Santarém, 11 de outubro de 2023 O treinamento para aptidão aeróbia e anaeróbia Para falarmos de desenvolvimento para estas aptidões precisamos pensar que elas são treináveis, ou seja, o treinamento ou a falta deste poderá modificá-las. Além disso, precisamos saber que é muito importante ter um conhecimento mais aprofundado sobre a Fisiologia do Exercício, área que contribuirá para um melhor entendimento destas aptidões no contexto do que é possível e do que é treinável em relação à aptidão aeróbia e anaeróbia. O conhecimento fisiológico também proporcionará saber qual é a influência genética e quais são os melhores estímulos e métodos para treinar tais capacidades. Ressalta-se que o entendimento completo do funcionamento do organismo aeróbio e anaeróbio é imprescindível para que o profissional possa administrar cargas de treinamento de maneira adequada aos indivíduos, respeitando seus limites, sua saúde, suas capacidades, sua faixa etária e seus objetivos. O treinamento aeróbio e anaeróbio adequado possibilitará um ótimo desenvolvimento do indivíduo de maneira global. O desenvolvimento da aptidão aeróbia Esta qualidade física pode ser dividida em dois aspectos, a capacidade aeróbia e a potência aeróbia. A capacidade aeróbia está relacionada à resistência de um indivíduo (ou seja, o organismo deste) em sustentar esforços físicos por um longo período de tempo. Em outras palavras, podemos dizer que está relacionada à produção de energia aeróbia de maneira predominante com a mínima participação do metabolismo anaeróbio, a capacidade do organismo produzir energia através das vias oxidativas. O desenvolvimento da aptidão aeróbia Num aspecto mais prático podemos pensar, por exemplo, que os esforços físicos que são caracterizados pela sustentação por um longo período de tempo e dessa forma em intensidades mais baixas. Esse tipo de exercício exigirá uma alta resistência dos indivíduos em realizar tais tarefas, tais como a maratona, triátlon e maratonas aquáticas. Considere que, para conseguir sustentar tal tipo de exercício um indivíduo terá que realizá-lo em uma intensidade relativamente mais baixa, e esse é um ponto importante para entendermos do funcionamento das vias de produção de energia, intensidade e duração sempre estão em direção opostas e uma precisará diminuir para a outra aumentar. Assim, dependendo desta relação a participação aeróbia para a produção de energia vai ser maior ou menor. O desenvolvimento da aptidão aeróbia Podemos observar então que os eventos de longa duração são dependentes da capacidade de o metabolismo produzir energia de maneira aeróbia. Neste tipo de esforços indivíduos realizarão o exercício por um longo período de tempo, ou seja, horas, e em baixa intensidade, 50% ou menos da capacidade máxima. Porém, a pergunta que precisa ser feita então é: e os eventos de curta duração? Como por exemplo as provas de 1500 metros e 3000 metros com obstáculo no atletismo, determinadas provas na natação como a de 400 metros, boa parte dos esportes coletivos, entre outros. O desenvolvimento da aptidão aeróbia Estes tipos de esforços vão ser caracterizados pela necessidade de gerar energia da maneira mais rápida e eficiente possível. Dessa forma, estes exercícios serão classificados como dependentes da potência aeróbia. Pensemos no conceito de potência que é força versus velocidade, assim pode-se dizer que a potência aeróbia está relacionada a produzir em maior quantidade de energia de maneira oxidativa no menor tempo possível. Um dos índices fisiológicos que representa a potência aeróbia é o consumo máximo de oxigênio (VO2max). Como o nome já sugere o VO2max é definido com a taxa mais alta de captação (pulmões), transporte (vasos) e utilização (células musculares) de oxigênio no nível do mar para fornecimento de energia necessária à locomoção (POWERS; HOWLEY, 2005). Mais adiante vamos analisar possibilidades de avaliação para mesurar e estimar o VO2max. O desenvolvimento da aptidão aeróbia É preciso destacar que todas as vias de produção de energia trabalhem simultaneamente. Assim, mesmo nas atividades físicas de baixa intensidade, onde o predomínio é aeróbio, o metabolismo anaeróbio vai trabalhar, mas com uma pequena parcela de produção. Em outras palavras, podemos dizer que sempre haverá uma parcela de contribuição anaeróbia para a produção total energética, mas dependendo da intensidade e duração do esforço essa contribuição será em maior ou menor grau. Intensidade e duração: GUARDE bem estas duas palavras, elas serão muito importantes no planejamento e prescrição do treinamento, pois o trabalho sempre será pensado baseado na relação das duas. Mais à frente, nas próximas unidades, você verá especificamente como pensar as cargas de treinamento considerando estes aspectos. O O desenvolvimento da aptidão aeróbia Observe a tabela anterior, Powers e Howley (2005) apontam no seu livro de “Fisiologia do Exercício” a duração do exercício e o percentual de participação aeróbia ou anaeróbia (parte superior). Na parte de baixo da figura podemos ver que eles listaram uma série de modalidades e sua respectiva estimativa de participação dos metabolismos. Com algumas ressalvas para as modalidades apresentadas, visto que a tabela é baseada em dados mais antigos da literatura, os autores nos permitem uma ideia de como funciona o metabolismo em diferentes eventos. • O primeiro ponto a ser destacado, como já dito anteriormente, é que ambas as vias aeróbias ou anaeróbias trabalham ao mesmo tempo para uma produção total de energia. • O segundo ponto é que depende da modalidade praticada, a predominância vai ser aeróbia