Você está na página 1de 325

Tratado Integral

sobre o
Xamanismo Tolteca

1
SUMÁRIO

CAPÍTULO PÁGINA

RESUMO 4

A ARTE DA FEITIÇARIA 5

O XAMANISMO 14

A TRADIÇÃO TOLTECA 17

O NAGUALISMO 22

O NAGUAL E O TONAL 27

A TOTALIDADE DO SER 29

O CAMINHO DO GUERREIRO 37

O INTENTO 52

A IMPECABILIDADE 65

A VONTADE 73

A PALAVRA 75

A ARTE DA ESPREITA 77

O PEQUENO TIRANO 81

A AUTO-IMPORTÂNCIA 84

A PIEDADE 101

A HISTÓRIA PESSOAL 103

APAGAR A HISTÓRIA PESSOAL 110

A FORMA HUMANA 113

A RECAPITULAÇÃO 115

O SILÊNCIO INTERIOR 134

2
AS CRENÇAS 152

MEDITAÇÃO 158

O AGORA 159

A CONEXÃO COM O ESPÍRITO 160

ATRIBUTOS DO HOMEM DE CONHECIMENTO 160

A ENERGIA SEXUAL 164

O CORPO ENERGÉTICO 173

A INSTALAÇÃO ALIENÍGINA 182

O SENTIDO DE URGÊNCIA DO GUERREIRO 201

A LOUCURA CONTROLADA 204

SER INACESSÍVEL 210

NADA IMPORTA 213

A ETERNA CAÇADORA 216

A ÚLTIMA TAREFA 225

A ENCRUZILHADA FINAL 226

ANEXOS:

O CAMINHO DO CORAÇÃO 228

OS PASSES MÁGICOS 233

9 PRÁTICAS-CHAVE DO CAMINHO TOLTECA 240

O EU MULTIDIMENSIONAL 244

A ARTE DE SONHAR 266

SINÓPSE 322

AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIAS 325

3
O DOMÍNIO DA CONSCIÊNCIA
Compilação do conhecimento dos mestres-fei ceiros toltecas sobre a totalidade
do ser e a manipulação da consciência

Ensinamentos de Dom Juan Matus na obra de Carlos Castañeda

Resumo

Este trabalho de compilação dos ensinamentos transmitidos pelo


antropólogo Carlos Castañeda, com base em um de seus personagens
principais, o mestre-feiticeiro Dom Juan Matus, destila elementos
aprimorados da doutrina dos toltecas do México antigo sobre a consciência
e a percepção: as maestrias da consciência e do espírito e as artes de
espreitar e de sonhar.
Enfatiza a recapitulação de eventos existenciais, a parada no diálogo
interno e a morte, como recursos especiais no caminho do conhecimento,
e as facetas do homem de conhecimento na sua busca pela liberdade
total: o caçador que busca o conhecimento, o guerreiro que luta por ele, o
feiticeiro que o manipula, o vidente que o percebe. O modelo cognitivo-
comportamental, revelado por Juan Matus, de maneira fragmentada (no
tempo e no espaço), e aqui unificado (no tempo e no espaço), está
embasado na manipulação do ponto de aglutinação e na consciência da
totalidade do ser. Esta nova organização da feitiçaria dos toltecas foi um
dos segredos “guardados por si mesmos” durante anos, nas obras de
Castañeda, e se destina ao novo ciclo de feiticeiros-videntes, guerreiros ou
caçadores de poder.
O modelo cognitivo-comportamental, revelado por Juan Matus, de
maneira fragmentada (no tempo e no espaço), e aqui unificado (no tempo
e no espaço), é capaz de alterar a interpretação comum da realidade e
induzir um comportamento impecável e digno em quem se propõe a,
sinceramente, buscar o desenvolvimento de suas forças Superiores ou das
habilidades cognitivas. Essas novas leituras foram alguns dos segredos
“guardados por si mesmos” durante anos, na obra de Castañeda.

4
A arte da feitiçaria

Ser um feiticeiro significa alcançar um nível de consciência que dá


acesso a coisas inconcebíveis. O termo feitiçaria é inadequado para
expressar o que os feiticeiros fazem, como também é o termo xamanismo.
As ações dos feiticeiros existem exclusivamente no reino do abstrato, do
impessoal. Os feiticeiros lutam para alcançar uma meta que nada tem a
ver com as buscas do homem comum. As aspirações dos feiticeiros são
alcançar o infinito, e ser consciente dele. Dediquei minha vida à prática de
rigorosa disciplina, a qual, na falta de um nome mais adequado,
chamamos de feitiçaria.
O objetivo é romper as tendências e preconceitos perceptivos que
nos aprisionam nos limites da vida cotidiana normal e nos impedem de
entrar em outros mundos perceptíveis. Para os feiticeiros, ultrapassar tais
tendências perceptivas possibilita atravessar uma barreira e saltar para o
inimaginável. Eles chamam este salto de "a travessia dos feiticeiros". Às
vezes referem-se a ele como “o vôo abstrato”, pois este salto implica voar
do lado concreto e físico para o lado da percepção expandida e das formas
abstratas impessoais.
Os estágios iniciais do treinamento de feitiçaria inclui a purificação da
maneira habitual de pensar, agir e sentir, por meio de uma atividade
tradicional da feitiçaria, a qual todos os neófitos devem realizar, chamada
de “recapitulação”. Para complementar a recapitulação, ensinam uma série
de práticas, chamadas de “passes da feitiçaria”, que inclui movimentos
físicos e respiratórios. Para que tais práticas ganhassem coerência,
ministraram-me os fundamentos e explicações filosóficas associadas. A
finalidade de tudo que me ensinaram era a redistribuição de minha energia
normal e sua ampliação, para que ela pudesse ser utilizada nas
realizações perceptivas extraordinárias exigidas pelo treinamento da
feitiçaria. A idéia subjacente ao treinamento é a seguinte: quando o padrão
compulsivo de velhos hábitos, pensamentos, expectativas e sentimentos é
eliminado por meio da recapitulação, a pessoa torna-se, indiscutivelmente,
capaz de acumular energia suficiente para viver segundo os novos
fundamentos lógicos proporcionados pela tradição da feitiçaria — e
comprovar esses fundamentos, através da percepção direta de uma
realidade diferente.
Quem quer sinceramente penetrar nos ensinamentos dos feiticeiros
não precisa de guias. Basta ter um interesse genuíno - e coragem de aço.
Ele encontrará, por si mesmo, tudo o que precisa através de uma intenção

5
inflexível. O verdadeiro caminho consiste em nossa determinação de
sermos impecáveis.
A grande tarefa dos feiticeiros é trazer a idéia de que, para evoluir, o
homem deve primeiro libertar sua consciência das amarras da ordem
social. Uma vez que a consciência estiver livre, o intento irá redirecioná-la
para um novo caminho evolucionário. A grande tarefa é eliminar o medo da
nossa natureza pessoal.
Um guerreiro tolteca limpa sua mente de crenças, domesticação e
apegos, marcando o fim de uma guerra dentro de si mesma pela liberdade
pessoal. Esta vida com uma mente quieta cria um estado de pura
felicidade que vem de estar inteiramente no momento. A solidão pode ser
uma ótima ferramenta para a cura e a comunhão consigo mesmo, mas são
nossas interações com os outros que nos permitirão prosperar e desfrutar
de uma vida ativa.
Quando sentir que a mente coletiva o pressiona, tentando convencê-
lo de que se concentre nas aparências do mundo, repita para seu interior
esta tremenda verdade: 'eu vou morrer, não sou importante, ninguém o é!
“Saber isso é a única coisa que importa".
Os bruxos dizem que a verdadeira rebeldia e a única saída do ser
humano como espécie, é fazer uma revolução contra sua própria
estupidez. O objetivo dos bruxos é a revolução dos bruxos, o
desdobramento irrestrito de nossas possibilidades perceptuais.
Ele me sugeriu que eu completasse minha vida com decisões de
poder, com estratégias que me levassem à consciência. Ele me ensinou
que a ordem do mundo não tem que ser como nos dizem, que eu posso
deixá-lo de lado quando eu quiser. Eu não estou obrigado a manter uma
imagem para os outros, a viver um inventário que não me convém. Meu
campo de batalha é o caminho do guerreiro!
Somos como pássaros atrofiados. Nascemos com todo o necessário
para voar, porém, estamos permanentemente obrigados a dar voltas em
torno de nosso ego. A corrente que nos aprisiona é a importância pessoal.
O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito
árduo. Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de
sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos
importantes. E quando a pessoa é importante, qualquer intento de
mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso. Esse
sentimento nos segrega. Se não fosse por ele, todos nós fluiríamos no mar
da consciência e saberíamos que nosso eu pessoal não existe para si
mesmo: seu destino é alimentar a Águia.
O autodomínio não é uma ideia isolada dentro da tradição tolteca,
pois toda forma de disciplina espiritual fornece um mapa para nos ajudar a

6
viver em harmonia dentro do Sonho do Planeta, libertando nossa mente da
tirania de nosso próprio pensamento e sendo afetado pelas projeções de
outros.
Quando esta fé está presente, abrem-se para o ser humano infinitas
possibilidades e ele se torna, simbolicamente, o mago que domina o poder
de “manipular as ilusões” e trazer à tona todo o seu potencial mental,
emocional, físico e intuitivo. Em seu aspecto negativo traz a recusa em
utilizar os talentos para o próprio crescimento e evolução.
Controle é dominar-se quando alguém está pisando em você.
Paciência é esperar calmamente, sem pressa e sem ansiedade. Todo
esforço deve ser feito para erradicar a vaidade da vida dos guerreiros. A
vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de
energia, daí o esforço para erradicá-la. Energia para poder encarar o
desconhecido com ela. A ação de recanalizar aquela energia é a
impecabilidade.
Dominar o pequeno tirano: é ter controle, é ter disciplina, é ter
paciência, é esperar pelas oportunidades, é ter vontade.
A essência do nosso ser é o ato de perceber, e que a magia de
nosso ser é o ato da consciência. A percepção e a consciência é uma
unidade única, uma unidade que possui dois domínios. O primeiro é a
atenção do tonal, isto é, a capacidade das pessoas comuns perceberem e
situarem sua consciência no mundo comum da vida cotidiana (primeiro
círculo do poder). É a nossa capacidade de dar ordem à nossa percepção
do mundo de todo dia. O segundo domínio é a atenção do nagual, isto é, a
capacidade dos feiticeiros situarem a sua consciência no mundo não-
comum (segundo círculo do poder). O Nagual disse que para ter a
segunda atenção, basta tentar e tentar.
O homem comum não tem energia necessária para lidar com
feitiçaria. Se usar apenas a energia que tem, não pode perceber os
mundos que os feiticeiros percebem. Para fazê-lo, os feiticeiros precisam
usar um grupo de campos de energia não usado normalmente. A medida
que o tempo passa, você está aprendendo a economizar energia. E essa
energia irá capacitá-lo a manipular alguns dos campos de energia que lhe
são agora inacessíveis. Feitiçaria é a habilidade de usar campos de
energia que não são empregados para perceber o mundo normal que
conhecemos. Feitiçaria é um estado de consciência. Feitiçaria é a
capacidade de perceber algo que a percepção comum não consegue.
O Nagual disse que o mundo dos homens sobe e desce e as
pessoas sobem e descem com seu mundo: como feiticeiros, não temos
nada de acompanhá-los em suas subidas e descidas. A arte do feiticeiro é
estar por fora de tudo e passar despercebido. É nunca desperdiçar o seu

7
poder. Se eu não focalizar a minha atenção sobre o mundo, o mundo
desmorona.
No mundo de Dom Juan, os feiticeiros, dependendo de seu
temperamento básico, dividiam-se em duas facções complementares:
sonhadores e espreitadores. Os sonhadores são os feiticeiros que
possuem a capacidade inata de entrar em estados de consciência
expandida controlando seus sonhos. Esta aptidão é transformada, com o
treinamento, em uma arte: a arte do sonho. Os rastejadores, por outro
lado, são os feiticeiros que possuem a capacidade inata de lidar com os
fatos e adentrar em estados de consciência expandida manipulando e
controlando seu próprio comportamento. Com o treinamento da feitiçaria,
esta aptidão natural se transforma na arte de espreitar.
O objetivo dos feiticeiros é atingir um estado de consciência total de
modo a experimentar todas possibilidades de percepção disponíveis ao
homem. A bruxaria é um estado da mente, um nível de realização em que
o praticante se dá conta cabal de si mesmo e de seu entorno. Isso lhe
permite aplicar a vontade sobre certos aspectos do mundo, conseguindo
resultados que parecem sobrenaturais para aqueles que não sabem do
que se trata.
A sensação que todos conhecem como “intuição” é a ativação de
nosso elo com o intento. E desde que os feiticeiros perseguem com
deliberação a compreensão e o fortalecimento desse elo, pode-se dizer
que intuem tudo infalível e acuradamente. Interpretar presságios é lugar
comum para feiticeiros – os enganos acontecem apenas quando
sentimentos pessoais intervêm e turvam o elo de conexão dos feiticeiros
com o intento. De outro modo o seu conhecimento direto é totalmente
acurado e funcional.
Os feiticeiros estão empenhados em limpar o elo de conexão dos
efeitos atordoantes causados pelas preocupações comuns de suas vidas
cotidianas. O feiticeiro manipula o espírito. Reconhece-o, acena-lhe,
convida-o, familiariza-se com ele, e expressa-o através de seus atos. O
feiticeiro encontra o abstrato sem pensar a respeito, sem vê-lo, tocá-lo ou
sentir sua presença. É um homem ou uma mulher com energia
extraordinária. Eles são intermediários e canalizam paz, harmonia, alegria
e conhecimento diretamente da fonte, do intento, para os seus
companheiros. O nagual é o intermediário entre o indivíduo e o intento.
É aquele que sabe mover seu ponto de aglutinação para uma nova
posição. A partir dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de coisas
boas e más aos seus semelhantes. Os feiticeiros não se encontram mais
no mundo dos afazeres diários, porque não são mais presa de sua auto-
reflexão. Não está mais preso pelas preocupações do mundo cotidiano.

8
Permanecem num mundo cotidiano, mas não pertencem mais a ele. Os
feiticeiros amadurecidos são capazes de mover-se para além do mundo
que conhecemos, o que não ocorria com pessoas inexperientes.
Mover o ponto de aglutinação é tudo que importa. Esse movimento
depende de acúmulo de energia e não de instrução. Quem move o ponto
de aglutinação é o Espírito. Nenhum procedimento pode ocasionar a
movimentação do ponto de aglutinação. O Nagual atrai o ponto de
aglutinação ao movimento ajudando a destruir o espelho da auto-reflexão.
Mas isso é tudo que o Nagual pode fazer. Quem move de fato é o espírito,
o abstrato; algo que não pode ser visto ou sentido; algo que não parece
existir e, no entanto, existe. Por essa razão, os feiticeiros afirmam que o
ponto de aglutinação move-se inteiramente por conta própria.. Ou dizem
que o Nagual o move. O Nagual move o ponto de aglutinação e, no
entanto, não é ele próprio quem provoca realmente o movimento. Seria
mais apropriado dizer que o espírito se expressa de acordo com a
impecabilidade do Nagual. O Espírito pode mover o ponto de aglutinação
com a simples presença de um Nagual impecável.
Quando um feiticeiro move seu ponto de aglutinação ao local exato
onde estava, revive a experiência total. Essa recordação do feiticeiro é a
maneira de recuperar toda a informação armazenada no movimento do
ponto de aglutinação.
O ponto de aglutinação muda de lugar sob condições de sono normal
ou extrema fatiga, doença ou ingestão de plantas psicotrópicas. Quando o
ponto de aglutinação está em uma nova posição, um feixe diferente de
energia passa através dele, trazendo como resultado um mundo novo e
real para se perceber. Cada novo mundo que surge dessa maneira é um
mundo totalmente inclusivo, diferente do mundo da vida cotidiana, mas
absolutamente similar a ele no fato de que se pode viver e morrer nele. A
possibilidade de se viajar para qualquer um desses mundos, ou para todos
eles, é a herança de todos os seres humanos. Estes mundos estão lá à
vontade para serem perguntadas, e que tudo o que um ser humano
precisa para chegar até esses mundos é intentar o movimento do ponto de
aglutinação.
Para entrar no outro mundo a pessoa tem de ser completa. Para ser
feiticeiro, tem de ter luminosidade, nem buracos, nem remendos e com
todo o fio do espírito. Um feiticeiro que for vazio tem de tornar a ser
completo.
Esta é a natureza do conhecimento dos feiticeiros. Você não pode
raciocinar; não é possível "verificá-lo" intelectualmente. A única coisa que
podemos fazer com isso é colocá-lo em prática, explorando as
possibilidades extraordinárias dentro do nosso ser. A guerra dos feiticeiros

9
não é dirigida contra outras pessoas, mas contra suas próprias fraquezas.
Da mesma forma, sua paz não é a condição de submissão, mas é um
estado imperturbável de silêncio e disciplina internos. Na escala cósmica,
a força de um ser não é medida por sua capacidade física, mas por sua
capacidade de manipular a consciência. Segue-se que, se quisermos dar o
próximo passo evolutivo, isso deve ser feito por meio de disciplina,
determinação e estratégia. Essas são nossas armas.
O Nagual é o conduto do espírito. Ele, o Nagual, gasta uma vida
inteira redefinindo de modo impecável seu elo de conexão com o intento, e
uma vez que tem mais energia que o homem comum, pode permitir que o
espírito se expresse através de si. A primeira coisa que o aprendiz de
feiticeiro experimenta é uma mudança em seu nível de consciência, uma
mudança provocada simplesmente pela presença do espírito. Não há
procedimento envolvido em fazer o ponto de aglutinação mover-se. O
espírito toca o aprendiz, e seu ponto de aglutinação move.
O feiticeiro é o único ser na terra que treina a si mesmo a fazer duas
coisas transcendentais: primeiro em conceber a existência do ponto de
aglutinação e, segundo, fazer o ponto de aglutinação mover. O feiticeiro
para ter completa certeza sobre seus atos, sobre sua posição no mundo
dos feiticeiros, ou de ser capaz de utilizar com inteligência sua nova
continuidade, deve invalidar a continuidade de sua antiga vida.
Tomando meu silêncio como um acordo, continuou descrevendo um
programa de ação que eu deveria incorporar em meu mundo diário,
baseado em três pontos: parar meu diálogo interno à base de puro intento,
compactar minha energia por meio da reacomodação de meu modo de
vida e soltar as amarras de minha mente para ensonhar (ter um sonho
lúcido). Disse que esse programa estava projetado para me ajudar a soltar
um pouco as fixações coletivas e me animar a contrair um compromisso
prático com os postulados dos bruxos. Há uma única forma na qual o
homem pode se adiantar ao seu fim: através da manipulação de sua
energia. Esse trabalho consiste de ensonho, espreita e recapitulação. As
três técnicas se fundem em um mesmo resultado: o complemento do corpo
energético.
Os bruxos da velha guarda eram propensos ao misticismo; eles
usavam a astrologia, oráculos e conjuros, varas mágicas, qualquer coisa
que enganasse a vigilância da razão.
Don Juan recomendava intentar diretamente o silêncio interior.
Especificou que a bruxaria é a arte do silêncio. A chave dos bruxos é o
silêncio. Explicou que o silêncio mental não é só a ausência de
pensamentos. Realmente, trata-se de suspender os juízos, de testemunhar
sem interpretar. Aprender a pensar sem palavras.

10
A voz do espírito não provém de parte alguma, mas provém das
profundezas do silêncio, da esfera do não-ser. Esta voz só pode ser ouvida
quando estamos absolutamente silenciosos e equilibrados. As duas forças
contrárias que nos movem, masculino e feminino, positivo e negativo, luz e
trevas, precisam ser mantidas em equilíbrio para que seja criada uma
abertura na energia que nos envolve; uma abertura através da qual nossa
consciência possa esgueirar-se. Através dessa abertura na energia que
nos cerca o espírito pode manifestar-se.
Um guerreiro espreitador é o dono da situação, para o bem ou para o
mal, porque há algo terrivelmente efetivo em atuar sem a mente. Meu
mestre transmitiu diversas técnicas para me silenciar que, bem entendidas,
se reduzem a uma: o intento. O silêncio se intenta cruamente através do
esforço. É coisa de insistir uma e outra vez. Isso não significa que
reprimamos nossos pensamentos, mas que aprendamos a controlá-los.
O silêncio começa com uma ordem, um ato de vontade que se
converte no comando da Águia. Porém, nós temos que lembrar que no
momento em que nos impomos o silêncio nunca estaremos
verdadeiramente ali, mas na imposição. É necessário aprender a
transformar a vontade em intento. (Seria o intento uma força de
imposição?) Assim, uma outra forma de definir isto, é dizer que o silêncio é
uma aguda consciência do presente.
O principal combustível de nossos pensamentos são os assuntos
pendentes, as expectativas e a defesa do ego. Uma hora de práticas
arrasa com anos de explicações e produzem resultados reais, que são
duradouros.
Parar meu diálogo interno à base de puro intento, compactar minha
energia por meio da reacomodação de meu modo de vida e soltar as
amarras de minha mente para ensonhar. Essa é a verdadeira técnica da
feitiçaria.
Uma definição precisa de feitiçaria como uma prática seria dizer que
feitiçaria é a manipulação do ponto de aglutinação com a finalidade de
mudar o seu ponto focal de contato com o mar escuro da consciência,
tornando-se assim possível perceber outros mundos.
Ser Nagual significa alcançar um nível de consciência que dá acesso
a coisas inconcebíveis. A ação do Nagual existe exclusivamente no reino
do abstrato, do impessoal. O Nagual luta para alcançar uma meta que
nada tem a ver com as buscas do homem comum. As aspirações do
Nagual é alcançar o infinito e ser consciente dele. A tarefa do Nagual é
enfrentar o infinito e submergir nele diariamente, tal como um pescador
submerge no mar. O Nagual tem que pronunciar o seu nome antes de
entrar nele, dessa maneira, sua individualidade é mantida diante do

11
infinito. O que faz o ser humano se converter em um Nagual é a
capacidade de perceber a energia tal como ela flui no universo e que
quando percebe um ser humano dessa maneira, vê uma bola luminosa, ou
uma figura luminosa em forma de ovo.
O Nagual é vazio, e que esse vazio não reflete o mundo, mas reflete
o infinito. Os feiticeiros estão divididos em dois grupos: os Sonhadores que
são aqueles que possuem grande facilidade em deslocar o ponto de
aglutinação. Os Espreitadores que são aqueles que possuem grande
facilidade em manter o ponto de aglutinação fixado na nova posição.
Sonhadores e espreitadores se complementam um ao outro e eles
trabalham juntos com suas inclinações inatas. A arte do Nagual é
manipular o ponto de aglutinação e fazê-lo mudar de posição, à vontade,
nas esferas luminosas que são os seres humanos.
Se você quer conhecer o lado mágico do mundo, seja implacável
com seus raciocínios, não permita que eles se acomodem, leve-os até o
limite, ao ponto mesmo de ruptura. Em tais circunstâncias, sua mente terá
só duas opções: se impor, obrigando-o a abandonar a aprendizagem, ou
ficar calada, deixando-o em paz. As condições ideais são aqui e agora.
A essência do nosso ser é o ato de perceber, e que a magia de
nosso ser é o ato da consciência. A percepção e a consciência é uma
unidade única, uma unidade que possui dois domínios. O primeiro é a
atenção do tonal, isto é, a capacidade das pessoas comuns perceberem e
situarem sua consciência no mundo comum da vida cotidiana (primeiro
círculo do poder). É a nossa capacidade de dar ordem à nossa percepção
do mundo de todo dia. O segundo domínio é a atenção do nagual, isto é, a
capacidade dos feiticeiros situarem a sua consciência no mundo não-
comum (segundo círculo do poder). O Nagual disse que para ter a
segunda atenção, basta tentar e tentar.
Veja, o domínio da atenção é de suprema importância no caminho
dos feiticeiros, porque é a matéria primária da criação. Em todos os
mundos, os graus de evolução são medidos pela capacidade de perceber,
de estar consciente. As ações dos feiticeiros é toda uma vida de disciplina,
sobriedade, desapego e capacidade analítica. Os guerreiros dão o maior
valor a esses atributos, e juntos eles constituem o estado de ser que eles
chamam de impecabilidade. Um guerreiro aceita com humildade o que ele
é, e ele não desperdiça seu poder lamentando porque as coisas não são
de outra forma. Se uma porta está fechada, não a chutamos e batemos!
descubra como abri-la, da mesma forma, se sua vida não é satisfatória, o
guerreiro não se ofende, nem reclama, ao contrário, traça estratégias para
alterar o curso de seu destino. Se aprendermos a conter nossa
autopiedade e, ao mesmo tempo, abrirmos espaço para o autêntico 'eu',

12
nos tornaremos condutores da intenção cósmica e condutores de torrentes
de energia. Para fluir dessa maneira, devemos aprender a confiar em
nossos recursos e entender que nascemos com tudo o que precisamos
para a aventura extravagante que é nossa vida. Como guerreiro, cada
homem ou mulher que entrou no caminho da feitiçaria sabe que é
responsável por si mesmo.
A tragédia do homem de hoje não é sua condição social, mas a falta
de vontade de mudar a si mesmo. É muito fácil projetar revoluções
coletivas, mas mudar genuinamente, acabar com a autopiedade, apagar o
ego, abandonar nossos hábitos e caprichos... ah, isso é algo
completamente diferente! Os feiticeiros dizem que a verdadeira rebelião, e
a única saída da humanidade como espécie, é encenar uma revolução
contra sua própria estupidez. Como você pode entender, este é um
trabalho solitário.
O progresso ao longo do caminho dos feiticeiros é, em geral, um
processo drástico cujo propósito é colocar em ordem esse elo de conexão.
O elo de conexão do homem comum com o intento está praticamente
morto, e os feiticeiros começam com um elo que é inútil, porque não
responde voluntariamente. Para reavivar esse elo, os feiticeiros
necessitam de um propósito rigoroso, feroz – um estado mental especial
chamado intento inflexivo.
A tarefa de feitiçaria, do ponto de vista do espírito, consiste em
limpar nosso elo de conexão com ele. O edifício que o intento exibe diante
de nós é, então, uma casa de limpeza, dentro da qual encontramos tanto
os procedimentos para limpar nosso elo de conexão quanto o
conhecimento silencioso que permite que o processo de limpeza tenha
lugar. Sem estes conhecimentos silenciosos nenhum processo pode
funcionar, e tudo o que teremos será uma indefinida sensação de
necessitar de algo.
Mover o ponto de aglutinação é tudo, mas não significa nada se não
for um movimento sóbrio e controlado. Portanto, feche a porta da
autoreflexão. Seja impecável e terá a energia para atingir o lugar do
conhecimento silencioso. A única limitação dessa viagem maravilhosa é
que para entrar nas maravilhas deste mundo, ou nas maravilhas de um
outro mundo, um homem tem de ser um guerreiro: calmo, senhor de si,
indiferente, amadurecido pelas investidas do desconhecido.
De agora em diante, você terá de levar uma vida na qual a
consciência terá a maior prioridade. Você deve evitar tudo que está
enfraquecendo e prejudicando seu corpo ou sua mente. Além disso, é
fundamental, a partir de agora, romper com todos os laços físicos e
emocionais com o mundo. Porque antes de mais nada você deve adquirir

13
unidade, pois, somos convencidos de que existe em nós uma dualidade; a
mente é a parte insubstancial em nós, e o corpo é a parte concreta. Esta
divisão mantém nossa energia em estado de separação caótica e impede
sua fusão. Esta transformação deve ser realizada durante nossa vida, e
que o cumprimento dessa tarefa é a única verdadeira meta que o ser
humano pode ter. Todas as outras realizações são transitórias, pois a
morte dissolve todas no nada.

O Xamanismo

Xamanismo é o nome genérico dado às atividades de práticas


mágicas, geralmente realizadas por um xamã, ou feiticeiro, que busca
contatar mundos e forças sobrenaturais,
O xamanismo possibilita o aprendizado consciente de transpor o
aparente abismo existente entre o mundo físico e as esferas da
imaginação e da visão. Para isso, é preciso abandonar o sistema de
crenças convencional sobre a realidade. Todos os elementos do meio
ambiente estão vivos e todos possuem sua fonte de poder no mundo
espiritual.
O xamã é uma pessoa que possui conhecimentos e poderes para
lidar com forças sobrenaturais, quase sempre com a intenção de curar.
Essas forças sobrenaturais podem ser espíritos, deuses, entidades,
energias ou o próprio Deus. O xamã é o homem que tem o conhecimento
e a habilidade de manipular a energia.
Xamanismo é um estado de consciência. É a capacidade de usar
campos de energia que não são empregados normalmente, para perceber
de outra forma o mundo cotidiano que conhecemos. Não é que a medida
que o tempo passa, o guerreiro aprenda xamanismo; antes, o que ele
aprende enquanto o tempo passa é a economizar energia. Esta energia
armazenada vai capacitá-lo a manipular alguns campos de energia que
são normalmente inacessíveis a ele.
Pensamentos e sentimentos são formas de energia que vão para
locais específicos na rede de poder. Os xamãs possuem 4 atividades
principais: cura, acesso a conhecimento novo ou perdido, desenvolvimento
do poder e profecia ou predições. Sempre foram pragmáticos e fazem o
que for melhor para aumentar sua reputação de eficientes curandeiros e
visionários.
Para os xamãs Toltecas tudo é percepção, e o alcance da nossa
consciência é ilimitado. O desconhecido está aqui, na frente do nosso
nariz, mas não o enxergamos por falta de energia livre. - A realidade como
vemos é apenas uma descrição que nos foi imposta ao nascermos e

14
reforçada ao longo da nossa vida. Consideramos o mundo e nossa
realidade como únicas e imutáveis por causa do nosso condicionamento
energético. Se essa configuração mudar, também mudam nossa visão de
mundo, de realidade e até de nós mesmos. - Um ser humano é a soma do
seu poder pessoal, e depende de cada um possuí-lo ou não. Dependendo
do nosso poder pessoal, tudo em abundância acontece em nossas vidas, e
na falta dele, tudo fica cinza. - Apesar do universo ser excitante, misterioso
e belo, também é predatório e perigoso. Cabe a você ser uma presa ou um
predador. - Para um guerreiro, não existem vitórias ou derrotas; existem
apenas desafios e uma vida mágica a ser vivida.
Os xamãs conhecem a energia e como ela funciona tanto no meio
ambiente como no corpo humano; aprendem a relaxar seus corpos físicos
e a reduzir o nível de estresse, de forma a estarem mais receptivos e
eficientes; utilizam os poderes de sua visão interior e imaginação para
viajar para o conhecimento e a informação vital. Aprendem a não julgar e a
confiar em sua orientação interior; aprendem a trabalhar com imagens e
símbolos naturais de seu interior e sabe como interpretá-los, a fim de
superar obstáculos e problemas; aprendem a entender as pessoas e a
trabalhar com elas, visando a cura. Sabem rir e aprendem a desapegar-se
do drama da vida, para divertir-se com a condição humana; aprendem a
comunicar-se externa e internamente ao mesmo tempo; aprendem a ser
bem sucedidos e sentem-se à vontade com o paradoxo; sabem como
alterar os níveis de consciência, sempre que o desejam; são lutadores,
disciplinados e persistentes em suas tentativas de adquirir poder e utilizá-
lo para o bem comum.
Você precisa de um corpo flexível, se você quer destreza física e
sensatez. Estas são as duas questões mais importantes na vida dos
xamãs, porque trazem sobriedade e pragmatismo: os únicos requisitos
indispensáveis para entrar em outros domínios da percepção. Navegar, de
forma genuína, no desconhecido exige uma atitude de ousadia, mas não
de imprudência. Para estabelecer um equilíbrio capaz de segurar essas
entranhas. Pude corroborar a veracidade de suas declarações observando
ele e seus quinze companheiros feiticeiros. Seu soberbo equilíbrio físico e
mental era a característica mais óbvia sobre eles. Entre a audácia e a
imprudência, um feiticeiro tem que ser extremamente sóbrio, cauteloso,
habilidoso e em soberba condição física.
Benefícios do xamanismo: mudamos as ideias de como os
acontecimentos ocorrem e como nos afetam; deixamos de nos sentir
vítimas; nossa perspectiva de vida se amplia, sentindo-nos ligados a tudo;
descobrimos como estabelecer objetivos apropriados, a fim de alcançá-los,
eficazmente; mudamos a percepção dos relacionamentos pessoais e o

15
método de comunicação; sentimo-nos inspirados e desafiados pelos
obstáculos com os quais podemos lidar e sabemos evitar os insuperáveis;
passamos a ter acesso ao conhecimento e informação que não
acreditávamos possuir; aprendemos a entrar em contato com uma
provisão infinita de energia à disposição de todos os que conhecem o
processo.
Não é que, à medida que o tempo passa, o guerreiro aprenda
xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é
economizar energia. Esta energia vai capacitá-lo a manipular alguns
campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é
um estado de consciência, a capacidade de usar campos de energia que
não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos.
Há no universo uma força incomensurável e indescritível que os
xamãs chamam intento, e absolutamente tudo o que existe em todo o
cosmo é ligado ao intento por uma conexão. Os xamãs estão interessados
em discutir, compreender e usar essa conexão. Estão especialmente
interessadas em limpá-la dos efeitos paralisantes que resultam das
preocupações comuns com a vida cotidiana. O xamanismo, neste nível,
pode ser definido como um procedimento de limpeza da conexão com o
intento.
O xamanismo é uma viagem de volta. O guerreiro retoma vitorioso
ao espírito, depois de ter descido ao inferno. E do inferno, ele traz troféus.
O entendimento é um desses troféus. O que precisamos fazer é permitir
que a magia tome conta de nós para banir as dúvidas de nossas mentes.
Quando as dúvidas são banidas, tudo é possível. Com um gesto para o
espírito, os guerreiros expõem o melhor de si mesmos e silenciosamente o
oferecem ao abstrato.
O xamanismo é um método simples e direto de perceber o mundo.
Quando praticamos o xamanismo, tornamo-nos co-criadores na vontade
coletiva da natureza e agentes da mudança no drama da evolução.
Libertamo-nos da ilusão de isolamento com o Universo e alinhamo-nos
com as forças de cura. Encontramos equilíbrio e integração e sabemos
quem somos e para onde vamos.
Todas as faculdades, possibilidades e realizações do xamanismo,
das mais simples às mais espantosas, estão no próprio corpo humano.
Um dos conceitos básicos do xamanismo é a noção de que uma
rede de poder sustenta toda a vida: tudo tem espírito, que é a fonte de
poder. Sem o conhecimento disto as pessoas são vítimas das
circunstâncias e não podem dominar suas decisões e atos.
A culminação da busca dos xamãs é a jornada definitiva. Por jornada
definitiva entende-se a possibilidade de que a consciência individual,

16
ampliada ao seu limite máximo, quando pode ser sustentada além do
ponto no qual o organismo é capaz de funcionar como uma unidade
coesiva, o que quer dizer além da morte. Essa consciência transcendental
é a possibilidade de que a consciência ultrapasse tudo o que é conhecido,
e chegue ao nível de energia que flui no universo. A busca chega ao final
quando o homem se transforma em um ser inorgânico, energia cônscia de
si mesma, atuando como uma unidade coesiva, mas sem um organismo.
Nesse nível atinge a liberdade total, um estado no qual a consciência
existe livre das imposições de socialização e síntese.

A Tradição Tolteca

Os Toltecas foram um povo com uma das culturas mais importantes


da história do Antigo México, considerados como os grandes civilizadores
do passado. Tiveram um desenvolvimento científico e espiritual
extraordinário, no qual a Ciência e Espírito, Tonal e Nagual, não se
contrapunham, mas sim se integravam, como a Águia e a Serpente na
figura de “Quetzalcoatl" deidade máxima de seu panteão. Este
conhecimento se expressava em suas tradições e em sua forma de vida.
Por isso os Toltecas eram chamados de “Homens de Conhecimento”,
guardiões do mais alto nível de conhecimento que um ser humano pode
alcançar.
A tradição da Toltequidade se baseia principalmente na busca do
equilíbrio das duas partes que formam nossa natureza como seres duplos:
Tonal e Nagual. Esta integração entre o nosso ser cotidiano e o outro eu,
há de refletir na vida de quem pratica esta Tradição. Baseia-se também no
conhecimento de nossa relação com todos os campos de energia que nos
rodeiam, desde os Grandes Poderes, como o Sol, a Terra, o Fogo e Água,
até nossa relação com as pessoas e a natureza ao nosso redor. O
caminho do Tolteca é a busca incessante de uma relação harmoniosa e de
reciprocidade com tudo aquilo que nos cerca.
A Tradição Tolteca se refere a uma poderosa expressão do espírito
humano em busca de sua verdadeira natureza. A luta para ser
verdadeiramente o que somos. A Tradição Tolteca não é uma religião,
nem sequer um conjunto de crenças. É um conjunto de práticas poderosas
cuja característica principal é sua capacidade de nos permitir entrar nessa
outra região de nossa consciência que chamamos de outro eu, o nagual,
em que recuperamos nosso poder como seres duplos e percorremos o
caminho de retorno ao Grande Espírito. Essa filosofia baseia-se em uma
profunda compreensão do universo e do lugar do homem nele. Ela procura

17
inspirar uma vida vivida com consciência, harmonia e respeito pela
natureza e pelos outros. Essa antiga sabedoria, ainda relevante e aplicável
hoje, oferece ferramentas para enfrentar os desafios da vida com equilíbrio
e perspicácia.
A filosofia tolteca, em sua essência, é um guia para uma vida de
liberdade, harmonia e compreensão profunda. Ela nos desafia a questionar
nossas crenças limitantes e a viver de acordo com valores como
autenticidade, respeito e consciência. A filosofia tolteca não é apenas uma
teoria, mas um modo prático de viver. Ela nos incentiva a sermos
impecáveis com nossas palavras, não levarmos as coisas para o lado
pessoal, não tirarmos conclusões precipitadas e sempre fazermos o nosso
melhor. Por meio de seus ensinamentos, somos convidados a ver o mundo
e a nós mesmos através de uma nova perspectiva. Com suas raízes
profundamente plantadas na sabedoria antiga, a filosofia tolteca oferece
uma bússola para navegar no mundo moderno com integridade e
propósito.
Um dos princípios fundamentais desta filosofia é a ideia de que todos
nós somos sonhadores, criando nossa própria realidade através das
crenças e percepções que temos sobre nós mesmos e o mundo ao nosso
redor. Isso coloca uma grande ênfase na importância da autopercepçãoe
da consciência de nossos pensamentos, sentimentos e ações. Outro
princípio vital da filosofia tolteca é a busca pela liberdade pessoal, definida
como a capacidade de escolher como vivemos nossas vidas, em vez de
sermos governados por crenças e medos inconscientes. Esta liberdade é
alcançada através da disciplina, do autoconhecimento e da prática
contínua dos quatro compromissos: ser impecável com a palavra, não
levar nada para o lado pessoal, não tirar conclusões precipitadas e sempre
fazer o melhor. Também está presente a compreensão de que tudo na
vida está interconectado e é mutuamente dependente, o que inspira um
profundo respeito e consideração pelo mundo natural e pelos outros. Com
a prática desses princípios, a filosofia tolteca promete uma vida de alegria,
satisfação e liberdade pessoal. Ela nos convida a viver de forma
consciente e intencional, cultivando uma relação de amor e respeito por
nós mesmos, pelos outros e pelo mundo ao nosso redor.
A filosofia tolteca não é apenas uma doutrina a ser compreendida,
mas um caminho a ser vivido. Aqui estão algumas práticas e técnicas para
incorporar esses ensinamentos na vida cotidiana:
1.Autoconsciência: A primeira etapa é se tornar consciente de seus
pensamentos, sentimentos e ações. Faça um esforço para notar quando
você está agindo fora de hábito ou crença inconsciente. Tome nota de
como essas ações afetam você e as pessoas ao seu redor.

18
2.Meditar: A meditação é uma excelente ferramenta para desenvolver a
autoconsciência. Ela pode ajudá-lo a desacelerar, a observar seus
pensamentos sem julgamento e a conectar-se com o seu verdadeiro eu.
3.Ser impecável com a palavra: Antes de falar, considere se suas
palavras são verdadeiras, necessárias e gentis. Evite fofocas e palavras
negativas sobre si mesmo e os outros.
4.Não levar nada para o lado pessoal: Quando se sentir ofendido ou
ferido, lembre-se de que as ações e palavras dos outros são reflexo de
suas próprias realidades, não da sua. Pratique a empatia e a
compreensão.
5.Não fazer suposições: Antes de tirar conclusões, procure a verdade.
Faça perguntas, procure esclarecimentos e evite julgamentos precipitados.
6.Sempre fazer o seu melhor: Reconheça que “o seu melhor” pode variar
de dia para dia. Respeite seus limites, mas também se desafie a crescer e
a se desenvolver.
A aplicação desses princípios na vida cotidiana requer prática e
paciência, mas os benefícios são profundos. Ao viver de acordo com a
filosofia tolteca, você pode encontrar uma maior paz de espírito, harmonia
e liberdade pessoal.
A filosofia tolteca, com sua ênfase na autoconsciência e no crescimento
pessoal, traz uma série de benefícios tangíveis para quem decide
embarcar nesta jornada de autodescoberta. Aqui estão alguns dos mais
significativos:
1.Autopercepção aprimorada: Os ensinamentos toltecas nos incentivam
a nos tornarmos mais conscientes de nossos pensamentos, sentimentos e
ações, o que pode levar a uma compreensão mais profunda de nós
mesmos e de como nos relacionamos com o mundo.
2.Crescimento emocional: Ao não levar as coisas para o lado pessoal e
não fazer suposições, podemos desenvolver habilidades emocionais mais
fortes, melhorar nossas relações e reduzir o estresse e a ansiedade em
nossa vida diária.
3.Comunicação efetiva: Ser impecável com a palavra nos ajuda a
comunicar de maneira clara, honesta e eficaz, melhorando assim nossos
relacionamentos interpessoais.
4.Melhor desempenho e satisfação: Ao sempre fazer o nosso melhor,
podemos aumentar nossa eficácia e satisfação em todas as áreas da vida,
do trabalho aos relacionamentos e ao autocuidado.
5.Liberdade pessoal: Os ensinamentos toltecas nos ajudam a quebrar as
cadeias de crenças limitantes e a viver uma vida de autenticidade e
liberdade pessoal.

19
6.Conexão e respeito pela vida: A filosofia tolteca promove uma profunda
conexão com o mundo natural e um profundo respeito por todas as formas
de vida.
A Toltequidade é um caminho aberto para todos, não importando sua
nacionalidade e crenças religiosas. Um caminho para fazer de nossas
vidas uma experiência de plenitude e de nosso mundo um melhor lugar
para viver. A Nova Toltequidade é simplesmente a expressão moderna das
antigas práticas dos Guerreiros Toltecas, as quais se estruturam de acordo
com as características e necessidades do mundo moderno.
Os toltecas possuiam uma mitologia extremamente elaborada.
Acreditavam poder entrar e sair do mundo dos sonhos em um momento.
Seu conceito de realidade não é igual ao nosso. Segundo os mitos
toltecas, essas cidades também existem no outro mundo e eles recebem
seu poder desse reino etérico. Sua magia, sua feitiçaria, seu
conhecimento, eles recebem tudo diretamente do mundo dos sonhos. E
este mundo é descrito em suas lendas e histórias. Os conhecimentos dos
toltecas foram preservados pelos Mexicas, povo que ocupou a região
central do México após a queda dos Toltecas. Os mexicas são os
herdeiros da tradição mística e militar dos toltecas. Assim os trabalhos que
realizamos representa a integração das tradições ancestrais.
Os antropólogos definiram os toltecas como uma nação ou raça,
mas, na verdade, eram cientistas e artistas que formaram uma sociedade
para estudar e preservar o conhecimento e as práticas espirituais de seus
ancestrais. Eles formaram uma comunidade de professores (naguais) e
estudantes em Teotihuacán, a antiga cidade das pirâmides nos arredores
da Cidade do México, conhecida como o lugar onde "o homem se torna
Deus".
Séculos antes da chegada dos espanhóis ao México havia
extraordinários videntes toltecas. Eram os últimos elos de uma cadeia de
conhecimento que se estendia por milhares de anos. Conheciam a arte de
manipular a consciência, eram os mestres dessa suprema arte, o mistério
de estar consciente! Tolteca significa o receptador e conservador dos
mistérios. Um feiticeiro é um tolteca quando recebe os mistérios de
espreitar e sonhar. O modo como os toltecas começaram a seguir a trilha
do conhecimento foi consumindo plantas de poder. Tolteca significa
homem de conhecimento. Alguns deles empenharam-se em usar a visão
de modo positivo e ensiná-la aos seus semelhantes. Diz Castañeda que
sob a direção dos toltecas, as populações de cidades inteiras passaram
para outros mundos e nunca mais voltaram, antes da chegada dos
espanhóis. Castaneda recebeu os ensinamentos dos antigos Toltecas
através do seu mestre Dom Juan.

20
Esses indígenas, cujos saberes não se assemelham aos do mundo
ocidental ou oriental, são portadores de sua própria Tradição altamente
eficiente, que não funciona como um corpo de crenças ou práticas
religiosas vazias, mas sim como um conjunto de procedimentos precisos,
que permitem ao homem vivenciar uma gama de experiências e
percepções, muito mais ampla do que a normalmente permitida pela
cultura da sociedade ocidental moderna.
Os índios ancestrais do México queriam compreender o universo, a
vida, a morte e a extensão das possibilidades do homem no que se refere
à consciência e à percepção. O grande desejo de conhecimento levou-os a
desenvolver práticas que lhes possibilitaram alcançar níveis inimagináveis
de consciência. Eles fizeram descrições detalhadas de suas práticas e
definiram as esferas reveladas por essas práticas. Eles transmitiram essa
tradição de geração a geração, sempre envolvida em segredo.
Neste trabalho vou expor a forma como os indígenas sobreviventes
da antiga Toltequity buscam e encontram o Espírito e se relacionam com
os principais poderes da Natureza. Vou falar de um caminho árduo que
dura a vida inteira. Estrada difícil, sim; mas real, forte e tangível. Esse é o
caminho dos toltecas.
Eu descobri, sob a tutelagem tolteca, o que o Poder do Sonho
significa: indispensável ferramenta de cura que literalmente fez milagres
acontecerem. Eu também vim a realizar o Poder do Sonho, tive forte
conexão com nossa energia sexual e o desenvolvimento de nossa energia
corporal, que, ainda que não a tivesse por completo, veio a surpreender-
me completamente. Entre sua área de destreza energética era
longevidade e sabedoria, praticas de energia sexual, o antídoto poderoso
do verdadeiro tolteca.
Nós nos autodenominamos toltecas não apenas devido à linhagem,
mas também porque somos artistas. A vida é a tela da nossa arte, e nossa
tradição se dedica a ensinar as lições de vida que vão nos ajudar a criar
nossa obra-prima.
A tradição tolteca não é uma religião, e sim um modo de vida para o
qual a grande obra-prima é viver com felicidade e com amor. Ela abraça o
espírito ao mesmo tempo em que honra os vários grandes mestres de
todas as tradições do mundo. O cerne da questão de todo este trabalho é
ser feliz, aproveitar a vida e curtir os relacionamentos com as pessoas que
mais amamos, começando por nós mesmos.
A sabedoria tolteca brota da mesma unidade essencial de verdade
da qual se originam todas as tradições esotéricas sagradas do mundo.
Embora não seja uma religião, respeita todos os mestres espirituais que
ensinaram na terra. Embora englobe o espírito, é descrito com mais

21
precisão como um modo de vida caracterizado pelo fácil acesso à
felicidade e ao amor.
Aqui estão algumas frases que refletem a sabedoria da filosofia
tolteca:
1.“Seja impecável com a sua palavra.”
2.“Não leve nada para o lado pessoal.”
3.“Não faça suposições.”
4.“Sempre faça o seu melhor.”
5.“Sua palavra é a força criativa do seu universo.”
6.“Somos todos artistas do espírito, criando nossas próprias vidas.”
7.“A percepção é a interpretação de cada um da realidade.”
8.“A busca pela verdade é a busca por si mesmo.”
9.“Não somos vítimas de nossa realidade, mas os criadores dela.”
10.“A liberdade é a capacidade de expressar a sua verdade sem medo.”
11.“A mudança começa com a aceitação de quem somos agora.”
12.“A verdadeira transformação requer uma morte para o velho e um
nascimento para o novo.”
13.“Não existe falha, apenas aprendizado.”
14.“A compaixão é a maior expressão de poder.”
15.“Viver de acordo com os quatro compromissos é viver uma vida de
liberdade, amor e alegria.”

O Nagualismo

De uma maneira geral, podemos dizer que a obra de Castañeda, em


essência, não se trata de um estudo antropológico ou mesmo literatura,
mas sim de um grande Tratado de Toltequidade (Toltecáyotl). Para tanto,
falar de Castaneda é penetrar na essência e significado de uma antiga
tradição: o Nauallotl!
O nagualismo (Nauallotl) constitui uma tradição pré-colombiana que
se perde na linha do tempo e transcende qualquer registro histórico que se
tenha notícias. Esse mar desconhecido é a Toltequidade, o Nagualismo, o
toltecáyotl, o Nauallotl, a força dos toltecas, expresso no seu conhecimento
e nas suas práticas.
O nagualismo é uma prática real, efetiva e original, criada por
colaboração de várias culturas americanas; visa à qualidade e à criação e
uma vida superior, à libertação de elementos baixos do ‘ethos’ humano e
também à evolução tanto do indivíduo quanto da espécie. Trata-se de uma
tradição de conhecimento tão sofisticado quanto as realizações cientificas
de nossa civilização, tanto em termos de conhecimento cosmológico
quanto em matéria de compreensão da essência da natureza humana.

22
Neste sentido, o Nagualismo também pode ser entendido como o
nome atribuído pelos velhos bruxos do México pré-hispânico a seu sistema
de crenças. De acordo com a história, aqueles homens estavam tão
profundamente interessados em suas relações com o universo a tal grau
que se deram a tarefa de investigar os limites da percepção através do uso
de plantas enteógenas que lhe permitiam mudar os níveis de consciência.
Depois de praticar durante varias gerações, alguns deles aprenderam a
“ver”, ou melhor, a perceber o mundo, não como uma interpretação, mas
como um fluxo constante de energia.
É importante frisar que nagualismo, como sistema ideológico, não se
baseia em dogmas, e sim, na experiência pessoal de gerações de
praticantes. O nagualismo consiste em um conjunto de técnicas
desenhadas para alterar a percepção cotidiana, produzindo fenômenos
psíquicos e físicos de extraordinário interesse. Por exemplo, a tradição
mexicana afirma que um Nagual é alguém capaz de transformar-se em um
animal, pois conseguiu aprender a sonhar a si mesmo em uma forma
diferente da forma de um ser humano através do movimento de seu ponto
de aglutinação para outras regiões do “casulo humano”. Atrás desta crença
popular está o fato de que os bruxos exploram o seu subconsciente com o
propósito de lançar luz sobre aquele âmbito desconhecido de nosso ser.
Nagualismo é um conjunto de conhecimentos práticos que visam
aumentar a nossa energia afim de podermos aumentar a nossa
capacidade de percepção e de consciência. Tal aumento da energia
também promove saúde, bem-estar, magnetismo, sorte (poder pessoal) e
uma postura forte e equilibrada diante dos desafios da vida.
O termo nagualismo é uma expressão cunhada por Don Juan Matus,
mestre de Carlos Castaneda, para definir o conhecimento ligado a
linhagem de xamãs-guerreiros do qual faziam parte.
Carlos Castaneda trouxe à publico tal conhecimento, mas o
conhecimento que veio à luz é apenas parcela, uma generosa parcela, de
uma estrutura bem mais complexa. Em sua obra Poder do Silêncio, Carlos
Castaneda nos fala que o nagualismo consiste em 21 cernes abstratos e
nessa mesma obra estão delineados apenas 6 cernes. Por aí podemos
deduzir a complexidade que envolve o nagualismo.
O conhecimento prático revelado por Castañeda e suas
companheiras, por xamãs como Don Miguel Ruiz, em comparação com
outros conhecimentos afins revelam um quadro belo e portentoso.
Percebemos nítidas afinidades entre o Nagualismo e o Taoísmo, entre o
Nagualismo e o conhecimento do Quarto Caminho, entre o Nagualismo e a
filosofia Tântrica, entre o Nagualismo e determinados ramos do Budismo,
entre o Nagualismo e Thelema. Reconhecemos também a singularidade

23
do Nagualismo. Em nenhuma outra escola esotérica encontramos por
exemplo o conceito de ponto de aglutinação ou a formulação energética do
ser humano como uma bolha de luz e energia, pelo menos se formos
considerar isso com relação ao conhecimento esotérico que veio de
alguma forma à público. A concepção de que o centro de energia do alto
da cabeça está sob estado de sítio também é própria da visão do
Nagualismo.
Essas semelhanças e singularidades legitimam um conhecimento,
pois indicam que iniciados de outras escolas chegaram as mesmas
formulações ao percorrerem o caminho e ao fazê-lo perceberam
determinadas coisas que os outros não viram ou viram e não se
aprofundaram pois o conhecimento de fato é vastíssimo, infinito mesmo.
Nagualismo vem de nagual. Nagual é uma palavra que tem múltiplos
significados. Pode designar um líder de um grupo de xamãs-guerreiros,
líder definido pela sua configuração energética específica. Um nagual é um
ser que tem energia extra, duplicada. Por ter energia extra o nagual é
naturalmente um líder, pois sua energia permite uma conexão
mais intensa com o Intento. Segundo Don Juan o homem é um nagual
apenas por poder refletir melhor o Infinito, mas o elo com o nagual humano
é apenas eventual, nosso elo verdadeiro é com o Espírito, com o Abstrato.
Nagual também é a designação para o Intento, o Abstrato, A Águia,
O Infinito uma força impessoal que permeia todas as coisas expressando-
se através de leis cósmicas ou universais, é por si mesma indefinível O
Intento e o Tao parecem ser a mesma força.
Nagual é de outra maneira visto como o outro, o sósia, o corpo
energético. O corpo energético é um corpo forjado através da disciplina e
que nos permite expressar-nos em outras camadas da cebola, além da
realidade comum ou ordinária. No nagualismo o sonho é visto como uma
porta para adentrarmos em outras realidades e o veículo para tal viagem
de percepção é o corpo energético. No nagualismo existem muitas
realidades, o universo é um multiverso, a realidade que vivemos no dia à
dia não é a única possível.
O nagualismo de certa forma é um conjunto de práticas que visam
formar um corpo de energia para podermos adentrarmos em outras
realidades.
O nagualismo por ser uma disciplina prática ou um conjunto de
conhecimentos práticos é um conhecimento aberto a incorporar novidades
de acordo com o tempo. É um sistema aberto, vivo, pragmático de
conhecimento. Não é uma doutrina ou um conjunto de dogmas. Não é uma
religião. Não há Deus ou Deuses a serem adorados ou reverenciados
como seres superiores. Há o Intento, o Tao a Divindade como força da

24
qual todos fazemos parte, da qual somos expressão
direta, da qual somos manifestação efetiva. Assim o Nagualismo pode
entender a afirmativa thelêmica: Não há Deus além do Homem. Mas o
contrário também pode ser verdadeiro: Não há Homem além de Deus.
Nagual também pode significar o desconhecido, em oposição ao
conceito de tonal, o conhecido. O tonal é tudo aquilo que pode ser
definido, descrito. O nagual é tudo aquilo que foge à descrição, a
conceituação. Tonal é a nossa pessoa social, nosso corpo, algo que tem
começo e fim. Já o Nagual não tem começo ou fim, é eterno.
Assim o termo nagual é rico em sua abordagem, multifacetado,
misterioso, complexo. Interessante é refletir na idéia de que o tonal e o
nagual sendo opostos também são complementares e que um emerge do
outro. Para onde vai o tonal ou de onde vem o tonal, já que ele tem
começo e fim? Do nagual. O nagual pode tornar-se tonal de certa forma
quando o desconhecido torna-se conhecido. Assim um engendra o outro
tal como no simbolo do Tao e seus pares de opostos: Yin e Yang.
O Nagualismo e o Taoísmo possuem profundas afinidades. No
Nagualismo temos o conceito de agir por agir, agir sem esperar resultados.
No Taoísmo temos o conceito de wu-wei (não-ação). Encontramos
conceitos semelhantes no Budismo e sua ação segundo o dharma e na
Karma-Yoga ou Yôga da Ação.
Acreditamos que as tradições afins podem aprender umas com as
outras. O Nagualismo e o Taoísmo parecem ter vindo de um tronco
comum. Na história da linhagem de Don Juan houve uma nagual chamado
Lujan, um artista marcial chinês, que deu grandes contribuições ao
nagualismo, associando passes mágicos e a arte marcial da tradição
oriental (Kung Fu, Tai Chi e Chi Kung).
Qualquer praticante de uma dessas artes nota de imediato a
semelhança à ponto de um mestre de Tai Chi certa vez ter me perguntado
várias vezes se eu era praticante de Tai Chi em minha primeira aula, tendo
apenas praticado Passes Mágicos por 3 anos. O próprio Castañeda
estimula a prática de Kung Fu como uma forma do praticante de
Tensegridade aperfeiçoar sua arte. O mesmo Castañeda foi certa vez
tratado e curado por um mestre em Kung Fu.
Acreditamos que um praticante por ser um ser pragmático e não um
seguidor de doutrinas tem muito à ganhar se for capaz de ter a flexibilidade
e a fluidez para aprender através de diferentes tradições colhendo aquilo
que é útil para atingir a meta da liberdade de percepção através de
técnicas que propiciem uma acumulação e canalização da Energia.
O Nagualismo assim é um método prático e aberto que visa
aumentar o nosso poder pessoal para irmos além dos limites perceptivos

25
que nos foram impostos. O Nagualismo é incompatível com o fanatismo
sob todas as suas formas e incongruente com seguidores em sua
dependência dos passos alheios. Alguém que de fato seja um praticante,
num processo contínuo de acumulação de energia, nunca poderá ser
vítima da armadilha fanática.
O Nagualismo enquanto conjunto de conhecimentos práticos, através
do nagual Carlos Castañeda nos apresenta algumas ferramentas para o
desenvolvimento do poder pessoal e do incremento de nossa energia:
O Caminho do Guerreiro (um modo de vida ou estilo de ser)
Tensegridade ou Passes Mágicos
Recapitulação
Caderno de Navegação
Silêncio Interior
Uso dos Pequenos Tiranos
EnSonhar
Espreitar
Todas essas ferramentas interagem de uma forma tal a produzir uma
transformação pessoal. Deixamos de viver como homens e mulheres
comuns, meros escravos da ordem social, para nos tornarmos guerreiros
capazes de viver o sonho, o mito da liberdade total. Viver o sonho não é
viver um mundo de fantasia, mas sermos capazes de efetuar uma
revolução interna, pessoal, uma revolução da percepção, aqui e agora, em
nossas vidas, através de atos concretos, atitudes reais, que constroem um
tonal forte, um corpo forte, uma mente sadia, uma vida equilibrada, onde a
meta é SER livre das amarras que nos foram impostas, amarras feitas de
medo, culpa, preocupação com o que os outros vão pensar, conceitos
ilusórios, que não nos permitem utilizar o poder incalculável que há em
nossas mãos para adentrarmos em outras realidades e não sermos uma
presa fácil num universo que o nagualismo compreende como predatório.
O aumento da energia ou da consciência implica em lutas para
superarmos nossos limites e sempre que aumentamos nossa força, algo
no imenso desconhecido reconhece o aumento e nos coloca em xeque.
Isso por exemplo fica claro no Arte do Sonhar de Castaneda quando de
seu embate com os seres inorgânicos. Aliás não é à toa que o Nagualismo
que também pode ser definido como o Caminho do Guerreiro, tem esse
nome. O processo de evolução da percepção é um esforço consciente,
que demanda grande luta, disciplina e atenção, um embate feroz para
superarmos as nossas fraquezas e limites, mas um embate que mesmo
sendo feroz, pois exigente um intento inflexível, também exige fluidez,
suavidade e leveza. Um embate feroz que não é uma luta pela moralidade,
mas uma luta para desenvolvermos nossas habilidades perceptivas.

26
O Nagualismo não exige um nagual ou um líder para alcançarmos a
liberdade. A exigência fundamental é que sejamos impecáveis em nosso
agir, pois o Abstrato é o mestre, o guerreiro, o sonhador e o espreitador
supremo.
Quando um guerreiro é impecável o Poder abre seu caminho. Nós já
estamos no Nagual, melhor dizendo, de certa maneira nós somos o próprio
Nagual, mas saber isso de fato é uma questão de energia e de percepção.
O Nagual e o tonal
Os esforços do nagualismo conduzem o ser a recuperar sua
totalidade, o manejo dos dois lados do corpo. Aproximar as duas formas
de exercer a atenção para então se conscientizar a partir de uma terceira,
a partir de sua totalidade.
Entendemos a dualidade como tonal e nagual, ou seja, fisico e astral.
Entenda o tonal, ou melhor, o físico, como uma ilha, essa ilha abarca toda
os seus sentidos, tudo que é perceptível e manifestável em sua tela.
Entenda toda sua percepção como uma tela dimensional de sensações,
essas sensações englobam suas percepções físicas, pensamentos,
sentimentos e tudo o mais perceptível em sua tela, seu “fora” e “dentro”
são seu físico, a fisicalidade de “fora” não é separada do que alguém
normalmente entende por fisicalidade, segundo nossa linhagem. A 1a
forma de exercer a atenção lida com o tonal/físico diretamente.
O nagual, ou melhor, o astral seria todo o mar ao redor da ilha, todo
o desconhecido, todas as formas e percepções sensoriais fora do seu
âmbito normal de percepção. O astral é infinito. Por ser desconhecido, isso
quer dizer que ele pode se tornar conhecido através de nossa exploração
consciente. A 2a forma de exercermos a atenção lida diretamente com o
nagual/astral.
Com o tempo um indivíduo pode perceber que a ilha nunca esteve
separada do mar e se ver como um todo em sua totalidade, assim então
exercendo a 3a forma de exercer a atenção.
O Tonal se divide em duas partes e faz parecer que estamos lidando
com as duas partes da nossa dualidade: bem e mal, corpo e alma, matéria
e mente, positivo e negativo…mas ao acreditar nisso estamos apenas
brincando de pegar dois elementos do tonal e opondo um ao outro. Por
isso, fazer parar a visão de mundo do Tonal é a chave do caminho do
guerreiro para permitir que a outra parte da nossa Totalidade emerja…
O Nagual é aquilo que está silenciosa e atemporalmente pairando
mais além dos limites da ilha do Tonal. Todo Tonal, dizia dom Juan, é
como uma barca flutuando no Nagual.

27
Assim sendo, está fora do departamento da Primeira Atenção:
não pode se tornar uma memória, ser compreendido por meio de palavras
e símbolos, não se pode agarrá-lo e segurá-lo com a mente. Ao fazê-lo
estaremos apenas emprestando elementos da Ilha do Tonal, ou seja: é
uma tentativa do Tonal de assumir o controle e seguir falando de si
mesmo.
O Nagual pode apenas ser presenciado. O ser humano normal passa
uma vida inteira sem se dar conta deliberadamente da presença do Nagual
devido ao uso constante da Primeira Atenção.
Em alguns raros e escassos momentos o Nagual pode emergir
inadvertidamente, e se o Tonal está enfraquecido isso resulta geralmente
em pânico e medo de morrer ou enlouquecer.
Sabendo disso, os videntes toltecas formularam o Caminho do
Guerreiro: recomendam não que se enfraqueça o Tonal pra fazê-lo largar o
controle, mas fortalecê-lo, ensinando o desapego de suas criações,
a superação do medo e da clareza, para que se torne capaz de
voluntariamente soltar o controle. Outra coisa que se pode dizer, é que sua
atenção pode agir sobre a Ilha do Tonal e que seus efeitos estão
totalmente além dos limites da razão.
Ela é chamada de Segunda Atenção, e é aquilo que se pode vir a
conhecer do Nagual: seus efeitos. O Nagual propriamente é Incognoscível,
e os Toltecas consideram o ato supremo de se tornarem alertas dele como
a Terceira Atenção ou como a preparação para a entrada na Liberdade
Total.
A Segunda atenção surge da porção do Nagual que se encontra logo
abaixo da ilha do Tonal e que é capaz de atuar sobre a Ilha. É a força
inexplicável graças à qual testemunhamos e nos tornamos conscientes de
ser.
E seu manejo nos torna capazes de mover o nosso testemunhar,
presenciar o mundo do dia a dia de outras formas,
estabelecer novas intenções ou presenciar outros mundos.
Enquanto o movimento da 1a atenção é testemunhada pela razão e dá
lugar à consciência de ser um Corpo Físico. O movimento da 2a atenção é
testemunhada pela vontade e dá lugar à consciência de ser, pura e
simples, uma consciência luminosa percebedora – nosso Corpo
energético, do qual tanto o Corpo físico quanto o de Sonhos são parte.
Para chegar à ela, é preciso parar a Primeira Atenção e deixá-la
afundar, por assim dizer, no momento presente. Ou seja, parar a visão de
mundo do Tonal, o diálogo interno. Estar consciente não de uma coisa ou
de outra, mas do fato de estar consciente. Como o Tonal sempre tenta
reassumir o controle explicando-se esses momentos de intensidade,

28
por medo ou apego à razão, o trabalho dos guerreiros é de reduzirem sua
auto-importância e acabarem com o medo e cegueira da clareza no Tonal,
ambos decorrentes da crença do tonal de ter se tornado o tonal pessoal.
A 2a Atenção se fortalece por meio do acúmulo de silêncio, na
prática do Sonhar ou pela Espreita, e se torna uma parte funcional quando
o sentimento de divisão é transcendido no Tonal, fundindo-se então à
Primeira Atenção.

A Totalidade do Ser

Dom Juan explicou que o mundo que percebemos não tem


existência transcendental. Nossa familiaridade com ele nos leva a acreditar
que o que percebemos é um mundo de objetos existentes como os
percebemos, quando na verdade não há um mundo de objetos, mas sim
um universo dos comandos da Águia. Esses comandos representam a
única realidade imutável. É uma realidade que engloba tudo o que existe, o
perceptível e o não-perceptível, o conhecível e o não-conhecível.
Enquanto a meta dos bruxos antigos é o poder e a sobrevivência da
individualidade, os novos videntes descobriram e estabeleceram a
possibilidade de estar conscientes da TOTALIDADE DO SER como sua
meta.
Mas qual é a diferença entre individualidade e totalidade?
Os toltecas veem que todo ser vivo é uma bolha de percepção, um tonal,
rodeada pelo mar da consciência: o nagual. O corpo físico é a maneira
como essa bolha é interpretada pelos sentidos. A morte ocorre quando
esta bolha é rompida e assimilada pelo mar da consciência.
Na compreensão dos toltecas, estar vivo é estar consciente.
Para os antigos, isso significava preservar esta bolha. Por isso focaram
seus melhores esforços em encontrar maneiras de prolongar a existência
dela. Já os novos videntes, ao aprenderem a reduzir a importância pessoal
e se espreitar, isso é, ao espreitarem de onde surge a consciência,
compreenderam que a consciência(o nosso sentido de ser) não está
limitada à bolha da individualidade. Ela surge do próprio mar escuro da
consciência.
Falando sobre o ovo luminoso, Carlos afirmou que somos todos
unidades seladas de energia. No momento do nascimento, todos nós
recebemos uma quantidade básica de energia, que é a soma da paixão
que nossos pais verteram durante a concepção.
Essa energia foi encapsulada como parte do dom da vida. Esse é
todo o nosso capital, aquilo que somos. Agora, é responsabilidade de cada
um de nós, individualmente, o que fazemos ou deixamos de fazer com ela.

29
O processo de estar vivo gera uma transformação da energia básica
em um subproduto: a percepção, a qual gera experiência, que é
armazenada como memória. Juntas, elas produzem a cobiçada
autoconsciência.
O nível de consciência de um indivíduo é medido pela sua
capacidade de estar atento a si mesmo e ao seu ambiente. A atenção,
portanto, é o elemento-chave na transformação e enriquecimento da
energia bruta em consciência refinada.
O objetivo dos bruxos é o engrandecimento da consciência; portanto,
exercitam constantemente a atenção. Projetam deliberadamente
exercícios para evitar a distração e, assim, aumentam significativamente a
capacidade de concentração. Dessa forma, ele aprendeu que, quando o
diálogo interno é cancelado, dá-se o melhor de si em qualquer coisa que
esteja sendo feita.
Cada um está desenvolvendo sua energia básica de maneira
diferente durante a vida. Sabendo da importância de cuidar dela, os
guerreiros a economizam e a acumulam através de atos de
impecabilidade. Para eles, a energia básica é como uma semente que
dorme e sonha sonhos de plenitude, nos quais libera seu tremendo
potencial e se transforma em uma árvore frondosa que produz frutos.
Da mesma forma, eles sabem que sua energia potencial também
pode crescer e se expandir além de seus limites. De fato, teoricamente
falando, não há limites para o engrandecimento da consciência; em
princípio, ela poderia continuar crescendo e crescendo, talvez para
sempre. Tudo o que é necessário para realizar isso é a impecabilidade.
Essa é a razão para o esforço contínuo dos bruxos em serem impecáveis:
estão lutando para serem mais conscientes.
“Mas, cuidado!, Porque a energia também pode ser usada até que
não sobre mais nada.” Explicou que a energia pode ser gasta
inconscientemente, como acontece geralmente com as pessoas que estão
expostas à inclemência do ego e que passam o tempo inteiro disparando
suas emoções em todas as interações que mantêm.
Os bruxos, em vez de gastarem suas vidas dissipando seu poder
pessoal em relacionamentos estéreis, descobriram que é possível
economizá-lo por meio de atos de sobriedade e impecabilidade. Assim,
eles usam a arte da espreita para espreitarem a si mesmos, não para
enganar os outros.
Para os videntes, a consciência tem a aparência de uma borracha
viscosa transparente e muito brilhante, que forma uma camada ao redor do
ovo luminoso; é como um brilho que o envolve. Essa luminescência, ainda
que devesse ser abundante, está quase ausente em nossa espécie. A

30
razão é que a consciência gerada pela experiência de estar vivo é
constantemente obliterada pela vida cotidiana, pela rotina.
E que o nosso sentimento de sermos uma bolha, ou forma, e de
precisar defendê-la, é resultado de um esquecimento. É resultado da
consciência ter se esquecido da totalidade de si mesma.
Ao estar consciente de si em sua totalidade, a consciência aparentemente
individual, contida na bolha, e o mar da consciência, fora da bolha, se
“reconectam” e lembram que são uma só consciência ininterrupta. Esse
processo, ou o início dele, foi chamado de “perda da forma humana”.
O esquecimento da nossa verdadeira natureza é o resultado da
identificação com o tonal, com a nossa pessoa. Ela leva ao sentimento de
importância pessoal, e à fixação da nossa atenção nas coisas do mundo,
que se tornam importantes enquanto extensões da nossa própria
personalidade, consumindo assim toda a nossa atenção.
Com uma atenção fragmentada e comprometida, somos incapazes
de dar atenção à totalidade de nós mesmos, e por conseguinte, de intuir
ou nos lembrarmos dela. Por isso, o caminho do guerreiro é a maneira
formulada pelos novos videntes para que se possa progressivamente
integrar seus dois lados e recuperar a totalidade do seu ser, ou “perder a
forma humana”.
Tudo é intento. As histórias pessoais são narrativas internas que
atravessam nossa atenção e monopolizam a percepção. Elas ofuscam o
silêncio a partir do qual é possível lembrar das premissas básicas que
regem nossas experiências.
A auto-argumentação, as crenças, as justificativas, a identificação
com o passado e com alguns elementos tonais estão constantemente
gerando ruídos e fixando as interpretações de mundo.
Logo, somos tão sorrateiramente envolvidos por essas sugestões
internas, que não nos resta dúvidas de que a vida tonal é sobre seguir tal
caminho ou escolher entre “isso”, “aquilo” ou “aquele lá”, ainda que
nenhuma das opções possa fazer muito sentido. Comportamo-nos como
autômatos e esquecemos de questionar a natureza anterior a aparente
condição refém a que nos vemos submetidos.
O ‘mundo externo’ dá as cartas da nossa vida e nós temos que
escolher a menos pior… Ou estamos intentando que assim seja a
experiência? A limpeza que precisamos fazer das nossas narrativas
internas, permite que aos poucos possamos conceber com nossa
totalidade.
Tudo é intento. E ao cavucar as camadas das nossas narrativas
pessoais, podemos ir removendo os filtros ilusórios, as fixações, que
conferem importância às nossas identidades. Fazendo isso, vamos

31
aprendendo a contemplar as experiências de nossas vidas pelo que elas
são: expressões de intentos. Intentos que aprendemos a intentar, sem
consciência do que estivemos e estamos fazendo.
Olhar para essas camadas de nossas vidas, permite que possamos
resgatar a energia investida nesses intentos inconscientes, para então
reuní-la no presente e retomar com solidez nosso canal de comunicação
com o espírito.
Limpeza Tonal e o Sentir: um encontro consigo mesmo. Remexer
nas camadas de nossas vidas pode parecer algo doloroso e assustador,
por isso, adiamos o quanto podemos a decisão de intentar isso
deliberadamente. Pois estejamos cientes de que a vida estará provocando
isso frequentemente, mexendo nas nossas feridas e espelhando intentos
inconscientes que reproduzimos, mesmo contra nossas resistências à
olhar pra dentro de nós mesmos.
No começo da caminhada, as emanações internas do casulo estão
agitadas e não há Consciência de Ser. Assim que se dispõe a viver como
guerreiro, a pessoa começa o processo de organizar a bagunça da sua
ilha do tonal de acordo com um roteiro.
Sua vida começa a se tornar mais disciplinada, regrada, se esforça
pra se lembrar de si. Seu poder pessoal lhe dá forças pra ir contra a ordem
social, de dirigir seu próprio caminho, de intentar. Há um grande sentido de
aventura e assombro. Momentos de presente são intercalados com
períodos de perder-se no diálogo interno.
Munido desse poder pessoal, o guerreiro segue limpando sua ilha do
tonal com seu intento inflexível. Nesta fase o sentido interno de solidão se
intensifica já que suas relações com seu mundo velho que se resumem a
interações superficiais se tornam desagradáveis e nocivas. Ele se
aprofunda nas suas práticas, busca desatar nós e romper vínculos com o
seu passado, minimizar suas projeções sobre o futuro, visando manter-se
mais e mais consciente de si no momento presente e economizar energia.
A mente social continua fortemente atacando, de todas as formas
possíveis, buscando mantê-lo preso a banalidades e coisas do mundo.
Até que chega o ponto em que este poder pessoal se cristaliza, sua
consciência de si está firme. Algo no guerreiro suaviza. Sua vida se torna
menos um esforço dirigido e mais um acontecimento natural. O guerreiro-
bruxo se tornou um ser único, seus dois lados estão ativos. É capaz de
entrar com naturalidade em estados mais ou menos prolongados de
silêncio interior, sua segunda atenção começa a ter flashs de despertar. É
capaz de atuar e se envolver no mundo exterior conservando seu sentido
de eu-pessoal através da sua primeira atenção, mas com mais segurança
e despreocupação que antes. Um afeto, uma gentileza, começam a brotar

32
espontaneamente do seu ser em pequenas situações do dia a dia, e ele se
torna mais seguro em se abrir à sensibilidade. Já está longe do alcance de
quase todas as preocupações do seu mundo velho. Mais ciente e
compreensivo com suas próprias sombras, passa a enxergar melhor as
sombras dos outros, se torna mais perceptivo, capaz de intuir tramas
invisíveis que acontecem ao seu redor. A sensualidade e as trocas de
energia no presente o movem mais do que a disciplina.
O guerreiro-bruxo se vê diante do desafio de morrer pra toda sua
compaixão por si mesmo, pra seus apegos, pra imagem que nutriu
silenciosamente de si como “um grande guerreiro”, como um caminhante
avançado. É normal que seu mundo desmorone por completo, seu karma
exploda diante de seus olhos, seus sonhos e esperanças se desintegrem.
Ele atravessa o seu medo da morte.
E chega o momento em que, sem notar como, o bruxo se percebe
profunda e totalmente desassociado do mundo à sua volta. Um vazio
interior o toma. Ele se torna um observador natural. Nada mais é capaz de
fisgar sua compaixão contra a sua vontade.
Um profundo silêncio começa a invadi-lo mais e mais. A
contemplação acontece espontaneamente, a espera de algo indefinido.
Nestes momentos as emanações internas do seu casulo se aquietam
profundamente por momentos prolongados e se alinham com as
emanações externas, e a consciência de ser se expande tomando toda a
ilha do tonal, fazendo sua sensação de eu desaparecer por completo.
Vislumbres da sua luminosidade e, mais raramente ainda, do mar escuro,
ocorrem. Algo começa a se dar conta da irrealidade da separação entre o
mundo interior e exterior.
O bruxo não sabe mais como avançar no caminho. A mente social só
consegue tocá-lo com promessas de poder mediante esforços pessoais.
Ele deve ter claro então que nenhuma técnica poderá ajudá-lo, e apenas
intentar, desde seu silêncio, e contemplar.
Chegará o momento então em que, por fim, tomará consciência que
Vê, e de que sempre Viu! Tomará consciência do seu Ovo luminoso. Sua
segunda atenção despertará por completo e tomará consciência da
irrealidade da sua forma humana.
A mente social agora se tornará apenas uma voz supérflua, e
incapaz de tocá-lo enquanto permanece sua impessoalidade. Sua loucura
pela primeira vez estará realmente controlada.
Nesse momento o desafio é de abandonar de vez a identificação
com a ideia de estar limitado à forma humana e se reidentificar como
consciência luminosa, o que fará seu ponto de encaixe estabilizar na nova

33
posição, e diante talvez da etapa final da sua caminhada: o desafio da
Liberdade Total.
Quando os acontecimentos do mundo e as ações das pessoas
tocam em nós de alguma forma, é sempre uma oportunidade do Espírito
para olharmos para aquilo que foi tocado. Isso, ou podemos negar,
projetar, desviar atenção, tentar mudar de humor e direção sem dar-se
tempo e espaço para sentir. Deixar pra resolver depois ou fingir que nunca
existiu.
Tememos sentir, pois acreditamos que não somos capazes de
suportar a dor que pode haver dentro de nós. No entanto, o peso da dor é
proporcional a insistência em ignorá-la. Quanto mais represar o fluxo do
sentir, quanto mais tentar controlar, mais peso se acumula ali.
Por mais assustadora que possa parecer a forma dos sentimentos,
por baixo deles há apenas energia. Quebramos a barreira da ilusão da
forma e peso dos sentimentos, a ilusão da separatividade, quando
reunimos intento para encará-los, olhá-los e ouví-los por tempo o suficiente
até que se dissolvam na consciência.
Veja bem, permitir-se sentir realmente é diferente de entregar-se aos
discursos do diálogo interno. Na verdade, o diálogo interno e a auto-
importância ganha força justamente em nossa resistência a nos conectar
com o sentir. Essa resistência está baseada em intentos que aprendemos
a absorver inconscientemente. Na fragmentação de nossos lados direito e
esquerdo, masculino e feminino.
Em muitos momentos estamos perto de acessar uma emoção e
percepção represada pelo ego, mas então a mente-ego nos diz que não
seremos capaz de suportar, ou que isso não é importante, e acreditamos
nessa sugestão. Em seguida nos apoiamos em qualquer auto afirmação
ou sugestão da mente, que nos desvie daquele fluxo de alguma forma, que
desvie-nos da verdade que estamos prestes a descobrir…a desnudar…
uma barreira interior prestes a se dissolver…se aguentássemos um pouco
mais.
O diálogo interno está apoiado na tensão que acumulamos. Ele usa
coisas mal resolvidas em nós, as fragmentações da nossa consciência e
história pessoal, e desvia nossa energia para falsas resoluções: faça isso e
se sentirá novamente maravilhoso.
Mas a boa notícia é que a hora pra reaprender a SENTIR é aqui e
agora, sim, agora mesmo. Começando a intentar conectar-se com as
emoções. Concebendo que temos força necessária para isso.
Do que você está fugindo? O que está adiando? Pois chame-a ao
seu encontro, convide aquilo que teme para conversar contigo, pra
observar todas as reações que lhe causam, e sinta, observe, encare

34
quanto tempo precisar…Deixe que as imagens e pensamentos surjam e
passem, permita-se enxergar tudo o que há nesse alinhamento, chore,
escreva, dance, chupe o dedo como um bebê, ouça seu corpo, permita
que ele se expresse. Respire.
E faça tudo isso de novo, quantas vezes precisar.
Essas coisas não são você, essas formas e expressões não são
você, mas ao mesmo tempo são partes suas, partes rejeitadas e
desamadas, é sua energia fragmentada que precisa ser vista e sentida, até
que se dissolvam de volta na sua totalidade.
Trata-se de um grande encontro consigo mesmo. Um encontro onde
suas partes recordam-se da totalidade. Não há o que temer.
A limpeza da ilha do tonal. Um tonal pleno é um tonal que consegue
manter a atenção sobre toda a sua ilha. Mas enquanto existe uma aversão
ou um enfoque exclusivo obsessivos sobre um ou mais itens da ilha, a
atenção do tonal fica fragmentada, dividida, conflitiva.
Numa atenção assim, que no nagualismo é chamada de primeira
atenção, e que nós chamamos simplesmente de ‘atenção’, a energia se
projeta totalmente na tela da percepção, nas paredes do casulo, no nosso
entorno. O tonal pessoal se torna sujeito às circunstâncias externas, ou
mais precisamente, à INTERPRETAÇÃO QUE FAZ das circunstâncias
externas, que estão em constante mudança, e assim o tonal também
nunca é o mesmo.
E nesse estado a tendência é que a atenção se torne presa
acessível à mente predadora, já que ela pode manipular a interpretação
que o tonal faz das coisas na medida em que ele esteja distraído o
suficiente pra tomar os pensamentos que passam pela sua mente como
seus. Em consequência disso, como a energia segue a atenção, a energia
se desloca para a periferia da percepção e o resultado é sensação de
esgotamento da energia contida nos centros vitais do corpo físico e o
apego crescente às circunstâncias.
Daí surge para a guerreira e guerreiro a prática e o desafio inevitável
de LIMPAR a sua ilha tonal, que também é chamada de “cortar as cem
cabeças da auto-importância”.
A tarefa consiste em se esvaziar da importância que foi dado a cada
um desses itens, cada uma delas um reflexo de um aspecto da
importância que se dá a si mesmo, pessoalmente. Se esvaziar de cada
uma dessas importâncias é uma pequena morte, abrir mão de um pequeno
capricho, morrer pra uma pequena coisa da qual se fazia questão.
As técnicas de espreita ensinadas pela linhagem de dom Juan para
limpar a ilha do tonal são:

35
– Assumir a responsabilidade pelos nossos atos, que nos levaram à essa
situação problemática de dar importância à esse assunto.
– Usar a morte como conselheira, pra por em perspectiva a importância
real desse assunto diante da inevitabilidade da nossa própria morte
pessoal.
– Abandonar a auto-importância, ou seja, perceber diretamente que o que
está por trás desse conflito é o sentimento de que somos importantes pra
nós mesmos, e deliberadamente estar disposto à abrir mão dessa ideia
– A recapitulação: ir na memória raiz dessa obsessão e aplicar o poder da
respiração pra desfazer o nó energético criado ali
Há ainda uma outra técnica usada na nossa linhagem que deriva do
quarto-caminho e da técnica de assumir a responsabilidade, que é “sofrer
voluntariamente”: não fugir do sofrimento causado pelo assunto, nem
tentar ignorá-lo, ou combatê-lo com pensamentos positivos, ou tentar
destruí-lo, mas recebê-lo, dar espaço pra ele, pra sustentar a sensação
dele no corpo, pois é a tensão interna causada por esse sofrimento que
gera a força motriz necessária pra aplicar as demais técnicas e desfazer a
importância dada ao assunto que está por trás da tensão (se ao contrário
simplesmente “descarregamos a tensão”, a tendência é voltar a repetir o
mesmo ciclo uma e outra vez e “travar” naquele ponto andando em
círculos). A economia da energia sexual também tem o mesmo efeito de
pressionar os bloqueios no fluxo da nossa energia, e essa pressão interna
costuma ser sentida como ansiedade e inquietação.
O resultado dessas práticas é levar a adquirir uma equanimidade
natural e não forçada com relação aos itens com os quais antes se estava
obsessionado, positiva ou negativamente.
Elas levam a retirar esses itens aos quais damos importância do lado
esquerdo da nossa ilha – o lado da nossa vontade – e relocá-los pro lado
direito – o lado da razão, em outras palavras – deixamos de FAZER
QUESTÃO daquilo, e aquilo se torna mais um item como qualquer outro da
nossa ilha.
É um processo que pode levar pouco ou muito tempo pra chegar a
um ponto de esvaziamento adequado que permita intentar o despertar do
ovo luminoso.
O guerreiro vai se tornando cada vez menos reativo, mais centrado,
menos compassivo com seus caprichos. Sua atenção cada vez menos
dividida, mais silenciosa, e cada vez mais raros os momentos em que
surge um assunto que fisga e engata sua obsessão. Sua ilha fica cada vez
mais vazia (de importâncias), cada vez mais sóbria, lúcida, plena.

