Você está na página 1de 71

Fundamentos de Física

Flycenter

1
1. Conceitos básicos

Grandezas físicas
Estudar física é observar os fenômenos físicos que ocorrem na natureza. Para
entendermos como esses fenômenos acontecem, precisamos poder descrevê-
los qualitativamente e quantitativamente. As propriedades que podemos
quantificar chamamos de grandezas físicas.

• Grandezas escalares são descritas por uma magnitude, ou seja, um


valor numérico associada a uma unidade de medida;
• Grandezas vetoriais são descritas por uma magnitude associada a uma
orientação, isto é, uma direção e um sentido.

Alguns exemplos de grandezas físicas:

Grandeza escalar Temperatura Massa Densidade


Grandeza vetorial Força Velocidade Deslocamento

Quando nos pesamos em uma balança, lemos um valor como:

65 kg
massa valor numérico unidade de medida

E isto é suficiente para descrever nossa massa. Porém, se dissermos que


estamos voando a uma velocidade:

900 km/h
velocidade valor numérico unidade de medida

estaremos apenas descrevendo a magnitude da velocidade, faltando descrever


para onde estamos voando.

Relação entre duas grandezas


Duas grandezas físicas podem estar relacionadas entre si. Ou seja, uma
mudança em uma grandeza física pode ocasiar mudanças em outras
grandezas e podemos representar essa relação com gráficos. Para construir o
gráfico da relação entre duas grandezas, colocamos a grandeza que ocasiona
mudanças sobre as outras no eixo das abscissas (eixo ) e a grandeza afetada
no eixo das ordenadas (eixo !).

2
Figura 1.1: Gráfico da relação entre altitude e tempo.

A Figura 1.1 ilustra a relação entre a altitude do avião e o tempo de voo. Dessa
forma, podemos visualizar com facilidade em que altitude o avião se encontrou
a qualquer momento do voo. Por exemplo, no instante em que um cronômetro
disparado no início do voo marcava 4 h o avião se encontrava na altitude de
aproximadamente 11 km. E, a partir desse instante, o avião iniciou o processo
de aterrissagem, diminuindo sua altitude conforme o avanço no tempo.

Como dito anteriormente, as grandezas vetoriais requerem uma direção e


sentido além da magnitude para serem descritas. Para isto, utilizamos vetores.

Vetor
Vetores são objetos matemáticos que possuem módulo, direção, e sentido.
Podemos representar um vetor em um plano cartesiano como uma seta. Seu
tamanho representa o módulo; a reta sobre a qual a seta é desenhada —
chamada reta suporte — representa a direção; e a ponta da seta indica o
sentido do vetor na direção representada. Dentre as propriedades dos vetores,
temos:

• Vetores não têm um ponto de partida, podendo ser utilizado o que for
mais conveniente para desenhá-los;

Figura 1.2: Vetores não possuem um "ponto de partida" fixo.

3
• Podemos somar vetores. O resultado chama-se vetor resultante.

Figura 1.3: Soma de vetores pelo método do "paralelogramo".

Matematicamente, os vetores em um plano cartesiano pode ser representado


pelas coordenadas da extremidade da seta partindo da origem. As
coordenadas de um ponto no plano cartesiano são dadas pelo par ordenado
$%, '(, com % e ' números reais, onde % é sua coordenada no eixo e ' sua
coordenada no eixo .

O módulo do vetor ) $%, '( — que é definido como | )| √%, - ' , — dá a


magnitude da grandeza vetorial representada; e a direção e sentido do vetor
indica a orientação dessa grandeza.

A soma de dois vetores ) $%, '( e . /) $0, 1( é tomada somando-se as


coordenadas individualmente. Isto é:

)-.
/) $%, '( - $0, 1( $% - 0, ' - 1(
Temos ainda o vetor oposto, representado pelo sinal negativo 2 ) $2%, 2'(.
Este vetor oposto preserva a magnitude e a direção original mas inverte-se o
sentido. Então uma subtração de vetores nada mais é do que a soma de um
vetor com o oposto de outro:

)2.
/) ) - $2.
/)( $% 2 0, ' 2 1(
A multiplicação de um vetor por um escalar (número real) positivo modifica seu
módulo mas não altera a direção ou sentido, valendo-se da propriedade
distributiva:

) $ %, '(

4
Decomposição vetorial
Um vetor pode ser decomposto em dois ou mais vetores. Isto é, pode ser
representado como uma soma entre vetores. Em geral, é conveniente
decompor nos vetores paralelos aos eixos do plano cartesiano:

) $%, '( $%, 0( - $0, '( ////)3 - ////)


4

Porém, note que a decomposição acima é somente uma de infinitas


possibilidades de decomposições.

Leis Fundamentais da Mecânica


Iniciamos esta seção com o estudo da cinemática. Aqui, nos limitamos a
estudar o movimento dos corpos sem nos preocuparmos com as causas do
movimento. Para este estudo, consideramos os corpos como sendo pontos no
espaço, isto é, desprezamos suas dimensões.

Trajetória
Um corpo em movimento percorre um caminho no espaço. Esse percurso
chamamos trajetória. Dentre os infinitos tipos de trajetórias possíveis que um
corpo pode percorrer, estudaremos um conjunto limitado:

• Trajetória Retilínea;
• Trajetória Parabólica;
• Trajetória Circular.

Para definirmos as propriedades básicas de movimentos — como posição,


velocidade e aceleração — nos atemos inicialmente às trajetórias retilíneas.

Uma trajetória é dita retilínea quando pode ser descrita em uma única direção.
Isto é, o movimento de um corpo em uma trajetória retilínea ocorre sempre
sobre uma reta no espaço.

Para descrever o movimento de um corpo precisamos conseguir determinar


sua posição em qualquer instante de tempo. Para isto, definimos um ponto de
referência — que chamamos de origem — e uma orientação positiva para o
movimento. A distância que este corpo se encontra da origem descreve sua
posição em relação à origem.

Na Figura 1.4, ilustramos


as posições dos corpos 5
e 6 sobre uma régua,
6 5
onde as distâncias entre
duas marcas é de 1 cm. O
corpo 5 (em laranja) [0 ]
encontra-se na posição
-2 -1 0 1 2
7 1 cm e o corpo 6 Figura 1.4

5
(em roxo) encontra-se em : 22 cm. Um corpo é dito estar em movimento
quando sua posição não se mantém a mesma quando observado em diferentes
instantes de tempo. Quando a posição permanece igual ao longo do tempo, o
corpo está em repouso. A grandeza física que descreve a taxa de variação da
posição em relação ao tempo é a velocidade.

Em posse destas ferramentas, podemos descrever o movimento retilíneo


uniforme.

Movimento Retilíneo
O movimento retilíneo descreve a posição de um corpo sobre uma trajetória
retilínea em qualquer instante de tempo. Aqui, estudaremos dois casos
particulares de movimentos retilíneos: movimento retilíneo uniforme (MRU) e
movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV). Para estudar movimentos
devemos observar como a posição do corpo varia em função do tempo, ou seja,
precisamos caracterizar deslocamentos em intervalos de tempo.

Um deslocamento é uma variação na posição (a posição é indicada pela letra


<), e um intervalo de tempo é uma variação nos instantes de tempo (indicados
pela letra =). Para medir uma variação, compara-se o ponto final ao ponto inicial.
O símbolo para indicar uma variação é o Δ (delta maiúsculo).
A velocidade média com que um objeto percorre um trecho é dado pelo
deslocamento total no trecho dividido pelo intervalo de tempo decorrido nesse
deslocamento:
@A B@C E@
? DA BDC ED

Exemplo: Analisando o
corpo em MRU cuja posição
em função do tempo está
representada na Figura 1.5,
podemos determinar sua
velocidade média no
intervalo de tempo entre os
instantes 0 e 1 s . Para
Figura 1.5: Posição em função do tempo de um corpo determinar o deslocamento
em movimento retilíneo.
no intervalo, determinamos
a posição final (10 m) e subtraímos a posição inicial (0 m), que é Δ< 10 m. E
o intervalo de tempo em questão é Δ= 1 2 0 s 1 s. Portanto, a velocidade
média ? é:

6
10
? 10 /F
1F
A velocidade de um trecho pode ser dada pela inclinação do segmento de reta
observada no gráfico. Observe que nesse intervalo (entre 0 e 1 s) a velocidade
não muda, o que caracteriza um MRU.

O MRU representa o movimento de um objeto onde sua velocidade permanece


constante, isto é, não há aceleração. Em outras palavras, o objeto sempre
percorre uma mesma distância se considerado um mesmo intervalo de tempo
como podemos ver na Figura 1.6.

Figura 1.6: Cronofotografia de uma pessoa em MRU.

Já o MRUV representa o movimento de um objeto onde sua


velocidade varia de forma uniforme, isto é, possui aceleração
constante. A aceleração em um trecho é dada pela variação de
velocidade dividida pelo intervalo de tempo.

G2 H I
%
=G 2 =H I=
Um exemplo clássico de MRUV é um objeto em queda livre quando
as forças de resistência do ar são desprezíveis. Outro MRUV é um
carro ganhando velocidade com aceleração constante como no
exemplo a seguir.

Exemplo: Um automóvel parte do repouso e atinge a velocidade de


30 m/s em 10 s. Qual foi a aceleração em m/s , no trecho? Assuma
uma aceleração constante.

Solução: Partindo do repouso, sua velocidade inicial é 0 m/s. Assim, a variação


de velocidade é Δ 30 m/s, e o intervalo de tempo é Δ= 10 s. Assim:

I 30 /F
% 3 /F²
I= 10 F

7
Exemplo: Observe a
Figura 1.7 Identifique
os intervalos de
tempo em que o
corpo faz um MRU e
onde faz MRUV.

Solução: Os
intervalos onde a
variação da
velocidade é nula —
ou seja, quando não
Figura 1.7: Velocidade em função do tempo de um corpo em há inclinação no
movimento retilíneo. gráfico — são MRU.
Então entre 10 e 20 s,
e entre 20 e 30 s, o corpo desenvolveu velocidades constantes diferentes de
zero, que indica MRU. Caso a velocidade fosse zero, o corpo estaria em
repouso. Já nos intervalos onde a variação da velocidade é constante, isto é,
quando o gráfico é inclinado e a inclinação não muda, o corpo está em MRUV.
Logo, são os trechos entre 0 e 10 s, e entre 30 e 40 s.

Equações de movimento
Dado que no instante de tempo =H 0 s o corpo se localiza na posição <H ,
podemos representar a posição do corpo como uma função do tempo. Para
MRU, dada a velocidade constante H , a equação da posição é:

<$=( <H - H=

Ou seja, um corpo saindo da origem com velocidade 1 m/s, depois de 1 s,


estará na posição:

<$1 F( 0 - 1 /F L 1 F 1
E sua velocidade:

$=( H

As equações de movimento de um corpo em MRUV ganham um termo extra


referente à aceleração. Primeiramente, com aceleração constante % , a
velocidade agora se modifica com o tempo:

$=( H - %=
E a sua posição é:

%= ,
<$=( <H - H = -
2
8
Ainda é possível relacionar somente as velocidades final e inicial com a
aceleração e o deslocamento, sem que seja necessário envolver o tempo. É a
chamada equação de Torricelli:
, ,
M N - 2%I<

Em particular, a queda livre é um caso de MRUV cuja aceleração pode ser


considerada constante na superfície da Terra como O 9,8 m/s , em direção
ao solo. Assim, quanto maior o tempo de queda, maior a velocidade do corpo
ao atingir o solo e maior a distância percorrida.

Movimento composto
Um movimento pode ser decomposto em suas componentes horizontal e
vertical porque deslocamento, velocidade e aceleração são, na realidade,
grandezas vetoriais. Dessa forma, realizando uma decomposição vetorial, cada
uma de suas componentes comporta-se de maneira independente. A Figura
1.8 ilustra trajetórias de projéteis lançados por uma embarcação. Os
movimentos verticais realizados pelos projéteis são uniformemente acelerados,
pois estão apenas sob influência da aceleração gravitacional. Já os
movimentos horizontais são MRU pois a aceleração é nula. Esse tipo de
trajetória — uma componente em MRU e outra em MRUV — chama-se
trajetória parabólica, pois forma uma parábola.

Figura 1.8: Trajetórias parabólicas realizadas por projéteis.

Exemplo: Um avião voa para leste e para norte simultaneamente (ou seja,
nordeste) com velocidades 300 km/h e 400 km/h, respectivamente. Após 5 h
de voo, qual a distância percorrida em km?

Solução: Colocando a direção oeste-leste no eixo x e a direção sul-norte no


eixo !, os vetores das velocidades são, respectivamente:

////)3 $300,0( Q /ℎ e ////)


4 $0,400( Q /ℎ

Ou seja, o vetor velocidade resultante é:

) ////)3 - ////)
4 $300,400( Q /ℎ

cujo módulo é:

9
S300, - 400, Q /ℎ 500 Q /ℎ
Então em 5 h de voo, a distância percorrida foi:

Q
I< I= 500 ⋅5ℎ 2500 Q

Movimento em trajetórias circulares
Para descrever movimentos em
trajetórias circulares, é mais
conveniente descrever a 6
posição do corpo pelo ângulo
que o objeto forma em relação a
um ponto de referência. Assim,
queremos estudar como o
ângulo se comporta em função
do tempo.
5
O movimento circular uniforme
(MCU) é análogo ao movimento Figura 1.9: Descrevendo a posição de um avião em
trajetória circular.
retilíneo uniforme, no sentido de
que ambas descrevem a posição
do objeto em relação ao tempo. Observe a semelhança da equação a seguir
com a equação do MRU:

U$=( UH - V=
Aqui, usamos o ângulo inicial UH no lugar da posição inicial <H e usamos a
velocidade angular V no lugar na velocidade. A velocidade angular com que
um objeto percorre uma circunferência é dado pelo ângulo percorrido dividido
pelo intervalo de tempo decorrido.

IU
V
I=
Exemplo: Determine a velocidade angular em °/s do ponteiro de segundos de
um relógio.

Solução: O ponteiro dos segundos percorre uma volta completa em Δ= 60 s.


Uma volta completa forma um ângulo de Δθ 360°. Assim:

360°
V 6°/F
60 F
Além dos movimentos circulares existem os movimentos de rotação, que nada
mais são que um corpo rígido girando em torno de um eixo. Os conceitos de

10
movimento circular podem ser aplicados sobre qualquer ponto fora do eixo de
rotação desse corpo para descrever seu movimento. A partir daqui,
discutiremos somente os movimentos circulares.

O movimento circular uniforme é cíclico. O período Y de um movimento circular


uniforme é o intervalo de tempo que um objeto leva para completar um ciclo.
Isto é, o período do ponteiro de segundos de um relógio é 60 s, e o período do
ponteiro de minutos é 3600 s, ou 1 h.