ou anaeróbia. • Terceiro ponto é que a partir de aproximadamente três minutos de duração do exercício a predominância de produção de energia vai ser sempre aeróbia. A avaliação da aptidão aeróbia Para avaliar a capacidade e a potência aeróbia o método considerado padrão ouro na literatura é a espirometria. A espirometria é um tipo de teste utilizado há décadas, que vem evoluindo e passando por transformações com o avanço tecnológico. Porém, o princípio é sempre o mesmo, a mensuração das trocas de gases de um indivíduo com o ambiente durante algum tipo de exercício (FOX; MATHEWS, 1983). Como dissemos anteriormente, o VO2max é uma medida que indica a potência aeróbia máxima de um indivíduo em exercício envolvendo grandes grupos de massa muscular. Embora existam vários testes para estimar o VO2max, o meio mais preciso é a mensuração laboratorial direta. A mensuração direta do VO2max geralmente é realizada num laboratório utilizando-se uma esteira motorizada ou uma bicicleta ergométrica, e a espirometria de circuito aberto é utilizada para a mensuração da troca gasosa pulmonar. [...] historicamente, a mensuração do VO2max tem sido considerada o teste de escolha para a predição do sucesso em eventos de resistência, como a corrida de longa distância (POWERS; HOWLEY, 2005, p. 407). A avaliação da aptidão aeróbia https://youtu.be/GIjP d5jZi4Q?si=t4nks2qm t5_cmRwW&t=136 A avaliação da aptidão aeróbia Durante os testes de espirometria, além da medida do VO2max como indicador de potência aeróbia, é possível determinar outras variáveis relacionadas à capacidade aeróbia. Entre elas podemos destacar os limiares ventilatório e/ ou limiar de lactato e os limiares do início de acúmulo de lactato no sangue. Entretanto, para podemos entender melhor isso precisamos pensar nas características dos testes. Existem diversos protocolos de testes na literatura que são válidos para a mensuração da capacidade e potência aeróbia. Eles geralmente são realizados em esteira ou bicicleta ergométrica. Outro ponto importante é que na maioria das vezes esses testes são realizados de maneira incremental, aumentando a velocidade, inclinação (esteira) ou carga imposta (se for realizado em cicloergômetro) buscando fazer o indivíduo atingir o seu máximo fisiológico (FOX; MATHEWS, 1983). A avaliação da aptidão aeróbia Atualmente, na literatura existem dois tipos principais de testes incrementais, o incremental de rampa e o teste de degrau. O princípio é o mesmo, aumentar a carga ou a velocidade de execução durante o teste. A diferença consiste no grau de aumento, enquanto no teste de rampa são realizados pequenos aumentos sucessivos durante todo o teste, o protocolo de degrau é realizado em estágios de 3 a 5 minutos, geralmente, ou seja, a cada estágio aumenta a velocidade ou a carga (DENADAI, 1999). No laboratório de esforço físico da Universidade Federal de Santa Catarina, os protocolos adotados para este tipo de avaliação geralmente são: se for teste degrau estágios de 3 min com aumentos de 1 km.h-1 se for na esteira, ou 30 W se for na bicicleta. Se for teste rampa aumentos de 0,5 km.h-1 a cada 30 s na esteira, ou aumentos de 1 W a cada 2 s. A avaliação da aptidão aeróbia A avaliação da aptidão aeróbia Observe, no gráfico anterior, o teste de degrau realizado com um voluntário (gráfico da esquerda), e o teste de rampa realizado com outro voluntário (gráfico da direita). Perceba você que com o aumento da intensidade ocorre um aumento do VO2 até atingir valores máximos. Vamos pensar primeiramente no teste incremental de degrau. Com o objetivo de estimar a capacidade cardiorrespiratória do indivíduo é possível mensurar através deste tipo de teste os limiares de transição metabólica pela análise do lactato sanguíneo e a potência aeróbia pela análise do consumo máximo atingido e pela intensidade máxima. É preciso ter em mente que o organismo apresenta comportamentos distintos de acordo com a intensidade do exercício. Esses diferentes comportamentos podem ser nomeados como domínios de intensidade de esforço ou domínios fisiológicos. Basicamente, a literatura apresenta três domínios, o moderado, o pesado e o severo (DENADAI, 1999). A avaliação da aptidão aeróbia Num teste incremental de degrau, no final de cada estágio é coletada uma gota de sangue, geralmente do lóbulo da orelha, para analisar a resposta do lactato sanguíneo. Observe no gráfico anterior que durante o início do teste o lactato permanece estável e depois começa a aumentar gradualmente. Um segundo aumento ainda pode ser visto, mas este vai ser exponencial e o lactato vai continuar aumentando até o indivíduo atingir o máximo de esforço. A avaliação da aptidão aeróbia O primeiro aumento acima dos valores de base vai ser denominado limiar de lactato (LL) e define o limite superior do domínio moderado. O segundo aumento exponencial pode ser definido como limiar anaeróbio (LAn) ou início de acúmulo de lactato no sangue e define o limite do domínio pesado, entre o limiar de lactato e este último. Todas as intensidades de esforço que estiverem acima do LAn serão no domínio severo e o indivíduo atingirá seu máximo de esforço em poucos minutos (DENADAI, 1999). A avaliação da aptidão aeróbia O lactato sanguíneo é uma substância encontrada na circulação sanguínea ou no músculo que pode indicar quanto uma atividade está tendo participação do metabolismo anaeróbio. Quando o suprimento de O2 é deficiente para a musculatura em exercício ocorre uma maior participação da via glicolítica para produzir energia de maneira anaeróbia e o produto final dessa cadeia de reações é o lactato (ASTRAND; RODAHL, 1980). A