36
Isso abre as condições para que o lado esquerdo, vazio, se espreite
a si mesmo. E é essa espreita de si – diferente da espreita de si pelo lado
direito – a base para que o nagual comece a despertar.

O Caminho do Guerreiro

A arte do guerreiro consiste em entender a complexidade, a


irrealidade e o mistério da existência, e tentar transformar esse caos e
essa loucura num assunto estratégico, num caminho a percorrer, mesmo
sabendo que nunca irá entender a vida e os desígnios do grande Espírito.
Ele tenta controlar sua loucura, para não se perder na loucura geral
dos outros e com isso acabar sendo arrastado por eles.
Don Juan enfatizava interminavelmente o conceito do guerreiro. Dizia
que o guerreiro era, naturalmente, muito mais do que um conceito. Era
uma maneira de viver. Sem o conceito do guerreiro era impossível superar
as dificuldades do caminho do conhecimento.
O intento desses xamãs - disse Don Juan - era tão agudo, tão
poderoso, que ainda hoje pode solidificar a estrutura do guerreiro em
qualquer um que toque. Em suma, o guerreiro era, para os xamãs do
México antigo, uma unidade de combate tão sintonizada com a luta em
volta dele, tão extraordinariamente alerta na sua forma mais pura, que ele
não precisava de nada supérfluo para sobreviver. Não havia necessidade
de dar presentes para um guerreiro, ou apoiá-lo com palavras ou ações,
ou tentar dar-lhe consolo e incentivo. Todas essas coisas já estavam
incluídas na estrutura da psiquê do próprio guerreiro. Desde que essa
estrutura fosse determinada pelo intento dos xamãs do México antigo, eles
se asseguravam que qualquer coisa previsível estaria incluída.
Don Juan disse que por eu estar num estado de consciência
intensificada, podia compreender mais de imediato o que ia contar-me
acerca das duas mestrias: espreita e intento. Chamou-as de a glória
culminante dos feiticeiros antigos e novos, a própria coisa com a qual os
feiticeiros estavam preocupados atualmente, preocupação semelhante à
dos feiticeiros há milhares de anos. Assegurou que espreitar era o
princípio, e que antes de tudo ser tentado no caminho do guerreiro, os
guerreiros precisam aprender a espreitar, e em seguida devem aprender a
intentar, e apenas então podiam mover seu ponto de aglutinação à
vontade.
Existem dois domínios que levam as pessoas a se tornar toltecas: o
primeiro é o Domínio da Consciência. Significa tornar-se consciente de
quem realmente somos, com todas as possibilidades. O segundo é o
Domínio da Transformação: como mudar, como ficar livre da

37
domesticação. O terceiro é o Domínio da Intenção. Intenção, do ponto de
vista tolteca, é aquela parte da vida que torna a transformação de energia
possível; é o ser vivente que sem esforço envolve toda a energia, ou o que
denominamos "Deus". Intenção é a própria vida; é amor incondicional. O
Domínio da Intenção, portanto, é o Domínio do Amor.
Assim como os xamãs Toltecas do México antigo, os guerreiros
Toltecas modernos também encontram 3 enigmas na sua busca pelo
conhecimento, que se apresentam em 3 áreas de habilidade, que devem
ser praticadas e desenvolvidas:
1- A arte do "Sonhar", ou a mestria da consciência, o enigma da
mente; a perplexidade que os guerreiros experimentam quando
reconhecem o mistério espantoso ao alcance da consciência e da
percepção.
2- A arte da Espreita é o enigma do coração; a perplexidade que os
guerreiros sentem ao se tornarem conscientes de dois fatos: primeiro, que
o mundo parece para nós inalteravelmente objetivo e factual por causa das
peculiaridades de nossa consciência e percepção; segundo, que, se
diferentes peculiaridades de percepção entram em jogo, as mesmas
coisas desse mundo que parecem tão inalteravelmente objetivas e factuais
mudam.
3- A mestria da Intenção é o enigma do Espírito, ou o paradoxo do
abstrato; os pensamentos e ações dos guerreiros projetados além da
nossa condição humana.
Podemos observar que as habilidades da Espreita e do "Sonhar"
são os dois pilares do caminho de evolução dos guerreiros Toltecas,
ambos sustentados pela Intenção. A arte do "Sonhar" foi desenvolvida
fortemente pelos xamãs do México antigo, enquanto que o domínio da
Intenção, juntamente com o domínio da Espreita, são as duas obras-
primas dos novos videntes, que marcam o advento dos guerreiros dos dias
de hoje. De um modo geral, a maior realização de um guerreiro na
segunda atenção, no nagual, no astral, é "ensonhar"; e na primeira
atenção, no tonal, no cotidiano, é espreitar. Juntas, e alicerçadas pela
força da intenção, essas práticas levam o guerreiro ao poder pessoal e à
totalidade de si mesmo.
O resultado final era um lutador que lutava só, e que tirava de suas
próprias convicções silenciosas todo o impulso que necessitava para
avançar; sem queixas, sem a necessidade de ser elogiado.
O curso do destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é o quão
longe ele pode ir dentro desses rígidos destinos, o quão impecável ele
pode ser dentro desses limites rígidos. Se há obstáculos no seu caminho,
o guerreiro luta impecavelmente para ultrapassá-los. Para ser guerreiro, é

38
preciso estar em equilíbrio perfeito com todo o universo visível e invisível.
O guerreiro deve ser um indivíduo muito ajustado.
Ser guerreiro significa que a pessoa toca o mundo que o cerca
moderadamente. Não danifica, não expõe, não utiliza e não espreme as
pessoas. Evita esgotar-se a si e aos outros. Significa que não está faminto
nem desesperado. Não significa esconder-se, nem ser misterioso, não
significa que o guerreiro não possa lidar com as pessoas. Um guerreiro
usa seu mundo com parcimônia e ternura, trata intimamente com seu
mundo. O guerreiro toca o mundo de leve, fica o tempo que precisa, e
depois passa adiante rapidamente, quase sem deixar marca.
O guerreiro é porque está sempre lutando. Sua luta é contra suas
próprias fraquezas e limitações; contra as forças que se opõem ao
engrandecimento de seu conhecimento verdadeiro. Ele luta contra as
forças de seu destino de homem comum, determinado em tudo por sua
história e circunstâncias pessoais. Ele quer resgatar a possibilidade de
escolher por si mesmo como ser e como viver. É uma luta pela harmonia e
quietude. É uma luta pela liberdade sabendo que ela começa dentro de si
mesmo, para ser projetada a partir daí em direção a tudo que compõe o
mundo em que atua. É uma luta tranquila, suave e alegre.
Dentre os elementos que compõem as armas fundamentais de um
guerreiro, podemos destacar a vontade, como um poder que emana de si
mesmo para tocar e sentir o mundo, até mesmo para dirigi-lo; um poder
que o levará a batalhas maiores e mais intensas, as mesmas que sua
razão não ousaria enfrentar. O guerreiro não é mais um homem
acorrentado aos medos e fantasias de seus pensamentos, mas atende a
seus sentimentos e a força que o impulsiona é seu poder pessoal, essa
energia substancial que ele vem economizando e aumentando com muito
esforço.
A morte iminente também lhe confere o desapego necessário para
não se apegar a nada e não se negar a nada. Desapegado de tudo,
consciente de sua brevidade e em constante luta, o guerreiro aprende a
construir sua vida pelo poder de suas decisões. Ele trabalha a cada
momento para obter controle sobre si mesmo e, ao fazê-lo, ganha o
controle de seu mundo pessoal. Ele toma em suas mãos o curso de sua
vida e o direciona estrategicamente. Cada pequena coisa que você faz é
um ponto de sua estratégia. De fato, controle e estratégia são dois fatores
que estão sempre presentes em sua maneira de caminhar pela vida.
O controle é o esforço constante para direcionar – de propósito – os
diferentes elementos que afetam seu modo de ser e viver. Aplica-se a tudo
que você faz, então suas ações e reações não são resultado do acaso,
circunstâncias externas ou explosões emocionais, mas estão inseridas na

39
estratégia de sua vida. Nela não há espaço para caprichos, mecanicismos
ou ações impulsivas, pois as ações do guerreiro não são ações
desconexas ou dispersas, mas sempre se ajustam aos termos da
estratégia previamente elaborada que é utilizada para atingir os objetivos
que se propõem. Os quais propôs como expressão de sua mais íntima
predileção.
O Homem tem de desafiar e vencer seus quatros inimigos naturais:
O medo, a clareza de espírito, o poder e a velhice. O medo: cada passo da
aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a
crescer impiedosamente, sem ceder. Deve desafiar o medo e, a despeito
dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o
seguinte. Deve ter medo, plenamente e, no entanto, não deve parar. É
esta a regra. Clareza de espírito: o homem já conhece os seus desejos;
sabe como satisfazê-lo. O homem sente que nada se lhe oculta. Dá
segurança ao homem, pois ele vê tudo claramente. Mas tudo isso é um
engano e se o homem sucumbir a esse poder de faz-de-conta, sucumbiu a
seu segundo inimigo. Deve pensar que sua clareza é quase um erro. Deve
compreender que sua clareza é apenas um ponto diante de sua vista.
Poder: o poder transforma o homem em um ser cruel e caprichoso. Tem
de compreender que o poder nunca é seu. A Velhice: é o momento em que
o homem sente o desejo de descansar. Se ele deitar e esquecer, se ele se
afundar na fatiga, terá perdido o último round.
Fazendo uso de sua vontade, controle e estratégia, e ciente de sua
morte iminente, o guerreiro aprende a reduzir suas necessidades a nada.
Ele percebe que as necessidades geram desejo e miséria. Desta forma,
não necessitando, ele não anseia ou se preocupa. Assim, ele pode agir
sem o fardo da necessidade, desejo ou miséria. Quando ele deixa de
precisar, já que não tem pressa, consegue tudo o que precisa. Sem suas
necessidades, tudo o que você tem e tudo o que recebe, mesmo o menor
e o mais simples, torna-se um presente maravilhoso e a vida, não importa
o quanto você tenha, se torna um estado permanente de abundância.
Um guerreiro procura o poder e um dos caminhos para o poder é
sonhar. A diferença entre um caçador e um guerreiro é que este está a
caminho do poder, enquanto aquele não sabe nada, ou muito pouco a
respeito do poder.
Guerreiros são sonhadores ou espreitadores (espreitador = caçador;
aquele que persegue sua presa de forma velada, escondida). Alguns são
ambos. Sonhadores lidam com sonhos, recebem sua sabedoria e poder de
sonhos. Espreitadores lidam com pessoas, com o mundo cotidiano. Eles
recebem sua sabedoria e poder do semelhante.

40
O caminho do guerreiro oferece ao ser humano uma nova vida, e
essa vida tem de ser completamente nova. Ele não pode trazer para essa
nova vida os seus velhos e horríveis hábitos. Em outras palavras, um
reinado só chega realmente ao fim quando o rei morre. Você é o rei. Os
guerreiros sempre consideram o primeiro evento de qualquer série como o
plano ou o mapa do que vai se desenvolver subsequentemente para eles;
eles o consideram uma indicação do abstrato.
Sua energia é posicionada de forma a proteger e manter a ideia do
“eu”. O grosso da sua energia é consumido defendendo essa ideia.
Alcançar o ponto de desapego, onde o “eu” é apenas uma ideia que pode
ser alterada à vontade é um verdadeiro ato de guerreiro: o ato mais difícil
de todos. Quando a ideia do “eu” regride, guerreiros obtém energia para
alinhar a si mesmos com o intento, se tornando mais do que acreditamos
ser normal.
Procurar a perfeição do espírito do guerreiro, é o único
empreendimento digno do guerreiro. Um guerreiro calcula tudo, isso é
controle. Mas uma vez terminados os seus cálculos, ele age. Um guerreiro
não é uma folha à mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo, ninguém
pode obrigá-lo a fazer coisas contra si ou contra o que ele acha certo. Um
guerreiro é preparado para sobreviver e ele sobrevive da melhor maneira
possível. Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido. Para um
guerreiro, não há nada de ofensivo nos atos de seus semelhantes,
enquanto ele estiver agindo dentro da disposição correta.
O mundo do guerreiro é a coisa mais solitária que há. Até mesmo
quando vários aprendizes se unem para viajar pelas rotas do poder, cada
um sabe que está sozinho, que não pode esperar nada do outro nem
depender de ninguém. O máximo que ele pode fazer é compartilhar o
caminho com aqueles que o acompanham. Nós não nos damos conta de
que podemos cortar qualquer coisa de nossas vidas, a qualquer momento,
num piscar de olhos. Não há sentido em tirar fotografias ou fazer
gravações. São atos supérfluos de vidas sedadas. Devemos nos
preocupar com o abstrato, ou espírito, que sempre se recolhe.
Estágios pelo qual passa o guerreiro na sua longa trilha do
conhecimento. Em termos de sua conexão com o intento, o guerreiro
passa por quatro estágios: o primeiro é quando tem um elo enferrujado,
não confiável, com o intento. O segundo, quando consegue limpá-lo. O
terceiro, quando aprende a manipulá-lo. O quarto estágio é quando
aprende a aceitar os desígnios do abstrato.
O universo não é razoável, mas pode ser enfrentado com energia e
sensatez. Ser um guerreiro é uma luta interminável para ser impecável. O
truque dos bruxos é que eles sabem que a mesma energia que nós

41
investimos em nos escravizar, é a mesma que nos libera. Só temos que
recanalizá-la e as histórias de poder começarão a se materializar diante de
nossos olhos
Todo aquele que empreende o caminho do conhecimento como
guerreiro será necessariamente interessado em tudo relacionado à
energia. Você sabe que a jornada para o desconhecido e todas as
mudanças que você terá que fazer em si mesmo exigirão não apenas um
bom nível de energia, mas também que uma parte significativa dessa
energia esteja "disponível". É por isso que ele examina tudo o que faz com
base na energia. Isso faz parte do segredo dos seres luminosos: somos
energia e todas as nossas ações implicam no uso ou desperdício de nossa
energia vital. O guerreiro sabe que cada ato fortalece ou enfraquece nossa
energia e por isso se torna extremamente cuidadoso com a natureza de
seus atos, em que busca sempre a impecabilidade, que nada mais é do
que o uso ideal da energia.
O controle é o esforço constante para direcionar – de propósito – os
diferentes elementos que afetam seu modo de ser e viver. Aplica-se a tudo
que você faz, então suas ações e reações não são resultado do acaso,
circunstâncias externas ou explosões emocionais, mas estão inseridas na
estratégia de sua vida. Nela não há espaço para caprichos, mecanicismos
ou ações impulsivas, pois as ações do guerreiro não são ações
desconexas ou dispersas, mas sempre se ajustam aos termos da
estratégia previamente elaborada que é utilizada para atingir os objetivos
que se propôs como expressão de sua mais íntima predileção. Dentre os
elementos que compõem as armas fundamentais de um guerreiro,
podemos destacar a vontade, como um poder que emana de si mesmo
para tocar e sentir o mundo, até mesmo para dirigi-lo; um poder que o
levará a batalhas maiores e mais intensas, as mesmas que sua razão não
ousaria enfrentar. E é que o guerreiro não é mais um homem acorrentado
aos medos e fantasias de seus pensamentos, mas atende a seus
sentimentos e a força que o impulsiona é seu poder pessoal, essa energia
substancial que ele vem economizando e aumentando com tanto esforço.
Para Dom Juan, o mundo dos desejos ou ideais pouco tem a ver
com os atos do homem, enquanto a energia ou Poder Pessoal - que é a
energia disponível para ele - é o que determina tudo: o possível e o
impossível! Como nos diz em Viajem a Ixtlán: «Um homem nada mais é do
que a soma do seu Poder Pessoal...». O que quer que se esteja fazendo,
pode-se procurar fazê-lo à maneira do guerreiro. No caminho de quem
está sempre em luta e nunca abandonado, que não admite descaso nem
entrega, que transforma o menor de seus atos no desafio de poder superar
seus limites a cada vez, para ser melhor, mais poderoso, mais suave, mais

42
real... Fazendo uso de sua vontade, controle e estratégia, e ciente de sua
morte iminente, o guerreiro aprende a reduzir suas necessidades a nada.
Ele percebe que as necessidades geram desejo e miséria. Desta forma,
não necessitando, ele não anseia ou se preocupa. Assim, ele pode agir
sem o fardo da necessidade, desejo ou miséria. Quando ele deixa de
precisar, já que não tem pressa, consegue tudo o que precisa, que leva
tempo para desfrutar e aproveitar cada momento sem suas necessidades,
tudo o que você tem e tudo o que recebe, mesmo o menor e o mais
simples, torna-se um presente maravilhoso da vida, não importa o quanto
você tenha, se torna um estado permanente de abundância.
As ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não
tem mais expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a
força que governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do
guerreiro – o desapego.
Um guerreiro não tem honra, nem dignidade, nem família, nem
nome, nem país; ele tem apenas a vida para ser vivida e, nessas
circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua loucura
controlada. Um guerreiro não precisa de história pessoal. Um dia ele
descobre que ela não é mais necessária para ele, e a abandona.
Usando os 4 princípios da arte da Espreita, ou seja, sendo gentil,
paciente, sagaz e implacável, tanto consigo mesmo, como com os outros,
tudo isso alicerçado por sua sobriedade e impecabilidade, e empurrado
pela sua vontade e intento inflexível, o guerreiro vai se movimentando no
teatro mágico da vida tentando controlar sua loucura.
Por interesses sociais, religiosos ou econômicos, a guerra do bruxo
não está dirigida contra os outros, mas contra suas próprias fraquezas.
Sendo assim, sua paz não se encontra na condição submissa a qual foi
reduzido o homem moderno, mas sim em um estado imperturbável de
silêncio interior e disciplina. Seu adversário não é seu semelhante, mas
seus próprios apegos e fraquezas. Os bruxos são livres, eles não aceitam
compromissos com as pessoas. A responsabilidade é com eles próprios,
não com os outros.
É muito fácil planejar revoluções coletivas, mas, mudar
genuinamente, acabar com a autocompaixão, eliminar o ego, abandonar
nossos hábitos e caprichos... ah, isso sim é outra coisa! Os bruxos dizem
que a verdadeira rebeldia é a única saída do ser humano como espécie, é
fazer uma revolução contra sua própria estupidez. Como compreenderão,
trata-se de um trabalho solitário.
Ele me sugeriu que eu completasse minha vida com decisões de
poder, com estratégias que me levassem à consciência. Ele me ensinou
que a ordem do mundo não tem que ser como nos dizem, que eu posso

43
deixá-lo de lado quando eu quiser. Eu não estou obrigado a manter uma
imagem para os outros, a viver um inventário que não me convém. Meu
campo de batalha é o caminho do guerreiro!
Num ato aparentemente contraditório de controle e entrega, o
guerreiro dá o seu melhor e coloca o resultado de suas ações na mão do
Infinito. É o seu modo de percorrer seu caminho com coração. Na vida
tudo é uma questão de decisão.
Uma decisão verdadeira junta o poder pessoal do guerreiro e o
potencializa. Mas não basta apenas uma decisão. Seria muito fácil. Você
tem que se comprometer com aquela decisão. Incorporar ela ao seu
caminho com coração. Viver a sua decisão. Personificá-la. Transformar
sua decisão em atos de poder. Você tem que intentar sua decisão.
E intentar é fazer acontecer. Com um propósito feroz. Com fome.
Uma decisão tem que ser impecável. Assim como o espírito do guerreiro.
Uma decisão impecável é um fluxo de energia que vem do Infinito, passa
pelo vazio do guerreiro e jorra na primeira atenção, como uma
manifestação do Poder no cotidiano, impulsionando seus atos.
Uma decisão impecável é um alinhamento do propósito do guerreiro
com o Intento do Infinito. Depois que entendi que eu precisava ser
impecável a fim de aumentar meu poder pessoal, entendi também que
para isso eu precisava vencer minhas fraquezas e debilidades. Só que
durante muito tempo eu tentei enfrentar minhas fraquezas sem saber de
onde elas vinham.
Era como um cego em um tiroteio, sendo abatido várias vezes em
minha vida e sem saber nem de onde vinham os tiros. Para você derrotar
suas fraquezas é imprescindível que você primeiro as reconheça e saiba
suas verdadeiras origens, caso contrário você sempre vai atacar os
sintomas, e não a verdadeira doença. Muitas vezes nos perdemos nessa
missão porque acreditamos que temos muitas fraquezas e pouca munição
para enfrentá-las. Certo?
Errado.
É você que não está apontando o canhão para a direção certa e está
desperdiçando balas. Na verdade, quase tudo que chamamos de
fraquezas são apenas os sintomas da verdadeira doença, e escondem as
verdadeiras origens dessas debilidades. Todas as nossas ditas
"fraquezas" aparentes derivam na verdade de 4 fraquezas-raiz, que são as
verdadeiras fontes das fraquezas. São elas: Autopiedade, medo, instintos
fora de controle e configuração energética.
A partir dessas 4 fraquezas-raiz desenvolvemos todo tipo de
inconsistências, e obviamente, para vencermos nossas fraquezas, temos
que atacar suas origens. Somente reconhecendo quais fraquezas-raiz

44
estão agindo fortemente em você e lutando contra elas, é que você vai
começar a trilhar o caminho da impecabilidade.
Você tem que dar o tiro certeiro.
Pare de sentir pena de você mesmo. Esse é o pior sentimento que
você pode ter energeticamente falando. Os xamãs do México antigo
arrancaram a máscara da auto-importância e o rosto que encontraram por
baixo da máscara foi o da autopiedade. A auto-importancia deriva da
autopiedade.
Auto-Importância é a autopiedade disfarçada de alguma outra coisa.
Quando você sente pena de si mesmo, você automaticamente se coloca
numa posição em que você se sente especial. Você acha que pelo fato da
sua vida ser cheia de problemas, pelo fato de você estar passando por
dificuldades e estar aguentando tudo, você merece que tudo dê certo para
você. Você se sente no direito de exigir que o universo lhe recompense de
alguma forma, já que você está aguentando tantas tribulações. Você se
coloca sempre no papel de vítima dos acontecimentos e da vida. Esse é o
raciocínio de uma pessoa que possui alto grau de autopiedade:
"Eu aguento tanta coisa, eu sofro tudo calado, minha vida é tão difícil, sou
tão sozinho na minha luta solitária...é...realmente eu sou muito forte, sou
uma pessoa especial...um dia todos vão reconhecer meu esforço e vão ver
como sou lutador, como aguentei tudo sem fraquejar...eu mereço ser feliz
depois de tudo que estou passando…" Isso te paralisa, te estagna no
caminho, pois você acha que só por estar aguentando as dificuldades, sua
passagem para o "céu" já está garantida. Esqueça toda essa besteira. A
vida é linda e excitante, mas também é um desafio e tanto, e ninguém tem
pena de você. Todos têm problemas, e os seus não são maiores do que os
de ninguém. Pare de se lamentar por tudo, encare todos seus problemas
como desafios. Só você vai poder resolver sua vida, e ficar se lamentando
e reclamando do destino não vai te ajudar em nada, pois você não estará
resolvendo nada e ainda está perdendo energia.
Quando você se dá conta que a autopiedade é uma perda de tempo
e energia, você para de se sentir especial e importante, e percebe que
seus problemas só serão solucionados se você levantar a bunda da
cadeira e ir à luta. A fim de sair da situação ruim que você se encontra,
você vai se empenhar tanto em se desenvolver e ser um guerreiro melhor
que não terá mais tempo nem energia a perder reclamando da sua vida,
do universo ou de você mesmo.
A autopiedade é destroçada quando você arregaça as mangas e
assume a responsabilidade de mudar sua vida, através da mudança de
hábitos e atitudes que são nocivas a você mesmo. A autopiedade é
aniquilada quando você começa a ter uma postura ativa, determinada e

45
impecável frente aos seus desafios. Dessa forma você não espera que o
destino ou o universo lhe faça feliz só porque você sofre, pelo contrário,
você entende que não é melhor do que ninguém só porque tem problemas,
que as coisas não vão cair do céu, e desce pra arena e vai a luta para
conquistar seus objetivos com seu intento inflexível.
Acabe com sua autopiedade e viva a vida como uma aventura e um
desafio!
Com o intuito de manipular e entender as emanações que chegam a
nossos sentidos, os bruxos desenvolvem o poder de sua atenção,
aguçando-a por meio da disciplina até níveis primorosos que lhes
permitem transcender as limitações humanas e consumar todas as
possibilidades da percepção. Sua concentração é tão intensa, que eles
podem perfurar a grossa couraça das aparências, expondo a verdadeira
essência das coisas. A esse grau de consciência acrescentada os videntes
chamam 'ver'.
Ter disciplina é a chave na manipulação da atenção, porque nos leva
à Vontade: Disciplina, sobriedade, desapego e capacidade de análise.
Um guerreiro aceita com humildade aquilo que ele é, e não perde
seu poder lamentando que as coisas não tenham sido de outro modo. Se
uma porta está fechada, o guerreiro não a esmurra ou lhe dá pontapés,
mas examina com atenção a fechadura e procura uma maneira de abri-la.
Da mesma forma, se sua vida não é satisfatória, o guerreiro não se ofende
nem se queixa. Pelo contrário, desenha estratégias para alterar o curso de
seu destino.
Como não se desespera por relacionar-se com ninguém, o guerreiro
pode escolher seus afetos com sobriedade e desprendimento, tomando
cuidado a todo momento para que as pessoas com as quais consente em
ter relações sejam compatíveis com sua energia. O segredo para ter tal
claridade de visão consiste em não se identificar. O bruxo se identifica com
o abstrato, não com o mundo. Isso lhe permite ser independente e cuidar-
se sozinho.
Um guerreiro lapida os detalhes, desenvolve sua imaginação e põe à
prova seu engenho para resolver as situações. Ao se concentrar nos
detalhes, aprende a cultivar a fineza, a sutileza e a elegância.
Não há expectativas! Os bruxos não têm amanhã! Façam-se
responsáveis por suas vidas, da totalidade das suas ações agora.
Explorem-se, reconheçam-se e vivam intensamente, como vivem os
bruxos. A intensidade é a única coisa que pode nos salvar do
aborrecimento.
Quando um guerreiro põe em cheque suas rotinas, quando já não lhe
importa estar acompanhado ou estar só, porque tem escutado o sussurro

46
silencioso do Espírito, então a pessoa pode dizer que, verdadeiramente,
está morto. A partir dali, as coisas mais simples da vida se tornam para ele
extraordinárias.
Os bruxos sustentam que falar de nós mesmos nos faz acessíveis e
fracos, enquanto que aprender a estar quieto nos enche de poder.
Uma energia transbordante e serena é a marca do bruxo que vê.
Os guerreiros buscam a companhia daqueles que lhes ajudam a
crescerem. Os bruxos descobriram a forma mais refinada de amor, porque
eles amam a si mesmos. Eles sabem que tudo aquilo que nós damos para
fora é um reflexo do que nós temos dentro.
Os cinco compromissos do guerreiro:
1. Seja impecável com sua palavra
Fale com integridade. Diga realmente o que você quer expressar.
Evite usar a palavra para falar contra si mesmo ou para fazer fofoca sobre
os outros. Use o poder de sua palavra na direção da verdade e do amor.
Ser impecável com a própria palavra. Este é o primeiro compromisso
que você deve fazer se quiser ser livre, se quiser ser feliz, se quiser
transcender o nível de existência que é o inferno. Use a palavra para
espalhar o amor. Use magia branca, começando com você mesmo. Diga a
si próprio quão maravilhoso você é, como é grande. Diga a si mesmo
como gosta de você. Use a palavra para quebrar todos os pequenos
compromissos que o fazem sofrer.
Ser impecável com a própria palavra é o emprego correto de sua
energia; significa usar sua energia na direção da verdade e do amor por
você. Se você fizer um compromisso com você mesmo de ser impecável
com sua palavra, com apenas essa intenção a verdade irá se manifestar
por seu intermédio e limpará todo o veneno emocional que existe em seu
interior. Como a palavra é a mágica que os seres humanos possuem e o
mau uso da palavra é magia negra, estamos o tempo todo usando magia
negra sem saber que nossa palavra produz magia.
Um praticante de magia branca usa a palavra para criar, dar,
partilhar e amar. Tornando esse compromisso um hábito, toda a sua vida
será completamente transformada.
2. Não leve nada a nível pessoal
Nada do que os outros fazem é por sua causa, nunca! O que os
outros fazem e falam é a projeção da realidade deles, do sonho deles.
Quando você é imune às opiniões e ações dos outros, você não será
vítima de sofrimento desnecessário. Você leva tudo para o lado pessoal
porque concorda com o que está sendo dito. Assim que concorda, o
veneno passa através de você e o prende no sonho do inferno. O que
causa a sua própria captura é o que chamamos de importância pessoal.

47
Importância pessoal, ou levar as coisas para o lado pessoal, é a expressão
máxima do egoísmo porque cometemos a presunção de achar que tudo é
sobre "nós". Durante o período de nossa educação, ou domesticação,
aprendemos a levar tudo para o lado pessoal. Nada do que os outros
fazem é motivado por você. É por causa deles mesmos. Todas as pessoas
vivem em seu próprio sonho, em sua própria mente; estão num mundo
completamente diferente do que aquele no qual vivemos.
Quando você toma o hábito forte de não levar as coisas para o lado
pessoal evita muitos aborrecimentos em sua vida. Sua raiva, inveja e
ciúme irão desaparecer, e até mesmo a tristeza irá dissolver-se quando
você aprender a não levar as coisas para o lado pessoal. Se você tomar
esse segundo compromisso como um hábito, irá descobrir que nada pode
colocá-la de volta no inferno. Uma grande quantidade de liberdade fica
acessível quando você deixa de levar as coisas para o lado pessoal. Você
se torna imune à magia negra, e nenhum encantamento pode afetá-lo, não
importa quão poderoso seja. Todo mundo pode mexericar a seu respeito,
mas se você não levar para o lado pessoal, estará imune. Alguém pode
enviar veneno emocional intencionalmente, mas se você não levar para o
lado pessoal, estará imune.
Não levar nada para o lado pessoal ajuda a quebrar muitos hábitos e
rotinas que o prendem ao sonho do inferno e causam sofrimento
desnecessário. Apenas praticando esse segundo compromisso você pode
começar a quebrar dúzias de pequenos outros compromissos que lhe
causam sofrimento. Escreva o compromisso num papel e coloque na
geladeira para lembrar você todo o tempo: Não leve nada para o lado
pessoal. Enquanto você se acostuma à prática de não levar as coisas para
o lado pessoal, não vai precisar colocar sua confiança no que os outros
dizem ou fazem. Só precisará confiar em si mesmo para fazer escolhas
responsáveis.
3. Não faça suposições
Encontre coragem para fazer perguntas e expresse verdadeiramente
o que você quer. Comunique-se com os outros o mais claramente possível
para evitar mal entendidos, tristezas, dramas. Seguindo apenas este
compromisso, você pode mudar completamente a sua vida.
Se não compreende alguma coisa, é melhor perguntar e saber do
que tirar qualquer conclusão. No dia em que você parar de tirar
conclusões, irá se comunicar com clareza e pureza, livre de veneno
emocional. Sem tirar conclusões, sua palavra se torna impecável.
4. Sempre faça o seu melhor
Seu melhor vai mudar de momento a momento. Será diferente
quando você estiver saudável de quando estiver doente. Em qualquer

48
circunstância, simplesmente dê o seu melhor, assim evitará ficar se
julgando, abusando de si mesmo, evitará remorsos.
Se você der o melhor de si na procura de liberdade pessoal, na
procura do amor próprio, vai descobrir que é apenas uma questão de
tempo até conseguir o que deseja. Respeite seu corpo, aproveite seu
corpo, ame seu corpo, alimente-o, limpe-o e cure-o. Exercite-o e faça o
que ele se sente bem em fazer. Esse é o puja de seu corpo, e isso é a
comunhão entre você e Deus.
Quando você honra esses quatro compromissos juntos, não existe
maneira de viver no inferno. É impossível. Se você for impecável com sua
palavra, se não levar nada para o lado pessoal, se não tirar conclusões e
sempre der o melhor de si, terá uma bela vida. Irá controlar cem por cento
de sua vida. Os Quatro Compromissos são um sumário do domínio da arte
da transformação, um dos domínios dos toltecas. Você transforma o
inferno no céu. O sonho do planeta é transformado em seu sonho pessoal
de céu.
Por isso, você precisa ser um grande caçador, um grande, guerreiro
que possa defender esses Quatro Compromissos com sua vida. Sua
felicidade, sua liberdade, toda a sua maneira de viver depende disso. O
objetivo do guerreiro é transcender esse mundo, escapar desse inferno e
nunca mais voltar. Como os toltecas nos ensinaram, a recompensa é
transcender a experiência humana de sofrimento, tomar-se a encarnação
divina. Essa é a recompensa!
A decisão de adotar os Quatro Compromissos é uma declaração de
guerra para reconquistar sua liberdade. Os Quatro Compromissos
oferecem a possibilidade de terminar a dor emocional, que pode abrir a
porta para que você aproveite sua vida e inicie um novo sonho. Depende
de você explorar as possibilidades de seu sonho, se estiver interessado.
Os Quatro Compromissos foram criados para ajudar você na Arte da
Transformação, para ajudá-lo a quebrar compromissos limitantes, a ganhar
mais poder pessoal e tomar-se mais forte. Quanto mais forte você ficar,
mais compromissos vai poder quebrar até o instante em que conseguir
chegar ao fundo de todos os compromissos e eliminá-los.
Praticar esses quatro novos compromissos é um grande ato de
poder. Quebrar os encantamentos de magia negra em sua mente requer
grande poder pessoal. Cada vez que você quebra um compromisso, ganha
mais poder. Começe quebrando pequenos compromissos, que requerem
menos poder. Quando esses pequenos compromissos são quebrados, seu
poder pessoal irá aumentado até atingir um ponto em que você pode
finalmente enfrentar os grandes demônios em sua mente.

49
A autoconfiança do guerreiro não é a mesma que a do homem
comum. Este busca a certeza aos olhos do espectador e chama a isso
autoconfiança. O guerreiro busca a impecabilidade a seus próprios olhos e
chama a isso humildade. O homem comum está agarrado a seus
semelhantes, enquanto o guerreiro só se agarra a si mesmo. Talvez você
esteja perseguindo uma quimera. Busca a autoconfiança do homem
comum, enquanto devia estar atrás da humildade do guerreiro. A diferença
entre os dois é notável. A confiança em si significa saber algo com certeza;
a humildade significa ser impecável em suas ações e sentimentos.
Os 5 atributos básicos do guerreiro:
-CONTROLE: É a capacidade de tentar gerir de forma impecável
todos os aspectos da sua vida que podem ser controlados, fazendo com
que todos os seus planos corram dentro do que foi planejado. Um sentido
firme de sobriedade e lucidez, que permite de certa forma antever as
situações, a fim de diminuir os riscos de ser surpreendido e esgotar seu
poder pessoal, direcionando as situações de acordo com sua estratégia
previamente elaborada.
- DISCIPLINA: É um ato de vontade que permite ao guerreiro
enfrentar toda situação que se apresente sem remorsos ou expectativas,
livre do culto ao "eu". Para os guerreiros a disciplina é uma arte; a arte de
encarar o infinito com firmeza, não apenas de ter perseverança, mas de
saber enfrentar as dificuldades no caminho. É amadurecer com as
investidas do desconhecido.
-PACIÊNCIA: Não confunda com procrastinação. A paciência do
guerreiro está estruturada no ato de equilibrar a ação e a espera...ele sabe
o que está esperando, e enquanto espera ele age e se regozija com o
mundo a sua volta. O guerreiro impecável sabe que está dando o seu
melhor, e sua espera é uma espera tranquila, de consciência limpa, onde
ele apenas aguarda os desígnios do Espírito e percorre seu caminho com
coração.
-SENSO DE OPORTUNIDADE: É a representação máxima da
fluidez do guerreiro. Como vem acumulando energia, seu elo de conexão
com o Infinito está mais límpido e claro, e sua intuição mais afiada. Dessa
forma, ele consegue “agarrar” seu centímetro cúbico de sorte e sentir a
hora certa de agir. Ele está sempre atento aos sinais, a fim de que seus
atos sejam sempre atos de poder e alinhados com os desígnios do
Espírito.
-VONTADE: É uma força que deriva do intento inflexível do
guerreiro. Sua intenção fortalecida ativa uma força real e pragmática: sua
vontade. Uma força interna que o reconecta ao Intento e o possibilita
interceder em sua realidade; que o mantém de pé mesmo quando tudo

50
parece perdido. A vontade do guerreiro o faz encarar todos os desafios e o
leva aonde ele nunca imaginou chegar. É a força motriz do guerreiro que o
conduz a liberdade.
Por isso, é tão importante que você domine o próprio sonho; por isso,
os toltecas se tornaram mestres do sonho. Sua vida é a manifestação de
seu sonho: é uma arte. E você pode mudar sua vida a qualquer momento
em que não estiver gostando do sonho. Os mestres do sonho criaram
obras-primas de vida: controlavam os sonhos fazendo escolhas. Tudo tem
conseqüências e o mestre de sonhos está consciente das conseqüências.
Existem dois domínios que levam as pessoas a se tornar toltecas. O
primeiro é o Domínio da Consciência. Significa tornar-se consciente de
quem realmente somos, com todas as possibilidades, O segundo é o
Domínio da Transformação: como mudar, como ficar livre da
domesticação. O terceiro é o Domínio da Intenção. Intenção, do ponto de
vista tolteca, é aquela parte da vida que torna a transformação de energia
possível; é o ser vivente que sem esforço envolve toda a energia, ou o que
denominamos "Deus". Intenção é a própria vida; é amor incondicional. O
Domínio da Intenção, portanto, é o Domínio do Amor.
Na vida do verdadeiro guerreiro espiritual não há omissões. Ele não
pode sentir-se aborrecido, não pode ficar abatido pelos fracassos do
passado ou pelo medo do futuro. Ele possui apenas a vida, a que tendo
tomado uma vez em suas mãos, vive até o fim com eficácia total, com a
compreensão total de sua Meta e com a responsabilidade absoluta por
suas decisões. É o Poder que inunda sua vida até a borda!
Se você vive sem medo, se ama, não existe lugar para essas
emoções. Se não sentir nenhuma dessas emoções, é lógico que se sinta
bem. Quando se sente bem, tudo ao seu redor está bem. Quando tudo ao
seu redor está ótimo, qualquer coisa o faz feliz. Você está amando tudo ao
redor porque está amando a si mesmo. Porque gosta da maneira como
você é. Porque está contente consigo mesmo. Porque está contente com
sua vida. Você está contente com o filme que está produzindo, contente
com seus compromissos de vida. Você está em paz e sente-se feliz. Vive
nesse estado de graça, no qual tudo é maravilhoso e tudo é tão bonito.
Nesse estado de graça, você está produzindo amor o tempo todo com tudo
o que percebe.
Quando você transforma todo o seu sonho, a mágica acontece em
sua vida. Aquilo de que precisa lhe vem facilmente, porque o espírito se
move com liberdade através de você. É o domínio da intenção, o domínio
do espírito, o domínio do amor, o domínio da gratidão e o domínio da vida.
Esse é o objetivo dos toltecas. Esse é o caminho para a liberdade pessoal.

51
O Intento

A síntese da volição, consciência e livre-arbítrio chama-se intento. O


conceito de intento é o cerne do treinamento dos guerreiros e a chave de
todo o seu conhecimento. Através dele se abrem as chaves dos mundos.
Naturalmente, o intento representa uma capacidade humana por natureza,
associada à vontade e ao livre-arbítrio, não apenas porque permite opções
e atitudes a partir do raciocínio, mas também abre as chaves da magia.
Para os xamãs, existe uma força incompreensível, incomensurável e
impessoal que permeia e conecta tudo no universo, e eles chamaram essa
força transcendental de Intento. Os xamãs Toltecas não estavam
preocupados em explicar o intento, e sim em interagir e manejar essa força
incrível, assim se ocuparam em cada vez mais entrar em contato com o
intento. Descobriram depois de muitos séculos e gerações de xamãs que
para o homem, o intento seria a força de conexão entre ele e o infinito ou o
o elo de ligação entre ele e tudo o mais que o rodeia, inclusive as forças do
universo, a realidade a sua volta e a coisas da sua vida.
Podemos, através de nossa vontade, impecabilidade, silêncio interior
e conexão com o intento, nos conectarmos novamente ao Espírito,
interferir em nossa realidade, tomar as rédeas da nossa existência, moldar
nosso viver, transformar nossos atos em atos de poder e tornar nossa vida
cada vez mais a expressão mais íntima e verdadeira de nosso espírito e
nosso caminho com coração. Quando aumentamos nosso poder pessoal e
limpamos nossa conexão com o Intento, mudamos nossa percepção,
nossa visão de mundo e de nós mesmos. O Intento está por aí...pairando
no ar...como sempre esteve...ao alcance de todos. Tudo o que precisamos
é de uma intenção inflexível e um amor inesgotável pela aventura e pela
liberdade para seguir nessa empreitada de poder pessoal, mistério e
magia. Para isso, os xamãs desenvolveram um sistema completo de ações
a fim de incrementar sua energia e alcançar o seu melhor, tornando-se
fluido, leve, potente, vibrando poder pessoal, um ser luminoso que busca
deliberadamente a sua totalidade.
Essas praticas funcionam como instrumentos de poder que
possibilitam ao ser luminoso o incremento de sua energia. E com o
acúmulo de energia, erradicando hábitos desnecessários, o guerreiro
passa a usar campos de energia antes não acessados, para lidar de forma
mais efetiva, equilibrada e potente no mundo que a cerca, bem como para
perceber literalmente outros mundos, e a magia acontecendo em ambos:
isso é xamanismo!
Os movimentos do intento representam atos de vontade pura, e
significam colocar a nossa consciência em zonas avançadas de energias.

52
Por decorrência, podemos dizer que abrem as "asas da percepção", dando
acesso a novos universos polarizados. O intento é a força que desdobra o
arco das possibilidades, trazendo à luz os potenciais ocultos. E deste
modo, os movimentos do intento abrem também novas zonas de
percepção.
O desenvolvimento da vontade é visto pelos toltecas como a chave
mais importante do trabalho da magia. Tal pragmatismo não dá margem à
duebiedades e faz dos toltecas-guerreiros viajantes que acumulam
grandes e extensas experiências místicas e ocultas. A verdadeira iniciação
tem início naquele grau associado ao centro da vontade pura, que é o
terceiro centro.
Naturalmente, o intento resume os melhores frutos do livre-arbítrio. O
intento é basicamente a orientação proposital da vontade, a energia do
alinhamento. Também se pode denominar como o propósito. Não se deve
confundir com a intenção, que pode ser boa ou má. O intento é uma
essência volitiva, um conteúdo energético direcionado que gera resultados
nos planos sutis. O intento é aquela força que nos conduz a estados de
consciência distintos, dando acesso aos vários mundos. E, por ser o
intento uma força de natureza mental, é importante que o guerreiro
obtenha uma compreensão profunda dos processos envolvidos em cada
caso, como forma de obter a motivação e o estado de consciência
necessário capaz de mover o ponto de aglutinação.
Na verdade, a importância do intento reside em que ele é o
mecanismo que permite nos movimentar nos outros mundos. Ali não
existem os sentidos e nem a razão, mas apenas a volição pura para nos
permitir atuar dinamicamente no ambiente e no relacionamento com outros
seres.
Representa a terceira base da técnica para manejar o alinhamento
entre as emanações interiores e exteriores. A primeira base é ver, e a
segunda base é a vontade, a energia produzida pelo aumento das
emanações. O domínio do intento e da espreita são consideradas como as
duas obras-primas dos novos videntes. Enumeremos as três bases que
permitem os alinhamentos cósmicos de energias:
1. Ver (Sonhar)
2. Vontade (Espreita)
3. Intento (Poder)
O intento é a chave dos atos de magia e um procedimento de grande
sutileza. Em certo nível, o intento corresponde à tensão mental e à força
de vontade. A intenção deve ser exercida de forma pura e relaxada. O
trabalho impessoal exercita a alma para alcançar isto. Este é um grau
muito abstrato porque envolve o trabalho direto com energias. A energia se

53
torna um objeto de manipulação direta, e o instrumento para isto é a
vontade ou a intenção. Esta técnica envolve formas de intenção dirigida ou
de "mobilidade mental criativa".
Nada é por acaso, ainda que escape à nossa compreensão, o intento
se encontra em tudo o que existe. Achar que qualquer acontecimento é
uma casualidade, equivale a dizer que nós mesmos somos uma
casualidade do encontro entre nosso pai e nossa mãe, e que, entre os
milhões de espermatozoides, nós, por acaso, conseguimos alcançar a
meta. Dizer isso é reduzir à nada nosso propósito de estar vivos…
Ainda que haja homens de ciência que reconheçam haver um
propósito por trás de tudo o que existe, outros se aferram a que tudo é
aleatório, como um jogo de dados.
Os bruxos comprovaram que absolutamente tudo está conectado:
cada ser animado ou inanimado que existe, desde galáxias, astros e
planetas, até o mundo microscópico, onde tudo está igualmente
interconectado. Descobriram que por meio dessas fibras luminosas, é
possível se realizar as formas mais inusitadas de comunicação entre seres
de diferentes níveis de existência.
Os bruxos notam que inclusive o comportamento humano é afetado
de acordo com os padrões das linhas de energia que circundam as
pessoas. Os bruxos usam essas linhas para descobrir segredos, interferir
em coisas, pessoas e eventos. Da mesma forma, as utilizam para viajar a
lugares inimagináveis, dentro e fora deste mundo.
Quando tomamos qualquer tipo de decisão, sem importar que seja
de forma consciente ou inconsciente, se agitam algumas dessas fibras de
luz. Isso, por sua vez, gera vibrações que interferem com outros
alinhamentos, fazendo com que o resultado de qualquer ação seja
imprevisível. A cada decisão que toma, a pessoa está apostando a vida,
pois ninguém sabe por trás de qual porta nos está esperando a morte.
Um guerreiro que aceita humildemente seu papel no teatro da vida,
sabe que tudo é um jogo, e por isso atua de maneira deliberada, mas com
total desprendimento. De forma que, ainda quando seus atos pareçam
pensados de antemão, na verdade, são o resultado do momento. Nisso
consiste a fluidez do guerreiro. “Quando se usa a bruxaria da interferência,
se deve levar em conta que esse ato pode gerar ressonâncias inesperadas
nas fibras de energia, as quais, por sua vez, afetam a outras fibras da
incomensurável teia de aranha, fazendo com que os resultados sejam
imprevisíveis. Assim que, por igual à disciplina da física moderna, só é
possível se referir a esse tipo de resultados fortuitos, como ‘incerteza’.
Somente os guerreiros mais impecáveis são capazes de mover essas
linhas sem deixar se enrolar por elas.

54
Quando movemos um desses filamentos, são gerados efeitos. Assim
se pode dizer, que a tarefa do bruxo é dominar a arte de ‘puxar’ essas
fibras de energia e de manipulá-las. O intento é a força de alinhamento
que está por trás de tudo o que existe. Quando tomamos uma decisão, ou
de alguma forma comprometemos nossa vontade, podemos afirmar que
estamos exercendo o intento, porque cada decisão repercute no infinito.
Precisamos estar conscientes, de que qualquer decisão, desde a mais
simples, como é sair para dar um passeio no parque, ou ir ao
supermercado, pode muito bem significar nossa morte. Sob essa
premissa, não existem decisões pequenas ou grandes.
É perfeitamente possível que amanhã, a esta hora, te estejam
enterrando. A única opção, seja para o guerreiro ou para o homem
comum, é ser impecável, porque ninguém sabe quando será o momento
em que a morte nos arraste com ela. Uma única decisão pode mudar
radicalmente nossas vidas, seja para o bem ou para o mal. Uma vez que
escolhemos o curso de uma ação, se desencadeia uma avalanche de
reações, e quando nos damos conta, nos encontramos presos numa
determinada situação. De algumas é fácil sair, de outras, é quase
impossível. Essas situações são o curso dos eventos, onde se desenrola o
drama da vida. Por trás de tudo, como uma testemunha muda, está o
intento.
As decisões são situações às quais nós enfrentamos todos os dias.
Se impõem frente a nós e exigem uma resposta. Cada um sabe, de forma
intuitiva, quando está a ponto de tomar uma má decisão. Porém os
interesses, a ambição e o medo interferem, e depois, já não há como voltar
atrás. Em muitas ocasiões, uma escolha equivocada pode não só desviar
uma pessoa do caminho, como pode acabar custando sua própria vida.
Assim que qualquer decisão pode muito bem ser a última. Sem importar o
que decida, para um guerreiro, a única opção é ser impecável.
O mais pernicioso é quando uma pessoa toma uma má decisão, e
depois vive com arrependimentos. Passa o resto de sua vida amarrada a
uma lembrança, de lamentações que não consegue afastar. Em geral, as
pessoas decidem no calor do momento, sem calcular suas possibilidades,
e sem pensar no resultado de seus atos. É algo parecido a quando
tolamente se assinam documentos legais, sem considerar que terá que
enfrentar às consequências.
Uma maneira inteligente, é seguir a técnica da cabeça fria, que
significa pensar, calcular e avaliar o resultado que uma determinada ação
pode acarretar. O intento continuamente apresenta situações em que,
gostemos ou não, temos que responder. Mesmo sem estar consciente, a
pessoa escolhe, e uma vez que toma uma decisão, as mesmas forças

55
misteriosas atuam em consequência, e o processo se repete vez e outra.
Assim é como somos testados, ganhamos experiência e cumprimos com
nosso propósito de estar vivos.
Para os bruxos, nada é acidental, e vêem em cada situação que se
apresenta, uma porta que se abre e convida a passar. Essas são as portas
do intento. Portanto, é da responsabilidade de cada um, individualmente,
escolher em quais batalhas entrar, e quais evitar, já que, uma vez que se
faça a escolha, terá que conviver com as consequências.
Se a pessoa tem a capacidade de discernimento, poderá avaliar
corretamente a situação, e com total desapego, escolher aquilo que lhe
ajude a avançar em seu caminho, porque uma vez que escolhe, o espírito
continuará enviando sinais, para guiá-la através do caminho escolhido.
Quando tudo deixar de te importar, então poderá escolher suas
predileções livremente, sem que isso faça pender a balança para nenhum
dos lados. Posto que tudo é o mesmo pois, realmente, nada importa.
É importante lembrar-se de que o intento não reage de forma direta,
mas sim indireta. Ou seja, devemos usar de subterfúgios quando tratamos
de intentar. A maneira que cada um se conecta com o intento é um
assunto pessoal. No entanto, há um padrão que é sabido ser invariável e
que se aplica a todos por igual, que se chama o caminho do guerreiro. Isso
porque ele consiste numa série de ritos a serem vencidos. Entre outros
desafios, é necessário se economizar energia, porque se vamos nos
adentrar no caminho do conhecimento, a primeira coisa que se deve fazer
é armazenar energia e, ao mesmo tempo, combater a importância pessoal;
levar uma vida impecável, porque o intento somente chega quando o
guerreiro consegue agir impecavelmente. Fazer a recapitulação, pôr em
ordem o tonal, e todas as demais coisas. Essas ações facilitam o processo
de conexão. Todas as estratégias do caminho do guerreiro estão
desenhadas exatamente para se alcançar esse fim.
Com a sutileza e a engenhosidade que mostram algumas aves
quando buscam um parceiro, também o guerreiro se vale de todas as
estratégias disponíveis para chamar a atenção do intento, sem poupar
esforços. Ele usa qualquer recurso que possa lançar mão. Digamos que o
espírito poderia ser comparado a um animal selvagem, ao qual leva tempo
ganhar-lhe a confiança. Deve-se ir aos poucos, saber quando avançar e
quando retroceder, até que se forme uma amizade.
Trata-se de conquistar o espírito da mesma maneira que se corteja
uma linda moça, com gestos de carinho, generosidade, bom humor, beleza
e graça. Quando consegue, da mesma maneira, ofereça sua vida ao
espírito.

56
É verdade que todos temos uma conexão com o espírito. Contudo,
por causa dos transtornos da vida, a maioria das pessoas têm um vínculo
que não funciona. A prova disso, é a quantidade de pessoas que, como
cegos, andam buscando a outros para que os guie, daí o motivo das
religiões. Isso acontece, porque o brilho e o ruído do ego não permitem ver
nem ouvir.
O trabalho é, portanto, esforçar-se por limpar o vínculo de conexão.
Para o guerreiro, não existe nenhuma outra meta mais importante que a de
reviver seu vínculo com o espírito.
Igual ao colégio, no caminho do guerreiro também há normas a se
seguir, para se poder alcançar os objetivos. Pense em suas práticas, como
se fossem lições em sua escola. A diferença está em que as normas
sociais são manipulações humanas, enquanto que as normas do guerreiro
são ditames do espírito. Essas normas são os requerimentos do intento.
Seguindo-os, é como você se prepara para um encontro direto; por isso
não pode confundir os decretos do espírito, com normas humanas.
É bem verdade que as técnicas podem variar, mas não importando o
método que se utilize para contatar ao espírito, este deve estar temperado
com impecabilidade e abandono. Há aqueles que, de forma certeira,
tratam de se aproximar através de rituais e disciplinas, mas eles também
falham, porque o que realmente conta é a impecabilidade do praticante, e
não o ritual ou a disciplina em si mesmos. A única obsessão válida para o
guerreiro é a liberdade. Essa é a razão pela qual se esforça além de seus
limites por agir impecavelmente. Para os bruxos, obsessão significa intento
inflexível, que é um estado especial da mente, onde todos os recursos
estão focalizados em atingir o objetivo. Tudo mais se torna irrelevante. Se
quiser, em vez de obsessão, pode chamá-la de determinação impecável.
Quando o guerreiro se dá conta da situação em que se encontra, o
propósito de liberdade se torna uma obsessão. Ao alcançar certo grau de
determinação, entra num estado permanente de ousadia, que permanece
com ele o resto de sua vida. As pessoas ao seu redor percebem isso, por
suas decisões serem finais. É como se uma aura de força o envolvesse.
Outro efeito notável, é uma mudança no brilho de seus olhos.
Ao lutar pela impecabilidade, os guerreiros de fato estão lutando por
se aproximar do espírito. Quando alcançam a impecabilidade, podem
convocar ao intento com tão só um gesto. Em certos casos, um guerreiro
chega a alcançar tal nível de fluidez, que por momentos chega a se fundir
com o intento.
Cada vez que se tem um desejo, se está a um passo de convocar ao
intento. Os bruxos estabeleceram uma escala que serve para medir o
avanço do guerreiro em seu caminho até o intento. Segundo essa escala,

57
começa com um desejo momentâneo, que não acarreta maiores
consequências, como é o caso, por exemplo, de desejar um sorvete.
Existe, porém, um outro tipo de desejo, que implica querer com força
suficiente para levar a pessoa a entrar em ação.
Convém não confundir a birra de uma criança impertinente, com o
querer de um homem poderoso, que exerce a vontade e não vacila ao agir;
para ele, todos os seus recursos, pensamentos e ações, estão focados em
sua meta, e ele não permite que nada, nem ninguém, o desvie de seu
caminho. Com seu poder de tomar decisões, o guerreiro escolhe sempre o
que é estrategicamente o mais conveniente para realizar seu trabalho.
As encruzilhadas do intento são as múltiplas possibilidades que se
apresentam em nossas vidas. Cada uma oferecendo uma existência
inteiramente diferente da outra. São como bifurcações de caminhos, com
seus diferentes destinos. São como os cortes de um diamante, onde cada
faceta reflete outra realidade.
As vezes, uma escolha tão simples, como ir à esquerda ou direita,
pode marcar a diferença entre a vida ou a morte.
Os guerreiros são conscientes que seus esforços por serem
impecáveis, é tão somente uma humilde oferenda que fazem para se
colocarem ao alcance do poder. O guerreiro não sente que seja, nem
mais, nem menos importante ou especial, de forma alguma, de maneira
que não fica esperando que o espírito o encontre ou o favoreça, ao
contrário, ele sai para buscá-lo de maneira deliberada. Para isso, ele se
prepara, limpa sua vida de coisas desnecessárias, cumpre com todos os
requisitos do intento, e depois se põe bem no meio do caminho, à espera
de que seja notado. O guerreiro entra na batalha, pela batalha em si,
consciente de que cada batalha pode muito bem ser a última, assim que
sempre dá o melhor de si mesmo, sem se importar quanto ao resultado.
Pode se dizer, que age com total frieza, a isso chamamos desprendimento.
Aceita completamente a responsabilidade por suas ações, é pragmático,
mantém suas emoções sob controle, e jamais se deixa levar por
sentimentalismos ou histerias de nenhum tipo. Um guerreiro não se deixa
enganar pelas aparências, aproveita cada oportunidade que se apresenta
em seu caminho para seguir adiante com seu trabalho, e não para mutilar
suas possibilidades de liberdade. É requisitado que harmonize sua
vontade com a do intento; que esteja disposto a fazer o que seja, para
cumprir sua meta de liberdade. Para isso, é necessário transcender o
desejo de realizações humanas.
Tornar-se disponível, não tem nada a ver com popularidade ou fama,
mas sim tratar de fazer-se acessível ao poder; o guerreiro não mede
esforços para conseguir a conexão. O intento é uma força impessoal, que

58
apenas responde ao poder de quem o busca. No momento em que se
alcança a conexão, sabe-se sem ter que usar palavras. Ao estar
conectado com a fonte de tudo, a pessoa se transforma em tudo e em
nada ao mesmo tempo. A luta do guerreiro por ser impecável, não é outra
coisa que a luta por espelhar o intento. Ao fluir com a energia, um
guerreiro impecável reflete a vontade do espírito tão bem, que cada
movimento, decisão ou ação, é uma consequência do intento.
Dizem os bruxos, que somente aqueles que já morreram para a
existência humana, podem ter acesso ao mundo do nagual; isso quer dizer
que somente aqueles que tenham cortado seus laços com o mundo, são
realmente capazes de adotar a liberdade como meta. Como espera que
um pai de família, ou um homem de negócios, cheio de compromissos e
responsabilidades, vá ter tempo para o espírito?
Muitos pensam que a espreita dos bruxos é para enganar aos
demais, mas, na verdade, está desenhada para ajudar ao praticante a
fazer-se consciente de si mesmo; somente assim se consegue escapar
das urgências do ego. Como te disse antes, seu problema real é a falta de
energia. Faça seu trabalho, recapitule sua vida, e logo verá que não é tão
complicado como quer que pareça. O melhor é que comece por cortar tudo
que for desnecessário em sua vida. Logo vai sentir quando é o tempo
correto para dar o passo seguinte.
Comece fazendo uma lista de suas atividades, e jogue fora tudo
aquilo que não seja crucial para a sua sobrevivência e bem-estar. Somente
assim é que vai encontrar tempo para seguir adiante. Depois faça uma
lista de suas memórias, e comece a esmiuçar uma por uma, até que tenha
depurado todos os aspectos de cada evento.
Esta é uma luta de vinte e quatro horas a cada dia, e isso já é
suficientemente difícil para aqueles que se dedicam por completo, imagine
então o quanto mais difícil seria, para um homem comum, enrolado nos
assuntos diários. A corrida não é do mais forte, nem do mais rápido, mas
sim daquele que persevera até o final.
A única forma de parar o diálogo interno é intentando uma e outra
vez. Porém, não será possível, até que se consiga vencer o ego. Somente
então é possível entrar no silêncio. Para obtê-lo, deve se fazer responsável
por sua própria luta, deve manter sua resolução de calar a mente, por
tanto tempo quanto seja necessário. Precisa persistir até alcançar seu
objetivo.
O silêncio é cumulativo, é possível adicionar segundo por segundo
ao intento, até alcançar a quantidade requerida. Depois disso, o silêncio
toma o controle e entra-se, literalmente, num mundo de prodígios, onde a
percepção dividida é um feito cotidiano. Ao adquirir certo grau de

59
experiência, é possível ir em tempo real, a outros lugares nesta terra, ou
visitar outros mundos, ou ainda viajar entre as diferentes camadas de
existência.
Os resultados que buscam, somente são possíveis quando se
alcança o silêncio. Assim que, e não é para menos, essa seja uma meta
tão cobiçada pelos guerreiros. Podemos afirmar que todo o esforço
anterior é apenas um preâmbulo; somente quando conseguir calar a
mente, é que começa o trabalho real. A partir deste ponto, abre-se um
novo mundo de possibilidades e de exploração. A verdade é que todos
corremos contra o tempo. A única coisa que nos espera no final do
caminho, é a morte. Tendo entendido bem isso, qualquer esforço que faça,
já é alguma coisa. Não temos opção, estamos condicionados a ter um
diálogo interno, mas isso não significa que estejamos obrigados a pensar
em algo em particular.
Assim que, se tem que manter um diálogo interno, ao menos escolha
sabiamente o tópico do que pensa. Isso significa que, em vez de dar
rédeas soltas aos pensamentos, ou debilitar-se com ideias de
autocompaixão, deveria criar estratégias, que te permita enforcar seus
pensamentos para investigar assuntos transcendentais. Em vez de se
entregar ao devaneio, ou abarrotar sua mente com ordens negativas,
muito melhor é pensar sobre os conceitos do caminho do guerreiro, para
que você se fortaleça.
Para um guerreiro, o sentido de oportunidade é tudo para ele. Essa é
a razão pela qual passa toda sua vida polindo seu vínculo com o espírito.
A forma de se resistir aos comandos negativos ou indesejáveis, é
aplicando o mesmo método. Os bruxos sabem que os comandos são
ordens que não se pode desobedecer, mas confiam no consentimento do
infinito, de aceitar comandos substitutos. Se um novo comando é repetido
de forma persistente, este substituirá a ordem anterior, e se tornará a
vontade da Águia.
Para moldar o intento do futuro, pode-se forjá-lo, pensá-lo, desejá-lo,
fazer oferendas para que se concretize, até se pode escrevê-lo para si
mesmo; o que não se pode, em todo caso, é divulgá-lo. Quando se
comenta nosso intento com outros, ele se dilui, e terminamos ficando sem
nada.
Os bruxos usam a inteligência para desenhar estratégias, de maneira
a que possam alcançar seus objetivos. É bom se ter em conta que, mesmo
fazendo uso de toda a bruxaria, nunca sabemos exatamente como serão
os resultados, já que as variáveis são muitas, de forma que devemos ser
flexíveis frente às exceções. Precisamos reconhecer que estamos imersos
no mistério, os detalhes vão se ajustando ao momento. Aproveitando este

60
conhecimento, o guerreiro, em vez de se entregar a caprichos fúteis,
intenta o futuro para avançar em seu caminho.
Somente com a sobriedade que o tempo proporciona, pode o
guerreiro adquirir a experiência e sabedoria necessárias para se tomar as
decisões corretas. Por isso, para um guerreiro, só existe uma escolha
possível: a impecabilidade. Qualquer outra opção extinguiria seu poder e o
conduziria à sua morte.
A maioria dos bruxos nem sequer tenta pôr em palavras o enorme
arsenal de conhecimento que possuem, é uma perda de tempo, porque
uma vez que se alcança o conhecimento silencioso, a pessoa sabe tudo o
que precisa saber, diretamente, sem a necessidade de verbalizar.
Contudo, para outros, a compreensão racional é de grande importância.
O intento é como um músculo que pode ser exercitado, até dar-lhe a
forma desejada. Para conseguir, a pessoa deve ser disciplinada, deve
começar a limpar e ordenar os assuntos diários, até que já não reste nada
pendente. De maneira que, sem importar o que esteja fazendo, estará
sempre focada no presente. Para manejar o intento, a pessoa deve fluir
com ele. Uma vez que consiga vibrar na mesma frequência, a conexão
está feita.
Estar conectado significa vibrar harmonicamente com o espírito. A
mestria do intento somente é alcançada quando a vontade pessoal se
afina ao ponto de fazer coincidir as emanações internas com as
emanações cósmicas, de modo que o de dentro e o de fora vibrem numa
mesma frequência.
Somente os guerreiros supremos conseguem fundir-se com o
intento, tornando-se um com o poder. É quando finalmente podem fazer o
que quiserem, mas então, já não restam desejos humanos neles, e, em
vez de utilizar seus dons para afetar a seus semelhantes, um guerreiro
impecável, na maioria das vezes, não faz nada, simplesmente porque se
sente completo consigo mesmo. O intento é como o sol, tanto melhor é
experimentá-lo, do que falar sobre ele, já que tudo que se possa dizer, é
insuficiente ou desnecessário.
Por detrás do ruído do mundo, e ainda por detrás do ruído de nossa
própria mente, encontra-se um rincão de paz; é como o olho de um
furacão, onde tudo está tranquilo, mesmo que enquanto ao redor haja uma
tormenta; nesse recanto de silêncio, é possível ouvir os sussurros do
espírito, dizendo-nos o que é o quê, e qual caminho se deve tomar. A
tarefa de buscar esse lugar especial dentro de nós mesmos, pode custar
um grande esforço, mas uma vez que se chega nesse rincão de silêncio, já
não importa que tanto ruído ou movimento haja fora, porque então terá
encontrado seu centro, e nada pode te tirar dali.

61
O guerreiro afina sua percepção, enfoca a atenção em determinados
aspectos de estar consciente, de maneira que se torna um rastreador de
energia. Encontra nos eventos cotidianos os pontos onde a energia se
manifesta de maneira mais evidente. Tais pontos são os sinais do intento.
Os sinais do espírito, é aquilo que nos indica o caminho para se escapar
do curral. Assim é como o guerreiro dá um salto quântico com o
pensamento, converte cada momento em um novo experimento, onde
inclusive a vida cotidiana torna-se uma emocionante viagem ao
desconhecido.
O guerreiro cultiva seu poder pessoal, escolhe deliberadamente cada
um de seus passos, estabelece a estratégia de sua vida, com o propósito
de incrementar seu nível de energia; isso, por sua vez, facilita a ele ainda
mais, seguir o rumo que lhe assinala o espírito, mesmo que, às vezes,
esses passos o levem em direção contrária ao que determina o sentido
comum. O guerreiro começa com um mito, algo pouco mais do que
palavras. Depois alcança um nível supremo de compromisso, que alguns
qualificam como fé, mas que, na verdade, é muito mais que isso; trata-se
de um nível de compreensão, um estado mental que se apodera dele, ao
que os bruxos chamam intento inflexível. A partir daí, o guerreiro alcança
tal nível de realização, que literalmente caminha sobre uma ponte
metafórica de sua própria criação, e enquanto dure seu poder, poderá
seguir caminhando, talvez para sempre. Sua grande conquista é se unir
conscientemente com as emanações do universo; assim é como se tornou
tudo e nada ao mesmo tempo. Alguns chamam a essa façanha ‘o terceiro
ponto’, ou ‘a terceira atenção’, onde a consciência individual alcança seu
máximo, ao se unificar conscientemente com o todo. Os videntes estão de
acordo que, aqueles que alcançaram a meta, são os verdadeiros
defensores do universo.
Os requisitos para o Intento são três: a Frieza, o Abandono, e a
Audácia. Através desses 3 requisitos podemos nos tornar plenamente
conscientes do Intento (Consciência Total) e aprender a manejá-lo (em
outras palavras, como ver o ponto de encaixe). O primeiro dos requisitos, a
Frieza é a não-piedade com a nossa experiência como um todo. A frieza é
algo geralmente repreendido socialmente. Mas não se trata aqui de ser
indiferente ou rude com as pessoas e condescendente consigo.
Se trata de uma Frieza geral, com as (auto)piedades e (auto)importâncias,
que faz a nossa descrição atual de mundo parar. É uma implacabilidade
com a nossa própria pessoa, que se estende de forma equânime sobre
toda a experiência. Dentro dessa Frieza nada mais é importante, e assim
limpamos momentaneamente a ilha do tonal.

62
O segundo requisito, o Abandono, é o ato de soltar qualquer controle
ativo sobre a experiência. A Frieza é cortar os vínculos com essa ilha do
tonal, e o Abandono é como subir no barco e erguer a âncora. Só a Frieza
não basta. Alguém pode momentaneamente limpar a própria ilha e, ao
continuar nela, eventualmente se agarrar a algum pensamento e
preocupação…. reconstruir a descrição de mundo… e quando menos
perceber, estar com o tonal novamente de novo de velhas preocupações,
julgamentos, anseios e apegos. O Abandono é soltar-se de toda a
descrição de mundo uma vez que ela foi parada, esquecer-se dela…
deixá-la ir embora naquele instante.
Com Frieza e Abandono, alcançamos o silêncio e a fluidez.
Entramos em um estado de não-saber. Erguemos a âncora de certezas
que prendia nosso ponto de encaixe naquela posição e tornamos ele
fluído. Retiramos toda a atenção que vinha sendo empregada em
sustentar uma perspectiva sobre as coisas e temos energia livre pra um
novo intento.
A partir dessa neutralidade silenciosa, o primeiro pensamento que
surge se torna um novo comando. Qualquer pensamento, nesse vazio,
pode começar a fomentar o vislumbre de um novo alinhamento, de uma
nova experiência. É então que entra o terceiro requisito: a Audácia. A
Audácia é o ato de ousar se colocar na posição onde já estamos
alinhando, agora mesmo, a experiência que estamos intentando.
Se podemos imaginar, ou pelo menos formular, podemos sentir. E se
podemos sentir, podemos alinhar. E então podemos sustentar o novo
alinhamento. Isso vale pra qualquer intento, dos mais mundanos,
corriqueiros e concretos, aos mais abstratos, desconhecidos e
aparentemente impossíveis pra razão, porque o que quer que intentemos
já existe dentro do Infinito (o que quer que intentemos já existe dentro do
Infinito) e pra que isso se torne nossa experiência, não é uma questão de
“criar” algo com a nossa percepção, mas de sintonizar a posição onde
aquilo já está ocorrendo agora. Esse é o Poder ao nosso alcance enquanto
seres luminosos, enquanto percepções dentro do Intento Ilimitado.
Pra manejar devidamente o Intento é preciso ter derrotado os 2
primeiros inimigos da caminhada: o Medo e a dúvida. Caso contrário, o
Medo irá influenciar ou trancar nossa imaginação, e a dúvida nos impedirá
de conceber possibilidades não-lineares e de acreditar na nossa
capacidade de alinhá-las.
Lembrando que o manejo do Poder ainda não é a Liberdade Total. E
lidar com o Poder sem sabedoria e sobriedade pode ser até pior do que
nunca tê-lo conquistado. Mas lidar com ele com sobriedade é uma porta
para adquirirmos liberdade de percepção, nos tornarmos compositores da

63
nossa jornada, e quem sabe… compreender que a completude não está
em manejar o Intento…mas na possibilidade velada, que todo ser tem, de
nos darmos conta de ser um com ele.
Não importa se não sabemos na prática o que é “Ser um com o
Intento”, nem como nos tornarmos conscientes dele. Se pudermos reunir a
Frieza e o Abandono necessários para parar a nossa descrição de mundo,
e a Audácia de acreditar que é possível despertar para o Intento agora,
isso já é suficiente.
Não é arrogância estar consciente de ser um com o Intento, ou de
não ser nenhum com o Nagual. A arrogância, na prática, vem de
acreditarmos que somos entidades separadas dele. Internalizando o
princípio de reduzir a auto importância: uma das principais chaves do
caminho do guerreiro.
Uma das principais chaves presentes nos livros de Castaneda, pra
quem está iniciando o caminho tolteca, é: internalize o princípio de reduzir
a sua auto importância. Se você não tem importância pessoal, como diz
dom Juan, você é invulnerável. Se você é importante, tudo, inclusive as
ofensas que só existem na sua imaginação, podem te afetar.
Assumir esse princípio é ir na contramão da sociedade. A sociedade
diz que você tem que se dar importância. “Se você mesmo não se der
importância, ninguém te dará”. Quando a nossa pessoa se torna
importante, nossos caprichos se tornam importantes, e consomem toda a
nossa energia. Nossa auto imagem se torna importante, todo pensamento
que diz respeito a nossa vida pessoal se torna importante, e o que os
outros pensam de nós se torna importante. O poder sobre a nossa vida
está todo dispersado e fora das nossas mãos.
Quando internalizamos o princípio de reduzir nossa importância
própria, a vida diária se torna um campo rico de situações que nos
oferecem a oportunidade de acumular energia abrindo mão da nossa
vaidade. Cada uma delas é uma pequena morte. E cada pequena morte é
também a morte de uma velha perturbação, de uma velha preocupação,
de um velho processo de pensamentos recorrentes. E o paradoxo é que, a
cada pequena morte, você se descobre mais vivo, mais sereno e mais
presente.
Os guerreiros não conseguem aplacar totalmente a tristeza e
solicitação do impacto do silêncio do universo, pois perderam seus
escudos. Esses escudos são as coisas que fazem. Elas precisam refletir a
pura vontade do poder. Daquilo que alimenta a gente. Do intento. Se não
refletir o poder. Essas próprias coisas que fazemos, nos enfraquecem.
Tornam a vida, fria, triste e sem sentido.

64
Então a frieza do infinito se faz presente em cada fibra da gente…
De forma misteriosa ela nos mostra o caminho a seguir. Precisamos ser
implacáveis conosco se quisermos sobreviver as ondas cósmicas do
intento. Se estivermos cheios de auto-importância, orgulho, vaidade.
Cheios de história pessoal. Ficamos pesados. Na inconsciência.
Para se catapultar a outros mundos precisamos de firmeza, nervos
de aço e uma vontade feroz. Só assim temos uma mínima chance de ter
sequer uma chance, de mergulhar no inimaginável… Enquanto isso gira o
mundo em sua loucura descontrolada. E em torno do mundo gira o
dinheiro e a glória, mas os guerreiros e guerreiras dignos desse nome, não
flutuam mais com o mundo, criaram seus próprios dispositivos de
soerguimento da flutuação do mundo, e conduzem suas vidas de forma
disciplinada e desapiedada, de forma que passam a transcender e a
realizar, não apenas coisas abstratas, mas verdadeiras estruturas
complexas que mudam a realidade ao seu redor.
O mundo pragmático da feitiçaria toma um rumo diferente. E o que
era uma vida vazia passa a ser uma vida intensa. Cheia de poder,
aventuras e sorte. Passo a passo vamos progredindo no caminho.
Estes são os contra-pontos de uma vida vazia e uma vida cheia de
poder. Então, passo a passo, vamos seguindo nesse caminho que exige
muita criatividade. A criatividade vem do nagual. E através da criatividade
e do poder pessoal que passamos a acumular, vamos praticar três
movimentos fundamentais.
Primeiro, acenamos para o intento. Segundo, limpamos o elo de
conexão com o intento, e terceiro, manipulamos o intento.
É preciso lutar, sem esmorecer, sem lamuriar, até obter a
compreensão de que todo o poder está dentro de nós. A nossa caravana
não é a do desespero. Se vibrar na intensidade necessária para essa
transformação. Nós estamos mais próximos do que imaginamos. Basta ir
seguindo nessa trilha, que nos encontramos de alguma forma.