O período é utilizado para medir a rapidez de movimentos periódicos. Outra


grandeza bastante utilizada para caracterizar a
rapidez dos ciclos é a frequência Z , definida
como o inverso do período — o período
caracteriza quanto tempo leva um ciclo
enquanto a frequência caracteriza quantos
ciclos são feitos por unidade de tempo.
G
Z
[

Assim, a frequência de um objeto que leva 0,5 s


Figura 1.10: Definição de ângulo
para completar uma volta é de: em radianos.

1 1
Z\H 2 ]^
Y\H 0,5 F
A unidade padrão de frequência é o Hz (hertz), que indica quantos ciclos
ocorrem em 1 s. Outra unidade comum para medir frequências é o rpm, que
significa rotações por minuto. Para converter de Hz para rpm basta multiplicar
por 60, pois há 60 s em um minuto.

Note que, no último exemplo (a respeito da velocidade angular do ponteiro de


segundos), determinamos V dividindo o ângulo de uma volta completa pelo
período. Para medir o ângulo da volta completa utilizamos a unidade ° (graus),
porém existe outra unidade de medida de ângulos que se torna mais
conveniente.

Ângulo em radianos
A definição de 1 rad (um radiano) é o ângulo que compreende um arco de
circunferência de comprimento igual ao raio. Assim, como sabemos que o
perímetro da circunferência de raio b é:

c 2db
Então o ângulo de uma volta completa é, simplesmente:

11
c
ângulo de uma volta 2d
b
A conversão de radianos para graus é:

180°
graus radianos ⋅
d
Em geral, tanto na física quanto na matemática, a utilização de radianos é mais
conveniente do que graus. Assim, a velocidade angular V fica:

2d
V 2dZ
Y
Comprimento de arcos
O comprimento de um arco dado por um
ângulo é numéricamente igual ao raio
vezes o ângulo em radianos.

Velocidade tangencial
A velocidade tangencial é definida como
a velocidade instantânea medida
tangente a um movimento circular. Por

exemplo, suponha um carro percorrendo Figura 1.11: Relação entre o ângulo em


uma pista circular. A velocidade medida radianos e o comprimento do arco.
no painel do veículo indica sua
velocidade tangencial. Essa velocidade é a que indica o deslocamento Δ0 (em
distância) por unidade de tempo. Com a expressão de comprimentos de arcos,
podemos escrever Δ0 Δθ ⋅ r, pois o raio da trajetória permanece constante.
Assim, podemos deduzir a relação entre a velocidade tangencial e a velocidade
angular:

I0 IU ⋅ b
Vb
I= I=
Exemplo: Os carros A e B são idênticos a menos do tamanho de suas rodas.
Os pneus do carro A possuem um raio menor que os do carro B. Supondo que
ambos os carros estão com a mesma rotação do motor em uma mesma
marcha, qual carro possui maior velocidade?

Solução: A velocidade do carro é a velocidade tangencial das bordas dos


pneus. Os carros estando com a mesma rotação do motor em uma mesma
marcha indica que as velocidades angulares dos pneus são iguais, ou seja,
V7 V: V. Como b7 f b: , multiplicando os dois lados da igualdade por V dá
as velocidades tangenciais, então:

12
7 Vb7 f Vb: :

Logo, a velocidade do carro 5 com pneus menores é menor que a velocidade


do carro 6.

Aceleração centrípeta
Como vimos anteriormente, um movimento sem aceleração é retilíneo uniforme.
Ou seja, para que o corpo esteja em movimento circular, é necessário haver
uma aceleração sobre ele que o mantenha fazendo curva. A aceleração
centrípeta é a aceleração que mantém o vetor velocidade em constante
mudança para que o corpo permaneça
em movimento circular.

A aceleração centrípeta é perpendicular


à velocidade tangencial — ela não
altera o módulo da velocidade. A
magnitude dessa aceleração para
manter um movimento circular de raio b

com velocidade tangencial é: Figura 1.12: Um avião sob influência de uma


aceleração centrípeta.
,
%gh V, b
b

2. Forças e equilíbrio

Momento linear
Momento linear, popularmente conhecido como “embalo”, representa a
quantidade de movimento. É uma grandeza vetorial que se conserva quando
dois ou mais corpos interagem e é dada pela massa do corpo multiplicada pela
sua velocidade:

c
Exemplo: Compare o momento linear entre uma bola de tênis de 50 g e um
veículo de 500 kg com uma mesma velocidade 20 m/s.

Solução: O momento linear da bola é ci 0,05 kg ⋅ 20 m/s 1 kg. m/s . O


momento linear do veículo é ck 500 kg ⋅ 20 m/s 10000 kg. m/s . Ou seja,
apesar dos dois objetos terem a mesma velocidade, a quantidade de
movimento do veículo é 10.000 vezes maior que da bola de tênis. Essa
diferença reflete no esforço necessário para fornecer essa velocidade a cada
um dos objetos (ou para pará-los).

13
Força
Força é a interação que causa uma variação de momento linear quando
aplicada por um intervalo de tempo sobre um corpo:

Ic)
l)
I=
Assim como a aceleração causa a variação na velocidade, a força causa a
variação no momento linear. A grande diferença entre estes dois pares é o
papel da massa do objeto sobre os valores. Quando maior a massa de um
objeto, mais o momento linear varia conforme se varia a velocidade.

Ao ganho de momento linear


recebido por um corpo damos o
nome de impulso:

impulso Ic lI=
Ou seja, se aplicarmos uma
força l durante um intervalo de Figura 2.1: Uma força aplicada por um intervalo de
tempo causa uma variação de momento linear.
tempo Δ= sobre um corpo,
iremos fornecer uma quantidade
de movimento Δc.

Exemplo: Um avião de massa 50.000 kg parte do repouso e atinge 200 m/s em


100 s. Assumindo uma força constante, qual é a força aplicada pelos motores
durante a aceleração?

Solução: No repouso, a velocidade do avião é zero, portanto também é seu


momento linear. Ao final dos 100 s, seu momento linear é:
m m
cM 50.000 kg ⋅ 200 10\ kg.
s s
Portanto, o impulso — justamente a variação de momento linear — é de
10\ kg. m/s. Assim:
m
impulso lI= l ⋅ 100 s 10\ kg.
s
⇒l 10.000 N
A unidade de força padrão é o o (newton), que é equivalente a 1 kg. m/s , . Ou
seja, é a força que, ao ser aplicada sobre um corpo de massa 1 kg durante 1 s,
irá colocá-lo em movimento com velocidade de 1 m/s.

14
Leis de Newton
Os fenômenos mecânicos que observamos na
natureza obedecem com boa aproximação as
leis de Newton.

1ª Lei de Newton
Todo corpo continua em seu estado de repouso
ou de movimento uniforme em uma linha reta, a
menos que seja forçado a mudar aquele estado Figura 2.2: Um corpo em
movimento tende a se manter
por forças aplicadas sobre ele. Também em movimento.
conhecido como inércia.

2ª Lei de Newton
A mudança de movimento é
proporcional à força motora imprimida, e
é produzida na direção de linha reta na
qual aquela força é aplicada.
Matematicamente, é a expressão vista
quando foi definido a força. Para corpos
com massa constante, vale a seguinte
expressão mais conhecida:
Figura 2.3: A força necessária para
promover uma aceleração sobre um objeto
é diretamente proporcional à sua massa. l %

3ª Lei de Newton
A toda ação há sempre uma reação oposta e de
igual intensidade: as ações mútuas de dois
corpos um sobre o outro são sempre iguais e
dirigidas em sentidos opostos.

Força resultante
A respeito da 2ª Lei de Newton, a força aplicada
sobre um corpo que lhe fornece uma Figura 2.4: Para se impulsionar para
aceleração deve ser apenas a resultante de frente, o gato deve empurrar o tapete
para trás.
todas as forças aplicadas sobre ele. Como a
força é uma grandeza vetorial, podemos somar
vetorialmente todas as forças aplicadas sobre o
corpo para determinar a força resultante. Aqui, a
decomposição vetorial pode ser bastante útil.

Forças fictícias
Para podermos discutir forças fictícias, é
Figura 2.5: A força resultante é a
soma vetorial de todas as forças
15 aplicadas sobre o corpo.
necessário antes definir um referencial inercial.

Um referencial inercial é um conjunto de referências onde se vale a 1ª Lei de


Newton. Isto é, se a força resultante for nula, um corpo em repouso permanece
em repouso e um corpo em movimento retilíneo uniforme permanece em MRU.

Alguns exemplos de referenciais inerciais (com boa aproximação) são: a


superfície terrestre, um veículo fechado em velocidade constante
movimentando-se sobre uma linha reta e um elevador em queda-livre.

Quando são observadas acelerações “estranhas” que surgem sem uma força,
o referencial escolhido é não-inercial.

Por exemplo, para um observador dentro


de um vagão de trem completamente
fechado, enquanto o trem percorre uma
linha reta com velocidade constante, não é
possível observar de maneira alguma o
movimento do trem. Quando o trem passa
a acelerar, frear, ou fazer uma curva, o
observador constata que objetos começam
Figura 2.6: Passageiros em um ônibus
em aceleração percebem uma força
a se movimentar em relação à ele. Mas,
fictícia os empurrando para trás. na realidade, estão apenas agindo sob
efeito da inércia. Essas “forças fantasmas”
são as chamadas forças fictícias.

Gravitação
Gravidade é o fenômeno natural onde corpos com massa atraem uns aos
outros. Isaac Newton, ao estudar esse fenômeno, constatou que quanto maior
a massa, maior a atração, e que quanto maior a distância, menor a atração. A
expressão matemática que Newton formulou para a atração de dois corpos de
massas G e , com seus centros de massa separados por uma distância 1 é:

G ,
lp q
1,
onde q é a constante gravitacional universal (que vale aproximadamente q
6,7 ⋅ 10BGG Nm, /kg , ). As forças vão sempre apontar no sentido de atração.

Exemplo: Determine a aceleração promovida sobre um corpo de massa


localizado na superfície terrestre pela força gravitacional entre esse corpo e a
Terra dadas a massa da Terra s e o raio da Terra t. Dê a resposta em termos
das constantes do problema.

Solução: A força gravitacional implicada sobre o corpo é:

16
s
lp q
t,
Pela 2ª Lei de Newton, a aceleração sofrida pelo corpo por conta dessa força é:

% lp

lp s
⇒% q
t,
Ou seja, qualquer corpo na superfície terrestre (isto é, a uma mesma distância
do centro da Terra) irá sofrer uma mesma aceleração por conta da força
gravitacional. Por conveniência, calculamos essa constante e chamamos de
aceleração gravitacional:

s
O q ≅ 9,8 /F ,
t,
Peso
O peso de um corpo é a força gravitacional da Terra agindo sobre os corpos e
é dado pela massa do corpo multiplicado pela aceleração gravitacional:

v O
Na Lua, a aceleração
Massa Peso gravitacional é menor em
relação à Terra, logo o peso é
• Não varia com o • Depende da menor, porém a massa é a
lugar medido aceleração mesma.
• Grandeza gravitacional
escalar • Grandeza Exemplo: Dado um planeta
• Unidades de vetorial (aponta elipsóide, isto é, a distância dos
massa (kg) para o centro da polos até o centro deste planeta
Terra)
é menor que a distância de um
• Unidades de
força (N) ponto do equador até o centro
como ilustra a Figura 2.7.
Desconsiderando efeitos de
rotação do planeta, onde a aceleração
gravitacional é maior?

Solução: Na fórmula da aceleração


gravitacional, observamos que a aceleração é
inversamente proporcional ao quadrado da

Figura 2.7: Planeta elipsóide distância entre o corpo e o centro do planeta.


onde w x y. Ou seja, quanto maior for a distância, menor é
a aceleração gravitacional. Logo, a aceleração

17
gravitacional no polo é maior que a aceleração gravitacional no equador.

Uma unidade de força bastante conveniente na Terra para medir pesos é o


quilograma-força (kgf), que representa a força de magnitude igual ao peso de
uma massa de 1 kg (que vale { 9,8 N). Por exemplo, uma massa de 5 kg tem o
peso de 5 kgf 49 N.

Centro de massa
Quando começamos a falar sobre corpos rígidos, passamos a não considerar
mais as massas como objetos pontuais, e sim
que possuem uma forma com algum volume.
Uma massa é composta por um conjunto de
massas menores. Um conjunto de massas pode
ser representado como se houvesse uma única
massa localizado no centro de massa.

A 1ª Lei de Newton nos diz que se a força


resultante sobre um corpo em repouso for nula,
o objeto permanecerá em repouso. Porém, para
corpos rígidos, isso é válido para o movimento do
Figura 2.8: Todas as forças em
seu centro de massa. Por exemplo, observe na vermelho são equivalentes à única
Figura 2.9 a força resultante. Como as duas força em azul.
forças são iguais a menos do seu sentido,
o vetor resultante deve ser nulo. O centro
de massa do corpo — localizado no ponto
preto ao centro da barra — permanecerá
em repouso, porém a barra tenderá a
girar. Com isso, introduzimos o conceito
de torque. Figura 2.9: Uma barra rígida sob influência de
duas forças iguais de sentido oposto.
Torque
Torque é para movimentos de rotação o que a força é para
movimentos lineares. Quando um torque é aplicado sobre
um corpo, este ganha um movimento de rotação em torno de
um eixo. Aplicar força mais longe do eixo parece “mais eficaz”
para promover esta rotação, e aplicar mais força na mesma
distância aumenta essa “eficácia” também. Ou seja, o torque
é diretamente proporcional à força e ao braço — distância
perpendicular do eixo ao ponto de aplicação da força. O
torque também depende do ângulo da força aplicada em
relação ao braço, chegando na seguinte expressão: Figura 2.10: Uma
força exercendo um
| l1 sen U torque.

18
Um corpo somente
está em repouso se o
torque resultante é
nulo. Caso contrário,
haverá uma rotação.

Exemplo: Duas
massas estão sobre
uma gangorra. A Figura 2.11: Massas exercendo torque sobre uma gangorra
com seus pesos.
massa de 100 kg está
a 0,5 m do apoio e o
torque resultante é zero. A que distância (em metros) do apoio deve estar a
massa de 5 kg?

Solução: Conforme a Figura 2.11, convencionando o torque no sentido anti-


horário como positivo, temos os seguintes valores:

|GHH 100 QOZ ⋅ 0,5 |} 25 QOZ ⋅


Como o torque resultante é zero, temos:

|~ |GHH - |} 50 QOZ. 2 5 QOZ ⋅ 0

⇒ 10
Equilíbrio
Quando a força resultante agindo sobre um corpo é nula e o torque é nulo,
então ele está em equilíbrio. Quando o corpo está parado em equilíbrio,
chamamos esse equilíbrio de equilíbrio estático, e quando está em MRU
chamamos de equilíbrio dinâmico. Existem 3 tipos de equilíbrio:

• Estável: o corpo retorna para a


posição de equilíbrio ao ser levemente
deslocado;
• Instável: o corpo tende a perder
completamente a estabilidade ao ser
levemente deslocado;
• Indiferente: ao ser levemente
deslocado, o corpo continua em equilíbrio
Figura 2.12: Paraquedista na
em sua nova posição.
velocidade terminal em queda-livre.
Uma situação de equilíbrio dinâmico,
pois a resistência do ar anula a força
peso, resultando em zero.