avaliação da aptidão aeróbia Na prática, conhecer os domínios de intensidade de esforço ou domínios fisiológicos são de grande valia, pois a partir destes poderá se ter uma estimativa de quanto um indivíduo poderá se exercitar em determinada intensidade. Basicamente, em intensidade do domínio moderado o indivíduo poderá realizar horas e horas de exercício e os fatores que vão levá-lo a parar estão mais ligados à fadiga do sistema nervoso central, como a motivação para realizar tal tarefa, só para deixar um exemplo, atletas de Ironman ou Ultraman realizam as provas no domínio moderado geralmente (BURNLEY; JONES, 2007). A avaliação da aptidão aeróbia No domínio pesado, os indivíduos ainda conseguem realizar esforços de longa duração, por exemplo, podemos citar os maratonistas que geralmente realizam as provas em intensidades muito próximas do limite superior do domínio pesado, o limiar anaeróbio. A duração do exercício no domínio pesado pode variar de 30 minutos a 2 horas ou mais, dependendo da capacidade do indivíduo e da intensidade (BURNLEY; JONES, 2007). Vale lembrar que o limiar anaeróbio é um indicador de máxima fase estável de lactato, ou seja, a produção de lactato que vai para a corrente sanguínea ainda é “tamponada” por mecanismos próprios no organismo responsáveis por isso. Em outras palavras, a produção e a capacidade de remoção ainda estão balanceadas e pode-se dizer que é o ponto de máxima produção aeróbia de energia com a menor participação do metabolismo anaeróbio (DENADAI, 1999). A avaliação da aptidão aeróbia No domínio pesado, os indivíduos ainda conseguem realizar esforços de longa duração, por exemplo, podemos citar os maratonistas que geralmente realizam as provas em intensidades muito próximas do limite superior do domínio pesado, o limiar anaeróbio. A duração do exercício no domínio pesado pode variar de 30 minutos a 2 horas ou mais, dependendo da capacidade do indivíduo e da intensidade (BURNLEY; JONES, 2007). Vale lembrar que o limiar anaeróbio é um indicador de máxima fase estável de lactato, ou seja, a produção de lactato que vai para a corrente sanguínea ainda é “tamponada” por mecanismos próprios no organismo responsáveis por isso. Em outras palavras, a produção e a capacidade de remoção ainda estão balanceadas e pode-se dizer que é o ponto de máxima produção aeróbia de energia com a menor participação do metabolismo anaeróbio (DENADAI, 1999). A avaliação da aptidão aeróbia Isto é importante porque muitos confundem e acham que a partir desse ponto a predominância é anaeróbia, mas não é verdade. Nas intensidades do domínio severo, a predominância de produção de energia ainda é AERÓBIA, mas ocorre uma maior participação das fontes de energia anaeróbias e quanto maior a intensidade maior será a participação anaeróbia, reveja a Tabela 4. Neste domínio a duração do exercício geralmente vai ser menor do que meia hora e quanto mais próximo da potência aeróbia máxima menor a duração (BURNLEY; JONES, 2007). Um indivíduo poderá realizar um exercício na intensidade do VO2max com uma duração de 5 a 6 minutos. A avaliação da aptidão aeróbia Antes da puberdade, meninos e meninas não mostram nenhuma diferença significativa na potência aeróbia máxima. Posteriormente a potência das mulheres é, em média, 70 a 75 por cento daquela dos homens. Em ambos os sexos existe um pico dos 18 aos 20 anos, seguido por um declínio gradual na captação máxima de oxigênio. Aos 65 anos, o valor médio é de aproximadamente 70 por cento do valor de um indivíduo com 25 anos (ASTRAND; RODAHL, 1980, p. 292). As crianças e adolescentes apresentam níveis diferentes de aptidão aeróbia e anaeróbia quando comparados com os adultos. As crianças, até a fase da puberdade, apresentam menores concentrações de testosterona, que podem determinar menor hipertrofia de fibras brancas (anaeróbias), uma maior atividade enzimática aeróbia e uma menor atividade de uma enzima específica (PFK) da via glicolítica, assim produzem menos lactato e apresentam um sistema anaeróbio menos desenvolvido, mas em compensação apresentam uma maior capacidade aeróbia relativa em comparação aos adultos (ASTRAND; RODAHL, 1980; DENADAI, 1995). A avaliação da aptidão aeróbia Importante pensarmos que a análise laboratorial não é de fácil acesso. Outro ponto importante é que a coleta de lactato sanguíneo é um método invasivo e que vai necessitar de matérias de alto custo e equipamentos caros. Além disso, se o objetivo for avaliar crianças e adolescentes pode não ser a melhor maneira de avaliar este tipo de população. Na busca de evitar este tipo de análise e na tentativa de se realizar avaliações com um melhor custo benefício muitos pesquisadores propuseram algumas alternativas. A primeira que vamos destacar é a metodologia dos limiares ventilatórios (LV). A avaliação da aptidão aeróbia A primeira questão que você precisa ter em mente é que para que possamos analisar os limiares ventilatórios é preciso realizar um teste de rampa. O teste de rampa com aumentos sucessivos da intensidade, como já foi explicado anteriormente, não é o ideal para medir as respostas do lactato ao exercício, por que o que está sendo produzido no músculo não irá refletir determinada intensidade, visto que os aumentos são constantes. Dessa forma, este tipo de protocolo é o ideal para analisar a resposta de algumas variáveis pulmonares que respondem de maneira similar ao lactato apontando o momento que ocorrerá a mudança de um domínio fisiológico para outro (FOX; MATHEWS, 1983). A avaliação da aptidão aeróbia O gráfico ao lado apresenta duas das variáveis em que podem ser analisados os