A impecabilidade

O que determina a maneira de se fazer qualquer coisa é o poder


pessoal. O homem apenas é a soma de seu poder pessoal, e essa soma
determina como ele vive e como morre.
O poder pessoal é um sentimento. Uma coisa como ter sorte. Ou
pode-se chamá-lo de um estado de espírito. O poder pessoal é uma coisa
que a pessoa adquire sem considerações de sua origem. Isso se
consegue pondo a vida em ordem, não tendo pendências nem escapes de
energia. Em outras palavras, sendo impecável

65
Um guerreiro é um caçador de poder[e estou lhe] ensinando a caçá-
lo e armazená-lo. A dificuldade com você, que é a mesma de todos nós, é
a de se convencer. Precisa acreditar que o poder pessoal pode ser usado
e que é possível armazená-lo, mas até agora ainda não se convenceu.
Estar convencido significa que você pode agir sozinho.
A impecabilidade é a obra-prima dos guerreiros modernos, e o
sistema de conduta que estrutura o comportamento do guerreiro em sua
busca por poder pessoal e liberdade.
Ser impecável é fazer o melhor uso possível da sua energia. Ou
podemos dizer que seria o ato de você economizar, incrementar e
aumentar sua energia, ou seu poder pessoal, como queiram. Purificar sua
energia e reforçar suas fibras luminosas. Agir com consciência em todas
as situações que se apresentarem a você. Ter mais esmero com suas
escolhas, decisões, atos e pensamentos.
E consiste basicamente em você fazer o que sabe que é certo, fazer
o que sua consciência manda, o que te deixa de bem com a vida, satisfeito
pela atitude ou comportamento que teve. Agir de acordo com seus valores.
Zerar a distância entre o que você pensa, fala e faz. Honrar os
compromissos assumidos com você mesmo. É o ato de dar o melhor de si
em tudo que se propor a fazer, e seguir firme nesse intento, sendo firme e
constante apesar de todas as dificuldades. Silencioso, pragmático,
consistente e letal. E também é o ato de banir da sua vida todos os
hábitos, comportamentos e indivíduos nocivos à sua pessoa, que te
deixam com sentimento de culpa, infeliz, com um baixo nível de energia,
insatisfeito com suas atitudes e com a consciência pesada. Remover do
seu cotidiano tudo aquilo que você sabe que está errado, mas insiste em
fazer, só perdendo energia com isso.
Ser impecável é acreditar no seu poder pessoal, seja ele pequeno ou
grande, afinal ele é tudo que você tem para começar. É seguir com fluidez
e desapego os desígnios do Grande Espírito. Botar pressão na sua
vontade e ir além.
Segundo os xamãs do México antigo, todas as realizações dos
guerreiros, seu sucesso e boa sorte, dependem do seu nível de
impecabilidade, ou seja, do tamanho do seu poder pessoal, ou também
podemos dizer da sua quantidade de energia. É justamente esse aumento
de energia, que virá com a impecabilidade, que vai mudar seu estado de
espírito, te deixando mais motivado, energizado, mais disposto e mais
lúcido, e te possibilitando aumentar sua percepção e enxergar tudo com
outros olhos.

66
A impecabilidade por algum motivo atrai o Grande Espírito e limpa o
elo de conexão do guerreiro com o Infinito. Ela muda sua visão de mundo
e de si mesmo. E aí tudo começa a mudar em sua vida
A impecabilidade não é nada mais do que o uso apropriado da
energia [poder]. Economizei energia, e isso me torna impecável. Para
compreender isso, você mesmo tem de economizar energia suficiente.
Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que
fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo
a permitir que poupem parte da energia que dispendem. Essa lista
estratégica cobre apenas padrões de comportamento que não são
essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar.
Seja impecável. Sempre economize energia e você ganhará clareza
e profundidade de visão para tomar decisões adequadas. Energia = Ver.
Energia = Ver é a fórmula mais básica da ciência mística. A impecabilidade
é determinada pela nossa capacidade de economizar energia. Em todos
os nossos esforços, devemos aprender a perceber rapidamente se
estamos perdendo ou ganhando energia. Este é um método muito simples
para obter clareza instantaneamente! Devemos reconhecer e transformar
situações em que estamos perdendo energia, ou sair de cena. Quanto
mais energia temos, mais claros somos, mais longe podemos ver e mais
efetivamente podemos tomar decisões.
Quando somos vitais com energia, naturalmente nos comportamos
de forma inteligente e não precisamos nos concentrar incessantemente na
dualidade do certo e do errado. Precisamos eliminar os paradigmas de
pensamento vítima/culpa, que custam um preço enorme para nossa
energia. Nossas interações com nossos semelhantes, principalmente
nossos amantes, dependem de nossas decisões impecáveis de momento
a momento e de nosso objetivo de nos tornarmos conscientes.
Não importa o que os outros façam ou digam. Você por si tem de ser
um homem impecável. A luta trava-se bem aqui no peito. É preciso todo o
tempo e toda a energia que tivermos para vencer a idiotice dentro de nós.
E é isso o que importa. O resto não tem importância. Ser um guerreiro
impecável lhe dará vigor, juventude e poder.
Assumir a responsabilidade por seus atos significa, entre outras
coisas, dar a devida importância para cada ação sua, independente de
qual seja a natureza desse ato. Energeticamente, todos seus atos são
importantes, e têm a mesma importância. Nenhum é mais ou menos
importante que outro. É o poder de suas decisões e atitudes que vai
capacitá-lo a ir aonde você nunca imaginou chegar.
O guerreiro trata todos os seus atos como se fossem sua última
batalha na Terra. Ele sabe que a morte o espreita, e que tudo pode acabar

67
a qualquer momento. Não há tempo a perder com comportamentos
desajeitados, improdutivos e desgastantes energeticamente.
Sem reclamar. Sem expectativas de sucesso. Sem medo do
fracasso. E principalmente, livre do culto ao "eu" e com objetivos. O
impossível não existe para um espírito com um intento inflexível, livre da
autopiedade e que acredita em seu poder pessoal. Nesses termos, só
existe o alinhamento do seu propósito com o intento do infinito, os desafios
e um caminho com coração a ser percorrido
Outra coisa que Don Juan Mattus recomendava como um meio de
poupar energia era a dissolução dos padrões de comportamento que
levam ao caos, como a incessante preocupação com o namoro romântico,
a apresentação e defesa do eu na vida cotidiana e, acima de tudo, a
tremenda insistência com as queixas do “eu”. Se estes pontos forem
superados, qualquer um de nós pode ter a energia necessária para fazer
um uso mais inteligente do tempo, do espaço e da ordem social.
Para Dom Juan, o mundo dos desejos ou ideais pouco tem a ver
com os atos do homem, enquanto a energia ou Poder Pessoal - que é a
energia disponível para ele - é o que determina tudo: o possível e o
impossível. Como nos diz em Viajem a Ixtlán: «Um homem nada mais é do
que a soma do seu Poder Pessoal...».
Por outro lado, todo aquele que empreende o caminho do
conhecimento como guerreiro será necessariamente interessado em tudo
relacionado à energia. Você sabe que a jornada para o desconhecido e
todas as mudanças que você terá que fazer em si mesmo exigirão não
apenas um bom nível de energia, mas também que uma parte significativa
dessa energia esteja "disponível". É por isso que ele examina tudo o que
faz com base na energia. Isso faz parte do segredo dos seres luminosos:
somos energia e todas as nossas ações implicam no uso ou desperdício
de nossa energia vital. O guerreiro sabe que cada ato fortalece ou
enfraquece nossa energia e por isso se torna extremamente cuidadoso
com a natureza de seus atos, em que busca sempre a impecabilidade, que
nada mais é do que o uso ideal da energia. Dizer que o Guerreiro busca
sempre ser impecável refere-se ao fato de que ele busca persistentemente
o melhor uso possível de sua energia.
A chave da questão é: se deixarmos de nos perceber como egos e
nos aceitarmos como campos de energia, não apenas nossa maneira de
ver a realidade, mas até mesmo nossa maneira de nos comportar nela
tende a mudar. Enquanto como egos somos obrigados a realizar um
enorme número de ações voltadas para a defesa e reafirmação do ego,
como campos de energia, por outro lado, teremos que prestar atenção na
maneira como usamos nossa energia, em seu aumento ou diminuição e,

68
portanto, nossas ações serão orientadas para o uso adequado da energia,
também conhecido como o selo do guerreiro: a impecabilidade.
Essa consciência da nossa transitoriedade e impermanência aqui faz
com que cada segundo conte para ele. Ele quer energia. Isso dá a seus
atos a potência, a profundidade e o desapego necessários para que cada
atitude sua seja consciente, sóbria e permeada por um intento inflexível.
Imerso nesse estado de espírito, ele assume a responsabilidade de que
são suas atitudes e ações que vão moldar sua vida, e não o destino ou
outras pessoas. É a sua intenção, afiada e treinada, que limpa sua
conexão com o Espírito, e permite que ele interceda de maneira mágica na
sua realidade. Nesses termos, o guerreiro está sendo impecável.
A impecabilidade é simplesmente o melhor uso de nosso nível de
energia. Claro que exige frugalidade, simplicidade, inocência; e, acima de
tudo, exige falta de auto-reflexão. Segundo os feiticeiros, para comandar o
espírito, ou seja, comandar o movimento do ponto de aglutinação, o
indivíduo necessita de energia. A única coisa que armazena energia para
nós é nossa impecabilidade. Ser um guerreiro impecável lhe dará vigor,
juventude e poder.
A impecabilidade nasce de um delicado equilíbrio entre o nosso ser
interno e as forças do mundo externo. É uma conquista que exige esforço,
tempo, dedicação e estar permanentemente atento ao objetivo, para que o
propósito final nunca se perca de vista. Mas, principalmente, exige
persistência, e a persistência vence a apatia.
A disciplina, tal como a entende um guerreiro, é criativa, aberta e
produz liberdade. É a capacidade de encarar o desconhecido,
transformando a sensação de saber em assombro reverente; de traçarmos
objetivos que excedam o alcance de nossos hábitos e nos atrevermos a
enfrentar a única guerra que vale a pena: a do conhecimento. É o valor
para aceitar as conseqüências de nossas ações, sejam quais forem, sem
sentimentos de auto-compaixão ou culpa.
Ter disciplina é a chave na manipulação da atenção, porque nos leva
à Vontade. E esta nos permite modificar o mundo até que fique tal e como
nós queremos, e não como nos foi imposto. Por essa razão, para os
guerreiros, a vontade é a ante-sala do intento. Seu poder é tão grande
que, ao focalizá-la em um objetivo, eles podem produzir os mais
assombrosos efeitos. No fundo de cada uma das prodigiosas ações dos
bruxos, há uma vida inteira de disciplina, sobriedade, desapego e
capacidade de análise. Tais atributos, os mais apreciados de um guerreiro,
constituem em seu conjunto o estado de ser que eles chamam
impecabilidade.

69
Uma vez que ganhou flexibilidade, humildade, senso de
independência, controle de detalhes e persistência, um guerreiro em busca
da impecabilidade sabe que ganhou o poder de suas decisões. O caminho
do guerreiro consiste em economizar energia; tudo o que vai contra ele
ameaça sua intenção de ser impecável.
O desafio final do guerreiro é equilibrar todos os atributos de seu
caminho. Feito isso, seu propósito se torna inflexível. Ele não é mais
movido por um desejo desesperado de ganho. Ele é o dono de sua
vontade, e pode colocá-la em prática, à seu serviço pessoal. Quando
chega a esse ponto, o guerreiro aprendeu a ser impecável. E para ele
continuar impecável depende totalmente da energia que acumulou.
Um guerreiro não pode ser desamparado. Nem confuso, nem
assustado, em nenhuma circunstância. Para um guerreiro só há tempo
para sua impecabilidade; tudo o mais esgota seu poder, a impecabilidade
o renova.
A impecabilidade é fazer o máximo em tudo que você empreender.
Se realmente acha que seu espírito está desviado, você
simplesmente terá de endireitá-lo, purgá-lo, fazê-lo perfeito, pois não há
nenhum outro trabalho em todas as nossas vidas que valha mais a pena.
Não endireitar o espírito é procurar a morte, e isso é o mesmo que não
procurar nada, desde que a morte nos alcançará, não importa o que
acontecer. Deve compreender que um guerreiro não é um tolo. Um
guerreiro é um caçador imaculado que caça o poder; não é bêbado nem
doido, e não tem tempo nem vontade de fingir, mentir a si mesmo ou dar
um passo errado. O jogo é muito caro para isso. Está arriscando sua
própria vida ordenada, que ele levou tanto tempo para ajustar e
aperfeiçoar. Não vai jogar tudo isso fora por cometer um engano de cálculo
tolo, tomando uma coisa por outra.
A impecabilidade nasce de um equilíbrio delicado entre nosso ser
interno e as forças do mundo exterior. É uma realização que requer
esforço, tempo, dedicação, e estar permanentemente atento ao objetivo,
de forma que o propósito final não se dissipe. Mas, sobretudo, requer
persistência. A persistência derrota a apatia, é tão simples quanto isso.
Uma vez que acumulou flexibilidade, humildade, sentido de independência,
controle sobre os detalhes e persistência, um guerreiro em busca da
impecabilidade sabe que conta com o poder de sua decisão. Está
capacitado para fazer ou não fazer, de acordo com sua conveniência, e
ninguém pode obrigá-lo a nada. É aí neste ponto que ele precisa, como
nunca, ser dono de suas emoções e de sua mente, porque a claridade
unida ao poder forma uma mistura explosiva.

70
A impecabilidade começa com um único ato, que tem de ser
deliberado, preciso e constante. Se esse ato é repetido pelo tempo
suficiente, adquire-se o senso de um intento inflexível, que pode ser
aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho está
aberto. Uma coisa leva à outra até que o guerreiro percebe todo o seu
potencial.
Uma das principais preocupações dos guerreiros é libertar essa
energia para poder encarar o desconhecido com ela. A ação de recanalizar
a energia é a Impecabilidade!
Um guerreiro calcula tudo, isso é controle. Mas uma vez terminados
os seus cálculos, ele age. Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido.
Para um guerreiro, não há nada de ofensivo nos atos de seus
semelhantes, enquanto ele estiver agindo dentro da disposição correta. As
ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não tem
mais expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a
força que governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do
guerreiro – o desapego.
Um guerreiro não tem honra, nem dignidade, nem família, nem
nome, nem país; ele tem apenas a vida para ser vivida e, nessas
circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua loucura
controlada. Um guerreiro não precisa de história pessoal. Um dia ele
descobre que ela não é mais necessária para ele, e a abandona.
Como não se desespera por relacionar-se com ninguém, o guerreiro
pode escolher seus afetos com sobriedade e desprendimento, tomando
cuidado a todo momento para que as pessoas com as quais consente em
ter relações sejam compatíveis com sua energia. O segredo para ter tal
claridade de visão consiste em não se identificar. O bruxo se identifica com
o abstrato, não com o mundo. Isso lhe permite ser independente e cuidar-
se sozinho
O caminho do poder pessoal: passos firmes e olhar fixo em frente,
com paciência e impecabilidade, sem expectativas e sem aflição. A
impecabilidade atrai o Grande Espírito e limpa o elo de conexão do
guerreiro com o Infinito. Ela muda sua visão de mundo e de si mesmo. É a
magia da intenção invadindo sua vida. E aí tudo começa a mudar.
Tudo é constituído de Poder.
O Mar Escuro é a fonte de todo o Poder.
O lado ativo do Poder é o Intento puro, a força da luminosidade.
Os Seres também são constituídos do puro Poder.
E esse Poder é Impessoal.
Uma vez que entra em movimento a primeira atenção, os Seres
humanos se posicionam e identificam como um objeto dentro de seu

71
próprio Ser. Se perdem nessa identificação, se desconectam do Poder, e
se esquecem de sua origem, até que reiniciam a jornada para limpar seus
vínculos de conexão com o Espírito.
Nessa jornada, pessoal, os bruxos falam de Poder pessoal.
Ele começa quase nulo, do estado de pura identificação com a mente, e
consciência de si quase nula, e vai crescendo gradativamente na medida
em que o guerreiro em sua jornada vai se tornando mais e mais consciente
de si mesmo. Vai retirando a atenção que despende em conceitos
arbitrários e vai recuperando essa atenção para seu ser físico no momento
presente. Uma sutil vibração, uma onda de energia, pode ser sentida no
seu interior quando se mantém lúcido e consciente de si no instante
presente. E vai se fortalecendo, quanto mais presente o guerreiro se torna.
Essa vibração é a porção de luminosidade contida dentro da forma física
do guerreiro.
Ser impecável, lidar com a vida como desafio, reduzir as
necessidades e auto importância, não fazer, são meios de acumular Poder
pessoal. Quando sua primeira atenção limpou a ilha, percebendo que
praticamente nada do que dava importância tem realmente importância, e
se assentou no interior do ser físico do guerreiro, chega um ponto em que
seu Poder parece começar a se expandir além dos limites do seu ser
físico. Essa vibração, essa força, parece se expandir por sobre a ilha do
tonal.
É comum nesse momento o engano de acreditar que este Poder é
uma expansão do Poder pessoal, uma expansão da Consciência, e que
portanto pertença à forma pessoal do guerreiro e seja resultado de seu
próprio acumulo de energia.
Esse Poder não é resultado do acumulo de energia, esse Poder
existe por si só. O acumulo de energia é o que permite ao guerreiro chegar
a este Poder.
Não é que o Poder Pessoal esteja se expandindo. É antes, que as
barreiras mentais criadas pela crença na realidade das divisões no mundo
material e sustentadas pela 1a atenção do guerreiro começam a
desvanecer, e o Poder onipresente e original, fonte do seu Poder pessoal
e do Poder pessoal de todos os seres começa a se manifestar. Desse
Poder sem formas surge a 2a atenção.
E é desta posição do Poder que se torna possível, para o vidente,
reconhecer a Fonte Escura e inominável do próprio Poder, onde nenhum
conceito existe, nem mesmo o conceito de Poder.

72
A Vontade

A vontade pode ser descrita como o controle máximo da


luminosidade do corpo como um campo de energia, ou como um nível de
eficiência, ou um estado de ser que surge abruptamente na vida diária de
um guerreiro a um dado momento. Ela é experimentada como uma força
que se irradia da parte média do corpo, depois de um instante do mais
absoluto silêncio, ou um instante de pleno terror, ou de tristeza profunda;
mas não depois de um instante de alegria, pois a alegria é muito
envolvente para permitir ao guerreiro a concentração necessária para usar
a luminosidade do corpo e levá-lo ao silêncio.
A vontade é uma coisa muito clara e poderosa, que pode dirigir os
nossos atos. A Vontade é uma coisa que o homem usa, por exemplo, para
vencer uma batalha que ele, por todos os cálculos, devia perder.
O que o feiticeiro chama de vontade é um poder dentro da gente.
Não é uma idéia, nem um objeto, nem um desejo. A vontade é o que pode
fazê-lo vencer quando seus pensamentos lhe dizem que você está
vencido. A vontade é o que torna invulnerável. A vontade é o que faz o
feiticeiro atravessar uma parede; o espaço; ir até à Lua, se ele quiser. O
que você chama de vontade é caráter e uma disposição forte. O que um
feiticeiro denomina vontade é uma força que vem de dentro e se agarra ao
mundo exterior.
Ter disciplina é a chave para lidar com a atenção, porque nos leva à
vontade. E isso nos permite modificar o mundo até que ele se torne o que
queremos que seja, e não como aquele que nos foi imposto de fora. Por
esta razão, a vontade é o limiar da intenção para guerreiros. Seu poder é
tão grande que quando está focado em algo, pode produzir os efeitos mais
surpreendentes.
Como nunca está desesperado para entrar em contato com ninguém,
o guerreiro pode escolher seus afetos com sobriedade e desapego,
cuidando sempre para que as pessoas com quem consente sejam
compatíveis com sua energia. O segredo para alcançar essa clareza de
visão consiste em desidentificar-se e não identificar-se. Um feiticeiro
identifica-se com o abstrato, e não com o mundo. E isso lhe permite ser
independente e cuidar de si mesmo. Subjacente a cada uma das
prodigiosas ações dos feiticeiros, há toda uma vida de disciplina,
sobriedade, desapego e capacidade analítica. Os guerreiros dão o maior
valor a esses atributos, e juntos eles constituem o estado de ser que eles
chamam de impecabilidade.
Para fluir dessa maneira, devemos aprender a confiar em nossos
recursos e entender que nascemos com tudo o que precisamos para a

73
aventura extravagante que é nossa vida. Como guerreiro, cada homem ou
mulher que entrou no caminho da feitiçaria sabe que é responsável por si
mesmo.
O aspecto da impecabilidade que preocupa particularmente nossa
vida cotidiana é saber como o exercício de nossa liberdade afeta os outros
e evitar o atrito resultante a qualquer custo. Um guerreiro aceita com
humildade o que ele é, e ele não desperdiça seu poder lamentando porque
as coisas não são de outra forma. Se uma porta está fechada, não a
chutamos e batemos! descubra como abri-la, da mesma forma, se sua vida
não é satisfatória, o guerreiro não se ofende, nem reclama, ao contrário,
traça estratégias para alterar o curso de seu destino.
O que você está procurando está dentro de você. Você tem que lutar
para tornar suas ações finais e alcançar sua própria clareza. Comprometa-
se, antes que seja tarde demais!
Perceba que, face a face com o nosso destino, cada um de nós está
sozinho. Portanto, assuma o controle de sua própria vida. Um guerreiro
lapida detalhes, desenvolve sua imaginação e testa sua engenhosidade
resolvendo situações. É inconcebível para ele sentir-se desamparado,
porque tem autocontrole e não precisa de nada nem de ninguém.
Concentrando-se nos detalhes, ele aprende a cultivar a delicadeza, a
sutileza e a elegância.
O dom da independência e o controle dos detalhes produzem a
capacidade de persistir onde outras pessoas desistiriam. Ao chegar a esse
ponto, o guerreiro está a um passo de uma conduta impecável. A
impecabilidade nasce de um delicado equilíbrio entre o nosso ser interno e
as forças do mundo externo. É uma conquista que exige esforço, tempo,
dedicação e estar permanentemente atento ao objetivo, para que o
propósito final nunca se perca de vista.
Uma vez que ganhou flexibilidade, humildade, senso de
independência, controle de detalhes e persistência, um guerreiro em busca
da impecabilidade sabe que ganhou o poder de suas decisões. Ele está
autorizado a fazer ou não fazer, de acordo com o que lhe convém e
ninguém pode obrigá-lo a nada. É neste momento que ele precisa, mais do
que nunca, ser o dono de suas emoções e de sua mente, porque a clareza
unida ao poder faz uma mistura poderosa.
A vontade é um poder. E como é um poder, tem de ser controlada e
afinada, e isso leva tempo. Nossa vontade opera apesar de nossa
indulgência.

74
A Palavra

É interessante notar como a palavra perdeu seu poder. No passado,


um fio de bigode era suficiente para concretizar acordos. Infelizmente,
essa categoria especial de honestidade se perdeu; esse é o motivo da
vergonhosa burocracia de se ter que assinar papéis para obrigar que se
cumpra com o que se diz. Parece algo simples, mas essa é a razão pela
qual as pessoas andam tão afastadas do espírito.
A palavra é extraordinariamente importante para os bruxos, porque é
considerada como as chaves do intento. São mágicas! Ditas na sequência
correta, as palavras podem abrir qualquer porta.
Uma vez dada a palavra, se cria um compromisso, um desejo
pessoal ou coletivo; assim é como comprometemos nossa vontade com a
dos demais. Dessa maneira, é possível construir o mundo. Agora, se por
qualquer razão alguém falta com sua palavra, está prejudicando a si
mesmo, pois ao agir dessa forma, debilita sua força de vontade e turva seu
vínculo de conexão com o espírito.
O perigo das mentiras é que elas predispõem ao fracasso. Uma vez
que propomos algo, de alguma forma convocamos ao intento, e se por
qualquer razão voltamos atrás em nossa resolução, debilitamos nosso
vínculo com o espírito. Ao falhar uma e outra vez com a palavra dada, a
pessoa se afasta tanto do espírito, que termina por afugentá-lo de maneira
definitiva, e a conexão se torna quase impossível.
Somente a vida forte do guerreiro permite que o espírito se expresse
através de seus atos. É disso que se trata, quando falo de limpar o vínculo
com o intento. Pois é disso que se trata, quanto te falo de desandar seus
passos, para recuperar e limpar sua energia. Somente assim é possível se
reconciliar.
As pessoas deveriam ser muito cautelosas com o que dizem, ou com
o que decidem, pois cada vez que decidimos, se desata uma cascata de
eventos que, se não estivermos preparados, podem muito bem significar
nosso fim. Por isso, os bruxos são tão deliberados com suas palavras e
decisões. Uma vez que tomam uma decisão, não se detêm até tê-la
concluído em sua totalidade. Não deixam nada pendente ou ao acaso.
Para o guerreiro, falhar não é uma opção.
Devemos ser muito cuidadosos com o que sai pela boca, porque
uma palavra lançada pode construir ou destruir. É igual a um fogo, que
começa com uma simples faísca, e que pode desatar forças tão
destrutivas quanto um incêndio florestal. Uma palavra errada pode
envenenar e inclusive levar à tumba.

75
Uma grande parte da importância pessoal sai pela boca, por meio de
palavras carregadas de arrogância e má intenção. A necessidade de
reconhecimento, fruto da importância pessoal, que no fundo é somente a
autocompaixão disfarçada, leva as pessoas a se exporem sem
necessidade, muitas vezes pondo em risco suas próprias vidas.
Os bruxos usam o intento para atirar uma palavra, como quem atira
uma lança. Para isso, usam os ‘feitiços’, e dessa maneira podem curar,
ajudar a um amigo, ou destruir a um inimigo. O modo dos bruxos, é
esperar o momento oportuno para deixar sair o que trazem guardado.
Há de se levar em conta que, as vezes, uma informação pode causar
mais estragos do que benefícios. De que serve informação contaminada,
que só te faz se debilitar? Pensamentos de ódio, violência ou baixos
instintos, são contrários ao caminho do guerreiro, que aspira à liberdade.
As palavras são de grande importância para os bruxos, porque eles
sabem que elas implicam um grande poder e uma grande
responsabilidade. Por isso evitam falar a toda pressa.
A importância pessoal é o que induz às pessoas a emitir longos
discursos cheios de afetação, dos quais muitas vezes perdem o controle,
um tema leva a outro, e não conseguem parar, e até se esquecem sobre o
que vinham falando. São como esses espelhos que mostram a mesma
imagem, repetidas vezes, sem fim. Há camaradas que poderiam ser
comparados a um tambor, pois fazem muito barulho, mas estão ocos por
dentro, falam por falar. São como um comediante, que fala muito, mas não
diz nada. É muito desagradável, essas pessoas que grosseiramente
interrompem aquele que está com a palavra. É tamanha a urgência do
ego, que pecam por sua falta de educação. Em conversações, se dão
pausas, momentos de silêncio próprios para se fazer algum comentário.
Contudo, o bom senso impõe analisar e entender o tema que se está
tratando antes de fazer alguma observação. Quando não se tem nada de
relevante a dizer, o melhor é ficar quieto.
O intento se manifesta em tudo. Se prestar atenção ao que se passa,
verá que tudo ao redor te conta algo. O sorriso de uma criança, os olhares,
os gestos das mãos. Esteja sempre atento. A atitude, mais do que as
palavras, dizem muito se as observar. A palavra não apenas serve como
via de comunicação entre as pessoas, também pode ser usada para
contatar o espírito. É triste, mas convertemos um excelente meio de
conexão com o espírito, num falatório sem sentido da mente.
Em seu verdadeiro alcance, as palavras são mágicas, porque então,
como na poesia, o que importa não são as palavras em si, mas sim a
intenção que está oculta entre elas.

76
Arte da Espreita

Os feiticeiros, num esforço para se protegerem do avassalador efeito


do conhecimento silencioso, desenvolveram a arte de espreitar.
Estimulados por essa observação, os novos videntes começaram a
praticar o controle sistemático do comportamento. Chamaram a essa
prática arte da espreita [um nome apropriado], porque a espreita envolve
um tipo específico de comportamento diante das pessoas, um
comportamento que pode ser categorizado como sub-reptício.
Espreitar é um procedimento muito simples. Espreitar é
comportamento especial que segue certos princípios. É um
comportamento secreto, furtivo, designado a provocar um choque. E
quando você espreita a si mesmo, você choca a si mesmo, usando seu
próprio comportamento de um modo implacável e astucioso.
O guerreiro tolteca moderno é caracterizado por um profundo senso
de retidão, beleza, integridade, sobriedade, vontade e impecabilidade. Sua
luta é contra suas fraquezas e, principalmente, contra a aspereza de
comportamento e o automatismo psíquico do ser humano. Para lidar
consigo e com o mundo a sua volta, ele tem uma ferramenta poderosa,
forjada ao longo dos séculos pelos seus antecessores da sua linhagem de
xamãs: a arte da Espreita.
A Espreita é um conjunto de comportamentos que moldam as
atitudes e as decisões do guerreiro e definem sua relação com o mundo a
sua volta, e é definida por 4 disposições, que funcionam como uma
represa:
- 2 características são represadas, e funcionam apenas
internamente, não sendo mostradas ao mundo pelo guerreiro: a
sagacidade e a implacabilidade.
- 2 características tem as comportas abertas e são liberadas e
mostradas ao mundo: a paciência e a gentileza.
Assim, para os outros, ele é paciente e gentil, porém no íntimo e para
si mesmo, ele também é sagaz e implacável. Ele mostra ao mundo só o
que quer. Os 4 princípios da Espreita devem fluir em conjunto e atuarem
de forma equilibrada em todas as relações e atos do guerreiro, tornando-o
encantador, eficiente, pragmático e envolvente. Com essas características
permeando e moldando seu comportamento, suas atitudes e sua relação
com o mundo e com ele mesmo, o guerreiro vai atuando no teatro mágico
da vida, atingindo de forma estratégica seus objetivos e conquistando as
pessoas, ou conquistando seus objetivos e atingindo as pessoas.
Mas não confunda: Ser paciente não é ser procrastinador, é saber
esperar. Ser gentil não é ser bobo, é ser encantador. Ser sagaz não é ser

77
safado, é ser inteligente. Ser implacável não é ser cruel, é simplesmente
fazer o que deve ser feito.
A arte de espreitar é um conjunto de procedimentos e atitudes que
permitem à pessoa conseguir tirar o melhor proveito possível de qualquer
situação concebível. Espreitar é uma arte aplicável a tudo, e há quatro
passos para aprendê-la: implacabilidade (não rudeza), esperteza (não
crueldade), paciência (não negligência) e doçura (não tolice). Esses quatro
passos devem ser praticados e aperfeiçoados até que estejam tão suaves
que passem despercebidos.
A melhor maneira de mover o ponto de encaixe e obter mais
liberdade é enfocando tua atenção sobre teus pensamentos, o simples
observar dos pensamentos, faz com que possamos retomar o controle que
não possuimos sobre os mesmos, e então nos damos conta que nós
somos o que pensamos, ou melhor, o que nós escolhemos para pensar, os
toltecas definem a atenção como a ferramenta pela qual a consciência
converte tudo que lhe rodeia em algo compreensível. A atenção ou
capacidade perceptiva pertence ao reino do nagual (teu eu profundo).
Para os feiticeiros, a espreita é o alicerce sobre o qual tudo o mais
que fazem é construído. De modo muito sucinto, a espreita é a arte de
usar o comportamento de maneiras novas para propósitos específicos. O
comportamento humano normal no mundo da vida cotidiana é rotina.
Qualquer comportamento que escape à rotina causa um efeito incomum
em nosso ser total. Esse efeito incomum é o que os feiticeiros buscam,
porque é cumulativo.
Um feiticeiro é um tolteca quando desenvolveu os mistérios de
espreitar e sonhar. A arte dos feiticeiros é estar por fora de tudo e passar
despercebido. E mais que tudo, a arte dos feiticeiros é nunca desperdiçar
seu poder. Só um mestre em espreita pode ser um mestre em loucura
controlada. A loucura controlada não significa o estudo das pessoas.
Significa que os guerreiros aplicam os sete princípios básicos da arte de
espreitar a tudo o que fazem, desde os atos mais simples até situações
sérias de vida e de morte.
A Arte da espreita é uma das avenidas de poder para o guerreiro-
xamã. Consiste em utilizar de forma estratégica, intencional e até inusual
seu comportamento, a fim de aumentar sua energia e mudar sua
percepção da realidade, ou sua visão de mundo e até de si mesmo. É a
maneira estratégica do guerreiro lidar com o mundo. É regida por vários
princípios e preceitos. Um dos primeiros e principais é: O guerreiro
espreita a si mesmo. Ele tem que dominar a si mesmo e vencer suas
fraquezas, antes de tentar dominar a realidade a sua volta, exercendo sua
intenção sobre ela. Partindo do princípio de que tudo que acontece ao

78
guerreiro deriva de seu poder pessoal, se as coisas não vão como o
esperado, ou não vem dando certo no geral, isso é sinal de que você não
está com poder pessoal suficiente. Nesse caso, não está agindo de forma
impecável o suficiente para economizar e aumentar sua energia, ao ponto
de fazer a balança pender e sua vontade se tornar uma unidade funcional
em sua vida. Em outras palavras, lhe falta energia para fazer as coisas
acontecerem. Você está perdendo o jogo para a matrix, e não está
conseguindo mais limpar sua conexão com o Infinito e ditar o rumo da sua
vida. Muitas vezes, dependendo do seu jeito de viver e encarar as coisas,
você pode estar até perdendo energia, e diminuindo seu poder pessoal.
O guerreiro deve constantemente espreitar a si mesmo a fim de
corrigir isso, e mudar o rumo das coisas, se necessário. Mudar a rota e
encontrar seu caminho com coração. Da mesma forma que ele encara o
mundo e age no dia-a-dia como mandam os princípios da espreita, ele age
consigo mesmo: gentil e paciente, mas também sagaz e implacável. A
energia que você acumulou até agora e sua sobriedade devem falar mais
alto, e você tem que ter a percepção do que está errado e o que deve ser
feito, a fim de virar o jogo. O guerreiro não deve julgar a si mesmo, isso é
autopiedade e é desgastante energeticamente do mesmo jeito. Antes, ele
deve enxergar friamente quais são os seus pontos de escoamento de
energia e sanar isso. Fazer o que deve ser feito, e tentar agir de forma
impecável nas áreas de sua vida que carecem de mais atenção, e que ele
não está agindo da melhor forma. Exercendo sua vontade sobre si, e
subjugando suas fraquezas. Espreitando a si mesmo, e fazendo as
mudanças necessárias, a impecabilidade se fortalece, e por consequência
sua energia volta a aumentar. Isso é ter mais controle sobre sua vida.
A impecabilidade traz consigo o silêncio interior. Dando seu melhor e
agindo de forma consciente, uma estranha paz interior brota, e a clareza
assume seu lugar na consciência do guerreiro. Com sua energia renovada
e aumentada sistematicamente, o guerreiro vai limpando sua conexão com
o Espírito e aumentando seu poder pessoal
A aplicação desses princípios redunda em três resultados. O primeiro
é que os espreitadores aprendem a nunca se levarem a sério; aprendem a
rir de si próprios. Se não se importam de parecer bobos, podem enganar a
qualquer um. O segundo é que aprendem a ter uma paciência sem fim.
Nunca estão com pressa, nunca se desesperam. E o terceiro é que
aprendem a desenvolver uma capacidade infinita de improvisação.
Chamo esse método de O caminho dos feiticeiros. Em essência, o
caminho dos feiticeiros é uma cadeia de escolhas de comportamento ao
lidar com o mundo, escolhas muito mais inteligentes do que aquelas que
nossos pais nos ensinaram. Essas escolhas dos feiticeiros destinam-se a

79
recompor nossas vidas alterando nossas reações básicas com relação a
estarmos vivos. Os feiticeiros têm um método de arranjar suas energias.
Eles redistribuem inteligentemente sua energia cortando tudo o que
considerem supérfluo em suas vidas.
O primeiro princípio da arte de espreitar é que os guerreiros
escolhem seu campo de batalha. Um guerreiro nunca entra na batalha
sem saber o que o cerca. Descartar tudo o que for necessário é o princípio
da arte de espreitar. Não complique as coisas. Tente ser simples. Use toda
a concentração de que é capaz para decidir se entra ou não na batalha,
pois toda batalha é uma batalha pela vida [É o segundo princípio]. Este é o
terceiro princípio da arte de espreitar: o guerreiro tem de estar disposto e
pronto a tomar sua última posição a um certo momento. Mas não de um
modo atabalhoado. Relaxe, solte-se, não tenha medo de nada. Só então
os poderes que nos guiam abrem o caminho e nos ajudam. Só então [Este
é o quarto princípio] quando confrontados com coisas com que não
conseguem lidar, os guerreiros se retraem por um instante. Deixam a
cabeça se soltar, usando o tempo para outra coisa. Qualquer coisa serve
[Este é o quinto princípio]. O sexto princípio: os guerreiros condensam o
tempo; até mesmo um instante é preciso. Numa batalha pela vida, um
segundo é uma eternidade, eternidade essa que pode decidir o resultado
final. Os guerreiros esperam ter êxito, portanto condensam o tempo. Não
desperdiçam nenhum minuto. O sétimo é: um espreitador nunca se põe à
frente das coisas.
Existem três técnicas básicas de espreita. 1) recapitular
acontecimentos. 2) respiração. 3) engradamento. A recapitulação é a
técnica mais profunda para se perder a forma humana. Fazer uso do não
fazer, apagar sua história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as
rotinas. Ficar sempre por trás dos bastidores se houver conflito.
Um caçador apenas caça. Um espreitador espreita qualquer coisa,
inclusive a si mesmo. Um espreitador impecável pode transformar
qualquer coisa em presa. Podemos espreitar até mesmo nossas próprias
fraquezas. Podemos espreitá-las do mesmo modo que você espreita a
caça. Você estuda seus hábitos até conhecer todos os atos de suas
fraquezas e depois salta sobre elas e as pega como coelhos dentro de
uma gaiola.
Quando os feiticeiros falam de moldar nossa situação de vida estão
falando de moldar a consciência de estar vivo. Moldando essa consciência
podemos conseguir energia suficiente para alcançar e manter o corpo
energético, e com ele certamente podemos moldar a direção total e as
conseqüências de nossas vidas. Minha recomendação é que você expulse
o medo dos sonhos e da vida, para salvaguardar sua unidade.

80
A fim de ser um espreitador consistente e utilizar a loucura
controlada nas suas interações, o guerreiro tem primeiro que estar vazio, e
isso ocorre através da prática da recapitulação. Só sendo vazio o guerreiro
pode assumir o papel que quiser em qualquer situação, pois não tem mais
sua autoimportância para travá-lo.
A impecabilidade é tudo o que conta. Agora mais do que nunca você
precisa de sobriedade e autodomínio. Impecabilidade requer não depender
de ninguém; encontrar a paz e a harmonia diretamente do espírito.
Homens impecáveis não necessitam de ninguém para guiá-los. Eliminar a
auto-importância e acabar com o espelho da auto-reflexão. Vencer a
autopiedade e silenciar o diálogo interior.
Força interior significa um sentido de equanimidade (neutralidade),
quase de indiferença, uma sensação de estar à vontade. Os novos
videntes chamaram todos esses traços de caráter de sobriedade.
Tudo o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto se inicia
com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante. Se
esse ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um sentido de
intenção inflexível, que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é
realizado, o caminho está aberto. Uma coisa levará a outra até que o
guerreiro descubra seu potencial completo.
A manipulação do intento começa com uma ordem dada a si mesmo;
a ordem é então repetida até tornar-se a ordem da Águia da maneira
desejada no momento em que os guerreiros atingem o silêncio interior.
Aceite o desafio de intentar. Empenhe sua determinação silenciosa,
sem qualquer pensamento. Um dos atos de um guerreiro é nunca deixar
que coisa alguma o afete.

O Pequeno Tirano

Controle é dominar-se quando alguém está pisando em você.


Paciência é esperar calmamente, sem pressa e sem ansiedade. Mas o que
geralmente nos exaure em uma situação como esta é o desgaste da nossa
auto importância. Qualquer homem que tenha um pingo de orgulho
dilacera-se quando o fazem sentir-se desvalorizado
Todo esforço deve ser feito para erradicar a vaidade da vida dos
guerreiros. A vaidade figura como a atividade que consome a maior
quantidade de energia, daí o esforço para erradicá-la. Energia para poder
encarar o desconhecido. A ação de recanalizar aquela energia é a
impecabilidade.
Dominar o pequeno tirano: é ter controle, é ter disciplina, é ter
paciência, é esperar pelas oportunidades, é ter vontade. Um guerreiro

81
impecável deve aprender a dominar o espírito quando alguém está
pisando em você, isso chama-se controle.
Raiva, ira, medo, inveja, decepção, desapontamento, frustração,
autopiedade, vitimismo, ansiedade, ciúmes, vingança, revanchismo,
competitividade, expectativas não correspondidas, autoimportância,
orgulho, etc, são todos sentimentos que nublam seu raciocínio, fazem você
esgotar seu poder pessoal e deturpam sua estratégia, estragando todo seu
planejamento. Portanto, não podem de forma alguma fazer parte da psiquê
do guerreiro na luta do dia-a-dia, e muito menos devem servir de
motivação para qualquer ato com os pequenos tiranos. Ir para batalha
cheio desses sentimentos é ruína na certa, de uma forma ou de outra.
Você deve estar com a mente cristalina e vazia, cheia de sobriedade
e intento para levar seu plano e sua estratégia em relação aos tiranos até
o fim, de forma impecável e sem deslizes ou atropelos. Não leve nada para
o lado pessoal. Controle seu ego. Certifique-se que vc está vazio, e não
um poço de emoções flutuantes.
O guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro
afortunado. Se os videntes conseguem manter-se inteiros ao defrontar-se
com pequenos tiranos, podem certamente encarar o desconhecido com
impunidade, e então podem suportar até mesmo a presença do
incognoscível.
Raiva, ressentimento e rancor são todas as ferramentas que o
parasita usa para se fortalecer e assumir o controle de sua mente, e aqui
novamente seus métodos são muito sorrateiros. Porque enquanto o
parasita pode apontar com precisão como você foi maltratado nas mãos de
outra pessoa, a solução que ele oferece é agitar as emoções negativas de
raiva, tristeza, amargura etc. que o feriram e, na pior das hipóteses, contra-
atacar com vingança.
Além de perdoar quem te fez mal, você também precisa perdoar a si
mesmo. Isso porque muitas pessoas, quando olham profundamente para o
passado experiências de domesticação, descobrem que estão com raiva
de si mesmos por permanecerem em uma situação ou não fazerem mais
para se libertar. Se isso se aplica a você, lembre-se de se perdoar por isso
também. Você estava fazendo o melhor que podia na época; não há
necessidade de bater-se.
Lembre-se, perdoar os outros é algo que você está fazendo por si
mesmo, não por eles. Perdoar não significa esquecer os acontecimentos
do passado, nem tolerar quaisquer ações; em vez disso, liberta você de
ser controlado por eles, lembrando-se de que você é responsável apenas
pelas pontas de seus próprios dedos.

82
Um Mestre do Eu reconhece que quaisquer emoções negativas que
estão surgindo são realmente um presente, uma oportunidade de
descoberta, pois ninguém mais é responsável por suas reações
emocionais, exceto você. Vale a pena repetir esta última frase: ninguém
mais é responsável por suas reações emocionais, exceto você. Os outros
podem dizer e fazer o que quiserem, mas o que acontece dentro de você é
apenas o resultado do que você está pensando e sentindo.
Liberar suas domesticações e apegos pode ajudar a silenciar o
diálogo interno negativo que produz sofrimento e substituí-lo por amor
próprio e autoaceitação incondicionais.
Você é obrigado a conviver com alguém, no trabalho, por exemplo.
Um chefe que trata todos mal, é exigente, sem educação e grosso. Pois
bem, em vez de você ficar se lamentando e chorando, você utiliza essa
relação forçada para modelar seu espírito e treinar os 5 atributos do
guerreiro. Você vai ouvir as ofensas dele e ficar quieto, vai ouvir os insultos
e não ligar, treinando para diminuir sua autoimportância e treinar sua
disciplina; vai traçar um plano para ganhar a confiança dele e trazê-lo pro
seu lado, fortalecendo seu controle, ai fazer tudo certo e esperar, treinando
sua paciência, e por aí vai. Use a situação para internalizar os conceitos e
virar o jogo. Fortalecer sua impecabilidade e seu intento, traçando um
plano e executando, afiando seu senso de oportunidade e sua vontade.
Don Juan dizia que os antigos xamãs procuravam avidamente pequenos
tiranos, para treinar sua espreita e mover seu ponto de aglutinação,
através da mudança de comportamento sistemática que a convivência
deles pedia. Na época dos espanhóis eles eram os perfeitos pequenos
tiranos, pois forçavam a espreita e a impecabilidade dos guerreiros ao
máximo, na lida diária dos índios com os opressores. Os pequenos tiranos
lapidam nosso espírito.
Nos raros momentos em que você escorrega e cai em uma
armadilha, como Mestre do Eu, você é capaz de recuperar sua consciência
e se recuperar rapidamente. Em vez de piorar as coisas atacando, sendo
defensivo ou caindo no caos e se juntando ao drama da festa, agora você
tem as ferramentas para recuperar o equilíbrio. Através do poder da
consciência, impulsionado pelo amor próprio incondicional, você sabe que
está fazendo o melhor que pode a cada momento. Você não precisa mais
distorcer o mundo ao seu redor para se adequar à sua percepção. Você
sabe quem você é e, como resultado, pode agir e falar com total confiança
e sem desculpas. Assim, sua palavra se torna impecável. Porque você
está envolvendo os outros com consciência e amor incondicional, você tem
confiança de que cada ação que você toma será perfeita no momento. De

83
todas essas maneiras, você aprendeu como se tornar um Mestre de Si
Mesmo.
Para um Mestre do Eu, a paz vem com o perdão, deixando de lado
qualquer veneno que você esteja segurando. Se você deixar esse veneno
te afogar, então você se tornará parte do ciclo que trouxe sofrimento a este
mundo. Perdoar o Sonho do Planeta pela escuridão é perdoar qualquer
lugar de escuridão dentro de nós mesmos. Toda vez que você escolhe
perdoar, você cura a ferida infectada que faz você se encolher de medo e
se esconder atrás da raiva. Escolher agir a partir de um lugar de amor ao
invés de medo sempre trará harmonia ao momento presente,
independentemente do que esteja acontecendo.
Os guerreiros que sucumbem a um minúsculo pequeno tirano são
eliminados pelo seu próprio senso de fracasso e inutilidade. Isto significa
alta mortalidade.
Dom Juan explicou que o engano que os homens comuns cometem
ao se confrontarem com pequenos tiranos é não possuírem uma estratégia
que os apóie; a falha fatal é que os homens comuns levam-se por demais
a sério; suas ações e sentimentos, assim como as ações e sentimentos
dos pequenos tiranos, são de suma importância. Os guerreiros, por outro
lado, não apenas têm uma estratégia bem elaborada, como estão livres da
auto importância. O que restringe sua auto importância é que eles
compreenderam que a realidade é uma interpretação que fazemos.
Lidar com os pequenos tiranos ajuda os videntes a realizarem uma
manobra sofisticada: essa manobra destina-se a mover seus pontos de
aglutinação. O fato de eu ter percebido um aliado significa que havia
movido meu ponto de aglutinação de sua posição costumeira. Meu brilho
da consciência move-se além de certo umbral, apagando também meu
medo. Acontece porque eu tinha energia suplementar suficiente.

A auto-importância

Os xamãs do México antigo achavam que a auto-importância, a


imagem exagerada que fazemos de nós mesmos ou a importância
despropositada que damos a nós mesmos, a preocupação excessiva com
o "eu", era um dos maiores pontos de escoamento de energia do ser
humano, e um dos seus maiores inimigos, no sentido da dificuldade
hercúlea de derrotá-lo. Uma luta diária e infindável afim de controlar o ego,
e todas as suas artimanhas, principalmente com os estímulos e influências
externas que sofremos, que nos deixam cada dia mais fracos.
Gastamos uma quantidade enorme da nossa pouca energia
preocupados com o que os outros estão pensando sobre nós. E nossa

84
história pessoal e todos os seus grilhões e expectativas pesam muito
nesse aspecto. Queremos a todo custo agradar as pessoas, manter uma
imagem social, suprir expectativas externas...ficamos ofendidos com
qualquer coisa, somos afetados pelas atitudes dos outros, pelas suas
críticas e distanciamentos ou rejeições. Ficamos tão preocupados com
nossa imagem social, que em algum momento, gastamos toda nossa
energia tentando equilibrar esse circo todo que armamos em volta do
nosso ego. Como um artista de circo equilibrando 200 copos. Não
conseguimos prestar atenção em mais nada. O foco está todo no "eu" e
nas suas expectativas, anseios e frustrações. Expectativa de ser o melhor,
de ser querido, de ser admirado, de ser bajulado, de ser notado, de ser
correspondido, de ser amado...e por aí vai. E uma enorme decepção e
culpa quando não conseguimos.
Nesse ponto, já estamos travando batalhas que não são nossas.
Nosso nível de energia está lá embaixo. Isso tem que ser resolvido, antes
de qualquer empreitada no caminho do conhecimento. Toda essa energia
gasta com nosso auto-reflexo precisa ser redirecionada para fins mais
produtivos. A autoimportância deriva da autopiedade. Quando você para
de sentir pena de você mesmo, quando cessa sua necessidade de
aprovação alheia, quando você para de mendigar atenção e amor, você
muda sua visão de mundo e de você mesmo. Começa a enxergar a
inutilidade e a loucura que é gastar toda sua energia para suprir
expectativas de outras pessoas, ou para provar algo para alguém. Você
começa a travar as suas batalhas e seguir o seu caminho com coração.
Suas ações e decisões ganham mais consistência e sobriedade.
Com sua autopiedade morta, e sua autoimportância controlada, um
véu se descortina, e seu caminho se torna mais lúcido e abrangente. Sua
energia redirecionada aumenta o seu poder pessoal, e sua percepção e
conexão com o Espírito vão se limpando. Um sentido de humildade
perante o Infinito ganha força, e a certeza que somente suas atitudes
impecáveis podem lhe levar a liberdade. A autoconfiança do guerreiro tem
que vir de dentro, derivando da sua impecabilidade, e não de fora, através
de aprovações e opiniões alheias. A impecabilidade do guerreiro é um
gesto seu para com o Grande Espírito, e não para a plateia.
A vaidade é o maior empecilho para alcançarmos o silêncio interior
que nos leva ao reino da Águia.
A vaidade não é algo simples e ingênuo. De um lado, é o núcleo de
tudo que é bom em nós e, por outro, o núcleo de tudo que não presta.
Livrar-se da vaidade que não presta requer prodígios de estratégia. A
vaidade é o nosso maior inimigo, pense sobre isso... o que nos enfraquece
é nos sentirmos ofendidos pelos feitos e desfeitas de nossos semelhantes.

85
Nossa vaidade faz com que passemos a maior parte de nossas vidas
ofendidos por alguém.
Os novos videntes recomendam que todo esforço deve ser feito
para erradicar a vaidade da vida dos guerreiros. A sensação de
importância faz a pessoa sentir-se pesada, desajeitada e vaidosa. A
importância própria é outra coisa que tem de ser abandonada, assim como
a história pessoal.
De fato, grande parte de nossa energia pessoal é gasta em
atividades relacionadas à Importância pessoal, que é muito mais do que
aquilo que conhecemos como vaidade. A Importância Pessoal é a maneira
particular pela qual nosso ego constrói e lida com a realidade para tentar
se afirmar e se convencer de que ela é real. Sem nos aprofundarmos no
assunto por enquanto, vejamos alguns exemplos comuns de atividades
relacionados com a importância pessoal. A mais abrangente delas é a
defesa do ego. Vamos considerar seriamente quanta energia nos
consome, quanto gastamos para nos defender, cuidar da nossa imagem,
tentar influenciar a opinião que os outros têm de nós, tentar ser aceitos,
defender-nos quando somos criticados, tentar mostrar que somos os
melhores ou que somos inútil? que somos os mais belos ou os mais fortes
ou os mais miseráveis ou os mais incompreendidos ou os mais sensíveis
ou os mais cruéis ou os mais feridos, os mais, os mais, sempre os mais
alguma coisa. Qual a importância que damos a nós mesmos?
É por isso que vivemos acorrentados ao que Castaneda chama de
«reflexo de si», um dos quais facetas principais é a imagem de nós
mesmos, que tentamos projetar em relação às outras pessoas. E é para lá
que vai a maior parte da nossa energia. É por isso que erradicar ou pelo
menos reduzir a Importância Pessoal torna-se um dos objetivos
fundamentais do guerreiro e particularmente do perseguidor. Não há
razões morais nisso, porque um guerreiro não é guiado por abstrações
morais, mas pela "impecabilidade". É um campo de energia e, portanto,
procede.
De todos os presentes que recebemos, a importância pessoal é o
mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um pobre
diabo arrogante e sem graça. Quando um guerreiro aprende a deixar sua
auto-importância de lado, seu espírito se abre, jubiloso, como um animal
selvagem que é liberado de sua jaula e posto em liberdade. A importância
pessoal mata.
Você sempre se sente forçado a explicar seus atos, como se fosse o
único homem no mundo a errar. É seu sentimento de importância. Você
tem isso em alto grau; também possui história pessoal demais. Por outro

86
lado, não assume a responsabilidade de seus atos; não está usando sua
morte como conselheira e, acima de tudo, é acessível demais.
A mente para um vidente, não é nada mais que o reflexo do
inventário do homem. Se você perde esse reflexo, vive realmente uma vida
infinitamente mais forte do que se o conservasse.
Os guerreiros são incapazes de sentir compaixão porque não mais
sentem pena de si mesmos. Sem a força propulsora da autopiedade, a
compaixão não tem significado.
Os sentimentos raramente se apresentam em uma forma pura. Eles
se disfarçam. Para os caçar como coelhos, nós temos que proceder
sutilmente. Podemos começar com as coisas mais evidentes, como por
exemplo: por que me levo tão a sério? Quão apegado estou? A que dedico
meu tempo? Estas são coisas que nós podemos começar a mudar,
acumulando energia suficiente para liberar um pouquinho de atenção. E
isso, por sua vez, permitirá que entremos mais no exercício.
Por exemplo, em vez de passar horas a fio vendo televisão, indo
fazer compras ou conversando com nossos amigos sobre coisas
transcendentais, nós poderíamos dedicar uma pequena parte desse tempo
para fazermos exercícios físicos, recapitular nossa história, meditar ou
então ir sozinhos a um parque, tirar os sapatos e caminhar descalços na
grama.
Lugar da não piedade. De vez em quando começe uma vida nova,
apage sua história, mude de nome, explore novas personalidades, anule a
sufocante persistência de seu ego e leva a si mesmo a situações limites
nas quais o autêntico é forçado a assumir o controle.
Numa escala cósmica, a força de um ser não se mede por seus
alcances físicos, mas por sua capacidade de manipular a consciência. Por
conseguinte, se havemos de dar o seguinte passo evolutivo, haverá de ser
por meio de disciplina, determinação e estratégia. Essas são nossas
armas.
Então, o que é ser um pragmático? Certamente o humano comum
não o é. O pragmático é o guerreiro – o único que deixa tudo pra trás. O
humano comum é um exibicionista. Ele se acha científico, mas não aplica
nada em sua vida cotidiana. A ciência não irá nos curar da nossa
obsessão com a autorreflexão. Ela não permite quase nada, a não ser nos
contemplar. Mas nem isso de verdade, pois se realmente estivéssemos
preocupados conosco não iríamos fazer o que fazemos com os nossos
corpos. Como ficamos nessas formas terríveis? E nos amamos tanto! Que
contradição assustadora. Mas aí, defendemos nossa honra como leões,
apenas esperando até que alguém diga algo depreciativo.

87
A primeira linha de ataque precisa ser a autorreflexão. É o que nós
temos de mais perigoso. Ela precisa ser parada, desligada. Isso é
obrigatório. O guerreiro precisa prestar atenção total em todos os detalhes
do mundo a sua volta. Ele não existe mais – é abstrato. O humano comum
apenas fornece material aos voadores.
O guerreiro é o verdadeiro pragmático, o verdadeiro cientista. Ele
navega no infinito. Na nossa cultura aprendemos a construir unidades de
interpretação: uma cadeira, uma mesa, árvores. “Quarto” é definido
quando entramos num espaço fechado e, caso alguma coisa grosseira não
esteja faltando, como um telhado ou algo do tipo, continuamos como se
soubéssemos onde estamos. O caminho do guerreiro é direcionado para
se chegar ao cancelamento do nosso sistema de interpretação; ver energia
enquanto flui. Só aí nossa jornada pode continuar.
Para um guerreiro tudo começa e termina consigo mesmo.
Entretanto o seu contato com o abstrato faz com que supere esse seu
sentimento de auto-importância. Então o eu torna-se abstrato e impessoal.
Os guerreiros combatem a vaidade por uma questão de estratégia, e não
de princípio.
O guerreiro precisa colocar-se em situações que rotineiramente
fugiria. Essa é a melhor forma dele descobrir que não é nada; o outro
caminho é do amor próprio, do orgulho pessoal. Esse último caminho o
transforma num detetive, sempre atencioso a tudo que possa acontecer ou
ofendê-lo. Gastamos muito tempo procurando evidência de amor.
Centrados no nosso ego, não fazemos nada além de fortalecê-lo. O melhor
é começar considerando que ninguém nos ama.
O que nos torna infelizes é desejar. E, no entanto, se aprendermos a
reduzir nossos desejos a zero, a menor coisa que recebermos será um
presente verdadeiro. Ser pobre ou necessitado é apenas uma idéia; assim
também é o ódio, ou a fome, ou a dor.
Cabe a nós, como indivíduos isolados, opor-nos às forças de nossas
vidas. Já lhe disse isso algumas vezes: só o guerreiro pode sobreviver. Um
guerreiro sabe que está esperando e o que está esperando; e, enquanto
espera, não precisa de nada, e assim qualquer coisinha que ele receba é
mais do que pode tomar. Se ele precisa comer, dá um jeito, pois não tem
fome; se alguma coisa lhe machuca o corpo, ele dá um jeito de parar
aquilo, pois não sente dor. Ter fome ou sentir dor significam que o homem
se largou e não é mais um guerreiro; e as forças de sua fome e de sua dor
o destruirão.
O que existe dentro do guerreiro, substituindo seu ego, é algo muito
mais velho. Algo observador, objetivo e infinitamente menos comprometido
com o “eu”. Um humano com ego é guiado pelos seus desejos

88
psicológicos. O guerreiro não tem nenhum. Ele recebe ordens de uma
força inefável que não pode ser discutida. Essa é a última conclusão. O
guerreiro, no final das contas, torna-se um conto, uma história. Ele não
pode estar ofendido, enciumado ou possessivo – ele não pode estar nada.
Para ajudar seu aprendiz a apagar a história pessoal, o guerreiro
como mestre ensina três técnicas: perder a auto importância, assumir a
responsabilidade pelos próprios atos e usar a morte como conselheira.
Sem o benefício dessas três técnicas, apagar a história pessoal o levaria a
ser furtivo, evasivo e desnecessariamente dúbio sobre si mesmo e suas
próprias ações. Não há meio de nos livrarmos da auto piedade para
sempre: ela tem um lugar e um caráter definidos em nossas vidas, uma
fachada definitiva que é reconhecível. Assim, cada vez que surge a
ocasião, a auto piedade se torna ativa. Ela tem história. Mas se mudamos
a fachada, mudamos seu lugar de proeminência. Mudamos a fachada
alterando os elementos que a compõem. A auto piedade é útil porque faz
com que a pessoa se sinta importante e merecedora de melhores
condições, melhor tratamento — ou porque ela não quer assumir
responsabilidade pelos atos que a trouxeram para o estado que evocou
auto piedade. Mudar a fachada da auto piedade significa apenas que a
pessoa designou um lugar secundário para um elemento que era
importante outrora. A auto piedade ainda é uma característica
proeminente; mas agora ela ocupa uma posição ao fundo, do mesmo
modo que a ideia da morte iminente, da humildade do guerreiro ou da
responsabilidade pelos próprios atos também já estiveram, para o
guerreiro, numa posição ao fundo, sem nunca serem usadas até o
momento em que ele se tornou guerreiro.
O desprendimento do guerreiro não quer dizer automaticamente
sabedoria, mas é uma vantagem, pois permite-lhe parar
momentaneamente para reavaliar situações, reconsiderar posições; usa
esse momento extra com consciência e correção.
Um guerreiro nunca fica assediado. Ficar assediado implica que se
tenha posses pessoais que possam ser bloqueadas. Um guerreiro não tem
nada no mundo a não ser sua impecabilidade, e a impecabilidade não
pode ser ameaçada. Entretanto, numa batalha pela vida, um guerreiro
deve usar estrategicamente todos os meios disponíveis.
Um dos atos de um guerreiro é nunca deixar que coisa alguma o
afete. Assim, um Guerreiro pode estar vendo o próprio diabo, mas não
permite que ninguém o saiba. O controle do guerreiro tem de ser
impecável.
Um guerreiro é apenas um homem. Um homem humilde. Ele não
pode modificar os desígnios de sua morte. Mas seu espírito impecável,

89
que armazenou o poder depois de privações tremendas, certamente pode
deter sua morte por um momento, um momento suficientemente longo
para deixá-lo regozijar-se pela última vez ao recordar seu poder. Podemos
dizer que é um gesto que a morte tem para com aqueles que possuem um
espírito impecável. O que nos exaure em uma situação [como um pequeno
tirano] é o desgaste em nossa vaidade. Qualquer homem que tenha um
pingo de orgulho dilacera-se quando o fazem sentir-se desvalorizado.
Dominar o espírito quando alguém está pisando em você chama-se
Controle. A estratégia requer não sentir pena de si mesmo.
Os outros atributos do guerreiro, paciência e sentido de
oportunidade, devem estar incluídos na estratégia. Paciência é esperar
calmamente – sem pressa, sem ansiedade. Trata-se de um simples e
alegre adiamento do que é devido. Paciência significa reter com o espírito
algo que o guerreiro sabe que, por justiça, deve fazer. Isto não significa
que um guerreiro saia por aí planejando causar prejuízos a alguém ou
acertar contas passadas. A paciência é algo independente. Desde que o
guerreiro tenha controle, disciplina e sentido de oportunidade, a paciência
assegura dar o que se deve a quem quer que o mereça.
Vou dizer-lhe a respeito de que conversamos conosco. Conversamos
sobre o nosso mundo. Na verdade, conservamos nosso mundo com
nossas conversas internas. Sempre que terminamos de falar conosco, o
mundo está sempre como devia ser. Nós o renovamos, o animamos com
vida, o mantemos com nossa conversa interna. Não só isso, mas nós
também escolhemos nossos caminhos, ao conversarmos conosco. Assim,
repetimos as mesmas escolhas várias vezes até o dia de nossa morte,
pois ficamos repetindo a mesma conversa interna toda a vida, até
morrermos. Um guerreiro sabe disso e procura parar de falar. Esse é o
último item que você tem de aprender, se quiser viver como guerreiro. Um
guerreiro sabe que o mundo se modifica assim que ele pára de conversar
consigo, e deve estar preparado para esse abalo monumental. O mundo é
assim e assado, e tal e tal, só porque nos dizemos que é dessa maneira.
Se pararmos de nos dizer que o mundo é tal e tal, o mundo deixará de ser
tal e tal. Neste momento, não creio que você esteja pronto para esse golpe
monumental, e, portanto, deve começar lentamente a desfazer o mundo.
Os feiticeiros não são espirituais. São seres muito práticos. Se você
quer destreza física e sensatez, precisa de um corpo flexível. Esses são os
dois aspectos mais importantes na vida dos feiticeiros, porque trazem
sobriedade e pragmatismo: os únicos requisitos indispensáveis para entrar
em outros domínios de percepção. Navegar de uma maneira genuína no
desconhecido, requer uma atitude de ousadia, mas não de imprudência.
Para estabelecer um equilíbrio entre a audácia e a imprudência, um

90
feiticeiro precisa ser extremamente sóbrio, cauteloso, habilidoso e estar
em excelente condição física.
Numa vida medíocre, o desejo ou a vontade de viajar no
desconhecido não é suficiente. Só a idéia de enfrentar o desconhecido,
que dirá entrar nele, requer vísceras de aço e um corpo capaz de abrigar
essas vísceras. Que adiantaria ser dotado dessas vísceras se você não
tiver agilidade mental, destreza física e músculos adequados? A excelente
condição física é, ao que tudo indica, o primeiro passo para a
redistribuição da nossa energia inerente. Essa redistribuição de energia é
o aspecto mais importante na vida dos feiticeiros, bem como na vida de
qualquer indivíduo. A redistribuição de energia é um processo que consiste
em transportar, de um lugar para outro, a energia que já existe dentro de
nós. Essa energia foi deslocada dos centros de vitalidade do corpo, que
dela precisam para produzir equilíbrio entre a agilidade mental e a
destreza física.
Os feiticeiros aprendem a manter uma mistura perfeita de
implacabilidade, astúcia, paciência e doçura. Qualquer ato executado por
qualquer feiticeiro é por definição governado por esses quatro princípios.
Assim falando propriamente, cada ação de cada feiticeiro é deliberada em
pensamento e realização, e tem a mistura específica dos quatro
fundamentos da espreita. Os feiticeiros usam as quatro disposições da
espreita como guias. Trata-se de quatro estruturas mentais diferentes,
quatro mesclas distintas de intensidade que os feiticeiros podem usar para
induzir seus pontos de aglutinação a se moverem a posições específicas.
Pare de sentir pena de você mesmo. Esse é o pior sentimento que
você pode ter energeticamente falando. Os xamãs do México antigo
arrancaram a máscara da autoimportância e o rosto que encontraram por
baixo da máscara foi o da autopiedade. A autoimportância deriva da
autopiedade. Autoimportância é autopiedade disfarçada de alguma outra
coisa.
Quando você sente pena de você mesmo, você automaticamente se
coloca numa posição em que você se sente especial. Você acha que pelo
fato da sua vida ser cheia de problemas, pelo fato de você estar passando
por dificuldades e estar aguentando tudo, você merece que tudo dê certo
para você. Você se sente no direito de exigir que o universo lhe
recompense de alguma forma, já que você está aguentando tantas
tribulações. Você se coloca sempre no papel de vítima dos acontecimentos
e da vida. Esse é o raciocínio de uma pessoa que possui alto grau de
autopiedade:
"Eu aguento tanta coisa, eu sofro tudo calado, minha vida é tão
difícil, sou tão sozinho na minha luta solitária...é...realmente, eu sou muito

91
forte, sou uma pessoa especial...um dia todos vão reconhecer meu esforço
e vão ver como sou lutador, como aguentei tudo sem fraquejar...eu mereço
ser feliz depois de tudo que estou passando..."
Isso te paralisa, te estagna no caminho, pois você acha que só por
estar aguentando as dificuldades, sua passagem para o "céu" já está
garantida. Esqueça toda essa besteira. A vida é linda e excitante, mas
também é um desafio e tanto, e ninguém tem pena de você. Todos têm
problemas, e os seus não são maiores do que os de ninguém. Pare de se
lamentar por tudo, encare todos seus problemas como desafios. Só você
vai poder resolver sua vida, e ficar se lamentando e reclamando do destino
não vai te ajudar em nada, pois você não estará resolvendo nada e ainda
está perdendo energia.
Quando você se dá conta que a autopiedade é uma perda de tempo
e energia, você para de se sentir especial e importante, e percebe que
seus problemas só serão solucionados se você levantar a bunda da
cadeira e ir à luta. Você vai se empenhar tanto em se desenvolver e ser
um guerreiro melhor que não terá mais tempo nem energia à perder
reclamando da sua vida, do universo ou de você mesmo.
A autopiedade é destroçada quando você arregaça as mangas e
assume a responsabilidade de mudar sua vida, através da mudança de
hábitos e atitudes que são nocivas a você mesmo. A autopiedade é
aniquilada quando você começa a ter uma postura ativa, determinada e
impecável frente aos seus desafios. Dessa forma você não espera que o
destino ou o universo lhe faça feliz só porque você sofre, pelo contrário,
você entende que não é melhor do que ninguém só porque tem problemas,
que as coisas não vão cair do céu, e desce pra arena e vai a luta para
conquistar seus objetivos com seu intento inflexível. Desloque seu ponto
de aglutinação para o lugar da não-piedade.
O sentido de oportunidade é a qualidade que governa a liberação de
tudo o que está contido. Controle, disciplina e paciência são como um
dique por trás do qual tudo é represado. O sentido de oportunidade é a
abertura do dique.
O homem moderno, um homicida egoísta o é devido a localização
do ponto de aglutinação, envolvido com a sua auto-imagem. Qualquer
movimento do ponto de aglutinação significa um movimento afastando-se
da excessiva preocupação com aquele eu individual que é a marca do
homem moderno. O homem moderno está envolvido com a sua auto-
estima. Auto-estima é uma força gerada pela autoimagem do homem e
esta força mantém o ponto de aglutinação fixo onde está atualmente. Por
esta razão, o ataque do caminho dos guerreiros é voltado a destronar a
Auto-estima. Assim que o ponto de aglutinação se move a auto-estima se

92
desmorona, a auto-estima não pode mais ser sustentada. Auto-estima é a
força que mantém o ponto de aglutinação fixo. Quanto a auto-estima é
podada, a energia que requer não é mais gasta. Essa energia serve então
como o trampolim que lança o ponto de aglutinação, automaticamente e
em premeditação, para uma viagem inconcebível. A auto-reflexão foi que
desconectou o homem do espírito.
O mundo de nossa auto-reflexão ou de nossa mente era muito
inconsistente e era mantido coeso por algumas poucas idéias-chaves que
serviam como sua ordem subjacente. Idéias-chaves é a continuidade. A
idéia de que somos um bloco sólido. Em nossa mente, o que sustenta o
nosso mundo é a certeza de que somos imutáveis. Podemos aceitar que
nosso comportamento pode ser modificado, que nossas reações e
opiniões podem ser modificadas, mas a idéia de que somos maleáveis a
ponto de mudar de aparência, a ponto de ser alguma outra pessoa, não é
parte da ordem subjacente de nossa auto-reflexão. Sempre que um
feiticeiro interrompe essa ordem, o mundo da razão para.
Para ser um guerreiro é preciso ser claro como o cristal. Quando o
homem aprende a ver, entende que não pode mais pensar a respeito das
coisas que ele olha, e se não pode mais pensar sobre as coisas que olha,
tudo fica sem importância. Uma vez que o homem aprendeu a ver, tudo no
mundo passa a não ter importância. Tudo é igual, e dessa forma sem
importância.
Tive tempo de olhar para trás e examinar minha vida. Hoje, os
problemas do meu tempo são apenas histórias; e nem mesmo uma história
interessante. Talvez eu tenha desperdiçado anos de vida perseguindo uma
coisa que nunca existiu. Ultimamente, tenho a impressão que acreditei
numa farsa.
Deixar de lado a vontade e de se prender a ela. Não se prender as
coisas tais como: as comidas de que gosta, as montanhas onde vive, as
pessoas de quem gosta de conversar e ao desejo de ser querido. O
curandeiro nos trouxe a realidade de que somos nada. Não adianta ficar
triste, queixar-se, procurar justificativas, ou acreditar que alguém está
sempre nos fazendo alguma coisa. Ninguém faz nada a ninguém, muito
menos a um guerreiro.
Renunciar ao mundo e, no entanto, estar nele. O Nagual ensina a ser
desapaixonado. O Nagual disse que o mundo dos homens sobe e desce e
as pessoas sobem e descem com seu mundo: como feiticeiros, não temos
nada de acompanhá-los em suas subidas e descidas. A arte do feiticeiro é
estar por fora de tudo e passar despercebido. É nunca desperdiçar o seu
poder. Se eu não focalizar a minha atenção sobre o mundo, o mundo
desmorona.

93
O Nagual exige que nos tornemos leves como a brisa. Temos que ter
controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade. Agir com raiva,
sem controle sem disciplina e não ter paciência é ser derrotado. De todos
os itens do caminho o mais eficaz é perder a auto-importância.
A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece
é sentir-se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-
importância exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma
coisa ou por alguém. Zangar-se com as pessoas significa que se considera
o ato delas importante.
A auto-importância é mortal, ela impede o livre fluxo da energia e
isso é fatal. Ela é responsável pelo nosso fim como indivíduos, e um dia
nos acabará como espécie. Quando um guerreiro aprende a jogá-lo de
lado, seu espírito se desdobra, jubiloso, como um animal selvagem
libertado de sua jaula.
A auto-importância pode ser combatida de várias maneiras, mas
antes de tudo é preciso saber que ela existe. Se você tem um defeito e o
reconhece, metade do trabalho já está feito.
Normalmente, a auto-importância se alimenta de nossos
sentimentos, que vão desde o desejo de se dar bem com as pessoas e ser
aceito pelos outros, até a arrogância e o sarcasmo. Para persegui-lo,
temos que, sobretudo, desconstruir nossas emoções em suas menores
partículas e detectar as fontes que as nutrem. Os sentimentos raramente
se apresentam de forma pura. Eles se disfarçam. Para caçá-los como
coelhos, temos que proceder com muita delicadeza e estratégia, porque
eles são rápidos e não podemos raciocinar com eles.
O problema da compaixão é que nos obriga a ver o mundo através
da autoindulgência. Um guerreiro sem compaixão é uma pessoa que
conseguiu se colocar no centro da frieza e ele já não se compadece no
"pobrezinho de mim". É um indivíduo normal, só que, como não tem
piedade por suas fraquezas nem pelas das demais pessoas, conseguiu
aprender a rir de si mesmo. Ao não termos compaixão, podemos enfrentar
com elegância o impacto de nossa extinção pessoal. A morte é a força que
dá ao guerreiro valor e moderação. Só olhando através de seus olhos nos
damos conta de que nós não somos importantes. Então ela vem viver ao
nosso lado e começa a nos transmitir seus segredos
Um modo de definir a importância pessoal, é entendendo-a como a
projeção de nossas fraquezas através da interação social. A importância
pessoal tem um ponto fraco: ela depende do reconhecimento para
subsistir. Sabendo isto, um aprendiz renova suas relações. Aprende a
escapar daqueles que o consentem e freqüenta, a esses a que nada
humano lhes importa. Busca a crítica, não a lisonja. De vez em quando

94
começa uma vida nova, apaga sua história, muda nome, explora novas
personalidades, anula a sufocante persistência de seu ego e leva a si
mesmo a situações limite nas quais o autêntico é forçado a assumir o
controle. Um caçador de poder não tem piedade, não busca o
reconhecimento ante os olhos de ninguém
O estado de não piedade é surpreendente. Tenta-se alcançá-lo
passo a passo, através de anos de pressão contínua, mas acontece de
repente, como uma vibração instantânea que quebra nosso molde e nos
permite olhar o mundo com um sorriso sereno. Pela primeira vez em
muitos anos, nos sentimos livres do terrível peso de sermos nós mesmos e
vemos a realidade que nos cerca.
O caminho que transforma um ser humano comum em guerreiro é
muito árduo. Nossa sensação de estar no centro de tudo, e a necessidade
de sempre ter a última palavra, está sempre nos atrapalhando. Nos
sentimos importantes. E quando um é importante, qualquer intenção de
mudança é um processo lento, complicado e doloroso. Esse sentimento
nos isola. Se não fosse por esse sentimento, todos nós fluiríamos no mar
da consciência e saberíamos que o eu não existe por si mesmo, seu
destino é alimentar a Águia. O eu é uma construção mental, veio de fora e
é hora de nos livrarmos dele.
Para poder administrar o mundo que nos cerca, tivemos que abrir
mão de nosso dom perceptivo, ou seja, a possibilidade de testemunhar
tudo. Sacrificamos o vôo da consciência em troca da segurança do
conhecido, podemos viver uma vida forte, audaciosa, saudável, podemos
ser guerreiros impecáveis, mas não ousamos!
Um guerreiro é forte como uma rocha, inabalável e seguro, pois sabe
que independente do resultado final de suas ações, o que vale mesmo é o
caminho percorrido, que deve ser pautado pela coragem e determinação.
Ele sabe que a morte pode tocá-lo a qualquer momento, e não tem tempo
a perder. Só há tempo para atos de poder.
Enquanto um homem acha que ele é a coisa mais importante no
mundo, não pode apreciar de verdade o universo em volta de si. É como
um cavalo com antolhos, só vê a si próprio separado de tudo o mais. A
única limitação dessa viagem maravilhosa é que para entrar nas
maravilhas deste mundo, ou nas maravilhas de um outro mundo, um
homem tem de ser um guerreiro: calmo, senhor de si, indiferente,
amadurecido pelas investidas do desconhecido.
A recomendação para os guerreiros é não ter nenhuma coisa
material na qual focalizar seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no
verdadeiro vôo ao desconhecido, e não em campos triviais.
Como se pode derrotar a importância pessoal?