19
Forças de resistência
Forças de resistência, como o próprio nome sugere, tem o efeito de resistir ao
movimento do corpo.

Resistência do ar
O efeito da resistência do ar sobre um corpo é proporcional à velocidade do
corpo em relação ao ar. Para um corpo em queda-livre, a velocidade em que a
força da resistência do ar se iguala ao peso é chamada velocidade terminal. A
resistência do ar é proporcional também à área frontal do corpo. Isto é, ao olhá-
lo de frente em relação ao movimento, depende da área da silhueta. Portanto,
um paraquedista na posição ilustrada na Figura 2.12 tem uma velocidade
terminal menor do que algum paraquedista mergulhando perfeitamente de
ponta-cabeça em posição vertical.

Atrito
O atrito ocorre quando há contato entre dois
corpos acompanhado de uma tendência de
movimento. Enquanto o atrito não é superado, a
força do atrito vai sempre ser igual à força
aplicada sobre o corpo para colocá-lo em
movimento porém em sentido oposto, com o
efeito de anular a força resultante, mantendo o
corpo em repouso. Ou seja, quanto mais se
aumenta a força sobre o corpo, mais o atrito
aumenta até que ele atinja seu máximo. A força Figura 2.13: Quanto mais
máxima do atrito depende dos materiais que pressionados um contra o outro,
maior é o atrito máximo.
compõem os corpos, mais especificamente no
coeficiente de atrito entre dois materiais. Ainda
se observa que o atrito máximo é proporcional à força que empurra os dois
corpos um contra o outro — chamado força normal. Conclui-se então que o
atrito máximo é:

l•D €o

onde € é o coeficiente de atrito e o a força normal, isto é, a força de contato.

Exemplo: Se o ângulo U em que um objeto começa a deslizar em um plano


inclinado satisfaz tan U €, considere a seguinte situação: Uma mala vazia
começa a deslizar em uma esteira a 30º de inclinação. Suponha agora que
esta mala esteja cheia. Nesta mesma esteira, ela começaria a deslizar com
maior, menor ou igual inclinação da esteira?

Solução: Como o ângulo depende somente do coeficiente de atrito — que


depende somente dos materiais, nesse caso, da mala e da esteira, que são os

20
mesmos — e não da massa do corpo, a mala começa a deslizar com a mesma
inclinação.

3. Trabalho e potência

Energia
A energia quantifica o potencial que as coisas têm para realizar trabalho. Tanto
a energia quanto o trabalho são grandezas escalares. Objetos em movimento
podem se colidir com outros objetos para gerar uma força e realizar trabalho
sobre esses outros corpos. Essa energia relacionada ao movimento chamamos
de energia cinética. Por outro lado, existem outros tipos de energia que podem
se armazenar de outras formas, como a energia potencial gravitacional, que é a
energia armazenada por um corpo quando submetido a uma força gravitacional.
Por exemplo, um tijolo abandonado a uma altura do solo irá cair, ou seja, irá
ganhar energia cinética. Nesse processo, a energia potencial gravitacional está
se convertendo em energia cinética.

Princípio da conservação de energia


Energia apenas se transforma, não se cria nem se destrói. Ou seja, a energia
em um sistema fechado se conserva. Por exemplo, ao frear, a energia cinética
de um carro não desaparece, ela se converte em calor (energia térmica), que
então é dissipada no ambiente.

Trabalho
Trabalho transfere energia de um lugar para outro, ou seja, representa um
movimento. Uma força exerce trabalho quando há um deslocamento na direção
da força. Matematicamente:

• l1 cos U
onde U é o ângulo entre a direção da força e do deslocamento. A unidade de
medida padrão de trabalho e de energia é o ‚ (joule). Essa unidade representa
a energia fornecida a um corpo ao ser empurrado por 1 m com uma força de
1 N.

O trabalho aplicado sobre um corpo de massa em repouso para colocá-lo em


movimento com velocidade é dado por:

1 ,
ƒg
2
Então dizemos que o corpo agora tem energia cinética igual ao valor acima.
Por outro lado, se quisermos levantar um corpo de massa uma altura ℎ sob

21
efeito de uma aceleração gravitacional O, teremos que realizar um trabalho
dado por:

ƒhp Oℎ

e dizemos que o corpo agora possui uma energia potencial gravitacional


igual ao valor acima.

Energia mecânica
A energia mecânica é dada pela soma das energias cinética e potencial de um
corpo. Então, na ausência de forças externas, a energia mecânica de um
sistema se conserva.

Exemplo: Um skatista desce uma rampa de


5 m de altura. Desprezando efeitos de atrito,
com que velocidade ele atinge o solo?
Considere O 10 m/s , .

Solução: Como a energia mecânica se


conserva, a energia que ele possuia na
situação inicial será a mesma energia na
situação final. Inicialmente, ele contava apenas
com a energia potencial gravitacional, pois
estava elevado e em repouso; na situação Figura 3.1: Ilustração do exemplo.
final, ele conta apenas com a energia cinética,
pois atingiu o solo. Logo:

1 ,
ƒM ƒN ⇒ Oℎ ⇒ S2Oℎ √2 ⋅ 10 ⋅ 5 m/s 10 m/s
2
Note que a massa do skatista não afeta a resposta.

Exemplo: Qual o trabalho realizado por uma força l) que mantém um corpo em
movimento circular uniforme?

Solução: Como a força é sempre perpendicular ao movimento a qualquer


momento, então o ângulo entre a força e o deslocamento é sempre 90º, cujo
cosseno é 0 (lembrete: • l1 cos U). Logo, esta força não realiza trabalho.
Em outras palavras, esta força não adiciona nem retira energia do corpo.

Forças conservativas
Forças conservativas são aquelas que surgem por conta de energias
potenciais. No exemplo do skatista, o peso realiza trabalho mas não altera a
energia mecânica do corpo — o trabalho da força peso é exatamente a perda
da energia potencial gravitacional.

22
Uma propriedade importante de forças conservativas é que o trabalho realizado
depende apenas da situação inicial e da final. Fixados os pontos de partida e
de chegada, o trabalho será sempre o mesmo independentemente do caminho
percorrido. Por exemplo, a força peso sobre um corpo descendo uma altura ℎ
por uma rampa ou em queda livre exercerá exatamente o mesmo trabalho.

Temos outras forças conservativas além da força peso, como a força elástica
exercida por uma mola comprimida, por exemplo. A força que uma mola exerce
é:

l„… 2Q
Nesta expressão, Q é a chamada constante de mola ou constante elástica. Ela
representa a “dureza” da mola, ou seja, quanto maior a constante, mais força
deve ser aplicada para comprimir ou esticar a mola uma mesma distância . O
sinal negativo indica que a força tem sentido oposto ao deslocamento em
relação à posição relaxada. A energia potencial elástica é dada por:

1 ,
ƒh„… Q
2
Nesta expressão, Q é a chamada constante de mola ou constante elástica. Ela
representa a “dureza” da mola, ou seja, quanto maior a constante, mais força
deve ser aplicada para comprimir ou esticar a mola uma mesma distância .

A soma dos trabalhos exercidos por forças conservativas não altera a energia
mecânica. Por isso chamam-se conservativas.

Forças não-conservativas
Trabalho transfere energia de um lugar para outro, ou seja, o trabalho total
realizado sobre um corpo por forças não-conservativas causa uma variação na
sua energia mecânica:

•total ƒM 2 ƒN Iƒ

As forças não-conservativas são forças


realizadas por fatores externos ao corpo
Figura 3.2: Energia potencial elástica onde não consideramos nenhuma energia
se convertendo em eneria cinética. potencial por conta dessa força. Alguns
exemplos típicos são as forças de
resistência, como o atrito.

Exemplo: Um bloco de massa 1 kg desliza sobre um plano com coeficiente de


atrito € 0,1. Considerando O 10 m/s , e que, inicialmente, o corpo possuia a
velocidade de 1 m/s e deslizou até parar, qual foi o trabalho do atrito?

23
Solução: Estudando a energia do bloco, observamos que na situação inicial
sua energia mecânica é apenas sua energia cinética, que é:
,
1 ⋅ 1,
ƒN 0,5 ‚
2 2
E na situação final ele estava em repouso, com sua energia mecânica nula. Ou
seja, o trabalho realizado pelo atrito, que é uma força externa:

•at ƒM 2 ƒN 0 ‚ 2 0,5 ‚ 20,5 ‚

Note que o trabalho do atrito é negativo, ou seja, ele retirou energia do bloco.
Por conta da lei da conservação de energia, essa energia não desaparece,
apenas foi transformada em calor.

Potência
Potência representa a taxa de variação de energia. Ou seja, representa quanto
a energia de um corpo varia em um dado intervalo de tempo.

Um carro de “maior potência” significa que


ele tem capacidade de transformar mais
energia química (do combustível) em
energia cinética em um mesmo intervalo
de tempo. Ou seja, durante um intervalo
de tempo Δ= , a potência média
desenvolvida é:


v?
I=

A unidade padrão de potência é o W Figura 3.3: Carros com diferentes


(watt), que representa uma variação de 1 J potências podem até atingir a mesma
energia cinética, porém vão levar
de energia em 1 s. tempos diferentes para isso.

Exemplo: Um motor de um carro de


1000 kg aplica uma potência de 20 kW durante 10 s . Partindo do repouso e
desprezando forças dissipativas, ele irá atingir que velocidade?

Solução: Ao longo dos 10 s, a energia que o motor gerou é:

Iƒ v? I= 20.000 • ⋅ 10 F 200.000 ‚ 200 Q‚


Como a energia inicial é zero, pois estava em repouso, a energia final, que
equivale à energia cinética, é 200 kJ. Ou seja:

24
,
1 , ,
200 Q‚ ⇒ 400 ⇒ 20 /F
2 F,
Exemplo: Para empurrar um bloco sobre uma superfície com atrito em MRU
com velocidade , é necessária uma força l. Como está em MRU, a energia
cinética do bloco permanece constante, porém o atrito irá dissipando o trabalho
que a força exerce sobre o bloco para mantê-lo nessa velocidade. Qual a
expressão da potência dessa força?

Solução: Como a potência é a energia fornecida em um intervalo de tempo,


fixamos um intervalo de tempo Δ= . Nesse tempo, o bloco percorre uma
distância Δ<, cuja relação com a velocidade é Δ</Δ=. Assim, o trabalho da
força nesse intervalo de tempo é • lΔ<, então a potência será:

lI<
v l
I=
Leis de conservação
Nas interações entre dois ou mais corpos, observamos que duas grandezas se
conservam — uma escalar e uma vetorial — e a partir das leis de conservação
dessas grandezas físicas, podemos deduzir e descrever essas interações.

Conservação de momento linear


Na interação entre dois ou mais corpos em um
sistema isolado, o momento linear — grandeza
vetorial — se conserva. Isto é, se a resultante
das forças externas for nula, o momento linear
total do sistema não muda.

Exemplo: Considere a Figura 3.5. Inicialmente,


o carrinho vermelho estava a 5 m/s e o azul em
repouso. Após a colisão, o carrinho vermelho
Figura 3.4: O momento linear de prossegue com velocidade de 1 m/s. Supondo
um sistema isolado se ambos carrinhos pesando 100 kg , qual a
conserva.
velocidade do carrinho azul após a colisão?

Solução: Considerando o sistema englobando


os dois carrinhos, não há forças externas.
Portanto o momento linear total se conserva. O
momento linear total inicial cN é somente o
momento linear incial do carrinho vermelho:

cN 100 QO ⋅ 5 /F 500 QO. /F


Já o momento linear total final cM é a soma dos
Figura 3.5: Em uma colisão, o
momento linear se conserva.
25
momentos lineares dos dois carrinhos após a colisão. O carrinho vermelho tem
velocidade final de 1 m/s e o carrinho azul , que é o que queremos determinar.

cM 100 QO ⋅ 1 /F - 100 QO ⋅ 500 QO. /F cN

Resolvendo a igualdade para , encontramos 4 m/s.

Note que a energia do sistema não se conservou na colisão. Comparando-se


as energias cinéticas dos carrinhos antes e após a colisão, podemos constatar
que houve uma perda de 400 J de energia. Essa energia cinética que “sumiu”
foi convertida em energia térmica e sonora e dissipada no ambiente.

Tipos de colisões
Podemos classificar as colisões em três diferentes tipos em relação ao
comportamento da energia total:

• Perfeitamente elástica: não há dissipação de energia;


• Inelástica: a dissipação de energia é a máxima (os corpos grudam);
• Parcialmente elástica: existe uma dissipação de energia, mas os
corpos não grudam.

Obs: Existe ainda a colisão


superelástica, onde a energia total é
maior depois da colisão. Estes casos
ocorrem quando há uma liberação de
energias potenciais na colisão, como
um explosivo ou uma mola que
desencadeiam no momento do impacto.

Em todos os tipos de colisão, se não Figura 3.6: A bola colide de forma


houver resultante de forças externas, o parcialmente elástica com o piso.
momento linear se conserva. Podemos
ainda classificar os tipos de colisão quanto à razão entre a velocidade relativa
dos objetos depois e antes da colisão. Essa razão chama-se coeficiente de
restituição ˆ~ .
Tipo de colisão Coeficiente de restituição
Colisões podem ocorrer
Perfeitamente elástica ˆt 1
em mais de uma dimensão.
Para analisar esses casos, Inelástica ˆt 0
basta lembrar que
0 f 0t f 1
momento linear é uma Parcialmente elástica
grandeza vetorial. Assim, Superelástica ˆt x 1
podemos escolher a
decomposição vetorial
mais conveniente e analisar dimensão por dimensão de forma mais simples.

26
Por mais complexo que seja um sistema, todo sistema fechado obedece as leis
de conservação de momento e energia. Mais a frente, discutiremos com mais
profundidade a lei da conservação de energia.

4. Movimento ondulatório

Para falarmos de algumas propriedades de


ondas, precisamos antes abordar oscilações.

Oscilações
Oscilações são variações repetitivas de uma
grandeza em torno de um ponto de equilíbrio ao Figura 4.1: Oscilação de uma
mola.
longo de um tempo.

Por ser um fenômeno cíclico, as oscilações possuem períodos e frequências


exatamente como foram definidos para MCU.

Vibração
Vibrações são oscilações mecânicas que ocorrem na presença de forças de
restauração (força que tende a retornar o corpo
à posição inicial, ou seja, no sentido oposto ao
deslocamento).