equivalentes ventilatórios de O2 e CO2 (VE/VO2 e VE/VCO2, respectivamente). Ainda existem outras variáveis que auxiliam na determinação dos LV, como a resposta da ventilação, do VCO2 e da pressão parcial de O2 e do CO2 no final da expiração (FOX; MATHEWS, 1983; DENADAI, 1995). A avaliação da aptidão aeróbia Para fins didáticos vamos nos concentrar na resposta do VE/VO2 e do VE/VCO2. Como pode ser observado no gráfico acima, o comportamento dessas duas variáveis permanece praticamente estável durante o início do teste quando analisadas sobre o tempo ou a intensidade do exercício. O que ocorre primeiramente é um aumento VE/VO2 e com a VE/VCO2 permanecendo estável, o que indica o primeiro LV (LV1) ou o limite superior do domínio moderado. A avaliação da aptidão aeróbia Com a continuação do teste e o aumento das intensidades vai ocorrer um aumento da acidose metabólica e queda do pH em consequência do lactato aumentado, o que pode ser verificado por aumento simultâneo da VE/VO2 e VE/VCO2 ou o segundo LV (LV2) indicando o limite entre domínio pesado e severo (DENADAI, 1995). A avaliação da aptidão aeróbia Na prática, então, é possível com um teste mais acessível determinar as mesmas respostas fisiológicas do organismo. Talvez você no futuro profissional trabalhe com avaliações do gênero em clínicas esportivas e, para tal vai precisar ter um domínio deste conhecimento. Talvez em sua atuação profissional você não participe diretamente deste tipo de avaliação, mas muitos dos seus alunos poderão realizar testes de espirometria e trazer para você avaliar os resultados ou, até mesmo, como uma forma de acompanhamento do desenvolvimento dos mesmos. A avaliação da aptidão aeróbia Porém, pode ser que você ainda não esteja convencido e veja todo esse conteúdo apresentado muito distante de sua realidade. Dessa forma, iremos apresentar a vocês um método ainda mais acessível para a análise indireta das respostas fisiológicas. Com o teste de rampa, que você poderá realizar em uma esteira motorizada ou em um cicloergômetro em qualquer academia ou até mesmo em casa, utilizando aumentos pequenos e graduais, como por exemplo 1 km por hora a cada minuto, é possível determinar o ponto de deflexão da frequência cardíaca (PDFC). É claro que, nos dias de hoje, com o avanço tecnológico, é muito acessível mensurar a frequência cardíaca (FC). Encontra-se facilmente frequencímetros por valores mais baixos do que um tênis simples. Muito também tem se utilizado dos percentuais da FC para prescrever exercício. Há um consenso na literatura que abaixo de 70% da FC máxima o indivíduo estaria se exercitando no domínio moderado e entre 70% e 90% da FC máxima o exercício seria no domínio pesado. Contudo, utilizar os percentuais da FC cardíaca pode ser complicado pela variação grande que esta variável apresenta (DENADAI, 1995; GALOTTI; CARMINATTI, 2008). A avaliação da aptidão aeróbia Entretanto, buscando ainda alternativas que se valessem do comportamento da FC cardíaca e como de forma de avaliação mais acessível alguns autores, entre eles destaque para Conconi et al. (1982) e Kara et al. (1996) têm proposto maneiras de se analisar o PDFC durante testes de laboratório e de campo. Conconi et al. (1982) buscaram estimar o limite superior do domínio pesado com uma metodologia visual tentando identificar o momento no qual ocorre uma perda da linearidade na relação FC e intensidade. Enquanto Kara et al. (1996) buscaram propor um método matemático chamado de Dmáx buscando identificar este mesmo fenômeno fisiológico. A avaliação da aptidão aeróbia Por fim, para que possamos encerrar esta parte sobre avaliação da aptidão aeróbia não poderíamos deixar de mencionar aqui uma opção de avaliação de teste de campo. Foi citado também, no Tópico 1, como opção de avaliação da aptidão aeróbia o teste de vai e vem de 20 metros. A crítica maior a este teste é que ele é contínuo com distância fixa e um grande número de mudanças de direção o que poderia vir a subestimar a potência aeróbia. Pois bem, queremos apresentar outra opção já validada na literatura e reprodutível que pode ser talvez uma opção ideal para a realidade de alguns lugares onde o acesso a avaliações laboratoriais é mais difícil. O protocolo a que nos referimos é o teste de Carminatti (TCAR). As vantagens deste método consistem em estar mais próximas da realidade dos esportes coletivos com distâncias variadas e pausas. Outro ponto é a possibilidade da avaliação de vários alunos ao mesmo tempo e a fácil aplicação. A avaliação da aptidão aeróbia Nesse sentido, Carminatti et al. (2004) propuseram um teste de campo incremental de corrida intermitente, o TCAR, a partir do qual se pode determinar índices de capacidade e potência aeróbia. Ainda, Carminatti et al. (2005), em um estudo com 112 atletas de modalidades intermitentes demonstraram que a velocidade do PDFC se encontra em 80,4 ± 5,6% do pico de velocidade (PV) atingido no TCAR, evidenciando a validade de identificação do limiar anaeróbio (limite superior do domínio pesado) a partir de 80.4% do PV. Outra variável mensurada no TCAR é o PV, que é a máxima velocidade alcançada em testes progressivos de laboratório ou campo, apresentado como um indicador de potência aeróbia que pode auxiliar na identificação da performance aeróbia (OLIVEIRA, 2004). A avaliação da aptidão aeróbia O TCAR é um teste incremental máximo, do tipo intermitente em sistema “ida e volta”, com estágios de 90 segundos de duração, cada estágio com 5 repetições de 12 segundos de corrida (distância variável), intercaladas por 6 segundos de caminhada (± 5 m). O ritmo é ditado por um sinal