cabe ao treinador
criar um planejamento no qual existam períodos de treinamento de velocidade, de
força e de potência, uma vez que essas capacidades vão influenciar na velocidade
final. Mas também são necessários períodos de treinamento técnico intercalados,
para que se mantenha a técnica ou sua aprimoração, o que também vai influenciar
na velocidade final (Gomes, 2009; Bompa, 2002; Dantas, 1998).

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4.1 Exercícios para desenvolver a velocidade de reação em esportes cíclicos

Exercícios de corrida:

1. Início em pé: ao perceber o sinal, que pode ser sonoro ou visual, o atleta
deve percorrer o tiro.
2. Início inclinado: o atleta permanece em posição inclinada, como se fosse o
início do gesto da corrida, e sai com o sinal de largada para realizar o tiro.
3. Início sentado: existe uma necessidade de potência muscular. O atleta está
sentado e, ao sinal, deve levantar e correr realizando o tiro. Por isso, é
necessária uma grande potência e tempo de reação.
4. Joelhos elevados: realiza-se uma corrida com os joelhos elevados,
aumentando a exigência técnica e exagerando o movimento para aprimorar
a técnica e, consequentemente, melhorar a velocidade.
5. Passadas longas: também aumentando a exigência técnica, realizando
passadas mais longas, estimulando maior potência e elasticidade fazendo
com que melhore também o gesto técnico.
6. Corridas com cinto de tração: o cinto de tração irá aumentar a exigência e
vai estimular para que o atleta tenha de fazer mais ciclos de passadas para
conseguir a mesma distância, ganhando mais qualidade técnica,
velocidade de segmento e, consequentemente, velocidade final.

Para desenvolver a velocidade em esportes cíclicos, também podemos


utilizar grupos. Por exemplo, grupos de revezamento, nos quais temos uma
distância a ser percorrida pelos atletas, que precisam, ainda, passar um bastão
ou algo parecido para o seu colega, criando o revezamento. Como já dissemos, o
jogo da velha é muito interessante para desenvolver a velocidade de reação e a
velocidade da corrida para esportes cíclicos (Radcliffe, 2017; Bompa, 2005).
É sempre bom lembrar da relação entre força e potência com a velocidade
máxima. É importante que, durante o planejamento, existam períodos de força e
potência, já que a velocidade depende da aceleração, da técnica, da força, da
potência, da agilidade, entre outros.
Depois de passar por todo o ciclo de treinamento, é preciso repeti-lo,
acrescentando cargas ou aprimorando os exercícios de acordo com a
necessidade individual do atleta. Cabe ao treinador criar um programa o mais
específico possível, com um bom planejamento e uma boa periodização.

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TEMA 5 – VELOCIDADE EM ESPORTES ACÍCLICOS

Esportes acíclicos são aqueles que não possuem repetição contínua do


movimento e nos quais o improviso é marcante, como o futebol, o voleibol, o
basquetebol e o tênis. Nesses esportes, tanto a velocidade de reação quanto a
velocidade final são importantes, entretanto, outros componentes são mais
marcantes do que nos esportes cíclicos para determinar o sucesso (Bompa, 2005,
2002; Dantas, 1998).
Ao contrário do que muitos pensam, os esportes acíclicos podem ser
coletivos ou individuais, não são apenas esportes coletivos. No tênis, o atleta
precisa fazer individualmente vários tipos de deslocamentos. A velocidade nos
esportes acíclicos pode ser treinada inicialmente de forma cíclica, para depois ser
aplicada à modalidade esportiva. A corrida, por exemplo, é utilizada em
praticamente todos os esportes e se faz importante para desenvolver a
velocidade, o gesto técnico da corrida, melhorando a velocidade de forma cíclica
para depois ser aplicada de forma específica no esporte de modalidade acíclica
(Bompa, 2002).
Existem alguns padrões para desenvolvimento de velocidade em esportes
acíclicos. Uma vez que nesses esportes a grande característica é a mudança de
direção, utilizar estímulos com tempos diferentes e com direções diferentes pode
ser favorável (Bompa, 2005, 2002; Dantas, 1998).
Deve-se lembrar sempre de desenvolver força e potência para melhorar a
velocidade, sendo necessário o descanso adequado. Como já foi dito, o
treinamento de velocidade causa uma grande fadiga, então, é importante existir o
descanso adequado, para evitar o overtraining. Além disso, é importante variar os
sistemas energéticos, uma vez que nos esportes acíclicos o praticante pode
influenciar esforços de 20 segundos e, de repente, em um movimento rápido como
no vôlei, pode presenciar esforços mais duradouros, assim como no futebol,
basquete etc. Por isso, é importante desenvolver ou estimular vários sistemas
energéticos durante o treinamento de velocidade (Radcliffe, 2017; Boyle, 2011;
Bompa, 2002).

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REFERÊNCIAS
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). Diretrizes de ACSM
para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2014.

BAECHLE, T. R.; EARLE, R. W. Fundamentos do treinamento de força e do


condicionamento. 3ª ed. São Paulo: Manole, 2010.

BOMPA, T. O. Periodização: Teoria e metodologia do treinamento. São Paulo:


Phorte Editora, 2002.

_____. Treinando atletas de desporto coletivo. São Paulo: Phorte Editora ,


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BOYLE, M. Avanços do treinamento funcional. Artmed. São Paulo, 2011.

CARNAVAL, P. E. Medidas e avaliação em ciências do esporte. 5ª ed. Rio de


Janeiro: Editora Sprint, 2002.

DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora


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GOMES, A. C. Treinamento desportivo: estruturação e periodização. 2ª ed.


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MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição de atividade física.


2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Shape, 1998.

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: Teoria e aplicação ao


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RADCLIFFE, J. C. Treinamento funcional para atletas de todos os níveis. São


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STOPPANI, J. Enciclopédia da Musculação e Força. São Paulo: Artmed, 2009.

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