Relembrando a expressão da força de uma


mola:

l„… 2Q

Figura 4.2: A força de uma mola Ou seja, quando se desloca um corpo preso a
comprimida. uma mola, a força da mola tende a retornar à
posição de equilíbrio, causando uma vibração.

Quando a força resultante de restauração é linearmente proporcional ao


deslocamento, observamos um movimento
harmônico simples (MHS).

Movimento harmônico simples


Um MHS pode ser descrito como projeção de
um movimento circular uniforme. A projeção
horizontal de um objeto percorrendo um círculo
de raio 5 é o próprio 5 multiplicado pelo
cosseno do ângulo que descreve sua posição no
círculo. Como a posição de um movimento
circular pode ser dada pelo ângulo U , cuja
Figura 4.3: MHS como uma
27 projeção de um MCU.
expressão em função do tempo é:

U UH - V=
sua projeção horizontal na Figura 4.3 é:

5 0‰F$UH - V=(
onde 5 é a amplitude do movimento, UH o ângulo de fase inicial, e V a
velocidade angular.

Exemplo: Dados dois corpos em MHS cujas funções de posição são:

G 2 0‰F$2d=( [SI]

, 3 0‰F$d - d=( [SI]


Determine qual possui o menor período de oscilação e qual é esse período.

Obs: A indicação [SI] significa que todas as unidades apresentadas estão no SI,
o sistema internacional de unidades.

Solução: Comparando com a expressão da posição de um MHS, determinamos


que VG 2d rad/s e V, 1d rad/s, pois estão multiplicando = . Assim, como
V 2d/Y, os períodos são:

2d
YG F 1F
2d
2d
Y, F 2F
d
Logo, o menor período é YG 1 s.

Ondulatória
Ondas são perturbações se propagando
em um meio, que pode ser material ou não.
As ondas transportam energia, sem
necessariamente transportar matéria.
Podemos classificá-las quanto à sua
natureza:

• Ondas mecânicas: são formadas


por energia cinética propagando-se Figura 4.4: Ondas mecânicas
por oscilações da matéria; transversais e longitudinais
propagando-se em uma mola.
• Ondas eletromagnéticas: são
campos eletromagnéticos

28
propagando-se pelo espaço na presença de material ou no vácuo.

Podemos ainda classificar as ondas quanto à sua forma:

• Ondas transversais: se propagam em uma direção perpendicular à


oscilação;
• Ondas longitudinais: se propagam na mesma direção de oscilação.

A seguir, veremos alguns dos fenômenos observados na propagação de ondas.

Interferência
A interação entre duas ondas chama-
se interferência. Porém, as ondas
atravessam umas às outras. Os
efeitos da interferência são notáveis
onde elas se sobrepõem, somando-se
a oscilação no meio de propagação.

Reflexão Figura 4.5: Interferência construtiva e


destrutiva de ondas.
Quando uma onda encontra um
obstáculo, ela pode sofrer uma
reflexão. Para o caso de uma onda
transversal se propagando em uma
corda, o comportamento da reflexão
vai depender de como a extremidade
está presa no obstáculo conforme a
Figura 4.6.
Figura 4.6: Reflexão de ondas com
Transmissão extremidade livre e com extremidade fixa.
Quando uma onda encontra uma
fronteira entre dois meios diferentes
ocorre uma transmissão e uma reflexão.
Por vezes chamada refração, o
comportamento desse fenômeno vai
depender da velocidade de propagação
da onda nos meios envolvidos conforme
a Figura 4.7. Ainda nessa figura
podemos observar outro fenômeno
importante:

Velocidade de propagação
A velocidade de propagação de uma
onda depende do meio em que ela se
propaga. Para ondas mecânicas, quanto
mais rígido e menos denso for o meio,
mais rápido a onda se propaga. Em
Figura 4.7: Refração de ondas transmitindo-se
29
entre meios com diferentes velocidades de
propagação.
geral, apesar da densidade de sólidos serem maiores que de líquidos (que são
maiores que de gases), a rigidez é ainda maior, então podemos falar que na
maior parte dos casos:

Œsólido x Œlíquido x Œgás

Ondas periódicas
Uma onda periódica, como o nome diz,
tem formas que se repetem
periodicamente. Com isso, podemos falar
sobre o período Y dessas ondas, que é o
tempo que leva para que a forma torne a
se repetir, e ainda podemos falar sobre
um comprimento de onda Ž , que é a
distância entre dois pontos repetidos da
onda. Ambos o período e o comprimento
de onda estão intimamente relacionados Figura 4.8: Em ondas periódicas, há
uma forma que se repete.
com a velocidade de propagação dessa
onda através da seguinte relação:

Ž Y
Ainda é comum utilizar a frequência Z no lugar do período, sendo a relação
mais conhecida:

ŽZ
Exemplo: Temos um gerador de ondas que produz ondas sempre com a
mesma frequência Z. Em um meio cuja velocidade de propagação de ondas é
7 , a onda produzida tem comprimento de onda Ž7 . Se colocarmos esse
gerador em um meio com menor velocidade de propagação : , o comprimento
de onda produzido Ž: será maior, menor ou igual?

Solução: Da expressão ŽZ, como Z é constante, temos:

7 :
Z constante ⇒
Ž Ž7 Ž:
Na expressão acima, podemos ver que se : é menor que 7 , então Ž:
também tem que ser menor que 7 para manter a fração constante.

Ondas estacionárias
As ondas estacionárias são
formadas por uma superposição
de ondas se propagando em

30 Figura 4.9: Onda estacionária.


sentidos opostos em uma linha de transmissão. Podemos identificar alguns
pontos em destaque que terão suas posições fixas: os nodos e anti-nodos,
como ilustrados na Figura 4.9. As ondas estacionárias ocorrem somente em
uma frequência específica e de seus múltiplos, que depende do comprimento e
da velocidade de propagação do meio de transmissão. A menor frequência que
forma uma onda estacionária chama-se frequência fundamental, e seus
múltiplos chamam-se harmônicos.

No caso de vibrações propagando-se em cordas, podemos observar o


fenômeno das vibrações sonoras, que percebemos como som.

Som
O que percebemos
como som são
oscilações na
pressão do ar, que
detectamos através
de vibrações no
tímpano.

Podemos classificar
sons quanto à sua
altura, intensidade e
timbre.

Na física, a altura é
a qualidade que
depende da
frequência.
Coloquialmente, Figura 4.10: As regiões com mais moléculas de ar possuem
utilizamos o termo pressão mais alta.

“altura” para nos referirmos à


intensidade, porém do ponto de
vista da física, altura indica o
“tom” do som. Quanto maior a
frequência, mais alto o som. Nós
percebemos sons mais altos
como sons mais agudos.

A intensidade é o que
coloquialmente nos referimos
como “altura” ou “volume”. A
característica da onda que
Figura 4.11: Formas de onda de diferentes influencia a intensidade é a
timbres.

31
amplitude da onda. Quanto maior for a variação de pressão causada pelas
ondas, maior será essa intensidade.

Por fim, o timbre do som depende da forma da onda. Na Figura 4.8 podemos
ver duas ondas diferentes. Elas poderiam ter a mesma amplitude e a mesma
frequência, porém como suas formas são diferentes, perceberíamos os sons de
formas distintas. A Figura 4.11 apresenta mais exemplos de timbres.

Frentes de onda
Para um estudo geométrico da
propagação de ondas, utilizamos o
conceito de frentes de onda. Uma frente
de onda engloba os pontos de uma onda
que estejam em fase e mesma distância
da fonte. Note que na representação de
frentes de ondas, a distância entre uma
linha e outra é o comprimento de onda.

Figura 4.12: Representação de frentes


de onda.

Efeito Doppler
O efeito Doppler ocorre quando
uma fonte de ondas se move. Um
receptor à frente da fonte irá
Figura 4.13: Efeito Doppler agindo sobre o
som de uma ambulância. perceber ondas com maior
frequência, enquanto que um
receptor atrás irá perceber ondas com menor frequência.

O efeito Doppler também ocorre em ondas eletromagnéticas, ou seja, podemos


medir a velocidade relativa de outros corpos celestes verificando as
frequências das ondas eletromagnéticas que captamos. Em particular, quando
uma estrela está se afastando, ela tende a ficar mais vermelha, enquanto que
fica mais azul quando se aproxima.

Onda de choque
Quando a fonte se movimenta com
velocidade maior ou igual a velocidade
de propagação das ondas no meio em
questão (chamada velocidade Mach),
ocorre a formação de uma onda de
choque. Note que uma fonte com

32 Figura 4.14: Quando a velocidade da fonte


ultrapassa a velocidade de propagação da onda
ocorre a formação de uma onda de choque.
velocidade acima de 1 Mach irá passar
pelo receptor antes de ser ouvido.

Difração
A difração é o fenômeno em que as
ondas contornam uma barreira. Ao
atravessar a barreira, as ondas tem
uma leve tendência a fazer a curva
para acompanhar a barreira, mas a
intensidade desse fenômeno depende
da relação entre o comprimento de Figura 4.15: Diferentes casos de
difração.
onda e o tamanho da barreira como
vemos na Figura 4.15.

De modo geral, as ondas conseguem interagir com mais facilidade com objetos
de tamanhos similares ao seu comprimento de onda.

Exemplo: Uma fonte sonora produz sons graves e agudos no quintal de uma
casa. Qual destes sons é mais facilmente percebido por um ouvinte passando
por trás do muro da casa?

Solução: Os sons graves tem um comprimento de onda maior, portanto sofrem


mais difração. Ao sofrer mais difração, o som vai fazer a “curva” por cima do
muro até atingir o ouvinte do outro lado do muro. Já os sons mais agudos vão
desviar menos, tendo menor capacidade de contornar o muro.

Padrões de interferência
Outro fenômeno que pode ser estudado
com mais facilidade utilizando as frentes
de onda é a formação de padrões de
interferência. Quando duas fontes de
ondas senoidais são colocados a uma
pequena distância, podemos observar a
formação de regiões onde não
Figura 4.16: Padrões de interferência observamos movimento (anti-nodos) e
no experimento da fenda dupla.
regiões que oscilam com mais amplitude
do que as fontes produzem (nodos).

Luz
Este fenômeno pode ser utilizado para demonstrar a natureza ondulatória da
luz. Caso a luz não fosse uma onda e sim partículas, ao atravessarem duas
fendas como no experimento da Figura 4.16, veríamos no anteparo somente
duas linhas, que não foi o caso. Este experimento ficou conhecido como
“experimento de Young“, provando que a luz é uma onda eletromagnética.
33
Fótons
Apesar da luz ser uma onda, ela não é
como uma corda vibrante propagando
ondas senoidais. As ondas de luz
viajam em pacotes de onda, aos quais
chamamos fótons. Essas ondas
possuem comprimento de onda, e
podemos ver com mais facilidade a Figura 4.17: Um pacote de onda
eletromagnética, conhecido como fóton.
velocidade da onda.

Apesar de coneguirmos detectar bem a luz com nossos olhos (conseguimos


até enxergar estrelas a milhares de anos-luz!), a luz visível compõe apenas um
pequeno pedaço do espectro de ondas eletromagnéticas. A única diferença
entre o sinal do seu roteador e a luz emitida pela sua lâmpada é a frequência
das ondas emitidas. Outro nome comum para ondas eletromagnéticas é
radiação eletromagnética.

Polarização
A radiação eletromagnética é uma onda transversal, portanto, podemos
identificar uma direção de oscilação que é perpendicular à direção de
propagação. Existem filtros que permitem a passagem de luz que oscile em
uma direção específica, que são os chamados filtros polarizadores, ou somente
polarizador. A luz filtrada chamamos de luz polarizada.

Figura 4.18: A luz visível é apenas uma faixa de frequências no espectro de radiação
eletromagnética.

34
Uma luz passando em rasante
por uma superfície e sendo
refletida estará polarizada
paralelamente ao plano de
reflexão, conforme a Figura
Figura 4.19: Polarização por reflexão.
4.19.

Exemplo: Uma das fotos na


Figura 4.20 foi feita com um
filtro de polarização e outra
feita sem filtro algum. Qual é
qual?

Solução: A luz do céu que é


refletida na superfície da água
vai estar polarizada
paralelamente à superfície da
água (horizontalmente).

Então, utilizando um filtro Figura 4.20: Fotos realizadas com filtro e sem filtro de
vertical, essa reflexão na polarização.
superfície da água será
bloqueada, facilitando a visualização dos objetos submersos. Portanto, a foto
da esquerda foi feita sem filtro polarizador e a foto da direita foi feita com um
filtro polarizador na vertical.

Refração da luz
Assim como na propagação
de ondas em cordas vibrantes,
a luz está sujeita à refração
quando passa de um meio de
transmissão para outro, ou
seja, ela tem velocidades
diferentes em meios
diferentes. Quando uma onda
refrata, ela preserva sua
frequência. Em particular, os Figura 4.21: A luz é refratada quando passa do ar
para a água.
efeitos da refração são
interessantes quando a luz é incidida com um certo ângulo em relação à
interface. Para estudar numericamente os efeitos da refração, é mais
conveniente utilizamos os raios de onda no lugar das frentes de onda. Os raios
de onda ligam perpendicularmente as frentes de onda e apontam no sentido da
propagação. Na Figura 4.21 são indicadas pelas setas em preto.

35
Lei de Snell-Descartes
A Lei de Snell-Descartes nos indica como as
ondas se desviam ao atravessar uma interface:

F•• UG G
F•• U, ,

Ou seja, a lei diz que a razão entre os ângulos de


incidência e de refração é igual à razão entre as
velocidades das ondas nos meios.

Para quantificar esses desvios, foi conveniente


para os físicos adotar o índice de refração •, que
indica quantas vezes a velocidade da luz no vácuo
0 é maior do que no meio:
0 Figura 4.22: Passando do
0 • ⇒ • ar para a água, o ângulo
em relação à normal
diminui.
Para a luz, a Lei de
Snell-Descartes pode
ser formulada à partir
dos índices de
refração:

Figura 4.23: Tabela de índices de refração de diferentes


materiais.

•G F•• UG •, F•• U,
O fenômeno da refração da luz também é o responsável pela formação de
miragens. Uma miragem nada mais é do que um “reflexo” do céu azul causado
pela diferença de índices de refração entre as camadas de ar a diferentes
temperaturas. Em um dia ensolarado, quanto mais próximo do chão, mais
quente é o ar, e o índice de refração do ar quente é menor, fazendo um efeito
como da Figura 4.24.

36
Figura 4.24: Efeito de reflexão causada por refração.

Curiosamente, o índice de refração


também muda com a frequência da onda
que está se propagando no meio, como
vemos na tabela da Figura 4.25. Com esta
informação, podemos explorar o
fenômeno da refração para separar a luz
de acordo com as frequências, que é o
caso de uma luz atravessando um prisma
e se decompondo (Figura 4.26).