sonoro, em intervalos regulares de 6 segundos, que determinam a velocidade de corrida a ser desenvolvida nos deslocamentos entre as linhas paralelas demarcadas no solo que podem ser sinalizadas por cones. O teste inicia com velocidade de 9,0 km·h-1 (distância inicial de 15 m) com incrementos de 0,6 km·h-1 a cada estágio, aumentando sucessivamente 1 m a partir da distância inicial até a exaustão voluntária do avaliado (SILVA et al., 2011). Observe na figura anterior um esquema ilustrativo do teste. Lembrando que o material necessário para o teste é basicamente uma caixa de som, alguns cones para delimitar o espaço e as fichas do teste. É interessante a possibilidade de avaliar o PDFC no TCAR, e para tal seria necessário o uso de frequencímetros. Numa avaliação mais aprimorada ainda é possível coletar sangue para a análise do lactato sanguíneo. A avaliação da aptidão aeróbia Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia Podemos considerar que existem diversas formas e possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia. O objetivo deste livro não é esgotar as alternativas, e nem seria possível, mas sim deixar algumas dicas e informações do que pode ser pensando para o aprimoramento aeróbio. Vale considerar também que ao longo desta unidade, bem como nas demais, assuntos relacionados às possibilidades do treinamento das diferentes qualidades físicas serão abordados. No entanto, vamos considerar alguns aspectos nesse momento. Um dos mais importantes é a duração dos esforços e sua relação com a intensidade. Lembrando que em esforços mais longos e de menor intensidade sempre o sistema aeróbio de produção de energia estará atuando de maneira predominante. Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia O desenvolvimento do sistema de transporte de oxigênio deveria ser parte de qualquer programa para melhorar a capacidade de resistência. A alta capacidade aeróbia, vital para o treinamento, também facilita a recuperação rapidamente durante e após o treinamento. Uma recuperação ágil permite que o atleta reduza o intervalo de descanso e execute o trabalho com intensidade mais alta. Como resultado de intervalos de descanso mais curtos, é possível aumentar o número de repetições, aumentando também o volume do treinamento. Uma taxa de recuperação mais rápida, conquistada pela alta capacidade aeróbia, é também importante em desportos que requerem muitas repetições de uma habilidade, como eventos de salto, ou um número grande de períodos curtos de exercício intenso em desportos de equipe [...] (BOMPA, 2002, p. 360). Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia É importante pensar que o treinamento aeróbio poderá ser dividido em treinamento de capacidade ou potência aeróbia. A capacidade, como já foi dito, vai estar sempre ligada à resistência do metabolismo em produzir energia pelo maior tempo possível, enquanto que potência vai estar ligada a mais alta taxa de produção de energia de maneira aeróbia. Assim, podemos pensar em dividir também o treinamento aeróbio em esforço de longa duração em intensidades mais baixas, o chamado treinamento contínuo e/ou esforços de média duração e intensidades elevadas, geralmente realizado de maneira intermitente e por isso comumente chamado de treinamento intervalado. Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia Independente do modelo de treino adotado é preciso novamente pensar na realidade de prática esportivas de nossos alunos, por exemplo, podemos nos questionar: é interessante fazer um treinamento de corrida contínua em baixa intensidade para um aluno que vai praticar um esporte coletivo, como o handebol, por exemplo? O handebol não seria mais caracterizado por esforço de maior intensidade e curta duração, intercalado por períodos de recuperação passiva ou ativa? Considerando estes quesitos, podemos seguir em nossa argumentação. Se o objetivo for melhorar a capacidade aeróbia e a prática esportiva exige este tipo de movimento, o treinamento contínuo com esforços com duração superiores a meia hora em intensidade moderada serão bem recomendados. Se você, em sua prática, adotar algum dos tipos de avaliação mencionados anteriormente também poderá pensar em melhorar o limite superior do domínio moderado e do domínio pesado, ou seja, os limiares de lactato e de início de acúmulo de lactato no sangue, ou os limiares ventilatórios, ou o ponto de deflexão da FC, dependendo do tipo de avaliação que for utilizada (DENADAI, 1999; BOMPA, 2002). Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia Por outro lado, se você quiser melhorar a potência aeróbia de seus alunos será preciso planejar a realização de esforços máximos ou próximos do máximo. Você provavelmente já deve ter ouvido falar do tão badalado HIIT que virou febre nos últimos tempos. O termo vem da expressão em inglês high intensity interval training e nada mais é do que o conhecido treinamento intervalado. Porém este tipo de treinamento é preciso quando se quer melhorar a potência aeróbia e é recomendado para uma grande gama de modalidades, como as lutas, os esportes coletivos de maneira em geral, determinadas provas da natação, como o 400 m, provas de 800 m,1500 m e 3000 m no atletismo, entre tantas outras. Possibilidades de treinamento da aptidão aeróbia A maneira como ele pode ser realizado, quais os tipos de estímulos, de que maneira serão organizados vai depender muito da realidade que o profissional estará inserido. Entretanto, em um estudo de revisão bastante interessante, Buchheit e Laursen (2013) deixam algumas considerações importantes que poderemos ver agora. A primeira divisão que