95
- É não lhe dando importância!
Evite cair em esteriótipos, seja simples, natural e autêntico. Lembre-
se que, diante da morte iminente, ninguém é nem mais, nem menos
importante que ninguém. Se conseguir estar consciente de que você vai
morrer, vai ver que, de fato, nada mais importa.
Os xamãs Toltecas desenvolveram um antídoto contra o veneno da
autopiedade. Três técnicas que devem ser colocadas simultaneamente em
movimento por quem quer trilhar o caminho do guerreiro, a fim de liberar
essa energia gasta de forma improdutiva e mudar sua visão de mundo e
de si mesmo. São elas:
1- APAGAR A HISTÓRIA PESSOAL Muito da nossa autopiedade deriva
da nossa história pessoal. São as coisas que aconteceram conosco, nossa
história de vida e as coisas que fizemos que determinam nosso estado de
espírito hoje. Inclusive todas as expectativas dos outros e de você mesmo
sobre sua vida, o que está sendo ou vai ser dela. Situações traumáticas,
mesmo as mais distantes, trazem um peso grande ao nosso agora, como
situações de perigo, violência, desilusões amorosas, decepções, mesmo
que num primeiro momento, pareçam superadas. A medida que o
guerreiro vai cortando esses laços no agora- mas veja bem, quando digo
cortar laços não quero dizer virar um ermitão ou se afastar das pessoas,
quero dizer ficar um pouco mais inacessível, dar menos satisfações, se
explicar menos, pedir menos opiniões, contar pra menos pessoas sobre
sua vida, etc- e cortando os laços com o passado, através da
recapitulação, sua história pessoal, seu "eu" social fica mais leve, ele já
não mais interfereno seu estado de espírito. Sem o peso e os grilhões da
história pessoal te prendendo, as coisas que aconteceram com você,
assim como as expectativas dos outros sobre sua vida já não mais o
afetarão.
2- TER A MORTE COMO CONSELHEIRA O fato do ser humano ocidental
de uma forma geral não pensar na morte o coloca automaticamente numa
posição de imortal. Ele acha que vai viver pra sempre e tem todo o tempo
do mundo pra mudar seu estado de espírito, pra sair de uma depressão,
pra virar uma página, pra mudar de vida, pra ficar triste, pra ficar sofrendo
pro alguém, pra ficar numa situação incômoda, num casamento falido... O
ser humano médio acha que pode perder tempo ficando tristinho,
ofendidinho, magoadinho, atolando em estados de espírito onde ele fica
meses ou anos sentindo pena de si mesmo, todo sensível, e paralisado de
medo diante da vida. Afinal, ele, diferente de um guerreiro que pode morrer
a qualquer momento, nunca vai morrer, já que é um imortal. Não temos
tempo, amigos. A morte nos espreita e pode nos tocar a qualquer
momento, sem nos dar chance de se agarrar a nada. Sem a consciência

96
da morte iminente, tudo é trivial, comum, já com a consciência da
impermanência, tudo fica mágico e misterioso. Como dizia um velho
nagual da nossa linhagem, num mundo onde a morte é o caçador, não há
tempo para estados de espírito bestas e sem sentido, só há tempo para
decisões e atos de poder. Agir sempre como se esse fosse ser nosso
último ato nesse lindo planetinha dá à esse ato a profundidade, a potência
e a lucidez que o transformam num ato impecável. A morte nos dá a
sobriedade e o desapego necessários para viver de forma plena por aqui.
3- ASSUMIR A RESPONSABILIDADE POR SEUS ATOS É muito fácil
culpar o mundo, o universo, as circunstâncias da vida ou outras pessoas
pelas nossas derrotas, fracassos ou frustrações. Isso tira de nós a
responsabilidade pelo que está nos acontecendo e nos permite ficar tristes
sem peso consciência. Quando você atribui qualquer fato ou situação a
fatores externos, imediatamente você se coloca numa posição de vítima,
como se o que aconteceu ou estiver acontecendo for muito mais forte que
você, como se você não tivesse forças pra lutar contra isso, ou como se
você achasse que não importa o quanto você lutar, as coias nunca vão
melhorar, pois isso não depende de você, está além. Pessoas assim são
como folhas a mercê do vento, vivem sem volição ou intenção, e
invariavelmente acabam sendo pessoas tristes e amarguradas, porque no
fundo sentem que a vida está passando pelos seus olhos. Você tem que
assumir a responsabilidade por seus atos, por suas decisões e por sua
vida. Quando você entende que é você que tem que ser seu próprio motor,
que você tem que arregaçar as mangas e ir a luta para mudar as coisas,
quando você entende que nada vai cair do céu e que ninguém tem pena
de você, você deixa de sentir pena de você mesmo e desce pra arena.
Não há como existir mais a autopiedade quando você está no meio
da batalha, atento a tudo e focado no combate. Entenda: qualquer situação
ou estado de espírito que você estiver, a culpa é inteiramente sua, que se
deixou ficar nessa situação, e a responsabilidade de sair também é só sua.
Os guerreiros preparam-se para ser conscientes, e a consciência
plena só chega quando não há mais importância pessoal neles. Apenas
quando são nada tornam-se tudo! Não se renda a agonia da auto-piedade.
O ato de “tornar-se nada para ser tudo” é um tremendo golpe desferido
sobre a bolha de auto importância cultivada pelos seres humanos. A
respectiva resposta compõe um dos cernes dos ensinamentos do caminho
do guerreiro e coloca em xeque nossa condição humana tal como a forma
pela qual a preenchemos enquanto homens.
O que fazemos com nosso vazio? O objetivo dos guerreiros de sua
linhagem era a liberdade total, que sua única busca era a liberação última,

97
que chega ao se atingir a consciência total. Portanto, consciência plena e
liberdade são uma única e mesma coisa na visão Tolteca.
Don Juan explicou que as “alternativas humanas são tudo que
somos capazes de escolher como pessoas”. Essas alternativas têm a ver
com o nível de nossa atuação cotidiana, o conhecido; e, devido a esse
fato, são bastante limitadas em número e alcance. As possibilidades
humanas pertencem ao desconhecido. Não são aquilo que somos capazes
de escolher, mas aquilo que temos capacidade de atingir.
Don Juan citava que um exemplo das alternativas humanas é nossa
opção de acreditar que o corpo humano é um objeto entre objetos: “para
os videntes, estar vivo significa estar consciente. Para o homem comum,
estar consciente significa ser um organismo.
Considerem que a importância pessoal é traiçoeira; pode se disfarçar
debaixo de uma fachada de humildade quase impecável porque não tem
pressa. Depois de uma vida inteira de práticas, basta um mínimo descuido,
um pequeno deslize e ali está ela, novamente, como um vírus que foi
incubado em silêncio ou como essas rãs que esperam durante anos
debaixo da areia do deserto e com as primeiras gotas de chuva despertam
de sua letargia e se reproduzem.
A importância pessoal se pode combater de diversos modos, mas
primeiro é necessário saber que está aí. Se você tem um defeito e o
reconhece, já é meio caminho andado!
Ordinariamente, a importância pessoal se alimenta de nossos
sentimentos, que podem ir do desejo de estar bem e ser aceito pelos
outros, até a arrogância e o sarcasmo. Mas sua área de ação favorita é a
compaixão por si mesmo e pelos demais. De forma que para espreitá la,
temos, acima de tudo, que decompor nossos sentimentos em suas
mínimas partículas, descobrindo as fontes das quais se nutrem.
Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem
aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse
humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma
área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racionalidade.
Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista
desapegado, da mesma que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo
a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção,
está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício
de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o
aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a
contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de
toda a situação que implique um desgaste energético há um universo

98
impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um
ser fluido.
A convulsão emocional é perceptível ao passo que o combatente se
propõe a espreitar sua auto-importância. O caminho da disciplina não é
fácil, é o caminho para não ter piedade de si, ao mesmo tempo que onde
há intento também tem amor. O aviso é de que a compaixão gera a auto-
indulgência. O mito do combate é para permanecer forte no processo de
intentar a extinção pessoal, e a postura de não compaixão é o que pode
dar suporte suficiente para enfrentar a tempestade dessa extinção gradual
que se mostra como uma amplitude da percepção.
A não compaixão chega de surpresa. A ela se intenta pouco a pouco,
durante anos de pressão contínua. Mas acontece de repente, como uma
vibração instantânea que quebra nosso molde e nos permite olhar para o
mundo a partir de um sorriso sereno. E pela primeira vez em muitos anos,
sentimo-nos livres do terrível peso de sermos nós mesmos e vemos a
realidade que nos cerca. Uma vez aí já não estamos sozinhos; um incrível
empurrão nos espera, uma ajuda que vem das entranhas da águia e nos
transporta por um milissegundo a universos de sobriedade e sensatez.
Ao não termos compaixão, podemos enfrentar com elegância o
impacto de nossa extinção pessoal. A morte é a força que dá ao guerreiro
valor e moderação. Só olhando através de seus olhos nos damos conta de
que nós não somos importantes. Então ela vem viver ao nosso lado e
começa a nos transmitir seus segredos.
Essa visão corta de uma vez só a tendência que nós temos de ser
indulgentes com a gente mesmo. Ao ser testemunha do vínculo universal,
o guerreiro cai presa de sentimentos desencontrados. Por um lado, júbilo
indescritível e uma reverência suprema e impessoal por tudo que existe.
Por outro, um sentido de fim inevitável e tristeza profunda que nada tem
que ver com a auto-compaixão; uma tristeza que vem do seio do infinito,
uma rajada de solidão que nunca desaparece.
Esse sentimento depurado dá para o guerreiro a sobriedade, a
fineza, o silêncio de que ele precisa para intentar aí onde todas as razões
humanas fracassam. Em tais condições, a importância pessoal fenece por
si mesma.
Porém, no seu íntimo, ele sabe que quem controla tudo é o Espírito.
Sabe, ou tem um conhecimento silencioso, ancestral e transcendental, que
só sua impecabilidade, seu silêncio interior e seu intento inflexível podem
conectá-lo ao Infinito. Assim, depois de dar o seu melhor e aplicar sua
vontade nas situações que se apresentam, o guerreiro se retira. Tranquilo
e impassível. Segue sua jornada e aguarda os desígnios do Espírito e os
resultados de suas ações. Isso é entrega!

99
E nesse ato mágico e aparentemente contraditório de controle e
entrega, ele segue humildemente seu caminho com coração, tentando ir o
mais longe possível dentro dos mistérios que o poder lhe reservou.
A verdade é que todos os seres vivos estão lutando para morrer e o
que detém a morte é a consciência. Deste modo, os guerreiros estão no
mundo a fim de se treinarem para ser testemunhas imparciais; assim
compreenderão o mistério de nós mesmos e desfrutarão a alegria de
descobrir o que realmente somos. Concluindo: “É verdade que nada
somos, mas é justamente isso que cria o desafio supremo: nós, que somos
nada, podemos realmente encarar a solidão da eternidade”!
O Grande espírito faz seu caminho, mas quem decide o quão longe
você vai nesse caminho e em qual direção, é você, através da força das
suas decisões e da sua vontade. Perceba que você só pode sentir pena de
si mesmo e perder tempo e energia com isso quando as coisas que te
aconteceram ou o peso das expectativas das pessoas sobre você e sua
vida te deixam triste; quando você acha que vai viver pra sempre e tem
todo o tempo do mundo pra curtir essa fossa e quando você deixa a vida te
levar pra qualquer lugar ou situação que você não queria e não consegue
sair com as próprias pernas. A partir do momento que você deixa o que
passou pra trás e trava só as suas próprias batalhas, sem ligar para as
expectativas dos outros; que você assume sinceramente que pode morrer
a qualquer momento e entende que não tem tempo a perder; e quando
você assume a responsabilidade por seus atos e sua vida e entende que
tudo parte de você, sua autopiedade desaba. Ela não pode ser morta
totalmente, mas vai mudar de fachada na sua existência. Ela não vai mais
ser a força-mestra em sua vida, aquela que dita seu caminho e seu estado
de espírito frequentemente; agora a autopiedade vai ficar escondida lá
atrás, nos porões da sua psiquê, pronta pra tentar voltar a ativa num
momento seu de fraqueza, mas muito mais enfraquecida. O sentimento e
estado de espírito que assumem a frente agora na vida do guerreiro é a
implacabilidade. Sem sentir pena de si mesmo, ele fica mais atento, mais
pragmático, mais sóbrio e mais eficiente. A energia antes gasta de forma
inútil e danosa é redirecionada para objetivos mais produtivos,
consistentes e realistas, e o guerreiro agora simplesmente faz o que deve
ser feito. Seu campo de visão aumenta e sua visão de mundo e de si
mesmo mudam. Agora o jogo virou.

100
A Piedade

Eu nunca vi algo selvagem ter pena de si mesmo, um pássaro cairá


morto de um galho sem jamais ter sentido pena de si mesmo.
Um guerreiro sabe que não pode ajudar a ninguém. Ajudar é como
ter que tirar a pessoa do lugar que ela está, isso é como ter pena e
compaixão da pessoa. Além disso é atingir a Liberdade pessoal do outro.
O guerreiro sabe que a pessoa está muito bem como ela está. Porque tem
sua Liberdade Total e sabe que cada um é responsável por si mesmo.
A não ser que por motivo de sinais do Intento lhe convier ter uma
parceria de poder. Nessa circunstância o guerreiro auxilia e protege seu
companheiro de caminhada assim como protege suas intenções. Porque
então compreende que esse contato o nutre de vida e amor e pode
expressar o melhor de si mesmo no decorrer dessa relação de estima e
honra. O guerreiro sabe que seus amigos são como seus espelhos e que
deve levar suas relações pessoais com impecabilidade e desprendimento,
como oportunidades para revelar a si mesmo as suas melhores qualidades
e atravessar os seus limites. O guerreiro ajuda na medida em que sente o
outro como se fosse ele mesmo e se sente impelido de dizer o que no seu
entendimento pode levar ao encontro com o infinito. O guerreiro entende
que o amor não bate a porta da sua vida ao acaso e quando gosta de uma
pessoa deve usufruir do ensinamento contido nas experiências e ter o ser
amado como seu guru e mestre ponte para dinamizar sua autoimportância.
Ao passo que vive sua vida com impecabilidade pode ajudar o outro
a despertar sua Vontade e a deter sua autoimportância compartilhando
suas histórias de poder. O guerreiro pode ser como um livro aberto mas
sabe que só sendo verdadeiro com o outro pode ajudá-lo. E além disso
sabe que só despertando o amor em si mesmo pode amar o outro e
auxilia-lo a despertar o amor em si próprio e assim Amar em plenitude com
a espontaneidade da criança anciã. A ajuda só ocorre quando ambos
sabem que se ajudam. Quando ambos estão juntos por Intento e Amor, em
união e transcendência.
Se não tiver essa conexão se relacionar é como perder energia
desnecessariamente? “Depende do que a pessoa quer viver entende… o
que ela ta disposta, se relacionar com alguém deve ser tomado como algo
muito sério se a pessoa segue o caminho, porque diz respeito a frequência
do guerreiro. O guerreiro é consciente que ao se relacionar ocorre uma
hibridação de energias porque os temperamentos se relacionam. Nessa
interação podem se auxiliar a melhorar aspectos que não gostam em si
mesmos.
Eu penso que só se ama alguém quando vc deseja ser aquela

101
pessoa e sente que a pessoa tbm te ama e te admira. Numa reciprocidade
passa a existir a confluência. Em estado de confluência os parceiros
vertem a energia produzida no seu encontro de um pro outro através de
um cordão invisível… Nele passa uma energia poderosa que pode ser
direcionada e convertida para produzir transmutação. Nessa perspectiva a
relação sexual sagrada produz transmutação. Mas os parceiros devem ser
entregues e sem uma rígida separação de seus lados feminino e
masculino mas ambas energias se atraindo uma a outra vislumbrando a
fonte que verte a energia sexual direto da fonte escura do infinito.
Sem sentimentalismos, éticas, ou outras conotações morais. Nada
disso! O ponto de não piedade não é o mesmo que ponto de crueldade, de
não amor. Seu oposto seria o ponto da autopiedade.
No ponto de não piedade a responsabilidade de tudo que acontece ao
guerreiro recai sobre ele mesmo, o próprio guerreiro; por isso não há
espaço para vitimização. É quando a implacabilidade faz-se presente, não
como algo impiedoso ou cruel, mas apenas como uma forma de
comportamento e ficaz, impessoal e efetivo.
Um Guerreiro não ajuda ninguém, pois ele sabe que ninguém é
digno de pena. Todos são senhores e senhoras de suas vidas e de seus
caminhos e, portanto, únicos responsáveis pelo resultado de suas
escolhas. Quando ajudamos alguém, impedimos que esse alguém cresça,
pois estamos fazendo algo que ele ou ela devia procurar fazer por si
mesmo. Então, essa pessoa será sempre como uma criança que depende
de um adulto para sobreviver.
Já, quando auxiliamos, reconhecemos a capacidade e a força de
realização do outro assim como em nós mesmos, assim, o incentivamos a
encontrar a resposta e a seguir seu caminho.
Em suma: Ajudar, é dar o peixe; já, Auxiliar, é ensinar a pescar. Se
eu te ajudo eu estou pescando e te dando o peixe, pois percebo você
como um filhote, fraco, incapaz e indefeso. Se eu te auxilio eu te
reconheço como um igual, mas, talvez, com menos experiência e que está
no momento em um dilema sobre qual a melhor forma de pegar o peixe
que você quer, então eu te oriento e dou dicas de como escolher o
equipamento certo para o peixe que você quer pegar, mas você terá que
sozinho buscar o equipamento, montar e ir pescar seu peixe.

102
A História Pessoal

Não tenho história pessoal. Um dia descobri que a história pessoal


não me era mais necessária, então eu a deixei de lado.
Você tem necessidade de renovar sua história pessoal para contar a
seus pais, seus parentes e amigos, tem necessidade de contar tudo o que
faz. Se não tiver história pessoal, não há necessidade de explicações e
acima de tudo, ninguém o prende com seus pensamentos.
Para conhecer você em detalhes, tudo que preciso fazer é conhecer
a mim mesmo. Você precisa ficar ao menos consciente do seu teatro
elaborado. Me refiro à sua barreira de sentimentos e pensamentos
habituais: sua história pessoal. Tudo que faz de você uma pessoa única e
especial. Essa barreira é a fonte de todos os problemas.
É evidente que tudo isso acontece porque - como acontece o tempo
todo - toda vez que o ego descobre que a realidade externa não o
confirma, ele começa a ter sérias dúvidas sobre sua própria realidade e se
sente ameaçado, por isso busca a significância que sua História Pessoal o
dota, manipulando a realidade e as pessoas ao seu redor, até que as
obriga a concordar com sua existência; por isso ele ficará zangado,
ofendido, deprimido e até ameaçará cometer suicídio até obter a
confirmação desejada. Só assim o ego pode se enganar e se fazer
acreditar que existe, embora no fundo saiba o que ele mesmo é: uma
massa específica de nada. E como ele sabe de fato que não tem
substância concreta, ele busca incessantemente confirmação de fora, ou
seja, de outros seres humanos - aqueles que geralmente estarão
engajados no mesmo assunto - aceitam e agem como se o ego em
questão existisse e constitui a pessoa real.
É melhor apagar toda história pessoal porque isso nos deixaria livres
dos pensamentos estorvantes dos outros. Como posso saber o que sou,
quando sou tudo isso que existe. Deve apagar tudo em volta de si até que
nada possa ser considerado coisa sabida, até não haver nada de certo
nem de real. Seu problema agora é que você é real demais. Precisa
começar a se apagar.
Comece a se apagar com as coisas simples, assim não revela o que
está fazendo. Depois deve abandonar todas as pessoas que o conhece
realmente bem. Assim, você construirá uma névoa em torno de si.
Quando você sentir que a mente coletiva está pressionando você,
tentando convencê-lo a se concentrar nas aparências do mundo, repita
esta verdade esmagadora para si mesmo: 'Eu vou morrer, não sou
importante; ninguém é!' Saber disso é a única coisa que conta.

103
Deixar de lado a vontade e de se prender a ela. Não se prender as
coisas tais como: as comidas de que gosta, as montanhas onde vive, as
pessoas de quem gosta de conversar e ao desejo de ser querida.
Falamos incessantemente a nós mesmos sobre nosso mundo. De
fato, mantemos nosso mundo com nossa conversa interna. E sempre que
terminamos de falar a nós mesmos sobre nós mesmos, o mundo continua
sempre como devia. Nós o renovamos, o animamos com vida, o
sustentamos com nossa conversa interna. Não apenas isso, também
escolhemos nossos caminhos quando conversamos com nós mesmos.
Assim repetimos as mesmas escolhas até o dia em que morremos, porque
ficamos repetindo a mesma conversa interna sempre, até o dia em que
morremos. Um guerreiro está consciente disso e se esforça para silenciar
sua conversa interna. O eu é uma construção mental, veio de fora e é hora
de nos livrarmos dele. O caminho que transforma um ser humano comum
em guerreiro é muito árduo. Nossa sensação de estar no centro de tudo, e
a necessidade de sempre ter a última palavra, está sempre nos
atrapalhando. Nos sentimos importantes. E quando um é importante,
qualquer intenção de mudança é um processo lento, complicado e
doloroso. Esse sentimento nos isola. Se não fosse por esse sentimento,
todos nós fluiríamos no mar da consciência e saberíamos que o eu não
existe por si mesmo, seu destino é alimentar a Águia.
Antes de perder a forma é preciso conquistar a forma, que até então
é dominada pela mente dos voadores e a ordem social. Recuperar o
corpo, se familiarizar mais e mais com ele, e seus vários pedacinhos que
rejeitamos e pros quais nunca se deu atenção antes, com suas tensões,
cargas emocionais, e que ao serem reintegrados à consciência de ser,
voltam a ser silêncio e bem estar. Pois a consciência do corpo é a âncora
que mantém a atenção no momento presente.
É juntando essas várias “nações”, com interesses distintos, em uma
unidade global, uma sensação de unidade interna, um espaço de
consciência interior, que começa a ressoar nesse vazio interno a voz do
Espírito, a vibração da vida, sutil, a sensação de estar vivo, presente,
alerta. E quanto mais atenção essa chama recebe, mais forte se torna.
E só então, através dessa jornada de conscientizar, sanar, reintegrar
o corpo, e redescobrir e se reconectar com a porção de nagual contida
dentro dele, que a perspectiva de perder a forma, de perder a ideia desses
limites, faz sentido. Pois não é a forma que se está perdendo a si mesma.
Mas o nagual que começa a transcender os limites do corpo, limites
criados e mantidos pela força do diálogo interno.
A nossa visão de mundo racional, através de muita repetição e do
consenso coletivo, acaba se transformando em uma prisão. Uma prisão

104
frequentemente cinzenta, apertada, solitária e quase impossível de se
escapar. Os videntes toltecas, através de séculos de investigações,
chegaram à compreensão cristalina de que a pedra angular que sustenta
essa visão de mundo é a nossa Auto-importância Pessoal excessiva. A
ideia e imagem que temos de nós mesmos.
Gastamos toda nossa energia defendendo essa imagem dos ataques
reais e imaginários que sofremos dos outros, como se fosse nosso bem
mais precioso.
Os toltecas foram mais além e perceberam que quando nos
entregamos a sentir pena de nós mesmos, estamos na verdade apenas
repetindo essa mesma rotina de colocar nossa própria vaidade em
primeiro plano. Perceberam que o jeito como cada ser humano perpetua a
Autoimportância Pessoal é conversando consigo mesmo continuamente, e
que essa tagarelice nos tira da consciência da vida acontecendo agora, no
presente, sempre pensando em algo que se passou no passado ou pode
vir a passar no futuro.
Assim, descobriram uma série de medidas práticas pra desenvolver
a força interna necessária para silenciar o diálogo interno e romper com
essa escravidão mental. E chamaram a esse conjunto de medidas de
Caminho do Guerreiro.
Os guerreiros sabem que seu tempo na Terra é curto demais, que a
vida é preciosa, e aprendem a tomar consciência de sua Morte iminente
para fazer cada momento contar. Quando lidam com um problema,
aprendem a não se desesperar nem lamentar, pois assumem a
responsabilidade pelos seus atos que o conduziram até aquela situação. E
ao invés de tomar as coisas como tragédias ou bençãos, aprendem a
tomá-las como desafios, onde só o que conta é dar o seu melhor. E
quando estão obcecados com algo, se aconselham com sua Morte e lhe
perguntam se aquilo realmente importa tanto. e Ela lembrará que a única
coisa que importa é que ainda não os tocou.
Os guerreiros aprendem lentamente a se apagar, deixando de contar
o tempo todo o que fazem e fizeram e estão fazendo, dissolvendo pouco a
pouco as expectativas sólidas, formadas e fechadas que as pessoas – e
eles mesmos – têm a seu respeito.
Há duas grandes artes às quais os guerreiros toltecas se dedicam a
aperfeiçoar: a Arte da Espreita e a Arte do Sonhar.
O dominio da Arte da Espreita é o paradoxo de saber se desprender
de todas as situações, pensamentos e emoções, e ao mesmo tempo,
saber estar intensamente imerso, alerta, integrado e participativo na ação.
A Arte do Sonhar é a prática de adquirir consciência de si nos
Sonhos, que pode ser aperfeiçoada a ponto de transformar os Sonhos em

105
uma “segunda vida”, tão ou mais real do que a vida habitual, e com
possibilidades infinitamente mais amplas, tornando os sonhadores
capazes de acessarem estados de consciência extraordinários sem
precisarem de substâncias de poder.
A energia economizada na redução da vaidade se converte no que
os toltecas chamam de Poder Pessoal, um tipo de vibração que começam
a sentir no interior do corpo, que faz com que se sintam cada vez mais
vivos, presentes, sábios, confiantes, serenos, e que faz as coisas agirem
misteriosamente a seu favor.
Compenetram-se nesse poder interior para silenciarem suas mentes,
por poucos segundos de cada vez no começo, e pouco a pouco por
períodos mais longos, passando a Sentir mais, e Interpretar menos a vida.
Quando o guerreiro acumula suficiente Silêncio Interior, chega um
momento mágico de ruptura que os toltecas chamam de “Parar o Mundo”,
quando a nossa Visão de mundo enfim Para, e o Mundo deixa de ser o
que sempre foi, abrindo as portas da Segunda Atenção.“
Para o nagual, a importância pessoal era um monstro de mil cabeças
e havia três maneiras de enfrentá-lo e destruí-lo. A primeira maneira
consistia em cortar uma cabeça por vez; a segunda era alcançar esse
misterioso estado de ser chamado ‘o lugar onde não há piedade’, o qual
aniquila a importância pessoal matando-a lentamente de fome; e a terceira
forma era pagar pela aniquilação instantânea do monstro das mil cabeças
com a morte simbólica de si mesmo.
Porque um monstro de mil cabeças? Porque a Autoimportância é o
apego ao nosso eu pessoal, por piedade ou por vaidade, e as formas que
esse apego toma são muitas: medo de ser rejeitado, depressão,
arrogância, ciúmes, orgulho, ganância, condescendência, fanatismo,
mesquinhez, virtuosismo, indulgências, racionalidade, concessões,
crueldade, culpa, condenação, cinismo, moralismo, apego ao meu
dinheiro, minha carreira, meu país, minha religião, meu gênero, e por aí
vai.
Todos governados por um mesmo medo básico, que é o medo da
morte do eu pessoal, que decorre igualmente do apego ao eu pessoal. O
apego ao eu pessoal é a força compulsória criada pelo nosso consenso
coletivo.
E isso inclui também o apego à ideia/imagem de si como guerreiros e
buscadores espirituais. É uma imagem pessoal à qual nos agarramos,
uma imagem que se fortalece e vai derrubando a importância de outras
imagens.
O que há de fato não é um guerreiro valente enfrentando um monstro

106
insano, mas sim uma luta do monstro consigo mesmo, há uma guerra
entre as cabeças do mesmo monstro, fragmentação no nosso ser.
O primeiro método é um processo lento, mas necessário pra maioria
de nós. Em grandes guerreiros, depois de anos de trabalho duro no
primeiro método, a quantidade de cabeças do monstro é bem reduzida,
mas ainda assim sobra uma multitude de outras cabeças, além de
algumas novas que nasceram. E não importa o quanto se lute, sempre vai
sobrar auto-importância no final das contas enquanto permanecer o apego
à ideia de si como realizador do processo, como o guerreiro ou caminhante
que está evoluindo no seu caminho. Diante disso, cedo ou tarde, o
guerreiro chega à compreensão de que a saída só pode estarem deixar de
dar ênfase aos seus sentimentos pessoais como um todo.E só se chega a
esse impasse depois de muita luta e observação ativa: a espreita de si
mesmo. Esse entendimento é o que o leva a aplicar o segundo método e a
intentar diretamente a não-piedade consigo mesmo. E quando o segundo
método é aplicado, e se insiste nele por tempo bastante, o monstro
começa a morrer de fome e imediatamente vem atacar-nos em busca de
atenção.
E é bom frizar que o monstro, que é criado pela mente inorgânica
dos voadores e sustentado pela nossa atenção e pelas nossas reações
emocionais, conhece como ninguém nossos pontos cegos e sabe como
apertar os botões certos para nos fazer reagir. Mas se o guerreiro se
mantém impecavelmente em sua neutralidade, o monstro começa a
desaparecer. E simultaneamente o próprio guerreiro começa a
desaparecer! Não literalmente, mas no sentimento de ser algo separado
de tudo o mais. Para superar essa barreira do apego a si mesmo é preciso
então aplicar o terceiro método: a morte simbólica do eu pessoal. Pois
quando visto com cuidado e atenção ele não existe de fato. Existe apenas
no apego que se tem a ele. Apenas na história que se reconta
constantemente a si mesmo. É apenas uma ideia, um símbolo, e um
símbolo só pode morrer simbolicamente. E quando a ideia de si morre, o
monstro também morre, e vice-versa.
Desconstruindo e reconstruindo a auto imagem a medida que se
avança no Caminho do conhecimento, até a desconstrução total da
imagem pessoal
As pessoas que te conhecem muito bem criam uma imagem sólida
de quem você é. E o guerreiro acaba se sentindo compelido a não
decepcionar essa expectativa tão sólida que as pessoas criaram (e que
ele/ela própria alimentou) como que num acordo de sempre manter aquela
personagem viva, na vida das pessoas que lhe são queridas. Seja por

107
medo de se ver só, ou por compaixão de não ferir o sentimento dessas
pessoas.
Mas quando avança sinceramente no caminho, a cada novo passo
que dá na jornada do conhecimento, a cada novo entendimento e aumento
do nível de energia, aquela máscara velha vai se tornando mais apertada,
aborrecedora, desconfortável, desajustada com a nova forma como o
guerreiro/guerreira vê a si mesmo e vê o mundo ao seu redor.
No início você pode ser e viver uma vida totalmente normal do ponto de
vista social, e depois sentir o chamado por ter uma vida mais ajustada,
disciplinada, orientada para o crescimento e fortalecimento da sua
individualidade. Ou ser uma pessoa assim, e em certo momento sentir a
necessidade de largar isso pra começar a ver a si mesma/o como alguém
que simplesmente ama e quer ver o mundo através dos olhos do amor, da
leveza, da criatividade, do maravilhamento, da abertura, de afeto. E
tempos depois essa identidade pode ser deixada pra trás porque seu
entendimento te levou a acessar uma nova faixa energética da consciência
e a mudar novamente sua visão de si, no processo constante de ir
limpando a ilha do tonal, e assim em diante… isso ocorrerá várias vezes,
em pequena escala, com pequenas mudanças na forma como se vê o
mundo… e algumas em grande escala… com mudanças radicais na
própria identidade.
Por causa de nossa auto-importância, estamos cheios de amargura,
inveja e frustração. Deixamo-nos guiar por sentimentos de complacência e
escapamos da tarefa de conhecer a nós mesmos com pretextos como 'não
posso ser incomodado' ou "que cansativo!'. Por trás de tudo isso, há uma
ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais
denso e menos natural. Um conselho que Don Juan nos deu foi que,
durante nosso treinamento como guerreiros, deveríamos nos abster de
usar o que ele chamava de ferramentas para a perpetuação do eu. Essa
categoria incluiu objetos como espelhos, exposição de títulos acadêmicos
e álbuns de fotos com nossa história pessoal.
Um dos hábitos mais sérios que moldam nosso inventário, é o hábito
de contar aos outros tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer. A maioria
das pessoas se sente vazia quando não tem amor ou amigos, porque
construiu sua vida em uma base superficial de relacionamentos e não tem
mais tempo para refletir sobre seu destino. Infelizmente, a amizade
geralmente se baseia em uma troca de intimidades, enquanto uma
premissa básica dos relacionamentos mundanos é que tudo o que
dissermos algum dia será usado contra nós. Os feiticeiros afirmam que
falar de nós mesmos nos torna acessíveis e fracos, enquanto aprender a
ficar quietos e calados nos enche de poder.

108
O guerreiro espiritual não chora nem choraminga nem tem pena de si
mesmo. Ele vê seus defeitos e se liberta deles de uma vez e para sempre!
É necessário que aprendas a te livrares de teu próprio “eu”! O guerreiro
espiritual deve aprender desde o começo o riso do Nagual! Ele deve rir de
seus próprios defeitos de tal maneira que estes estouram como bolhas de
sabão junto com o sentimento inflado da própria importância.
Cada ciclo que se rompe, cada etapa transposta, cada época que
fica, cada mudança monumental e transcendental de conduta, hábitos,
valores, comportamentos e visão de realidade é uma morte pessoal. É
como se você nascesse de novo, como se tivesse mais uma chance ,
agora com mais visão de jogo. Podemos dizer que é uma nova vida.
Você abandona as suas velhas convicções, comportamentos nocivos e
inadequados, pessoas que te atrasam e parte para o novo. Sem garantias
de nada.
As vezes morremos conscientemente, intencionando uma mudança,
e outras vezes, quando estamos muito cegos e burros, a vida se encarrega
de encerrar alguns ciclos pra nós, muitas vezes de forma dolorosa, mas
necessária.
Recapitulando e desapegando, você deixa toda a tralha que
acumulou pra trás e sai andando, rumo ao sol. Economizando e
redirecionando sua energia. Sendo mais impecável, dia após dia. Livre,
desimpedido, sem expectativas, sem anseios de sucesso, sem medo do
fracasso, sem cultuar o “eu”, e com uma segurança profunda e inabalável
que está no seu caminho com coração.
Somente quando perdemos tudo, ficamos corajosos, pois não temos
nada a defender. Quando perdemos tudo, já estamos mortos. Se sabemos
que todos vamos morrer um dia, o que mais há para se temer?
O pior já aconteceu. Tomamos consciência de nossa transitoriedade
e efemeridade aqui, e sentimos que não temos tempo a perder. Mas não
se engane. Podemos morrer metaforicamente várias vezes na vida, mas
uma hora morreremos de fato. Então, não ache que vai poder mudar mil
vezes na vida, até ser o que sempre quis ser. Não temos tempo. Tudo
pode acabar num piscar de olhos.
Note que a situação agora te revela um material. Essa situação não
te afeta num nível de auto-piedade e essa auto-piedade é logo identificada,
a cara dela é muito evidente para um guerreiro deixá-la passar
despercebida.
Aí com os não-fazeres apropriados o lugar da não-piedade é atingido
mesmo em uma situação envolvente e, somada a recapitulação, as coisas
vão se encaixando.

109
Não há tempo e o jogo é caro. Os nossos semelhantes se entregam
o tempo inteiro, seus corpos os entregam, são uma presa. Nós não
podemos nos dar o luxo de ser uma presa.
Evidentemente isso não quer dizer que o guerreiro enterra seus
sentimentos, eles simplesmente os organiza na ilha de forma mais
estratégica. Essa organização vai permitir uma movimentação mais livre
do ponto de aglutinação, avenidas limpas.
A vida é um breve sopro no ar. Mude logo tudo que tem de mudar.
Faça o serviço rápido e limpo. Deixe a autopiedade e a procrastinação de
lado e faça sua vontade fazer a balança pender. Podemos cortar qualquer
coisa de nossas vidas num estalar de dedos, nós é que não nos damos
conta disso e complicamos tudo. Deixe de ser uma folha a mercê do vento
e tome decisões. Planeje. Aja. Caminhe, sem olhar pra trás.
Morra. Sem pena de si mesmo. Implacável. Mas faça isso já. E
renasça em vida para uma existência cheia até a borda, pautada pela
sobriedade, pela intenção e pelo poder pessoal. Para um guerreiro, só o
agora é real.
Tive tempo de olhar para trás e examinar minha vida. Hoje, os
problemas do meu tempo são apenas histórias; e nem mesmo uma história
interessante. Talvez eu tenha desperdiçado anos de vida perseguindo uma
coisa que nunca existiu. Ultimamente, tenho a impressão que acreditei
numa farsa.
Não tenho história pessoal e não me sinto mais importante do que
alguma outra coisa, e também porque minha morte está sentada comigo
bem aqui!

Apagar a história pessoal

É melhor apagar toda a história pessoal porque isso nos deixaria


livres dos pensamentos estorvantes dos outros. Apagar a história pessoal
é acabar com ela.
Primeiro, é preciso ter o desejo de largá-la. E depois é preciso
passar a harmoniosamente cortá-la, pouco a pouco. Você renova sua
história pessoal contando a seus pais, seus parentes e amigos tudo o que
faz. Por outro lado, se não tiver história pessoal, não há necessidade de
explicações; ninguém fica zangado nem desiludido com seus atos. E,
acima de tudo, ninguém o prende com seus pensamentos.
Pouco a pouco, deve criar uma névoa em torno de si; deve apagar
tudo em volta de si até que nada possa ser considerado coisa sabida, até
não haver nada de certo nem de real. Precisa começar a se apagar.
Comece com coisas simples, assim como não revelar o que você

110
realmente faz. Depois, deve abandonar todas as pessoas que o conheçam
realmente bem. Assim, você construirá uma névoa em torno de si.
Não é possível para você continuar no caminho dos guerreiros
levando sua história pessoal com você, e a não ser que você interrompa
seu modo de viver [impiedosamente], você não será capaz de continuar
seguindo estas instruções. Deve quebrar os seus pontos de referência,
deixá-los. Os feiticeiros só tem um ponto de referência: o infinito!
Minha recomendação é que alugue um quarto num daqueles hotéis
baratos que conhece. Um feiticeiro usa um lugar como esse para morrer.
Você nunca esteve só em sua vida. Chegou a hora de ficar só. Você ficará
naquele quarto até morrer. Não quero que seu corpo morra fisicamente.
Quero que a sua pessoa morra. As duas coisas são muito diferentes. Na
essência, a sua pessoa tem muito pouco a ver com o seu corpo. Sua
pessoa é a mente, e, acredite-me, a sua mente não é sua [mas da
instalação alienígena]. O critério que indica que um feiticeiro está morto é
quando não faz diferença para ele se tem companhia ou está só. O dia em
que você não almejar a companhia dos seus amigos, que você utiliza
como escudo, nesse dia a sua pessoa morre.
A antipsiquiatria é o que chamaríamos de Destruição do Ego. Tal
desestruturação no mundo de um guerreiro que trabalhou para alcançá-la,
é uma porta para a liberdade, enquanto na vida das pessoas comuns, que
às vezes chega por uma forte crise emocional, pode ser a porta para a
liberdade. A verdade é que um ser humano não é nada na descrição de
seu ego, mesmo que pense que é, em virtude de se comportar de acordo
com a descrição. Isto é; em virtude de suas rotinas, que são a expressão
ativa do conteúdo da descrição chamada ego.
Fomos treinados para considerar o ego como nossa única realidade,
para acreditar que realmente somos "isso" e que continuaremos sendo até
o fim. Esquecemos que nem sempre fomos. Esquecemo-nos que outrora
fomos "sem forma" e que isso nos permitiu ficar maravilhados, sentir cada
coisa e cada ser como uma descoberta, um mistério. Esquecemos o
mistério de nós mesmos e o mistério do mundo, porque aprendemos a
acreditar que éramos algo definido e delimitado (o ego) e fizemos o
mesmo com o mundo e com os outros e assim conseguimos dar efeito ao
negro feitiço mágico que é a vida do homem moderno: reduzir o
inconcebível, o mistério e a maravilha de estar vivo, ao absurdo. E a
bobagens chatas. Entramos em uma prisão e a chamamos de "eu". Que
maravilha! Aqui está um homem com "personalidade".
O mito de origem do ego (o que chamamos de “eu”) é a história que
criamos inconscientemente para justificar nosso modo de ser. E é por isso
que estamos tão apegados ao que chamamos de nosso passado. Embora

111
tenha sido assustador, secretamente amamos nosso passado e relutamos
em deixá-lo para trás, pois é o que sustenta nosso ego.
Dentro dos não-laços do eu pessoal, o apagamento da história
pessoal é talvez o mais geral, porque de alguma forma engloba todos os
outros. Supõe o término da relação causa-efeito entre nosso passado e
nosso presente. Quando Dom Juan alude à necessidade de o aprendiz
apagar sua história pessoal, ele está se referindo não apenas à
necessidade de ele mudar seu modo de ser e viver, mas está propondo a
possibilidade de que tal mudança ocorra como resultado de rompendo com
a determinação do passado que o feiticeiro chama de "história pessoal".
Por outro lado, apagar a história pessoal é uma possibilidade
mágica, que dificilmente se encaixa na lógica racional. Apague o passado.
Em vez de tentar superá-lo, basta excluí-lo. Essa possibilidade não se
refere a poder anular atos passados, mas a renunciar à relação que
estabelecemos com eles, cuja expressão mais geral é nosso modo de ser
e nosso modo de viver. A questão é que, se é minha história pessoal que é
o principal obstáculo à mudança e à liberdade, então o poder apagá-lo
também representa a oportunidade de ser livre.
Um dos benefícios que obtemos com a recapitulação é perceber que
estamos presos a uma série de situações, acontecimentos, lugares e
pessoas do nosso passado; e que, por isso, não temos total liberdade para
seguir em frente e realizar nossos sonhos. Livrar-se da energia de alguém
que ligamos ao nosso corpo energético é um dos resultados de uma
cuidadosa recapitulação. Da mesma forma que perdemos parte de nossa
energia devido a interações emocionais, é possível que parte da energia
de outras pessoas esteja presa ao nosso corpo luminoso e ainda a
carreguemos conosco. A energia alienígena nos força a ser algo que não
somos e isso é um obstáculo à nossa liberdade.
Parar com a descrição contraditória do mundo que construímos e
vemos diariamente é o verdadeiro passo em direção à liberdade que nos
permite construir mundos melhores para habitá-los diariamente. Parar a
descrição de mim mesmo, baseada na importância pessoal, cheia de
queixas, frustrações e mesquinhez, é o passo concreto para a liberdade de
escolher como ser, de acordo com as diferentes situações que
enfrentamos. Acabar com a escravidão de ser determinado por nossa
história pessoal. Romper os estreitos limites que nossa própria imagem
nos marca, criada artificialmente.
A resistência em se comportar de novas maneiras surge do fato de
acreditarmos que somos incapazes de realizar qualquer coisa que não
esteja no inventário de nossas ações passadas. Resistimos à mudança.

112
Ao mesmo tempo, quando começamos a lutar para mudar, nossa história
pessoal se torna o maior obstáculo a ser superado.
Sem dúvida, o preço que pagamos por nossa importância pessoal é
muito alto; ficar preso em um único mundo quando podemos habitar tantos
mundos muito mais ricos e variados em nossa vida! Por outro lado, o
resgate da possibilidade de acesso a tais mundos se faz
fundamentalmente com a energia extra que teremos se conseguirmos
diminuir nossa importância pessoal e reincorporar o mistério em nossas
vidas; em última análise, é tudo uma questão de ter poder pessoal
suficiente.

A forma humana

A forma humana é um conglomerado de campos de energia que


existe no universo e que está relacionado exclusivamente com os seres
humanos. Os guerreiros a chamam de "forma humana" porque esses
campos de energia têm sido envergados e distorcidos por uma vida inteira
de hábitos e uso inadequado. O guerreiro sabe que não pode mudar e,
ainda assim, tenta mudar. Ele nunca fica desapontado quando não
consegue mudar. Esta é a única vantagem que o guerreiro tem sobre o
humano comum.
O princípio da “perda da forma humana” é a atenção do tonal
perfeito: ser capaz de capturar toda a visão de mundo que se apresenta no
momento presente com a sua atenção – a totalidade das informações
sensoriais. Esse tipo de atenção por si mesmo exige parar o movimento da
primeira atenção, focalizada em objetos, para uma atenção mais difusa e
holística, capaz de observar tudo mesmo que sem muita nitidez. Nessa
atenção o sentido de um “eu pessoal” nítido se dissolve e parece se
expandir na experiência total do aquiagora. Mas os limites da forma só
começam a ser definitivamente perdidos na passagem de tonal perfeito
para o nagual abaixo da ilha: quando ao invés de buscarmos expandir a
atenção comum para abarcar a visão total da ilha, passamos a VER que a
totalidade da ilha já se encontra incondicionalmente e sem esforço dentro
da nossa atenção-percepção, e que essa atenção-percepção e o nosso
ser são uma e a mesma coisa.
Perder a forma humana é como uma espiral. Dá ao guerreiro a
liberdade de lembrar de si mesmo como campos puros de energia e isso,
por sua vez, torna-o ainda mais livre. O guerreiro sabe que está esperando
e sabe o que está esperando, e enquanto espera deleita-se olhando para o
mundo. A suprema realização do guerreiro é gozar a alegria do infinito,
pois ele sabe que aguarda por sua liberdade.

113
Perder a forma humana desconecta o guerreiro, destrói o senso de
influências externas. Não há mais rancor nenhum por ninguém dentro dele.
É uma sensação de estar flutuando, de se inserir em cada momento e não
pensar em mais nada além do momento em si. Os atos das pessoas não
têm mais influência para ele, porque ele não tem mais expectativas de
nenhum tipo.
Castañeda disse que tinha perdido a forma humana, tinha deixado
cair todos os seus escudos ou a maior parte deles. Sentia-se desprendido,
solto. Não importava mais o que as pessoas faziam. Não havia nenhum
rancor aberto ou oculto nele. Não era uma indiferença negativa ou
negligência ao agir, nem uma solidão desesperada ou nem mesmo desejo,
o desejo de estar sozinho. Era um sentimento de afastamento, uma
capacidade de imergir dentro de si mesmo por um momento e não ter
pensamentos de espécie alguma. As atividades das pessoas não mais o
afetavam, pois não tinha mais nenhuma expectativa. Uma estranha paz
tinha se tornado a força mestra de sua vida. Ele sentia que de alguma
forma tinha adotado um dos conceitos da vida de guerreiro:
desprendimento.
Daí surge o conhecimento silencioso avisando do primordial: você
está vazio o suficiente? O Nagual Juan Matus comentou as camadas da
cebola de nosso mundo e nesse comentário há um segredinho de visão:
tudo é sobre camadas.
Quando se está na transição entre perder a forma humana e a
identificação e já se tem certo grau de vazio/silêncio interior (que eu não
sei como foi para vocês, mas da minha vivência notei que o silêncio é algo
que se constrói aos poucos, cada vez com a percepção mais silenciosa,
fora os casos de deslocamento (ainda o deslocamento também é útil como
ensinamento corporal profundo) as situações mexem com você mas não te
afetam de todo, o intento inflexível não permite de todo, por mais que a
situação seja envolvente.
Quando os afazeres diários procuram nos absorver e fazer-nos dar
demasiada atenção à eventos relacionados a nossa identificação pessoal
e socio-cultural, não importando quais o sejam, surge um impasse. Já
surge o conhecimento silencioso avisando do primordial: você está vazio o
suficiente?
O Nagual Juan Matus comentou sobre as camadas da cebola de
nosso mundo e nesse comentário há um segredinho de visão: tudo é sobre
camadas.
Quando se está na transição entre perder a forma humana e a
identificação e já se tem certo grau de vazio/silêncio interior (que eu não
sei como foi para vocês, mas da minha vivência notei que o silêncio é algo

114
que se constrói aos poucos, cada vez com a percepção mais silenciosa,
fora os casos de deslocamento (ainda o deslocamento também é útil como
ensinamento corporal profundo) as situações mexem com você mas não te
afetam de todo, o intento inflexível não permite de todo, por mais que a
situação seja envolvente.
Note que a situação agora te revela um material. Essa situação não
te afeta num nível de auto-piedade e essa auto-piedade é logo identificada,
a cara dela é muito evidente para um guerreiro deixá-la passar
despercebida.
Aí com os não-fazeres apropriados o lugar da não-piedade é atingido
mesmo em uma situação envolvente e, somada a recapitulação, as coisas
vão se encaixando.
Não há tempo e o jogo é caro. Os nossos semelhantes se entregam
o tempo inteiro, seus corpos os entregam, são uma presa. Nós não
podemos nos dar o luxo de ser uma presa.
Evidentemente isso não quer dizer que o guerreiro enterra seus
sentimentos, eles simplesmente os organiza na ilha do tonal de forma mais
estratégica. Essa organização vai permitir uma movimentação mais livre
do ponto de aglutinação, avenidas limpas.
A perda da forma é um processo com duas grandes fases:
A primeira grande fase é a perda da forma humana: a perda da
identificação com os limites do corpo, a recuperação da consciência
unificada, do corpo de energia, do conhecimento silencioso. É a plenitude
da segunda atenção.
É conhecida no meio espiritual e religioso como Iluminação ou
aquisição da consciência crística.
Nela o guerreiro-guerreira enfim se liberta de ter que ser um
guerreiro. Se torna praticamente imune à falsa mente, pois se torna UNO
com o próprio silêncio do Intento e com tudo o que percebe. Pode mudar
sua perspectiva do modo sólido para o modo abstrato em um piscar de
olhos.
Mas é na segunda fase que os videntes atingem esse ainda mais
raro alinhamento chamado de liberdade total. É a perda final da
identificação com os limites da forma luminosa, e com eles, de todo e
qualquer limite. É a recuperação da consciência do infinito, a fonte da
própria existência, e abertura da 3a atenção…”
A recapitulação é a técnica mais profunda para se perder a forma
humana. Fazer uso do não fazer, apagar sua história pessoal, perder a
auto-importância, quebrar as rotinas.

115
A Recapitulação

Espreitador é aquele que faz a recapitulação, que consiste em


recordar a vida até os mínimos detalhes. O espreitador usa um engradado
ou caixa de terra a fim de se trancar dentro enquanto estiver revendo. O
espreitador deve recapitular sua vida completamente. O sonho e a espreita
tem a mesma finalidade, entrar na segunda atenção. É importante que o
guerreiro pratique os dois. O elemento chave da recapitulação é a
respiração. A respiração produz memória cada vez mais profundas. O
espreitador tem de lembrar de cada sentimento que teve em sua vida e
esse processo inicia com a respiração.
A recapitulação é um método de autocura que consiste em reviver os
acontecimentos do nosso passado de forma a podermos reparar os danos
que muitos deles causaram no nosso próprio ser. Esse dano geralmente
se manifesta na forma de conflitos emocionais recorrentes. Da mesma
forma, esse dano energético produz uma persistência das rotinas de nossa
personalidade que diminui nossa energia vital. A recapitulação é o remédio
para esta doença. Se olharmos para o conceito de energia, uma
recapitulação é entendida como toda uma série de procedimentos
energéticos que reparam os danos que nosso campo energético pode ter
sofrido no passado. O objetivo final da recapitulação é recuperar o estado
de integridade que tínhamos no momento do nosso nascimento. Do ponto
de vista prático, isso implica a liberdade de escolher como vamos ser e
como vamos viver, deixando de lado o fato de repetir rotinas internas
infinitamente desgastantes impostas pelo nosso passado.
A recapitulação consiste em um escrutínio sistemático da própria
vida, segmento por segmento, um exame feito não à luz da crítica e da
descoberta de falhas, mas à luz de um esforço para entender a própria
vida e mudar o seu curso. Deste modo, a recapitulação dos atos diários é
também uma prática de todo recomendável. Nela podemos, sem maiores
esforços, lembrar de tudo o que fizemos, deixando atrás as cargas
desnecessárias, perdoando e pedindo perdão, para assim entrar na
"pequena morte" diária.
A recapitulação é o ato de trazer de volta a energia que já
despendemos em ações passadas. A recapitulação inclui recordar todas
as pessoas que conhecemos, todos os lugares que vimos e todos os
sentimentos que tivemos em toda nossa vida — começando pelo presente
e voltando às lembranças mais antigas — para então purificá-las com a
vassoura da respiração.
Somos o que somos devido à soma dos eventos que formaram
nossas vidas. Portanto, é obrigação do guerreiro agir como um carpinteiro

116
da alma, tapando frestas, curando ressentimentos, emparelhando níveis,
reparando feridas, para que assim possa, algum dia, encontrar a liberdade.
A recapitulação é o forte dos espreitadores, mas deve ser praticada
por todos os guerreiros ou pessoas que buscam o autoconhecimento. Os
xamãs do México antigo diziam que essa prática recupera sua energia que
ficou espalhada por aí no casulo luminoso das outras pessoas por causa
das interações com elas, e deixa pra trás a energia dos outros que
estavam impregnadas em você, também por causa dessas interações,
fazendo com que você se torne mais inteiro, mais completo, com mais
energia sua e menos dos outros.
Além da questão psicológica, pois ela traz a tona todo o lixo que
estava guardado no seu subconsciente, e mostra claramente seus padrões
e condicionamentos comportamentais que você acumulou durante toda a
vida e refletem sua personalidade e seu estado de espírito. Através desse
reconhecimento de padrões, você pode entender como faz sempre tudo
igual, mesmo que mudem os atores e os locais dessas interações, e pode
tentar mudar isso.
Você vai sentindo aonde o negócio rende e flui mais. Feche os olhos
e comece a respirar pausadamente, tentando esvaziar sua mente e
focando na pessoa ou na interação/situação que você quer recapitular.
Lembre-se que não é para você recordar a situação, e sim revivê-la, como
se estivesse lá novamente, sem julgamentos ou interpretações, tentando
se lembrar dos mínimos detalhes. Você começa olhando pra frente e
lentamente inspira o ar girando a cabeça também lentamente para o lado
esquerdo o máximo que puder, cuidado para não torcer o pescoço. Segure
um pouco o ar, e vai girando a cabeça lentamente para o lado direito e
soltando o ar, até sua cabeça chegar no ombro direito; espere uns
segundos e recomece, inspirando e virando a cabeça no sentido do ombro
esquerdo; segure o ar, e gire a cabeça de volta para o ombro direito,
expirando. E assim sucessivamente. Quando estiver inspirando o ar, sinta
e tenha a certeza que você está recolhendo ou trazendo de volta seus
filamentos de energia que você deixou por aí nas interações com as outra
pessoas, e quando estiver expirando o ar, sinta que você está deixando
pra trás, soltando do seu corpo, os filamentos de energia das pessoa que
você interagiu e que ficaram presos em você. Fazendo isso, você estará
se completando, fortalecendo a totalidade de si mesmo, recuperando sua
energia e soltando o que não é seu e que lhe deixa pesado e confuso. Isso
tudo revivendo a situação. Demore o tempo que achar necessário e que se
sentir bem e disposto para recapitular. Para fechar o ciclo, no final dê uma
última inspirada e segure o ar nos pulmões por um tempo maior, parando a
cabeça no centro e depois soltando o ar, abrindo os olhos.

117
Escolha uma interação/situação por vez ou por dia. A tendência é
que com passar do tempo você vá identificando seus padrões
comportamentais e consiga trazer a tona todo lixo mental que estava
submerso no na sua mente, afim de finalmente poder deixar esse entulho
para trás e mudar seus padrões e condicionamentos. Pode ser um
processo doloroso as vezes reviver algumas situações, mas é essencial
para te libertar e te deixar mais leve e mais forte. Você vai sentindo aonde
o negócio rende e flui mais. Feche os olhos e comece a respirar
pausadamente, tentando esvaziar sua mente e focando na pessoa ou na
interação/situação que você quer recapitular. Lembre-se que não é para
você recordar a situação, e sim revivê-la, como se estivesse lá novamente,
sem julgamentos ou interpretações, tentando se lembrar dos mínimos
detalhes. Você começa olhando pra frente e lentamente inspira o ar
girando a cabeça também lentamente para o lado esquerdo o máximo que
puder, cuidado para não torcer o pescoço. Segure um pouco o ar, e vai
girando a cabeça lentamente para o lado direito e soltando o ar, até sua
cabeça chegar no ombro direito; espere uns segundos e recomece,
inspirando e virando a cabeça no sentido do ombro esquerdo; segure o ar,
e gire a cabeça de volta para o ombro direito, expirando. E assim
sucessivamente. Quando estiver inspirando o ar, sinta e tenha a certeza
que você está recolhendo ou trazendo de volta seus filamentos de energia
que você deixou por aí nas interações com as outra pessoas, e quando
estiver expirando o ar, sinta que você está deixando pra trás, soltando do
seu corpo, os filamentos de energia das pessoa que você interagiu e que
ficaram presos em você. Fazendo isso, você estará se completando,
fortalecendo a totalidade de si mesmo, recuperando sua energia e
soltando o que não é seu e que lhe deixa pesado e confuso. Isso tudo
revivendo a situação. Demore o tempo que achar necessário e que se
sentir bem e disposto para recapitular. Para fechar o ciclo, no final dê uma
última inspirada e segure o ar nos pulmões por um tempo maior, parando a
cabeça no centro e depois soltando o ar, abrindo os olhos. Escolha uma
interação/situação por vez ou por dia.
Feche os olhos e comece a respirar pausadamente, tentando
esvaziar sua mente e focando na pessoa ou na interação/situação que
você quer recapitular. Lembre-se que não é para você recordar a situação,
e sim revivê-la , como se estivesse lá novamente, sem julgamentos ou
interpretações, tentando se lembrar dos mínimos detalhes. Você começa
olhando pra frente e lentamente inspira o ar girando a cabeça também
lentamente para o lado esquerdo o máximo que puder, cuidado para não
torcer o pescoço. Segure um pouco o ar, e vai girando a cabeça
lentamente para o lado direito e soltando o ar, até sua cabeça chegar no

118
ombro direito; espere uns segundos e recomece, inspirando e virando a
cabeça no sentido do ombro esquerdo; segure o ar, e gire a cabeça de
volta para o ombro direito, expirando. E assim sucessivamente. Quando
estiver inspirando o ar, sinta e tenha a certeza que você está recolhendo
ou trazendo de volta seus filamentos de energia que você deixou por aí
nas interações com as outra pessoas, e quando estiver expirando o ar,
sinta que você está deixando pra trás, soltando do seu corpo, os
filamentos de energia das pessoa que você interagiu e que ficaram presos
em você. Fazendo isso, você estará se completando, fortalecendo a
totalidade de si mesmo, recuperando sua energia e soltando o que não é
seu e que lhe deixa pesado e confuso. Isso tudo revivendo a situação.
Demore o tempo que achar necessário e que se sentir bem e disposto
para recapitular. Para fechar o ciclo, no final dê uma última inspirada e
segure o ar nos pulmões por um tempo maior, parando a cabeça no centro
e depois soltando o ar, abrindo os olhos. Escolha uma interação/situação
por vez ou por dia.
A tendência é que com passar do tempo você vá identificando seus
padrões comportamentais e consiga trazer a tona todo lixo mental que
estava submerso no na sua mente, afim de finalmente poder deixar esse
entulho para trás e mudar seus padrões e condicionamentos. Pode ser um
processo doloroso as vezes reviver algumas situações, mas é essencial
para te libertar e te deixar mais leve e mais forte. Os Xamãs dizem que o
correto seria todos recapitularmos toda nossa vida.
A recapitulação do dia-a-dia, mesmo que seja uma ou duas vezes
por mês, ou semanalmente, faz maravilhas, pq permite que você vá
aparando as arestas da sua autoimportância, podando os excessos e
fazendo as correções de rota necessárias quase em tempo real. Uma
recapitulação nesses termos é fundamental para sua impecabilidade, pois
está a todo momento mostrando suas inconsistências e aonde você está
desperdiçando energia e tempo com as aberrações e armadilhas do ego.
Quando você recapitula regularmente você dissipa a névoa da rotina e
sacraliza seu cotidiano, ficando mais atento aos sinais e desígnios do
Espírito, e principalmente, mais consciente no caminho. Recapitular é
conhecer a si mesmo. É "ver" a essência das coisas no nível mais
profundo.
O processo de recapitulação envolve a evocação de eventos
passados. Mas esta evocação não é a memória normal que todos nós
realizamos continuamente em nossas vidas diárias. A memória normal
pode basicamente ser identificada com o pensamento, enquanto a
memória corporal está mais próxima do sentimento. É um processo que
consiste em reviver experiências passadas e que de certa forma é como

119
voltar para reparar o que ficou em mau estado. Isso não significa que
vamos mudar o passado; o que vamos mudar são as consequências
resultantes do passado e a forma como elas estão afetando nossa vida
presente. Vamos mudar nossa relação atual com esse passado.
Quando fizer a recapitulação, tente sentir alguns filamentos longos
distendendo-se, e que partem da parte média de seu corpo. Eles são os
condutores que trarão de volta a energia que você deixou para trás. Para
recuperarmos nossa força e unidade, precisamos liberar nossa energia
aprisionada no mundo e puxá-la de volta para nós. Durante a recapitulação
nós estendemos esses filamentos de energia preguiçosos através do
espaço e do tempo, até as pessoas, locais e acontecimentos que vamos
examinar. Como resultado, podemos retornar a cada momento de nossas
vidas e agir como se realmente estivéssemos lá. O importante é
revivenciar os acontecimentos e sentimentos com o máximo de detalhes, e
varrê-los com a respiração, liberando assim a energia aprisionada. Quando
você tiver todos os elementos no lugar, use vassoura da respiração; o
movimento de sua cabeça é como um leque que agita tudo nessa cena. Se
você lembrar de um quarto, por exemplo, respire nas paredes, no teto, na
mobília, nas pessoas que visualizar. E não pare até ter absorvido a última
poção de energia que você deixou para trás. Lembre-se, tenha a intenção
de inspirar a energia que você deixou na cena que estiver recapitulando, e
expirar a energia alheia lançada em você pelas pessoas.
A recapitulação pode ser ordenada por hierarquia de importância ou
por sequência, ou ainda ser feita "ao acaso". Quando se procura a
hierarquização das evocações mnemônicas por importância, recomenda-
se que a recapitulação inicie pela atividade sexual passada, "porque é aí
que grande parte da nossa energia fica aprisionada".
Faça uma lista de pessoas que conheceu, pegue a primeira pessoa
da sua lista e trabalhe sua lembrança para recordar tudo que vivenciou
com essa pessoa, desde o momento em que vocês se conheceram até a
última vez em que se encontraram. Ou, se você preferir, você pode
trabalhar ao inverso, partindo da última vez que encontrou essa pessoa até
o primeiro encontro.
Respirar concentra energia e promove sua circulação. Ela é então
conduzida pela intenção preestabelecida da recapitulação, que é libertar-
nos de nossas amarras biológicas e sociais. A intenção da recapitulação é
uma dádiva que nos é concedida por aqueles videntes da antiguidade que
criaram esse método e transmitiram-no a seus ancestrais. Cada pessoa
que realiza a recapitulação precisa acrescentar sua própria intenção, mas
esta intenção é simplesmente o desejo ou necessidade de fazer a
recapitulação. A intenção de seu resultado final, que é a liberdade total, foi

120
estabelecida pelos videntes da antiguidade. E como foi estabelecida
independentemente de nós, constitui uma dádiva inestimável. A
recapitulação revela-nos uma faceta crucial de nosso ser: a possibilidade
de, por um instante, pouco antes de mergulharmos em qualquer ato,
avaliar acuradamente seu resultado, nossas chances, motivações e
expectativas.
A recapitulação apresenta duas funções. Uma delas tem o sentido de
retornar às origens, de modo a reunir a totalidade do indivíduo. O outro é
que apenas assim se torna possível realizar uma "terapia" completa, de
modo que possamos atravessar o Portal da Morte com nossa consciência
liberada, sem os entraves "psicológicos" que tanto pesam na esfera da
Alma.
Não raro a presença destes traumas nos impede de possuir uma
consciência atualizada, ou seja, de viver plenamente o aqui-e-agora.
Temos mágoas de alguém, e mesmo que já tenhamos esquecido disto (até
como forma de sofrer menos), certo padrão energético termina se
impondo, gerando uma situação duradoura e uma auto-imagem que pode
se cristalizar. Nos agarramos então a este diálogo interno e ao frenesi do
trabalho ou da diversão como formas de fugir da dor, repetindo as coisas
para nos convencer delas.
Recordar experiências desse modo é revivê-las e extrair dessa
recordação um ímpeto extraordinário que é capaz de despertar a energia
dispersada dos nossos centros de vitalidade e fazê-la retornar para eles.
Os feiticeiros se referem a essa redistribuição de energia que a
recapitulação causa como obter fluidez após dar ao mar escuro da
consciência o que ele está procurando.
Para quem recapitula, fica óbvio que durante toda nossa vida
seguimos padrões comportamentais e condicionados, e isso acaba
refletindo nos nossos relacionamentos amorosos. Recapitulando, você
enxerga que mudam os personagens e cenários dos seus
relacionamentos, mas a mecânica das situações por trás das nuvens da
rotina e dos afazeres cotidianos continua muito parecida,
consequentemente trazendo também resultados muito parecidos.
Quando criança, freqüentemente, fazemos promessas e depois
ficamos presos a elas, embora não consigamos mais nos lembrar de que
as fizemos. Tais compromissos impulsivos podem custar-nos a liberdade.
Às vezes somos limitados pela devoção infantil desarrazoada ou por votos
de amor eterno e imortal. Existem momentos na vida de cada pessoa,
sobretudo na tenra infância, nos quais queremos tanto alguma coisa que
automaticamente fixamos toda nossa intenção nesse alvo que, uma vez
fixado, permanece o mesmo até realizarmos nosso desejo. Esses votos,

121
juramentos e promessas aprisionam nossa intenção de tal modo que, a
partir deles, nossos atos, sentimentos e pensamentos são
sistematicamente direcionados para a realização ou manutenção desses
compromissos, não importa se lembramos ou não que os fizemos.
Portanto, reveja, durante a recapitulação, todas as promessas que já
tenha feito em sua vida, especialmente aquelas feitas às pressas, fruto do
desconhecimento ou de julgamento errôneo, pois, a menos que retire suas
intenção das mesmas, esta intenção jamais poderia surgir para expressar-
se livremente no presente. Você só tem tempo para lutar pela liberdade, o
agora é agora.
A consciência obtém integridade e soberania através do controle
sobre a situações antigas da vida, que saem das sombras e são
corajosamente enfrentadas e "depuradas". Assim, podemos tratar de
absorver os fios de energia conjuntamente, visualizando a energia
invocada retornando pelos fios que nos conectam às coisas e às pessoas.
No treinamento tolteca a recapitulação é feita em duas etapas. Na
primeira se faz um "breve relato de todos os incidentes da nossa vida, que
se apresentam, de uma maneira óbvia para exame. O segundo estágio é
uma recordação mais detalhada, e deve chegar até o nascimento". Dizem
que um dos principais sinais de que a liberação é feita, é a capacidade de
rir-se de tudo o que nos ocorreu.
A fim de conseguir isto, é importante a concentração. E esta tem sido
obtida pelos videntes através de uma dupla metodologia: redução da área
dos sentidos e uma respiração especial. Ao mesmo tempo, pratica-se
técnicas respiratórios que auxiliam a recordação. A recordação está
inserida num processo de recuperação de energias pessoais e de
depuração de energias alheias, feita através da respiração.
A técnica da recapitulação está inserida na arte da espreita, sendo
uma de suas três práticas básicas, que inclui a respiração e a lista de
elementos para recordar. Outra das técnicas mais empregadas para
despertar a memória é simplesmente caminhar. Os xamas toltecas diziam
que "caminhar precipita as recordações”.
Para os xamãs a memória é pois um importante reservatório de
energias. Eles praticam a recapitulação de seus atos como um meio de
obter a integridade de suas energias. A Psicologia também aponta nesta
direção quando analisa a teoria dos "complexos", vistos como situações
traumáticas arraigadas no subconsciente do indivíduo, impedindo a
fluência da energia pessoal de forma construtiva. Segue mais ou menos
nesta linha a recompilação de acontecimento memoráveis que todo o
xamã deve realizar, como uma espécie de síntese da sua existência.

122
Uma vez que o praticante olhe sua própria vida da maneira
distanciada que a recapitulação exige, não existe mais a possibilidade de
voltar à mesma vida. Nosso inimigo e ao mesmo tempo nosso amigo é o
nosso diálogo interno, nosso inventário. Desligue seu diálogo interno, faça
seu inventário e depois atire-o fora. Sem o inventário, o ponto de
aglutinação torna-se livre.
Portanto, recapitular não é lidar com algo que já passou, mas sim
com algo que está operando de forma contundente e comumente
inevitável a cada momento de nossa vida presente. Aqui e agora cada
pessoa está ligada a outras pessoas, a inúmeros lugares, objetos e
situações que não são vistas a olho nu. Todos esses laços são, na
verdade, filamentos de nossa própria luminosidade que deixamos
enganchados ao longo de nossas vidas. É por isso que quando queremos
mudar, tentar ou empreender algo realmente novo, não podemos.
Arrastamos todos esses filamentos em forma de gancho como um peso
enorme que nos mantém fixos em nossas velhas rotinas, nosso antigo
modo de vida. As pessoas com quem interajo mudam, mas os eventos se
repetem.
Do exposto segue-se que a recapitulação é também uma porta de
libertação. Se eu puder saber. diretamente, sem interpretações, como meu
ego se formou, de quais coisas eu abandonei, quais promessas do
passado eu arrasto secretamente, como é que cheguei a acreditar que
sou, no que acredito que sou; se consigo perceber que meu ego é
realmente a descrição que elaborei em etapas passadas de minha vida e
que, portanto, não é tão real ou tão definitivo quanto sempre acreditei;
então, isso significa que sou capaz de mudar, que não sou condenado por
essa história crua que chamo de meu passado. Tecnicamente, isso
significa que se eu sei quais são as rotinas estruturais da minha vida,
então tenho as informações necessárias para estabelecer os não-fazeres
mais adequados para desestruturá-los, para apagar minha história
pessoal. Eu posso escolher como ser e como viver. Eu posso escolher em
que tipo de mundo viver. Posso abandonar a repetição e o tédio para
escolher magia, maravilha e alegria.
Quando o índio conta ao Vovô Fogo a história de sua vida, ele está
praticando uma forma simples, porém profunda de recapitulação, e é que a
recontagem que ele faz em voz alta antes do jogo ritual não é
simplesmente uma recontagem intelectual de memórias comuns, mas que
uma todo o fluxo de sentimentos brota através de suas palavras,
permitindo-lhe conectar e reviver a essência do que ele dá —como
oferenda— ao fogo no momento de falar com ele. Isso também é uma
prova de que a importância das experiências passadas como elementos

123
influenciadores em nossa vida atual está presente há muito tempo na
consciência humana.
Trabalhar o passado e até mesmo a ideia de reviver ou relembrar o
passado como uma fase do processo de cura são aspectos presentes em
muitas e variadas práticas terapêuticas: da bioenergética à hipnose, da
terapia corporal à psicanálise ortodoxa, e da terapia às práticas espirituais
de diferentes povos indígenas. No entanto, o termo recapitulação,
associado à prática sistemática de nos curarmos de danos passados, foi
introduzido pela primeira vez em 1982 por Carlos Castañeda em seu livro
O Presente da Águia.
Ao longo de nossas vidas, nas muitas interações que temos com
outros seres humanos, experimentamos momentos dolorosos quando
perdemos porções inteiras de nossa luminosidade. Particularmente em
situações em que ocorre uma forte troca emocional, experimentamos uma
grande perda de energia, partes inteiras de nós mesmos caem no
esquecimento. Depois de tais eventos, nunca mais nos sentimos
completos, secretamente sentimos que algo está faltando, mesmo que
estejamos incapaz de entender o que nas palavras de Dom Juan, diríamos
que em tais situações, o ovo luminoso do indivíduo forma "buracos" que
serão ao longo de sua vida pontos pelos quais ele continuará drenando e
desperdiçando energia, além de prejudicar seu equilíbrio e poder. E é bem
verdade que essas lacunas de energia liberada funcionam como uma
drenagem constante, que se expressa na vida das pessoas comuns na
tendência repetitiva de continuar executando as ações desgastantes que
começaram a partir da experiência dolorosa de uma forte dor emocional,
ou seja, da formação de um desses buracos. A recapitulação permite a
recuperação da energia perdida ao longo do caminho.
A recapitulação retira os filamentos de energia de sua rede etérica,
os quais se perderam ou emaranharam em conseqüência de sua vida
cotidiana. Concentrando-se nessa interação, você está trazendo de volta
tudo que dispersou ao longo dos anos e em milhares de lugares.
Mas assim como deixamos fiapos de energia nos quais
permanecemos presos a momentos, lugares e situações do passado,
também outras pessoas deixaram parte de seu ser em nós. Eles deixaram
sua marca em nós e com sua marca podem usurpar nosso tempo e
espaço, não importa se estão perto ou longe, vivos ou mortos. É por isso
que em muitas situações não sou eu mesmo, mas outra pessoa. Sou meu
pai, minha mãe, meu professor de infância, meu melhor amigo de outrora,
meu ex-amante ou outra pessoa. Assim como perdi partes do meu ser,
carrego comigo partes que me são estranhas e que me impedem de viver
plenamente. Dom Juan disse que filamentos estranhos (de luminosidade)

124
são a base de nossa capacidade de nos sentirmos importantes. O
desprendimento desses fragmentos secretamente incorporados ao nosso
ser também se realiza com a recapitualação.
O exercício da recapitulação sobre a consciência tem dois efeitos
principais: de imediato, corta nosso diálogo interno. Quando um guerreiro
consegue parar seu diálogo está estreitando relações com sua energia.
Isso o libera da obrigação da memória e da carga dos sentimentos, e deixa
um resíduo energético que pode ser investido no aumento das fronteiras
da percepção. O guerreiro começa a apreciar a coisa genuína, não a
interpretação. Pela primeira vez, faz contato com o consenso dos bruxos
que é a descrição de uma realidade inconcebivelmente integrada. É
normal que um guerreiro nesta fase ria à toa, porque a energia provê
alegria. Graças à recapitulação, está contente, transbordante, salta como
um menino. Por outro lado, começa a ser uma pessoa temível, já que, ao
ter intacta sua luminosidade e sua vida limpa, as decisões já não serão um
obstáculo para ele. Outro efeito da recapitulação é que funciona como um
convite ao espírito para que venha e faça morada conosco. Dito em outros
termos, relembrar nosso passado é o método mais efetivo para unificar os
corpos físico e energético que estiveram separados durante anos. O bruxo
que logra recompactar o mais grosso de sua energia está em condições de
se propor uma proeza perceptual: intentar uma cópia de sua experiência
vital para enganar a morte. "Tal é o objetivo final da recapitulação: criar um
duplo e se preparar para ir. Não é necessário ser um bruxo para entender
a importância de tudo isso. Morrer em dívida é uma forma lamentável de
morrer.
A luta dos bruxos é heróica. Ao recapitular impecavelmente o
conteúdo de suas vidas, eles apanham as fibras que drenaram sua
atenção e devolvem para aqueles que conheceram toda a atenção que
estes lhes deram. Desse modo, eles chegam a um equilíbrio que lhes
permite partir com toda sua consciência. Suas recordações, coerentes,
polidas e integradas, funcionam como um ser independente que servirá
como um ingresso em troca da consciência.
Espreitar a si mesmo é limpar o elo.
Um feiticeiro sabe que se não formos atrás de nossos fantasmas,
eles virão atrás de nós. Por isso ele não deixa nada por resolver. Ele
reconta seu passado, procura a junção mágica - o momento exato em que
ele se envolveu no destino de alguém - e aplica toda a sua concentração
nesse ponto, e desata os nós da intenção. Os feiticeiros dizem que
vivemos nossa vida à distância, como se fosse uma lembrança. Passamos
a vida fisgados, feridos por algo que aconteceu há trinta anos e
carregando um fardo que não faz mais sentido. Os compromissos

125
emocionais que fazemos com as pessoas são como investimentos que
fizemos ao longo do caminho. Devemos ser completamente loucos para
deixar nossa herança jogada fora assim!
A única maneira de nos tornarmos completos novamente é
retomando esse investimento, reconciliando-nos com nossa energia e
dissipando o pesado fardo dos sentimentos. O melhor método que os
feiticeiros descobriram para isso é lembrar os eventos de nossa história
pessoal até nós os digerimos completamente. A recapitulação tira você do
passado e o insere no agora.
Recapitular é perseguir nossas rotinas, submetendo-as a um
escrutínio sistemático e impiedoso. Recapitular é um ato elementar de
higiene interior. Ao ser pressionado pela cadeia de decisões que tomou
durante sua vida, ele não consegue mais agir de forma deliberada e fica
enredado nas circunstâncias.
Recapitular consiste em fazer uma lista de feridas causadas por
nossas interações. O próximo passo é viajar de volta ao momento em que
os eventos aconteceram, a fim de reabsorver o que nos pertence e
devolver o que pertence aos outros.
A recapitulação consiste em fazer uma lista de todas as pessoas que
conheceu, desde o presente até o início da sua vida. Uma vez feita essa
lista, pegue a primeira pessoa da lista e lembra-se de tudo o que puder
sobre a pessoa.
Lembre de tudo, de cada detalhe. Após apegue tudo o que recordou.
Torne-se limpo da sua história pessoal e de seu passado. Não tenho
história pessoal. Um dia descobri que a história pessoal não me era mais
necessária, eu a deixei de lado.
O guerreiro começa a rebobinar seu dia. Ele reconstrói conversas,
decifra significados, lembra rostos e nomes, procura sombras e
insinuações, disseca suas próprias reações emocionais e as dos outros.
Não deixa nada ao acaso, agarra as memórias do dia um por um e os
limpa através de sua respiração.
Os guerreiros recapitulam quando estão andando pela rua, no
banheiro, quando trabalham ou quando comem; sempre que possível! O
importante é fazê-lo. Ele também examina capítulos inteiros e categorias
de sua vida. Por exemplo, parceiros que teve, casas em que morou,
escolas, locais de trabalho, amigos e inimigos, brigas e momentos felizes,
e assim por diante. O ideal é atacar atarefa em ordem cronológica, desde
a memória mais recente até a mais distante que se possa evocar, mas no
início é mais fácil fazê-lo por tópicos.
Uma forma de exercício muito proveitosa, acessível a todos nós, é a
recapitulação fortuita. Se você pensar sobre isso, estamos constantemente

126
recapitulando. Todas as memórias que se conformam ao nosso diálogo
interno podem ser chamadas assim. No entanto, nós os evocamos de
forma involuntária. Em vez de persegui-los em silêncio, julgamos e
interagimos com eles visceralmente. Isso é lamentável. Um guerreiro
aproveita a oportunidade, porque essas memórias, aparentemente
aleatórias, são avisos do nosso lado silencioso.
Uma vez que localizamos um evento e recriamos cada uma de suas
partes, temos que inspirar para recuperar a energia que deixamos para
trás e expirar fibras que outros depositaram em nós. Respirar é mágico,
porque é uma função que dá vida. Inspire quando tentar recuperar alguma
coisa e sopre de volta tudo o que não lhe pertence. Se você fizer isso com
a totalidade de sua história, deixará de viver enredado em uma cadeia de
memórias e, em vez disso, ficará focado no presente. Os videntes
descrevem esse efeito como encarar os fatos como eles são, ou ver o
tempo objetivamente.
Sustentou que, em essência, recapitular consiste em fazer uma lista
das feridas causadas por nossas interações. O passo seguinte é viajar de
retorno ao momento quando aconteceram os fatos para absorver de volta
o que nos pertence e devolver o alheio.
A recapitulação é uma forma especializada de perseguição e deve
ser feita com alto senso de estratégia. Trata-se de compreender e colocar
em ordem a nossa existência, vendo-a como ela é, sem remorsos,
reprovações ou felicitações, com total indiferença e em um espírito de
fluidez, até de humor, porque nada na nossa história é mais importante do
que qualquer outra coisa, e todas as relações, no fundo, são efêmeras.
Nunca é tarde afirmou. Enquanto nós estivermos vivos, sempre há
um modo de conquistar qualquer tipo de bloqueio. O melhor modo para
recuperar as fibras luminosas que temos dissipado é chamando de
regresso à nossa energia. A parte mais importante é dar o primeiro passo.
Para esses que estão interessados na economia e recuperação da
energia, o único caminho aberto é a recapitulação. Os bruxos dizem que
levamos nossa existência à distância de uma lembrança. Passamos a vida
enganchados, doídos por algo que aconteceu trinta anos atrás e
carregando um fardo que já não faz sentido: Não o perdôo, gritamos. Mas
não é correto, pois o que nós não perdoamos é a nós mesmos.
Os compromissos emocionais que contraímos com as pessoas são
como investimentos feitos ao longo do caminho. É preciso ser muito
insensato para deixar nosso patrimônio jogado por aí. A única forma
através da qual podemos estar completos de novo é recolhendo esse
investimento, reconciliando-nos com nossa energia e dissipando a carga
dos sentimentos. O melhor método que os bruxos descobriram para isto, é

127
recordando os eventos de nossa história pessoal até a sua completa
digestão. A recapitulação nos ajuda a sair do passado e nos insere no
agora. Mas nós podemos recapitular; isso cancela o efeito energético
desses atos.
O importante é começar, porque a energia que recuperamos da
primeira intenção nos dará força para continuar recapitulando aspectos
cada vez mais intrincados de nossas vidas. Primeiro, é preciso partir para
os investimentos mais fortes, que são os mais sentimentos angustiantes.
Então vamos para aquelas memórias que estão enterradas tão
profundamente que pensávamos tê-las esquecido, mas elas estão lá.
No começo, recapitular pode ser um trabalho árduo, porque nossa
mente não está acostumada a essa disciplina. Mas, depois de fechar as
feridas mais dolorosas, a energia vai se reconhecer e nos tornamos
viciados no exercício, que recuperamos, nos ajuda a ganhar mais. Se não
recuperarmos a totalidade de nossa energia, nunca alcançaremos o poder
de nossas decisões; sempre haverá um ruído de fundo, um comando
estrangeiro. E sem o poder de suas decisões, um homem não é nada.
Reviver acontecimentos é o ideal, porque limpa as feridas do
passado e desobstrui qualquer congestionamento dos condutos de
energia. Dessa forma, você quebra a fixação do olhar alheio, expõe os
padrões de comportamento das pessoas, e nada pode prendê-lo
novamente. Você se torna um ser soberano; você decide o que quer fazer
de si mesmo.
Este exercício tem dois efeitos principais: O efeito imediato é que
interrompe nosso diálogo interno. Quando um guerreiro é capaz de
interromper seu diálogo, ele estreita a relação com sua energia. Isso o
libera da obrigação da memória e do fardo dos sentimentos, e deixa um
resíduo energia que ele pode investir para ampliar as fronteiras de sua
percepção.
O efeito imediato é que interrompe nosso diálogo interno. Quando
um guerreiro é capaz de interromper seu diálogo, ele estreita a relação
com sua energia. Isso o libera da obrigação da memória e do fardo dos
sentimentos, e deixa um resíduo energia que ele pode investir para ampliar
as fronteiras de sua percepção. Um guerreiro começa a apreciar a coisa
real, não a interpretação dela. Pela primeira vez, ele entra em contato com
o consenso dos feiticeiros, que é a descrição de uma realidade
inconcebivelmente integrado. A luta dos feiticeiros é heróica.
Recapitulando impecavelmente o conteúdo de suas vidas, eles recolhem
as fibras que drenaram sua atenção e devolvem àqueles que conheceram
toda a atenção que lhes deram. de equilíbrio que lhes permite partir com
toda a consciência.