Reflexão total
Pela Lei de Snell-Descartes, conforme se
aumenta o ângulo de incidência também
se aumenta o ângulo de refração. Porém, quando a luz está passando de um
meio de maior indice de refração para um de menor índice, chega um ponto em
que a luz refratada faria ângulos maiores
Figura 4.25: Índices de refração
do que 90° . Esse é o chamado ângulo dependem da frequência.
limite, a partir do qual a luz sofre reflexão
total. Este é o princípio das fibras óticas
para manter a luz presa dentro do fio até
que saia na outra extremidade.

Reflexões não ocorrem somente nestes


casos de refração. Uma luz que incide
sobre um material pode sofrer reflexão Figura 4.26: Decomposição da luz por
especular ou reflexão difusa, a depender um prisma por conta da refração.

da superfície refletora. Materiais lisos irão


refletir a luz de forma mais regular, como um espelho, por exemplo, que é a
reflexão especular. Quando a superfície é mais rugosa, os feixes de luz
refletidos acabam se espalhando nas mais diversas direções, caracterizando a
reflexão difusa.

37
Figura 4.27: Reflexão especular e difusa, respectivamente.

Absorção
Alguns materiais não refletem toda a luz, então a luz que não for refletida é
absorvida. Um objeto vermelho absorve as outras cores, exceto o vermelho.

Espelhos
Espelhos são superfícies lisas
feitas de forma a realizarem
reflexão especular. Neste tipo de
reflexão, o ângulo de reflexão é
o mesmo ângulo de incidência.

Seguindo essa lei de reflexão,


podemos tentar determinar para
onde cada raio de luz que parte
de um objeto e incide sobre o Figura 4.28: Para analisarmos a imagem de um
objeto em um espelho, devemos analisar de onde
espelho parecem partir. Para os raios de luz que recebemos parecem partir.
isto, desenhamos os
prolongamentos dos raios refletidos. O ponto de convergência desses raios nos
mostra a imagem do objeto.

Para espelhos planos, é suficiente seguirmos a lei da reflexão, comparando


sempre o ângulo de incidência com o ângulo de reflexão.

Espelhos esféricos
Os espelhos esféricos, como o
nome sugere, são formados a partir
de superfícies esféricas espelhadas.
Mais especificamente de calotas
esféricas. Caso utilizemos a parte
externa, chamamos de espelho
convexo, e caso utilizemos a parte
Figura 4.29: Espelhos esféricos são formados interna chamamos de espelho
por uma calota esférica. côncavo.

Os espelhos esféricos seguem as


leis de reflexão de espelhos planos.
Além disso, se o ângulo de abertura

38

Figura 4.30: Determinando a imagem de um


espelho convexo.
do espelho for menor que 10° e que os raios de luz incidem paralelos ou com
pequena inclinação em relação ao eixo principal, chamamos estes espelhos de
espelhos esféricos de Gauss. Espelhos com estas condições seguem
propriedades bastante úteis para definirmos as imagens formadas por eles. Por
exemplo, foi observado que feixes paralelos refletem de forma que os
prolongamentos concentram-se em um único ponto, chamado de foco principal.
Este foco está sempre exatamente no meio do caminho entre a superfície
refletora e o centro de curvatura.

Espelhos convexos
Nos espelhos convexos (Figura 4.30), a imagem formada está sempre por trás
do espelho. Isto é, para quem observa a luz que sai do espelho, é como se
estivessem partindo de um ponto de trás do espelho. Esse tipo de imagem
chamamos de imagem virtual. Os espelhos convexos vão sempre produzir
imagens virtuais e menores que o objeto original.

Espelhos côncavos
Os espelhos côncavos são um
pouco mais complexos do que
os espelhos convexos, apesar
de sua similaridade. Essa
diferença vem das possíveis
imagens formadas por espelhos
côncavos.

Quando o objeto é posicionado Figura 4.31: Imagem produzida por um espelho


côncavo.
entre o foco e o espelho, a
imagem formada é virtual e maior do que o objeto original. Os espelhos de
maquiagem utilizam estes espelhos para produzir uma imagem aumentada.

Porém, quando o objeto é posicionado


exatamente sobre o foco como na
Figura 4.32, os raios de luz não
produzem uma imagem do objeto, pois
estarão sendo refletidos paralelamente,
não havendo um ponto de interseção.
Assim, chamamos essa imagem de
imprópria.

Já no caso da Figura 4.33 onde o objeto


é posicionado depois do foco, os raios Figura 4.32: Objeto no foco forma
refletidos se interceptam fora do imagem imprópria.
espelho. Ou seja, para um
observador, os raios de luz
parecem ter partido de algo fora

39

Figura 4.33: Objeto atrás do foco produz


imagem real.
do espelho, que é a imagem real. Note que a imagem também é invertida, ou
seja, parecerá de ponta-cabeça. O tamanho da imagem vai depender da
posição do objeto em relação ao centro de curvatura, sendo maior quando
estiver entre o foco e o centro, igual quando estiver exatamente sobre o centro,
e menor quando estiver depois do centro.

Em resumo, os tipos de imagens formadas por espelhos são:

• Espelhos planos: imagem virtual; do mesmo tamanho; e não-invertido.


• Espelhos convexos: imagem virtual; menor; e não-invertido.
• Espelhos côncavos: imagem virtual, real ou imprópria; maior se for
virtual, e depende da posição se for real; não-invertido se for virtual e
invertido se for real.

Intensidade luminosa
A luz de uma fonte puntual
que se espalha no espaço fica
mais fraca quanto mais longe
da fonte. Podemos comparar
a intensidade luminosa com a
quantidade de “raios de luz”
por área, como na Figura
4.34. Consequentemente,
podemos perceber que um
feixe de luz com raios Figura 4.34: Intensidade luminosa de uma fonte
paralelos não dissipa com a puntual decai com a distância.
distância (como os lasers),
pois os “raios de luz” por unidade de área serão constantes.

Lentes
Lentes delgadas esféricas comportam-se
similarmente aos espelhos esféricos. Porém,
em vez de refletir a luz para o mesmo lado de
incidência, os raios refratam atravessando a
lente. Em vez de classificá-los como lentes
côncavas ou convexas, costumeiramente
classificamos quanto ao seu efeito sobre
feixes de luz. Se um feixe de luz paralelo é
concentrado em um ponto ao atravessar a
lente, chamamos de lente convergente, e se o
feixe é espalhado, chamamos de lente
divergente.

40
Figura 4.35: Lente convergente e Assim como nos espelhos, os feixes paralelos concentram-
divergente, respectivamente. se no foco. A imagem das lentes divergentes são sempre
virtuais e menores do que o objeto. As imagens das lentes
convergentes, assim como dos espelhos côncavos, vão depender de onde o
objeto está posicionado em relação ao foco. Exatamente como na análise do
espelho côncavo. Por exemplo, no espelho côncavo, se o objeto estiver entre o
espelho e o foco, a imagem é virtual, aumentada, e não-invertida. Que é o
espelho de maquiagem quando utilizado corretamente.

Dioptria
O grau de uma lente é dado em dioptrias, que é o inverso da distância focal. A
unidade da dioptria é mBG .

Exemplo: Na Figura 4.35 abaixo, determine qual das duas lentes possui um
grau maior, considerando que lente da esquerda possui uma distância focal
ZG x Z, .

Figura 4.36: Duas lentes convergentes com diferentes dioptrias.

Solução: Uma maior distância focal indica menor grau. Logo, a lente da direita
possui maior grau.

Exemplo: Você se encontra numa ilha deserta após um desastre e precisa


acender uma fogueira para sinalizar sua posição. Então você lembra que a luz
do Sol pode ser considerado um feixe paralelo, e também lembra que estava
carregando várias lentes diferentes. Qual você vai escolher para ajudar a
acender uma fogueira?

Solução: Para acender uma fogueira você pode concentrar todo o calor que
incide sobre a área da lente em um ponto bem pequeno, assim esse ponto irá
aquecer muito rápido, podendo fazer fogo. Assim, escolhemos uma lente
convergente.

41
5. Mecânica dos fluidos

Fluidos
São materiais que sofrem deformação com qualquer tensão aplicada. Por conta
disso, eles têm capacidade de fluir. Isto é, se conformam ao recipiente que os
contêm. Alguns exemplos de fluidos são líquidos e gases. A diferença entre os
dois é que líquido não altera seu volume ao mudar de recipiente e possui maior
densidade que gases. Por outro lado, gases mudam seu volume para
conformar ao recipiente e possuem menor densidade.

Densidade
A densidade representa a massa por unidade de volume de um corpo.
Matematicamente:

1
Œ
A unidade padrão de densidade é de kg/m‘ .

Exemplo: O que pesa mais, 1 kg de aço ou 1 kg de penas?

Solução: Como ambos possuem a mesma massa e o peso é simplesmente a


massa multiplicada pela aceleração gravitacional, que é mesma também, então
ambos pesam igual.

Apesar de possuírem a mesma massa/peso, o aço possui uma densidade


maior que as penas, necessitando de um volume significativamente menor para
atingir a mesma massa. Isso acaba influenciando em outros fenômenos. Por
exemplo, o quilograma de aço afunda quando colocado na água, e
provavelmente o quilograma de penas iria flutuar.

Princípio de Arquimedes
Um fluido sob um campo gravitacional
exerce uma força sobre corpos imersos
no sentido oposto do campo. Essa força
chamamos de empuxo, cuja magnitude é
igual ao peso do volume do fluido
deslocado.

Exemplo: Em qual das duas situações a


tábua de cortiça irá afundar mais? Figura 5.1: Ilustração para o exercício.

42
a) Apoiando a pedra sobre a tábua?
b) Amarrando a pedra sob a tábua?

Solução: A força peso do sistema vai se equilibrar com o empuxo total do


sistema. Ambas as forças devem ser constantes. Se a pedra estiver submersa,
há um empuxo sobre o sistema devido ao volume de água deslocado pela
pedra. Se a pedra estiver sobre a tábua, todo o empuxo será devido ao volume
de água deslocado pela tábua. O que significa que a tábua afundou mais.
Portanto, letra a).

Obs.: O empuxo é válido para qualquer fluido, inclusive gases. Os balões de


hélio flutuam por serem menos densos que o ar atmosférico que respiramos.
Isso possibilita tecnologias como dirigíveis.

Massa específica
Apesar de representarem basicamente a mesma coisa, há uma diferença entre
massa específica e densidade. A massa específica é a massa por unidade de
volume de uma substância. Densidade é a massa por unidade de volume de
um corpo. Portanto, quando avaliamos se um objeto irá afundar ou flutuar em
um fluido, olhamos para a densidade, e não para a massa específica. Essa
diferença fica evidente quando observamos que um corpo de aço — que possui
massa específica maior que da água — consegue flutuar na água dependendo
de seu formato, como um navio de aço, por exemplo, que terá densidade
menor que da água.

Pressão
A pressão é dada pela força por
unidade de área. Pode-se pensar na
pressão como “concentração da força”,
no sentido de que uma força aplicada
sobre uma área menor estaria mais
“concentrada”. A resistência de
materiais está mais relacionada à
pressão do que à força. Por isso é mais
fácil cortar objetos com facas afiadas

do que com facas cegas. Um fluido Figura 5.2: Pressão interna de um gás é
conta com uma pressão interna que dado pelas forças que as moléculas
exercem sobre as paredes.
quantifica a força média com que as
moléculas empurram o ambiente à sua
volta.

A expressão da pressão é:

43
l
v
5
A unidade padrão de pressão é o Pa (pascal) que representa uma força de 1 N
sendo aplicado em uma área de 1 m, .

Pressão atmosférica
A pressão atmosférica é a pressão que as partículas da atmosférica exercem
sobre as coisas na superfície terrestre. Podemos dizer que a pressão é
causada pela coluna de ar agindo sobre os objetos.

Quando maior for essa coluna,


maior será a pressão sentida. No
nível do mar essa altura é a maior,
que é a medida padrão de pressão
atmosférica, cujo valor é
aproximadamente v•D? 1,01 ⋅
}
10 Pa. Da mesma maneira, quanto
mais elevado o local, menor será a

pressão atmosférica desse local. Figura 5.3: Pressão atmosférica.

Pressão de coluna líquida


A pressão exercida na base de uma coluna de um líquido de densidade 1 é:

v 1Oℎ
Com isso, podemos observar que a
pressão depende somente da altura da
coluna, da densidade e da aceleração
gravitacional. Ou seja, a pressão é
constante na direção perpendicular do
campo gravitacional para um fluido
homogêneo.

Experiência de Torricelli
Figura 5.4: A pressão aumenta com o Torricelli constatou que ao virar um tubo
aumento da coluna líquida. Ou seja, comprido preenchido totalmente com
quanto mais profundo, maior a pressão.
mercúrio sobre
uma bacia
conforme a Figura 5.5, a altura da coluna de
mercúrio sempre descia até uma certa altura fixa.

Ele então constatou que a pressão dessa coluna de


mercúrio se iguala à pressão atmosférica, que é a
que sustenta essa altura fixa. A altura medida por
Torricelli foi de aproximadamente 76 cm 760 mm.

44

Figura 5.5: Experiência de


Torricelli.
Assim, podemos usar essa medição com coluna de mercúrio como unidade de
medida. 1 mmHg 1 Torr, que é a pressão de uma coluna de mercúrio de
altura 1 mm.

Princípio de Pascal
Qualquer mudança de pressão imposta sobre o fluido é transmitida a todos os
pontos do fluido. Este princípio é o que permite o funcionamento de dispositivos
como a prensa hidráulica (Figura
5.6).

Seu funcionamento se baseia no


fato de que a pressão exercida no
êmbolo da esquerda irá transmitir-
se para o êmbolo da direita. Para
exercer essa pressão v no
êmbolo da esquerda de área 5 é
exercida uma força l . Como a
pressão transmitida é a mesma,
porém a área do êmbolo 5′ é Figura 5.6: Princípio da prensa hidráulica.
diferente, então a força
transmitida é diferente também, igual à força l multiplicada pela razão 5• /5.

Escoamento
O movimento de fluidos é uma das áreas mais importantes na engenharia.
Porém, o custo computacional de se resolver problemas envolvendo fluidos é
muito grande por envolver muitas partículas e que interagem entre si de formas
complexas. Para estudar escoamentos devemos escolher as aproximações
apropriadas.

Escoamento é um fluxo de fluido.


Podemos estudar esse escoamento pelas
trajetórias das partículas que compõem
um fluido. Quando bem comportado, ou
seja, quando as trajetórias são bem
definidas e paralelas entre si, o
escoamento encontra-se em regime
laminar, permitindo um estudo mais
simples. Caso contrário, quando as
trajetórias são irregulares formando uma Figura 5.7: Diferentes regimes de
série de vórtices, o escoamento encontra- escoamento.
se em regime turbulento.

45
Tunel de vento
Um tunel de vento é uma instalação que permite estudar o escoamento de
fluidos. É bastante utilizado para análise da aerodinâmica de veículos ou
mesmo de turbinas. Nele, pode-se estudar os mais diferentes tipos de
escoamento.