podemos pensar é a entre estímulo e recuperação. Para os estímulos precisamos pensar nas variáveis de modalidade do estímulo, intensidade, duração, número de séries e duração das séries. Já quando pensarmos em planejar a recuperação vai ser preciso pensar na intensidade da recuperação (passiva ou ativa), a duração da mesma, o tempo entre as séries e a intensidade da recuperação entre as séries. Aptidão anaeróbia Até o momento tratamos da aptidão aeróbia e das formas de avaliação. Porém, acreditamos que como é de conhecimento, o organismo tem outras formas de produzir energia para realizar trabalho. Entenda trabalho por qualquer tarefa que necessitará do movimento de um ou mais grupos musculares. Sabemos que esta outra forma de produção de energia é denominada de metabolismo anaeróbio. O metabolismo anaeróbio, ao contrário do que foi estudado sobre a produção de energia de forma aeróbia, não vai necessita da presença do O2 para produzir energia. Outro ponto que precisa ficar destacado para você é, que a produção anaeróbia de energia pode ser de mais de uma forma. Para tal temos então o metabolismo anaeróbio alático e o anaeróbio lático, ou seja, o primeiro vai produzir o ATP sem produzir lactato e o segundo terá a produção de lactato no final da via, respectivamente. Aptidão anaeróbia Novamente, queremos lembrar que é preciso o entendimento dos aspectos fisiológicos para que possamos pensar em maneiras de desenvolver as aptidões de nossos alunos, sabendo como aplicar as cargas de treinamento e de que forma eles responderão a diferentes estímulos. Voltando ao assunto, somente relembrando o que foi dito no tópico anterior, o ATP é a forma imediata de energia no organismo, ou seja, a forma mais rápida para que um músculo possa realizar uma contração (ASTRAND; RODAHL, 1980). Assim, sabemos que existem reservas de ATP no organismo para que qualquer estímulo recebido possa ser atendido. Em outras palavras, quando o músculo recebe um estímulo nervoso ele já possuirá uma maneira de responder de maneira imediata utilizando a quebra do ATP para que com esse potencial energético o estímulo seja correspondido (ASTRAND; RODAHL, 1980). Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Dessa forma, o ATP que é um fosfato de alta energia, onde é armazenada a energia provinda dos alimentos, pode ser “quebrado” por uma enzima específica (rompimento da ligação pela enzima ATPase) resultando em ADP (uma adenina e dois fosfatos) e Pi (fosfato inorgânico). Essa quebra vai gerar energia necessária para que ocorra a contração muscular por exemplo. A maior questão está na quantidade limitada de ATP, em que as células musculares possuem e por isso a necessidade do auxílio de outra via metabólica, a via do fosfato de creatina. Em esforços de alta intensidade a energia inicial pode ser quase totalmente provinda do sistema anaeróbio. O sistema do fosfato de creatina ou fosfocreatina (CP) vai atuar nos primeiros segundos do exercício para gerar a energia de maneira mais rápida. Esse sistema também possui uma limitação de estoques e poderá ter uma duração de 15 a 20 segundos. Todas as modalidades ou esforços físicos utilizarão este sistema para gerar energia em menor o maior grau, porém existem modalidades que dependem praticamente de forma total deste metabolismo energético (MACARDLE; KATCH; KATCH, 2003). Desenvolvimento da aptidão anaeróbia É o caso das provas curtas na natação, o 100 e o 200 metros no atletismo, o levantamento de peso, o futebol americano, entre outras. Veja bem, alguns esportes de predominância aeróbia dependem da via da fosfocreatina durante sua execução, como é o caso do futebol, que durante as partidas ocorrem os esforços como o chute, que irão utilizar a fosfocreatina para auxiliar na produção de energia. Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Vale lembrar que, como foi dito anteriormente, todas as vias de produção de energia participam em menor ou maior grau durante o exercício. Assim, até mesmo em esforços ou modalidades predominantemente aeróbias, neste exemplo o futebol, a via da fosfocreatina vai atuar para produzir uma parcela de energia para realizar tal tarefa. Perceba na próxima figura que a via da fosfocreatina é uma via muito rápida que depende basicamente de uma reação. Uma enzima específica (fosfofrutoquinase – CPK) que faz a ‘quebra’ da fosfocreatina para gerar o ATP. Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Com os estoques limitados de fosfocreatina no músculo, e como existe um limite deletério para o organismo da substância resultante, a creatina, a outra via anaeróbia começa a participar mais efetivamente por volta de 20 segundos para auxiliar na contribuição energética. O metabolismo anaeróbio lático, ou mais propriamente dito a via glicolítica. O número de reações dessa via é maior em comparação com o anterior, porém ainda é bem menor, e dessa forma mais rápido que o aeróbio. No metabolismo aeróbio somente a etapa de betaoxidação são 16 reações, enquanto a via glicolítica precisará um total de 10 reações para produzir ATP. Assim, podemos dizer que a velocidade de uma via metabólica está ligada ao número de reações que precisam acontecer nesta para produzir energia (MACARDLE; KATCH; KATCH, 2003). Desenvolvimento da aptidão anaeróbia A via glicolítica, como o nome já diz, essa via vai depender da glicose sanguínea, que está sendo disponibilizada para o músculo ou do glicogênio intramuscular. Independente da fonte energética, a via vai ter o mesmo número de etapas e poderá produzir um ATP a mais se for a partir do glicogênio muscular. O produto final dessa via é o ácido pirúvico ou piruvato, que vai sofrer uma reação transformando-se em lactato no interior da célula muscular. Vale lembrar que a via glicolítica poderá produzir energia de maneira aeróbia. Se houver O2 suficiente, o piruvato sofrerá uma conversão por uma enzima específica (PDH) e poderá entrar na mitocôndria formando acetil-coa e participando da via oxidativa. Por isso que a formação de lactato durante o exercício é dependente da intensidade do exercício (POWERS; HOWLEY, 2005). Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Como já dissemos anteriormente, no domínio moderado, por exemplo, não há acúmulo de lactato no sangue, e quando a intensidade do exercício aumenta acima de 50 a 60% do máximo individual começa a ocorrer uma maior produção de lactato, mas que em todas as intensidades que o domínio pesado abrange até por volta de 85 a 90% da potência aeróbia, ainda existe um balanço entre produção e remoção do lactato. Em outras palavras, a via glicolítica estará participando em maior grau para produzir energia, mas muita da energia produzida será de maneira aeróbia. Quando o exercício for realizado no domínio severo, ou seja, acima de 90% da potência aeróbia máxima ou da capacidade máxima individual, a produção de lactato superará a capacidade de remoção e a via glicolítica atuará efetivamente fornecendo energia (ATP) de maneira anaeróbia para um exercício que ainda será predominantemente aeróbio (DENADAI, 1999; POWERS; HOWLEY, 2005). Importante aqui ressaltar uma nota que os exercícios realizados a 100% da potência aeróbia, 100% do VO2max, por exemplo, ainda serão de predominância aeróbia, mas com uma alta participação anaeróbia para a produção total de energia. Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Em síntese, os primeiros segundos de exercício são sustentados pela energia provinda da via da fosfocreatina, ou também denominada ATP-CP. Após 10 a 20 segundos, a via glicolítica começa a ser predominante para a produção de energia. Entre dois e três minutos o sistema aeróbio se torna predominante. É lógico que estes tempos citados dependem da intensidade de esforço e da aptidão física de cada indivíduo. Se forem intensidades baixas de exercício, o sistema aeróbio poderá ser mais efetivo. Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Geralmente, indivíduos sedentários levam mais tempo para que o sistema aeróbio seja predominante em comparação com fisicamente ativos ou atletas. Em síntese, uma maneira fácil de identificar se um exercício será predominantemente aeróbio ou anaeróbio é pensar no tempo de esforço. O metabolismo anaeróbio é limitado e não conseguirá sustentar o exercício por muito mais do que 3 minutos na maioria da população (crianças saudáveis, fisicamente ativos, atletas etc.). Seguindo o exemplo anterior, um exercício a 100% do VO2max será realizado entre 4 a 7 minutos dependendo das capacidades do indivíduo. Na prática, poderíamos pensar na prova de 1500 metros no atletismo, de predominância aeróbia. Desenvolvimento da aptidão anaeróbia Avaliação da aptidão anaeróbia Como dito anteriormente, o metabolismo anaeróbio pode ser alático ou lático, o que podemos considerar também como potência anaeróbia e capacidade anaeróbia, respectivamente. Nesta parte vamos tratar desta última nomenclatura, reforçando o que já foi dito, para pensar numa avaliação de capacidade e potência anaeróbia, a gente precisará pensar na realidade das tarefas que serão executadas, ou seja, como seus alunos irão se exercitar. Considerando isso, já será um fator de grande importância para saber se a avaliação anaeróbia é precisa e de que forma ela poderá ser realizada. Avaliação da aptidão anaeróbia Temos então o teste de capacidade sprints repetidos, que terá o melhor tempo de execução dos 6 sprints de 40 metros como indicador de potência anaeróbia e o tempo total para execução do teste como indicador de capacidade anaeróbia (RAMPININI et al., 2007). Podemos perceber então que a potência anaeróbia vai estar ligada diretamente aos esforços de curtíssima duração, ou seja, poucos segundos (< 10 s). Enquanto que os esforços com duração entre 30 e 60 segundos estarão ligados diretamente com a capacidade anaeróbia (POWERS; HOWLEY, 2005). Avaliação da aptidão anaeróbia Vale ressaltar que o teste de sprints repetidos é uma opção válida para este tipo de avaliação, mas é preciso sempre pensar na característica do exercício ou da modalidade que seus alunos estarão praticando. Em caso da maioria dos esportes coletivos seria interessante realizar este tipo de avaliação, porém somente para exemplificar, nada adianta verificar a capacidade e potência anaeróbia do aluno realizando sprints se aulas serão de natação (teste não específico). Avaliação da aptidão anaeróbia Entretanto, algumas avaliações de laboratório que são consideradas mais válidas possuem maior validade, mas perdem em especificidade, ou seja, não são tão próximos do movimento específico ou das características da modalidade. No entanto, avaliações de laboratório geralmente terão uma acurácia maior para medir aspectos relacionados às qualidades físicas (MATHEWS, 1980). Para resgatar outros exemplos podemos destacar os testes realizados em dinamômetro de força que poderão apresentar protocolos para mensurar capacidade e potência anaeróbia. Ainda, o teste de saltos verticais também poderá avaliar ambas qualidades físicas, no caso, o salto com contramovimento está mais relacionado à potência anaeróbia e os saltos contínuos relacionados à capacidade anaeróbia (BOSCO, 1999). Avaliação da aptidão anaeróbia Considerado como padrão ouro para avaliar a potência e a capacidade anaeróbia o teste de Wingate é um protocolo que vem sendo utilizado em diferentes partes do mundo há muitos anos com este objetivo. https://www.youtube.com/watch?v=-ln_BUKhnjQ Pesquisadores do Wingate Institute de Israel desenvolveram um teste de ciclismo de esforço máximo com duração de trinta segundos (teste de Wingate) destinado a determinar tanto a potência anaeróbia de pico como a potência média máxima durante o teste de trinta segundos [...]