128
É melhor apagar toda história pessoal porque isso nos deixaria livres
dos pensamentos estorvantes dos outros. Como posso saber o que sou,
quando sou tudo isso que existe. Deve apagar tudo em volta de si até que
nada possa ser considerado coisa sabida, até não haver nada de certo
nem de real. Seu problema agora é que você é real demais. Precisa
começar a se apagar. Comece a se apagar com as coisas simples, assim
não revela o que está fazendo. Depois deve abandonar todas as pessoas
que o conhece realmente bem. Assim, você construirá uma névoa em
torno de si.
Eu tinha de estar ciente da inutilidade de minha importância própria e
de minha história pessoal. Não tenho história pessoal e não me sinto mais
importante do que alguma outra coisa, e também porque minha morte está
sentada comigo bem aqui.
A pratica da recapitulação esvazia o guerreiro. O vazio do guerreiro
reflete o vazio do Infinito. É a ausência da história pessoal e de todo o
peso que ela traz consigo, que a recapitulação se encarregou de dissipar
no ar. É o controle do ego e da autopiedade, ambos desmascarados
depois que você recapitula suas ações e percebe suas inconsistências,
seus condicionamentos e repetições comportamentais, e não se identifica
mais com a pessoa que você foi e com as máscaras que usou
inconscientemente. A serenidade, a disciplina e a sobriedade perante os
desafios, que chegam juntos com o vazio, e tornam o guerreiro mais
eficiente e implacável, sem expectativas ou remorsos, pois as feridas já
foram fechadas. A partir do seu vazio, o guerreiro olha no espelho e não se
sente cansado, pois está inundado de vitalidade, já que recapitulando, está
recuperando sua energia que havia perdido por aí. Descansa dormindo e
sonha acordado. Sabe onde pisa, porém sempre olha para o alto. E mira o
infinito.
Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio
sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa
vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos.
Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam
como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade. A
recapitulação é a herança dos antigos videntes, a prática básica, a
essência da bruxaria. Sem ela não há nenhum caminho.
Em essência, recapitular consiste em fazer uma lista das feridas
causadas por nossas interações. O passo seguinte é viajar de retorno ao
momento quando aconteceram os fatos para absorver de volta o que nos
pertence e devolver o alheio. O guerreiro começa a rebobinar seu dia.
Reconstrói as conversações, decifra os significados, recorda os rostos e os
nomes, procura matizes, insinuações, disseca as reações emocionais

129
próprias e das outras pessoas. Não deixa nada ao acaso, agarra as
lembranças do dia uma por uma e as limpa através da respiração”.
"Também examina capítulos e categorias completas de sua vida. Por
exemplo, as namoradas que teve, as casas onde viveu, escolas, lugares
de trabalho, amigos e inimigos, brigas e momentos felizes, e assim por
diante. O ideal é atacar a tarefa por ordem cronológica, da memória mais
recente até a mais distante que for possível evocar. Mas, para começar, é
mais fácil fazê-lo por tópicos.
Uma forma muito rentável do exercício, acessível a todos nós, é a
recapitulação fortuita. Se vocês perceberem, nós estamos constantemente
recapitulando. Todas as recordações que conformam nosso diálogo
interno podem ser classificadas como tal. Porém, nós os evocamos de
forma involuntária. Em vez de os observar em silêncio, nós os julgamos,
interagimos visceralmente com eles. Isso é lamentável. Um guerreiro tira
proveito da oportunidade, porque essas recordações, aparentemente ao
acaso, são avisos de nosso lado silencioso". Mostrou que para recapitular
não são necessárias condições especiais. A pessoa pode tentar o
exercício em qualquer momento e lugar em que se sinta animado a fazê-
lo. "Os guerreiros recapitulam quando vão caminhando, no banheiro, ao
trabalhar ou ao comer, quando for possível! O importante é fazê-lo.
Uma vez que localizamos um evento e recriamos cada uma de suas
partes, é necessário inalar para recuperar a energia que deixamos para
trás e exalar as fibras que os outros depositaram em nós. A respiração é
mágica porque é uma função que dá a vida.
PRÁTICA: RECUPERANDO A ENERGIA PERDIDA.
Essa Energia Da Expressão Individual É Também Chamada De
Luminosidade. É A Mesma Energia Que A Energia Sexual, E A Única
Energia Que Podemos Acumular, De Modo Geral, Nas Fibras Internas Do
Casulo Luminoso. A Recapitulação Pode Ser Feita, Em Amplo Sentido,
Para Recuperar A Energia Que Foi Investida E Não Retornou.
Em suma, os Atos de Recapitulação recontam os julgamentos a nós
e a nossa energia de expressão individual. Invocamos a posição de
testemunha, de observação desses julgamentos e queimamos a ilusão
mortal que impedia a Visão desse emaranhado. A recapitulação deve ter a
intenção sincera de que a energia seja retomada, pois, o intento de
retomar a luminosidade pra si, já desencadeia eventos para que isso
aconteça.
Recapitule com a força do seu intento, procurando ocasiões em que
de alguma maneira você investiu energia e ela não foi retornada pra você.
Caso tenha dificuldades de encontrar momentos que teve perdas
energéticas crie cenários do seu passado. Como por exemplo o quarto

130
onde dormia quando era criança. As situações recriadas estimulam que as
memórias venham sozinhas para ser revividas. Examine seu
comportamento individual e perceba se ele encoraja a repetição desses
eventos debilitantes e então busque cortá los, para assim retornar a
energia dissipada…
1. Examine as áreas de sua vida onde você investiu energia que
deveria ter finalmente sido retornada para você e não foi. Exemplos podem
ser pais disfuncionais que continuam dando sua energia em abusivos
modos, ou a um filho quem você não pode parar de tratar como bebê.
2. Realize uma minuciosa recapitulação de pessoa ou pessoas sem
informá-las que você o está fazendo.
3. Examine algum comportamento de seu encorajamento a individual
repetição desses eventos debilitantes, os suspenda. Isso soltará as fibras
de conexão deles com você nas formas indesejáveis. As fibras murcharão
e a definhará da energia individual que eles estiveram utilizando.
A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês
devem empreender isto com um alto sentido de estratégia. Trata-se de
entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem
remorsos, repreensões ou felicitações, com desapego total e um ânimo
leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que
nada e todas as relações, afinal, são efêmeras. O importante é começar,
porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará
forças para continuar recapitulando aspectos mais e mais intrincados de
nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais forte
que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por aquelas
memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas que
estão ali. No princípio, recapitular pode nos dar algum trabalho, porque
nossa mente não está acostumada à disciplina. Mas, depois de fechar as
feridas mais dolorosas, a energia se reconhece a si mesma e nós vamos
ficando viciados no exercício. Dessa maneira, cada partícula de luz que
recuperamos nos ajuda a ganhar mais. No momento em que vocês se
disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias
pessoais, estarão dando o passo decisivo.
Se nós não recuperarmos a totalidade de nossa energia, nunca
chegaremos ao poder de nossas decisões; sempre haverá um ruído de
fundo, um comando estrangeiro ali. E sem o poder de suas decisões um
homem não é nada. Atualizar os eventos é o ideal porque limpa as feridas
do passado e descongestiona os canais energéticos. Desse modo, você
rompe a fixação do olhar alheio, desmascara os padrões do
comportamento das pessoas e já nada pode te enganchar novamente.
Você se torna um ser soberano; decide o que fazer de você mesmo.

131
De acordo com o que Dom Juan ensinava a seus discípulos, a
recapitulação era uma técnica descoberta pelos feiticeiros do antigo
México e usada por todos os xamãs praticantes dali por diante, de
examinar e reviver todas as experiências de suas vidas para alcançar dois
objetivos transcendentais: o objetivo abstrato de cumprir um código
universal que exige que a consciência seja abandonada no momento da
morte e o objetivo extremamente pragmático de adquirir fluidez perceptiva.
Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan acreditavam que recapitular
significava dar ao mar escuro da consciência o que ele estava buscando:
as suas experiências de vida. Entretanto acreditavam que, através da
recapitulação, poderiam adquirir um grau de controle que lhes permitiria
separar as experiências de vida da sua força vital.
Recordar experiências desse modo é revivê-las e extrair dessa
recordação um ímpeto extraordinário que é capaz de despertar a energia
dispersada dos nossos centros de vitalidade e fazê-la retornar para eles.
Os feiticeiros se referem a essa redistribuição de energia que a
recapitulação causa como obter fluidez após dar ao mar escuro da
consciência o que ele está procurando. Os feiticeiros acreditam que o
mistério da recapitulação reside no ato de inalar e exalar. Uma vez que a
respiração é uma função de manutenção da vida, os feiticeiros têm certeza
de que através dela a pessoa também pode entregar ao mar escuro da
consciência o fac-símile das suas experiências de vida.
Os feiticeiros acreditam - Dom Juan continuou - que à medida que
recapitulamos as nossas vidas, todo o entulho, como lhe disse, chega à
superfície e o eliminamos. Percebemos as nossas inconsistências, nossas
repetições, mas algo em nós coloca uma tremenda resistência para
recapitularmos. Os feiticeiros dizem que o caminho fica livre somente
depois de uma revolução gigantesca, depois de aparecer na nossa tela da
memória um evento que mexe com as nossas bases com uma clareza de
detalhes aterrorizadora. É o evento que nos arrasta para o momento exato
em que o vivemos. Os feiticeiros chamam aquele evento de condutor,
porque daí em diante cada evento que mencionamos é revivido, não
meramente lembrado. Caminhar é sempre algo que precipita as memórias.
Você começou a recapitulação de sua vida; olhou para seus amigos
pela primeira vez como se estivessem numa vitrine; chegou ao seu ponto
de ruptura, completamente sozinho, levado pelas suas próprias
necessidades; se desfez do seu negócio; e acima de tudo acumulou
suficiente silêncio interior.
Morrer várias vezes em vida é uma metáfora que os xamãs usam
para ilustrar o processo de mudança que todo guerreiro tem de fazer para
seguir no caminho do conhecimento. Cada ciclo que se rompe, cada etapa

132
transposta, cada época que fica, cada mudança monumental e
transcendental de conduta, hábitos, valores, comportamentos e visão de
realidade é uma morte pessoal. É como se você nascesse de novo, como
se tivesse mais uma chance , agora com mais visão de jogo. Podemos
dizer que é uma nova vida. Você abandona as suas velhas convicções,
comportamentos nocivos e inadequados, pessoas que te atrasam e parte
para o novo. Sem garantias de nada. As vezes morremos
conscientemente, intencionando uma mudança, e outras vezes, quando
estamos muito cegos e burros, a vida se encarrega de encerrar alguns
ciclos pra nós, muitas vezes de forma dolorosa, mas necessária.
Recapitulando e desapegando, você deixa toda a tralha que acumulou pra
trás e sai andando, rumo ao sol. Economizando e redirecionando sua
energia. Sendo mais impecável, dia após dia. Livre, desimpedido, sem
expectativas, sem anseios de sucesso, sem medo do fracasso, sem
cultuar o "eu", e com uma segurança profunda e inabalável que está no
seu caminho com coração. Com vontade, dessa vez. Mais vontade. Mais
fome. Somente quando perdemos tudo, ficamos corajosos, pois não temos
nada a defender. Quando perdemos tudo, já estamos mortos. Se sabemos
que todos vamos morrer um dia, o que mais há para se temer? O pior já
aconteceu. Tomamos consciência de nossa transitoriedade e efemeridade
aqui, e sentimos que não temos tempo a perder. Mas não se engane.
Podemos morrer metaforicamente várias vezes na vida, mas uma hora
morreremos de fato. Então, não ache que vai poder mudar mil vezes na
vida, até ser o que sempre quis ser. Não temos tempo. Tudo pode acabar
num piscar de olhos. A vida é um breve sopro no ar. Mude logo tudo que
tem de mudar. Faça o serviço rápido e limpo. Deixe a autopiedade e a
procrastinação de lado e faça sua vontade fazer a balança pender.
Podemos cortar qualquer coisa de nossas vidas num estalar de dedos, nós
é que não nos damos conta disso e complicamos tudo. Em nenhum
momento seja uma folha a mercê do vento. Tome decisões. Planeje. Aja.
Caminhe, sem olhar pra trás. Morra. Sem pena de si mesmo. Implacável.
Mas faça isso já. E renasça em vida para uma existência cheia até a
borda, pautada pela sobriedade, pela intenção e pelo poder pessoal. Para
um guerreiro, só o agora é real.
A recapitulação é o forte dos espreitadores, e sua prática esvazia o
guerreiro. O vazio do guerreiro reflete o vazio do Infinito. É a ausência da
história pessoal e de todo o peso que ela traz consigo, que a recapitulação
se encarregou de dissipar no ar. É o controle do ego e da autopiedade,
ambos desmascarados depois que você recapitula suas ações e percebe
suas inconsistências, seus condicionamentos e repetições
comportamentais, e não se identifica mais com a pessoa que você foi e

133
com as máscaras que usou inconscientemente. A serenidade, a disciplina
e a sobriedade perante os desafios, que chegam juntos com o vazio, e
tornam o guerreiro mais eficiente e implacável, sem expectativas ou
remorsos, pois as feridas já foram fechadas. A agradável solidão de quem
sabe que nunca está sozinho, pois está sempre em casa, neste lindo e
perigoso planetinha, alcançando a totalidade de si mesmo. O espaço que,
por estar sempre vazio, está sempre pronto a receber novas experiências,
sentimentos e percepções. A partir do seu vazio, o guerreiro está quase
sempre com a cabeça nas nuvens e os pés no chão. Se olha no espelho e
não se sente cansado, pois está inundado de vitalidade, já que
recapitulando, está recuperando sua energia que havia perdido por aí.
Descansa dormindo e sonha acordado. Sabe onde pisa, porém sempre
olha para o alto. E mira o infinito!

O silêncio interior

Toda a raça humana mantém um determinado nível de função e


eficácia através do diálogo interno. Realizando o oposto do diálogo interno,
isto é, o silêncio interior, o praticante pode romper a fixação do seu ponto
de aglutinação adquirindo assim uma extraordinária fluidez de percepção.
Mudar nossa idéia sobre o que é o mundo é o ponto crucial do
xamanismo. E parar o diálogo interno é o único meio de conseguir isso.
O diálogo interno é o que prende as pessoas no mundo cotidiano. O
mundo é assim e assado, desta ou daquela maneira, só porque dizemos a
nós mesmos que ele é assim e assado, desta ou daquela maneira.
Quando o guerreiro aprende a parar o diálogo interno, tudo se torna
possível; as coisas mais difíceis podem ser alcançadas.
Se você for mais além de nosso mundo, verá que é a mesma coisa.
O universo não é razoável, mas pode ser enfrentado com energia e
sensatez. Quando você aprender a usá-lo, então você o entenderá de um
modo básico, sem palavras. Quem precisa de palavras quando se trata de
testemunhar?
Pela primeira vez em minha vida tive o conhecimento de um
dualismo em mim. Duas partes separadas estão dentro do meu ser. Uma é
muito velha, à vontade, indiferente. É pesada, escura, e conectada a tudo
mais. É a parte de mim que não se importa, porque é igual a qualquer
coisa. Desfruta das coisas sem expectativa. A outra parte é leve, nova,
agitada. É nervosa, rápida, preocupa-se consigo mesma, incapaz de
concentrar-se em qualquer coisa, está só e vive na superfície, é a parte
pela qual a gente olha para o mundo. O lado mais velho, escuro, silencioso
é a visão dos antecedentes da razão.

134
A parte mais velha do homem é chamada de conhecimento
silencioso. É um conhecimento ao qual ainda não conseguimos dar voz.
Para localizar o conhecimento escuro e silencioso é necessário uma
quantidade enorme de energia. O conhecimento silencioso é algo que
todos nós temos, mas perdemos a visão desse saber. Esse conhecimento
silencioso é o intento, o espírito, o abstrato. O homem renunciou o
conhecimento silencioso pelo mundo da razão. Quanto mais se agarra ao
mundo da razão, tanto mais efêmero se torna o intento. O conhecimento
silencioso é uma posição geral do ponto de aglutinação, que eras atrás
havia sido a posição normal do homem, mas que por razões que seriam
impossíveis de determinar, o ponto de aglutinação do homem moveu-se
daquela localização específica e adotou uma nova, chamada razão.
Cada ser humano tem duas mentes. Uma é totalmente nossa, e é
como uma voz fraca que sempre nos traz ordem, integridade, propósito. A
outra mente é uma instalação forânea. Nos traz conflito, auto-estima,
dúvidas, desesperança. Nossas mesquinharias e contradições, na
verdade, são os resultados de um conflito transcendental que aflige cada
um de nós, mas que somente os feiticeiros são dolorosa e
irremediavelmente conscientes deles: o conflito entre as nossas duas
mentes. Uma mente é a nossa verdadeira mente, o produto de todas as
experiências de nossa vida, aquela que raramente fala porque foi vencida
e relegada a obscuridade. A outra, a mente que nós usamos diariamente
para tudo o que fazemos, é uma instalação forânea.
A passagem para o mundo dos feiticeiros se abre depois que o
guerreiro aprende a parar o diálogo interno. Modificar nossa concepção do
mundo é o ponto nevrálgico da feitiçaria. E parar o diálogo interno é o
único meio de conseguir isso. O resto é só enchimento. Agora você está
em condição de saber que nada do que você viu ou fez, com a exceção de
ter parado o diálogo interno, poderia por si só ter modificado alguma coisa
em você, ou em sua concepção do mundo. A condição, naturalmente, é
que essa modificação não seja perturbada. Desligar o diálogo interno é a
chave do mundo dos feiticeiros. As outras atividades são meros auxílios;
só o que fazem é acelerar o efeito de desligar o diálogo interno.
O diálogo interno é o que nos prende à Terra. O mundo é isso e
aquilo somente porque falamos conosco dizendo que ele é isso e aquilo.
Relaxe, deixe o diálogo interno cessar. A maneira de parar de
conversar com nós mesmos é usar exatamente o mesmo método:
precisamos exercer nossa vontade, precisamos ter esta intenção.
A suspensão do diálogo interno – o eterno companheiro dos
pensamentos – significa um estado de profunda quietude. Um estado

135
especial de ser, em que pensamentos são cancelados e pode-se funcionar
a partir de outro nível que não o da consciência cotidiana.
Os antigos feiticeiros chamavam esse estado de silêncio interior,
porque é o estado em que a percepção não depende dos sentidos. O que
está funcionando durante o silêncio interior é outra faculdade que o
homem tem, a faculdade que o torna um ser mágico.
Silêncio interior é a postura, na qual tudo deriva, na feitiçaria. O
silêncio interior se acumula, aumenta. É necessário construir um núcleo de
silêncio interior e depois adicionar a ele, segundo por segundo, em cada
ocasião que o praticar. O ponto mais importante é alcançar o silêncio
interior, abolir a hegemonia da mente como método para encontrar
liberdade. Quando você alcançar oito ou dez segundos de silêncio, as
coisas irão se tornar interessantes. A ideia é acumular silêncio segundo
por segundo.
Em sua luta por alcançar o silêncio, o guerreiro passa por diferentes
etapas: A primeira, é quando decide deixar de falar; para o homem
moderno é quase impossível conceber que alguém possa deixar de falar.
A verdade é que o falatório cotidiano, mais a necessidade de participação
e protagonismo, são o maior obstáculo para alcançar o silêncio real. Uma
vez que se consiga calar à boca, vem a luta pelo silêncio mental, porque a
mente segue tagarelando ainda quando não se fala. Quando já não há
palavras, o desafio que se segue é observar as imagens ou ideias que
aparecem em sua mente, mas entenda bem,
sem explicá-las, justificá-las ou condená-las; na verdade, sem pensar
nelas em absoluto. Isso se sente como um fluir no aqui e agora. Quando
se alcança isso, só resta esperar. Em algum momento, e sem que o
intelecto intervenha, ou ainda a vontade pessoal, o verdadeiro silêncio
chega.
O silêncio interior funciona a partir do momento que você começa a
acumulá-lo. O que os feiticeiros antigos pretendiam era o dramático
resultado final de atingir aquele limiar individual de silêncio. Alguns
praticantes muito talentosos precisam somente de alguns minutos de
silêncio para atingir a cobiçada meta. Outros, menos talentosos, precisam
de longos períodos de silêncio, talvez mais de uma hora de completa
quietude, antes de atingirem o objetivo desejado. O resultado desejado é o
que os velhos feiticeiros chamavam de parar o mundo, o momento em que
tudo à nossa volta cessa de ser o que sempre foi.
Este é o momento em que os feiticeiros voltam para a verdadeira
natureza do homem. Os feiticeiros antigos também chamavam-no de
liberdade total. É o momento em que o homem escravo torna-se um ser

136
livre, capaz de feitos de percepção que desafiam a nossa imaginação
linear.
A arte do vazio chama-se a arte da liberdade nos dias de hoje. O
termo é mais apropriado porque tal arte leva a um reinado abstrato onde a
nossa humanidade não conta. Qualquer coisa humana lá é tão
desimportante que se perde naquela vastidão. Liberdade significa ser livre
da nossa humanidade. A entrada para esse reinado onde a humanidade
não conta é o que chamamos de voo abstrato. Significa cruzar um abismo
vasto até um reinado que não pode ser descrito porque o homem não é a
medida dele. A verdade é que essa entrada está na nossa frente o tempo
inteiro, mas apenas aqueles cujas mentes estão paradas e cujos corações
estão calmos conseguem ver ou sentir sua presença.
O silêncio vem do vazio. O Nagual faz o voto de silêncio, este é o
seu intento! Alcançar as portas da percepção superior. Por isso ele parou
de falar de si, de sua vida e de suas histórias. Parou de usar o passado
como referência. Parou de dar sugestões e orientações às pessoas e
também parou de dar opiniões. Estas atitudes radicais à nível social o leva
às alturas do poder: o despertar da mente neutra. Esvaziar dos
pensamentos, sentimentos, emoções, fatos e das pessoas. Formar em si a
integralidade. Ser interior, impecável, cumprir o propósito!
O silêncio interior é o caminho que leva a uma verdadeira suspensão
do julgamento – a um momento em que a informação sensorial que emana
do universo em liberdade deixa de ser interpretada pelos sentidos; o
momento em que a cognição cessa de ser a força que, através do uso e
da repetição, decide a natureza do mundo. Parar o diálogo interno traz a
paz necessária e descansa a mente dos praticantes, e isso por sua vez
ajuda-nos a controlar os sonhos
Vou dizer-lhe a respeito de que conversamos conosco. Conversamos
sobre o nosso mundo. Na verdade, conservamos nosso mundo com
nossas conversas internas. Sempre que terminamos de falar conosco, o
mundo está sempre como devia ser. Nós o renovamos, o animamos com
vida, o mantemos com nossa conversa interna. Não só isso, mas nós
também escolhemos nossos caminhos, ao conversarmos conosco. Assim,
repetimos as mesmas escolhas várias vezes até o dia de nossa morte,
pois ficamos repetindo a mesma conversa interna toda a vida, até
morrermos. Um guerreiro sabe disso e procura parar de falar. Esse é o
último item que você tem de aprender, se quiser viver como guerreiro.
Um dos elementos fundamentais para a cessação do diálogo interno
é o uso especializado de atenção, estou me referindo à atenção ordinária,
que devido ao efeito do uso especializado e economia de energia, dá
origem à recuperação do que Dom Juan chama de Segunda Atenção.

137
Assim como a maneira comum de usarmos nossa atenção está
intimamente ligada à sustentação do nosso diálogo interno, bem como o
uso inusitado da atenção está relacionado à sua suspensão. É por isso
que, em termos gerais, os exercícios de atenção são úteis para alcançar o
silêncio e os exercícios para alcançar o silêncio são úteis como exercícios
de atenção, sendo muito difícil determinar qualquer fronteira entre um e
outro. Portanto, qualquer prática que desvie nossa atenção da conversa
interna tende a suspender o diálogo se for mantido por tempo suficiente.
Isto é, se você não prestar atenção a isso, a mente fica silenciosa. De fato,
quase todos os exercícios para interromper o diálogo têm o
redirecionamento da atenção como elemento-chave.
Um guerreiro sabe que o mundo se modifica assim que ele pára de
conversar consigo, e deve estar preparado para esse abalo monumental.
O mundo é assim e assado, e tal e tal, só porque nos dizemos que é dessa
maneira. Se pararmos de nos dizer que o mundo é tal e tal, o mundo
deixará de ser tal e tal. Neste momento, não creio que você esteja pronto
para esse golpe monumental, e, portanto, deve começar lentamente a
desfazer o mundo.
A vida para um guerreiro é um exercício de estratégia. Mas você
quer descobrir o significado da vida. Um guerreiro não se importa com
significados.
Tente imaginar a si mesmo como um grande depósito de memórias.
Nesse depósito, alguém que não é você depositou sentimentos, ideias,
diálogos mentais e padrões de comportamento lá. Já que é o seu depósito,
você pode ir lá e vasculhar a hora que quiser. Pode também pegar e usar
qualquer coisa que achar lá. O problema é que você não tem nenhum
poder de decisão em cima do inventário, pois ele já estava preparado
antes de você possuir o depósito. Por isso, você está drasticamente
limitado na seleção de itens. Nossas vidas só parecem uma linha
ininterrupta de tempo porque nos nossos depósitos o inventário nunca
muda. A não ser que esvaziemos o depósito, não há outra forma de
sermos o que realmente somos. Quantos mais itens você jogar fora, mais
abre espaço para outras coisas. Tudo tem uma forma, mas além da forma
externa, existe uma consciência interna que comanda as coisas. Essa
consciência silenciosa é o abstrato, ou espírito. É uma força universal que
se manifesta diferentemente em coisas diferentes. Essa energia se
comunica conosco. É como se fosse um sentimento, ou talvez uma ideia
que de repente surge na cabeça. Às vezes pode ser uma enorme saudade
para ir a algum lugar vagamente familiar, ou uma saudade de fazer algo
vagamente familiar.

138
A voz do espírito é uma abstração que nada tem a ver com vozes, e,
no entanto, de vez em quando podemos ouvir vozes. Ela não é guardiã de
ninguém. É uma força abstrata, nem boa nem má. Uma força que não tem
o menor interesse em nós, mas que de qualquer modo responde ao nosso
poder — não às nossas “orações”, mas ao nosso poder. A voz do espírito
vem de lugar algum. Ela vem das profundezas do silêncio; do reinado do
“não ser”.
Só o que posso lhe dizer é que um guerreiro nunca está disponível;
nunca fica esperando na estrada, aguardando para ser massacrado.
Assim, ele reduz ao mínimo suas probabilidades de imprevisto. O que você
chama de acidentes são, na maioria das vezes, muito fáceis de se evitar, a
não ser no caso de tolos que vivem de qualquer maneira.
O silêncio é uma passagem entre mundos. Quando nossa mente fica
em silêncio, aspectos incríveis de nosso ser emergem. A partir desse
momento, uma pessoa se torna um veículo de intenção, e todos os seus
atos começam a exalar poder. A chave para a feitiçaria é o silêncio!
Os feiticeiros precisam do ponto de ruptura para que o
funcionamento do silêncio interior comece. Como já lhe contei antes, todos
os feiticeiros que conheço, homens ou mulheres, mais cedo ou mais tarde
chegam ao ponto de ruptura em suas vidas. O que eu quero dizer é que
em um dado momento a continuidade de suas vidas tem de se quebrar
para que o silêncio interior comece e se torne uma parte ativa de suas
estruturas.
O ponto de ruptura é interromper a sua vida como você a conhece.
Deve deixar seus amigos, deve dizer adeus a eles para sempre. Não é
possível continuar no caminho dos guerreiros levando sua história pessoal
com você. O Nagual só tem um ponto de referência: o infinito.
Não quero que seu corpo morra fisicamente. Quero que sua pessoa
morra. Sua pessoa é a sua mente. O critério que indica que um feiticeiro
está morto é quando não faz diferença para ele se tem companhia ou se
está só.
É muito, muito, importante que você mesmo deliberadamente chegue
a esse ponto de ruptura, ou que você o crie artificial e inteligentemente. O
seu ponto de ruptura é interromper a sua vida como você a conhece. Faça
seu ponto de aglutinação se mover na direção do lugar do conhecimento
silencioso. Mover o ponto de aglutinação é tudo, mas não significa nada se
não for um movimento sóbrio e controlado. Portanto, feche a porta da auto-
reflexão. Seja impecável e terá a energia para atingir o lugar do
conhecimento silencioso.
O silêncio interior não é apenas a ausência de pensamentos. Pelo
contrário, trata-se de suspender o julgamento, testemunhar sem

139
interpretar. Ele sustentava que entrar em silêncio poderia ser definido, da
maneira tipicamente contraditória dos feiticeiros, como aprender 'como
pensar sem palavras. Desconecte a mente! A liberdade é alcançada sem
pensar. Conheço pessoas que conseguiram interromper seu diálogo
interno, e não interpretam mais, são pura percepção; nunca se
decepcionam ou se arrependem, porque tudo o que fazem parte do centro
das decisões. Aprenderam a lidar com a mente em termos de autoridade,
e eles vivem no estado mais autêntico de liberdade.
O silêncio começa com um comando, um ato de vontade. A técnica
de observação - isto é, de contemplar o mundo sem ideias preconcebidas -
funciona muito bem com os elementos. Por exemplo, com chamas, água
corrente, formações de nuvens ou o pôr do sol.
Devido ao fato de que vai contra tudo o que nos foi ensinado desde
crianças, o silêncio deve ser intentado com ânimo de combate. Neste
momento, vocês têm uma grande vantagem: a experiência dos
espreitadores. Os bruxos de agora pretendem passar pelo mundo sem
chamar a atenção, tratando a todos igualmente. Um guerreiro espreitador
é o dono da situação, para o bem ou para o mal, porque há algo
terrivelmente efetivo em atuar sem a mente.
Meu mestre transmitiu diversas técnicas para me silenciar que, bem
entendidas, se reduzem a uma: o intento. O silêncio se intenta cruamente
através do esforço. É coisa de insistir uma e outra vez. Isso não significa
que reprimamos nossos pensamentos, mas que aprendamos a controlá-
los.
Um método infalível para conseguir o silêncio é através do "não
fazer", uma atividade que nós programamos com nossa mente, mas que
tem a virtude de silenciar os pensamentos uma vez que é começado. Don
Juan chamava esse tipo de técnica de 'tirar um espinho com outro'.
Apresentou como exemplos de não fazer: escutar na escuridão, trocando a
prioridade de nossos sentidos e o comando que nos força a dormir assim
que fechamos os olhos. Também, conversar com as plantas, parar de
ponta cabeça, caminhar para trás, observar as sombras, a distância ou os
espaços entre as folhas das árvores... os bruxos têm comprovado que
existe uma forma de entender as coisas sem racionalizá-las, e é levando-
as à prática. Uma hora de práticas arrasa com anos de explicações e
produzem resultados reais, que são duradouros. À medida que você se faz
testemunha do poder, a obsessiva pressão de sua mente para estar no
comando será anulada e em seu lugar renascerá o espírito infantil da
aventura e da descoberta. Nesse estado você já não pensa, você age.
A sensação de que nós temos tempo é um engano que nos leva a
desperdiçar energia com todo tipo de compromissos. Quando um homem

140
se conecta com o silêncio interno, reavalia o tempo dele. Assim, uma outra
forma de definir isto, é dizer que o silêncio é uma aguda consciência do
presente.
Apesar de sua natureza indefinível, podemos medir o silêncio por
meio de seus resultados. Seu efeito final, aquele que os feiticeiros buscam
com avidez, é nos sintonizar com uma dimensão magnífica de nosso ser,
onde temos acesso a um conhecimento instantâneo e total que não é
composto de razões, mas de certezas. As antigas tradições descrevem
esse estado como 'o reino dos céus', mas os feiticeiros preferem dar-lhe
um nome menos pessoal: conhecimento silencioso.
Eu conheço pessoas que conseguiram parar o diálogo interno e já
não interpretam, são pura percepção; nunca se desiludem ou se
arrependem, pois tudo o que fazem parte do centro da decisão. Eles
aprenderam a manejar a mente em termos de autoridade e vivem no mais
autêntico estado de liberdade. Continuou dizendo que o silêncio é nossa
condição natural. Nós nascemos do silêncio e para lá voltaremos. O que
nos contamina são as idéias supérfluas que se infiltram em nós a partir de
nossa forma coletiva de viver.
Don Juan afirmava que somos animais predadores que, à força de
nos amansarmos, acabamos nos transformando em ruminantes.
Passamos a vida regurgitando uma lista interminável de opiniões sobre
quase tudo. Os pensamentos nos chegam em torrentes e se encaixa um
no outro até encher o espaço da mente. Esse barulho não tem nenhuma
utilidade porque praticamente em sua totalidade é dirigido ao
engrandecimento do ego. Devido ao fato de que vai contra tudo o que nos
foi ensinado desde crianças, o silêncio deve ser intentado com ânimo de
combate. Um guerreiro espreitador é o dono da situação, para o bem ou
para o mal, porque há algo terrivelmente efetivo em atuar sem a mente.
O silêncio começa com uma ordem, um ato de vontade que se
converte no comando da Águia. Porém, nós temos que lembrar que no
momento em que nos impomos o silêncio nunca estaremos
verdadeiramente ali, mas na imposição. É necessário aprender a
transformar a vontade em intento. O silêncio é tranqüilo, é um abandonar-
se, deixar-se ir. Produz uma sensação de ausência, como a que tem um
menino quando fica olhando para o fogo. Que maravilha lembrar-se desse
sentimento e saber que se pode evocá-lo novamente.
O conhecimento silencioso nada mais é do que o contato direto com
o intento. Silêncio interior significa a suspensão do diálogo interno, sendo
um estado de profunda quietude. É um estado que a percepção não
depende dos sentidos. O que funciona durante o silêncio interior é outra
faculdade que o homem tem, a faculdade que o torna um ser mágico. O

141
silêncio anterior se acumula, aumenta. O importante és formar um núcleo
do silêncio interior.
Silêncio interior é o caminho que leva a uma verdadeira suspensão
do julgamento, a um momento em que a informação sensorial que emana
do universo em liberdade deixa de ser interpretada pelos sentidos; o
momento em que a cognição cessa de ser a força que, através do uso e
da repetição, decide a natureza do mundo.
O bilhete de entrada ao mundo do nagual é o silêncio interno.
Quando se acumula o suficiente e se alcança uma quantidade crítica de
silêncio, ocorre uma mudança na visão habitual do mundo. Então se
começa a perceber o fluxo da energia, tal como é. O umbral de silêncio é a
medida do bruxo.
Para alcançar o silêncio, é necessário se alcançar um nível de
determinação que, em geral, está fora do alcance do homem comum, que
vive enrolado em mil compromissos, e que não tem nem o tempo e nem a
disposição, ou energia, para se enfrentar a uma tarefa tão abstrata. Talvez
o efeito mais dramático de se alcançar o silêncio, é que, de repente, a
pessoa se desconecta da mente paralela, e isso sim é que é uma
revelação.
Quando a imagem de si mesmo deixa de ser tão supremamente
importante, então tudo repousa em seu lugar. Você se dá conta de que
você não é quem acreditava ser. Ao se libertar do jugo da mente
parasitária, a ideia de ‘fazer’ acaba já não sendo tão legítima; em seu
lugar, de maneira espontânea, surge o não-fazer.
Você tem uma pendência em sua vida. Já te disse sobre isso antes,
mas você sempre encontra uma maneira de escapar. Se trata de consertar
a ideia que você tem sobre si mesmo. Essa é a batalha de vinte e quatro
horas em que tanto insiste o nagual: a guerra contra o eu individual.
O não-fazer interrompe momentaneamente a sensação de ‘eu sou’,
mas isso é só um exercício, uma preparação para o colapso total do ego.
Isso não significa que você vai deixar de existir, muito pelo contrário: é um
despertar, onde o verdadeiro ‘eu’ toma o controle; a ideia de ‘eu sou’ é um
subproduto da mente paralela, é uma sensação absolutamente perniciosa,
porque reforça o ego e se identifica com a autocompaixão, que é a pior
praga que assola a humanidade; nos faz tímidos, nos torna acomodados
numa miserável rotina de vida, aquiescendo mansamente ao destino que
nos foi imposto, em lugar de lutar pela liberdade até a morte.
O problema é que não sabe, porque se chegasse a saber, é certo
que você não gostaria, já que você é uma confusão de sentimentos que
lutam desesperadamente por encontrar seu centro de equilíbrio. Mas esse
centro secundário, que você chama de ‘eu’, na realidade não existe, é tão

142
somente uma miragem, uma montagem descritiva que cria a ilusão do ‘eu’.
Nosso verdadeiro ser se encontra no silêncio, e não precisa de maiores
explicações.
A meta dos guerreiros é perceber diretamente, sem ter que passar
pela aduana da razão, onde o que é, depois de passar pelo filtro da
interpretação, perde seu verdadeiro significado. O ‘eu sou’ é um comando;
com essas palavras você está se programando para evitar qualquer estado
de consciência ou percepção, onde a imagem de você mesmo não tenha
um papel claro e preponderante. Essa frase exacerba a importância
pessoal. Você já se deu conta de com quanta paixão defendeu seu preciso
‘eu’?
Esse comando o torna pesado, evita qualquer intento de dar fluidez
ao ponto de aglutinação, de modo que, para você, todos os exercícios de
não-fazer que praticou, tornam-se inúteis. A identificação com o ‘eu’, é o
que te mantém ancorado ao mundo da razão. Os bruxos comparam os
seres humanos a ruminantes, que, ao fixar a atenção em tópicos
específicos, arrancam e mastigam bocados do mundo que os rodeia,
ignorando tudo mais. Depois, regurgitam esses bocados de percepções,
para ruminá-los através do ‘eu’, onde tudo se transforma numa
interpretação racional, de maneira que a entidade perceptiva, se
transforma em identidade interpretativa, e o testemunhar torna-se uma
reflexão. Assim que, na prática, esse segundo centro de montagem da
informação funciona como uma âncora, que mantém o ponto de
aglutinação estacionado em sua posição habitual, retifica e ajusta
incessantemente a leitura direta que fazemos da realidade, transformando-
a em algo conveniente ou aceitável, segundo os parâmetros que
aprendemos.
Quando você parar a tagarelice interna você para de manter seu
mundo antigo. As descrições entram em colapso. É neste momento que a
mudança de personalidade começa. Quando você se concentra nos sons
percebe que é difícil para o cérebro categorizá-los, e rapidamente para de
tentar. É diferente da percepção visual, que nos mantém formando
categorias e pensando. É muito relaxante quando o guerreiro finalmente
consegue desligar o diálogo, a categorização e o julgamento.
Colecionamos memórias e as colocamos em livros. Guardamos
ingressos de um show da Broadway que ocorreu dez anos atrás.
Morremos segurando souvenires. Ser guerreiro é ter energia, curiosidade e
coragem para abandonar. Só é preciso uma redefinição. Só precisamos
nos ver como seres que irão morrer. Assim que você aceitar isso, mundos
se abrirão na sua frente.

143
Quando os pensamentos se calam, recupera-se o êxtase de existir, e
já não se aceita cópias de nenhuma natureza. Depois de uma vida
rendendo culto à razão, a fixação perceptiva torna-se predominante a tal
ponto, que opaca a todos os outros centros de percepção. Chega um
momento no qual a pessoa já não dá crédito a nenhuma percepção, que
não tenha passado previamente pela censura da razão, e tudo o que
atente contra o que vem dessa fixação, é mau ou não existe, ou ambas as
coisas ao mesmo tempo. É por isso que as pessoas comuns têm
sentimentos tão desencontrados sobre a ideia do que é ser bruxo.
No bruxo, todos os centros têm que estar integrados e funcionando
perfeitamente; somente então, é que pode reclamar a totalidade de si
mesmo. Quando conquista tal façanha, as palavras já não são
necessárias, pois percebe com todo o corpo, sem a necessidade de
explicar racionalmente o que percebe.
_O ‘eu sou’ é uma frase feita, seu interior é oco, se alimenta de um núcleo
de insegurança. O não-fazer é uma interrupção no fluxo da interpretação
habitual do munto. Enquanto não conseguir superar essa sensação de ‘eu
sou’, não há meio de deter esse fluxo.
O fazer é quando se age em consequência com o que há no
inventário pessoal, que é a recompilação de tudo aquilo que uma pessoa
juntou durante a vida. É como um armazém que se revisa constantemente,
descartando as leituras que não são práticas e acentuando o valor das
mais usadas.
A fixação de ser ‘a si mesmo’, ou de que ‘minha maneira de ser’ é
melhor ou mais importante que a dos demais, partem justamente dali; é a
base da importância pessoal, é o que impulsiona às pessoas quererem
controlar aos demais. É precisamente o enfoque obsessivo no ‘eu’, o que
transforma as pessoas em pequenos tiranos. Fazer o inventário é uma
ordem que não se pode desobedecer. Contudo, através da prática de não-
fazer, é possível manter um controle sadio sobre o inventário. Isso, por si
só, nos lança diretamente a um reino mágico, onde tudo é possível.
O não-fazer é uma técnica, uma forma diferente de fisgar o mundo.
Uma pequena sacudida na escala de valores do inventário, e as
prioridades mudam. Basta tão somente como apagar algum detalhe, ou
enfiar entre eles um elemento dissonante ao sentido comum, e, de
repente, o não-fazer emerge, preenchendo a consciência com uma
extraordinária gama de novas percepções.
Foi nessa época que ele me lançou o desafio de deixar de usar o
pronome ‘eu’. No começo, era difícil comunicar-me dessa maneira, mas
com o tempo, me adaptei e compreendi que a referência constante a si
mesmo, é um vício que nos amarra ao ego, como um quadrúpede a seu

144
bebedouro, e tudo se torna eu, eu, eu. Se aquilo que chamava de ‘eu’, ou
‘eu mesmo’, não existe, e que não tinha nenhuma transcendência, já que,
ao morrer, tem-se que entregar cada partícula de informação e experiência
que se adquiriu durante a vida, até desaparecer como ser individual.
O que concebemos como ‘eu’ é uma estrutura artificial, montada com
a informação e experiência de vida, é nossa história pessoal. Com a morte,
o ‘eu’ desaparece, mas a energia da qual você está formado perdura,
porque é eterna. Por isso, é tão importante fazer uma recapitulação
completa, para assim poder clarear e reacomodar sentimentos não
assimilados. Somente ao encontrar a sintonia interna, a memória orgânica
transcende em energia consciente. Assim é como se consegue manter a
união daquilo que somos. Do contrário, o conglomerado de sensações que
chamamos de ‘eu’ se desintegra em milhares de partículas de memórias
isoladas, como um enxame que se dispersa e perde para sempre a coesão
do que foram um dia.”
Não importa o que faça, no final terá que morrer. Contudo, a vida,
assim como a morte, não é igual para todos. Pois não é a mesma coisa
morrer miserável, do que cheio de poder e consciência.
Como uma gota que regressa ao oceano, a alguns lhes espera a
dissolução quase imediata da individualidade; essa é a segunda morte.
Voltam a ser reciclados no eterno. Suas partículas de energia, agora
dispersas no mar da consciência, poderão talvez voltar a ser parte de algo
ou alguém, mas, a coesão do que foram um dia, está perdida para sempre.
Ao passo que outros, todavia, alcançam manter a consciência de ser,
através da força de vontade. De modo que podemos dizer que, essa
tenacidade, essa força de coesão que chamamos vida, é realmente tudo o
que somos.
Os praticantes da recapitulação que conseguem alcançar a
consciência de si mesmos, permanecerão unidos por muito mais tempo,
alguns, talvez, por toda a eternidade. Porque, ainda que como todos os
outros, tenham que pagar o preço da transição, estarão preparados, de
maneira que, muito provavelmente, poderão manter o sentido de ser,
indefinidamente. Uma vez que se toma consciência de nossas
possibilidades como seres luminosos, descobre-se o grande potencial que
possuímos.
A diferença entre conhecimento e sabedoria, é que a sabedoria é a
correta aplicação do conhecimento. Pra quê serve saber coisas inúteis,
que inclusive podem ser prejudiciais, e dificultar ainda mais a jornada do
guerreiro? Isto deveria ser o óbvio, mas é sempre bom ter presente: o
melhor é selecionar cuidadosamente ao quê você se expõe; escolha
sempre o que te faça crescer, evite os ambientes tóxicos.

145
Tão perniciosa é a desinformação, como a informação desordenada,
fora de contexto. Às vezes, é melhor ignorar, do que conhecer
erroneamente, porque o ignorante ainda tem a oportunidade de aprender,
enquanto que aquele que já acredita saber, dificilmente aceitará novas
ideias. A diferença entre conhecer e experimentar, é o quão conscientes
estamos de nós mesmos e daquilo que experimentamos.
A maioria das pessoas seguem pela vida como autômatos,
experimentam sem jamais dar atenção a nada, de maneira que se tornam
um saco amorfo de sentimentos e emoções não digeridas. Somente os
guerreiros cultivam deliberadamente a consciência de si mesmos, de
maneira que, para eles, cada nova experiência é um desafio de continuar
conscientes o tempo todo. Porém, poucos são os que estão dispostos a
pôr a mão na massa, de investigar e experimentar por si mesmos. A
maioria se conforma em ler livros e assistir palestras, em vez de fazer todo
esse trabalho. Ao agir desse modo, correm o risco de relegar o trabalho
pessoal e intransferível a um segundo plano.
Isso converte a muitos em eruditos; leitores cheios de informação,
mas sem nenhuma experiência. Isto, por certo, não converte a ninguém
em um guerreiro, e muito menos em um bruxo. A clareza que
experimentam é tão somente um ponto diante de seus olhos, um engano.
A clareza é fruto de uma posição específica do ponto de aglutinação.
Quando se concentra a atenção sobre uma determinada gama de
possibilidades, o enfoque se estabiliza nessa posição; isso é o que torna
uma pessoa num especialista. Como resultado, essa gama perceptiva se
ilumina, ganha relevância, e aspectos que antes não eram notados,
tornam-se evidentes e cheios de significado.
Alguns chegam a acreditar que isso é a vidência; contudo, na
verdade, trata-se unicamente de uma clareza limitada, trata-se de uma
ilusão. O perigo desse tipo de clareza é que nos faz cegos à existência de
tudo mais. A clareza é um inimigo que deslumbra, e aquele que se deixa
levar por ela, termina nas garras da importância pessoal. A clareza não
proporciona sabedoria automática, ou melhor, é um inimigo a se vencer.
Devemos tomá-la como o que realmente é: um ponto diante dos olhos. “O
estudioso, se não conseguir passar à ação, dificilmente conseguirá
qualquer resultado, já que se torna ou um poeta cheio de nostalgias, ou
um cínico amargurado, carregado de ressentimentos.
Enfatizando as palavras, especificou que a bruxaria é a arte do
silêncio: "O silêncio é uma passagem entre os mundos. Ao calar nossa
mente, emergem aspectos incríveis de nosso ser. A partir desse momento,
a pessoa se torna um veículo do intento e todos os seus atos começam a
exudar poder. A chave dos bruxos é o silêncio!".

146
Devemos viajar através do mar escuro da consciência. O silêncio
interior faz isso. O não fazer é parar o diálogo interno. Parar o diálogo
interno traz a paz necessária e descansa a mente dos praticantes, e isso
por sua vez ajuda-nos a controlar os sonhos.
O Silêncio é a passagem entre os mundos. Ao calar a nossa mente,
emergem aspectos imponderáveis de nosso ser. A partir desse momento,
a pessoa se torna um veículo do Intento, e todos os seus atos começam a
se revestir de poder.
A chave dos bruxos para a consciência é o Silêncio. Silêncio não é
definível. Quando você o pratica, você o sente e percebe. Se o tenta
entender, você o bloqueia. Não o veja como algo difícil ou complexo,
porque não é nada do outro mundo; é simplesmente silenciar a mente.
Poderia dizer-lhes que o silêncio é como um porto onde chegam os navios;
se o porto está ocupado não cabe nada de novo.
Entendam: silêncio não é somente a ausência de pensamentos.
Realmente, trata-se de suspender juízos, testemunhar sem interpretar.
Sustento que entrar em silêncio pode ser referido, ao modo contraditório
dos bruxos, como ´aprender a pensar sem palavras´.
Para muitos de vocês o que estou dizendo não faz sentido, porque
estão acostumados a consultar tudo com a mente. O irônico é que, para
começar, os pensamentos nem mesmo são nossos. Os pensamentos
soam através de nós, o que é diferente. E, como nos acossam desde que
temos feito uso da razão, nós terminamos nos acostumando com esta
ruminação. Entretanto, se querem ter uma oportunidade de ser por inteiro,
só lhes resta uma saída: desconectem a mente! A liberdade passa ao
largo do pensamento.
Eu conheço pessoas que conseguiram parar o diálogo interno e já
não interpretam, são pura percepção; nunca se desiludem ou se
arrependem,pois tudo o que se envolvem parte do centro-da-decisão. Eles
aprenderam a manejar a mente em termos de autoridade e vivem no mais
autêntico estado de liberdade.
Silêncio é nossa condição natural. Nós nascemos no silêncio e pra lá
voltaremos. O que nos contamina são as ideias supérfluas que se
infiltraram em nós a partir de nossa forma coletiva de viver. Os costumes
sociais arraigados dos primatas de diminuir os níveis de tensão dentro do
grupo permanecem geneticamente em nós, sendo transmutados em
intercâmbio de palavras. Cada vez que temos oportunidade, nós nos
tranquilizamos uns aos outros conversando sobre qualquer coisa. Depois
de milênios de coexistência, temos interiorizado esses intercâmbios ao
ponto de, estando dormindo ou acordados, nossa mente não ficar quieta e
ficar falando sempre consigo mesma.

147
Dom Juan afirmava que somos animais predadores que, à força de
nos amansarmos, acabamos nos transformando em ruminantes.Passamos
a vida regurgitando uma lista interminável de opiniões sobre tudo. Os
pensamentos nos chegam em torrentes e se encaixam um ao outro até
encher o espaço da mente. Esse barulho todo não tem nenhuma utilidade
porque praticamente em sua totalidade é dirigido ao engrandecimento do
ego.
Devido ao fato de que vai contra tudo o que nos foi ensinado desde
crianças, o silêncio deve ser intentado com ânimo de combate. No
momento, vocês tem uma grande vantagem: a experiência dos
espreitadores. Os bruxos agora pretendem passar pelo mundo sem
chamar a atenção, tratando a todos equanimemente. Um guerreiro
espreitador é o dono da situação, para o bem ou para o mal, porque há
algo terrivelmente efetivo em atuar sem interferência da mente.
Se me perguntarem sobre exercícios pra alcançar o silêncio,
respondo que é um assunto muito privado, porque as molas do diálogo
interno se nutrem de nossa história pessoal. Mas, através de milênios de
práticas, os videntes viram que, no fundo, somos muito parecidos, e há
situações que tem o efeito de silenciar igualmente a todos.
Dom Juan me transmitiu diversas técnicas para me silenciar que,
bem entendidas, se reduzem a uma; Intento! O silêncio se intenta
cruamente através da dedicação. É coisa de insistir um e outro momento,
mas não significaria que devamos reprimir os pensamentos, mas que
aprendamos a que nos obedeça.
O silêncio começa com uma ordem, uma ato de vontade que se
converte em ´comando da Águia´. Porém, nós temos que lembrar que no
momento que nos impomos ´silêncio´ nunca estaremos verdadeiramente
ali, mas na imposição. É necessário que a vontade se transforme em
Intento.
O silêncio é tranquilo, é um abandonar-se, um deixar-se ir. Produz
uma sensação de ausência, como a de um menino teria ao ficar sozinho
com o fogo. O silêncio é a condição natural do caminho. Eu passei longos
anos batalhando para alcançá-lo, e tudo o que alcancei foi me enrolar com
minha própria tentativa. Além da conversa habitual que sempre tinha lugar
em minha mente, eu comecei a me recriminar por não poder entender o
que era que dom Juan esperava de mim. Tudo mudou um dia quando
estava contemplando distraidamente árvores: o silêncio saltou delas como
um animal selvagem, parando meu mundo e me lançando num estado
paradoxal, para algo novo e ao mesmo tempo já conhecido.
A técnica de observar, quero dizer, contemplar o mundo sem ideias
preconcebidas, funciona muito bem com os elementos. Por exemplo, com

148
as chamas, as quedas d´água, as nuvens ou um pôr de sol. Os novos
videntes chamam ´enganar a máquina´, porque consiste, em essência, em
aprender a intentar uma nova descrição.
O combatente tem de lutar corajosamente para alcançar esta
condição, mas, depois que ocorre, o novo estado de consciência se
sustenta por si mesmo. É como por o pé na porta; já que está aberta, é
questão de acumular energia suficiente para passar ao outro lado.
O importante é que a intenção seja inteligente. De nada vale nos
esforçarmos para chegar ao silêncio se primeiro não criarmos condições
favoráveis para que se sustente. Portanto, além de treinar na observação
dos elementos, um guerreiro é obrigado a se comportar de modo simples
mas muito difícil: por em ordenação sua vida pessoal.
Todos vivemos numa cadeia de intensidade a qual chamamos
´tempo´. Como não alcançamos sua fonte, tampouco nos dedicamos para
sentir o fim de tudo, quando somos jovens nos sentimos eternos e, quando
envelhecemos, só nos resta nos queixarmos pelo ´tempo perdido´. Mas
isso é ilusão, e o tempo não se perde, somos nós que nos perdemos a nós
próprios!
A ilusão de que temos tempo é um engodo que nos leva a
desperdiçar energia com todo tipo de compromissos. Quando um homem
se conecta com o silêncio interno, reavalia o tempo dele. Assim, uma outra
forma de definir isto, é dizer que o silêncio é uma aguda consciência do
presente!
Um método infalível para conseguir o silêncio é através do ´não-
fazer’, uma atividade que nós programamos com nosso desejo no início,
mas que tem a virtude de temperar a vontade e silenciar a mente, uma vez
que é perseguido. Dom Juan chamava esse tipo de técnica com seu senso
pragmático de ´tirar um espinho com outro´,
Como exemplo de não-fazer, temos o ´escutar a escuridão´, trocando
a prioridade de nossos sentidos, e o comando que nos força a dormir
assim que fechamos os olhos. Também ´conversar com plantas´, postura
de ponta-cabeça, caminhar pra trás, observar sombras, observar a
distância e os espaços entre as folhas de árvores.
Todas essas atividades são das mais efetivas para silenciar nosso
diálogo interno, mas elas tem também um defeito: não as podemos
sustentar durante tempo suficiente, e então somos forçados a recuperar
nossas rotinas. Um não-fazer que é exagerado, automaticamente perde o
poder e cai dentro do fazer mental.
Se o que queremos é acumular silêncio profundo, de efeitos
duradouros, o melhor não-fazer é a Solidão. Junto com a economia de
energia e o abandono desses que nos dão por conhecidos e previsíveis.

149
Aprender a estar só é o terceiro princípio prático do caminho. Estar só
requer um grande desafio, porque nós ainda não aprendemos a superar o
comando genético da socialização. No princípio o aprendiz deve ser
forçado a isto pelo seu benfeitor, através de armadilhas se necessário.
Mas com o tempo aprende a desfrutar-se o silêncio da solidão. é normal
que os guerreiros busquem o silêncio de lugares isolados e que vivam
sozinhos por longos períodos. No mundo dos viajantes-videntes o máximo
que alcançamos é compartilhar o caminho com aqueles que a ele se
dedicam.
Uma das ironias da vida moderna é que, quanto mais aumentam as
comunicações, mas solitários nos sentimos. A existência do homem
comum é de uma desolação horripilante. Procura companhia, mas não se
encontra a si mesmo. O amor foi deturpado, seu sonho é pura fantasia de
ego-narcismo. Sua curiosidade natural se tornou um interesse egoísta e
pessoal, e só lhe restam apegos. Horroroso não é a solidão, e sim chegar-
se a velhice como infantis chorões.
Por outro lado, a solidão do guerreiro é como retiro dos enamorados,
desses que procuram um nicho remoto para escrever poemas. Seu amor
está em todos os lugares, porque esta terra que por tão pouco tempo veio
caminhar. Assim onde quer que vá, o guerreiro se entrega a seu romance.
É natural que evite lidar com o mundo; o silêncio interior é solitário, e se
comunica com ele em múltiplos canais.
Os videntes antigos usavam plantas de poder pra parar o diálogo
interno. Mas podemos alcançar os mesmos resultados se nos colocamos
contra a parede. Ao enfrentar situações limite, perigo, medo, saturação
sensorial e agressão, algo em nós reage e toma o controle. A mente se
põe em alerta e suspende a tagarelice automaticamente. Colocar-se a si
mesmo deliberadamente nestas condições se chama ´espreita´.
Porem, o método favorito dos bruxos da liberdade é a Recapitulação.
A recapitulação pára a mente de um modo natural. O principal combustível
de nossos pensamentos são os assuntos pendentes, as expectativas e
defesas do ego. É muito difícil de achar uma pessoa cujo diálogo interno
seja sincero; o comum é que nós dissimulemos nossas frustrações indo
até o extremo oposto. Deste modo, o conteúdo de nossa mente se torna
uma ode ao eu.
Recapitular com assiduidade acaba com tudo isso. Depois de um
tempo de dedicação continuada, algo cristaliza aí dentro. O diálogo
habitual fica incoerente, incômodo; não existe outro remédio senão
estacioná-lo.
É normal que um aprendiz nesta fase se depare com um fogo
cruzado. Por um lado, está a homogenização do seu ponto de aglutinação

150
da percepção; e por outro, enormes parênteses de silêncio que se metem
em sua mente, fragmentando sua continuidade.
Quando se esgota a inércia do diálogo interno, o mundo se refaz
novamente. A onda de energia se sente como um insuportável vazio que
se abre debaixo dos pés,.Por tal motivo, o guerreiro pode passar anos de
instabilidade mental. A única coisa que o conforta em tal situação é manter
claro o propósito do seu caminho e não perder, de nenhuma maneira, sua
perspectiva de liberdade e libertação. Um guerreiro,por princípio, jamais
perde a sensatez mesmo na extrema loucura.
Outro fator crucial é que o silêncio interno induz deslocamentos do
ponto de aglutinação, que são acumulativos. Uma vez alcançado certo
umbral, o silêncio pode por si mesmo mover o ponto a grande distância,
mas não antes. Vencer a inércia do consenso coletivo, a resistência da
descrição do mundo, as categorias do tonal enfim, por meio de um intento
continuado é o que os videntes-viajantes chamam de ´chegar ao limiar do
silêncio´. Muitos videntes-bruxos vão cada vez mais longe e podem entrar
de forma definitiva em outro mundo. Uma ruptura que se sente fisicamente
como um ruído na base do crânio ou som de um gongo. A partir daí, é uma
questão de quanta força foi liberada e focada.
Apesar de ser indefinível, podemos medir o silêncio pelos seus
resultados. Seu efeito final, o que os guerreiros da liberdade buscam com
intensidade, é que ele nos sintoniza com uma dimensão magnífica de
nosso ser, onde temos acesso a um conhecimento instantâneo e total que
não é composto de razões, mas direto das unidades fundamentais
chamadas emanações. Velhas tradições descrevem este estado como o
´reino dos céus´, mas os videntes preferem um nome menos
comprometido: o ´conhecimento silencioso´.
Pode-se dizer que um guerreiro que domina o silêncio conseguiu
limpar seu vínculo com o espírito, e o poder desce caudalosamente sobre
ele. Dom Juan se referia a este estado como ´cambalhota mortal do
pensamento´, porque começamos no mundo cotidiano e nunca mais
votamos a cair nele novamente.
Dom Juan sempre incitava aqueles que o rodeavam a sustentar um
romance com o Conhecimento. O puro desejo de saber o que o espírito
vem lhe contar no silêncio interior, sem esperar nada disto. Só sustentando
um apaixonado romance com o conhecimento que podemos obter força
necessária para não esmorecermos diante de tanta resistência e medo ao
desconhecido. Quando seu caminho já não corresponde a suas
expectativas razoáveis, quando o leva a situações que desafiam a razão,
então se pode dizer que um guerreiro estabeleceu uma relação íntima com
o conhecimento. Então terá que se ajustar à sua mensagem, de forma que

151
sua vida seja a vida estratégica de um combatente a cada momento.
Então, seu trabalho consistirá em cultivar um vínculo honesto e limpo com
o Infinito.

As Crenças

Os feiticeiros sabem que todas as crenças são falsas.


Ele me explicou que o ponto de partida de nossas convicções
costuma ser algo que alguém nos disse em tom imperativo ou persuasivo
quando éramos crianças, antes de termos nosso próprio inventário de
experiências para comparação. Ou é um dos efeitos da propaganda
massiva e subliminar a que o homem moderno está submetido.
Freqüentemente, eles vêm de uma súbita e profunda explosão emocional,
como a que sofrem aqueles que se deixam levar pela histeria religiosa.
Essa modalidade de crença é meramente associativa.
No centro de cada uma de nossas ações, costumes ou reações, há
uma crença oculta. Portanto, a tarefa inicial no caminho do conhecimento é
fazer um inventário de todas as coisas em que depositamos nossa fé.
O ideal é que você mesmo determine sua vida a partir de sua
experiência. Se sua crença lhe rouba algo, cuidado! Tudo aquilo que não o
faz livre o escraviza.
A razão os faz esquecer que a descrição é apenas uma descrição e,
antes que percebam, os seres humanos encerram a totalidade de si
mesmos num círculo vicioso do qual eles raramente emergem durante sua
vida. Os seres humanos são “percebedores”, mas o mundo que percebem
é uma ilusão: uma ilusão criada pela descrição que lhes foi ensinada
desde o momento que nasceram. Assim, em essência, o mundo que a
razão deles quer sustentar é o mundo criado por uma descrição e suas
regras dogmáticas e invioláveis, que a razão deles aprende a aceitar e a
defender.
Ele sugeriu que eu dedicasse um novo caderno a esse exercício,
onde deveria anotar todas as minhas crenças. Ele me garantiu que essa
prática ajudaria a fazer um mapa das minhas motivações e apegos.
Em cada caso, disse ele, você deve procurar a fonte de suas crenças
e fazer uma análise profunda de cada uma.
Determine quando e por que ela surgiu, o que havia antes disso,
como você se sentiu e quanto a fé mudou ao longo dos anos. A intenção
não é justificar nada, mas simplesmente esclarecer as coisas. Esse
exercício é chamado de 'perseguir o crente’.

152
Ele previu que o resultado da prática seria me libertar de minhas
convicções de segunda mão, e enfatizou que no mundo dos feiticeiros,
apenas a experimentação direta é válida.
O primeiro passo é tomar consciência do nevoeiro em sua mente.
Você precisa tornar-se consciente de que está sonhando o tempo todo.
Apenas com essa consciência você tem a possibilidade de transformar seu
sonho. Se você tem a consciência de que todo o drama de sua vida é o
resultado do que você acredita e o que acredita não é real, então pode
começar a mudar tudo. Entretanto, para mudar de verdade suas crenças,
você precisa focalizar sua atenção sobre o que deseja mudar. Precisa
saber que compromissos quer mudar, antes de mudá-los. Então, o
próximo passo é desenvolver a consciência sobre todas as crenças
autolimitantes e baseadas no medo que o tornam infeliz. Você faz um
inventário de tudo em que acredita, todos os seus compromissos, e por
meio desse processo inicia a transformação. Os toltecas chamavam a isso
de a Arte da Transformação, e é um campo inteiro de domínio. Você
adquire o domínio da Transformação alterando os compromissos
baseados no medo que os fazem sofrer e reprogramando sua mente da
sua própria maneira. Uma das formas de fazer isso é explorar e adotar
crenças alternativas, como os Quatro Compromissos.
Existem muitas crenças fortes na mente que podem tomar esse
processo uma tarefa sem esperança. Por isso você precisa caminhar
passo a passo e ser paciente consigo mesmo; trata-se de um processo
lento. A forma como você está vivendo agora é o resultado de muitos anos
de domesticação. Você não pode esperar terminar essa domesticação de
um dia para o outro. Quebrar compromissos é muito difícil porque
colocamos o poder da palavra (que é o poder da vontade) em cada
compromisso que fizemos.
Don Juan dizia que a verdade é como a pedra angular de um
edifício, um homem sensato não deveria tentar removê-la! Quando nos
rendemos às definições estagnamos a energia. Essa tendência, é uma
imposição da mente alienígena e é necessário acabar com ela. Don Juan
chamava à substituição do consenso da razão pelo consenso da
experiência, 'acreditar sem acreditar’. Para os bruxos, isto redefine
completamente o conceito de corroboração. Eles não buscam definições,
mas resultados. Se uma prática consegue elevar nosso nível de
consciência, que importa como a expliquemos! Os meios que nos levam a
agir para economizar e aumentar nossa energia não têm nenhuma
importância, porque uma vez em posse de nossa totalidade, entraremos
em um novo campo de atenção onde já não nos importam os conceitos e
as coisas se demonstram por si mesmas. Mas um guerreiro entende a

153
verdadeira mensagem: a 'realidade' é um fazer, e um fazer se mede por
seus frutos.
Nosso ponto de vista cria a nossa realidade. Quando estamos presos
às nossas crenças, nossa realidade se torna rígida, estagnada e
opressiva. Ficamos amarrados aos apegos porque perdemos a
capacidade de reconhecer que temos a opção de ser livres.
É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar
nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido
nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por
concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a
gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a
culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras.
O apego às crenças distorce nossas percepções, abrindo espaço
para as reajustarmos até que fiquem em conformidade com o restante de
nossas crenças. Não enxergamos a verdade porque somos cegos. O que
nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a
necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no
que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como
se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um
palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real.
Esse nevoeiro é um sonho seu sonho pessoal da vida - aquilo em que
você acredita todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os
compromissos que assumiu com os outros com você mesmo e até com
Deus.
Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote.
Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo
e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana – um
grande e mitote com esse grande mitote você não consegue enxergar o
que realmente é. Na Índia, eles chamam o mitote de Maya o que significa
“ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre
si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programas que você tem
na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente
somos; não conseguimos perceber que não somos livres. Por isso, os
seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens
possuem. A morte não é o medo que temos; nosso maior medo é assumir
o risco de estar vivo - o risco de estar vivo e expressar o que somos na
realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres
humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as
exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista
de outra pessoa, por causa do medo de não sermos aceitos e de não
sermos bons o suficiente para outras pessoas.

154
Existem centenas de compromissos que você firmou consigo
mesmo, com as outras pessoas, com seu sonho de vida, com Deus, com a
sociedade, com seus pais, com seu cônjuge, com seus filhos. Contudo, os
compromissos mais importantes são os que você fez consigo mesmo.
Nesses compromissos você diz a si mesmo quem você é, como se sente,
no que acredita e como se comportar. O resultado é o que você chama de
sua personalidade. Nesses compromissos você diz: "Isso é o que sou. Isso
é aquilo em que eu acredito. Posso fazer certas coisas e outras coisas,
não. Essa é a realidade, aquela é a fantasia; isso é possível, aquilo é
impossível".
Um único compromisso não representa tanto problema, porém temos
muitos compromissos que nos fazem sofrer, que nos fazem fracassar na
vida. Se você quer viver uma vida de alegria e realização, é preciso
encontrar a coragem de quebrar esses compromissos baseados no medo
e reclamar seu poder pessoal. Os compromissos que vêm do medo
exigem que gastemos um bocado de energia, mas os compromissos que
derivam do amor nos ajudam a conservar energia e ainda ganhar energia
extra.
Cada um de nós nasce com uma determinada quantidade de poder
pessoal, que podemos reconstruir a cada dia depois que descansarmos.
Infelizmente gastamos todo o nosso poder pessoal em primeiro lugar para
criar esses compromissos, e depois para mantê-las. Nosso poder pessoal
é dissipado por todos os compromissos que criamos, e o resultado é que
nos sentimos sem poder. Temos poder suficiente para sobreviver a cada
dia, porque a maior parte é usada para manter os compromissos que nos
atrelam ao sonho do planeta. Como podemos mudar todo o sonho de
nossa vida quando não temos poder para mudar nem sequer o menor
compromisso?
Não se engane. Ou você escolhe sua crença, ou ela escolhe você.
No primeiro caso, é autêntica, é sua aliada, ela te sustenta e permite que
você a manipule à vontade. No segundo caso, é uma imposição e não vale
a pena.
Nossa ideia de que a verdade anda de mãos dadas com a clareza é
uma armadilha, porque o espírito é inacessível demais para ser
compreendido com nossa frágil mente humana. Como você bem sabe, a
essência da religião não é a clareza, mas a fé. Mas a fé não vale nada em
comparação com a experiência.
Os feiticeiros são práticos; do ponto de vista deles, o que
acreditamos ou deixamos de acreditar é absolutamente irrelevante. As
histórias que contamos a nós mesmos não importam nem um pouco; o que
importa é o Espírito. Quando há poder, o conteúdo da mente é algo

155
secundário. Um feiticeiro pode ser ateu ou crente, budista, muçulmano ou
cristão, e ainda cultivar a impecabilidade - o que automaticamente o leva
ao poder.
As religiões não são remédios, mas consequências do lamentável
estado de consciência em que se encontra o homem. Estão repletas de
boas intenções, mas pouquíssimas pessoas estão preparadas para
cumpri-las. Se seu compromisso significasse algo de valor real, o mundo
estaria cheio de santos, não pecadores!
No momento em que as ideologias - incluindo o nagualismo - se
difundem, tornam-se máfias culturais, escolas para deixar as pessoas
sonolentas. Por mais sutis que sejam seus postulados, e por mais que
tentem validá-los com corroboração pessoal, eles acabam condicionando
nossas ações de acordo com alguma forma de recompensa ou punição, e
com isso pervertem a própria essência da busca.
Os feiticeiros amam a pureza do abstrato. Para eles, o valor do
caminho com o coração não é tanto onde nos leva, mas a intensidade com
que o desfrutamos. A fé certamente tem valor na vida comum, mas é inútil
contra a morte. Nossa única esperança diante do inevitável é o caminho do
guerreiro.
Como resolver esse problema? Como investigadores objetivos, só
nos resta ser honestos com a gente mesmo, e aplicar o método de
eliminação, através do reconhecimento e comparação. Para mim, depois
do que me pareceu ser toda uma vida, decidi me afastar de todo tipo de
tradições.” “Assim, a única coisa que peguei emprestada é o método da
experimentação. Só acredito no que experimento por mim mesmo. Todas
as outras coisas são para mim contos de poder.
É verdade que algumas tradições podem ajudar às pessoas a manter
uma boa forma física, a cuidarem da saúde, e a conservar o equilíbrio
mental e energético, mas meu argumento é que as pessoas podem
conseguir o mesmo por si só. Através da disciplina e da força de vontade,
cada um pode pegar de cada sistema unicamente aquilo que lhes convém,
e dessa forma escapar dos compromissos ideológicos. Assim a pessoa
permanece livre.” “As tradições cobram um alto preço de nós. Em troca de
ter ‘guias e benefícios’ que oferecem, nos roubam a liberdade, e então só
nos resta a maneira rígida de pensar e de agir dessas estruturas ou
tradições. Como disse, alguns inclusive precisam sair por aí para pregar
sua fé, se arrastando com roupas ridículas e ornamentos.” “Que validade
pode ter uma fé que não constrói nada, e que não te faz feliz?” Sendo
assim, só nos resta se calar e respeitar a maneira de ser dos outros, ainda
que não estejamos de acordo com suas ideias. “Nessa corrida, cada um
escolhe em qual cavalo apostar. Compreendi que não se importar com o

156
que os demais fazem ou dizem, é uma maneira efetiva de se economizar
toneladas de energia. Nesse jogo de crenças e métodos, estamos jogando
nossa vida e nossa liberdade, por isso é tão imperativo escolher
sabiamente. Já que estamos apostando todas as fichas, tudo ou nada, o
respeito pela luta alheia é a única medida digna de conduta, não só para
guerreiros, mas para qualquer um.”
Os feiticeiros chamam a capacidade de manipular seus apegos
mentais de 'crer sem acreditar'. Eles aperfeiçoaram essa arte ao ponto de
poderem se identificar sinceramente com qualquer ideia, vivê-la, amá-la e
descartá-la se chegar a isso, sem remorso. E dentro dessa liberdade de
escolha, fazem perguntas de feiticeiro. Por exemplo, por que me aceitar
como pecador, se posso ser impecável?
O método do guerreiro ao lidar com o desconhecido, segundo os
novos videntes, é aceitar as coisas pelas aparências, mas sem acreditar
em nada.
Não acreditar em nada é o que deixa o ponto de encaixe livre para
intentar novas possibilidades. Acreditar nas aparências faz com que o
ponto de encaixe se alinhe e fixe na interpretação inicial que o próprio
guerreiro/guerreira ou que alguém de fora faz. E essa interpretação acaba
por se tornar a maneira como experienciamos a situação, pelo simples fato
do ponto de encaixe estar posicionado ali, intentando aquela maneira de
ver as coisas, e projetando ela dentro da bolha da sua experiência. Aceitar
as coisas pelas aparências é o que permite que, mesmo sem acreditar, o
guerreiro ou guerreira aja impecavelmente dentro das circunstâncias que
se apresentam inicialmente.
Não existe motivo algum para sofrer. Com a consciência, você pode
ser rebelde e dizer: "Chega!". Você pode procurar por uma forma de criar e
transformar seu sonho pessoal. O sonho do planeta é apenas um sonho.
Nem ao menos é real. Se você entrar no sonho e começar a desafiar suas
crenças, vai descobrir que sofreu todos aqueles anos por nada. Por quê?
Porque o Sistema de Crenças no interior de sua mente é baseado em
mentiras. Por isso, é tão importante que você domine o próprio sonho; por
isso, os toltecas se tornaram mestres do sonho. Sua vida é a manifestação
de seu sonho; é uma arte. E você pode mudar sua vida a qualquer
momento em que não estiver gostando do sonho. Os mestres do sonho
criaram obras-primas de vida; controlavam os sonhos fazendo escolhas.
Tudo tem conseqüências e o mestre de sonhos está consciente das
conseqüências.
Ser tolteca é uma forma de viver. Uma forma de viver em que não
existem líderes nem seguidores, em que você possui sua própria verdade

157
e vive de acordo com ela. Um tolteca se torna sábio, selvagem e livre outra
vez.

Meditação

Meditar: sentar num tapete fino e macio, com as solas do pé juntas e


coxas encostadas no tapete. A melhor hora para meditar é tarde da noite
ou bem cedo de manhã. Nesses horários temos melhores condições de
solidão e ausência de inúmeras interferências.
Relaxe, solte-se, não tenha medo de nada. Só então os poderes que
nos guiam abrem o caminho e nos ajudam.
Sentar-se e se esvaziar de todos os pensamentos e sentimentos e
depois deixar que as linhas do chão puxem as rugas e as apaguem. Não
deixar os pensamentos interferirem.
Contemplar um monte de folhas durante horas, os pensamentos vão
se aquietando. Sem pensamentos a atenção do tonal se enfraquece e de
repente a sua segunda atenção agarram-se as folhas e elas se tornam
outra coisa. O mundo pára. Contemplar é aprender a aquietar os
pensamentos. O único meio de fazer parar o mundo é tentar fazê-lo parar.
Contemplar é aquietar os movimentos, desligar o diálogo interno, desligar
a atenção do tonal. Uma vez que paramos o diálogo interno, também
paramos o mundo.
Relaxe, deixe o diálogo interno cessar.
A maneira de parar de conversar com nós mesmos é usar
exatamente o mesmo método: precisamos exercer nossa vontade,
precisamos ter esta intenção.
Quando o silêncio interior é atingido, os laços que ligam o ponto de
aglutinação, fazendo com que o ponto de aglutinação permaneça no lugar
em que ele está localizado, começam a soltar-se, e o ponto de aglutinação
fica livre para se movimentar. A dificuldade para o homem médio é o
diálogo interno. A pessoa só pode usar o impulso (impulso da terra)
quando atinge um estado de silêncio total
A maioria das técnicas especiais de respiração são muito úteis para
aquietar a mente, forçando o sujeito a se concentrar na respiração em vez
de pensar. A atenção plena na respiração é, de fato, uma das formas
gerais básicas de alcançar o silêncio.
Para ser um Nagual a pessoa precisa amar a liberdade e deve ter
um despreendimento supremo.
Busca de liberdade: liberdade de perceber, perceber a essência
energética das coisas.

158
Perceber a essência das coisas é uma capacidade que chamamos
de ver. Ver é perceber a energia diretamente, sem pensamentos nem
julgamentos.
Lembre-se: silêncio é poder!

O Agora

Existem muitas frases de impacto para O Agora, só existe o agora,


mas o que é isso na vida real de um guerreiro?
Viver o Agora é estar presente, alerta, atento, fora dos pensamentos
e divagações. Cada vez que eu pensar no passado ou futuro, minha mente
irá reconstruir minha experiência a partir do meu estado interno atual, ou
seja, se estou X, vou olhar o passado ou futuro com a lente mental de X.
Em qualquer das alternativas e em qualquer situação olhar o passado ou
futuro será uma reconstrução, uma ilusão cognitiva apenas.
Posso também, pensar no presente e continuar antecipando os
minutos seguintes ou atrasando os minutos, olhando para trás.
A maestria é estar presente, sem pensamentos, só ação!
Mindset de atletas de alto desempenho, executivos em reunião, ou
de guerreiro é presença extrema.
Não somos nossa mente! Não somos nossos pensamentos!
Presença extrema te faz ser notado em qualquer lugar, te dá poder
pessoal, todo seu Ser, tudo que você é num só lugar é foda demais..
Viver em presença extrema é difícil no começo, pois acreditamos nos
pensamentos e nos iludimos com as emoções... somos mais que isso! Não
temos tempo pra mimimi, na guerra é porrada.
Pergunta mágica: Como? Onde estiver fisicamente, esteja!! Onde
não estiver fisicamente, não esteja!!
Faça tudo com tesão, com fúria!! Como seria viver na pegada, na
vontade, no tesão de realizar, de conquistar, de fazer acontecer, todos os
dias?
Não é motivação, nem pensamento positivo, é uma DECISÃO!!
Uma decisão que dói na pele, vicia e dá resultados.
Nem ligue para os mimimis, contra fatos não há argumentos.
Mostre Resultados !!
Nunca se explique. Nunca se queixe.

159
A Conexão com o Espírito
Da perspectiva do bruxo, contudo, deixar-se guiar por meio de sinais
é sua maneira de ser impecável, de manter-se conectado com o espírito.
Aos augúrios e presságios, os bruxos chamam de ‘as manifestações do
espírito’. O Espírito, a Águia, o Intento, a Teia de Aranha, ou como quer
que o chamem, é uma força cósmica que intervém em tudo que existe, do
macro ao micro.
Se nos abrimos ao espírito, até o voo de uma mosca pode nos dizer
algo.”augúrios são indicações do espírito para nos guiar em nosso
caminho. É somente com o treinamento especializado que recebem os
guerreiros, que se pode aprender como portar-se diante dos gestos do
espírito.
Para ter o canal aberto, o guerreiro luta por frear todos os demais
ruídos da mente; somente assim consegue uma comunicação clara com o
espírito.” “Conseguir isso significa que colocou sua vida em ordem,
significa que dominou seus instintos, que se libertou da manipulação
social, que conseguiu tapar todos os pontos de drenagem de energia.
A cada curva de esquina o espírito está presente. Ainda quando não
se esteja consciente, até nas menores decisões, o intento está metido no
meio. Somente tomando-se consciência de cada instante, de cada
pensamento e de cada ato, podemos nos conectar com o espírito. O que
se deve fazer é seguir os sinais e fluir com o espírito. Quando se aprende
a fluir, então tudo se encaixa em seu lugar. O guerreiro sabe que os sinais
são expressões da vontade da Águia, e o que ele deve fazer é seguir suas
indicações.