Escoamento de fluido ideal


Para que o escoamento de um fluido seja considerado ideal, deve possuir as
seguintes características: O fluido deve ser não viscoso e incompressível, e o
escoamento deve ser irrotacional e estacionário. Um fluido não viscoso não
possui um “atrito interno” entre suas partículas, fluindo sem dificuldades; um
fluido incompressível não muda seu volume ao ser comprimido; um
escoamento irrotacional é um que não produz rotação sobre um corpo sendo
levado pelo escoamento; e um escoamento estacionário é tal que “fotografias”
desse escoamento em diferentes instantes de tempo gerarão sempre a mesma
imagem.

Leis de escoamento
Para os estudos de escoamento discutidos nesse curso, considera-se sempre
escoamentode fluido ideal.

Uma das principais grandezas de escoamentos é a vazão do fluido.

Vazão
A vazão quantifica o volume de fluido transportado por intervalo de tempo.
Geralmente é medido em m‘ /s , ou l/s.

A expressão que relaciona a vazão


– com a velocidade de escoamento do
fluido e a área da seção transversal da
tubulação é:

– 5 Figura 5.8: Escoamento de fluido ideal.

Ou seja, quanto maior a velocidade do


fluido na tubulação, maior a vazão. Da mesma forma, quanto maior a área da
seção transversal 5 da tubulação, maior a vazão.

Lei da continuidade
A lei da continuidade
em escoamentos diz
que a vazão em
qualquer seção de
uma tubulação
fechada é constante.

46 Figura 5.9: Escoamento em tubulação com variação de seção


transversal,
Essa lei parte do princípio que a quantidade de fluido que entra por um lado
deve ser a mesma quantidade de fluido que sai do outro.

Ou seja, para duas regiões da tubulação com velocidades de escoamento G e


, , e áreas de seção transversal 5G e 5, , temos:

–G G 5G , 5, –,
Ou seja, para que a vazão seja constante,
ao aumentar a área da seção transversal da
tubulação é necessário diminuir a velocidade
de escoamento. Por isso, quando
observamos um filete de água sob ação da
gravidade, sua velocidade de escoamento
vai aumentando conforme cai, assim a área
da seção transversal do filete deve diminuir
para manter a vazão.

Note que a lei da continuidade, na realidade, Figura 5.10: Perfil de um filete de


dita que a matéria não se cria nem se água sob ação da gravidade.
destrói. Ou seja, que o fluxo de massa é
constante no tubo. Para um fluido incompressível, se a massa é constante o
volume também é constante.

Efeito Coanda
O engenheiro aeronáutico Henri Coandă constatou que os
fluidos tem uma tendência de se agarrar a uma superfície
curvada. Esse efeito ficou conhecido como efeito Coanda
e cumpre um papel fundamental na aeronáutica, pois ao
acompanhar a superfície curvada, o fluido ganha
velocidade, o que combinado ao efeito Venturi permite o
voo dos aviões.

Efeito Venturi
Também é conhecido como “Teorema de Bernoulli” por
decorrer de resultados da equação de Bernoulli, que Figura 5.11: Efeito
descreve a Coanda faz com que
o filete de água se
conservação agarre à colher.
de energia
em um escoamento.

Seu principal efeito é dividir a


pressão total em uma pressão
estática e uma dinâmica. A
equação de Bernoulli dita que a
Figura 5.12: O efeito Venturi descreve a sustentação pressão total é constante, então
gerada pelo formato da asa de uma aeronave.

47
aumentando-se a pressão dinâmica, há uma redução na pressão estática. O
efeito Coanda faz com que o escoamento de fluido na parte superior da asa de
um avião seja mais rápido, o que cria uma redução na pressão estática de cima
para baixo. Assim, essa diferença de pressão estática é o que cria a
sustentação da aeronave.

Este é o mesmo efeito que permite o funcionamento de pistolas de tinta com ar


pressurizado, permite a medição de velocidades de escoamento dentro de
tubulações fechadas, e causa o destelhamento de casas por ventos fortes.

Equação de Bernoulli
A equação de Bernoulli é dada por:

1 ,
v - 1Oℎ - constante
2
onde v é a pressão interna do fluido, 1Oℎ
é a pressão por conta da força
gravitacional, e 1 , /2 é a pressão
dinâmica, proporcional à velocidade do
escoamento (1 é a densidade do fluido).
A soma dos dois primeiros termos v -
1Oℎ é a pressão estática, que independe
da velocidade de escoamento.

O tubo de Venturi (Figura 5.13) é um Figura 5.13: Tubo de Venturi.


dispositivo que explora essa diferença
entre pressão estática e dinâmica para medir a
velocidade de escoamento.

Teorema de Torricelli
Podemos ainda aplicar o teorema de Torricelli para
calcular a velocidade com que um fluido escoa
através de orifícios em um recipiente com líquido. O
resultado é uma consequência de se aplicar a
equação de Bernoulli sobre as regiões em vermelho e
em amarelo da Figura 5.14. Constatou-se que a
velocidade do fluido segue a expressão:

Figura 5.14: Teorema de S2Oℎ


Torricelli para
escoamento. Ou seja, depende somente da altura da coluna líquida
acima do orifício e da aceleração gravitacional.

Tubo de Pitot

48
Finalmente, combinando os efeitos citados acima, possível desenvolver o
dispositivo chamado tubo de Pitot, cujo efeito é medir a velocidade de um
escoamento de fluido.

Seu funcionamento se baseia na medição


da pressão estática através de aberturas
laterais no tubo e na medição da pressão
total através de um orifício central
apontado contra o escoamento.
Reduzindo a equação de Bernoulli para:

vestática - vdinâmica vtotal


Ao medir a pressão estática e a total,
podemos determinar a velocidade do
escoamento:

1 ,
vdinâmica vtotal 2 vestática
2
Por isso, dizemos que o tubo de Pitot é o Figura 5.15: O tubo de Pitot mede a
velocidade de escoamento do fluido
velocímetro das aeronaves. externo ao avião.

6. Termologia

A termologia é o estudo de fenômenos térmicos como calor, temperatura,


dilatação, energia térmica, etc.

Temperatura
A temperatura é uma grandeza escalar de
materiais que é proporcional a energia cinética
média das partículas de um sistema.

Dois sistemas com diferentes temperaturas em


contato vão apresentar um fluxo de calor do meio
mais quente para o meio mais frio até que atinjam o
equilíbrio térmico. Corpos em equilíbrio térmico
possuem a mesma temperatura.

Escalas de temperatura
Figura 6.1: As partículas de A temperatura é uma grandeza absoluta, isto é,
um sistema com maior existe um zero absoluto. Alguns fenômenos físicos
temperatura possuem, em
média, mais energia cinética. ocorrem em temperaturas muito bem definidas. As
escalas mais utilizadas são Celsius (ºC) e
Fahrenheit (ºF) no dia a dia e Kelvin (K) nos estudos de fenômenos físicos.

49
A escala Celsius começa em 0°C na temperatura de fusão do gelo e atinge
100°C na temperatura de ebulição da água. A escala Fahrenheit começa em
0°F na temperatura de fusão da mistura gelo+sal e atinge 100°F na temperatura
de febre. Por fim, a escala Kelvin começa em 0 K no zero absoluto (2273,15 °C)

e avança na mesma escala do Celsius (isto é, uma diferença de 1°C é igual a


uma diferença de 1 K).

A conversão da escala Celsius para Fahrenheit é:

graus em °F 2 32
graus em °C
1,8
E a conversão de Celsius para Kelvin é simplesmente:

graus em °C graus em K - 273,15

Calor
Calor é a energia térmica transferida de um corpo para outro, que só ocorre
quando há diferença de temperatura.

Alguns materiais precisam absorver mais energia térmica para uma mesma
variação de temperatura. Isso é quantificado pelo calor específico do material.

Calor específico
A quantidade de calor necessária para aquecer uma certa massa de uma
substância em 1 °C chamamos de calor específico. Assim, podemos ver
também que quanto mais massa queremos aquecer é necessário mais calor.
Da mesma forma que quanto mais queremos aumentar a temperatura, mais
calor é necessário. Essas propriedades se resumem na equação fundamental
da calorimetria:

– 0IY
onde – é o calor fornecido (ou retirado), é a massa do corpo, 0 é o calor
específico do material e ΔY é a variação de temperatura causada pelo calor –.
Note que o sinal do calor acompanha o sinal da variação de temperatura.
Quando ΔY é negativo, o corpo resfriou, consequentemente – é negativo
também, que indica que foi retirado calor do corpo.

O calor específico da água é definido como:

cal J
0água 1 4,18
g°C g°C

50
Ou seja, é necessário 1 cal (caloria) de energia para aquecer 1 g de água em
1 °C. Mais tarde, foi determinado que o equivalente da caloria em J é 1 cal
4,18 J.

A tabela da Figura 6.2 fornece os valores


de calor específico de diferentes materiais.

Exemplo: Ao fornecer uma mesma


quantidade de energia térmica para duas
colheres de mesma massa porém uma de
alumínio e outra de prata, qual das
colheres estará com maior temperatura?

Solução: De acordo com a tabela, a colher


de prata possui um menor calor
específico, que significa que ela necessita
de menos calor para aumentar sua Figura 6.2: Tabela de calores
específicos.
temperatura. Logo, a colher de prata irá
apresentar a maior temperatura.

Condutividade térmica
Os materiais conduzem calor com diferentes fluxos. Isto é, alguns materiais
propagam calor mais rapidamente que outros. A propriedade do material que
dita quão rapidamente ele transporta calor é chamada condutividade térmica.
Com os experimentos, os cientistas determinaram que o fluxo de calor depende
da condutividade térmica e da diferença de temperatura. Ou seja, para um
mesmo par de materiais, se a diferença de temperatura entre eles for maior, o
fluxo de calor entre os materiais é maior também.

Exemplo: Compare o tempo que uma xícara de café leva para resfriar de 90 °C
até 60 °C e entre 60 °C e 30 °C.

Solução: A xícara de café perde calor por estar em contato com o ambiente
externo. Supondo que o ambiente esteja a 20 °C, a diferença de temperatura
entre o café e o ambiente é maior que 40 °C no primeiro intervalo. No segundo
intervalo, a diferença entre a temperatura do café e do ambiente é menor que
40 °C. Logo, o fluxo de calor no segundo intervalo é menor, levando mais tempo
para perder uma mesma temperatura.

Curiosamente, nossos sentidos percebem o fluxo de calor, e não temperatura.


Isso faz com que nós percebemos objetos que estão de fato com a mesma
temperatura como se estivessem a temperaturas diferentes.

Exemplo: A condutividade térmica da madeira é menor que do ferro. Têm-se


duas colheres, uma de madeira e uma de ferro, ambas a uma mesma
temperatura. Como nós comparamos a sensação térmica ao tocar as colheres
com nossas mãos?
51
Solução: Se nossas mãos estão mais quentes que as colheres, então o fluxo
de calor será da mão para a colher, então perceberemos uma sensação de frio.
O fluxo de calor entre a mão e a colher de ferro é maior que que o fluxo de
calor entre a mão e a colher de madeira. Logo, nossa sensação é a de que a
colher de ferro está mais fria que a colher de madeira.

Caso a temperatura das colheres seja maior que a temperatura das nossas
mãos, então nossa sensação é a de que a colher de ferro está mais quente que
a de madeira.

Propagação de calor
A propagação de calor pode se
dar por três modos:

• Condução: Transfere
somente energia através
do contato direto entre os
corpos
• Convecção: Ocorre por
movimento de fluidos,
transferindo energia e
matéria Figura 6.3: Formas de propagação de calor.
• Radiação: Ocorre por
emissão e absorção de radiação eletromagnética. É a única que se
propaga pelo vácuo

Comportamento dos gases


Os gases tem suas propriedades bastante influenciadas pela sua temperatura,
ocasionando variações de pressão e volume, por exemplo.

O estudo de sistemas gasosos é relativamente complexo devido ao enorme


número de partículas que o compõe. Para podermos estudar os fenômenos
macroscópicos de gases, criamos o conceito dos gases ideais.

Gases ideais
Um gás ideal segue a lei dos gases ideais, que foi formulada a partir de
diversas outras leis que descrevem comportamentos de gases perfeitos. A lei
dos gases ideais é:

vŒ •tY
que relaciona a pressão do gás v, seu volume Œ, a quantidade de moléculas do
gás em mol •, sua temperatura Y, e com uma constante t chamada constante
universal dos gases perfeitos. 1 mol de moléculas corresponde a
aproximadamente 6 L 10,‘ moléculas, que é a constante de Avogadro.

52
Uma forma alternativa da lei para se estudar sistemas isolados de gases ideais,
isto é, quando se estuda um gás dentro de um recipiente fechado é:


•t constante
Y
Exemplo: Colocando um gás em um recipiente fechado com volume
constante, o que acontece se resfriarmos o sistema?

Solução: Se o volume é constante, podemos dizer que:

v
constante
Y
Ou seja, diminuindo a temperatura, a pressão diminui.

Trabalho realizado por um gás


Quando gases se expandem,
podem realizar uma força e
empurrar outros corpos,
realizando trabalho. Note que o
gás somente realiza trabalho
quando seu volume muda.

Existem diversas situações em


que um gás pode se expandir e
realizar trabalho. Por exemplo, Figura 6.4: Um motor a combustão converte energia
um gás mantido a uma pressão química em térmica e então em cinética.
constante v irá expandir um
volume ΔŒ ao aumentar a temperatura, e o trabalho realizado por essa
expansão é:

• vIŒ
O fato de conseguirmos fazer gases realizarem trabalho simplesmente
controlando sua energia térmica possibilitou a construção de máquinas
térmicas. Esses dispositivos transformam
energia térmica em trabalho mecânico. Alguns
exemplos de máquinas térmicas são motores a
combustão e refrigeradores.

Dilatação térmica
Além dos gases, tanto líquidos quanto sólidos
também sofrem um aumento de volume ao
serem aquecidos. Constatou-se que o aumento
Figura 6.5: Junta de dilatação
da ponte Rio-Niteroi.
53
em tamanho é proporcional ao tamanho inicial, à variação de temperatura, e a
um coeficiente de dilatação que varia de material a material.

Podemos estudar essas dilatações de formas separadas para o comprimento


de um objeto, para uma superfície, e para um volume. Todas essas formas de
dilatação possuem a mesma expressão matemática, mudando somente o
coeficiente de dilatação. A expressão que quantifica o aumento de um
comprimento Δš de um objeto é:

Iš ›šIY
onde › é o coeficiente de dilatação linear, š é o comprimento inicial e ΔY é a
variação de temperatura.

Conhecer a dilatação de sólidos é particularmente importante na construção


civil. A Figura 6.5 mostra uma junta de dilatação da ponte Rio-Niteroi, que foi
projetada levando em consideração que em dias mais quentes a ponte se
dilataria, gerando grandes tensões internas caso ela não pudesse se expandir.
Em dias mais frios, a junta fica mais evidente pois os trechos se contraem.