. A maior potência durante os primeiros segundos é considerada a potência de pico máxima e é indicadora da velocidade máxima com que o sistema ATP-CP produz ATP neste tipo de exercício. O declínio da potência máxima durante o teste é utilizado como um índice de resistência anaeróbia e, supostamente, representa a capacidade máxima de produção de ATP por meio de uma combinação do sistema ATP-CP e da glicólise (POWERS; HOWLEY, 2005, p. 416). Avaliação da aptidão anaeróbia Observe que mesmo sendo um teste realizado em bicicleta ergométrica, o que não proporciona especificidade com muitos outros esportes, é um teste que tem uma grande acurácia para determinar a capacidade e potência anaeróbia. Por ser um teste de relativa facilidade de aplicação e curta duração, um pequeno aquecimento em baixa intensidade e um esforço máximo de 30 segundos é uma excelente opção. Avaliação da aptidão anaeróbia Veja na figura ao lado que a potência reproduzida no teste vai atingir valores de pico em poucos segundos, de 3 a 5 segundos, e depois começa a cair atingindo valores de até 50% do pico. Vale ressaltar que por exigir um esforço máximo do avaliado durante todo o teste, não é um teste muito recomendado para aplicação em crianças e precisa ser bem pensando quando for colocado em algum planejamento de treinamento. Avaliação da aptidão anaeróbia Ainda é possível pensar em outras avaliações que podem proporcionar o entendimento da capacidade e potência anaeróbia de nossos alunos. Teste de tiros curtos com distâncias entre 50 a 200 metros na corrida, outros protocolos de sprints repetidos, tiros máximos na natação, protocolos de medidas de força, entre outros (POWERS; HOWLEY, 2005). A chave é saber de que forma vamos utilizar os testes que são apresentados na literatura. Os testes de coordenação ou velocidade de reação ou de membros, por exemplo, são de grande importância quando trabalhamos com crianças até o final da fase maturacional. O mais importante é conhecer o funcionamento do organismo e como ele responde a determinados estímulos, nesse caso específico, esforços máximos de curta duração, para poder adaptar ou escolher o melhor teste a ser aplicado dentro dos objetivos do planejamento do treinamento desportivo. Possibilidades de treinamento da aptidão anaeróbia Existem diferentes possibilidades e protocolos que podem ser criados com o objetivo de aprimorar tanto a capacidade quanto a potência anaeróbia. Diversas modalidades, tipos de exercício e esportes necessitam dessas qualidades físicas muito bem desenvolvidas para sua prática, como é o caso do tênis, do vôlei, provas de velocidade na natação e no atletismo, entre outros. Como já foi dito, nenhum tipo de esforço vai ser dependente de apenas uma via metabólica para produzir energia, mas é possível planejar estratégias de treinamento que possibilitem uma exigência máxima das vias anaeróbias. Como é o caso do treinamento de sprints repetidos, por exemplo. O número de estímulos, de séries, e a duração precisará estar de acordo com um planejamento prévio, o nível de aptidão dos indivíduos e fatores ambientais, mas estes assuntos ainda serão abordados com maior cuidado adiante. É possível pensar o treinamento anaeróbio com o foco na potência anaeróbia (sistema ATP-CP) ou na capacidade anaeróbia (treinamento da via glicolítica). Possibilidades de treinamento da aptidão anaeróbia O treinamento para melhorar o sistema ATP-CP envolve um tipo especial de treinamento intervalado. Para pressionar ao máximo a via metabólica do ATP-CP, intervalos de exercício de curta duração e alta intensidade (cinco a dez segundos de duração) que utilizam os músculos solicitados na competição são ideais. Em razão da curta duração deste tipo de intervalo, pouco ácido lático é produzido e a recuperação é rápida. O intervalo de repouso pode variar de trinta a sessenta segundos, dependendo do nível de aptidão física dos atletas (POWERS; HOWLEY, 2005, p. 431). Possibilidades de treinamento da aptidão anaeróbia A outra possibilidade é pensarmos no treinamento de capacidade anaeróbia ou da via glicolítica. Para tal é preciso pensar em esforços máximos e com duração entre vinte a sessenta segundos, que sobrecarregarão esta via metabólica e gerar uma alta acidose. Este tipo de treinamento é bem exaustivo e precisa ser planejado com cautela, pois pode reduzir os estoques de glicogênio muscular (POWERS; HOWLEY, 2005). Geralmente após esforços únicos de maior duração (por exemplo 60 segundos) ou mais curtos e repetidos, planeja-se um intervalo de recuperação entre três e cinco minutos. Possibilidades de treinamento da aptidão anaeróbia Um modelo que é utilizado em modalidades coletivas, por exemplo, é três séries de seis estímulos de 40 metros em cada série, recuperação de vinte segundos de recuperação entre os estímulos e quatro minutos de recuperação de forma passiva entre as séries. Outro cuidado importante é intercalar sessões de treinamento de baixa intensidade entre as sessões que terão essa exigência anaeróbia. Referência
SALVADOR, P. C. N.; SALVADOR, A. F.; TEIXEIRA, A. S. Treinamento
desportivo em educação física. 1ª ed. Indaial: Uniasselvi, 215 p., 2017.