Atributos do homem de conhecimento

Estes são, segundo os novos videntes, os quatro passos no caminho


do conhecimento: O primeiro passo é a decisão de tornar-se aprendiz.
Depois que os aprendizes mudam sua visão sobre si mesmos e sobre o
mundo dão o segundo passo e tornam-se guerreiros, ou seja, seres
capazes de extrema disciplina e autocontrole. O terceiro passo, depois de
adquirirem paciência e senso de oportunidade, é tornar-se um homem de
conhecimento. Quando homens de conhecimento aprendem a ver, dão o
quarto passo, tornando-se videntes.
Quem está no caminho do conhecimento pode adquirir um mínimo
dos dois primeiros atributos: controle e disciplina. Esses atributos referem-
se a um estado interior. Um guerreiro é auto-orientado, não de um modo
egoísta, mas no sentido de um exame total e contínuo de si mesmo.

160
A estratégia mais eficaz foi elaborada por mestres inquestionáveis da
espreita. Consiste de cinco elementos que interagem entre si que são
chamados de atributos do guerreiro: controle, disciplina, paciência,
oportunidade e vontade. Estes dizem respeito ao mundo do guerreiro, que
está lutando para perder a vaidade.
É aconselhável ser impecável e praticar meticulosamente tudo aquilo
que aprender, e acima de tudo, a ser cuidadoso e deliberado nas ações a
fim de não exaurir a força de vida em vão. O pré-requisito de entrada em
qualquer dos estágios de atenção é a posse da força de vida, pois sem ela
os guerreiros não podem ter direção ou objetivo.
Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele para o resto da
vida, porque, em vez do medo, ele adquiriu a clareza... uma clareza de
espírito que apaga o medo. Então, o homem já conhece seus desejos;
sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na
aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se
lhe oculta.
A fim de se tornar um homem de conhecimento, a pessoa tem de ser
um guerreiro. É preciso lutar sem desistir, sem reclamar, sem hesitar, até
ver, só para compreender, então, que nada importa.
O poder está no tipo de conhecimento que se tem. De que adianta
saber coisas inúteis? Elas não vão nos preparar para o encontro inevitável
com o desconhecido. Nada neste mundo é um presente. O que tiver de ser
aprendido será aprendido da maneira mais dura. Uma pessoa vai para o
conhecimento como vai para a guerra: bem desperta, com respeito e com
uma segurança absoluta. Ir para o conhecimento ou para a guerra de
qualquer outra maneira é um erro, e quem o cometer pode não viver para
se arrepender. Quando a pessoa preenche esses requisitos — estar bem
desperta, com respeito e segurança absoluta — não há erros que ela
tenha de explicar; nessas condições, seus atos perdem a qualidade
desastrada dos atos de um tolo. Se uma pessoa dessas fracassar, ou
sofrer uma derrota, terá perdido apenas uma batalha, e não haverá
lamentos ou remorsos por causa disso. Pensar demais no próprio “eu”
durante muito tempo produz uma fadiga terrível. Uma pessoa nessa
posição fica surda e cega para todo o resto. A própria fadiga a impedirá de
ver as maravilhas que estão a sua volta. Toda vez que uma pessoa
resolve aprender, ela tem de trabalhar tão duro quanto puder, e os limites
do seu aprendizado são determinados por sua própria natureza. Portanto,
não há vantagem em falar sobre o conhecimento.
Os feiticeiros são homens de conhecimento antes que homens de
razão, e como tal estão adiantados em relação aos intelectuais do
Ocidente, que assumem que a realidade (frequentemente equiparada com

161
a verdade) se conhece através da razão. Um feiticeiro mantém que a única
coisa que se pode conhecer mediante a razão são nossos processos de
pensamento, mas que é só mediante o ato de compreender nosso ser
total, em seu nível mais sofisticado e intrincado, que poderemos apagar os
limites com os quais a razão define a realidade.
Os feiticeiros cultivam a totalidade de seu ser, ou seja, que não
necessariamente fazem uma distinção entre os aspectos racionais e
intuitivos do homem. Utilizam ambos para chegar ao reino da consciência,
que chamam de “conhecimento silencioso”, o qual existe mais além da
linguagem e mais além do pensamento.
Para que alguém possa silenciar seu lado racional, primeiro deve
compreender os processos do pensamento em seu nível mais sofisticado e
complexo. Acreditava que a filosofia, começando com o pensamento
clássico grego, forneceu a melhor maneira de iluminar este processo.
Como eruditos ou como leigos, somos membros e herdeiros da tradição
cultural do Ocidente, significando que, independente de nosso nível de
educação e sofisticação, somos prisioneiros dessa tradição e de sua
maneira de interpretar a realidade.
Somente de maneira superficial estamos dispostos a aceitar que
aquilo que chamamos de realidade é algo culturalmente determinado, e o
que precisamos é aceitar, ao nível mais profundo possível, que a cultura é
o produto de um processo longo, cooperativo, altamente seletivo e
desenvolvido, e por último, mas para ele não menos importante, altamente
coercitivo, que culmina num acordo que nos desvia e nos afasta de outras
possibilidades. Os feiticeiros procuram, de forma ativa, desmascarar o fato
de que a realidade é ditada e mantida por nossa razão: que as idéias e os
pensamentos surgidos da razão se convertem em regimes de
conhecimento que ordenam a forma como vemos e atuamos no mundo; e
que todos estamos sujeitos à uma incrível pressão para assegurar que
certas ideologias nos sejam aceitáveis.
Ressaltou que os feiticeiros estão interessados em perceber o
mundo de maneira diferente ao culturalmente definido, e o culturalmente
definido é que nossa experiência pessoal, mais um acordo social
compartilhado acerca do que nossos sentidos são capazes de perceber,
determinam o que percebemos. Qualquer coisa fora deste reino
perceptual, sensorialmente convencionado, é automaticamente
encapsulado e posto de lado pela mente racional, e desta maneira nunca
se danifica o frágil manto das presunções humanas.
Os feiticeiros ensinam que a percepção ocorre em um lugar fora do
reino sensorial; sabem que existe algo mais vasto que o que nossos
sentidos podem captar. Dizem que a percepção tem lugar em um ponto

162
fora de nosso corpo, fora dos sentidos, mas não é suficiente acreditar
meramente nesta premissa. Não é apenas questão de ler acerca disso, ou
escutá-lo da boca de terceiros. Para transformá-lo em algo corpóreo, a
pessoa precisa tê-lo experimentado.
Os feiticeiros lutam ativamente durante todas suas vidas para
quebrar esse débil manto das presunções humanas. Contudo, não
mergulham cegamente na escuridão. Estão preparados; sabem que
quando se lançam ao desconhecido necessitam dispor de uma bagagem
racional bem desenvolvida. Somente então poderão explicar e dar sentido
ao que trouxerem de volta de suas viagens ao ignoto.
Acrescentou que eu não devia entender a feitiçaria através da leitura dos
filósofos, e sim compreender que tanto a filosofia como a feitiçaria são
formas altamente sofisticadas de conhecimento abstrato. Tanto para o
feiticeiro como para o filósofo a verdade de nosso ser-no-mundo não
permanece impensada. Não obstante, o feiticeiro vai um passo além: atua
à base de seus achados que já estão, por definição, fora de nossas
possibilidades culturalmente aceitadas.
Os filósofos são feiticeiros intelectuais. Apesar disso, suas buscas e
ensaios ficam sempre em empenhos mentais. Os filósofos somente podem
atuar no mundo que tão bem entendem e explicam da maneira cultural já
concordada. Eles se somam a um já existente corpo de conhecimento.
Interpretam e reinterpretam textos filosóficos. Novos pensamentos e idéias
resultantes deste intenso estudo não os mudam exceto, talvez, num
sentido psicológico. Podem chegar a converter-se em pessoas mais
compreensivas e boas, ou talvez em seu oposto. No entanto, nada do que
façam filosoficamente mudará sua percepção sensorial do mundo, pois os
filósofos trabalham de dentro da ordem social, à qual apóiam, ainda que
intelectualmente possam não estar de acordo com ela. Os filósofos são
feiticeiros frustrados.
Os feiticeiros também constroem sobre um conjunto já existente de
conhecimento. Contudo, não o fazem aceitando o já provado e
estabelecido por outros feiticeiros. Devem provar de novo a si mesmos que
aquilo que já se dá por aceitado na verdade existe, e se submete à
percepção. Para conseguir cumprir esta tarefa monumental, precisam de
uma extraordinária capacidade de energia, a qual obtêm apartando-se da
ordem social sem retirar-se do mundo. Os feiticeiros rompem a convenção
que tem definido a realidade sem destruir-se no processo de fazê-lo.
Um homem de conhecimento é aquele que seguiu fielmente as
provações do aprendizado. Um homem que, sem se precipitar nem se
deter, foi tão longe quanto possível para decifrar os segredos do poder
pessoal.

163
A energia sexual

A consciência se desenvolve desde o momento da concepção.


Sempre afirmei que a energia sexual é algo de extrema importância, e que
deve ser controlada e usada com grande cuidado, economizar e
recanalizar.
A única energia real que possuímos é a energia sexual, que confere
vida. A energia sexual é algo de extrema importância, e que deve ser
controlada e usada com grande cuidado, economizar e recanalizar a
energia sexual. Esse conhecimento torna [os guerreiros] conscientes de
sua responsabilidade. Se os guerreiros desejam ter energia suficiente para
ver, devem tornar-se ávaros com sua energia sexual.
Fazer sexo é uma questão de energia. O sexo é uma doação do
brilho da consciência. Nossa energia sexual é o que governa o sonhar.
nossa energia sexual é muito importante para o trabalho mágico. Uma
recapitulação minuciosa é necessária, e mais que isso, uma purificação.
Nós queimamos fora toda a ilusão mortal. A alta ordem de curandeiros-
sacerdotes requer uma purificação energética e potência, incluindo
abstinência de relações sexuais. O sonhador xamânico pratica bem as
transformações, ou trabalho de cura energética, que requer muita energia
sexual purificada, e eles a envolvem, a despertam e transformam-na,
elevando-a. Pegar grandes partes desta energia sexual para sonhar
porque o sonhar acessa arte e energia da criação. Minha outra predileção,
que não foi escolhida por mim, mas que a aceito completamente, é utilizar
a energia sexual para a cura.
A energia sexual é uma das baterias do duplo. Este é uma cópia
energética do nosso corpo físico. Ele transmite conhecimento como
energia ao corpo físico e o dirige assim como você dirige o seu jeep.
Vazando ou perdendo esta energia faz o veículo não funcionar em sua
potência máxima. A energia sexual é criativa e é a fonte energética para o
sonhar. O processo começa, como você sabe, com a tarefa de sonhar o
corpo. A cada noite durante o sono, o corpo energético passa por dois
estágios. O primeiro é fazer reparos corporais. O corpo energético gasta
pelo menos várias horas por noite dentro dos ossos, sangue, órgãos, pele,
renovando o corpo físico. E gastará mais tempo se o corpo estiver doente.
Parte do combustível para esse processo é nossa própria energia sexual,
então se a pessoa precisa se curar, ervas que são tônicas e fortificantes
para a energia sexual precisam ser usadas em conjunto com outros
remédios. De outra forma, o corpo energético gastará toda a energia

164
disponível fazendo os reparos, e ainda assim pode não ser suficiente,
levando o corpo a um estado de fadiga e mal-estar.
Os novos videntes optam por uma posição de celibato e
autossuficiência, porque são muito gananciosos com sua energia e
preferem dedicá-la à expansão de sua consciência. Eles testemunharam
mundos em suas jornadas ao infinito que fazem todas as outras coisas
parecerem pálidas e sem atração, até mesmo o ato sexual. O guerreiro
substitui seu comportamento sexual habitual por um propósito mais
profundo. Você sacrifica seu orgasmo habitual em troca de consciência.
Os videntes percebem o orgasmo como uma explosão de energia,
onde as fibras luminosas se agitam e se esforçam para criar uma nova
vida. Uma comparação, seria uma bexiga que se infla até estourar. A
explosão de energia invariavelmente atrai aos predadores, para se
alimentarem do esbanjamento, já que eles estão sempre por perto. Dizem
os videntes, que a masturbação gera egocentrismo, e que os
masturbadores, em geral, são prisioneiros da autocomplacência, que é um
dos disfarces da autocompaixão. Se torna um círculo vicioso, lhes falta
controle sobre si mesmos, e por essa razão, não usam a energia para
mais nada, de forma que o ciclo se repete vez e outra.
A Matrix sabe a força da energia sexual, e utiliza o forte apelo que
nosso instinto sexual tem em nossa psique e no nosso comportamento,
principalmente nos homens. Nos atinge através da hiperssexualidade
(propagandas, filmes, pornografia, outdoors, revistas, músicas, cultura da
liberdade sexual, etc), fazendo com que nosso centro de atenção passe
uma boa parte do dia tendo o sexo como foco, central ou periférico, assim
nos enfraquecendo e nos desvirtuando do caminho da energia e poder
pessoal. Instintos fora de controle costumam evidenciar bloqueios
energéticos sérios e desequilíbrio na vida das pessoas, e são uma das
maiores zonas de escoamento de energia do ser humano moderno.
Podem ser a causa de muitas fraquezas superficiais ou até mais graves,
em alguns casos.
O instinto sexual nos homens é uma força muito poderosa e muito
volátil. Eu o considero uma criança-problema, sempre pronto e tentado a
aprontar.
PRÁTICA: PURIFICANDO A ENERGIA SEXUAL.
1. Explore a natureza da energia vinculada que foi criada através da
interação sexual. Esta pode ser percebida como fibras, como tentáculos
que a conectam com sua energia criativa em sua manifestação potencial
de seu parceiro, ou parceiros. Pergunte a si mesmo se deseja que sua
energia criativa seja aplicada desta forma.

165
2. Se você deseja libertar a si mesmo de emaranhados energéticos desta
natureza, você deve, primeiro, é claro, cortar todos os relacionamentos
sexuais com parceiro ou parceiros de quem você deseja remover sua
energia.
3. Após uma recapitulação minuciosa individual.
4. Depois da recapitulação, você deve analisar os parceiros que criaram
estas fibras energéticas de conexão e porque são indesejáveis. Então
você deve esforçar-se para não repeti-los. A recapitulação deverá dar-lhe
suficiente impulso de energia para ajudá-lo em sua tarefa de desconectar-
se de seus parceiros. 5. Um período de sóbrio celibato seguindo a isso, ou
lealdade para um muito íntimo e verdadeiro parceiro, junto com uma
recapitulação, fará uma purificação adicional, desemaranhando e
renovando as energias.
A vontade do guerreiro deve estar muito afiada para que esse
instinto fique sob controle. Não que o guerreiro não deva transar ou ter
uma vida sexual ativa, muito pelo contrário. Mas os xamãs toltecas dizem
que a energia sexual é muito importante no nosso agrupamento total
energético, ela tem um peso enorme no resultado final dos nossos
empreendimentos, e como tal, deve ser economizada e não desperdiçada
inutilmente.
Isso, porém, vai depender muito do nível de energia do caminhante e
da sua configuração energética. Quanto mais energia você tiver, e melhor
direcionada, mais você pode gastá-la fazendo sexo. E logicamente, quanto
menos energia você tiver, e principalmente se essa energia estiver mal
distribuída no momento, mais você deve economizá-la.
Não dê mole para as forças da vida. Agora é hora de tomar as
rédeas da situação e zerar a distância entre o que você pensa, fala e faz.
Isso é impecabilidade. Economia e incremento de energia. Lembre-se que
você é o predador e não a presa. Você não vai ser subjugado por seus
instintos e suas fraquezas. É o contrário: você vai caçá-las, enfrentá-las,
encurralá-las e matá-las.
Equilibre sua vida sexual de forma impecável. Dá pra fazer as duas
coisas: ter uma vida sexual ativa e saudável, economizar e incrementar
sua energia. Basta exercer sua vontade e definir as regras do jogo..
Vontade de ferro!
Tenha um propósito.
O instinto sexual vira um problema mesmo e toda nossa energia
sexual começa a ir embora quando ele assume o comando da nossa
mente e começa a ditar as regras. Daí surgem os pensamentos e hábitos
desgastantes energeticamente, e que podem nos trazer sérios problemas
e consequências desagradáveis e desastrosas para nossa estratégia de

166
vida se não forem cortados. Podemos dizer que nesse ponto, o instinto
sexual muitas vezes se torna nossa maior fraqueza e nosso principal ponto
de escoamento de energia.
Um ser humano controlado pelos seus instintos não é um ser
humano luminoso e mágico, como nos é de direito. É um chimpanzé
matrixiano rastejante. Com todo respeito aos chimpanzés. Um guerreiro
controla seus instintos através da sua vontade.
O equilíbrio mental nada mais é que a fixação do ponto de
aglutinação num lugar o qual estamos acostumados. Se os sonhos fazem
esse ponto mover-se e sonhar é usado para controlar esse movimento
natural, e energia sexual é necessária para sonhar, o resultado é às vezes
desastroso quando a energia sexual é dissipada em sexo em vez de
sonhar. Então os sonhadores movem seus pontos de aglutinação
erraticamente, porque sua energia sexual não está equilibrada.
Recapitule sua história sexual: Ao inspirar a energia que você perdeu
em sua história sexual passada, e expirar emanações estrangeiras presas
em seu corpo por meio de encontros íntimos passados (e, possivelmente,
por abuso sexual), você experimentará uma limpeza profunda de seu
corpo físico, bem como do seu Duplo Energético. Você aumentará sua
vitalidade e ganhará clareza, juventude, motivação e confiança. Você será
capaz de lidar com a intensidade, fazer sacrifícios pessoais e manter seus
compromissos; todos os quais são necessários para manter conexões
profundas e significativas com seus semelhantes.
Sendo um feiticeiro dos tempos antigos, o inquilino aprendeu de seus
professores todas as complexidades de mudar seu ponto de aglutinação.
Como tem, talvez, milhares de anos de uma vida e uma consciência
estranha – tempo suficiente para aperfeiçoar qualquer coisa – ele agora
sabe como alcançar e manter centenas, se não milhares, de
posicionamentos do ponto de aglutinação. Seus dons são como mapas
para deslocar o ponto de aglutinação para locais específicos e como
manuais sobre como imobilizá-los em qualquer desses posicionamentos, e
com isso adquirir coesão.
O sonho faz o ponto de aglutinação mover e a energia sexual é
necessária para sonhar. A energia sexual deve ser utilizada no sonho.
Quando o ponto de aglutinação move desordenadamente é porque a
energia sexual não está equilibrada. Para os sonhadores a energia sexual
tem que estar liberada do mundo.
Os novos videntes ardem com a força do alinhamento, com a força
da vontade, que transformam na força da intenção através de uma vida de
impecabilidade. A intenção é o alinhamento de todas as emanações

167
ambarinas da consciência, de modo que é correto dizer que a liberdade
total significa consciência total.
A prática sexual vulgar é vista pelos novos videntes como
desperdício de energia ou da "força de vida". No geral, para o treinamento
tolteca a castidade é uma premissa por razões basicamente econômicas.
É dito que o homem possui um quantidade limitada de energia e que é
necessário economizá-la para ter acesso ao conhecimento: "...o pré-
requisito de entrada em qualquer dos estágios de atenção é a posse da
força de vida, pois sem ela os guerreiros não podem ter direção ou
objetivo.
Os novos videntes optam por uma posição de celibato e
autosuficiência, porque eles são muito avaros com a energia deles e
preferem dedicá-la ao aumento de sua consciência. Os mundos de que
são testemunhas em suas viagens pelo infinito fazem com que todas as
outras coisas, até mesmo o ato sexual, pareçam pálidas e carentes de
atrativos.
Devemos neste caso tratar de abstrair o nosso intento sexual. É
muito normal mantermos uma expectativa regular neste campo, tratando-o
mais ou menos como qualquer outra fonte regular de alimentação. Trata-
se, neste caso, de alimento emocional, ainda que com perda energética
física. A abstração é, no entanto, possível quando entendemos que os
instintos podem ser controlados e redirecionados até certo ponto, cabendo
para isto buscar outras formas de "estímulos" e novos campos para o
experimento.
Evitamos exaurir energia erroneamente, no sentido geral, através de
ações deliberadas de intenção e de organização do tonal.
A sexualidade, segundo os xamas, é um Caminho. A pratica sexual
está relacionada com a separação de energias vitais e a tremenda força de
atração causada pelo desejo de “tornar a unir”. O ato sexual é a função da
individualização inicial do ser e se caso não existisse, seria impossível
existir a vida tal como a conhecemos neste planeta. De uma maneira geral,
o sexo nos religa a “Fonte da Vida”, pois relembra o ato que dá início ao
processo de criação de uma vida. Portanto, podemos dizer, de um ponto
de vista simbólico, que o ” Sexo é Sagrado “.
Para os videntes toltecas, a única energia real que possuímos é a
energia sexual – a energia que confere vida. A energia sexual é algo de
extrema importância que deve ser controlada e usada com grande
cuidado, haja vista que sua má utilização, geralmente, redunda num
grande desperdício de energia e vitalidade pessoais. A compreensão
dessa força descomunal, advertem os feiticeiros, deve tornar-nos

168
permanentemente conscientes de nossa responsabilidade para com a
energia sexual.
Os videntes toltecas jamais trataram do controle e manejo da energia
sexual em termos de moralidade, mas antes, em termos de economia e
recanalização de energia. Essa sempre fora a chave-mestra utilizada pelos
guerreiros do vale do México.
Os antigos feiticeiros compreenderam algo extremamente
importante: descobriram que o sexo é fundamentalmente uma doação do
brilho da consciência. Essa consciência tem origem no momento da
concepção e se desenvolve ao longo de toda vida do ser humano, muito
embora permaneça fixa ou congelada no casulo luminoso da grande
maioria dos homens. Don Juan afirma que “a Águia ordena que a energia
sexual seja usada para que haja vida. Através da energia sexual, a Águia
confere a consciência. Assim, quando seres conscientes estão engajados
em relações sexuais, as emanações dentro de seus casulos fazem o
possível para conferir consciência ao novo ser que estão criando”.
Durante o ato sexual, as emanações contidas dentro do casulo dos
dois parceiros passam por uma profunda agitação, cujo ponto culminante é
uma junção, uma fusão de duas partes do brilho da consciência, uma de
cada parceiro, que se separam de seus casulos. Neste sentido, a relação
sexual é sempre uma doação de consciência, mesmo quando a doação
não acabe sendo consolidada. Castañeda, certa feita, questionou a Don
Juan o que poderia ser feito com a sensualidade natural do homem. Don
Juan enfaticamente respondeu: Nada! O velho Nagual afirmava que não
havia nada de errado com a sensualidade do homem, mas tão somente a
ignorância humana e o desrespeito por sua natureza mágica que estavam
errados.
O velho Nagual dizia que para entrar no outro mundo a pessoa tem
de ser completa. Para ser feiticeiro, tem de ter toda a sua luminosidade:
nem buracos, nem remendos e todo o fio do espírito. Portanto, um
feiticeiro que for vazio tem de tornar a ser completo.
Fazer sexo é uma questão de energia. O Nagual recomendava que
pessoas com pouca energia nunca fizessem sexo; dessa maneira, poder-
se-ia acumular e economizar a pouca energia de que dispunham.
Um erro do homem é agir com total desrespeito pelo mistério da
existência, dizia Don Juan, ao acreditar que um ato tão sublime quanto
conferir vida e consciência é meramente um impulso físico que a pessoa
pode manipular à vontade. Desta maneira, enfatizou:
Se os guerreiros desejam ter energia suficiente para ver, devem
tornar-se avaros com sua energia sexual. A pratica do celibato, de acordo
com os videntes toltecas, é altamente recomendado para restaurar a

169
energia perdida e também “para realizar a viagem junto a liberdade”, pois o
principal objetivo e interesse dos feiticeiros está em “adquirir poder,
concentrar energia e não em perdê-la”. Acumulo de energia, poder pessoal
e conquista da liberdade são indissociáveis.
O equilíbrio mental nada mais é que do que a fixação do ponto de
aglutinação num lugar ao qual estamos acostumados. Os sonhos fazem
esse ponto mover-se e sonhar é usado para controlar esse movimento
natural. A energia sexual é necessária para sonhar, o resultado é às vezes
desastroso quando a energia sexual é dissipada pelo sexo em vez do ato
de sonhar.
Don Juan advertia sobre a necessidade do cuidado com a energia
sexual, pois se não tivermos cuidado com essa energia, ela pode muito
bem se acostumar à ideia de movimentos erráticos em nosso ponto de
aglutinação. O ponto de aglutinação move-se quase erraticamente quando
a energia sexual não está equilibrada.
Na esfera humana, conquanto a função primordial da relação sexual
seja a procriação, ela também tem uma função secundaria, isto é, a
construção do corpo energético do homem: o duplo.
De uma maneira feral, a energia sexual é o que governa o sonhar, ou
melhor, a percepção e liberdade de nosso duplo, ou ainda, nosso “corpo
energético”, “corpo sonhador” ou “corpo astral”. Don Juan ensinou a
Castaneda que ou se faz amor com a energia sexual ou se sonha com ela.
Não há outra maneira.
O fator sexual na vida do ser humano é tão importante e expressivo
que, durante a pratica de recapitulação, sugere-se que o guerreiro comece
recapitulando todas as relações sexuais que se teve durante a vida como
se fosse a espinha dorsal da técnica. Isso serviria tanto para desprender a
mente do passado quanto para restabelecer a energia do corpo sonhador
no presente. A pratica da recapitulação liberta a consciência dessas
amarras.
Para os humanos existe apenas a energia sexual. Essa energia pode
ser gasta como fazem normalmente as pessoas mundanas, ou pode ser
acumulada e transmutada para outros níveis. O desafio consiste em
transformar essa energia, movê-la de um centro para o outro, até
completar o circuito.
De acordo com os videntes, temos oito centros principais. A regra diz
que é preciso começar de baixo, do primeiro centro, passando pelo
segundo e assim em diante, até chegar ao último degrau. É assim que se
consegue desbloquear a vidência. A energia escala pela coluna vertebral,
pum!, pum!, centro a centro, até que se alcance todo o potencial ao qual
estamos destinados como seres luminosos. Existem dois canais de

170
energia no corpo humano que estão associados ao sistema nervoso
central e à medula espinhal (“Sunshumna”, em sânscrito). Esses canais,
conhecidos na pratica médica tradicional como nervos, fazem parte de
nosso sistema nervoso periférico. Nervos aferentes conduzem sinais
sensoriais (da pele ou dos órgãos dos sentidos, por exemplo) para o
sistema nervoso central, enquanto nervos eferentes conduzem sinais
estimulatórios do sistema nervoso central para os órgãos efetores, como
músculos e glândulas. No ocidente esses canais são conhecidos como
Lunar e Solar ou Feminina e Masculina (receptiva/negativa e
ativa/positiva), ou “ida” e “pingala” no oriente. Geralmente, entre os não-
praticantes da Magia Sexual, apenas uma das correntes de energia está
aberta e fluindo.
Nós geramos a energia sexual no chakra sacro que está localizado
dois dedos abaixo do umbigo, é o segundo principal chakra e absorve as
informações das relações interpessoais, intimamente ligado ao primeiro
chakra, o base ou raiz, ligado a sobrevivência, ao instinto e a força que nos
liga a terra, ele se abre entre os órgãos sexuais para baixo e também para
dentro no ventre. Estes chakras funcionam como os principais
‘acumuladores’ de energia sexual, pois ela fica estagnada neles se não a
subimos até os chakras de cima e muitas vezes causa desequilíbrios ou
bloqueios emocionais, por que são nesses centros que estão contidas as
informações da esfera primaria da personalidade, as memórias e as
impressões, assim como outras sensações, etc.
Subir a energia desses chakras chamados de materiais, por nos
ligarem diretamente a matéria, significa explorar as capacidades naguais
da energia sexual e pode se desfazer de preceitos abusivos da
sexualidade, para que então flua e realmente suba a energia, catalisando
processos de abertura, ativação e cura de centros energéticos.
Entre outras coisas, há o exercício de visualizar como a energia vai
progredindo de um centro ao outro. Essas etapas podem levar anos para
serem concluídas, embora haja casos de guerreiros cujos centros tenham
sido abertos muito rapidamente.
Acontece que, para os naguais, a tentativa de alcançar a consciência
de Quetzalcoatl ou à consciência da serpente emplumada é, como eu
disse, um movimento especializado do ponto de encaixe, mediante o qual
o guerreiro, por meio do seu intento inflexível, leva seu ponto mais além
dos limites do ovo luminoso. Esse esforço faz com que a luminosidade da
pessoa se estique e se transforme em uma fina linha de luz com o ponta
de encaixe em uma das extremidades, como se fosse a cabeça de uma
cobra. Para um observador externo, essa visão se assemelha a uma cobra
luminosa que flutua no céu.

171
Subir a energia dos materiais até os extra físicos é trabalhar um
processo alquímico e também de redistribuição energética onde a energia
que costuma ficar acumulada vai sendo transportada através dos demais
centros, alinhando-os e ativando plenamente suas funções. Dos materiais,
resumidamente, passa ao chakra plexo solar dos sentimentos, cardíaco do
Amor supremo, garganta da comunicação e terceiro olho da intuição e o
coronário que expande ao infinito. O corpo enquanto um canal do Espírito.
Esses processos podem ser feitos autonomamente, com espreita e
recapitulação.
Sobre o celibato recomendado: Acumular energia sexual e evitar
trocar físicas com pessoas que não ressoam faz parte da autossuficiência
e não compaixão.
Para isso energia sexual acumulada deve ser Observada pela bruxa
ou bruxo e como isso age na sua vida, como seu corpo reage, se tem mais
energia pra espreitar ou ensonar, ou isso vai gerar mais discordâncias
internas e desiquilíbrios por energia demais a ser lidada. Quando se
acumula energia estrategicamente se administra e a redistribui, de acordo
com o intento que foi deliberado ao decidir não ter práticas sexuais
inconscientes e ai com a energia acumulada dar seguimento aos
processos intentados utilizando essa energia acumulada. Por exemplo,
guardar energia sexual para fortalecer chakras fracos ou conhecer centros
energéticos inexplorados, como o centro das decisões ou da Vontade.
O armazenamento da energia sexual constitui o primeiro passo da
jornada rumo ao corpo etérico, à consciência e à liberdade total.
A liberdade é o presente da Águia para o homem. Infelizmente, são
muito poucos os homens que compreendem que tudo de que
necessitamos para aceitar um presente tão magnífico é dispor de energia
suficiente. Se é tudo de que necessitamos, então é evidente que devemos
tornar-nos avaros de energia.
O vidente que viaja para o desconhecido a fim de ver o incognoscível
deve encontrar-se em um estado impecável de ser.
É preciso aceitar a idéia de que o infinito é uma força que tem uma
voz e é consciente de si. A tarefa dos feiticeiros é enfrentar o infinito, e
submergir, nele diariamente, tal como um pescador submerge no mar.

172
O Corpo Energético

A quarta unidade do caminho do guerreiro é o corpo de energia. Don


Juan Matus explicou que, desde tempos imemoriais, os feiticeiros têm
atribuído o termo “corpo de energia” a uma configuração especial que
pertence a cada ser humano individualmente. Ele também chamou essa
configuração de o “corpo sonhador”, o “duplo” ou o “outro”.
Don Juan explicou solenemente o corpo de energia como um
conglomerado de campos de energia que são a imagem espelhada dos
campos de energia que compõe o corpo humano quando é visto
diretamente como energia.
Don Juan disse que, para os feiticeiros, o corpo físico e o corpo de
energia constituem uma unidade. Mais tarde ele explicou que os feiticeiros
acreditam que o corpo físico envolve tanto o corpo quanto a mente como
os conhecemos e que o corpo físico e o corpo de energia são apenas
configurações de energia contrabalanceadas no nosso reino humano.
Visto que não há algo como um dualismo entre corpo e mente, o único
dualismo possível que existe é entre o corpo físico e o corpo de energia. A
alegação dos feiticeiros é que perceber constitui um processo de
interpretação dos dados sensoriais, mas cada ser humano tem a
capacidade de perceber diretamente a energia, ou seja, sem a
necessidade de processá-la através de um sistema de interpretação.
Como já foi afirmado, quando os seres humanos são percebidos na sua
forma, eles tem a aparência de uma esfera de luminosidade. Os feiticeiros
afirmam que esta esfera de luminosidade é um conglomerado de campos
de energia mantidos unidos por uma misteriosa força de ligação.
Uma das artes dos feiticeiros é chamar o corpo de energia, que
ordinariamente esta muito longe de sua contraparte, o corpo físico, e trazê-
lo mais próximo para que ele possa começar a presidir energeticamente
sobre todas as coisas que o corpo físico faz.
Quando o corpo de energia está muito próxima do corpo físico, um
feiticeiro vê duas esferas luminosas, quase superpostas uma sobre a
outra. Ter nossa energia gêmea por perto seria nosso estado natural ou,
ao menos seria, se não fosse pelo fato de que algo empurrou para longe
nosso corpo de energia, começando no exato momento do nosso
nascimento.
Os feiticeiros da linhagem de Don Juan colocavam uma grande
ênfase na disciplina exigida para trazer o corpo de energia próximo ao
corpo físico. Don Juan explicou que, uma vez que o corpo de energia
permanece dentro de certa faixa energética, que varia de acordo com cada

173
um, sua proximidade permite aos feiticeiros a oportunidade de forjar o
corpo de energia no “outro” ou no “duplo”: outro ser, sólido e
tridimensional, exatamente como eles mesmos.
Os feiticeiros consideram o ponto de aglutinação o lugar onde o fluxo
direto de energia converte-se nos dados sensoriais interpretados como o
mundo da vida diária. Don Juan disse que aquele ponto de aglutinação,
além de fazer tudo isso, também possui a mais importante função
secundaria: é a conexão entre o corpo físico e o ponto de aglutinação do
corpo de energia. orça do intento.
Ele também disse que quando o corpo físico e o corpo de energia
não estão unidos, a conexão entre eles é uma linha etérea, por veze tão
tênue que sequer parece existir. Don Juan estava certo de que a corpo de
energia é empurrado cada vez mais longe quando o corpo físico envelhece
e que a morte surge como resultado do rompimento desta tênue
conexão.
Uma maneira fácil de pensar no seu Duplo de Energia, por exemplo,
é enquanto dorme à noite, você pode focar sua atenção ou lembrar a
presença que manobra em seus sonhos.
Enquanto o corpo físico é composto de partes do corpo, o Duplo de
Energia é vazio de quaisquer partes.
É estúpido acreditar que só porque você tem um nome, um
endereço, um emprego ou vai à escola, você já conhece a si mesma ou
aos outros. Esses atributos não são o seu verdadeiro eu; são apenas
formas de descrever quem você é, para que possa falar sobre você como
uma pessoa social.
Don Juan enfatizou que a ideia de que o corpo é uma entidade
constante e contínua é uma das suposições mais difíceis de quebrar. Isso
acontece porque as pessoas se identificam com seus corpos, que
percebem da forma que é aceita pelo mundo ao seu redor.
Argumentei que o corpo físico é verdadeiro e não uma aparência.
Mas ele insistiu que manter esta posição decorre de percepção limitada e
senso comum incorreto. Seu corpo é uma ideia, uma abstração. Como
você o considera depende da sua cultura e da modalidade da época em
que você vive. Por exemplo, as pessoas no passado não tinham a mesma
perspectiva sobre o corpo que temos. E o homem ocidental não tem a
mesma visão dele que um feiticeiro tem.
Algumas pessoas não conseguem perceber o corpo etérico ou
energético que lhes permitiria realizar façanhas extraordinárias. Portanto,
ao contrário do feiticeiro que diariamente sintoniza e revigora seu corpo
energético, seu duplo, a pessoa média não faz nada para melhorá-lo, mas
faz tudo para realçar sua auto-importância, sua pessoa social.

174
Na auto-importância colocamos uma ênfase indevida na ideia que a
pessoa tem de si mesma. Para que essa ideia se torne realidade, deve
receber energia constante. É preciso sempre cuidar dela, sustentá-la,
reforçá-la, mimá-la, para mantê-la viva.
As pessoas perderam o contato com suas origens misteriosas, que
representam o desconhecido para elas, e só ficaram com uma imitação
insignificante, uma ideia quimérica que consideram real.
Verdades do corpo de energia:
1 – Devido à força do consenso social, a verdade do ser luminoso é
afastada para longe na forma do corpo de energia, puro Intento, o
poderoso sósia da esfera de energia.
2 – Nós morremos porque o corpo de energia é afastado para longe da
esfera de energia, tão longe que a conexão se quebra por completo. Então
a morte acontece. Quando a força vital abandona o corpo, o aglomerado
de fibras se dispersa, tanto da esfera de energia quanto do corpo de
energia,
3 – Nosso Espírito, o corpo de energia, é algo que apenas os videntes
Conhecem. É uma força impessoal, um Poder. Está aí para ser usado se
pudermos aprender como nos reduzir a nada, a energia impessoal.
4 – O ser, o corpo de energia e o mundo em que vivemos, são Sonhos do
corpo de energia. O corpo de energia é a nossa consciência.
5 – O corpo de energia está com o vidente, flutuando perto. O vidente está
ciente disso e aceita sua presença como sua condição natural.
6 – O Espírito está aí em sua forma mais ampla, Emanações Livres, o
Infinito, o Grande Espírito, sempre pairando sobre nós, ainda que
separado de nós pelo longo movimento do ponto de encaixe necessário
para acessar o corpo de energia, que está diretamente conectado ao
Infinito.
7 – O corpo de energia toma o controle quando a Razão é perdida. Os
videntes aceitam que têm tais recursos. Uma necessidade imperativa
serve para lançar o ponto de encaixe.
8 – O corpo de energia Sabe tudo, porque está diretamente Conectado à
Tudo.
9 – Podemos manipular o corpo de energia para ganhos pessoais.
10 – O corpo de energia nos puxa para a Liberdade.
O corpo sonhador resulta da focalização da segunda atenção no
nosso ser total como campo de energia.
Um não fazer básico designado a ajudar o sonho, era o não fazer de
falar, chamado “parar o diálogo interno”. Os dois se combinam no sentido
de que parar o diálogo interno traz a paz necessária e descansa a mente
dos praticantes, e isso por sua vez ajuda-os a controlar seus sonhos.

175
Como o não fazer de dormir, o sonho dá aos praticantes a utilização
daquela porção de suas vidas gastas no cochilo. É como se os sonhadores
não mais dormissem. Mesmo assim não há mal nisso. Os sonhadores não
sentem falta de sono, mas o efeito de sonhar parece ser o aumento do
tempo através do uso de um pretenso corpo extra, o corpo sonhador.
Dom Juan explicou-me que o corpo sonhador é às vezes chamado
de “o sósia” ou “o outro”, porque é uma réplica perfeita do corpo do
sonhador. É basicamente a energia de um ser luminoso, um
esbranquiçado, uma emanação fantasmagórica, que é projetada pela
fixação da segunda atenção numa imagem tridimensional do corpo.
Explicou que o corpo sonhador não é um fantasma; é tão real quanto
qualquer coisa com que lidamos no mundo. Disse que a segunda atenção
é inevitavelmente levada a focalizar sobre nosso ser total como um campo
de energia, e que transforma essa energia em qualquer coisa apropriada.
A coisa mais fácil é, naturalmente, a imagem do corpo físico com o
qual já estamos perfeitamente familiarizados em nossa vida diária, através
do uso da nossa primeira atenção. O que canaliza a energia do nosso ser
total a produzir qualquer coisa que esteja dentro dos limites de
possibilidades é conhecido como “vontade”.
Dom Juan não sabia dizer quais eram esses limites, a não ser que a
nível dos seres luminosos os parâmetros são tão amplos que é bobagem
tentar estabelecer limites; desta forma a energia de um ser luminoso pode
ser transformada, através da vontade, em qualquer coisa.”
Pode-se começar a ter uma ideia do esforço colossal pelo qual se
deve passar um guerreiro em seu treinamento, até alcançar a consciência
do corpo de energia, e isso só é possível alcançando primeiramente a
consciência do corpo físico. Em geral, para se conseguir isso, é necessário
um árduo trabalho de tratamento e exercícios. Isso se faz por meio de
terapias, tanto orgânicas como psicológicas. Esta se pode acumular
através de seguir uma série de estratégias, conhecidas como o caminho
do guerreiro, no qual inclui a terapia orgânica, os exercícios para fortalecer
a vontade e o corpo físico, e todas as demais coisas.
Agora é difícil de se lembrar, mas no princípio, passamos anos
aprendendo a perceber e a usar nosso corpo físico. Da mesma forma,
deve-se tomar o tempo que for necessário, para perceber cada fibra
vibrante que nos compõe. Ao fazermos, terminamos por sentir e atestar a
energia diretamente. Para isso, é de vital importância buscar o silêncio, já
que enquanto estivermos distraídos pelo diálogo interno e pelas projeções
da mente, é impossível se fazer consciente de planos mais sutis.
O corpo energético é um emaranhado energético que nos forma é
uma bolha vibrante, consciente em muitos níveis, e seu complementar, o

176
corpo físico, é a usina de energia da qual se alimenta. Somos uma massa
orgânica, com capacidade de gerar energia, que nos permite transcender o
nível material. De fato, mesmo sem estar conscientes, as pessoas
ultrapassam a barreira física o tempo todo. Ao pensar, sentir ou sonhar,
estamos atuando num plano diferente, que obviamente não é o nível físico.
Da mesma forma, é possível estender a energia com a pura vontade, até
ao ponto de ‘tocar’ um objeto ou pessoa. E do mesmo jeito, é possível se
perceber a intenção que está por trás de tudo que existe. Ao conseguir
isso, a pessoa se torna altamente intuitiva.
Os feiticeiros podem reconhecer, aprimorar e forjar seu Duplo de
Energia para realizar proezas inconcebíveis, usando sua vontade e vendo
com o corpo inteiro; realizando assim a sua totalidade. Como o Duplo
Energético tem pouca massa, ele pode viajar e interagir com seres de
linhagens de luz em mundos geradores de energia, agora, e além do
portão final da morte, para troca de energia e informação.
Alguns bruxos inclusive aprendem a manipular esses tentáculos de
energia, expandindo ou reduzindo-os à vontade, e os movem para produzir
efeitos em tudo que os rodeia, sejam animais ou pessoas. Existem alguns
que, utilizando essas fibras, são capazes de impressionantes atos de
equilíbrio, de voar, ou mover objetos. Um uso mais especializado deste
conhecimento, é se chegar ao corpo de ensonho. Este processo também
começa com ordens repetitivas, até se alcançar a absoluta convicção de
que se é um ensonhador, e que permanece consciente enquanto dorme.
Isso também exige esforço. Fora a persistência, o mais importante é
cumprir com o requerimento de guardar sigilo sobre suas conquistas, já
que no reino dos seres inorgânicos, o ‘segredismo’ (confidencialidade) é a
regra número um.
Para alterar nossa consciência de sua aparência dura para sua
contraparte fluida, precisamos primeiro dissolver a barreira que separa os
dois aspectos do nosso ser. É necessário habilidade e concentração para
alcançar o “duplo”. Algumas pessoas são mestres do “duplo”. Elas podem
não apenas focar sua consciência nele, mas fazê-lo agir. A maioria de nós,
no entanto, não tem a menor noção do nosso lado etéreo. O “duplo” faz
qualquer coisa que quiser. Pode pular árvores, voar pelo ar, se tornar largo
ou pequeno, assumir a forma de um animal, pode ficar consciente dos
pensamentos das pessoas, ou se tornar um pensamento e se atirar num
instante cobrindo vastas distâncias.
O único interesse do guerreiro está em assumir o controle de seu
corpo “duplo”. Não há uma forma de falar sobre o intento ou entendê-lo
racionalmente, já que está ligado à algumas linhas luminosas de energia
que cruzam o universo. Por exemplo, uma linha de energia que se estende

177
do topo da cabeça dá ao “duplo” propósito e direção. Essa linha suspende
e puxa o “duplo” em qualquer direção que ele desejar ir. Se ele quiser
subir, tudo que precisa fazer é intentar pra cima. Se ele quer afundar no
chão, só precisa intentar pra baixo; simples assim.
Toda sua energia é dedicada em explorar novos caminhos. Assim
que deixamos de lado nossas ideias sobre o corpo físico, lentamente ou de
uma vez, a consciência começa a mudar para o nosso lado etérico. A parte
difícil está em convencer nosso corpo físico a cooperar, já que ele
raramente está disposto a abrir mão do controle. Para tirar o controle do
corpo físico, você precisa enganá-lo. Você deliberadamente deixa-o quieto
ao remover sua consciência dele. Quando seu corpo e mente estão
parados, seu “duplo” acorda e assume controle. Para ativar o corpo
etérico, você precisa primeiro abrir certos centros do corpo que funcionam
como portões. Quando todos os portões são abertos, seu “duplo” pode
emergir de sua camada protetora. Se isso não acontecer, ele para sempre
permanecerá encarcerado dentro de sua casca externa. Você pode curar
partes machucadas do seu corpo ao permitir que o “duplo” estenda a rede
etérea. Para isso é necessário intentar, mas não com os seus
pensamentos. Intente com seu intento, que é a camada abaixo dos seus
pensamentos. Preste atenção: procure pelo intento embaixo dos seus
pensamentos; longe deles. O intento é algo tão distante dos pensamentos
que não podemos nem falar sobre ele. Não podemos nem senti-lo, mas
certamente podemos usá-lo.
O “duplo” está ao mesmo tempo fora e dentro de nós. Para
comandá-lo, a parte que está fora flutuando livremente precisa ser ligada à
energia que mora dentro do corpo físico. A força externa é chamada e
mantida por uma concentração inflexível, enquanto que a energia interna é
liberada ao se abrir uns portões misteriosos dentro e em volta do corpo.
A presença do “duplo” dentro de nós é tão sutil que podemos passar
a vida inteira sem ao menos saber que ele está lá. Acumular energia
sexual é o primeiro passo para a jornada em direção ao corpo etéreo, em
direção da jornada na consciência e liberdade total. O guerreiro está
interessado em poder; em acumular poder, não em desperdiçá-lo. Um
portão enorme se localiza nos órgãos sexuais.
Outra forma de se atingir o “duplo” é através de movimento. Não é
tão difícil assim se comunicar ou atingir o “duplo”. O som é outro modo
poderoso de atrair a atenção do corpo etéreo, além do útero e de
movimento. Se você sistematicamente direcionar palavras à sua fonte de
consciência — o “duplo” — poderá receber uma manifestação dessa fonte,
contanto, claro, que tenha energia suficiente.

178
Quanto maior sua energia, maior sua capacidade de perceber coisas
extraordinárias. Percepção é o mistério primordial porque é totalmente
inexplicável. Guerreiros, como seres humanos, são criaturas
percebedoras, mas o que percebem não é bom nem mal; tudo é apenas
percepção. O “duplo” não está acostumado a perceber o mundo. Seu
corpo e mente estão, mas não o seu “duplo”; então, sob condições de
stress, ele pode tornar-se parcialmente consciente, mas também
totalmente assustado. Quando entramos numa escuridão absoluta onde
não há distrações, o “duplo” assume controle. Ele estica seus membros
luminosos, abre seus olhos luminosos e olha em volta. Tudo que você
pensa é dito pelo “duplo”, e pode ser captado por um guerreiro que te
ouve. Animais e crianças não têm problema pra perceber o “duplo” das
pessoas, e muitas vezes se sentem perturbados por causa disso. Em
animais, esses portões estão permanentemente receptivos, mas os seres
humanos fecham os seus assim que começam a falar e pensar, e seu lado
racional assume controle.
Guerreiros são seres muito misteriosos, porque a maior parte do
tempo agem através da energia do “duplo”. Eu estou te guiando para que
tudo isso se torne compreensível para você. Precisamos trabalhar
incessantemente para equilibrar não o corpo ou a mente, mas o “duplo”.
Para isso, precisamos abrir nossos portões, como já dito tantas vezes. O
primeiro deles está na sola do pé, na base do dedão. O segundo portão é
a área que inclui a panturrilha e a parte interna do joelho. O terceiro está
nos órgãos sexuais e cóccix. O quarto e mais importante está na área dos
rins. O quinto está entre os ombros. O sexto está na base do crânio, e o
sétimo no topo da cabeça.
O ponto importante é saber que estamos limitados porque nosso
corpo físico controla nossa consciência. Mas se pudéssemos mudar isso
de forma que o “duplo” controlasse nossa consciência, poderíamos fazer
praticamente qualquer coisa que imaginássemos.
Para alcançar esse estado, você só precisa deixar de ser o seu “eu”
normal. Essa é a chave que abre portas. Dizer que você precisa deixar de
ser você mesmo e que esse é o segredo mais complexo do caminho do
guerreiro soa idiota, mas não é. É o necessário para se alcançar o poder;
por isso é a coisa mais difícil que o guerreiro faz.
Homens e mulheres que viveram no México nos tempos antigos, cuja
especialidade era lidar com a consciência, acreditavam que seres
humanos são observadores de um dualismo muito peculiar. Eles não se
referiam aos dualismos tradicionais, como corpo e mente ou matéria e
espírito, mas ao dualismo entre o “eu” e algo que chamavam de “corpo
energético”. Eles consideravam o “eu” uma unidade holística que inclui

179
ambos: corpo e mente, matéria e espírito juntos; e definiram o corpo
energético como um conglomerado particular de campos energéticos
pertencentes a cada um de nós individualmente, que tem a capacidade de
se transformar em uma réplica perfeita do “eu”, e vice-versa: eles
acreditavam que o “eu” tem capacidade de ser transformado em uma
réplica perfeita do corpo de energia, ou seja, um conglomerado de puros
campos de energia.
Esses guerreiros inventaram e desenvolveram uma série de
movimentos que os ajudaram a armazenar energia suficiente para realizar
essa dupla transformação. Eles manusearam e transmitiram esse
conhecimento de geração em geração, até o presente. Os Passes Mágicos
formam a base para adquirir energia suficiente para entrar em um
determinado estado de bem-estar que pode dar definição ao corpo
energético. Definir o corpo energético é o primeiro passo para ampliar os
parâmetros da percepção.
O duplo é como é chamado em espanhol entre os povos nativos do
México e América do Sul uma arte consumada xamânica, que permite que
aos xamãs, curandeiros e feiticeiros realizar muitas façanhas
aparentemente miraculosas. Tudo a respeito de bilocação,
transformações, possessões, viagens a outros reinos de energia, ou trazer
presentes e poderes energéticos dali, é conseguido através do duplo, que
não é ainda uma visualização nem uma projeção, mas um afiado corpo
energético incandescente de força de vida. O desenvolvimento do corpo
energético é a realização de todo o trabalho dos praticantes, e pode levar
décadas para alguns conseguirem…
Qual a conexão entre esgotamento da energia sexual e doença?
– A energia sexual é uma das baterias do duplo. Este é uma cópia
energética do nosso corpo físico. Ele transmite conhecimento como
energia ao corpo físico e o dirige assim como você dirige o seu carro.
Vazando ou perdendo esta energia faz o veículo não funcionar em sua
potência máxima. Inclusive a má comunicação pode ocorrer, como duas
pessoas tentando falar ao telefone sem linha suficiente entre elas. Ou,
como máquinas de tortillas, o corpo energético fará uma quantidade que é
capaz, mas se você precisa de vinte e puxa a tomada na décima, bem,
você só terá dez..
A energia sexual é criativa e é a fonte energética para o sonhar. O
processo começa com a tarefa de sonhar o corpo. A cada noite durante o
sono, o corpo energético passa por dois estágios. O primeiro é fazer
reparos corporais. O corpo energético gasta pelo menos várias horas por
noite dentro dos ossos, sangue, órgãos, pele, renovando o corpo físico. E
gastará mais tempo se o corpo estiver doente. Parte do combustível para

180
esse processo é nossa própria energia sexual, então se a pessoa precisa
se curar, ervas que são tônicas e fortificantes para a energia sexual
precisam ser usadas em conjunto com outros remédios. De outra forma, o
corpo energético gastará toda a energia disponível fazendo os reparos, e
ainda assim pode não ser suficiente, levando o corpo a um estado de
fadiga e mal-estar.
Todas as formas de energia trazidas pelo corpo energético duplo
seriam concentradas internamente durante o sonhar e trazida até o corpo
físico ao despertar. Esta energia pode então ser circulada e o corpo físico
seria incrementado, para operar mais e mais sobre energia livre, sem usar
suas reservas vitais.
Seguido ao sono curador, o corpo energético tem a oportunidade de
repor a si mesmo com reservas de energia externa, disponível para ele
através da natureza como energia, mas que precisa ser pré-digerida, se
quiser, pelo corpo energético a fim de fazê-la utilizável ao corpo físico.
Para este propósito o corpo energético deixa o corpo físico a fim de nadar
em outros reinos de energia externa. Sonhadores qualificados são bolhas
amorfas quando deixam o corpo físico. Eles absorvem energia. Eles são
sempre tímidos e não podem ficar muito tempo fora do corpo físico sem
retornar. Eles não têm stamina e stamina é a regra. É a regra de
sobrevivência. Quando você volta com a energia do sonhar, o corpo
energético pula de volta ao corpo físico.
Os praticantes não apenas buscam ampliar seu tempo de absorção
para se tornarem mais eficientes e adaptáveis aos mais altos graus de
energia livre, como também buscam afiar o corpo energético enquanto fora
do corpo físico nessas explorações ampliadas. Isso começa sonhando
todas as facetas do corpo físico enquanto dorme na posição e lugar real
onde possa ser encontrado. O sonhador é o corpo energético. O sonhador
busca sonhar para amadurecer o corpo inexperiente em alta energia que
vê e se afasta do corpo físico dormindo. Ali não teria hesitação, cordão
umbilical, nada. A única energia deixada no corpo físico seria para manter
um batimento cardíaco lento e suave, e respiração lenta.

181
A instalação alienígena

O homem é um ser mágico, tem a capacidade de voar pelo universo


tal como qualquer uma das milhões de consciências que existem. Mas, em
algum momento de sua história, perdeu sua liberdade. Agora sua mente
não é sua, é uma intrusão. Os seres humanos são reféns de um conjunto
de entidades cósmicas que se dedicam à depredação, as quais os bruxos
chamam "os voadores".
Além dos homens e outros seres que habitam esta terra, há no
universo uma imensa gama de entidades inorgânicas. Estão presentes
entre nós e, em certas ocasiões, são visíveis. Nós os chamamos de
fantasmas ou aparições. Uma dessas espécies que os videntes descrevem
como enormes vultos voadores de cor negra, chegou em algum momento,
da profundidade do Cosmos, e achou um oásis de consciência em nosso
mundo. Eles se especializaram em nos ordenhar.
Mas por que fazem isso?
Porque, num plano cósmico, a energia é a moeda mais forte e todos
a querem, e nós somos uma raça vital, repleta de comida. Cada coisa viva
come a outra, e o mais poderoso sempre sai ganhando. Quem disse que o
homem está no topo da cadeia alimentar? Essa visão só pode ocorrer a
um ser humano. Para os inorgânicos, nós somos a presa. Em troca de
nossa energia, os voadores nos deram a mente, os apegos e o ego.
E como nos consomem?
Através de nossas emoções, devidamente canalizadas pela
tagarelice interior. Eles desenharam o entorno social de tal modo que
estamos todo o tempo disparando ondas de emoções que são
imediatamente absorvidas. Eles gostam principalmente dos ataques do
ego; para eles, esse é um bocado delicioso. Tais emoções são as mesmas
em qualquer lugar do universo onde se apresentem e eles têm aprendido a
metabolizá-las. Alguns nos consomem pela luxúria, a raiva ou o temor;
outros preferem sentimentos mais delicados, como o amor ou a ternura.
Mas todos eles estão interessados na mesma coisa. O normal é que nos
ataquem pela área da cabeça, do coração ou do ventre, ali onde nós
guardamos a maior quantidade de nossa energia.
São especialistas em sussurrar ordens nos ouvidos das pessoas,
implantam ideias, fazendo parecer que são nossos pensamentos. É fácil
perceber essas insinuações, pois se diferenciam dos nossos pensamentos
no aspecto, sendo que, na verdade, essas sugestões não são realmente
nossos desejos. Essas sensações vindas de fora frequentemente sugerem
que nos comportemos com uns idiotas.

182
Somos fantasmas. Nossas mentes não nos pertencem. Os nossos
grandes mestres são aqueles que gostam de alegorias do tipo “Não lute
contra seu inimigo” ou “Apenas aqueles que são como crianças entrarão
no reino do céu”. O caminho do guerreiro recupera energia, apesar da
presença do parasita. Nossa casa infernal é muito escura e é assim
porque nascemos para a escravidão e morte. Já fomos, num passado
muito distante, criaturas mágicas; hoje, porém, somos todos vítimas de
uma inteligência inorgânica superior que se alimenta em cima de todo ser
humano, até sua morte. Nós temos muita energia; eles, muita consciência.
Os predadores são uma parte essencial do universo e devem ser
tomados pelo que realmente são: assombrosos, monstruosos. São os
meios pelos quais o universo nos testa. Somos sondas energéticas criadas
pelo universo e é porque somos possuidores de energia que possui
consciência que somos os meios pelo qual o universo se torna consciente
de si mesmo. Os predadores são desafiantes implacáveis. Não podem ser
tomados como outra coisa. Se formos bem-sucedidos nisso, o universo
nos permitirá continuar.
Os meios pelos quais o Universo nos cobra este imposto são os
voadores, o aspecto predatorial da energia cósmica. Para eles, somos as
galinhas; Eles nos veem da mesma maneira que vemos o gado: como
fonte de alimento. Assim como nos aproveitamos de outras espécies,
também somos ordenhados e consumidos sem misericórdia pelos
voadores.
Nunca se questionou o por que dos altos e baixos emocionais das
pessoas, ou a dificuldade que elas têm em lembrar sonhos e, às vezes, até
detalhes de eventos cotidianos? Esse é o trabalho do predador, que extrai
tudo de melhor em nós.
O que temos visto é que, geralmente, o nível de consciência das
pessoas não excede a altura do dedão do pé. Podemos medir o nível de
energia de uma pessoa pelo período de tempo em que consegue manter
sua atenção fixa. Você pode ver por si mesmo, observe as pessoas ao seu
redor e verá que quase ninguém consegue se concentrar por mais de
alguns segundos.
Mesmo que alguém tente ficar atento por mais tempo, é difícil
conseguir, porque a consciência que é acumulada pelo processo de estar
vivo é constantemente cerceada pelos voadores; consequentemente, o
brilho da consciência, nunca chega a se desenvolver, porque os voadores
não o permitem.
A mente é o voador, aconselhando-nos minuto a minuto que nos
comportemos como imbecis. É por isso que gastamos nossas vidas
desperdiçando nossa energia em caprichos e explosões inúteis de ego.

183
Por que você acha que quase ninguém consegue deter o diálogo interno?
Para uma espécie consciente como a nossa, isso não devia ser tão difícil.
Eles consomem nossa energia toda vez que a dissiparmos na forma
de sentimentos e emoções. As emoções agem como gatilhos de energia, e
há sempre um voador por perto, pronto para tirar proveito.
Dá na mesma com qualquer tipo de emoção que seja gerada, seja
amor, ódio, repulsa ou ternura: a intensidade energética é catapultada para
fora das fibras do ovo luminoso na forma de ondas. Essa energia que é
expulsa é o que os voadores consomem.
Interagir com o mundo colocando o ego à frente nos força a gastar a
energia continuamente. Toda vez que alguém se irrita, você pode ter
certeza de que há um voador por perto para se aproveitar do desperdício.
O mesmo acontece quando emoções fortes são geradas, como em
competições esportivas, ou quando vamos ao cinema ou ao teatro, onde
nos induzem a sentir medo, angústia, amor, ternura, etc. Essas emoções
também atraem nossa clientela. É por isso que os bruxos recomendam
investir em vez de se divertir.
Na verdade, estamos sob fogo cruzado. A sociedade, nosso sistema
de vida, está projetada para nos ordenar continuamente. Ao reagir ao
mundo, drenamos de nossa massa luminosa a preciosa energia da
autoconsciência. Em geral, só temos o suficiente para continuar vivendo
dia após dia.
Essa é a razão pela qual as pessoas vivem como vivem. Elas são
como robôs: acordam, vão trabalhar, para vender seu tempo de vida para
quem der o maior lance, em troca de meios para seguir vivendo, com o
único propósito de continuar a trabalhar para produzir mais energia para o
benefício de terceiros. É realmente um círculo vicioso terrível, difícil de
quebrar.
O que aconteceria se pudéssemos repelir a essas entidades?
Em uma semana recuperaríamos nossa vitalidade e estaríamos
brilhando novamente. Mas, como seres humanos normais, não podemos
pensar nessa possibilidade, porque isso implicaria em ir contra tudo aquilo
que é socialmente aceitável. Felizmente, os bruxos têm uma arma: a
disciplina.
Nesse sentido, o bruxo é um oportunista. Aproveita o empurrão que
lhe deram e diz a seus captores: Obrigado por tudo, nos vemos por aí! O
acordo que vocês fizeram foi com meus antepassados, não comigo! Ao
recapitular sua vida, literalmente está tirando a comida da boca do voador.
É como se você chegasse à uma loja e devolvesse o produto ao
negociante, exigindo-lhe: Devolva-me o dinheiro! Os inorgânicos não
gostam disso, mas não podem fazer nada. Nossa vantagem é que somos

184
dispensáveis, há muita comida por aí! Uma posição de alerta total, que não
é outra coisa senão disciplina, cria tais condições em nossa atenção que
nós deixamos de ser saborosos para esses seres. Em tal caso, eles dão
meia volta e nos deixam tranqüilos.
Cada um de nós, seres humanos, tem duas mentes. Uma é
totalmente nossa, e é como uma voz fraca que sempre nos traz ordem,
integridade, propósito. A outra mente é uma instalação forânea [ou]
alienígena. Nos traz conflito, auto-afirmação, dúvidas, desesperança. [Em
outras palavras] uma é a nossa mente verdadeira, aquela que raramente
fala porque foi vencida e relegada à obscuridade. A outra, a mente que nós
usamos diariamente para tudo o que fazemos, é uma instalação
alienígena. Esse centro de energia não pertence inteiramente ao homem.
Entenda, nós seres humanos estamos, por assim dizer, sob estado de
sítio. Esse centro foi assumido por um invasor, um predador invisível. E a
única maneira de dominar esse predador é fortificando todos os outros
centros.
Há inúmeras forças externas controlando você nesse momento. O
controle a que estou me referindo é algo fora do domínio da linguagem. É
o seu controle e ao mesmo tempo não é. Não pode ser classificado, mas
pode ser experimentado. E acima de tudo, pode certamente ser
manipulado. Lembre-se disso: pode ser manipulado para a sua total
vantagem; claro que, novamente, não é a sua vantagem, mas a vantagem
do corpo energético [do sonhador]. Entretanto, o corpo energético é você,
portanto poderemos continuar eternamente, como um cachorro correndo
atrás de seu próprio rabo, tentando descrever isso. A linguagem é
inadequada. Todas essas experiências estão além da sintaxe.
Os feiticeiros antigos descobriram que possuímos um companheiro
por toda a vida. Possuímos um predador que veio das profundezas do
cosmo, e assumiu o controle dos preceitos de nossa vida. Os seres
humanos são seus prisioneiros. O predador é nosso senhor e mestre. Nos
faz dóceis, indefesos. Se queremos protestar, ele suprime nossos
protestos. Se queremos agir independentemente, exige que não o
façamos. Este é o tópico dos tópicos para os feiticeiros antigos: somos
mantidos prisioneiros! Esse é um fato energético.
O predador precisa de atenção para viver. É como um
relacionamento que não deu certo. Se a outra pessoa depende de você
para abrigo, comida, ou outras coisas importantes mas menos tangíveis,
ela fará qualquer coisa até os limites de sua natureza para manter você do
jeito que você é. Se você desejar que tal pessoa se transforme em algo,
ela se tornará. Se você estiver com raiva, tenderá a evocar mais raiva
nela, resultando numa reação passiva de sua parte. Esta pessoa pode

185
chegar a seguinte conclusão: "Se você sair da linha, tudo que preciso fazer
é gritar contigo. Só preciso lhe acertar uma vez, e você fica em total
quietude".
Em alguns casos específicos, a pessoa vaza energia como uma
peneira. Muita energia está sendo gerada, e não está sendo usada pela
pessoa que a gera; está lá disponível para quem quiser pegar. Algo se
aproxima e diz: "Isso é almoço. Como eu faço pra transformar isso numa
refeição que dura 24 horas por dia?" Cuidado com seus pensamentos,
pois eles se tornam palavras; cuidado com a suas palavras, pois elas se
tornam ações; cuidado com suas ações, pois elas se tornam hábitos;
cuidado com seus hábitos, pois eles se tornam sua personalidade; cuidado
com a sua personalidade, pois ela se torna seu destino.
A definição de “voador” é um oponente digno asqueroso. Usa as
técnicas de sabotagem mais sujas e dissimuladas possíveis. O que o torna
altamente fatal é que ele é sutil, nunca irá deixar transparecer sua
presença; mesmo quando descoberto, irá usar todos os esforços para te
fazer esquecer sobre o assunto. E quando você finalmente se prender na
ideia de que a mente é o problema, o voador irá fazê-lo falar sobre os
problemas da mente. Ele dirá: “Vamos discutir como parar o diálogo
interno” ou “Vamos falar sobre a mente”.
Há uma explicação para o controle do predador sobre nós, que é a
explicação mais simples do mundo. Eles assumiram o controle porque
somos alimentos para eles, e eles nos esmagam sem piedade porque
somos seu sustento. Assim como criamos galinhas em galinheiros, os
predadores nos criam em humaneiros. Portanto seu alimento está sempre
disponível a eles.
Quero apelar para sua mente analítica. Pense por um momento, e
diga-me como você explicaria a contradição entre a inteligência do
homem, o engenheiro, e a estupidez de seus sistemas de crenças, ou a
estupidez de seu comportamento contraditório. Os feiticeiros acreditam
que os predadores nos deram nossos sistemas de crenças, nossas ideias
do bem e do mal, nossos costumes sociais. Eles são os que causaram
nossas esperanças e expectativas, e sonhos de sucesso ou fracasso. Nos
deram ganância, avareza e covardia. São os predadores que nos tornam
complacentes, rotineiros e egomaníacos. Para nos manter obedientes,
submissos e fracos, os predadores se envolvem numa estupenda
manobra, estupenda, claro, do ponto de vista de um lutador estrategista.
Uma manobra horrenda do ponto de vista daqueles que a sofrem. Eles nos
deram as suas mentes! Você está me ouvindo? Os predadores nos dão as
mentes deles, que se tornam nossas mentes. A mente dos predadores é

186
barroca, contraditória, morosa, cheia de medo de ser descoberta a
qualquer momento.
O ataque acontece quando eles inserem parte de sua mente no
hospedeiro usando uma espécie de estaca. A estaca é energética e
pontiaguda. O objetivo é fundir-se ao campo energético mental, integrando
diretamente a energia do sistema nervoso. A estaca desenvolve
ramificações energéticas através do sistema energético do hospedeiro. A
estaca é geralmente instalada no nascimento, às vezes mais cedo,
dependendo da condição energética da mãe. O voador acerta o indivíduo
com sua estaca, que se enterra o mais fundo que puder. Quanto maior a
profundidade, mais perto do controle total o voador tem em cima do
hospedeiro.
Assim que ela se instala, começa a programar o hospedeiro, o
persegue, retardando a evolução. A programação é desenvolvida de forma
que o hospedeiro se vigie e vigie aos outros, para que ninguém saia da
linha. Este é talvez o método mais assustador, pois a programação
persiste em certo nível mesmo depois da estaca e das ramificações serem
completamente removidas. Primeiro, você precisa assumir que todos,
incluindo você, já foi atacado. Não é agradável, porém necessário. O
organismo humano, em determinado nível, sabe que foi violado e que algo
não está certo.
Quando uma pessoa se estressa ou fica chateada, emotiva, nervosa,
com medo ou paranoica, ela começa a tocar a sua cabeça (ou a parte de
trás de sua cabeça, onde a estaca se localiza), pescoço e às vezes até
outros centros de energia. Quando o hospedeiro vai contra a programação,
ou presencia algo que vai contra a programação, a estaca reafirma seu
controle em cima do hospedeiro. Os voadores não gostam de guerreiros
infectando seus hospedeiros com ideias de liberdade. Quanto mais fundo a
estaca se instala, mais insano se torna o hospedeiro, como os moradores
de rua, os mentalmente desequilibrados ou criminosos violentos.
Em alguns casos raros, o hospedeiro e voador podem se fundir
completamente. Esses seres híbridos tendem a se tornar os indivíduos
mais perigosos. Eles entendem o que está acontecendo nesta realidade e
estão completamente do lado dos voadores. Como um guerreiro em
treinamento, muito cuidado com tais indivíduos. Eles saberão quem são
aqueles que lutam por liberdade. Existem vários casos de humanos que
escutam vozes que dizem o que fazer, ou então sabem exatamente a hora
de agir, guiados por seus parasitas.
Os voadores deixam apenas consciência suficiente para mantermos
nossas vidas. Pegue demais e o hospedeiro se tornará provavelmente um
morto-vivo, ou então simplesmente morto. A estaca danifica o processo

187
natural de pensamento do hospedeiro. Ela encoraja o indivíduo a manter
uma conversa constante em suas cabeças. Observe crianças brincando;
perceba como algumas conversam constantemente, sem parar, dizendo
em voz alta tudo que está passando em suas cabeças. Isso faz com que o
hospedeiro deixe de acessar o conhecimento silencioso. É necessário um
esforço constante e extremo para entrar no conhecimento silencioso
depois de anos sem ter acesso. Está na programação inicial o hospedeiro
não ter permissão de ver ou estar consciente de suas estacas, apesar do
corpo estar constantemente consciente. Por essa razão os hospedeiros
tocam suas estacas quando sob stress. Ela também aumenta as emoções
de medo, preocupação, paranoia, raiva, depressão, violência, agressão e
luxúria. A estaca torna as reações emotivas diversas vezes mais fortes que
os pensamentos racionais. Os voadores também encorajam a produção de
crianças energeticamente fracas e filhos de pessoas velhas. São pessoas
mais fixas em sua visão de mundo, e por isso mais estáveis a esta
realidade; são mais fáceis de controlar.
A instalação estrangeira é parte de você. Descarregar sua raiva e ira
em cima dela não é suficiente para machucar a entidade que a instalou em
você; irá apenas machucar você mesmo. O único jeito de vencê-la é não
jogar o jogo dela, quando te estimula à raiva. É necessário força e
coragem para parar e se libertar de toda emoção negativa. Isto é devido ao
fato de como a entidade redesenhou nossa forma de lidar com emoções.
Ela faz com que nos comportemos como uma panela de pressão, que tem
a tendência de acumular pressão e explodir em tempo certo e
determinado. Além do mais, apesar do resultado ser miséria e destruição,
nos tornamos viciados nesse estímulo negativo. Nós esperamos por isso e
inconscientemente desejamos também. Então, como podemos mostrar pra
essa coisa nosso desprezo por sua presença? Simplesmente não
comendo a isca. Lembre-se que o jogo dela é sempre nos ajudar a criar
uma falsa crise. Ela instalou hábitos de autodestruição dentro de nós.
Dessa forma, usa nossa própria imaginação para dar vida às fantasias
negativas. Ela injeta impulsos e depois repousa, enquanto nossa própria
psique monta o teatro. Você é responsável por esse padrão. Sim, nunca
nos foi dado uma opção consciente de nos tornarmos hospedeiros dos
nossos parasitas mentais. Mas a entidade precisa da nossa permissão
secreta para entrar no nosso domínio. Ela precisa rotineiramente reforçar
esse acordo para executar seu script. Por que? Porque somos livres. No
final de contas nós, os desejosos conscientes da liberdade, precisamos
assumir responsabilidade por nossas decisões inconscientes. Precisamos
decidir agora a reagir de forma diferente. Precisamos ver onde a entidade
está querendo nos levar; precisamos reconhecer e resistir. Precisamos

188
sempre nos perguntar de onde cada impulso se origina, e nos preparar
para lidar com essas partes estranhas do nosso próprio ser que o predador
explora.
O voador precisa nos manter falando o tempo inteiro, pois se isso
não acontecer, ele perde controle em cima de nós como consequência.
Nós nos movemos para um campo mental diferente. Eles então querem
que usemos suas mentes para pensar. Uma forma de confirmar a
existência deles é tentar silenciar o diálogo interno da mente. É como estar
num quarto escuro com você e outra pessoa que soa como você. Quando
você para percebe rapidamente que há outra pessoa no quarto falando. O
voador vai lutar como um paranoico para manter o diálogo interno que
mantém o status quo (ordem vigente).
Nossos pensamentos e os dos voadores estão misturados. O
voador, entretanto, é um expert nos mecanismos da mente e usa o poder
da sugestão impiedosamente para manter a vantagem. Uma técnica
comum é conhecida como "marchando e guiando": primeiro ele concorda
com você, marchando ao seu lado do pensamento ou impulso que você
iniciou. Aí, assume a liderança e corrompe seu pensamento, enquanto se
faz parecer com os seus pensamentos. O objetivo é ganhar a consciência
de quando ele está falando/pensando e você não, e aí começar a ganhar
um entendimento do seu modo de operação, ao observar como o voador
se comporta enquanto lhe controla.
Eles não vencem por que são mais inteligentes, mais poderosos ou
maléficos. Eles vencem por que são assustadoramente persistentes e
você não. Eles vencem porque corroem todo intento, toda dedicação.
Gostam do caos, pular de um pensamento ou coisa para outra. Se você
achar a chave em ser persistente, você ganha. Não há outro jeito.
A maioria de nós não consegue ter um encontro direto com a
entidade. Somos apenas capazes de deduzir seus propósitos ao observar
a mente sintética que ela instalou em nós. Podemos vencer através das
barreiras que ela impõe, fazendo-a gastar energia e esforço. Assim que
determinarmos "segurar" nossos próprios pensamentos e sentimentos
para melhor entender nosso modo de operação e assumir controle do
nosso comportamento, ela está realmente com problemas. Assim que
começarmos a acordar nossa essência e mente real, nos tornamos
altamente perigosos. Assim que nossa essência acorda por si só, o jogo
acabou, porque esse nosso aspecto é muito poderoso. Obter sucesso
nessa empreitada acabará com a farra da sua besta.
Se queremos avançar no caminho da liberdade dessa influência
externa e alcançar nosso verdadeiro potencial individual, precisamos
assumir que os detalhes mais insignificantes das nossas vidas diárias

189
estão sempre sob controle pesado e impiedoso. Estar consciente de seus
próprios pensamentos, sentimentos, reações emotivas e ações é o
objetivo. A mente, ou que acreditamos que seja nossa mente, é o grande
campo de batalha. Ao contrário da primeira impressão, quanto mais
inteligente a pessoa é e mais poderoso seu intelecto, mais vulnerável ela
se torna ao ser subjugada. O voador perverte a lógica e a transforma em
uma arma para o engano. Sua tática é geralmente guiar o intelectual a um
labirinto de tentadores esforços mentais. No processo de gastar seu tempo
e energia em enigmas convincentes e confusos, ainda irá te alimentar com
racionalizações que delicadamente alteram seu pensamento na direção
desejada, de forma que, não importa como você começou pensando,
sempre termina chegando a conclusões que ele gostaria que você
tomasse. Ele tem um jeito sutil de interferir na nossa consciência e
discriminação, de forma que sua presença sempre fica fora do radar.
As dificuldades são tremendas pois o parasita é tão eficiente em
esconder sua presença de nós que desenvolveu um arsenal de manobras
para nos distrair da nossa tarefa. Uma manobra comum é fazer com que
nos sintamos cansados de vigilância constante. Somos estão atraídos para
ideias divertidas, obsessivas, excitantes ou intrigantes, que acabam
consumindo toda nossa atenção. Todos nossos conceitos sobre a
realidade foram condicionados por nossa mente tirana e socialmente
reforçados por todo mundo. É necessário abandonar a ideia de mundo, ao
se questionar a veracidade de todas nossas suposições habituais quando
surgem, no meio da nossa rotina diária.
O guerreiro precisa começar a reestabelecer ligação entre sua mente
e sua própria essência. Pois a estratégia do predador é se impor entre
nossa mente e essa essência, e por isso essa ligação atrofiou. Contido no
repositório de sua mente real, estão todas as respostas para qualquer
problema que exista em sua vida. Dê tudo o que você tiver em cada
momento que viver.
Guerreiros suspeitam que essa domesticação e modificação
contínua de nossa espécie são fatos responsáveis pela morte da última
raça que eles escravizaram para comida. Além disso, a contínua
interferência e nutrição da nossa espécie reduziu a quantidade disponível
de energia que um humano deveria ter. Em alguns casos, a presença da
energia dos voadores causa doenças, dores-de-cabeça, problemas de
imunidade, reações alérgicas e câncer. A perturbação energética causada
pelo controle dos sistemas básicos do corpo do hospedeiro abre caminho
para maiores problemas na vida, especialmente a medida que o poder
pessoal do hospedeiro diminui. Imagine a mente humana como uma noz

190
com várias camadas de energia, camadas em cima de camadas como
uma cebola.
À medida que a estaca é direcionada, ela fura essas camadas,
dando maior acesso a energia da mente e suas funções. A estaca tenta se
enterrar fundo até chegar ao centro da mente, basicamente ganhando
controle total do hospedeiro. Se uma pessoa foi atacada muito
profundamente, perto de cem por cento ela é geralmente irrecuperável.
A maior parte da população possui suas estacas enterradas numa
profundidade entre sessenta e noventa por cento. Uma estaca com cem
por cento de penetração significa um completo humano-marionete sob o
domínio do voador infestador. O hospedeiro se torna uma extensão de sua
vontade, adicionando sua energia à do parasita. A maioria se torna
completos zumbis; outros aparentam ser normais, no entanto são
assassinos, estupradores ou tiranos. Os mais perigosos são aqueles que
se combinam tão completamente que não demonstram nenhum tipo de
sinal, apesar de poder se ver em seus olhos a energia altamente
pronunciada do voador. Essas pessoas se integram na estrutura de
comando da nossa sociedade: governo, religião, forças armadas e
finanças.
O guerreiro precisa estar consciente que ele é identificado pelos
voadores assim que começa a seguir seriamente o caminho do guerreiro.
Apesar de eles preferirem cansar o guerreiro para fazê-lo retornar ao
rebanho, sempre existe a possibilidade de tentarem eliminar quem
desejarem nessa realidade, se escolherem essa opção. Neste estágio, o
ideal é não correr muitos riscos com a sua vida. Não confie no acaso para
obter sucesso em qualquer empreitada. Planeje ativamente estratégias
para se proteger durante o período em que você luta para remover sua
estaca até a recuperação total, e em períodos que seu poder pessoal
estiver em baixa. É uma luta sem fim para o guerreiro manter sua mente
para si, livre dessas entidades. E, apesar da estaca poder ser inicialmente
removida, é bem provável que ela será reinstalada várias vezes, até que o
guerreiro consiga manter proteção suficiente em volta de sua mente para
repelir novos ataques. Na verdade, só existe uma opção para qualquer um
que deseje ser livre: remover com sucesso a energia alienígena.
À medida que o guerreiro se torna mais sensível à energia, ele
percebe quando ela está sendo tomada. Os voadores tendem a atacar
rapidamente, depois fogem para digerir a consciência roubada. Durante o
ataque, as coisas podem ficar intensas. Fique consciente que, não importa
quão ruim a situação fique, você pode superá-la. Eles estão apenas
lutando por uma refeição; você luta por sua vida e liberdade. Assim que
retirar a estaca, você provavelmente não ficará livre dela por muito tempo,

191
mas o dano no domínio do voador acontece na primeira remoção. Assim
que você remover com sucesso a estaca a primeira vez, a próxima será
um pouco mais fácil. A mente é ferida por causa da presença da estaca, e
nunca realmente se cura; fica sempre irritada, como uma ferida em volta
de uma farpa ou pedaço de vidro. O curto período em que a estaca é
removida, entretanto, permite que a mente se cure um pouco; dessa
forma, as próximas estacas não penetrarão tão fundo.
Os voadores tendem a esperar quando você estiver ocupado com
algum projeto, ou está um pouco frustrado, ou com as mãos ocupadas
para tentar te atacar de novo. A grande verdade é que a estaca pode se
regenerar a partir de um pedaço minúsculo. Ela pode se replicar
rapidamente. Os voadores, de qualquer forma, irão te atacar de novo. Não
leve para o lado pessoal. Apenas remova-a mais uma vez e prepare-se
para a próxima investida. Não se surpreenda caso tenha reações físicas
como dores-de-cabeça, espinhas, vermelhidão, caroços ou inchaços no
local onde a estaca estava. Pode acontecer, mas não sempre. Será uma
luta sem fim para você manter a sua mente livre, e pode ser mais do que
você esperava. Pode haver mais estacas em outras partes do seu corpo.
O domínio dos voadores sob a raça humana foi gradual. A maior
parte das pessoas conseguiu resistir e manteve as mentes de suas
crianças limpas. Pelo fato de nós termos um ciclo de vida mais curto que o
deles, tudo que precisaram fazer foi colocar indivíduos com estacas em
locais onde poderiam ser usados para facilitar o processo, e então lutaram
para apagar o máximo de conhecimento sobre sua raça das mentes
daqueles que sabiam deles. Apenas levou tempo para que conseguissem
sucesso absoluto. Esposas, maridos, amantes, crianças; um por um, todos
foram escravizados. Isso significa que eles controlam não só o governo,
mas religiões e recursos. Não há nada nos últimos dez mil anos que não
tenham se infiltrado.
Há voadores especialistas que preenchem esses papéis; são
criaturas muito experientes, sábias e antigas, que vem lidando com a
nossa espécie há eras. Depois que o guerreiro conseguiu eliminar a estaca
original de sua mente, os voadores deixam de ser uma influência grande.
Por isso, eles mudam para um modelo mais avançado. É na verdade uma
armadilha para iniciantes, pois acontece sob a aparência de afeição,
conselhos e o oferecimento de amizade. Livre de sua estaca, os próximos
anos são gastos na remoção gradual da programação, para que o
guerreiro consiga fugir da armadilha do ego. O jogo muda. O novo voador
que assume o controle (às vezes mais que um) é extremamente
inteligente. Agora, a ideia é se alimentar do crescimento novo da
consciência que está em curso, e fazer com que o guerreiro tropece,

192
exaurindo sua energia, fazendo com que retorne para o mundo da
normalidade. Se isso não for possível, eles podem tentar destruir o
guerreiro usando o ambiente a sua volta. Os voadores não querem mais
guerreiros saindo da vida vivos. Nem querem que as pessoas fiquem
sabendo o que eles andaram fazendo nos últimos dez mil anos. Para se
livrar da nova ameaça, o guerreiro precisa também mudar o jogo. A
primeira coisa a se lembrar é que, se algo irá te atrapalhar, será
provavelmente você mesmo, através do seu ego. O ego já era um desafio
antes dos voadores chegarem aqui. Provavelmente foi mais um fator para
a chegada deles.
O guerreiro precisa aprender a lidar com seu próprio ego. Neste
estágio, dobre sua atenção para identificar atos egotistas e desabilitando-
os antes que completem seu ciclo total. No final ou durante um ciclo do
ego, o guerreiro sofrerá uma perda de energia; fica, dessa forma, aberto a
ataques do infinito. Neste momento, ele pode realmente se machucar.
Todos passam por isso. O ego é um desafio constante no caminho do
guerreiro. Qualquer um que possua uma estaca não é um aliado do
guerreiro que removeu a sua. Geralmente, uma enorme pressão é
colocada em cima daqueles que estão em volta do guerreiro. É necessária
atenção constante, pois quando isso acontecer, é hora de se distanciar
desses contatos. Passe menos tempo, mova-se mais depressa e toque
essas vidas levemente e apenas quando necessário.
O novo tipo de voador é evoluído da mesma forma que os guerreiros
que atingiram a terceira atenção e chegaram ao mundo real. Eles são mais
raros, mas completamente independentes e poderosos. O novo tipo de
voador usa técnicas diferentes para controlar ou manipular o aprendiz.
Uma dessas técnicas é empurrar o pensamento rapidamente direto na
mente e então fugir. Pode ser uma sensação de facada ou agulhada, mas
não há energia pra trás que diga que o guerreiro foi tocado. Porém, pode
haver um ou mais pensamentos em sua mente que não são seus. Ficar
consciente disso permitirá que você identifique tais ataques, entendendo o
jogo e destruindo com eles.
A razão de nove voadores para um humano é conservadora. É um
bom sinal que eles estejam usando várias outras espécies em outras
realidades para se alimentar também. Os voadores estão em todos os
lugares, e cada um tem sua própria maneira de se alimentar. Alguns
trabalham em gangues, "pilotando" ventos em volta do mundo através de
áreas densamente habitadas. Outros se fixam em ruas onde vários
acidentes de carro acontecem. Influenciar brigas de trânsito e acidentes é
um dos métodos que eles usam para absorver certos tipos de energia.
Alguns se alimentam diretamente da morte de humanos; por isso, tais atos

193
são encorajados. O campo energético criado por uma pessoa infectada
facilita o ataque a outros e aumenta o controle de indivíduos que são mais
difíceis de controlar. Da mesma forma, o campo energético de um
guerreiro induz a liberdade de todos. Por isso, eles pressionam as pessoas
a morar em locais altamente densos, como prédios gigantescos. Significa
mais energia acumulada com menos esforço.
Os seres-humanos literalmente se tornaram suas próprias franquias
de “fast food” (comida pronta). Você gostaria de fritas para acompanhar?
Combate físico em público é uma área de enorme interesse. O guerreiro
livre consegue ver os voadores encorajando, instigando os humanos ao
confronto. Às vezes parece que eles estão apenas se divertindo com seus
hospedeiros. Eles podem sentir emoções como nós, e a mais importante é
o medo. Medo de perder a conexão com o hospedeiro, com a mente
coletiva, medo da fome. Eles projetam essas emoções e sentimentos em
nós; fome intensa para a consciência do predador se torna fome intensa
para a consciência do hospedeiro. Isso faz com que o humano fique tão
faminto que não consegue mais pensar direito até comer — às vezes além
da conta. Dessa forma, o hospedeiro se torna mais lento; um alvo mais
fácil. Quantas emoções você sente que não te pertencem? Como as
identifica como sendo suas, programação residual, ativa ou influência
direta da mente dos voadores? E quanto aos outros humanos hospedeiros
que te cansam em suas atividades diárias?
Quando eles te tocam, a sensação pode variar de um leve vento nos
cabelos da perna a uma picada de inseto a uma sensação de agulhas
furando uma perna inteira. Uma sensação de queimação acontece quando
o campo de energia é rasgado e a energia é roubada daquela área.
Geralmente, quando sentir a sensação de queimação, a energia já foi
tomada. Assim que ficar consciente de como é o toque deles, saiba que
não há como desaprender esse conhecimento. Ao se tornar consciente
deles, eles se tornam conscientes que você está consciente.
O guerreiro não deve tornar-se obsessivo em relação aos voadores.
Ele deve observar os atos dessas criaturas da mesma forma que olha para
os dois lados da rua antes de atravessá-la. Ao aprender seus hábitos, você
se tornará um guerreiro melhor. Há várias tecnologias similares ao modo
como os voadores operam. Atacar os seres humanos com o que é
essencialmente uma solução de rede permite que eles saibam o que nós
sabemos, quando sabemos e onde estamos.
Considerando que humanos usam apenas uma pequena parte do
seu poder mental, porque não usar o restante para seus propósitos de
parasita? Super computadores são agora construídos usando os mesmos
princípios. Eles não contêm apenas um poderoso chip (mente), mas

194
milhares de processadores com seus próprios suportes de alimentação,
combinando sua força. Isso mantém as mentes dos hospedeiros falando
consigo mesmas, como conversa de rede, e os voadores podem então
usar muito do poder da mente do hospedeiro para si mesmos. Não odeie
ou tenha emoções em relação a essas criaturas escrotas por suas ações.
Eles adicionaram um filtro para suspender o desenvolvimento do guerreiro.
Lembre-se que o seu ego é sempre o problema, foque nisso e na sua
liberdade. Eles, como raça, fizeram o que puderam para sobreviver. Nós
éramos os desgraçados que apareceram em seu caminho, justamente
quando estavam tão perto do fim. Interferências dessas criaturas alteraram
o campo de energia da nossa espécie.
É por isso que o caminho do guerreiro é basicamente o único método
para vencê-los, ganhando uma mente de cada vez. Como já dito, a medida
que a quantidade de guerreiros aumenta, a chance de outros se libertarem
aumenta paralelamente, criando um efeito cascata. Uma porcentagem de
apenas três a cinco por cento (em torno de duzentos a trezentos milhões)
de guerreiros já seria o suficiente. Essas informações permitem que
aqueles que desejam se tornar guerreiros possam lutar com uma pequena
vantagem. Ao final das contas é a sua vida, e encarar esse desafio é a sua
decisão. O tempo de fazer parte do rebanho dos voadores acabou. A hora
de lutar pela sua liberdade é agora.
Os pedradores penetram no homem assim que este abra uma
brecha, enchendo-o de estupidez e letargia, e apenas a disciplina pode
expulsar-los: "A disciplina esgota a mente alienígina do predador". Por
disciplina os xamãs entendem a arte de enfrentar o infinito, fortalecendo a
capa brilhante da consciência e expulsando o predador, uma e outra vez,
pois este sempre retorna, mas cada vez mais fraco, até que se vá em
definitivo. Sabemos também que o jejum e o silêncio interior são muito
úteis para expulsá-los –e então vê-los. Aquele que o expulsa facilmente
pode enxergá-los.
Eles são infinitamente eficientes e organizados. Para nos manter
obedientes, submissos e fracos, os predadores empreenderam uma
manobra estupenda — estupenda, claro, do ponto de vista de um
combatente estrategista. Uma manobra horrenda do ponto de vista dos
que a sofrem. Eles nos deram sua mente. Entende? Os predadores nos
dão a mente deles que se torna a nossa mente. A mente dos predadores é
grotesca, contraditória, taciturna e cheia de medo de ser descoberta a
qualquer momento. Pela nossa mente que, afinal de contas, é a mente
deles, os predadores injetam nas vidas dos seres humanos tudo que é
conveniente para eles. E asseguram, desta maneira, um grau de
segurança para agir como um para-choque contra o medo deles.