Anomalia da água
A dilatação térmica ocorre em
sólidos e líquidos da mesma forma.
Porém, os coeficientes de dilatação
térmica não são necessariamente
constantes, isto é, podem assumir
diferentes valores para diferentes
situações.
Figura 6.6: A água contrai ao se aquecer entre
A água tem um comportamento 0 °C e œ °C., aumentando sua densidade.

anormal quanto à dependência de


seu volume pela sua temperatura. O esperado seria que, ao resfriar, a água
contraísse, aumentando sua densidade. Porém, entre as temperaturas 0 °C e
4 °C , seu comportamento é anômalo. Ao resfriar abaixo dos 4 °C , a água
expande, diminuindo sua densidade. Este fenômeno — combinado à baixa
condutividade térmica do gelo — ajuda a manter a temperatura de lagos nessa
faixa quando a temperatura ambiente atinge valores negativos.

Termodinâmica
A termodinâmica é o estudo de como a energia se movimenta e como ela afeta
características macroscópicas de sistemas físicos, como a pressão, volume,
temperatura. Além disso, estuda como essas características se relacionam com
a energia, isto é, estudamos o comportamento de máquinas térmicas.

1º princípio da termodinâmica

54
A energia se manifesta de várias formas. Cada uma dessas formas de energia
podem ser transformar nas outras. Este princípio também é conhecido como o
princípio da conservação de energia: a energia surge nem desaparece, sempre
se transforma.

Exemplo: Quais são as


transformações de energia em uma
usina hidrelétrica?

Solução: As barragens criam um


desnível de água, que armazena
energia potencial gravitacional, pois
as águas estão mais elevadas. Ao
abrir as comportas, essa energia
potencial se converte em energia
cinética, ganhando velocidade. Figura 6.7: Uma usina hidrelétrica retira
Então, essa água vai girar uma energia da natureza para transformar em
elergia elétrica.
turbina, que transforma essa energia
cinética em energia elétrica, que então é transmitida para consumo.

Outra forma deste princípio é o princípio fundamental da calorimetria: Para um


sistema isolado com vários corpos, a soma dos calores que fluem de cada um
dos corpos (positivo se recebeu e negativo se forneceu) é nula. Ou seja, toda
energia que um corpo ganha deve ter saído de outros corpos e vice-versa.

Estados físicos da matéria

A matéria pode se apresentar de diferentes formas na natureza: sólido, líquido,


gasoso e plasma. Líquidos e gases foram discutidos na seção de mecânica dos
fluidos; sólidos são materiais onde as partículas que os compõem estão em
posições fixas; e plasmas
são gases ionizados.

Calor latente

Os materiais podem sofrer


uma mudança de estado da
matéria quando algumas
condições são cumpridas. É
possível observar mudanças
de estado variando
condições como temperatura
e pressão, porém nos Figura 6.8: Transformações entre estados da matéria.
atemos às transições mais
simples, que observamos em nosso dia-a-dia. Nessas transições, podemos
observar que o sistema libera ou absorve uma quantidade fixa de energia para

55
uma certa massa. Esse calor por unidade de massa que é necessário para
realizar uma mudança de fase chama-se calor latente. Para substâncias puras,
a temperatura do sistema mantém-se constante até que toda a massa esteja
na nova fase.

Exemplo: Considere o sistema isolado água+gelo. O gelo estava inicialmente


a 0 °C e a água a 10 °C. Quando o sistema atingiu o equilíbrio térmico ainda
havia gelo no copo. Qual foi a temperatura de equilíbrio térmico?

Solução: Como o gelo está em processo de fusão, a temperatura do gelo se


manterá constante até que todo o gelo tenha virado água. Assim, como ainda
havia gelo na situação de equilíbrio térmico (isto é, todos os corpos à mesma
temperatura), então o sistema estava a 0 °C.

2º princípio da termodinâmica
Existe uma seta do tempo, isto é, existem processos que acontecem
espontaneamente e processos impossíveis de acontecerem espontaneamente.
Este princípio também pode ser enunciado da forma: a entropia de um sistema
fechado nunca diminui espontaneamente. Nesse caso, a entropia é uma
grandeza que quantifica o caos de um sistema, isto é, quando mais organizado,
menor a entropia.

Isso quer dizer que não observamos na natureza uma organização espontânea.
Por exemplo, o calor de um sistema não se desloca espontaneamente no
sentido de se acumular em um canto. Isto é, para podermos criar uma região
mais fria do que outra, temos que realizar outros processos (gastando energia)
para organizar o calor. Esta é a descrição do funcionamento de um
refrigerador: uma máquina que cria uma diferença de temperatura no sentido
contrário da tendência natural, e para isto, é preciso gastar energia (isto é, não
é espontâneo).

3º princípio da termodinâmica
É impossível reduzir a temperatura de um sistema à temperatura zero absoluto.
É possível atingir temperaturas muito próximas, onde a energia cinética média
das partículas é bastante reduzida, porém não conseguimos atingir um estado
onde todas as partículas que compõem um sistema estejam completamente
em repouso.

7. Eletricidade e magnetismo

A eletricidade é conhecida desde o séc. VI a.C., mas somente começou a ser


estudada a fundo no séc. XVIII. Antes desse estudo aprofundado, foi

56
observado que era possível gerar forças sem contato entre corpos feitos de
alguns materiais específicos depois que eram atritados um contra o outro.

Cargas elétricas
Foram observados dois “tipos” de eletricidade. Eletricidade de tipos iguais se
repelem e eletricidade de tipos diferentes se atraem. A esses “tipos” de
eletricidades chamamos de cargas elétricas. Classificamos essas cargas como
positivas e negativas. Assim, cargas elétricas positivas atraem cargas
negativas e repelem outras cargas positivas, e vice-versa.

A carga é quantificada assim como quantificamos a massa de um corpo. A


unidade de carga elétrica é o C (coulomb). Assim, uma carga positiva é
indicada por um número positivo (1 C) e uma carga negativa por um número
negativo (21 C). É comum representar uma carga positiva com o sinal também
(-1 C). Ao carregar um mesmo objeto com cargas de sinais opostos, essas
cargas se anulam.

Eletrização por atrito


A série triboelétrica é
uma ferramenta para
prever como ocorre a
eletrização (isto é, o
acumulo de cargas
elétricas) quando são
atritados objetos de
diferentes materiais.

Ao atritar dois
materiais, o material
que encontra-se em
uma posição superior
ao outro tem
tendência de acumular
carga elétrica positiva,
enquanto que o
material inferior tende
a acumular carga
elétrica negativa.
Note-que as cargas
acumuladas são de
mesma quantidade,
mudando apenas o
sinal da carga.

57
Quanto mais distantes na tabela, mais os
materiais têm tendência de se eletrizarem
por atrito.

Exemplo: Ao atritar uma blusa de poliéster


no cabelo em um dia seco, ocorre uma
eletrização por atrito. Quais são os sinais
das cargas elétricas acumuladas em cada
um dos materiais?

Solução: Na série triboelétrica, o cabelo


humano está acima do poliéster. Logo, o
cabelo ficará carregado com cargas
positivas, enquanto a blusa ficará carregada Figura 7.1: Ao atritar um pedaço de
com cargas negativas. âmbar em pelo de gato, os dois
corpos eletrizam-se por atrito.
Além de sua posição na série triboelétrica, a
umidade afeta significativamente o fenômeno de eletrização. Os objetos se
eletrizam com mais facilidade em ambientes com menor umidade.

Eletrização por contato


As cargas elétricas podem se deslocar de um meio mais carregado para outro,
eletrizando o mesmo quando há contato. Observe que a carga que flui para um
corpo é a carga que sai do corpo original. Então, assim como a energia, há
uma conservação de cargas quando existir um fluxo.

Exemplo: Um objeto 5 inicialmente carregado com uma carga positiva -• toca


em um objeto eletricamente neutro 6 (carga elétrica nula). Ao afastar os
objetos, constatou-se que o objeto 5 possuia
uma carga -0,5•. Qual é a carga no objeto 6
após a eletrização?

Solução: Como a carga total se conserva,


como na situação inicial a carga do objeto 5
era •7 -• e do objeto 6 era •: 0, então
temos:

•7 - •: •7• - •:•

⇒ • 0,5• - •:• ⇒ •:• 0,5•


Então a carga final de 6 é •:• -0,5•.
Figura 7.2: Eletrização por indução.
Eletrização por indução
A eletrização por indução é um processo em etapas. Ao aproximar um corpo
eletricamente carregado de outro corpo, as cargas opostas vão ser atraídas e
as mesmo sinal serão repelidas. Assim, as cargas são induzidas pelo corpo

58
carregado a se acumularem. Caso a
carga tenha sido induzida em corpos
diferentes em contato, esses corpos
possuirão cargas diferentes, como
vemos na Figura 7.2a. Ao separar
esses corpos, as cargas se
manterão, como na Figura 7.2b.

Eletroscópio
Podemos utilizar o princípio da
eletrização por indução para detectar
a proximidade de outras cargas
elétricas. O eletroscópio consiste em Figura 7.3: Um eletroscópio é um
um par de lâminas metálicas que dispositivo para detectar cargas elétricas.

quando carregadas elétricamente


com cargas de mesmo sinal irão se repelir, como na Figura 7.3.

Lei de Coulomb
Cargas elétricas se comportam similarmente a como corpos com massa se
comportam em relação à atração gravitacional. Da mesma forma, duas cargas
elétricas aplicam forças entre si que aumentam a magnitude quando aumenta-
se cada uma das cargas, e diminuem com o quadrado da distância que os
separa. A força elétrica entre dois corpos carregados eletricamente, então, é
quantificada pela Lei de Coulomb:
•G •,
l„… ž
1,
onde ž é a constante de Coulomb — que vale aproximadamente ž 9 ⋅ 10Ÿ N ·
m²/C² — •G e •, são as cargas de cada um dos corpos, e 1 é a distância entre
os corpos.

A direção da força elétrica é a reta que liga os dois corpos, e o sentido vai
depender do sinal das cargas. Por convenção, se o valor encontrado aplicando
a Lei de Coulomb dada acima for positivo, então os corpos se repelem, e
quando é negativo, os corpos se atraem. Note que aqui vale a 3ª Lei de
Newton: as forças elétricas sempre existirão em pares de ação-reação de
mesma magnitude.

Condutividade elétrica
Há materiais que conduzem melhor a eletricidade e materiais que conduzem
menos. Isto é, em alguns materiais as cargas elétricas podem se mover mais
livremente, enquanto em outros a carga está mais presa. Essa característica é

59
determinada pelas partículas que compõem o material. Para entendermos
melhor, temos que olhar para essas partículas.

Modelo atômico de Bohr


No modelo atômico de Bohr, os átomos –
partículas que compõe a matéria – são
formados por um núcleo contendo
prótons e nêutrons e por elétrons
orbitando esse núcleo. Os prótons
possuem carga positiva e os elétrons
possuem carga negativa. Os nêutrons
não possuem carga. A carga dos
elétrons é dada por:

•B 21,6 ⋅ 10BGŸ C
Figura 7.4: No modelo atômico de
Bohr, os prótons e nêutrons
Os prótons possuem a mesma carga dos compõem o núcleo e os elétrons
elétrons, porém com sinal invertido. orbitam esse núcleo.

Em sólidos, os núcleos dos átomos tem posições fixadas. Em materiais


condutores, isto é, que conduzem eletricidade, os elétrons podem se mover
com facilidade, saltando de núcleo em núcleo. Em materiais isolantes, os
elétrons estão presos mais firmemente nas órbitas de seus núcleos,
dificultando a movimentação de elétrons pelo material.

Então, em sólidos, a movimentação


de cargas positivas não se dá pela
movimentação de prótons ou dos
núcleos, e sim por “vazios” —
também chamados de “buracos” —
de cargas negativas. Quando
dizemos que uma região ficou com
carga elétrica positiva, é porque os
elétrons cujas cargas anulavam
com as cargas do núcleo se
Figura 7.5: Pedaços de isopor grudam no pelo moveram para outros lugares.
do gato por atração eletrostática.
Exemplo: Os pedaços de isopor
na Figura 7.5 grudam no pelo do gato por conta da lei de Coulomb. O que
pode-se dizer sobre a condutividade elétrica entre os materiais?

Solução: Se houvesse uma transferência das cargas elétricas acumuladas (que


são de sinais opostos, já que a força é de atração), então ou as cargas se
anulariam (caso tivessem a mesma magnitude) e a atração cessaria, ou ambos
os materiais terminariam com cargas de mesmo sinal após as cargas tentarem
se equilibrar, gerando uma repulsão. Como os corpos permanecem se
60
atraindo, conclui-se que as cargas elétricas acumuladas não se transportam
facilmente do pelo para o isopor e vice-versa.

Campo elétrico
Assim como massas geram
campos gravitacionais, cargas
elétricas geram campos
elétricos. Esses campos são
grandezas vetoriais que
possuem uma magnitude,
direção e sentido em cada lugar
no espaço. Podem ser
representados por linhas que
entram ou que saem das
cargas. Quanto mais forte o
campo gerado, representa-se o
campo com maior quantidade
de linhas. A essas linhas damos
Figura 7.6: Linhas de campo. Cargas positivas
o nome de linhas de campo. produzem e cargas negativas recebem.
Cargas positivas irão gerar
linhas de campo, enquanto que cargas negativas irão receber linhas de campo.

O uso de campos elétricos é interessante para determinarmos os vetores força


elétrica. Uma carga sob ação de um campo elétrico sofre uma força
proporcional à magnitude do campo multiplicado pela sua própria carga. A
direção da força é a direção do campo, e o sentido da força acompanha o
sentido do campo se a carga for positiva e é no sentido oposto do campo se for
negativa. Isto é:

Figura 7.7: As cargas positivas sofrem forças na mesma direção e sentido do campo
elétrico. As cargas negativas invertem o sentido.

A expressão da magnitude do campo elétrico gerado por uma carga elétrica


pontual é:

61

ƒ ž
1,
Por convenção, essa magnitude é definida sempre em direção radial como na
Figura 7.6 e o sentido apontando para longe da carga. Note que quando a
carga é negativa a magnitude é negativa, o que indica que o sentido aponta em
direção à carga. Além disso, observamos também que quanto maior a carga
elétrica, maior o campo elétrico gerado. Isso pode ser representado por um
maior número de linhas de campo deixando ou chegando na carga.

Campo elétrico uniforme


Quando uma superfície carregada eletricamente é
posicionada paralelamente próxima a outra superfície
com carga oposta, formamos um campo elétrico
uniforme, onde as linhas de campo são paralelos umas
as outras. Nessa situação, observamos que a densidade
de linhas de campo por área não muda com a posição,
isto é, a intensidade do campo elétrico é constante ao Figura 7.8: Campo
longo da distância entre as placas. elétrico uniforme
gerado por placas
paralelas.
Exemplo:
Considere dois objetos
carregados elétricamente com as
linhas de campo representadas
na Figura 7.9. Quais são os sinais
das cargas •G e •, e qual delas é
maior em magnitude?

