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A diversidade da sociedade brasileira, refletida em nossa cultura, apresenta

contrastes marcantes. Enquanto enriquece nossa identidade com uma variedade de


costumes e religiões, também expõe uma inaceitável desigualdade social.

Assim, embora a História explique a predominância da pobreza entre determinadas


parcelas da sociedade, observa-se que, sob a égide de uma Constituição que preza pela
dignidade e igualdade humana, as políticas (inclusive e notadamente as fiscais) devem
buscar efetivar as promessas e garantias constitucionais.

Nesse sentido, relevante se faz o estudo da tributação, especialmente ao se


considerar que, no contexto hodierno, as políticas fiscais brasileiras perpetuam o
desequilíbrio entre as camadas mais pobres e aquelas mais ricas, apresentando diversos
problemas, conforme se exporá a seguir.

A tributação no Brasil é um assunto complexo e amplamente discutido, cercado por


diversos desafios que impactam não apenas a eficácia do sistema fiscal, mas também a
justiça social e econômica. A análise dos principais entraves na tributação brasileira revela
uma série de questões estruturais que precisam ser enfrentadas para promover um sistema
mais justo e eficiente.

Um dos problemas evidentes na tributação brasileira é a falta de progressividade


adequada no imposto de renda das pessoas físicas (IRPF). Embora a Constituição exija um
imposto progressivo, as faixas de alíquotas e os limites de isenção não refletem
devidamente a capacidade econômica dos contribuintes. A proximidade das faixas de
alíquotas e a falta de atualização da tabela progressiva ao longo do tempo contribuem para
uma tributação desigual, onde os menos favorecidos pagam proporcionalmente mais
impostos do que os mais abastados.

Além disso, a isenção da distribuição de lucros e dividendos, prevista na Lei


9.249/1995, levanta preocupações. Enquanto em muitos países da OCDE essa distribuição
é tributada em duas etapas, no Brasil ela é totalmente isenta, beneficiando principalmente
os contribuintes mais ricos. Essa isenção contribui para a concentração de riqueza e agrava
as desigualdades sociais e econômicas.

Outro ponto relevante é a tributação sobre grandes fortunas (IGF), prevista na


Constituição, mas com implementação controversa. Desafios como identificar os
verdadeiros proprietários e o possível impacto na saída de capital destacam a complexidade
dessa medida. No entanto, estudos indicam que essa tributação poderia ser uma fonte
importante de recursos para políticas de combate à pobreza, se aplicada de maneira eficaz
e justa.

A tributação sobre o consumo também enfrenta desafios significativos,


especialmente em relação à regressividade do sistema. Tributos indiretos como ICMS e
PIS/Cofins acabam incidindo mais pesadamente sobre os mais pobres, que destinam uma
parcela maior de sua renda ao consumo, no Brasil, 55,74% das receitas de tributos vieram
do consumo e 15,64% da renda do trabalho em 2011, somando 71,38%. Nos países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média está em
33%. Embora princípios como a seletividade busquem mitigar esses efeitos, sua eficácia é
frequentemente questionada.

A tributação sobre heranças (ITCMD) também gera debate no sistema tributário


brasileiro. Apesar de ser um imposto estadual, as alíquotas praticadas muitas vezes são
baixas e não refletem adequadamente a capacidade econômica dos herdeiros. Enquanto
alguns estados adotam alíquotas progressivas, outros mantêm alíquotas fixas, o que
contribui para manter a concentração de riqueza.

Por fim, ao analisar a tributação sob a ótica de raça e gênero, percebem-se


disparidades significativas. Mulheres e grupos radicalizados são desproporcionalmente
afetados por um sistema tributário regressivo que não considera suas especificidades. A
tributação sobre produtos essenciais para mulheres e a falta de políticas tributárias
sensíveis às questões de gênero e raça ampliam as desigualdades sociais.

Em pesquisa feita pelo Estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc),


expõe que os impostos punem mais os negros e as mulheres em relação aos brancos e aos
homens, o estudo cruzou fontes do IBGE, Orçamento Familiar (POF) e Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) pela qual foi possível filtrar a porcentagem que mais
compromete a renda com pagamentos de tributos. Sendo:

“Nos 10% mais pobres da população, 68,06% são negros e 31,94%,


brancos. A faixa mais desfavorecida é composta por 45,66% de
homens e 54,34% de mulheres. Nos 10% mais ricos, que pagam
menos imposto proporcionalmente à renda, há 83,72% de brancos e
16,28% de negros. Nessa categoria, 62,05% são homens e 31,05%,
mulheres” - Evilásio Salvador.

Em resumo, os desafios na tributação brasileira são diversos e requerem uma


abordagem abrangente e coordenada para serem superados. A falta de progressividade
adequada, a isenção da distribuição de lucros, os obstáculos na tributação sobre grandes
fortunas, a regressividade da tributação sobre o consumo, as questões relacionadas à
tributação de heranças e as disparidades de gênero e raça são apenas alguns dos aspectos
que precisam ser considerados na busca por um sistema tributário mais equitativo e eficaz.

Diante da análise dos problemas do sistema tributário brasileiro e de como a


tributação agrava a desigualdade social, torna-se evidente a necessidade premente de
ações corretivas e reformas estruturais. A tributação regressiva, a falta de progressividade
adequada e as isenções que beneficiam os mais ricos são apenas algumas das facetas
desse desafio complexo.

A perpetuação dessas falhas não apenas mantém as desigualdades existentes,


mas também as amplia, criando um ciclo vicioso de injustiça social. A tributação, que
deveria ser um instrumento de redistribuição de renda e promoção da equidade, muitas
vezes acaba sendo um fator de agravamento das disparidades econômicas e sociais no
Brasil.
Para reverter essa realidade, é essencial reformular as políticas fiscais visando uma
tributação mais equitativa e progressiva, em conformidade com os princípios constitucionais
de capacidade contributiva e isonomia. Isso demanda um compromisso sólido por parte dos
governantes em enfrentar os interesses poderosos que se beneficiam do cenário atual.
Somente por meio de uma abordagem abrangente e coordenada, que leve em
conta as diversas facetas da desigualdade social e os múltiplos impactos da tributação,
poderemos estabelecer um sistema tributário que promova a inclusão social e o
desenvolvimento sustentável para todos os brasileiros.

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