195
Manipulando nossa autorreflexão, que é o único ponto de
consciência que nos restou, os predadores criam lampejos de consciência
que em seguida consomem de forma cruel e predatória. Eles nos dão
problemas banais que forçam esses lampejos de consciência a crescer, e
desta maneira nos mantêm escravizados para que possam ser
alimentados com o brilho energético de nossas pseudopreocupações.
Na verdade, percebi que a única maneira realmente eficaz de se
armazenar energia, é não deixá-la ser arrancada a cada momento pelos
predadores. Neste assunto, nós, humanos, temos uma boa dose de
responsabilidade, pois as pessoas se entregam por completo a seus
vícios, e assim se tornam presas fáceis ao predador. O problema de ser
consumido continuamente, é que não se deixa ao homem o mínimo
necessário para percepções especiais, nem muito menos para viagens de
ensonho. De fato, na atualidade, quase todos perderam o contato com o
mundo dos sonhos, de modo que caem numa precária situação de
vulnerabilidade, que por certo é aproveitada pelos predadores para se
apoderarem da energia.
Desde o momento em que alguém se torna consciente do predador,
eles atacam com ainda mais insistência, e tentam de todas as formas
desviar a atenção do tema que a gente vem tratando. A verdadeira guerra
não é contra ninguém, mas contra nossa própria estupidez, por permitir ser
consumidos pelos predadores.
Por isso nas tradições xamanistas em toda a América, desde o
Canadá até a Argentina, as pessoas chamam a si mesmas de guerreiros,
pois estão em guerra contra os parasitas em suas mentes. Esse é o real
significado de um guerreiro. O guerreiro é o que se rebela contra a invasão
dos parasitas. O guerreiro se rebela e declara guerra. Sermos guerreiros,
porém, não significa sempre que iremos ganhar a guerra; podemos ganhar
ou podemos perder, mas sempre damos o melhor de nós e temos uma
chance de ser livres outra vez. Escolher esse caminho nos dá, no mínimo,
a dignidade da rebelião e nos assegura que não seremos vítimas
inocentes de nossas emoções frívolas ou do veneno emocional dos outros.
Mesmo se tivermos sucumbido ao inimigo - o parasita -, estaremos entre
aquelas vítimas que não reagiam.
Quando conversamos sobre o caminho tolteca para a liberdade,
descobrimos que eles possuem um verdadeiro mapa para libertar-se da
domesticação. Eles compara o Juiz, a vitima e o sistema de crenças a um
parasita que invade a mente humana. Do ponto de vista tolteca, todos os
seres humanos domesticados são doentes. São doentes porque existe um
parasita que controla a mente e controla o cérebro. A comida, para o
parasita, são as emoções negativas produzidas pelo medo. Se repararmos

196
na definição de "parasita", descobrimos que um parasita é um ser vivo que
vive de outros seres vivos, sugando sua energia sem nenhuma
contribuição útil em troca e machucando o hospedeiro pouco a pouco. Os
toltecas acreditam que os parasitas - o Juiz, a Vítima e o Sistema de
Crenças - controlam sua mente; controlam seu sonho pessoal. Os
parasitas sonham pela sua mente e vivem sua vida por intermédio de seu
corpo. Sobrevivem nas emoções que têm do medo, e se alegram com o
drama e o sofrimento.
O parasita pode ser comparado a um monstro com mil cabeças.
Cada cabeça do parasita é um dos medos que temos. Se queremos ser
livres, temos de destruir o parasita. Uma das soluções é atacar o parasita
de frente, o que significa enfrentarmos cada um dos nossos medos um por
um. Esse é um processo lento, mas funciona. A cada vez que enfrentamos
um dos medos, ficamos um pouco mais livres.
Uma segunda abordagem do problema é parar de alimentar o
parasita. Se não dermos comida a ele, podemos matá-lo de fome. Para
fazer isso é preciso aprender a controlar nossas emoções, conseguir
controlar nossas emoções, precisamos nos abster de alimentar as
emoções que derivam do medo. Isso é muito fácil de falar, mas difícil de
realizar. É difícil porque o Juiz e a Vítima controlam nossa mente.
Uma terceira solução é chamada de iniciação dos mortos. A iniciação
dos mortos é encontrada em muitas escolas esotéricas e tradições ao
redor do mundo, como no Egito, na Índia, na Grécia e nas Américas. Trata-
se de uma morte simbólica, que mata o parasita sem, magoar nosso corpo
físico. Quando "morremos" simbolicamente, o parasita tem de morrer. É
uma solução mais rápida do que as duas primeiras, porém muito mais
difícil de realizar. Precisamos de muita coragem para enfrentar o anjo da
morte. Precisamos ser muito fortes.
Vou revelar-lhe um dos segredos mais extraordinários da feitiçaria: A
única alternativa para a humanidade é a disciplina. Disciplina é o único
meio de deter a instalação alienígena. Os feiticeiros entendem por
disciplina a capacidade de enfrentar com serenidade obstáculos que não
estão incluídos nas nossas expectativas. Para eles, disciplina é uma arte:
a arte de enfrentar o infinito sem titubear porque são fortes e resistentes e
também porque estão cheios de respeito e assombro.
Os feiticeiros dizem que a disciplina torna a capa brilhante de
consciência não palatável ao predador. O resultado é que os predadores
ficam desnorteados. Suponho que a capa brilhante de consciência, que
não é comestível, não faça parte de sua cognição. Depois de ficarem
desnorteados, eles não têm alternativa a não ser deixar a sua tarefa
abominável.

197
Se os predadores não comerem nossa capa brilhante de consciência
durante um período, ela continua crescendo. Simplificando essa questão
ao extremo, posso dizer que os feiticeiros, por meio de sua disciplina,
afastam os predadores o tempo suficiente para permitir que sua capa
brilhante de consciência cresça além do nível dos seus dedos dos pés.
Uma vez ultrapassado esse nível, ela cresce de novo até seu tamanho
natural. Os feiticeiros antigos costumavam dizer que a capa brilhante de
consciência é como uma árvore. Se não for podada, cresce até o seu
tamanho e volume naturais. À medida que a consciência atinge níveis mais
altos do que os dedos dos pés, as manobras tremendas de percepção se
tornam um fato natural.
O grande truque daqueles feiticeiros dos tempos antigos era carregar
a mente dos predadores com disciplina. Descobriram que se
sobrecarregassem a mente dos voadores com silêncio interior, a
instalação alienígena fugiria, dando ao praticante envolvido nessa
manobra a certeza total da origem estrangeira da mente.
A disciplina sobrecarrega continuamente a mente estrangeira.
Portanto, através de sua disciplina, os feiticeiros subjugam a instalação
alienígena. O perigo real é que a mente dos predadores pode vencer a
batalha ao fazê-lo se cansar e forçá-lo a desistir, brincando com a
contradição entre o que ela diz e o que eu digo.
Veja, a mente dos predadores não tem concorrentes. Quando propõe
algo, concorda com a própria proposta, e faz você acreditar que fez algo
de valor. A mente dos predadores lhe dirá que o que Juan Matus lhe diz é
pura bobagem, e a mesma mente concordará com a própria proposta.
Essa é a forma pela qual nos sobrepujam.
A instalação forânea volta, eu lhe asseguro, mas não tão forte, e
começa um processo no qual a fuga da mente dos voadores se torna
rotina, até que um dia fogem para sempre. Com certeza um dia triste! Esse
é o dia em que você deve confiar nos seus próprios recursos, que são
quase zero. Não há ninguém para lhe dizer o que fazer. Não há nenhuma
mente de origem estrangeira para ditar as imbecilidades a que você está
acostumado.
Esse é o dia mais duro na vida de um feiticeiro, pois a mente que
conhecíamos (a soma total de nossas experiências), depois de toda uma
vida de dominação evadiu-se.
Vou revelar-lhe um dos segredos mais extraordinários da feitiçaria: a
mente dos predadores foge para sempre quando um feiticeiro consegue se
agarrar à força vibratória que nos mantém coesos como um conglomerado
de campos de energia. Se um feiticeiro mantém essa pressão por tempo

198
suficiente, a mente dos predadores foge, derrotada. E é exatamente isso o
que você vai fazer: agarrar-se à energia que o mantém coeso.
Não se preocupe com seu medo ou temor. Fique tranqüilo, isso não
é seu medo. É o medo dos predadores, porque sabem que você irá fazer
exatamente o que estou lhe dizendo. Estou certo de que ataques como
esses passam rapidamente. A mente dos predadores não tem a menor
concentração. Você pode estar sendo dilacerado por uma luta interna.
Bem no fundo de você, você sabe que é incapaz de recusar o acordo em
que uma parte sua indispensável, sua capa brilhante de consciência, vai
servir como fonte nutritiva incompreensível para, naturalmente, entidades
incompreensíveis. E outra parte sua irá contra essa situação com toda a
sua força.
As inclinações do predador projetadas através da personalidade
humana são muito óbvias para aquele que já fez algum progresso. O
guerreiro que já conseguiu realmente se livrar deles demonstra qualidades
espirituais únicas que não são copiáveis. É sabido que seu parasita
coopera com outros e seus hospedeiros para lhe causar tragédias numa
escala sem precedentes, na tentativa de obter sua rendição incondicional.
O guerreiro começa então a desenvolver sua mente real e se
familiariza com seu modo nativo de operação, que significa intuição
silenciosa instantânea. O problema é que começamos a nos preocupar
com as consequências de perder algo que estamos tão acostumados a
usar, a ter disponível. Essa é mais uma armadilha do predador. Você
precisa tanto do voador quanto precisa de um buraco na sua cabeça. Só
após expulsá-lo você obterá integridade na sua forma humana física.
Ao lutar contra ele, você irá evoluir e aprender a reconhecer seus
próprios recursos. Nunca aceite que sua presença nos beneficia – ele
gostaria que você concluísse dessa maneira. No entanto, assim que você
o reconhece, há apenas uma opção humanamente sã a ser tomada – fazer
de tudo para sumir com ele. Uma pessoa possuída por um voador não tem
condições de lidar com o poder. A normalidade é a magia negra. Como
humano comum, você está sempre no escuro, não importa o que estiver
fazendo.
As galinhas ouvintes da rádio Mcdonalds se sentem realmente
protegidas e eternas, e nada fazem para quebrar as paredes de sua
prisão. Guerreiros impecáveis eventualmente conseguem com sucesso,
pelo menos temporariamente, uma vitória contra os voadores, e sua
energia emerge. Tal indivíduo é severamente punido por cada violação da
programação, mas o resquício da energia da vitória temporária é
acumulado; daí em diante, com suficiente energia é possível livrar-se do
parasita mental para sempre.

199
A revolução dos feiticeiros é que eles se recusam a honrar os
acordos dos quais não participaram. Ninguém nunca me perguntou se eu
consentiria em ser devorado por seres com um tipo diferente de
consciência. Meus pais simplesmente me trouxeram para esse mundo
para ser alimento, como eles mesmo, e esse é o fim da história.
É possível alcançar a condição de distanciamento emocional por si
mesmo, raciocinar e chegar a conclusões a respeito de nossas prioridades
energéticas. Como dependemos da nossa própria força, só temos uma
opção: preservar a quantidade de energia que trouxemos ao nascer.
Guerreiros impecáveis não precisam de ninguém para guiá-los, porque
economizar energia é algo óbvio para aqueles que estão tentando ser mais
conscientes.
Em circunstâncias normais, o processo de predação de energia pode
ser revertido, para que possamos recuperar a medida completa da nossa
luminosidade. Isso é possível porque o que os voadores consomem não é
a energia básica em si, mas uma energia processada, transformada em
sentimentos e emoções. Isso é o que é projetado da massa energética
quando disparamos nossas emoções. A energia básica ainda está lá,
como a raiz da árvore da vida pois, como eu disse, essa energia está
selada.
A energia está aí para ser usada. É como se fosse a chama de um
fogo que, uma vez iniciado, pode apenas ser usada ou desperdiçada. A
Impecabilidade consiste em usar a energia para gerar mais consciência.
Nesse processo, o guerreiro sempre escolhe os caminhos em que desfruta
seus passos, onde vive intensamente a cada minuto, porque sabe que a
chama da vida não é eterna.
Estamos imersos em um mundo de mistérios, e o maior de todos os
prazeres é ir desvendando esses mistérios um por um, como quando você
é criança e tudo é novo e vibrante. É assim que a energia economizada
nos permite dar saltos um pouco mais amplos, até que acabamos alçando
vôo.
As possibilidades para aqueles que conseguem economizar energia
são verdadeiramente extraordinárias, porque chegamos à posição de
aumentar a consciência a níveis inconcebíveis para o homem comum.
Dessa maneira, é até mesmo possível alcançar a consciência total.
Esta é a rebelião dos guerreiros. É uma liberação, e você não foi
avisado sobre ela porque o voador não te informou nesta manhã. Agora
você sabe. A liberação significa enviar a mente de volta a seu dono. Que
os “deuses” nos ajudem; pois o grande exorcismo da humanidade já
começou.

200
O Sentido de Urgência do Guerreiro

O sentido de urgência é um sentimento que a pessoa pode treinar e


desenvolver, assim como se pode treinar o olfato, a audição ou o paladar.
De nada adianta, correr loucamente de um lado ao outro, à toda pressa,
como você faz, isso não vale nada! Simplesmente porque isso não é o
sentido de urgência ao qual me refiro. Para as pessoas em geral, viver
intensamente é ter muitas atividades, andar sempre apressado, envolver-
se num sem-fim de relações supérfluas. Não! Para o guerreiro, o sentido
de urgência se reduz a conectar-se com o intento. As demais coisas
carecem de importância para ele. A urgência do guerreiro não é a mesma
da do homem comum – reafirmou, – para este, ser urgente significa
apressar-se em aumentar suas possibilidades de ambição. Para o
guerreiro, o sentido de urgência é uma pressão interna, que o obriga a agir
impecavelmente.
Somente a verdadeira consciência da morte pode nos dar o
empurrão necessário para adquirir o sentido de urgência. Pense assim: se
vamos morrer, já perdemos tudo. Então, somos livres para fazer o que
seja, inclusive nos arriscar em prol de nossos sonhos.“Somente a
consciência da morte pendente pode nos levar a agir impecavelmente,
somente isso pode nos dar uma verdadeira sacudida, que nos obrigue a
agir. Enquanto pensarmos que somos imortais, não nos movemos. No fim,
tudo o que conta é o tanto que somos impecáveis em nosso dia a dia. Isso
é o que determina se podemos seguir adiante ou não. A única forma de
agir, é sabendo que você já morreu. Se conseguir alcançar esse
sentimento, então tudo entra em seu lugar. Somente agindo
impecavelmente você pode vencer a obsessão.
A impecabilidade requer que se focalize toda a atenção possível nos
detalhes, nos demanda estar conscientes de tudo o que pensamos,
falamos e fazemos, durante as 24 horas do dia, sem descanso. De fato,
depois de abandonar a frouxidão natural, nos acostumamos tanto a viver
dentro do fluxo, que já não admitimos nenhuma outra opção.
Deixe de procrastinar! Mude já!” A dificuldade daqueles que
escolhem seguir por este caminho é que não encontram a força suficiente
para tomar decisões, e no fim, tudo termina em apenas estórias do que os
outros fizeram. Tudo o que se requer é a determinação para tomar a
decisão inicial, que mudaria o rumo de nossas vidas.
A abstinência é só para os toltecas. Na verdade, sua dificuldade em
avançar se deve ao fato de você andar desperdiçando sua energia sexual,
e se quiser seguir adiante no caminho tolteca deve se sobrepor aos seus

201
impulsos. Neste ponto em particular, o guerreiro não deve titubear. Se quer
avançar no caminho, tem que economizar energia a qualquer custo, ainda
que isso signifique ter que erradicar todo tipo de sensualidade.
Para alcançar esse estado, a pessoa tem que se comprometer a
fundo, deve se dispor a cumprir com todos os requisitos. Essa é uma
batalha em tempo integral, e requer toda a determinação que se possa
reunir para se levar a cabo. Os bruxos dizem que a urgência é uma
posição do ponto de aglutinação e que, uma vez alcançada, pode-se notar,
pois o olhar da pessoa muda, e sente-se que algo diferente ocorre. Do
ponto de vista dos demais, essa pessoa exala determinação. Ao
estabelecer atos deliberados de vontade, rompe-se o ciclo vicioso e
começa a se juntar energia. Como resultado, a pessoa começa a sentir
uma confiança inusitada em si mesmo. É como um profissional, que
domina por completo seu campo de trabalho, sabe de antemão o que
fazer, sem importar a situação que possa surgir. Com isso, tornei-me mais
alerta, deixei de desperdiçar tolamente minha energia, e, através de
estratégias concretas, passei a economizar minha energia de maneira
inteligente. Temos que ser muito cuidadosos em como usamos nosso
tempo.
O guerreiro se esforça para ser produtivo, criativo, e se possível,
revolucionário naquilo que faz. Um guerreiro nunca tem pressa, e nunca
desperdiça seu tempo, e por isso, está sempre ocupado em alcançar algo,
evitar algo ou conseguir algo. Para o guerreiro, a vida é uma luta sem fim,
e ele aceita com humildade seu lugar na batalha: deixa sua guerra fluir,
com toda a sua força, ardor e paixão possíveis, porque sabe que está
lutando por sua vida.
Se começa introduzindo disciplina na sua vida, pois sem isso não
vale a pena nem tentar. Logo, com a capacidade de tomar decisões e
cumpri-las, alcança-se um maior nível de energia, a mesma que abre o
caminho para realizações ainda maiores, como parar o diálogo interno, o
ensonho e estar consciente de si mesmo. Os bruxos são muito cautelosos
no uso da energia sexual, pois sabem que essa é a verdadeira bateria que
move tudo. Quando uma pessoa consegue assumir o controle sobre os
impulsos sexuais, estará livre para fazer todas as demais coisas. Evito
mencionar esse tema publicamente, porque estou consciente que o preço
a se pagar, é alto demais para a maioria das pessoas. Contudo, para
aqueles que buscam seriamente seguir o caminho tolteca, não há outra
opção: precisam recarregar a bateria, pois do contrário, nunca chegarão a
parte alguma. A única coisa que se requer, por parte do aprendiz que se
inicia neste caminho, é que poupe sua energia, sem exercer atividade
sexual nenhuma, até que consiga forjar seu corpo energético.

202
Um guerreiro não deixa assuntos inacabados, nem fios soltos. Se
requer um esforço enorme e dedicação para se alcançar a claridade de
propósito, e somente esta pode dar ao guerreiro a confiança necessária
para seguir caminhando em linha reta. A claridade só se alcança ao se ter
uma mente sóbria, usar corretamente os recursos disponíveis, instruir-se
com toda a informação possível, e como dizia Carlos, ‘apaixonar-se pelo
conhecimento’. Ele dizia que somente a ideia da morte pode nos dar a
força necessária para agir. E assim, com a sobriedade, a clareza e a
consciência de nossa morte pendente, o guerreiro traça sua estratégia.
Depois de todos esses anos vivendo com os curandeiros,
aprendemos que, para um bruxo, o estado normal é estar alerta o tempo
todo. Ao aceitar que estamos em guerra, conseguimos destruir o pior de
todos os inimigos: o ego, que nos impede de ver com claridade às
mensagens do espírito. Por isso, a única coisa que realmente conta na
vida do guerreiro, é a impecabilidade, e nada melhor do que estar
constantemente sob ameaça de morte para alcançá-la.
Aqueles que já perderam tudo são livres para intentar o que seja.
Assim como o nascimento, o despertar da consciência é também um ato
solitário. Uma vez que a energia alcança um determinado limiar, o próprio
poder se encarrega de colocar o mestre no caminho do aprendiz; esta é a
via, tudo o mais é um ato forçado e não resulta em nada.
Quando o aprendiz se faz consciente de sua situação, se põe a
planejar um curso de ação. O primeiro é estabelecer técnicas de
economizar energia: isso se consegue cortando todo o supérfluo, ficando
apenas com o estritamente necessário. Organiza sua vida de tal maneira,
que dispõe seu ambiente imediato, como casa, escola e lugar de trabalho,
como um campo de batalha, e cria seus próprios exercícios de acordo com
o terreno disponível. Realiza atos específicos, que o auxiliem na tarefa de
limpar seu vínculo de conexão com o espírito.
Quando o aprendiz entra no mundo da bruxaria, se vê imerso na
tarefa de economizar energia e limpar a ilha do tonal. Esses são trabalhos
monumentais, porém as técnicas do caminho do guerreiro vêm em seu
auxílio. Desta forma, aprende a espreitar a si mesmo, e isso se consegue
ao ser deliberado em pensamento, palavra e ação. Somente quando se
consegue alcançar o equilíbrio na vida diária é que o caminho fica livre.
A energia básica que dispomos não é suficiente para realizar os
trabalhos requeridos na bruxaria, de forma que devemos buscar essa
quantidade extra, tão necessária, seja onde for. Em muitas ocasiões, a
busca de energia suplementar pode tomar rumos imprevistos, que nem
sempre se ajustam às demandas sociais. O aprendiz quase nunca está
consciente das etapas que passa em sua luta para limpar o vínculo com o

203
espírito. A trilha ao conhecimento é para ele um imenso labirinto, onde se
encontra com todo tipo de armadilhas, as mesmas que, se não conseguir
se safar, podem muito bem abreviar o caminho e pôr fim em sua busca. Se
compararmos, veremos que na vida cotidiana o cenário é muito parecido.
Quando menos se espera, nos encontramos atolados no mundo diário,
perdidos em meio a um sem fim de compromissos e procedimentos, ao
ponto em que se acaba defendendo crenças ou ideologias que nem
sequer são nossas.
É uma grande vitória, superar o ego para chegar a ser um aprendiz.
Ao princípio, o aprendiz se esforça para dar sentido ao que se enfrenta; a
única coisa que tem, é um impulso que não sabe explicar, e que o leva
numa determinada direção. Quando finalmente reduz seu limite de dúvidas
e se assume como um guerreiro, novas possibilidades se abrem, e quando
consegue desempoeirar seu vínculo com o espírito, tudo se torna claro, e
continuar com sua luta se torna muito mais fácil, e é então quando se inicia
a verdadeira batalha.
Quando por fim o guerreiro estabelece um vínculo íntimo com o
espírito, a relação que se tenha é algo totalmente pessoal. O trabalho de
limpar o vínculo com o espírito pode ser simples ou muito complicado, isso
depende em grande parte ao temperamento do guerreiro. Para alguns é
como se não fosse nada, tão somente lhes toma o esforço de parar o
diálogo interno por uns poucos minutos, enquanto que outros têm que suar
sangue para alcançá-lo. Para alguns essa meta pode representar anos de
trabalho árduo.

A Loucura Controlada

Temos que saber que nossos atos são inúteis e, no entanto, temos
que proceder como se não soubéssemos. Os atos devem ser sinceros,
mas são atos de um ator. Tudo o que eu faço é loucura controlada. Nada
importa e não devemos ligar realmente a nada ou a ninguém. Devemos
continuar a viver com base na vontade, mas uma vontade limpa e sadia. A
vontade é usada para controlar a loucura da vida.
Meu riso é real, é loucura controlada. O meu riso é inútil; não altera
nada e, no entanto, continuo a fazê-lo. O meu riso é uma loucura
controlada. Um homem de conhecimento não tem honra, nem dignidade,
nem família, nem nome, nem prática, mas apenas a vida a ser vivida, e,
nessas circunstâncias, sua única ligação com seus semelhantes é sua
loucura controlada. O homem de conhecimento se esforça, transpira e
bufa; e, se olhar para ele, parece um homem comum, só que tem que a
loucura de sua vida está controlada. Como nada é mais importante do que

204
outra coisa qualquer, um homem de conhecimento escolhe qualquer ato e
age como se lhe importasse. Sua loucura controlada o leva a dizer que o
que ele faz importa e o faz agir como se importasse.
Um guerreiro não está em situação muito melhor do que um homem
comum:
Ambos são seres luminosos que vão morrer.
Ambos são feitos de energia, e é a energia que importa no fim das contas.
Ambos estão presos as descrições e convenções que lhes foram
ensinadas.
Ambos até precisam dessas descrições e convenções para viver .
Ambos vivem uma loucura, loucura essa que se mostra nos
comportamentos e hábitos dos seres humanos.
A diferença é que o guerreiro sabe disso tudo e o homem comum não.
A única vantagem do guerreiro é que ele sabe que tudo é uma
loucura, e tenta controlar essa loucura, estando consciente que é louco. O
homem comum não sabe que vive uma loucura e muito menos que é
louco. Nesses termos, a visão de mundo e de si mesmo do guerreiro é
mais ampla e eficiente.
O guerreiro entende que a realidade é muito mais do que nossas
descrições e suas mais loucas fantasias possam explicar, e finge que
concorda com essas descrições para transitar melhor no mundo dos
homens e tornar mais cômoda e funcional sua passagem por esse lindo
planetinha, mesmo sabendo que existem muito mais coisas em jogo.
O homem comum se orgulha da sua realidade e de suas
explicações, de seus feitos e modo de vida, acredita firmemente que sua
descrição é única e imutável, se leva muito a sério na sua loucura, e
chama de louco quem não concorda com ele.
A arte do guerreiro consiste em entender a complexidade, a
irrealidade e o mistério da existência, e tentar transformar esse caos e
essa loucura num assunto estratégico, num caminho a percorrer, mesmo
sabendo que nunca irá entender a vida e os desígnios do grande Espírito..
Ele tenta controlar sua loucura, para não se perder na loucura geral dos
outros.
Usando os 4 princípios da arte da Espreita, ou seja, sendo gentil,
paciente, sagaz e implacável, tanto consigo mesmo, como com os outros,
tudo isso alicerçado por sua sobriedade e impecabilidade, e empurrado
pela sua vontade e intento inflexível, o guerreiro vai se movimentando no
teatro mágico da vida tentando controlar sua loucura.
Num ato aparentemente contraditório de controle e entrega, o
guerreiro dá o seu melhor e coloca o resultado de suas ações na mão do
Infinito. É o seu modo de percorrer seu caminho com coração.

205
O homem de conhecimento sabe que depois de qualquer ato ele se
retira em paz, quer seja um ato bom ou mau. A bondade e a maldade não
o afeta. A loucura controlada é a única maneira que existe de lidar consigo
mesmo, em seu estado de consciência e percepção expandida, e com
todos e tudo no mundo dos afazeres diários. A loucura controlada como
arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso
na ação. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo
sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo
tempo uma parte de tudo.
A única vantagem do guerreiro é que ele sabe que tudo é uma
loucura, e tenta controlar essa loucura, estando consciente que é louco. O
homem comum não sabe que vive uma loucura e muito menos que é
louco. Nesses termos, a visão de mundo e de si mesmo do guerreiro é
mais ampla e eficiente.
O guerreiro entende que a realidade é muito mais do que nossas
descrições e suas mais loucas fantasias possam explicar, e finge que
concorda com essas descrições para transitar melhor no mundo dos
homens e tornar mais cômoda e funcional sua passagem por esse lindo
planetinha, mesmo sabendo que existem muito mais coisas em jogo.
O homem comum se orgulha da sua realidade e de suas
explicações, de seus feitos e modo de vida, acredita firmemente que sua
descrição é única e imutável, se leva muito a sério na sua loucura, e
chama de louco quem não concorda com ele. A arte do guerreiro consiste
em entender a complexidade, a irrealidade e o mistério da existência, e
tentar transformar esse caos e essa loucura num assunto estratégico, num
caminho a percorrer, mesmo sabendo que nunca irá entender a vida e os
desígnios do grande Espírito.
Ele tenta controlar sua loucura, para não se perder na loucura geral
dos outros e com isso acabar sendo arrastado por eles. Usando os 4
princípios da arte da Espreita, ou seja, sendo gentil, paciente, sagaz e
implacável, tanto consigo mesmo, como com os outros, tudo isso
alicerçado por sua sobriedade e impecabilidade, e empurrado pela sua
vontade e intento inflexível, o guerreiro vai se movimentando no teatro
mágico da vida tentando controlar sua loucura.
Num ato aparentemente contraditório de controle e entrega, o
guerreiro dá o seu melhor e coloca o resultado de suas ações na mão do
Infinito.
A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem
comum. O homem comum procura certeza nos olhos do observador e
chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos
próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso

206
aos seus semelhantes, enquanto o guerreiro só está preso ao infinito.
Alívio, refúgio, medo, todas essas palavras criaram estados de espírito que
você aprendeu a aceitar sem jamais questionar seu valor.
Há muitas coisas que um guerreiro pode fazer, em determinado
momento, que não poderia ter feito anos antes. Essas coisas não
mudaram; o que mudou foi a ideia do guerreiro sobre si mesmo. O único
caminho possível que um guerreiro tem é agir com coerência e sem
reservas. Chega um momento em que ele sabe o suficiente sobre o
caminho do guerreiro para agir de acordo, mas seus velhos hábitos e
rotinas podem obstruir seu caminho.
Um guerreiro deve cultivar o sentimento de que ele tem tudo de que
precisa para a viagem extravagante que é sua vida. O que conta para um
guerreiro é estar vivo. A vida em si é suficiente, auto-explicativa e
completa. Portanto, pode-se dizer, sem presunção, que a experiência das
experiências é estar vivo.
Ser um guerreiro não é uma simples questão de querer. E mais uma
luta interminável que continuará até o último momento de nossas vidas.
Ninguém nasce um guerreiro, exatamente da mesma maneira que
ninguém nasce um homem comum. Nós nos tornamos um ou outro.
A diferença entre um homem comum e um guerreiro é que o
guerreiro toma tudo como um desafio, enquanto o homem comum toma
tudo como uma bênção ou uma maldição. Uma regra prática para um
guerreiro é que ele toma suas decisões com tanto cuidado que nada que
possa acontecer como resultado delas pode surpreendê-lo, e muito menos
esgotar seu poder.
Quando um guerreiro decide agir, ele deve estar preparado para
morrer. Se está preparado para morrer, não haverá tropeços, surpresas
desagradáveis, nem atos desnecessários. Tudo deve se encaixar
suavemente em seu lugar porque ele nada espera.
Um guerreiro, como um mestre, tem de primeiro ensinar sobre a
possibilidade de agir sem acreditar, sem esperar recompensas — agir só
por agir. Seu sucesso como mestre depende da eficiência e da harmonia
com que ele guia seus aprendizes nesse particular específico.
Um guerreiro reconhece sua dor mas não se entrega a ela. O ânimo
do guerreiro que entra no desconhecido não é de tristeza; ao contrário, ele
é alegre, pois sente-se dominado por sua grande sorte, confiante porque
seu espírito é impecável e, acima de tudo, totalmente consciente de sua
eficiência. A alegria do guerreiro vem da aceitação de seu destino, e por
ter avaliado corretamente o que está à sua frente. Quando não se tem
nada a perder, fica-se corajoso. Só somos tímidos quando há ainda
alguma coisa a que nos apegamos. Um guerreiro não pode deixar nada ao

207
acaso. Ele interfere no resultado dos acontecimentos através da força de
sua consciência e de seu intento inflexível.
Tendo isso em vista, para os guerreiros, tudo que o homem comum
faz, suas regras, desejos, mesquinharias, rotinas, seu ego e suas
obrigações, são uma imensa loucura. O homem moderno leva a sério
demais tanto a si mesmo, como seus hábitos e certezas. Como perder
tanto tempo e energia em coisas tão banais e insignificantes, quando todos
temos um destino final tão misterioso e incerto? O desafio é que os
guerreiros vivem nesse mundo. Aqui é nosso campo de batalha, e, na
interação com o homem comum e sua sociedade, acabamos sendo
puxados e engolidos por toda essa loucura. Vivemos aqui, e aprendemos
muito aqui, apesar de tudo. Os guerreiros não se isolam, não querem virar
ermitões, pois isso seria entregar-se. A convivência em sociedade pode ter
muitos aspectos bons e agradáveis, muitas belezas escondidas, encontros
especiais, além de temperar nosso espírito e nos propiciar ótimas
situações para afiar nosso intento, nossa vontade e nossa impecabilidade.
Para poder viver aqui, dentro dessa loucura, sem perder de vista nosso
destino final e o que realmente nos importa, os xamãs desenvolveram a
Arte da Espreita, e sua técnica mais fundamental: a Loucura Controlada.
Com a Loucura Controlada, os guerreiros conseguem transitar no mundo
rotineiro, maluco e acinzentado dos homens, e interagir com eles em todos
os seus assuntos triviais e insignificantes.
Quem o vê e o conhece, poderia jurar que tudo isso realmente
importa para ele, porém o guerreiro, no seu íntimo, sabe que tudo isso não
passa de delírios e loucuras de uma sociedade adormecida e condicionada
culturalmente. Ele participa dessa loucura, porém a sua loucura é
controlada. Ele, de certa forma, atua nesse grande teatro, ou poderíamos
dizer, hospício a céu aberto. Se faz passar por louco também mas, na
verdade, está espreitando. Essa é apenas a maneira que ele encontrou
para acumular energia, aproveitar as maravilhas do mundo e, nesse
processo, não ser arrastado pela loucura do homem comum. Um guerreiro
não confunde o mundo com os que as pessoas fazem no mundo. O mundo
é muito mais do que as coisas que as pessoas fazem. Dessa forma, as
mesquinharias, desejos, exigências, acordos, medos, rotinas, auto-
importância, apegos e paranóias, que são comuns hoje em dia ao homem
comum, não mais o afetam. Ele está no olho do furacão, porém enxerga
tudo como se estivesse de cima: com clareza e sobriedade. O guerreiro
está nesse mundo, mas está em outros mundos também. A loucura
controlada permite que ele aproveite e use o mundo da forma que lhe
convir, sem estar apegado as coisas desse mesmo mundo. Ele sabe que,

208
no fundo, o que realmente importa são os ditames da Águia e os desígnios
do Espírito.
Um guerreiro sabe que está esperando e sabe o que o está
esperando, e enquanto ele espera deleita-se olhando para o mundo. A
suprema realização do guerreiro é gozar a alegria do infinito. O curso do
destino de um guerreiro é inalterável. O desafio é de até onde ele pode ir e
quanto ele será impecável dentro desses limites rígidos.
A fim de ser um espreitador consistente e utilizar a loucura
controlada nas suas interações, o guerreiro tem primeiro que estar vazio, e
isso ocorre através da prática da recapitulação. Só sendo vazio o guerreiro
pode assumir o papel que quiser em qualquer situação, pois não tem mais
sua auto-importância para travá-lo.
As ações das pessoas não afetam mais um guerreiro quando ele não
tem mais expectativas de nenhuma espécie. Uma paz estranha se torna a
força que governa sua vida. Ele adotou um dos conceitos da vida do
guerreiro — o desapego. O desapego não significa automaticamente
sabedoria mas é, contudo, uma vantagem, porque permite ao guerreiro
parar por um momento para reavaliar situações e reconsiderar posições.
Entretanto, para usar esse momento extra de modo consistente e correto,
o guerreiro tem de lutar incansavelmente durante toda a sua vida.
Quando diante de dificuldades com as quais não podem lidar, os
guerreiros recuam por um momento. Eles deixam a mente vagar. Ocupam
seu tempo com alguma outra coisa. Qualquer coisa serve. Este é o quinto
princípio da arte da espreita.
Aplicar esses princípios leva a três resultados. O primeiro é que os
espreitadores aprendem a nunca se levar a sério; eles aprendem a rir de si
mesmos. Se não temem ser um tolo, podem enganar qualquer um. O
segundo é que os espreitadores aprendem a ter uma paciência sem fim.
Os espreitadores nunca têm pressa; nunca se afligem. E o terceiro é que
os espreitadores aprendem a ter uma capacidade infinita para improvisar.
Não há totalidade sem tristeza e saudade, pois sem elas não há
sobriedade nem bondade. A sabedoria sem bondade e o conhecimento
sem sobriedade são inúteis.
A auto-importância é o maior inimigo do homem. O que o enfraquece
é sentir-se ofendido pelos atos e omissões de seus semelhantes. A auto-
importância exige que se passe a maior parte da vida ofendido por alguma
coisa ou por alguém.
Se os videntes podem ficar firmes no confronto com os pequenos
tiranos, eles podem, com certeza, enfrentar impunemente o desconhecido,
e aí podem até suportar a presença do incognoscível.

209
Nada pode temperar tanto o espírito de um guerreiro quanto o
desafio de lidar com pessoas impossíveis em posições de poder. Só sob
essas condições, os guerreiros podem adquirir a sobriedade e a
serenidade para suportar a pressão do incognoscível.
O desconhecido é alguma coisa velada para o homem, coberta
talvez por um contexto terrível mas que, não obstante, está ao alcance do
homem. O desconhecido se torna conhecido em determinado tempo. O
incognoscível, por outro lado, é o impensável, o imperceptível. É algo que
nunca será conhecido por nós e, ainda assim, está lá, fascinante e ao
mesmo tempo aterrador em sua vastidão.
Muitos feiticeiros não suportam a loucura controlada, não porque
haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso
muita energia para exercê-la.
Para ser um Nagual a pessoa precisa amar a liberdade e deve ter
um despreendimento supremo.

Ser inacessível

Eis aqui o segredo dos grandes caçadores. Mostrar-se e esquivar-se


no momento exato. Você deve aprender a tornar-se propositadamente
disponível e não disponível.
Ser inacessível é a finalidade. A arte do caçador é tornar-se
Inacessível.
Ser inacessível significa que você toca o mundo que o cerca
moderadamente. Não come cinco porções de comida; come uma. Não
danifica as plantas só para fazer uma churrasqueira. Não se expõe ao
vento, a não ser que seja imprescindível. Não utiliza e espreme as
pessoas até elas mirrarem e sumirem, especialmente aquelas que você
ama.
Não estar disponível significa que você propositadamente evita
esgotar-se a si e aos outros. Significa que você não está faminto nem
desesperado, como o pobre filho da mãe que acha que nunca mais vai
comer na vida e então devora toda a comida que pode.
Um caçador sabe que atrairá a caça várias vezes para sua
armadilha, de modo que não se preocupa. Preocupar-se é tornar-se
acessível, acessível sem o saber. E depois que você se preocupa, agarra-
se a qualquer coisa, em desespero; e uma vez que você se agarra, é
provável que se esgote ou esgote a quem ou que você estiver agarrando.
Ser inacessível não significa esconder-se, nem ser misterioso. Não
significa tampouco que você não possa lidar com as pessoas. Um caçador

210
usa seu mundo com parcimônia e ternura, sem considerar se o mundo é
de coisas, plantas, animais, pessoas ou poder.
Don Juan aconselha Carlos que, se quiser se libertar do peso dos
pensamentos alheios, deve começar a se apagar, criando uma névoa ao
seu redor que o transforma em um ser misterioso e imprevisível. O
estratagema não é dirigido apenas aos outros. Deve ser apagado até que
se torne desconhecido para si mesmo. Isso está de acordo com o terceiro
preceito dos espreitadores de se considerarem mais um mistério, entre os
mistérios do mundo.
Uma parte deliberada da vida do guerreiro está em entrar e sair de
mundos diferentes e se manter discreto. Quanto mais você é conhecido e
identificado, mais a sua liberdade é podada. Quando as pessoas têm
ideias definidas sobre quem você é e como irá agir, aí você não pode se
mover. Você precisa lentamente criar uma névoa em volta de sua pessoa
e aí não será reconhecido como fato; terá mais espaço para mudar.
Um caçador trata intimamente com seu mundo e, no entanto, é
inacessível a esse mesmo mundo. Ele está inacessível porque não está
espremendo o mundo até este perder a forma. Ele o toca de leve, fica o
tempo que precisa, e depois passa adiante rapidamente, quase sem deixar
marca. A fim de ser um caçador, você tem de romper as rotinas de sua
vida: ser livre, fluido, imprevisível.
A morte é a única conselheira sábia que possuímos. Toda vez que
sentir, como sente sempre, que está tudo errado e você está prestes a ser
aniquilado, vire-se para sua morte e pergunte se é verdade. Ela lhe dirá
que você está errado; que nada importa realmente, além do toque dela.
Sua morte lhe dirá: Ainda não o toquei.
Há pessoas que têm muito cuidado com a natureza de seus atos.
Sua felicidade é agir com plena consciência de que não tem tempo;
portanto, seus atos têm um poder especial; tem um sentido de urgência.
Pense em sua morte agora. Ela está a um braço de distância. Pode tocá-lo
a qualquer momento, de modo que você não tem realmente tempo para
pensamentos nem estados de espírito bestas. Nenhum de nós tem tempo
para isso.
Num mundo em que a morte é a caçadora não há tempo para
remorsos ou dúvidas. Só há tempo para decisões. O meio mais eficaz de
se viver é como guerreiro. Preocupe-se e pense antes de tomar qualquer
decisão, porém, uma vez tomada, siga seu caminho, livre de
preocupações e pensamentos; haverá mil outras decisões ainda à sua
espera. É assim a maneira do guerreiro.
Procurar a perfeição do espírito do guerreiro é o único
empreendimento digno de nossa virilidade. A coisa mais difícil deste

211
mundo é adquirir a disposição de um guerreiro. Não adianta ficar triste,
queixar-se e achar justificativa para isso [ou aquilo], acreditando que
alguém está sempre nos fazendo alguma coisa. Ninguém faz nada a
ninguém, muito menos a um guerreiro.
A autocomiseração não condiz com o poder. A disposição de um
guerreiro exige controle sobre si e, ao mesmo tempo, exige que ele se
entregue. Você pode forçar-se além de seus limites, se estiver com
disposição para isso. Um guerreiro faz a sua própria disposição.
Precisamos da disposição de guerreiro para todos os atos. Senão, ficamos
fracos e feios. Não existe poder numa vida que não tenha essa disposição.
Um guerreiro é um caçador. Calcula tudo. Isso é controle. Mas, uma
vez terminados seus cálculos, ele age. Entrega-se. Isso é abandono. Um
guerreiro não é uma folha à mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo;
ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas contra si ou contra o que ele acha
certo. Um guerreiro é preparado para sobreviver e ele sobrevive da melhor
maneira possível.
Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido. Para um guerreiro,
não há nada ofensivo nos atos de seus semelhantes, enquanto ele estiver
agindo dentro da disposição correta.
A recomendação para os Guerreiros é não ter nenhuma coisa
material na qual focalizar seu poder, mas focalizá-lo no espírito, no
verdadeiro vôo ao desconhecido, e não em campos triviais. É seu dever
tranqüilizar sua mente.
Os feiticeiros afirmam que falar de nós mesmos nos torna acessíveis
e fracos, enquanto aprender a ficar quietos nos enche de poder. Um
princípio do caminho do conhecimento é transformar sua própria vida em
algo inacessível aos outros, ser silencioso a respeito de si próprio.
Você deve cultivar a idéia de que um guerreiro não precisa de nada.
Você já tem tudo o que é preciso para a viagem extravagante que é a sua
vida. A verdadeira experiência é ser um homem e o que conta é estar vivo;
a vida é um desviozinho que estamos seguindo agora. A vida em si é
suficiente, auto-explicativa e completa. Um guerreiro compreende isso e
vive de acordo; portanto, pode-se dizer, sem presunção, que a experiência
das experiências é ser um Guerreiro.

212
Nada importa

Tudo é um entre um milhão de caminhos. Portanto, você deve ter


sempre em mente que um caminho não é mais do que um caminho; se
achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele, sob nenhuma
circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar uma vida
disciplinada. Só então você saberá que qualquer caminho não passa de
um caminho, e não há afronta, para você nem para os outros, em largá-lo,
se é isso o que seu coração lhe manda fazer. Mas sua decisão de
continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição.
Eu lhe aviso. Olhe bem para cada caminho, e com propósito. Experimente-
o tantas vezes quanto achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si,
uma coisa. Essa pergunta é uma que só os muito velhos fazem: Esse
caminho tem coração?
Um homem de conhecimento vive pelos atos, não por pensar nos
atos, e não por pensar no que vai pensar depois que acabar de agir. Um
homem de conhecimento escolhe um caminho de coração e o segue; e
depois olha e se regozija e ri; então ele vê e sabe. Sabe que sua vida
terminará muito depressa; sabe que ele, como todos os outros, não vai a
parte alguma; sabe, porque vê, que nada é mais importante do que
qualquer outra coisa.
Em outras palavras, um homem de conhecimento não tem honra,
nem dignidade, nem família, nem nome, nem prática, mas apenas a vida a
ser vivida, e, nessas circunstâncias, sua única ligação com seus
semelhantes é sua loucura controlada. Assim, o homem de conhecimento
se esforça, transpira e bufa; e, se se olhar para ele, parece um homem
comum, só que tem que a loucura de sua vida está controlada.
Como nada é mais importante do que outra coisa qualquer, um
homem de conhecimento escolhe qualquer ato e age como se lhe
importasse. Sua loucura controlada o leva a dizer que o que ele faz
importa e o faz agir como se importasse e, no entanto, ele sabe que não é
assim; de modo que, quando pratica seus atos, ele se retira em paz, e
quer seus atos sejam bons ou maus, dêem certo ou não, isso não o afeta
de todo.
Morrer várias vezes em vida é uma metáfora que os xamãs usam
para ilustrar o processo de mudança que todo guerreiro tem de fazer para
seguir no caminho do conhecimento. Cada ciclo que se rompe, cada etapa
transposta, cada época que fica, cada mudança monumental e
transcendental de conduta, hábitos, valores, comportamentos e visão de
realidade é uma morte pessoal. É como se você nascesse de novo, como

213
se tivesse mais uma chance, agora com mais visão de jogo. Podemos
dizer que é uma nova vida.
Você abandona as suas velhas convicções, comportamentos nocivos
e inadequados, pessoas que te atrasam e parte para o novo. Sem
garantias de nada. Às vezes morremos conscientemente, intencionando
uma mudança, e outras vezes, quando estamos muito cegos e burros, a
vida se encarrega de encerrar alguns ciclos para nós, muitas vezes de
forma dolorosa, mas necessária.
Recapitulando e desapegando, você deixa toda a tralha que
acumulou pra trás e sai andando, rumo ao sol. Economizando e
redirecionando sua energia. Sendo mais impecável, dia após dia. Livre,
desimpedido, sem expectativas, sem anseios de sucesso, sem medo do
fracasso, sem cultuar o "eu", e com uma segurança profunda e inabalável
que está no seu caminho com coração. Com vontade, dessa vez. Aliás,
com mais vontade e mais fome.
Somente quando perdemos tudo, ficamos corajosos, pois não temos
nada a defender. Quando perdemos tudo, já estamos mortos. Se sabemos
que todos vamos morrer um dia, o que mais há para se temer? O pior já
aconteceu. Tomamos consciência de nossa transitoriedade e efemeridade
aqui, e sentimos que não temos tempo a perder. Mas não se engane.
Podemos morrer metaforicamente várias vezes na vida, mas uma hora
morreremos de fato. Então, não ache que vai poder mudar mil vezes na
vida, até ser o que sempre quis ser.
Não temos tempo. Tudo pode acabar num piscar de olhos. A vida é
um breve sopro no ar. Mude logo tudo que tem de mudar. Faça o serviço
rápido e limpo. Deixe a autopiedade e a procrastinação de lado e faça sua
vontade fazer a balança pender. Podemos cortar qualquer coisa de nossas
vidas num estalar de dedos, nós é que não nos damos conta disso e
complicamos tudo. Deixe de ser uma folha à mercê do vento e tome
decisões. Planeje. Aja. Caminhe, sem olhar pra trás. Morra. Sem pena de
si mesmo. Implacável. Mas faça isso já. E renasça em vida para uma
existência cheia até a borda, pautada pela sobriedade, pela intenção e
pelo poder pessoal.
Um homem de conhecimento pode preferir, por outro lado,
permanecer totalmente impassível e nunca agir, e comportar-se como se
ser impassível realmente lhe importasse; ele também será sincero agindo
assim, pois isso também seria sua loucura controlada.
O que nos torna infelizes é desejar. E, no entanto, se aprendermos a
reduzir nossos desejos a zero, a menor coisa que recebermos será um
presente verdadeiro.

214
Cabe a nós, como indivíduos isolados, opor-nos às forças de nossas
vidas. Já lhe disse isso algumas vezes: só o guerreiro pode sobreviver. Um
guerreiro sabe que está esperando e o que está esperando; e, enquanto
espera, não precisa de nada, e assim qualquer coisinha que ele receba é
mais do que pode tomar. Se ele precisa comer, dá um jeito, pois não tem
fome; se alguma coisa lhe machuca o corpo, ele dá um jeito de parar
aquilo, pois não sente dor. Ter fome ou sentir dor significam que o homem
se largou e não é mais um guerreiro; e as forças de sua fome e de sua dor
o destruirão.
Esqueça o eu, e você não terá medo de nada, qualquer que seja o
nível de consciência em que se encontre.
Seguramos as imagens do mundo com a nossa atenção. Se não
focalizar a atenção sobre o mundo, o mundo desmorona. Um guerreiro
deve largar a forma humana a fim de se modificar, modificar-se de
verdade. Se não, só fala em modificar. É inútil pensar ou esperar que se
possa mudar os hábitos. Não podemos mudar nada, enquanto nos
agarrarmos à forma humana. Tudo tem de ser peneirado através de nossa
forma humana. Quando não tivermos forma, então nada tem forma e, no
entanto, tudo está presente. Os guerreiros, tanto homens como mulheres,
devem ser impecáveis em seus esforços para mudar, a fim de assustar a
forma humana e expulsá-la. Depois de anos de impecabilidade chega um
momento em que a forma humana não pode suportar mais e parte. Perder
a forma humana traz liberdade. A liberdade de lembrar-se de si próprio.
Perder a forma humana é como que uma espiral. Dá a você a liberdade de
lembrar, e isso por sua vez o faz ainda mais livre.
Um guerreiro não tem compaixão por ninguém. Ter compaixão
significa que você deseja que o outro seja como você, que esteja em seu
lugar, e você o ajuda só por isso. A coisa mais difícil do mundo é um
guerreiro deixar os outros em paz. A impecabilidade do guerreiro é deixar
os outros como são e apoiá-los no que forem. Isso significa, naturalmente,
que você confia que também eles sejam guerreiros impecáveis. Então é
seu dever: ser impecável e não dar uma palavra. Somente um Feiticeiro
que veja e não tenha forma [humana] pode auxiliar alguém.
Tudo no mundo de um Guerreiro depende do poder pessoal e o
poder pessoal depende da impecabilidade. Os guerreiros sempre têm uma
possibilidade, por menor que seja. Um guerreiro é alguém que procura a
liberdade. Tristeza não é liberdade. Devemos nos libertar dela [com um
senso de desprendimento numa pausa momentânea para reavaliar
situações].

215
A eterna caçadora

Um homem que segue os caminhos da feitiçaria se defronta com


uma aniquilação iminente a cada passo do caminho, e é inevitável que
tome fortemente consciência de sua morte. Sem a consciência da morte,
ele seria apenas um homem comum, praticando atos comuns. Não teria a
necessária potência, a necessária concentração que transforma o tempo
comum da pessoa na terra num poder mágico.
Para os xamãs do México antigo, a morte é nossa melhor
conselheira. Durante um tempo demorei para entender o que isso queria
dizer. E depois quando entendi, demorei mais um tempo para colocar esse
ensinamento em prática na minha vida. Hoje posso dizer que a morte é
minha melhor conselheira.
Guerreiro é aquele que toma a idéia da morte como uma
companheira, uma testemunha dos seus atos. Uma vez aceita essa
premissa, mesmo de uma forma mitigada, se forma uma ponte que se
estende sobre o vazio entre o mundo de nossos afazeres mundanos e
alguma coisa que está diante de nós, embora não tenha nome; alguma
coisa que está perdida na neblina e não parece existir; alguma coisa tão
terrivelmente obscura que não pode ser usada como ponto de referência e,
no entanto, está ai, inegavelmente presente. O único ser na terra capaz de
cruzar essa ponte é o guerreiro: silencioso em sua luta, ele é o homem que
não pode ser detido porque não tem nada a perder.
O ser humano tem um medo ancestral da morte. Nos apavora a ideia
de termos um fim, ou de algum dia não estarmos mais aqui. O medo é tão
grande, que o homem médio prefere nem pensar nisso, prefere se
esconder numa falsa sensação de segurança, achando que não pensando
ou falando sobre, a morte não lhe alcançará. Ou se entrega a alguma
religião que promete uma nova vida depois da morte.
O homem médio comum age como se fosse imortal, como se tivesse
todo o tempo do mundo para promover as mudanças necessárias em seu
espirito. É uma arrogância e uma pretensão sem limites. Não há nenhuma
garantia nem que exista algo após a morte, e muito menos que estaremos
vivos no próximo minuto...essa é a realidade que o homem se recusa a
encarar e aceitar.
Encarando esse fato de frente, sem dramas, tristeza, pesar ou
lamentações, e sim com realismo e lucidez, podemos usar esse fato
aparentemente aterrorizante à nosso favor.
A consciência da nossa morte iminente nos impulsiona a fazermos
as mudanças necessárias e agirmos como se nossos atos mais triviais
fossem nossa última batalha nessa terra. Ela nos lembra a todo instante

216
que não temos tempo. Que nossa sensação de tempo e continuidade é
uma ilusão, que não se sustenta com a transitoriedade e efemeridade de
nossa existência. Nossos atos e decisões, nesse prisma, ganham poder e
se tornam mais reais, mais potentes, mais incisivos, mais profundos e
intencionais.
Você deixa de lado a procrastinação, a auto-complacência e auto-
indulgência, por entender que tudo pode acabar a qualquer momento e
começa a fazer as mudanças que julga necessárias. A consciência que a
morte anda ao nosso lado e pode nos tocar a qualquer momento destrói
todos as mesquinharias, idiotices e sentimentos de baixa vibração que
possam estar conosco, porque ela nivela tudo e nos mostra o que
realmente importa por trás da névoa das rotinas, da correria e das
pressões do mundo moderno. À luz da nossa morte, besteiras não
importam. A certeza da nossa morte dá a nossa vida a importância que lhe
é devida, e transforma o hoje num momento mágico, onde cada segundo
conta.
O entendimento de que um dia vamos morrer ou de que podemos
morrer a qualquer momento nos dá o desapego necessário para que
toquemos tudo com moderação, e a sobriedade necessária para ter
discernimento e clareza nas nossas escolhas e decisões. Para um
guerreiro só o agora é real.
Somente a ideia da morte torna o homem suficientemente
desapegado para ser capaz de se entregar a qualquer coisa. Um homem
assim, porém, não tem anseios, pois adquiriu um amor cálido pela vida e
por todas as coisas da vida. Sabe que a morte o acompanha e não lhe
dará tempo de se agarrar a nada, de modo que ele experimenta, sem
ansiar, tudo de todas as coisas.
Assim, para ser um guerreiro o homem tem de estar antes de tudo, e
propriamente, muito consciente de sua própria morte. Mas a preocupação
com a morte levaria qualquer de nós a focalizar a atenção em si e isso
seria debilitante. Portanto, a segunda coisa que se precisa para ser um
guerreiro é o desprendimento. A idéia da morte iminente, em vez de tornar-
se uma obsessão, torna-se uma indiferença. Somente a idéia da morte
torna o homem suficientemente desprendido para ser capaz de se entregar
a qualquer coisa. Um homem assim, porém, não tem anseios, pois
adquiriu um amor calado pela vida e por todas as coisas da vida. Sabe que
a morte o acompanha e não lhe dá tempo de se agarrar a nada, de modo
que ele experimenta, sem ansiar, tudo de todas as coisas.
Um homem desprendido, que sabe que não tem possibilidade de
evitar sua morte, só tem uma coisa em que se apoiar: o poder de suas
decisões. Deve compreender plenamente que sua opção é sua

217
responsabilidade e, uma vez feita, não há mais tempo para remorsos ou
recriminações. Suas decisões são finais, simplesmente porque sua morte
não lhe permite tempo para se agarrar a nada.
E é assim, com a consciência de sua morte, com seu
desprendimento, e com o poder de suas decisões, um guerreiro organiza
sua vida de maneira estratégica. O conhecimento de sua morte o orienta e
o torna desprendido e secretamente sensual; o poder de suas decisões
finais o torna capaz de escolher sem remorsos, e o que ele escolhe é
sempre estrategicamente o melhor; e assim ele executa tudo o que precisa
com vontade e uma eficiência sensual. Quando um homem procede dessa
maneira, pode-se dizer com segurança que ele é um guerreiro e adquiriu a
paciência.
É especialmente útil nos momentos em que a Importância Pessoal,
em algumas de suas variantes, está tomando conta da nossa pessoa e do
nosso momento. Quando sentimos pena de nós mesmos, quando
sentimos que estamos perdendo algo muito valioso, quando sentimos que
estamos sendo ofendidos, quando sentimos ressentimento ou desejo de
vingança, quando nos apegamos a algo que na realidade já perdemos,
quando somos mesquinhos e negamos a nós mesmos o amor, quando
temos medo ou vergonha de agir como no fundo gostaríamos de fazer. Em
momentos como esses, pare um momento para olhar nos olhos escuros
da morte. Tome um momento para pedir-lhe conselhos. Temos que
conseguir o controle necessário para examinar essas questões à luz de
nossa morte, que nos espera, considerando a situação como se fosse
nosso último ato antes de morrer. Até que a morte remova a mesquinhez e
o medo. Até que a morte coloque tudo no seu devido lugar, na sua
dimensão certa. Só então podemos ver que, em comparação com a morte,
mesmo as situações mais tremendas do mundo cotidiano são, na verdade,
insignificantes. Estamos vivos. E a morte nos espera. Essa é a única coisa
que realmente importa. O resto são bobagens.
Quando vivemos o sonho do planeta, é como se estivéssemos
mortos. Quem quer que sobreviva a iniciação dos mortos recebe um
presente maravilhoso: a ressurreição. Receber a ressurreição é levantar-
se dos mortos, estar vivo, ser nós mesmos outra vez. A ressurreição é ser
como uma criança, selvagem e livre mas com uma diferença. A diferença é
que temos liberdade com sabedoria em lugar de inocência. Somos
capazes de quebrar nossa domesticação, de nos tornar livres outra vez e
de curar nossa mente. Rendemo-nos ao anjo da morte, sabendo que os
parasitas irão morrer e nós sobreviveremos com uma mente sadia e
raciocínio perfeito. Então somos livres para usar nossa própria mente e
dirigir nossa vida.

218
Por isso, na forma tolteca de viver, o anjo da morte nos ensina. O
anjo da morte vem até nós e diz: "Você viu que tudo o que existe aqui é
meu, não é seu. Sua casa, suas esposa, seus filhos, seu carro, sua
carreira, seu dinheiro - tudo é meu e posso tirar quando eu quiser, mas por
enquanto pode ir usando". Se nos rendermos ao anjo da morte, seremos
felizes para sempre. Por quê? Porque o anjo da morte leva embora o
passado, para que sua vida possa continuar. Para cada momento
passado, o anjo da morte continua tirando a parte que está morta e nós
continuamos vivendo o presente. Os parasitas querem que continuemos a
carregar o passado conosco, e isso torna muito difícil o ato de estar vivo.
Quando um guerreiro consegue a paciência, está a caminho da
vontade. Sabe esperar. Sua morte senta com ele em sua esteira, eles são
amigos. Sua morte o aconselha, de maneiras misteriosas, a optar, a viver
estrategicamente. E o guerreiro espera! Eu diria que o guerreiro aprende
sem pressa alguma porque ele sabe que está esperando sua vontade; e
um dia consegue realizar coisas impossíveis, ou coisas impossíveis lhe
forem acontecendo, ele percebe que uma espécie de poder está surgindo.
Um poder que emana de seu corpo enquanto ele progride no caminho do
conhecimento.
Se vocês querem dar espaço ao desconhecido, dêem entrada à sua
extinção pessoal. Aceitem seu destino como o fato inevitável que é.
Purifiquem esse sentimento, fazendo-se responsáveis pelo incrível evento
de estarem vivos. Não implorem à morte; ela não é condescendente com
os que hesitam. Invoquem-na conscientes de que vieram a este mundo
para conhecê-la. Desafiem-na, ainda sabendo que, façamos o que
façamos, não temos a menor possibilidade de vencê-la. Ela é tão gentil
com o guerreiro como é impiedosa com o homem comum
A idéia da morte é de importância monumental na vida de um
feiticeiro. Mostrei-lhe coisas inumeráveis a respeito da morte para
convencê-lo de que o conhecimento de nosso fim pendente e inevitável é o
que nos dá sobriedade. Nosso engano mais caro como homens comuns é
não se importar com o senso de imortalidade. É como se acreditássemos
que, se não pensássemos a respeito da morte, nos pudéssemos nos
proteger dela.
Sem uma visão clara da morte, não há ordem, nem sobriedade, nem
beleza. Os Feiticeiros lutam para ganhar essa percepção crucial de modo
a ajudá-lo a perceber no nível mais profundo possível que não têm
segurança sequer de que suas vidas continuarão além do momento. Essa
percepção dá aos feiticeiros a coragem de serem pacientes e, no entanto,
entrarem em ação, coragem de aquiescer sem serem estúpidos.

219
A vida é o processo pelo qual a morte nos desafia. A morte é a força
ativa. A vida é a arena. E nessa arena há apenas dois contendores em
qualquer época: o próprio indivíduo e a morte.
A morte dos seres humanos tem uma opção oculta. É algo como
uma cláusula num documento legal, uma cláusula que é escrita em letras
muito pequenas que mal se consegue enxergar. Você precisa usar uma
lente de aumento para ler, porém é a cláusula mais importante do
documento.
No momento de morrer os feiticeiros não são aniquilados pela morte,
mas transformados em seres inorgânicos: seres que têm consciência, mas
não um organismo. Para eles, serem transformados em um ser inorgânico
é evolução e isso significa que um novo tipo indescritível de consciência
lhes é emprestado, uma consciência que permanecerá por
verdadeiramente milhões de anos, mas que algum dia também precisará
ser devolvida ao doador: o mar escuro da consciência (ou a Águia].
Para um feiticeiro, a morte é um fator unificador. Em vez de
desintegrar o organismo, como comumente acontece, a morte o unifica. A
morte para um feiticeiro termina o reino dos temperamentos individuais no
corpo. A morte erradica o domínio dessas partes individuais. Ela unifica a
sua consciência em uma única unidade. Para os feiticeiros, a morte é um
ato de unificação que emprega cada parte da energia deles. Você está
pensando na morte como um cadáver à sua frente, um corpo que começa
a se decompor. Para os feiticeiros, quando o ato de unificação ocorre, não
há cadáver. Não há decomposição. Seus corpos, na sua totalidade, se
transformaram em energia, e a energia que possui consciência não é
fragmentada. Os limites que são causados pelo organismo são
interrompidos pela morte e ainda estão funcionando no caso dos
feiticeiros, apesar de não serem mais visíveis a olho nu.
O que acontece com os feiticeiros, quando eles escolhem essa
opção oculta da morte, é que eles se tornam seres inorgânicos, muito
especializados, seres inorgânicos de alta velocidade, seres capazes de
manobras estupendas de percepção. Os feiticeiros entram então no que os
[feiticeiros dos tempos antigos] chamavam de sua viagem definitiva. O
infinito se torna seu reino de ação.
Durante nossas vidas ativas nunca temos a chance de ir além do
nível da mera preocupação, porque desde tempos imemoriais a rotina dos
afazeres diários os entorpeceu. É apenas quando nossas vidas quase se
encontram por terminar que nossa preocupação com o destino começa a
assumir um caráter diferente. Começa a fazer-nos ver através da neblina
das ocupações diárias. Infelizmente, esse despertar sempre vem de mãos
dadas com a perda da energia causada pelo envelhecimento, quando não

220
temos mais força para transformar nossa preocupação em descoberta
pragmática e positiva. Nesse ponto, tudo que é deixado é uma angústia
amorfa e penetrante, um desejo por algo indescritível, e simples raiva por
ter errado o alvo.
O humano comum passa toda sua existência sem jamais parar para
refletir, porque ele pensa que sua morte está no final de sua vida; afinal de
contas, ele sempre terá tempo suficiente. Mas os guerreiros descobriram
que isso não é verdade. A morte vive ao nosso lado, a distância de um
braço, permanentemente alerta, nos olhando, preparada para atacar na
menor provocação. Estamos tão acostumados em coexistir que, mesmo
frente a frente com a morte, continuamos pensando em termos de grupo. A
religião não fala do indivíduo em contato com o absoluto, mas de multidões
de seguidores que vão para o céu ou para o inferno de acordo com sua
fortuna. Não conseguimos conceber a ideia de que o poder de uma vida
impecável pode mudar coisas.
Em vista de tamanha ignorância, é normal para o humano comum
sentir pânico sobre seu fim, e tentar lidar com isso através de orações e
remédios, ou se confundir com o barulho do mundo. Ele tem uma visão
egocêntrica e extremamente simples do universo. Nunca considera seu
destino como ser transitório. No entanto, sua obsessão com o futuro o trai.
A sinceridade ou cinismo das nossas convicções não faz a menor
diferença, porque no fundo todos sabemos o que vai acontecer. Por isso
deixamos sinais para trás. Construímos pirâmides, arranha céus, fazemos
filhos, escrevemos livros, ou pelo menos rabiscamos nossos nomes no
tronco de uma árvore. É o medo ancestral, o conhecimento silencioso da
morte, que está atrás desse impulso subconsciente.
Morrer significa cancelar todas suas pendências; largar tudo que
você tem, tudo que você é. Obviamente você não morreu ainda. Se
tivesse, não estaria a bagunça que é hoje. Sentiria apenas propósito;
responsabilidade. Você não deve evitar a tristeza, mas sim superá-la. Se o
guerreiro não tem nada, ele não sente nada. “Que tipo de mundo vazio é
esse?’, você perguntaria. Vazio é o mundo de agir de acordo com o que foi
estabelecido, porque fazer isso elimina todas as outras coisas, menos isso.
É um mundo desequilibrado; chato, repetitivo. Para os guerreiros, o
antídoto é morrer. E eles não apenas pensam sobre isso, eles fazem isso.
Agora é hora de você sonhar outro sonho. Mas dessa vez, sonhe
morta. Seu erro foi sonhar viva. Sonhar viva significa que você tem
esperança. Significa que você se agarra ao sonho por desespero. Sonhar
morta significa que você sonha sem esperança. Você sonha sem se
agarrar ao seu sonho. Como já dito, liberdade é a total falta de
preocupação consigo mesma; uma ausência de preocupação alcançada

221
quando grande parte da nossa energia aprisionada dentro de nós se une.
Essa energia é liberada apenas quando podemos capturar o conceito
exaltado que temos de nós mesmos; de nossa importância, uma
importância que sentimos que não pode ser violada ou ridicularizada. O
preço da liberdade é muito alto. Liberdade só pode ser alcançada ao se
sonhar sem esperança; ao se permitir perder tudo, até mesmo o sonho.
Se você quer abrir espaço para o desconhecido, precisa ficar
consciente da sua extinção pessoal. Aceite seu destino como o fato
inevitável que é. Purifique esse sentimento. Torne-se responsável pelo
incrível evento que é a sua existência. Não se humilhe na frente da morte;
ela não será condescendente com aqueles que se abandonarem.
Convoque-a, consciente que você veio ao mundo para conhecê-la.
Desafie-a, mesmo sabendo que, qualquer coisa que fizermos, não teremos
a menor chance de conquistá-la. Ela é gentil com o guerreiro e impiedosa
com o humano comum.
A morte não é natural; é mágica. Coisas naturais são sujeitas a
regras, mas a morte não é. Morrer é sempre um evento pessoal, e por
essa razão é um evento de poder. A morte é uma passagem para o
infinito. Uma porta feita da medida exata de cada um de nós, e que um dia
iremos passar, retornando a nossa origem. Nossa falta de entendimento
faz com que a vejamos como um denominador comum. Mas não, não há
nada comum sobre ela.
O guerreiro não é negativo e não busca o fim. Ele apenas sabe que o
que dá valor a vida está em se ter um objetivo que se possa morrer por
ele. O futuro é imprevisível e inevitável. Um dia você não estará mais aqui.
A árvore do seu caixão provavelmente já foi cortada. Você pode ser cínico
e descartar qualquer outro tópico do caminho do guerreiro, mas não pode
fazer graça do seu fim, porque está além do seu poder de decisão e é
implacável. Ele envolve você pessoalmente, quer você queira ou não. A
consciência da morte é uma grande arte. Se você quer abrir espaço para o
desconhecido, precisa ficar consciente da sua extinção pessoal. Aceite seu
destino como o fato inevitável que é. Purifique esse sentimento. Torne-se
responsável pelo incrível evento que é a sua existência. Não se humilhe na
frente da morte; ela não será condescendente com aqueles que se
abandonarem. Convoque-a, consciente que você veio ao mundo para
conhecê-la. Desafie-a, mesmo sabendo que, qualquer coisa que fizermos,
não teremos a menor chance de conquistá-la. Ela é gentil com o guerreiro
e impiedosa com o humano comum.
Um exercício interessante trata a respeito de seu inventário de
pessoas amadas, de todas que você se importa. Assim que tiver
classificado a todas de acordo com o nível de sentimento que você tem por

222
cada uma delas, passe-as através da morte. Não há nada macabro na
morte. Macabro é não podermos encará-la com deliberação. Invoque seus
amados através de seu fim inevitável. Não pense sobre como ou quando
eles irão morrer. Apenas fique consciente que um dia não estarão mais
aqui. Um por um, irão deixar esse mundo, sabe-se lá em que ordem, e não
importa o que você faça para evitar. Quando invocá-los dessa forma, você
não irá machucá-los de nenhum modo. Você irá vê-los através da
perspectiva apropriada. O ponto do foco da morte é prodigioso; ele
recupera os verdadeiros valores da vida.
Se conseguirmos transcender a interpretação e encarar a percepção
pura sem fazer julgamento, a impressão de um mundo de objetos sumiria.
Em seu lugar, veríamos energia fluindo no universo. Sob essas condições,
a corrente de pensamentos das outras pessoas não mais teria o menor
efeito em cima de nós e não nos sentiríamos obrigados a ser nem a fazer
nada. E aí nossos sentidos não teriam limites. Isso é ver.
Então a morte é um turbilhão – disse dom Juan – A morte é o rosto
de uma aliado que tem obceca; a morte é uma nuvem brilhante no
horizonte; a morte é o sussurro de Mescalito em seus ouvidos; a morte sou
eu falando; a morte é você com seu bloco de notas; a morte é nada. Nada!
Está aqui e, no entanto, não está nada aqui.
Somente a certeza da morte torna o homem suficientemente
desprendido para ser capaz de encarar qualquer coisa. Um homem assim,
porém, não tem anseios, pois adquiriu um amor calado pela vida e por
todas as coisas e desafios da vida. Sabe que a morte o acompanha e não
lhe dará tempo de se agarrar a nada, de modo que ele experimenta, sem
ansiedade, tudo de todas as coisas. Um homem desprendido sabe que
não tem possibilidade de evitar sua morte, só tem uma coisa em que se
apoiar: o poder de suas decisões. Sua opção é sua responsabilidade, e
uma vez tomada, não há mais lugar pra remorsos ou recriminações. Suas
decisões são finais, simplesmente poque sua morte não lhe permite tempo
pra se agarrar a nada.
Desse modo, com seu desprendimento e com o poder de suas
decisões, um guerreiro organiza sua vida de maneira estratégica. A
primeira providência que você tem a fazer é estar preparado. A segunda é
se cercar de um caminho de coração e dever recusar o resto, senão
morrerá num próximo encontro. Há anos já lhe disse isso que, em sua vida
diária, o guerreiro escolhe seguir o caminho com coração. É pois a escolha
diária do caminho com coração que torna o guerreiro diferente dos homens
comuns, se torna um com ele percorrendo em toda sua extensão. Outra
providência é que o guerreiro alivia sua entediante conversa interna, deixa
de falar superficialidades. Na verdade, conservamos o mundo conhecido

223
com nossas conversas internas. Nós o renovamos, o animamos, o
mantemos com nossa conversa interna e escolhemos nossos caminhos
com essa conversa repetida até morrermos. Um guerreiro deve saber
disso e procura para de falar. Usamos os olhos para julgar o mundo desde
o dia que nascemos. Antes de tudo, temos de usar os ouvidos para
aliviar a carga de seus olhos, um guerreiro sabe disso e escuta os sons do
mundo. Então saberá que o mundo se modificará assim que parar de
conversar consigo – disse dom Juan – e deve estar preparado para esse
abalo monumental.
É a vontade que junta um feiticeiro – disse ele – mas como a velhice
o enfraquece, sua vontade murcha e chega inevitavelmente um momento
em que ele não é mais capaz de dominar sua vontade. Então, ele não tem
nada com que se opor á força muda de sua morte (a força rolante), e sua
vida se torna igual á de todos os seus semelhantes, uma névoa se
expandindo além de seus limites.
Ao mesmo tempo em que escutam o conselho da morte, façam-se
responsáveis por suas vidas, pela totalidade de suas ações. Explorem-se,
reconheçam-se e vivam intensamente, como vivem os bruxos. A
intensidade é a única coisa que pode nos salvar do aborrecimento.
Uma vez alinhados com sua morte, estarão em condições de dar o
seguinte passo: reduzir ao mínimo a bagagem. Este é um mundo-prisão e
devemos sair como fugitivos, sem levar nada. Os seres humanos são
viajantes por natureza. Voar e conhecer outros horizontes são nosso
destino. Por acaso vais de viagem com tua cama ou com a mesa que
comes? Sintetiza tua vida! A humanidade de nossa época adquiriu um
estranho costume que é sintomático do estado mental em que vive.
Quando viajamos, compramos todo tipo de artefatos inúteis em outros
países, coisas que, com certeza, não adquiriríamos em nossa própria
terra. Uma vez que regressamos para casa, os acumulamos em um canto
e terminamos nos esquecendo de sua existência, até que um dia os
descobrimos, por casualidade, e os colocamos no lixo.
Assim ocorre com nossa viagem pela vida. Somos como asnos
carregando um fardo de porcarias, não há nada valioso por ali. Tudo que
fazemos só serve para que, no final, quando a velhice nos tome de
assalto, repitamos incansavelmente alguma frase, como disco arranhado.
Um bruxo se pergunta: que sentido tem tudo isso? Por que investir meus
recursos no que não me ajudam em nada? O encontro de um bruxo é com
o desconhecido, não pode comprometer sua energia em nulidades. Em tua
passagem pela terra, tire algo de verdadeiro valor, de outro modo não
valeu a pena”.