Solução: As linhas de campo


saem de cargas positivas e
chegam em cargas negativas.
Figura 7.9: Diferentes cargas elétricas produzem
diferentes campos elétricos. Sabemos também que quanto
maior a carga, o campo elétrico
gerado é maior, então é representado por mais linhas de campo. Logo, •G é
negativo e •, positivo, e a magnitude de •G é maior que a magnitude de •, .

Podemos ainda escrever que a força elétrica sofrida por uma carga •
submetida a um campo elétrico ƒ/) é:

/////)
l„… •ƒ/)
Assim, combinada à expressão do campo elétrico, podemos confirmar a
expressão da magnitude da força elétrica. Note a similaridade com a expressão
da força peso:

62
v/) O)
onde

s
O q
1,
reforçando a similaridade entre forças gravitacionais e forças elétricas.

Além disso, as forças elétricas são forças conservativas, então podemos


atribuir uma energia potencial elétrica.

Energia potencial elétrica


Uma propriedade de forças conservativas é que o trabalho realizado ao levar
um corpo de um ponto 5 para um ponto 6 é sempre o mesmo independemente
do caminho realizado. Além disso, o trabalho realizado por uma força
conservativa é igual à perda de uma energia potencial relacionada a esta força.

Para definir uma expressão matemática, foi determinado que a energia que um
corpo de carga • sob influência de um campo elétrico gerado por uma carga –
é dada pela energia necessária para trazer esse objeto de um ponto fora da
influência desse campo até a posição em questão. Essa energia é (não
confundir com o campo elétrico):

–•
ƒ„… ž
1
A expressão é bastante parecida com a da força elétrica, com a diferença que
a distância 1 no denominador não é elevado ao quadrado. Assim, essa é a
energia que seria convertida em energia cinética ao deixar a força elétrica agir
sobre uma carga • sendo repelida por uma carga – inicialmente separadas
uma distância 1 . Note que se forem colocadas cargas de sinal oposto a
expressão dá um valor negativo. Isto não é um problema, pois a energia é uma
grandeza onde a parte relevante é a variação de energia entre as situações de
interesse.

Assim como a força elétrica e o campo elétrico são grandezas vetoriais que
relacionam-se entre si no sentido de que o campo elétrico representa uma
força por unidade de carga, existe o paralelo que relaciona a energia potencial
elétrica (uma grandeza escalar) com uma outra grandeza escalar que
representa a energia por unidade de carga. Essa grandeza é o potencial
elétrico.

63
Potencial elétrico
O potencial elétrico é uma
grandeza escalar associada
a cada ponto de um campo
elétrico. O potencial
representa a energia que
uma unidade de carga teria Figura 7.10: O trabalho da força elétrica realizado para
levar um corpo carregado de ¥ para ¦ depende apenas
ao ser colocado em certo da d.d.p. multiplicada pela carga.
ponto no espaço. Ou seja,
uma carga • colocada em uma região com potencial elétrico Œ possui energia
potencial elétrica:

ƒpel •Œ

A unidade padrão de potencial elétrico é o V (volt). O trabalho de uma força


elétrica sobre uma carga • deslocando-se de um ponto 5 para um ponto 6 é
dada pela carga multiplicada pela diferença de potencial (d.d.p.) entre os
pontos:

•A→B •$Œ7 2 Œ: (
A diferença Œ7 2 Œ: é normalmente chamada de ¤ (ou simplesmente d.d.p.).
Essa é a grandeza indicada nas pilhas e baterias. Uma pilha comum possui
uma d.d.p. entre seus terminais de 1,5 V. Ou seja, uma carga elétrica de 1 C
terá recebido 1,5 J de energia para ir de um terminal para o outro. Enquanto
que, em uma pilha de 9 V, essa mesma carga de 1 C terá recebido 9 J de
energia.

Note que na Figura 7.10 as linhas circulares em torno das cargas estão a uma
mesma distância da carga. Essas linhas são chamadas linhas equipotenciais,
onde o potencial elétrico ao longo da linha se mantém constante. Logo, uma
carga que se move ao longo de uma dessas linhas equipotenciais não tem sua
energia potencial elétrica mudada.

Outros fenômenos elétricos


Gaiola de Faraday
O cientista Faraday constatou que uma superfície condutora eletrizada anula o
campo elétrico em seu interior. Ou seja, regiões interiores a uma gaiola feita de
material condutor não irá sofrer efeitos de fenômenos elétricos que ocorrem em
seu exterior. Por isso, quando uma aeronave é atingida por uma descarga
elétrica, seu interior não será afetado, já que a carcaça externa é feita de
materiais condutores.

64
Eletrização por atrito em aeronaves
O ar, com todas as partículas de poeiras
que são carregadas, transfere bastante
carga para a fuselagem pelo efeito
triboelétrico. Para dissipar essa carga
acumulada, as aeronaves contam com um
descarregador de estática para liberar essa
carga elétrica acumulada na carcaça.
Figura 7.11: Descarregadores de
As aeronaves têm conectores entre todas estática posicionados nas asas de
as partes da fuselagem pra garantir que as um avião.
cargas elétricas acumuladas se distribua
por igual, ou seja, para tentar manter todas as partes com o mesmo potencial
elétrico, o que permite que ele possa se descarregar completamente.

Corrente elétrica
A corrente elétrica é o movimento de cargas elétricas. Esse transporte pode
acontecer pelo movimento de elétrons ou pelo movimento de íons. Neste curso,
nos temos somente no estudo do transporte de elétrons. Íons são átomos com
cargas elétricas não-neutras (isto é, que ganharam ou perderam elétrons,
quebrando o equilíbrio de cargas).

De maneira similar ao fluxo de partículas em um fluido, a corrente elétrica § é


um fluxo de cargas. Ela quantifica quantas unidades de carga Δ• atravessam
uma determinada região por unidade de tempo Δ=:

I•
§
I=
A unidade padrão de corrente elétrica é o A (ampere), que significa o transporte
de 1 C de carga em 1 s.

Note que para haver uma corrente


elétrica é necessário haver uma
diferença de potencial, assim como é
necessário haver uma diferença de
alturas para um rio fluir. Assim como o
sentido do fluxo de um rio é da maior
altitude para a menor altitude, o
sentido convencionado para a
corrente elétrica é do maior potencial
elétrico para o menor. Assim, uma
corrente é positiva no sentido do Figura 7.12: O movimento de cargas
elétricas sujeitas a uma d.d.p. é análogo ao
transporte de cargas positivas. movimento de partículas sujeitas a uma
diferença de alturas.

65
A potência elétrica é dada pelo trabalho realizado por uma d.d.p. ¤ sobre uma
quantidade de carga Δ• ao longo de um intervalo de tempo Δ=.

I•7→: I• ¤
v ¤§
I= I=
Ou seja, quanto maior a d.d.p. e quanto
maior a corrente, maior a potencia
elétrica.

Circuito elétrico
Um circuito elétrico possui um gerador
elétrico, um condutor que forme um
caminho fechado para a corrente, e
algum dispositivo que utilize a energia.
Neste curso, abordaremos os resistores e
Figura 7.13: Lei de Ohm. capacitores.

Resistores
Os resistores tem a função de criar
uma resistência à passagem de
corrente. A expressão que descreve
essa resistência é a 1ª Lei de Ohm:

¤
§
t
onde se observa que quanto maior a Figura 7.14: Esquemático de um circuito
resistência t para um mesmo d.d.p., elétrico. À esquerda está representado o
gerador, as linhas retas representam os fios
menor é a corrente que circula no condutores, e o serrilhado representa um
circuito elétrico. Essa resistência é resistor.
quantificada em unidades de Ω (ohm).
1 Ω é a resistência necessária para que 1 V de d.d.p. force uma corrente de 1 A.

Ao resistir a passagem de corrente, os resistores dissipam parte da energia


elétrica, transformando em energia térmica e liberado no ambiente. Esse
fenômeno é conhecido como efeito Joule, responsável pelo funcionamento de
chuveiros elétricos e quaisquer outros dispositivos de aquecimento baseados
em eletricidade.

O efeito Joule diz que a potência dissipada por um resistor é:

¤,
v ¤§ §,t
t

66
Resistência elétrica
Um fio condutor ideal não oferece resistência elétrica. Na prática, todo fio
condutor apresenta alguma resistência elétrica, isto é, se comporta como um
resistor. A resistência t de um fio depende da resistividade do material ª, do
comprimento do fio «, e da área da seção transversal 5. Essa é a chamada 2ª
Lei de Ohm:

ª«
t
5
Exemplo: Os cabos de alimentação de aparelhos que requerem bastante
energia elétrica costumam ser mais espessos. Por quê?

Solução: Quanto maior a área da seção transversal de um condutor, menor é


sua resistência. Logo, o cabo irá dissipar menos energia pelo efeito Joule,
diminuindo o risco de sobreaquecimento dos fios e consequente derretimento
dos isolamentos dos fios. Caso os isolamentos derretam, há risco de curto-
circuito.

Um curto-circuito ocorre quando condutores fecham um circuito elétrico sem a


presença de uma resistência, o que vai permitir uma passagem muito alta de
corrente, podendo danificar toda a rede elétrica.

Associação de resistores
Na associação em série de resistores, a resistência equivalente é a soma das
resistências:

t„¬ tG - t, - ⋯

Na associação em paralelo de resistores, a resistência equivalente é o inverso


da soma dos inversos das resistências:

1 1 1
- -⋯
t„¬ tG t,

67
Exemplo: Dois resistores de 2 Ω cada estão ligados em paralelo. Qual a
resistência equivalente?

Solução: Ao aplicarmos a expressão da associação de resistores em paralelo


para duas resistências iguais t, temos:

1 1 1 2 t
- ⇒ t„¬
t„¬ t t t 2

Então, substituindo t 2 Ω na expressão acima, concluímos que t„¬ 1 Ω.

Capacitor
Capacitores são dispositivos de
armazenamento de energia elétrica. A
d.d.p. ¤ entre os dois terminais do
capacitor é proporcional à carga
acumulada – e inversamente proporcional
à capacitância ˆ, que é a característica do
capacitor que dita sua capacidade de
armazenar carga:


¤
ˆ
Na associação de capacitores, as Figura 7.15: Um capacitor de placas
paralelas acumulando uma carga ®
expressões obtidas são as mesmas quando submetido a uma d.d.p. ¯.
obtidas na associação de resistores,
porém trocados em relação ao tipo de associação. Ou seja, uma associação
em série irá fornecer uma capacitância equivalente:

1 1 1
- -⋯
ˆ„¬ ˆG ˆ,

e uma associação em paralelo:

ˆ„¬ ˆG - ˆ, - ⋯

68
Os capacitores são utilizados em aplicações onde é necessária a utilização de
uma grande quantidade de cargas elétricas em um curto período de tempo,
como em flash de câmeras, tasers e desfibriladores.

Tipos de corrente
Ainda podemos classificar as
correntes quanto ao seu
comportamento em função do
tempo.

Para facilitar a compreensão


dos diferentes tipos de corrente
elétrica, imagine a seguinte
situação: Um objeto está Figura 7.16: Gráficos da corrente contínua e
alternada.
bloqueando parcialmente a
passagem de água na tubulação de uma pia. Para removê-lo, precisamos
forçar a passagem de um fluxo elevado de água por um certo tempo. Para
tanto, temos duas opções: ou fornecemos um fluxo contínuo como o de uma
mangueira conectada na tubulação; ou forçamos a água ir e voltar com o
auxílio de um desentupidor. Nessa segunda opção, forçamos um alto fluxo
durante um curto intervalo de tempo e logo em seguida forçamos um alto fluxo
no sentido oposto por mais um curto intervalo de tempo, em movimento
oscilatório. Perceba que a água transporta a energia que aplicamos ao longo
de toda a tubulação sem que haja necessariamente um transporte final de
água.

Esses são os princípios da corrente elétrica contínua e alternada,


respectivamente, representadas na Figura 7.16. Os tipos se diferenciam na
forma com que são gerados, porém existem meios de transformar um tipo no
outro.

Magnetismo
Podemos visualizar os campos magnéticos
através de linhas de campo assim como os
campos elétricos.

As linhas de campo de campos magnéticos Figura 7.17: As linhas de campo


são sempre curvas fechadas, isto é, não magnético sempre se fecham.
“nascem” ou “morrem” em lugar algum. Um
objeto que produz campos magnéticos naturalmente é o ímã. Assim como as
cargas elétricas positivas, o polo norte de um ímã é a região por onde os
campos magnéticos saem, enquanto o polo sul é a região que recebe os
campos magnéticos.

69
Polos opostos se atraem e polos iguais se
repelem. Ímãs permanentes ainda podem
atrair materiais ferromagnéticos de forma
similar ao processo de eletrização por
indução: materiais ferromagnéticos sob
influência de um campo magnético irão se
alinhar e reforçar o campo magnético. Como
eles se alinharão, os polos estão atraindo-se
como na Figura 7.18.

Bússola
A agulha de uma bússola é um ímã. Ela

Figura 7.18: Polos magnéticos tende a se alinhar com o campo magnético


opostos se atraem e polos iguais se ao seu redor. As bússolas são construídas
repelem.
de modo que o polo norte da agulha aponte
para o norte geométrico da
Terra. Ou seja, a Terra é um
grande ímã cujo sul magnético
alinha-se com o norte
geométrico e vice-versa, como
visto na Figura 7.19.

Eletromagnetismo
Eletricidade e magnetismo estão Figura 7.19: A Terra é um grande ímã permanente.
intimamente relacionados. Seu polo sul magnético alinha-se com o norte
Fenômenos elétricos podem geométrico.

gerar fenômenos magnéticos e


vice-versa. Um dos principais fenômenos é a força de Lorentz.

Força de Lorentz
Uma carga elétrica em
movimento sob a influência de
um campo magnético irá sofrer
uma força em uma direção
perpendicular ao movimento da
carga e do campo magnético.
Esta força surge somente

Figura 7.20: A força de Lorentz segue a regra da quando há algum movimento da


mão direita. Alinha o polegar com o sentido da carga em uma direção
corrente e o restante dos dedos com o campo
magnético. A palma da mão vai apontar a direção perpendicular ao campo
da força de Lorentz. magnético. Caso o movimento
da carga elétrica seja na

70
mesma direção do campo magnético, não há força de Lorentz.

Essa propriedade é a que possibilita o funcionamento de motores elétricos e


geradores. Além disso, correntes elétricas geram campos magnéticos também.
Esse é o princípio do funcionamento de eletroímãs, que são utilizados em
diversas aplicações, como alto-falantes e trens de levitação magnética.

71

Você também pode gostar