224
O poder que nos rege nos deu escolhas. Ou passamos a vida
vagando em torno de nossos hábitos, ou nos animamos a conhecer outros
mundos. Somente a consciência da morte pode nos dar a sacudida
necessária.
A pessoa comum passa sua existência inteira sem parar pra meditar,
porque pensa que a morte está no final da vida; no final das contas,
sempre teremos tempo para ela! Mas um guerreiro descobre que isto não
é certo. A morte vive na espreita, a um braço de distância,
permanentemente alerta, olhando-nos, disposta a saltar à menor
provocação. O guerreiro converte seu medo animal da extinção em uma
oportunidade de gozo, pois sabe que tudo o que tem é este momento.
Pensem como guerreiros: “todos vamos morrer!”.

A última tarefa

O infinito está reivindicando você. Qualquer meio que ele utilizar para
lhe apontar isso não pode ter outra razão, outra causa, outro valor senão
esse. O que você deve fazer, entretanto, é se preparar para o ataque do
infinito. Você deve estar num estado de preparação contínua para receber
esse golpe de enorme magnitude. Essa é a maneira sã, sóbria, na qual os
feiticeiros enfrentam o infinito.
Vocês são livres, podem voar por sua própria conta! Já têm a
informação necessária, que mais esperam? Atuem impecavelmente e
verão como a energia acha um modo de ser canalizada.
Uma vez que você entre no infinito, não pode depender de ninguém
para trazê-lo de volta. Sua decisão é necessária então. Somente você
pode decidir se volta ou não. Também devo preveni-lo de que poucos
guerreiros sobrevivem a esse tipo de encontro com o infinito. O infinito é
incrivelmente sedutor. Um guerreiro descobre que voltar ao mundo da
desordem, da compulsão, do barulho e da dor é um assunto nada
atraente. Você deve saber que a sua decisão de permanecer ou voltar não
é uma questão de escolha racional, mas uma questão de intentá-la. Se
você escolher não voltar, desaparecerá como se a terra o tivesse engolido.
Mas se escolher retornar, deve apertar os cintos e esperar como um
verdadeiro guerreiro-viajante até que sua tarefa, seja ela qual for, esteja
terminada, com sucesso ou com fracasso.
O desconhecido é alguma coisa velada para o humano, coberta
talvez por um contexto terrível, mas que, não obstante, está ao alcance do
humano. O desconhecido se torna conhecido em determinado tempo. O
incognoscível, por outro lado, é o impensável, o imperceptível. É algo que

225
nunca será conhecido por nós e, ainda assim, está lá, fascinante e ao
mesmo tempo aterrador em sua vastidão.
O mistério da consciência é a escuridão. Os seres humanos exalam
o cheiro desse mistério, de coisas que são inexplicáveis. Ver a nós
mesmos de qualquer outra maneira é loucura. Portanto, o guerreiro não
rebaixa o mistério do humano tentando racionalizá-lo. A pior coisa que
pode nos acontecer é ter que morrer e, já que este é nosso destino
inalterável, somos livres; aqueles que perderam tudo não têm mais nada a
temer. Os guerreiros não se aventuram no desconhecido por cobiça. A
cobiça funciona apenas no mundo da vida comum. Para se aventurar na
aterrorizante solidão do desconhecido, é preciso ter algo maior do que
cobiça: amor. É preciso amor à vida, ao que intriga, ao mistério. É preciso
uma curiosidade insaciável e nervos de aço. O guerreiro pensa apenas
nos mistérios da consciência; mistério é só o que importa. Somos seres
vivos; temos de morrer e abrir mão de nossa consciência. Mas se
pudéssemos mudar isso um pouco, que mistérios devem aguardar por
nós? Que mistérios!
Para que eu possa deixar esse mundo e enfrentar o desconhecido,
preciso de toda a minha força, toda a minha paciência, toda a minha sorte;
porém, acima de tudo, preciso de cada pedaço dos nervos de aço de um
guerreiro. Para permanecer aqui e viajar como um guerreiro-viajante, você
precisa de tudo o que eu mesmo preciso. Aventurar-se aí fora, como
vamos fazer, não é brincadeira, como também não é brincadeira
permanecer aqui.

A encruzilhada final

Agora preciso de sua atenção total. Atenção no sentido em que os


guerreiros entendem a atenção: uma pausa verdadeira, a fim de permitir
que a explicação dos feiticeiros para o domínio da consciência o inunde
plenamente. Estamos no fim de nosso trabalho; toda a instrução
necessária já lhe foi ministrada e agora você tem de parar, olhar para trás
e reconsiderar seus passos. Dizem os feiticeiros que este é o único meio
de consolidar os lucros. Já lhe disse inúmeras vezes que é necessária
uma mudança muito drástica se você quiser ter sucessos no caminho do
conhecimento. Essa mudança não é uma mudança de estado de espírito,
nem de atitude, nem de ponto de vista; essa mudança implica a
transformação da ilha do tonal.
Tudo que fizer deverá ser um ato de feitiçaria. Um ato livre de
expectativas invasoras, de medo de falhar, de esperanças de sucesso.

226
Livre do culto do eu; tudo o que fizer deverá ser improvisado, um trabalho
de magia onde estará aberto e livre para os impulsos do Infinito.
Precisamente neste ponto, um mestre geralmente diria ao discípulo
que chegaram a uma encruzilhada final. Mas dizer uma coisa dessas é
enganador. Em minha opinião, não existe encruzilhada final, nem passo
final para nada. E como não há passo final para nada, não devia haver
segredo algum sobre qualquer parte de nosso destino como seres
luminosos. O poder pessoal resolve quem pode ou não pode lucrar com
uma revelação; minhas experiências com meus semelhantes me provaram
que muito poucos entre eles estariam dispostos a escutar; e dentre esses
poucos que escutam, um número menor ainda estaria disposto a agir
segundo o que escutou; e dentre os que estão dispostos a agir, menos
ainda têm suficiente poder pessoal para aproveitar seus atos. Assim, o
assunto de segredo sobre a explicação dos feiticeiros resume-se numa
rotina, talvez uma rotina tão vazia quanto qualquer outra. De qualquer
forma, você agora sabe a respeito do tonal e do nagual, que são a
essência da explicação dos feiticeiros
[Este é o momento de abrir a porta do infinito.] Mas antes de nos
aventurarmos além deste ponto, é necessária uma advertência justa: um
mestre deve falar em termos sérios e avisar o discípulo de que a inocência
e placidez deste momento são uma miragem, que há um abismo sem
fundo diante dele, e que, uma vez aberta a porta, não há jeito de tornar a
fechá-la. O que acontecerá [de hoje em diante] depende de se você tem
ou não suficiente poder pessoal para focalizar a sua atenção total sobre as
asas de sua percepção. O poder age de acordo com a sua impecabilidade.
Se você usar seriamente aquelas quatro técnicas [apagar a história
pessoal, perder a importância própria, assumir a responsabilidade pelos
atos e usar a morte como conselheira], terá armazenado suficiente poder
pessoal para encontrar um benfeitor. Você terá sido impecável e o Espírito
terá aberto todas as avenidas necessárias.
Nunca vamos estar juntos de novo. Você não precisa mais de minha
ajuda; e eu não quero oferecê-la a você, porque se você vale o pão que
come como um guerreiro, me desdenhará por oferecer-lhe isso. Depois de
um certo ponto, a única alegria de um guerreiro é estar só. Não gostaria
tampouco que você me ajudasse. Uma vez que eu partir, terei ido embora.
Não pense em mim, pois eu não pensarei em você. Se for um guerreiro
digno, seja impecável! Cuide de seu mundo. Honre-o; guarde-o com a sua
vida!
Você deve enfrentar essa tarefa com toda a seriedade que ela
merece. É a sua última parada antes de o infinito engoli-lo. Na realidade, a
não ser que um guerreiro esteja em um sublime estado de ser, o infinito

227
não o tocará por nada nesse mundo. Portanto, não se poupe e não poupe
nenhum esforço. Continue impiedosamente, mas com elegância, todo o
caminho até o final.

ANEXOS

O Caminho do Coração
(Dom Juan Matus, Eagle e Outros)

Resumindo tudo o que foi dito, analisaremos brevemente as seções


principais dos Ensinamentos de Dom Juan. Ele ressaltava três seções: a)
a arte de espreitar b) a arte da intenção e c) a arte da consciência.
Dom Juan Matus dizia que ao encontro com Deus tem-se que ir
«pelo caminho do coração», isto é, pelo caminho do amor. Depois que os
discípulos assimilavam os fundamentos da ética e da sabedoria, Dom Juan
começava a ensinar-lhes os métodos psicoenergéticos. Isto permitiu que
eles começassem seus treinamentos com o desenvolvimento e a limpeza
dos meridianos e chakras e, posteriormente, com o desenvolvimento da
estrutura principal de poder no organismo chamada hara. Pois, como em
todas as outras Escolas espirituais avançadas, as técnicas para a
refinação da consciência foram ensinadas antes de que o praticante
começasse o processo de sua «cristalização». Graças a refinação da
consciência e ao trabalho com «a bolha baixa de percepção», os
discípulos alcançaram o estado de Nirvana. Somente depois de haver
alcançado o estado da desaparição em Brahman, o discípulo poderia
conhecer Ishvara (Criador) e desaparecer para sempre Nele, conquistando
desta maneira a própria morte.
Agora examinemos com mais detalhes os métodos particulares do
trabalho na Escola de Dom Juan Matus, os que Castaneda descreveu e os
que nós podemos usar. Estes podem ser divididos em dois grupos:
métodos preparatórios e métodos fundamentais. O primeiro dos métodos
preparatórios é a “recapitulação”.
Ademais, eles tinham que destruir «o sentimento da própria
importância» e «o sentimento da autocompaixão», qualidades que
provocam uma tremenda perda de energia. Pois, se uma pessoa se sente
muito importante e alguém atenta contra esta importância com sua atitude
desrespeitosa, ela reage com uma descarga emocional de ressentimento e
de cólera, ou com outras emoções negativas. E então a energia do
organismo se desgasta intensamente.

228
O sentimento da própria importância desaparece quando acontece a
morte mística; isto é, quando «morres» completamente para o mundano. A
desaparição do sentimento da própria importância leva à perda da forma
humana.
O guerreiro espiritual deve aprender desde o começo o riso do
Nagual! Ele deve rir de seus próprios defeitos de tal maneira que estes
estouram como bolhas de sabão junto com o sentimento inflado da própria
importância! O riso faz do homem um ser forte! O riso de Nagual
transforma a cobertura do “ego” em nada. Resta apenas adicionar a
tranqüilidade e o amor, e então haverá só a consciência infinita, fluída e
livre. Da Verdade Que vive nele, o guerreiro espiritual olha aquilo que é
imperfeito em seu interior e pode rir! E quando dentro não fique nada de
que ele possa rir, se converterá no Todo e chegará a ser um verdadeiro
Nagual! Seu riso se unirá com a alegria da Existência, com a Liberdade e o
Poder! Vês, que fácil é tudo quando uma pessoa é feliz e não se
desalenta! E o riso Divino também faz uma pessoa ficar mais bondosa! Se
te unes Comigo e te dissolves em Mim, e não existes tu, mas sim apenas
Meu riso, apenas Eu!
O guerreiro espiritual não chora nem choraminga nem tem pena de si
mesmo. Ele vê seus defeitos e se liberta deles de uma vez e para sempre!
Quando te ocupas apenas da procura de teus próprios defeitos e de
lastimar por tua própria imperfeição, perdes a oportunidade de ajudar a
sério a outras pessoas e de trabalhar sobre ti mesmo. É necessário que
aprendas a te livrares de teu próprio “eu”!
Castañeda orientou a destruir completamente «o sentimento da
própria importância», apagar sua «história pessoal» para adquirir a
humildade. Pois, como dizia Castaneda, tudo o que se passa com um
guerreiro no mundo físico «não tem importância»; a única coisa importante
é o estado da consciência. De fato, tudo isto não tem a maior importância
ante a Meta Suprema! O que realmente tem importância é a faculdade de
ser «nada» e de não defender-se quando alguém é injusto comigo, mas
sim estar protegido, como ensinava Dom Juan. E o estado de estar
protegido surge sempre quando «eu não existo» e exista só Deus.
Dom Juan também ensinou a destruir os padrões rígidos da vida
material, por exemplo, a observância rígida do regime do dia. Com que
finalidade? Para conseguir a liberdade. A destruição dos padrões
irracionais de conduta, pensamento e reação, inculcados por educação e
tradições, deve levar à «perda da forma humana», isto é, ao estado
quando a pessoa aprende a agir não segundo seus reflexos ou porque é o
hábito, mas sim de acordo com a necessidade objetiva. «A perda da forma
humana» não é um ato mecânico de curta duração como pensavam

229
alguns discípulos de Dom Juan, mas sim um processo longo que se
desenvolve paralelamente com a aproximação do homem a Deus. Este
processo termina quando o buscador aprende a ver todas as situações
com os olhos do Criador.
O seguinte método essencial desta Escola é recordar a própria
morte. Hoje a maioria das pessoas está acostumada a afugentar os
pensamentos relacionados com sua morte. E inclusive quando se
defrontam com a morte de outras pessoas, nunca querem se imaginar
estar neste lugar. Tentam se convencer de que lhes resta muito tempo
ainda.
Dom Juan, ao contrário, propõe imaginar que nossa morte
personificada está sempre ao nosso lado. E se nós dermos uma rápida
olhada pelo ombro esquerdo, podemos vê-la como uma sombra que
surgiu. «Por um momento, a morte está sentada a teu lado na mesma
esteira, esperando um erro teu», disse a Castaneda. E ninguém sabe o
momento em que vai morrer; por isso, não devemos ter nenhum assunto
inacabado em nossas vidas.
Dom Juan disse sobre a morte: «Como alguém pode sentir-se tão
importante sabendo que a morte está nos espreitando? Quando estiveres
impaciente, o que deves fazer é pedir um conselho à tua morte. Uma
imensa quantidade de insignificâncias desaparece se a morte te fizer um
sinal ou se mostrar seu reflexo ou simplesmente tenhas a sensação de
que tua companheira está ali, vigilante!
A morte é a sábia conselheira que temos! Tens que pedir conselho a
tua morte e deixar a maldita mesquinhez dos homens que levam suas
vidas como se a morte nunca os fosse tocar! O guerreiro sabe que a morte
o esta esperando e que não vai lhe dar tempo para apegar-se a algo. E
assim, com a consciência de sua morte e com o poder de suas decisões, o
guerreiro leva sua vida de uma forma estratégica; e o que ele escolhe é
sempre estrategicamente o melhor. Assim cumpre tudo com gosto e com
eficácia luxuriosa.
A vida para um guerreiro é um exercício de estratégia. Se não temos
em conta a morte, tudo é ordinário, trivial. Apenas porque a morte nos
segue espreitando o mundo é que é um mistério sem princípio nem fim. Na
vida do verdadeiro guerreiro espiritual não há omissões. Ele não pode
sentir-se aborrecido, não pode ficar abatido pelos fracassos do passado ou
pelo medo do futuro. Ele possui apenas a vida, a que tendo tomado uma
vez em suas mãos, vive até o fim com eficácia total, com a compreensão
total de sua Meta e com a responsabilidade absoluta por suas decisões!
Outra tarefa importante que Dom Juan ensinava a seus discípulos
era aprender a «pausa mental» ou, como eles diziam, «parar o diálogo

230
interno». Esta era uma condição necessária para entrar no nagual. Pois só
é possível se fazer através da meditação, e a meditação, como Osho já
disse muito bem, é o estado da «não mente». Em outras palavras, para
aprender a submergir-se, como consciência, no nagual, é preciso aprender
a parar, apagar a mente por completo.
Para conseguir a União total e absoluta, é preciso proceder à
limpeza e iluminação. Para começar tens que tirar de tua cabeça todos os
padrões e estereótipos habituais, formados há muito tempo e, portanto,
fáceis de usar, padrões e estereótipos de pensamento e de conduta. O
guerreiro espiritual deve ter sua mente aberta ao máximo para aceitar o
novo. Tem que abrir ao máximo o “diafragma da mente”. Porque para
começar a perceber a Infinidade da Consciência Universal, é preciso saber
mergulhar no novo e no desconhecido! Além disso, é preciso ter valentia,
força e conhecimento.
Tu começas a viver verdadeiramente sempre e quando deixes de
interagir com o mundo exterior através de tuas “máscaras e padrões, os
que te oferece tua mente “obsequiosa”, criadora de teu “eu” inferior. Deves
aprender a perceber o mundo com a “consciência desnuda”, a que foi
limpa dos mais mínimos indícios do “eu” inferior, e aceita-lo como é na
realidade, e não como é em tua mente! Existe um truque que dá uma
chave para a Liberdade! É a faculdade de perceber-se não como corpo,
faculdade que leva a liberação deste recipiente denso da alma. Para
começar, a pessoa deve saber que ele e seu corpo não são a mesma
coisa. E quando consegue experimentá-lo realmente, se depara pela
primeira vez com o mundo do nagual.
Um Nagual Perfeito tem a liberdade de ir–se a qualquer mundo que
Ele escolhe. Esta é a onipresença, a liberdade de estar onde quiseres.
Esta é a liberdade de ser Tudo e mover a concentração de Si Mesmo
dentro de Si Mesmo Universal e Ilimitado! No entanto, o próprio centro
sempre deve estar na Casa, na Casa do Primordial. É preciso que nunca
se esqueça disso!
Agora, enumeremos os métodos do trabalho psicoenergético, usados
na Escola de Dom Juan:
1. Limpeza da luminosidade interna (quer dizer, a refinação da
consciência).
2. O uso dos «lugares de poder», lugares energeticamente significativos
para as pessoas e, em particular, para aprender umas e outras
meditações.
3. «O ensonho». A este método se prestava muita atenção no trabalho da
Escola.

231
Gosto do nome “Águia”! O Guerreiro do Espírito é semelhante a ela!
Ele nasce para viver e morrer sendo livre! Vive unindo as Asas do Espírito
com o Poder do Criador e aprende a planar sobre o mundo material, sendo
guiado e sustentado pelo Poder. Ele plana no fluxo da Eternidade e o
Poder de Deus se manifesta através de seu corpo. Desliza na Infinidade
da vida, sem ser acorrentado por nada, salvo pelo Amor que o une com o
Poder!
O Grande Espírito disse: a imensidão é Minha “casa” e,
experimentando esta imensidão e totalidade, Eu realizo Meus atos. Nunca
Me converti em um prisioneiro da ilusão de que o plano material é o único
mundo onde vivo. Para Mim, este plano existia apenas na superfície do
Oceano ilimitado da Existência. A Vida do Oceano era Minha verdadeira
Vida. Deste estado atuava Eu. A atenção da consciência se dirige à vida
terrena sempre e quando consideres uma situação ou problema como
mais importante que o Estar em Mim. Neste caso, esta situação ou
problema “deixa presa” tua atenção e te atolas nela inteiramente, com toda
a consciência. Quando quiseres separar-te do problema, simplesmente
dirige o olhar da alma de tua anahata para trás — para Minha Infinidade —
e submerge-te Nela.
Interatuando com o plano material, não te consideres como a mesma
pessoa que fostes antes: um homem inferior absorvido pelos assuntos
mundanos! Esforça-te para manter a percepção de Minha Existência! As
imensidões da natureza são dadas a ti não para que te percebas no meio
destas como um ser pequeno, mas sim para que te percebas como
grande! Cada anahata desenvolvido ao nível Divino é um “buraco” que
conduz às Profundidades de Mim, isto é, até o “fundo” do espaço
multidimensional. Através deste “buraco” é possível penetrar em Minhas
Profundezas e conhecer-me. Além disso, deves compreender que Eu não
dependo das condições exteriores, qualquer que sejam.
Tudo vive e se desenvolve dentro de Mim! Em cada evento, divisa
Minha Mão que dirige e aceita Minha Vontade, sem sair da União Comigo!
Este é o Caminho para conhecer a União de tudo o que existe no universo.
Entro no lugar de poder e em seguida caio na Luz infinita! Não há
limites! A Infinidade! A Imensidão! A Liberdade! A sensação do corpo
desaparece completamente! Sou pura consciência que consta apenas de
Luz-Amor! Imediatamente surge a sensação das asas! Eagle me acolhe
em seus braços fortes e grandes e me ajuda a abrir meus braços-asas
também. Ele me apóia enquanto estou tentando começar o vôo. Plano na
Luz infinita e logo me dissolvo Nela. Na profundidade de cada alma que se
desenvolve corretamente vive a lembrança da Liberdade. E a Liberdade é,

232
entre outras coisas, o vôo para o desconhecido. Pois, para elevar-se,
desapegar-se da terra, seu olhar deve ser dirigido ao céu!
Sabes de onde crescem as asas das aves? Estas crescem desde o
anahata! Para elevar-se, para começar a voar, é preciso ter asas e para ter
asas, e preciso ter um anahata! As asas são um instrumento por meio do
qual se pode elevar-se e planar sobre o mundo material, mas a força de
sustentação é a força do amor!
Além disso, o homem deve aprender a unir-se com a Luz infinita do
Criador, perdendo sua separação e convertendo-se na Consciência
Vivente de Deus! E isto é possível fazer sempre e quando tu, como
consciência, constes do Amor! Me uno com Eagle – A Águia da
Consciência Universal, submerjo-me completamente nela e me dissolvo!
Não estou, apenas Ele está! Ou posso voar usando os braços-asas da
consciência! O amor e o poder, unidos, abrem as asas! O Êxtase Infinito!
Não há onde cair, porque todo o espaço está cheio de Mim! Veja-me
em todos os lugares! Submerge-te em Mim! O único sacrifício que tens
que dar é tua separação. Apaga os limites do “eu” individual e observa
toda a grandeza e o poder de Minha Liberdade e Amor!
Eu posso ensinar-lhes a vontade e intenção inflexíveis do Guerreiro
do Espírito, quem se propôs alcançar a Liberdade Superior, a Liberdade de
seguir conhecendo a Deus, a Liberdade de abrir as asas do Amor, a
Liberdade de dissolver-se no Oceano de Minha Existência! A Liberdade
está próxima! Eu abro o Caminho Luminoso, o Caminho do Amor
impecável que leva para ela! A Liberdade e Tranqüilidade reinam nas
vastidões de Minha Existência. Sem conhecê-las, uma alma não poderá
entrar em Minha Vida infinita.

Os passes Mágicos

Tensegridade é a versão modernizada de alguns movimentos


conhecidos como passes mágicos desenvolvidos por índios xamãs que
moraram no México em épocas anteriores à Conquista Espanhola.
Dom Juan explicou a seus estudantes que aqueles xamãs
descobriram que,através de práticas que ele mesmo não podia penetrar, é
possível para os seres humanos perceber a energia diretamente como ela
flui no universo. Em outras palavras, segundo Dom Juan, aqueles xamãs
diziam que qualquer um de nos pode se livrar por um momento do nosso
sistema de transformar o influxo de energia em informação sensorial
própria ao tipo de organismo que somos.
Os xamãs afirmam que, transformar o influxo de energia em
informação sensorial cria um sistema de interpretação que transforma o

233
fluxo de energia do universo no mundo da vida cotidiana que conhecemos.
Dom Juan explicou ainda que uma vez que os xamãs dos tempos
antigos estabeleceram a validade da percepção direta de energia, que
chamaram visão, eles a refinaram usando-a neles mesmos, isso quer dizer
que eles percebiam uns aos outros, sempre que queriam, como um
conglomerado de campos energéticos. Para aquele que "viam", os seres
humanos percebidos de tal modo eram como esferas luminosas gigantes.
O tamanho de tais esferas luminosas é o comprimento dos braços
abertos. Quando os seres humanos são percebidos como conglomerados
de campos energéticos, um ponto de luminosidade intensa pode ser
percebido nas costas,
na altura da clavícula a uma distância de um braço. Antigamente, as
pessoas que vêem, que descobriram esse ponto de luminosidade, o
chamavam de ponto de aglutinação, porque eles concluíram que é aí que
a percepção se aglutina.
Eles perceberam, auxiliados pela sua visão, que naquele ponto de
luminosidade, o local que é homogêneo para a humanidade, convergem
zilhões de campos energéticos na forma de filamentos luminosos que
constituem o universo. Ao se convergirem para lá, eles se tornam
informações sensoriais, que são utilizadas pelos seres humanos como
organismos. Esta utilização da energia convertida em informação sensorial
foi considerada pelos xamãs como um ato de magia pura...energia
transformada pelo ponto de aglutinação em um mundo verdadeiro, global
no qual os seres humanos como organismos podem viver e morrer. O ato
de transformar o influxo de pura energia num mundo perceptível era
atribuído pelos xamãs a um sistema de interpretação. Sua conclusão
arrasadora, arrasadora para eles, é claro, e talvez para alguns de
nós que temos a energia para ter atenção, era que o ponto de aglutinação
não era unicamente o local onde a percepção é aglutinada pela
transformação do influxo de energia pura em informação sensorial, mas é
também o local onde ocorre a interpretação da informação sensorial.
A observação seguinte deles foi que esse ponto de aglutinação é
deslocado de modo muito natural e não obstrutivo da sua posição habitual
durante o sono. Eles descobriram que quanto maior a deslocação, mais
estranhos os sonhos que acompanhavam. Destas experiências de ver,
esses xamãs pularam para a ação pragmática de deslocar voluntariamente
o ponto de aglutinação. Eles chamaram esses resultados concludentes a
arte de sonhar.
Essa arte foi definida por aqueles xamãs como a utilização
pragmática de sonhos comuns para criar uma entrada para outros mundos
pelo ato de deslocar o ponto de aglutinação pela própria vontade e manter

234
essa nova posição, também pela própria vontade. As observações desses
xamãs ao praticar a arte de sonhar eram uma mistura de razão e de ver
diretamente a energia do universo enquanto flui. Eles perceberam que na
sua posição habitual, o ponto de aglutinação é o local para onde converge
uma porção específica e minúscula dos filamentos de energia que formam
o universo, mas se o ponto de aglutinação muda de local, dentro do ovo
luminoso, uma porção minúscula diferente de campos energéticos se
convergem nele, tendo como resultado um novo influxo de informação
sensorial.: campos energéticos diferentes dos comuns se tornam
informações sensoriais, e os campos energéticos diferentes são
interpretados como um mundo diferente.
A arte de sonhar se tornou para aqueles xamãs a prática mais
absorvente. Durante aquela prática, eles experimentaram estados não
igualados de força física e bem-estar, e no seu esforço de duplicar esses
estados nas horas de vigília descobriram que podiam repeti-los seguindo
certos movimentos do corpo. Os esforços culminaram com a descoberta e
desenvolvimento de grande número de tais movimentos, que são
chamados de passes mágicos.
Os Passes Mágicos daqueles xamãs do antigo México se tornaram
sua possessão mais preciosa. Eles os rodearam com rituais e mistérios e
somente os ensinaram as pessoas que eles iniciavam em meio a um
enorme segredo. Esta foi a maneira na qual Dom Juan Matus os ensinou a
seus discípulos. Seus discípulos, sendo o último elo de sua linhagem
chegaram a conclusão unânime de que qualquer outro segredo, sobre os
passes mágicos seria contra o interesse que tinham em tornar o mundo de
Dom Juan disponível aos outros homens. Eles decidiram, portanto,
resgatar os passes mágicos de seu estado obscuro. Eles criaram desse
modo a Tensegridade, que é um termo na arquitetura que significa a
propriedade das estruturas esqueléticas que empregam elementos de
tensão contínua e elementos de compressão descontínua de tal forma que
cada elemento opera com o máximo de eficiência e economia.
Este é o nome mais apropriado porque é uma mistura de dois
termos: tensão e integridade, termos que conotam as duas forças motrizes
dos passes mágicos.
O que a Tensegridade traz àqueles que a praticam é energia. A
diferença entre Tensegridade e os outros sistemas de exercícios físicos é
que o intento da Tensegridade é algo ditado pelos xamãs do antigo
México. O intento é a liberação do ser que esta caminhando para a morte.
Toda reunião de energia como no caso desses passes mágicos de
feitiçaria, nós a chamamos de poder. Lembre-se disto: poder é quando a
energia se aglutina, seja por si só ou obedecendo ao comando de alguém.

235
Conhecimento concentra energia, portanto conhecimento é poder. Para
que a feitiçaria funcione, devemos saber o que estamos fazendo quando
pretendemos um resultado, se pretendêssemos a finalidade de nossas
feitiçarias"," estaríamos criando feitiçaria, e isso é poder. sem dúvida
podemos concentrar energia suficiente para pretender o resultado desses
passes de feitiçaria.—Isto é feitiçaria. Ela exige uma intenção diferente da
intenção da vida cotidiana.
Você tem que fazer a recapitulação para ficar vazio e poder se
encher de energia a fim de utilizá-la nos seus intentos mágicos.
Armazenando energia, podemos dissolver nossas pré-concepções em
relação ao mundo e ao corpo, criando espaço em nosso depósito para
outras possibilidades. É preciso utilizar essa energia para fortalecer o elo
com a força abstrata chamada de espírito.
Por isso você tem de cultivar o jardim e absorver sua energia, assim
como a energia do sol. O sol lança sua energia sobre a terra e faz as
coisas crescerem. Se você permitir que a luz do sol entre em seu corpo,
sua energia também florescerá.
—Por que são chamados de passes respiratórios?
— Porque a intenção atual desses passes é transmitir energia da
respiração para a área onde você depositar sua atenção. Pode ser um
órgão de nosso corpo, um canal de energia ou mesmo um pensamento ou
uma lembrança, como no caso da recapitulação. O que importa é que a
energia seja transmitida, cumprindo assim a intenção estabelecida
anteriormente; o resultado é pura magia, pois é como se houvesse brotado
do nada. Por isso chamamos esses movimentos e respirações de passes
de feitiçaria.
Volte seu rosto para o sol, de olhos fechados, e depois respire
profundamente pela boca e puxar o calor e a luz do sol para seu
estômago. Retenha o ar durante o máximo de tempo de que for capaz,
depois engola e, finalmente, expire o ar que restou. Finja que você é um
girassol, mantenha o rosto sempre voltado para o sol quando respirar. A
luz do sol confere poder à respiração. Inspire grandes bocados de ar e
encha totalmente seus pulmões. Faça isto,pelo menos, três vezes. Nesse
exercício, a energia do sol dissemina-se automaticamente por todo o
corpo. Mas podemos enviar deliberadamente os raios curativos do sol para
qualquer área, tocando o ponto par a onde queremos que a energia se
direcione, ou simplesmente utilizando a mente para direcionar a energia
para esse ponto. Na verdade, quando tiver praticado bastante essa
respiração, você não precisará mais usar as mãos, poderá simplesmente
visualizar os raios de sol irradiando diretamente uma região específica de
seu corpo.

236
Repita por três vezes a mesma respiração, mas desta vez respirando
pelo nariz e visualizando a luz fluindo pelas minhas costas, energizando
assim os canais ao longo de minha coluna. Desse modo, os raios de sol
inundariam todo o meu corpo. Se você quiser ir além da respiração pelo
nariz ou pela boca, você pode respirar diretamente com o estômago, o
peito ou as costas. Você pode inclusive fazer a energia ascender ao longo
do corpo, através das solas dos pés.
Concentre-se na região inferior do abdômen, no ponto logo abaixo do
seu umbigo, e respire relaxadamente até sentir a formação de um vínculo
entre meu corpo e o sol. Sinta o interior de seu estômago tornando-se
mais quente e cheio de luz. Concentre sua atenção nesse ponto até sua
cabeça ser inundada por uma luminosidade amarela. Absorva o máximo
da vitalidade solar que for capaz, retendo a respiração, e em seguida gire
os olhos no sentido horário antes de expirar. Agora fique de pé e tente
respirar com suas costas. A luz do sol é puro poder, afinal de contas, é a
concentração energética máxima que existe.
Existe uma linha energética invisível sai diretamente do topo da
cabeça, ascendendo até a esfera do não-ser. Ou ela pode fluir da esfera
do não-ser, entrando em nós através de uma abertura exatamente no
centro do topo da cabeça. Se quiser, você pode chamá-la de linha da vida,
a qual nos une a uma consciência maior. O sol, se usado adequadamente,
impregna essa linha e a leva a entrar em ação.
Os movimentos que nós chamamos de respirações ou passes de
feitiçaria são fundamentais porque atuam diretamente no sistema de
reserva. Por essa razão eles podem ser chamados de passes
indispensáveis, pois permitem que a energia suplementar entre e percorra
nossos trajetos de reserva. Então, quando somos convocados a agir, em
vez de ficarmos depauperados devido ao estresse, nós nos tornamos mais
fortes e dotados de energia excedente para tarefas extraordinárias.
Pratique todos os passes diariamente. Eles são os companheiros
indispensáveis da recapitulação. Este fez milagres.
Observe-se atentamente, veja se consegue ver seu duplo etérico. A
contraparte do corpo físico, o qual, como a essa altura você já deve saber,
ou pelo menos desconfiar, não é uma mera projeção da mente. Você
precisa dispor de muita energia e estar perfeitamente calmo para vê-lo. Se
nossa consciência está vinculada ao duplo, nós não somos influenciados
pelas leis do mundo físico; somos governados pelas forças etéricas.
Contudo, enquanto a consciência se mantém vinculada ao corpo físico,
nossos movimentos são limitados pela gravidade e outras forças. A
diferença entre o homem comum e o feiticeiro é que este último aprendeu
a controlar seu corpo sutil. A verdadeira magia dedica-se ao controle do

237
corpo sutil. E o duplo é controlado não por nosso intelecto, mas por nossa
intenção. Não existe uma maneira de pensar a respeito dele ou
compreendê-lo racionalmente. Ele tem de ser sentido, pois está interligado
a algumas linhas luminosas de energia que cruzam o universo. Por
exemplo, uma linha de energia que parte do topo da cabeça confere ao
duplo sua meta e direção. Essa linha eleva e atrai o duplo para onde quer
que ele vá. Se quer que ele ascenda basta ter intenção. Se quer que ele
mergulhe no solo basta ter a intenção de descer. Tão simples como estou
lhe dizendo.
À medida que vamos abandonando nossas idéias do corpo físico,
pouco a pouco ou de uma só vez a percepção começa a transferir-se para
nosso lado sutil. Para facilitar transferência, nosso lado físico deve
permanecer absolutamente tranqüilo, em suspenso, como se estivesse
mergulhado em sono profundo. A dificuldade está em convencer nosso
corpo físico à cooperar, pois raramente ele se dispõe a abandonar o
controle. Você deixa seu corpo sentir-se como se estivesse profundamente
adormecido; deliberadamente você o aquieta afastando sua consciência
dele. Quando seu corpo e sua mente estão em repouso, seu duplo
desperta e assume o comando.
Para ativar o corpo sutil, em primeiro lugar você tem de abrir certos
centros físicos que funcionam como portais. Quando todos os portais se
abrem,seu duplo pode emergir de sua capa protetora. Caso contrário, ele
permanecerá eternamente encerrado em sua carapaça externa. Pratique
isto até você conseguir abandonar seu corpo físico e concentrar a atenção,
quando quiser, em sua rede luminosa. No final, você conseguirá
concentrar e manter essa rede com um único pensamento. Tendo a
intenção, mas não com seus pensamentos. Pretenda com sua intenção,
que é a camada abaixo de seus pensamentos. Ouça atentamente,
procure-a sob seus pensamentos, longe deles. A intenção está tão distante
dos pensamentos que não podemos falar sobre ela; não podemos sequer
senti-la. Mas certamente podemos usá-la.
O duplo situa-se ao mesmo tempo dentro e fora do corpo físico. Para
comandá-lo, a parte externa que flutua livremente precisa estar ligada à
energia armazenada no interior do corpo físico. A força externa é
convocada e mantida por uma concentração inalterável, enquanto a
energia interna é liberada com a abertura de alguns portais misteriosos
dentro e fora do corpo. Quando os dois lados se fundem, a força que é
produzida permite a realização de feitos inconcebíveis. O duplo é nossa
fonte de energia. O corpo físico é simplesmente o recipiente onde a
energia é depositada.

238
Contudo, se alguém quiser liberá-lo, os portais deverão ser abertos,
o que é feito por meio da recapitulação e dos exercícios respiratórios. Para
que se realizasse com sucesso o vôo abstrato é necessária uma completa
mudança de atitude, pois nossa idéia preconcebida de que somos sólidos
mantém o duplo aprisionado, e não alguma estrutura física do corpo em si.
O duplo deve liberado gradativa e harmoniosamente. Contudo, um dos
pré-requisitos é o celibato. O armazenamento da energia sexual constitui o
primeiro passo da jornada rumo ao corpo etérico, à consciência e à
liberdade total. Somos feiticeiros interessados em poder, em concentrar
energia, e não em perdê-la.
Tudo é uma questão de energia; quanto mais energia você recupera
através da recapitulação, mais fácil se torna para essa energia recuperada
nutrir seu duplo. Enviar energia para o duplo é aquilo que chamamos de
lançar linhas de energia. Alguém capaz de ver a energia irá percebê-la
como linhas saindo do corpo físico. Os feiticeiros, como seres humanos,
são criaturas perceptivas; tudo é apenas percepção. Se os seres
humanos, através da disciplina, podem perceber mais do que
habitualmente lhes é permitido, isto significa mais poder para eles.
Outro bom exercício para ajudar o duplo a sair do corpo é fechar os
olhos e concentrar-me na respiração. À medida que for relaxando,
mantenha a intenção de fluir ascendentemente, até o alto, com um
sentimento proveniente do portal no topo da minha cabeça. Após algum
tempo concentrando-se na minha respiração, sentirás uma energia
vibrando e ascendendo pela coluna vertebral, tentando abrir o topo da
cabeça. Poderá sentir também o corpo se expandindo e tornando-se alto e
volumoso.
O entardecer ajuda a tranqüilizar-se e lhe dá uma nova carga de
energia. Por isso o final do dia é a melhor hora para praticá-lo. Não
estamos interessados apenas em desenvolver músculos, mas sim em
cultivar a energia interna. Além disso, todos os passes respiratórios que
lhe ensinei até agora, e que você deve estar praticando diariamente,
destinam-se a aumentar sua resistência interna. O controle da respiração e
a circulação da energia fortalecem o corpo e aumenta a saúde, enquanto
que as artes marciais externas, como as formas de karatê concentram-se
no desenvolvimento de músculos e rápidas respostas corporais, nas quais
a energia é liberada e direcionada para fora de nós. A finalidade de seu
treinamento é aperfeiçoar seu ser interior, de modo que ele possa
transcender sua forma externa, a fim de realizar o vôo abstrato.
A feitiçaria vai além dos gatos pretos e pessoas nuas dançando num
cemitério à meia-noite, fazendo bruxarias para outras pessoas—sussurrou
ele. — A feitiçaria é fria, abstrata, impessoal. Por isso nós chamamos o ato

239
de sua percepção de travessia dos feiticeiros, ou vôo para o abstrato. Para
resistir à sua atração aterradora, precisamos ser fortes e determinados; ela
não serve para os tímidos ou fracos. É necessário toda uma vida de
disciplina e armazenamento de poder para contemplar o ilimitado.
A travessia dos feiticeiros consiste na mudança de consciência da
vida cotidiana, que o corpo possui, para o duplo. Ouça com atenção: A
consciência da vida cotidiana é o que queremos transferir do corpo para o
duplo. A consciência da vida cotidiana! Isso significa que estamos
buscando a moderação, a sobriedade, o controle. Não estamos
interessados na loucura e em resultados confusos. Ampliar o duplo
delicada e harmoniosamente e transferir para ele nossa consciência da
vida cotidiana é algo sem paralelo. Fazer isto é algo inconcebível!

9 PRÁTICAS-CHAVE DO CAMINHO TOLTECA

1 – Tensegridade
2 – Recapitulação
3 – Não-fazeres
4 – Pequenos Tiranos
5 – Técnicas de Observação
6 – Silêncio Interior
7 – Disciplina e ações impecáveis
8 – Sonhar
9 – Espreitar
Nota: Os nove caminhos estão listados basicamente em ordem
ascendente, em relação à consciência necessária para praticarmos
adequadamente. Os últimos, sonhar e espreitar, sendo de todos os mais
intricados, requerem haver aumentado nosso nível de consciência
(luminosidade).
1 – Tensegridade A cada um dos discípulos do nagual Juan Matus lhes foi
dada uma linha de passes. Clara Grau ensinou a Taisha uma série de
movimentos para serem realizados no solo, entretanto Emilito ensinou-a
outros, para praticá-los nas árvores. No princípio de sua estadia na casa
dos bruxos, Taisha não tinha permissão para entrar no ginásio de Clara
devido ao fato de ser radioativa (não havia recapitulado o suficiente). Clara
havia aprendido artes marciais na China e era uma mestra na prática de
bastões. Clara ajustou os movimentos ao tamanho de Taisha. Este fato
demonstrou ao grupo de Carlos Castaneda que se podiam amoldar os
passes para que outras pessoas os realizassem. Clara lhe disse que
fizesse os passes com total atenção e silêncio interior. Desta forma
estariam imbuídos do intento de aumentar a consciência e acender novas

240
fibras que, em essência, causaram um movimento do ponto de
aglutinação.
2 -Recapitulação A recapitulação é uma técnica dos velhos bruxos,
desenhada para desenredarmos energeticamente de nossos laços com o
passado. Livra-nos de nosso forte vínculo com as velhas interpretações e
nos permite perceber novos estímulos. Também está concebida para dar
descanso aos velhos filamentos fixos e permitir-nos, desta maneira,
perceber novas bandas, novos filamentos, antes ignorados. Através da
Recapitulação sabemos que as novas percepções são apenas
momentâneas; então não nos permitirmos prendermos outra vez em
velhos padrões. Quando movemos a consciência até os velhos filamentos,
observando cada detalhe, e logo voltamos outra vez ao presente,
acompanhado do processo do respirar, afrouxamos o ponto de
aglutinação. A Recapitulação revela, ademais, nosso inventário completo
de ações ou reações e nossos padrões básicos de comportamento. Isto
nos capacita, depois de recapitular, escolher novas ações, como por
exemplo, os não-fazeres. As mulheres apenas tem que aquietar seu
diálogo interno e se transformam em seres tubulares.
3 – Não-Fazeres Não fazer significa, essencialmente, não usar itens de
nosso velho inventário de ações e reações. A recapitulação nos permite
dispor desse inventário permitindo-nos um momento de pausa. Quando
um bruxo comporta-se de maneira totalmente estranha para si mesmo,
começam a acender novas fibras em seu ovo luminoso. O corpo
energético desperta e responde como resultado dessas novas
iluminações. Começam com lentas interrupções, que tratam de romper
com a concepção de que o mundo e sua continuidade é um caminho
seguro. Taisha levou os estudantes a compreensão de “como caminhar
uns poucos passos com elas permitia uma nova percepção”. Os não-
fazeres são realmente interrupções de nossa continuidade, como por
exemplo, fazer algo com a mão oposta a habitual. Estamos “não-fazendo”,
quando utilizamos um item que não forma parte de nosso inventário;
também pode ocorrer sob condições de grande tensão. Esses momentos
nos obrigam a mudar nossa idéia do que cremos que podemos fazer.
Geralmente, quando o corpo físico está esgotado, a configuração
energética toma o comando.
4 – Pequenos Tiranos Os feiticeiros afirmam que o que mantem fixo o
ponto de aglutinação em sua posição atual é nossa ênfase e preocupação
em nós mesmos (auto-reflexão). Como liberarmos da preocupação com o
eu? Existem três caminhos:
a) Tornando-nos abstratos ou mediante a loucura controlada. Nossa
tendência é fazermos de nós mesmos mais importantes do que em

241
realidade somos, quando deveríamos ver realmente que tudo o que nos
rodeia é apenas ENERGIA: as árvores, os predadores, os animais, etc…
b) Através dos pequenos tiranos. Estão em todas as partes e podemos
utilizá-los para espreitar nossa importância pessoal. Os pequenos tiranos
fazem que surjam a tona certos comportamentos os quais estamos presos
ou condicionados.
c) Mediante o reconhecimento de que somos seres destinados a morrer.
Porque então ter importância pessoal? Essa consciência, assim como o
lugar da não-compaixão, é uma mudança no ponto de aglutinação. Os
não-fazeres e o trato com os pequenos tiranos, devem ser levados de
forma tranquila e simples, sem que ninguém o saiba, não devem ser como
um comportamento social ou de grupo, mas uma tarefa de guerreiro.
5 – Técnicas de observação Mirar fixamente (gazing), não é mirar, é algo
que está entre perceber e mirar. As técnicas de observação são utilizadas
para nos ajudar a romper a certeza de que este mundo é um mundo de
objetos. Mirar fixamente está estruturado para romper a tendência da
percepção envolta na subjetividade do mundo ou presa aos padrões da
ordem social. Podemos mirar fixamente a areia, as pedras, as folhas…
Podemos observar as árvores sempre e quando não estivermos de mau
humor. Nesse caso é melhor mirar o horizonte ou o mar. O oceano é
suficientemente vasto para absorver esses sentimentos. O método
utilizado pela velha Florinda consistia em dar rápidas olhadas, escolhendo
coisas que possivelmente não pertenciam àquele local em particular, para
sobrecarregar seu campo visual. Pode-se também fazer uma observação
de varredura, de 360 graus ou, alternativamente, olhar para cima e para
baixo. Podemos observar as folhas, perfilando-as ou contando-as. Isto
pode ocasionar uma mudança abrupta que façam as folhas
desaparecerem, ao substituir o fundo por um primeiro plano. Esta é uma
técnica para romper nosso padrão de percepção e para intentarmos
perceber a energia diretamente.
6 – Silêncio interior Este é um assunto de acumular mais e mais silêncio
interior. Quando Taisha chegou aos cinco minutos (para Florinda foram
oito), seu ponto de aglutinação atravessou os limites usuais. Para Carol
Tiggs o ponto crítico é de vinte e três minutos de silêncio interior. Nesse
ponto ela pode “parar o mundo”. Como nagual, sua massa energética é
bem maior e leva muito tempo para movê-la. Alguns budistas utilizam um
ramo fino ou um bastão desde o chão até a frente como uma forma de
concentrar-se para alcançar o silêncio interior. Também podemos acender
um fósforo, molhar a ponta e observar a outra ponta, intentando o silêncio.
Quando alguém chega ao seu umbral crítico de silêncio interior, pode
alcançá-lo mais rápido e de forma prolongada.

242
7 – Disciplina e ações impecáveis A disciplina não significa ordem ou
regime e sim impecabilidade, dando a cada um de nossos atos total
concentração e intento inflexível, sem esperar nenhuma recompensa
pessoal. Os bruxos sustentam que temos que atuar como se o que
fizéssemos fosse o nosso último ato sobre a terra. Proceder
impecavelmente nos torna desagradáveis e sem sabor para os
predadores. Estes não são nem bons, nem maus, são apenas parte de um
universo predatório; assumem a forma humana para nós porque a um
nível subliminar estamos conscientes deles.
8 – Ensonhar “Ensonhar” significa ter sonhos lúcidos. No sentido que os
bruxos concedem a esse termo, ensonhar quer dizer ter um grau de
controle necessário para fixar o ponto de aglutinação em qualquer posição
que se desenvolva durante o sono. O conteúdo dos sonhos não conta, o
que conta é por quanto tempo e com que intensidade podemos mantê-lo
ali. Temos que espreitar nossos sonhos para fixar o ponto de aglutinação
em qualquer posição que o “sonho” nos leve. Então podemos voltar ao
mesmo sonho uma e outra vez, apenas por ter conseguido fixar o ponto de
aglutinação neste sonho. Começamos despertando de um sonho e nos
localizando nele; necessitamos a fixação em algo que queiramos fazer no
sonho, isso nos despertará. Mais tarde quando estamos totalmente
conscientes de novo, podemos repetir os mesmos movimentos que
fizemos em nosso “sonhar” para trazer nosso corpo energético ao nosso
corpo físico.
9 – Espreita Os bruxos dizem que primeiro devemos espreitar a nós
mesmos através da recapitulação. Levar a cabo esta premissa requer ser
implacável com nós mesmos, na valorização de quem somos e como é
nossa vida. Taisha deu-se conta, graças a sua recapitulação, que era
extremamente complacente (como muitos de nós), e que fazia qualquer
coisa para conseguir o que queria. Dom Juan a chamava de “eu quero
que”. Quando essa onda de afeto nos golpear, deixem que ela os leve,
porque ela permite que o Espírito os leve, então voamos em direção ao
Infinito. Estaremos navegando num intrépido vôo, em êxtase, com total
abandono. Não haverá meio de expressar tal experiência e isso também
não terá importância.

243
O EU MULTIDIMENSIONAL

Os ensinamentos pleiadianos podem ser comparados aos de um


xamã, a antiga seita de consciência que tem servido de intermediária entre
os domínios do físico e do espiritual, levando as pessoas à autodescoberta
do seu Eu multidimensional.
A transformação consiste em vocês compreenderem quem são, para
poderem levar adiante essa experiência. Isto é a evolução da super-
consciência, a evolução até o mais elevado aspecto do vosso ser. Não
precisam preocupar-se em como tornar-se este ser, porque vocês já são
este ser, só precisam lembrar-se disso.
Uma transformação está prestes a ocorrer, uma transição
dimensional que diminuirá a densidade da terceira dimensão permitindo
que mudem para dimensões mais altas onde o estado do vosso corpo não
é mais tão sólido. Vocês chegaram até aqui porque querem dominar o
processo evolucionário e serem capazes de viver assim. Será muito
estimulante, pois significa que irão funcionar em diversas realidades.
Todas as respostas estão profundamente enterradas dentro de
vocês. As perguntas que afloram a vossa mente surgem para que
consigam trazer as respostas de dentro de vosso próprio ser. Precisam
acreditar que é lá que se encontra armazenada a informação. A
humanidade está aprendendo uma lição importante nesta época, que é
perceber a sua divindade, a sua ligação com o Criador Primordial e com
tudo o que existe.
A lição é perceber que todas as coisas estão ligadas e que vocês
fazem parte de tudo isso. Vocês são seres magníficos, membros da
Família da Luz e vieram à Terra nesta época com a missão de criar a
mudança, dar o salto, prestar assistência na transição. O amor é a chave.
O amor é o que forma o universo. A tecnologia atual da Terra só se
desenvolve até determinado ponto, porque a humanidade ainda não
entendeu que o amor é necessário. O amor é o tijolo básico da construção,
portanto, quando alguém tem amor, tem todas as possibilidades. Trazer de
volta o conceito de luz (que é informação) e amor (que é criatividade) é o
plano.
A frequência do amor é conectada com a emoção. Quando um
indivíduo está criando um conceito expandido de si mesmo, deve sempre
sentir-se conectado a um objetivo para compreender a amplidão das
coisas. Esse objetivo é o amor.
A grande maioria de vocês não tem a menor idéia do que seja a
frequência do amor. Nós estamos falando de amor e de luz, no entanto,

244
vocês não compreendem suas ramificações, nem o seu verdadeiro
significado. Luz é informação; amor é criação. Precisam estar informados
antes de criarem.
Um dos grandes segredos que não vos foi revelado como espécie, é
a riqueza e o poder que acompanham as emoções. Vocês foram
orientados para não explorar as vossas emoções, porque através delas
podem compreender as coisas. Através das emoções vocês conectam o
vosso corpo espiritual. O corpo espiritual é o corpo não físico que existe na
esfera multidimensional.
Parte do vosso salto evolutivo consciente não consiste simplesmente
em mergulhar no amor e na luz. É necessário que compreendam quão
complexa é a realidade, quantas formas diferentes de realidade existem e
como todas elas são vocês. Precisam estar em paz com todas e fundir-se
com elas para criar uma implosão nas facetas da vossa alma. Só assim
podem voltar ao Criador Primordial. O Eu pode, então, decidir com clareza
o caminho da alma, ou o seu caminho pessoal, através da realidade.
O centro do sentimento são as emoções, e as emoções são o vosso
caminho, ou ponte, ou o bilhete de ingresso para o Eu espiritual. Quando
alguém nega o Eu emocional, não pode entrar no reino espiritual. O Ser
Crístico disse uma vez: "Conhece-te a ti mesmo." O trabalho é sempre
interno, trabalhem dentro de si mesmos. Desenvolvam-se. Ultrapassem os
limites do ego. Aprendam a tornar-se multidimensionais, a viver no mundo
astral, a viajar para fora do corpo físico.
Abrir os Olhos de Hórus nos permite ver muitos mundos diferentes -
o mundo da vigília, o mundo do sono, o mundo dos mortos, o mundo dos
sonhos. O ideal seria acreditarem na intuição - se vocês acreditam no que
sentem, mesmo que pela lógica não faça sentido, podem atuar confiantes.
A impaciência é uma armadilha para muitas pessoas. Não menosprezem
as virtudes da tartaruga que se movimenta muito lentamente, pára, entra e
contempla, está perto do chão - e enxerga muito bem. Quando quiserem
uma aceleração na abertura dos vossos olhos da antiguidade, afirmem a
vossa intenção. Pensem, se o vosso pensamento for o desejo de uma
mudança acelerada com maior crescimento e capacidade, é isto que
acontecerá. Quando vocês duvidam, a dúvida também é um pensamento e
também cria a si mesmo. Quando ocorre a dúvida, o processo de
expansão pára porque vocês estão negando a sutileza do que estão
recebendo.
Permitam ao aspecto do Ser que contém o fogo primordial
expressar-se através de vocês. Podem continuar sendo o "Eu", quando for
apropriado sê-Io. Então, quando a imensidão da energia desejar utilizar o
vosso veículo físico como parte do plano para afetar a realidade, o "Eu"

245
não será aniquilado, mas incorporado: isto é ser multidimensional. Isto é
ser capaz de mover-se.
Humanos multidimensionais são seres humanos que
conscientemente existem em vários locais diferentes ao mesmo tempo. Os
humanos estão passando por uma mutação, estão evoluindo e tornando-
se seres com capacidade para saltar de uma estação para outra e
compreender a grandeza de quem são -
compreender que não acabam onde termina a sua pele.
Os seres humanos não terminam onde termina a sua aura ou o seu
corpo etérico; eles existem em muitas realidades diversas. Esta é a era do
Eu multidimensional: o Eu que pode deslocar-se conscientemente em
muitas realidades diversas; o Eu que pode eventualmente bilocalizar-se e
desaparecer; o Eu que pode movimentar-se na quarta dimensão - aquele
que percebe, não aquele que pensa. Esta é a era do Eu que compreende
que a parte pensante de si é muito importante, mas não deve ser a polícia
do corpo físico: mas deve ser um conselheiro. Vocês agora estão sendo
orientados para cultivar a intuição, a avenida que vai conduzir ao
casamento da consciência. Chegou a hora de permitir, sem restrições, que
a luz e o espírito movimentem cada um de vocês através de suas
existências, chegou a hora de permitir que se tornem um com os aspectos
multidimensionais do Eu, e com partes do Eu que nem imaginam existir.
Estes aspectos do Eu existem realmente. Sigam a vossa orientação
interior e confiem em si mesmos.
Este processo envolve encontrar, fundir-se e usar o ser
multidimensional. À medida que atingirem um maior conhecimento, vão
perceber que não estão sozinhos e que existe uma infinidade de Eus. Não
há como atingir um conhecimento superior sem passar pelo ser
multidimensional. Isto significa atingir a realização plena e vivenciar,
encontrar e fundir-se com um coletivo de inteligências existentes no agora-
sempre-em-expansão, além do tempo e o espaço.
O conhecimento está dentro de vocês e, se concordarem em
descobrí-Io, ele despertará e revelar-se-á a partir de níveis cada vez mais
profundos do vosso ser. Tomar-se-ão auto-suficientes, se concordarem
com isso, e incrivelmente sábios também, se não tiverem medo e não
interromperem o processo. Estamos lhes contando, com muita
honestidade, que o medo sempre fará parte do vosso processo
evolucionário, portanto é bom se acostumarem com ele. Não devem achar
que o medo é ruim. Se sucumbirem aos vossos medos e se permitirem
entregar-se a eles, poderão circular por eles, vivenciá-los e, assim, vencê-
los. Comecem a dizer: "Eu transmutarei este medo. Eu compreenderei que
ele me serve”. Lembrem-se que o vosso poder e capacidade de criar a

246
realidade através da força de vontade terminam onde o medo começa. A
vida é encontrar o medo. Comecem a observar os eventos das vossas
vidas e como os criaram.
Queremos que compreendam que vocês podem mudar tudo o que
desejarem. Estamos pedindo aos humanos que cheguem ao seu
funcionamento pleno como membros da Família da Luz, imaginando e
energizando um pilar de luz e puxando-o para dentro de seus corpos.
Comandem isto. Façam com que vossas intenções todos os dias sejam
operar com um cordão de luz, pois a frequência da luz liga vocês, além de
os proteger e informar. Sintam a luz dirigindo-se para a base da vossa
coluna, descendo pelo vosso corpo, entrando na Terra, bem como saindo
do plexo solar como uma fonte irradiante formando um escudo de luz
dourada à vossa volta. Quando usarem a região do plexo solar para definir
o que está acontecendo, aprendem a discernir através do sentimento.
A Terra está pronta a enfrentar o que for necessário para esta
evolução. Os seres humanos precisam aprender a ler energia. Precisam
aprender a usar mais do que os sentidos de seus olhos, narizes, ouvidos,
boca para perceberem a realidade. Nós afirmamos os sentidos são
enganadores da realidade. Eles trancam a realidade. Vocês acham que
estão percebendo a realidade com estes sentidos quando, na verdade,
eles limitam a vossa percepção da realidade. Vocês foram treinados desde
pequenos para confiar em seus olhos, ouvidos, nariz, boca e tato para
interpretar a existência. Agora, vão precisar contar com outras formas
sensoriais para determinar uma experiência. Uma das formas que
desprezaram foi o sentimento. O sentimento e o seu Eu psíquico, intuitivo,
sábio – foi bloqueado Se tivessem descoberto a vossa própria sabedoria e
intuição, não poderiam ter sido.controlados. Precisam aprender a usar a
vossa central de sentimento, ativá-Ia e agir de acordo com as informações
arquivadas no seu interior; precisam aprender a confiar nela. Concentrem-
se na vossa própria dança. Em que tom querem dançar, que mágica
querem executar e a que alturas querem elevar a vossa consciência para
lhe dar uma nova definição de possibilidades.
Quando a vossa consciência aprende as leis da criação,
manipulação e administração da realidade, torna-se fácil se manifestarem
na forma que tiverem escolhido. Se alguns de vocês ativaram suas
memórias xamanísticas, ou de culturas nativas, sabem muito bem que
grande parte dos ensinamentos desses povos consiste em deslocar-se
dentro de várias realidades e mudar de forma.
A coisa mais importante que lhes pedimos, de agora em diante, é
não basear nenhuma de suas experiências futuras no vosso passado. Ao
acordarem todas as manhãs, antes de começarem suas atividades do dia,

247
mentalizem com clareza o que pretendem viver nesse dia, se não fizerem
isso, nem cultivarem esse hábito então é melhor desistir! Assim é forjada a
realidade. Como já referimos, o grande segredo do qual a espécie humana
foi privada é que o pensamento cria a experiência, o pensamento cria a
realidade. Toda a realidade é criada através do pensamento.
Para sobreviver nos tempos que se aproximam, torna-se imperativo
adotar a idéia da manifestação do pensamento, ou superconsciência. O
pensamento vem primeiro. A experiência é sempre decorrência. Nunca
ocorre o contrário - vocês vivem uma experiência e depois pensam sobre
ela. A experiência é sempre um reflexo direto daquilo que estão pensando.
A clareza e o reconhecimento do vosso poder constituem os alicerces. Os
vossos pensamentos formam o vosso mundo o tempo todo. Parem de
viver no futuro, ou no passado, e vivam o agora. Digam para si mesmos:
“O que é que eu quero? Quero acelerar minha evolução pessoal. Quero
que o Espírito me ajude a aumentar minha capacidade. Quero que meu
corpo se regenere. Quero emanar saúde. Quero abandonar as dificuldades
para ser um exemplo vivo daquilo que a humanidade pode atingir." Esta é
a linha de pensamento – o comando para o vosso ser, determinando com
clareza tudo aquilo que vocês querem - e que vos trará tudo num ritmo
acelerado. Comecem a dizer para si mesmos: "Eu assumo a
responsabilidade por tudo em que estou envolvido. Eu assumo a
responsabilidade por tudo o que acontece comigo. Se não gosto do que
acontece comigo, vou começar a me perguntar porque crio coisas de que
não gosto. Talvez seja para chamar minha atenção para algo que não
consigo ver e assim poder mudar o que realmente não funciona para mim."
Devem agir sempre como se houvesse um propósito impecável em
tudo o que fazem, como se para atingir o valor mais alto, a melhor
oportunidade, fosse necessário trabalhar cada evento em que estejam
envolvidos. Se todos pudessem adotar essa atitude e agir como se cada
evento estivesse designado a impulsioná-Ios em seu crescimento e
conscientização, poderiam virar-se e descobrir que a pessoa apontando o
revólver às suas costas é uma réplica, uma porção de vocês mesmos.
Devem ser capazes de curar algo; podem estar recebendo a oportunidade
de tomar uma atitude que os amedronta. Não tenham medo daquilo que
criam. Confiem no que vocês criam. Acreditem que, em vossa criação,
existe sempre algum crescimento. Não varram vossos dramas para baixo
do tapete como se fossem coisas horríveis que nunca mais queiram ver,
acabem com esses dramas: parem de andar em círculos, de perder-se
neles. Deixem, portanto, que esses dramas sejam como uma lição de
casa. Terminem, resolvam-nos da melhor maneira possível, façam as
pazes e conheçam o vosso papel neles, e deixem que eles circulem de

248
volta à vossa consciência para lhes ensinar algo. Deixem que sejam os
vossos tesouros vivos de experiência, em vez de espinhos dos quais
querem se desvencilhar. A emoção está ligada a estas coisas e, não se
esqueçam de que ela pode levá-Ios a outros níveis de atividades.
Aprendam a pedir o que querem da vida, exatamente como fazem
num restaurante, e acreditem que, uma vez que o pedido foi feito, vocês
irão recebê-lo. Observem com que despreocupação divina vocês pedem o
que desejam num restaurante. É assim que devem pedir o que desejam na
vida. Decidam com clareza o que querem, peçam e pronto. Não fiquem
chamando o Espírito para ver se ele anotou o pedido direitinho, ou para
dar conselhos de como realizá-Io. Autorizem a si mesmos. As vossas
palavras têm a capacidade tanto de 'dar poder' quanto de 'tirar poder'. Nós
queremos que vocês tenham a coragem de viver a vossa luz e não nos
cansamos de enfatizar que os vosso pensamentos formulam o vosso
mundo. Eliminem as palavras deveria e tentando do vosso vocabulário.
Tentar não é fazer. "Em vossas vidas, usem as expressões: "Estou
criando", "Estou fazendo", "Estou manifestando", "Tenho a intenção",
"Estou realizando". Esqueçam: "Estou tentando".
Ao se tornarem realizadores ,vocês são capazes de manifestar o que
querem da vida e passam a ser um espelho para muitas pessoas. Se se
colocarem atrás dos outros e tiverem medo de possuir o que eles têm por
achar que não há o suficiente para todos, é porque ainda não
compreenderam que, à medida que permitirem aos princípios divinos
trabalhar em vossos corpos e ancorar no planeta, vocês se tornam um
exemplo vivo de luz. Vocês permitem que o propósito da luz se movimente
através dos vossos corpos, tornando-se exemplos vivos daquilo que as
outras pessoas também podem realizar. Esta é a alta vibração que
queremos ensinar a todos vocês. Queremos que compreendam que não
há limite. Não há limite no planeta inteiro. Cada pessoa do planeta pode
operar em cooperação, numa unidade de ser. Tudo aquilo que receberem,
seja espiritual ou material, não constitui um privilégio vosso: Precisam
compreender que são capazes de deixar os princípios divinos operarem
em vosso corpo físico e que podem mostrar às outras pessoas como isso
ocorre. Vão poder dizer: "Olhe, isso funciona. Eu faço. Você também pode
fazer."
Se é preciso muito esforço para que façam algo, esqueçam. Se
parece que vai dar muito trabalho é porque alguma coisa está querendo
lhes dizer que esse não é o caminho. Somente quando a coisa chega sem
esforço e se adapta facilmente sem que ninguém faça muito por ela, está
certa. Se todos começarem a viver assim, mudarão completamente a
maneira pela qual a vossa consciência aborda a vida. Permitam-nos pedir-

249
lhes que se lembrem das palavras “sem esforço” e as incorporem a seu
vocabulário. Digam para si mesmos: "É minha intenção que isto se realize
sem esforço." Realizar sem esforço é comandar a realidade para que ela
se ofereça de uma forma que permita a expansão de muita energia para
outras experiências. Não se esqueçam, a vossa realidade é o resultado
dos vossos pensamentos.
Quando vocês permitem, o Espírito os compensa de formas
totalmente inesperadas. A única razão de isto não ter ocorrido antes é
porque vocês simplesmente não acreditavam que fosse possível. Quando
acreditam que as coisas são possíveis, a realidade muda. Estado mental é
o nome do jogo aqui. O que vocês sentem em relação à realidade e como
programam a realidade, será como irão responder a ela, ou como ela irá
se apresentar a vocês. É por isso que dizemos: "Vão com tudo! Sejam
impulsivos! Nada de moderação! Façam o que vos dá prazer! Façam o
impossível!" Vocês podem fazer isso. Podem fazer tudo o que tiverem
vontade. Vocês vão transformar o vosso mundo, não importa em que
estado ele se encontre. Não esqueçam que, quando aprendem as regras
do jogo - que vocês são o resultado do pensamento e que isto é uma lei
dentro do vosso universo - tudo o que precisam fazer é pensar como
querem ser, e assim serão. Uma vez descoberto esse princípio, podem
projetar o vosso corpo, a vossa idade e consertar tudo em relação a vocês
mesmos, pois estarão automotivados, auto-fortalecidos e serão auto-
geradores.
Insistimos sobre a idéia da multidimensionalidade - o conceito de que
podem estar em muitos lugares e transportar a consciência.
Compartilhamos com vocês a idéia de que existem muitos mundos além
da Terra. Chegou a hora de mudarem radicalmente a visão de si mesmos
e romper barreiras. De passarem por cima dos probleminhas corriqueiros,
dos dramas quotidianos, para se ligarem a nível cósmico ao drama maior
que esteja ocorrendo. Assim, devem informar-se melhor sobre as vossas
próprias intenções, propósitos e dramas. Devem ser capazes de
compreender tanto a vossa identidade, quanto a vossa capacidade de
transportar esta identidade para qualquer mundo que venham a escolher.
Essa é a arte da manifestação.
Não existe nada mais forte do que o vosso compromisso com a
exaltação do ser. Sintam o que a exaltação do ser significa - atingir o
triunfo, a liberdade, a felicidade, a realização mais sublime.
Ao pedirem a aceleração, devem viver de acordo com aquilo que estas
energias colocam na vossa frente. Acima de tudo, vivam a vossa luz.
Vivam a luz que existe no vosso interior com coragem. Não vivam
escondidos - vivam a luz. Falem aquilo que sabem, sem ter vergonha, sem

250
gesticularem como fanáticos. Afirmem simplesmente: "Acredito nisto. Vivo
isto." Por exemplo, quando alguém disser: "Cuidado, você pode pegar uma
gripe!" devem responder: "Eu não acredito em pegar gripes. Eu não uso o
meu corpo para ter doenças." Fazendo afirmações deste tipo, ajudam as
outras pessoas a despertar. Falem o que sabem em conversas triviais com
parentes e amigos. Onde quer que estejam, usem o pilar da luz.
Recomendamos que visualizem um pilar de luz entrando pelo topo da
cabeça, abrindo o chakra da coroa e inundando o vosso corpo de luz.
Imaginem este pilar de luz cósmica vindo do espaço sideral mais elevado,
vos inundando, preenchendo vossos corpos e depois saindo pelo plexo
solar, formando uma bola de luz em volta do vosso corpo, para que vivam
sempre dentro 'de um ovo etérico fulgurante’.
Quando amam a si mesmos e à Terra, e sabem que estão aqui para
redefinir, reprogramar e romper os limites da humanidade, vocês
transmitem isto. Vivem suas vidas com esse compromisso. Se nos
perguntarem quanto tempo precisam dedicar a esta tarefa,
responderemos: "É muito simples: todo o vosso tempo." Não se trata de
preocupar-se com algo, trata-se de algo que vocês simplesmente são.
Vocês vivem isso - é a vossa divindade.
Descobrirão, que ao viver a vossa luz, atrairão outras pessoas que
estão muito interessadas em viver suas vidas de forma semelhante, e o
número dessas pessoas não pára de crescer. Quando assumem o
compromisso dizendo: "Espírito, eu quero trabalhar por você. Arranje-me
trabalho e mostre-me o que fazer. Conceda-me a oportunidade de viver a
minha luz, dizer a minha verdade e ser portador da luz em todo o globo", o
Espírito vai fazê-los trabalhar. Digam apenas: "Recebo orientação divina.
Tenham em mente, bem claro, seu potencial disponível e estabeleçam um
contrato com o Espírito. Digam ao Espírito o que desejam em pagamento.
O Espírito permitirá que negociem e redijam o contrato que quiserem, se
estiverem operando em serviço próprio e visando elevar a vossa vibração.
Quando vocês operam em serviço próprio, comprometendo-se
pessoalmente a evoluir e mudar, elevam todos ao seu redor. Isto é servir.
Servir não é sair, martirizar-se e dizer: "Eu vou salvá-lo".servir é trabalhar-
se, viver de maneira que todos aqueles que entrarem em contato com
vocês sejam afetados pela vossa presença de luz.
Tenho a intenção de trabalhar, minha capacidade será cada vez
mais elevada e me atiro nesta aventura. Sinto que estou agindo de forma
correta, mesmo parecendo estranha, por isso vou em frente." Contudo, se
não se sentirem bem e a coisa parecer loucura, então não façam. Confiem
nos vossos sentimentos. O que significa ser chamado de "escolhido"? Os
escolhidos são aqueles que escutam o som de sua melodia interior, são

251
aqueles que se reúnem para ouvir a nossa mensagem. Quem escolhe
vocês? Vocês se escolhem.
O que significa confiar? Significa possuir o conhecimento interior de
que os vossos pensamentos criam o vosso mundo - simplesmente ter
certeza, com a divina despreocupação e sabedoria interior, de que se você
pensar algo, isso acontece.
O tempo da mudança é agora. Todos devem ter intenções claras ao
projetar a sua realidade. Isto não quer dizer que deixem de ser flexíveis;
significa que devem operar com clareza. Digam: "A meus guias e a todos
os que me dão assistência em minha jornada evolutiva na Terra: É minha
intenção que eu tenha sucesso. É minha intenção que eu seja sempre
protegido em tudo aquilo que fizer. É minha intenção que eu receba amor
e dê amor em todas as coisas que fizer. É minha intenção que tudo corra
bem para mim e que haja prosperidade de acordo com as minhas
necessidades. É minha intenção que eu não permaneça enamorado
demais do mundo material. Embora devam executar seu próprio trabalho
para evoluir, existem muitos seres extraterrestres, não-físicos, prontos
para trabalhar com vocês. Só precisam chamá-los e pedir a sua ajuda. Ao
fazerem isso, afirmem sempre com clareza que toda e qualquer
assistência recebida vem da luz. Permaneçam íntegros e conscientes.
Se entrarem num estado meditativo, receberão um quadro da vossa
identidade, da realidade e da etapa seguinte da vossa missão, dia a dia. A
meditação é um estado de comunicação; não é um caminho que os leva a
se perderem. A meditação é o caminho que leva à informação, que os
conduz ao alimento. Irão caminhar em direção ao vosso propósito que,
certamente, será relacionado com a frequência: traduzi-Ia, encaminhá-Ia
para as outras pessoas, explicá-Ia, usá-Ia para curar os outros e estabilizá-
Ia para a raça humana.
Se existe um objetivo que desejamos alcançar é ver cada um de
vocês livre e sem limites, sabendo que cada pensamento que tiverem irá,
de alguma forma, determinar as vossas experiências. Se conseguirmos
que vocês vivam 100% do tempo fazendo o que quiserem, este terá sido
para nós o ano de maior sucesso!
Pediremos a cada um que assuma este compromisso e viva uma
vida mais limpa, íntegra. Ajam como se fossem guiados por deus em cada
escolha efetuada e comecem a acreditar que estão sempre no lugar certo,
na hora certa. Afirmem para si mesmos: "Eu recebo orientação divina.
Estou sempre no lugar certo, na hora certa. Tudo aquilo que faço está
orquestrado para meu crescimento mais elevado, minha consciência mais
elevada e minha evolução mais elevada." Usem a vossa vontade e mente
para decidir como gostariam que a realidade fosse construída. Fazendo

252
isso, acabarão descobrindo que existe uma vontade superior e um plano
superior, e ao levarem suas consciências até ele, conhecerão o caminho
divino. Este caminho divino conduz à evolução da consciência.
O Plano Divino depende da rapidez com que os seres humanos
conseguirem atender a suas necessidades e dominar a si mesmos. O que
significa dominar a si mesmos? Para compreender o Plano Divino e chegar
ao projeto, precisam ser capazes de ter o domínio sobre quem são.
A emoção é a chave de tudo isso. Como seres humanos, vocês
precisam da emoção para entrarem em contato com Eu espiritual. A
emoção é essencial à compreensão da espiritualidade porque emoções
geram sentimentos. Os corpos mental e físico estão estreitamente ligados,
da mesma forma que o estão os corpos emocional e espiritual. O corpo
espiritual é aquele que existe além dos limites físicos. A maioria dos seres
humanos tem medo de seu centro emocional, ou centro do sentimento;
tem medo de sentir. Confiem em vossos sentimentos, não importa quais
sejam eles Tenham confiança de que eles o guiaram, acreditem que os
sentimentos podem levá-Ios à realização. Sao os sentimentos que os
ligam à vida.
Incentivamos todos vocês a acreditarem, cultivarem e confiarem em
seus sentimentos. Devem encará-Ios como bilhetes de viagem para
realidades multidimensionais, onde precisam ir, caso estejam jogando este
jogo para valer. Nas realidades multidimensionais aprendem a focalizar e
manter simultaneamente muitas versões diferentes de si mesmos. Os
sentimentos são capazes de transportá-Ios a estes lugares, especialmente
aqueles em que vocês confiam. Deixem aflorar todos os vossos
sentimentos e, ao invés de os julgar, permitam-lhes que se manifestem
para poderem observar aonde eles podem levá-los, ou o que eles podem
fazer por vocês. As vossas emoções não alimentam apenas os outros, são
fonte de alimento para o Eu. É assim que vocês se alimentam e criam a
vossa identidade. como frequência através das vossas emoções. Precisam
aprender a amar as vossas emoções. Quando rotulam alguma coisa como
difícil,vocês a tornam difícil. Devem ficar seus amigos das suas emoções
porque, através dos sentimentos podem subir a escada que os leva ao Eu
multidimensional, ao sistema de doze chakras e a explorar o que
descobrirem por intermédio dos sentimentos que detectam se algo está ou
não funcionando. Nesta dádiva da emoção há riqueza e abundância; há
uma capacidade incrível de se transcender realidades diferentes e
vivenciar estados de consciência inteiramente diversos. Como seres
humanos, vocês precisam da emoção para entrarem em contato com Eu
espiritual. A emoção é essencial à compreensão da espiritualidade porque
emoções geram sentimentos. Os corpos mental e físico estão

253
estreitamente ligados, da mesma forma que o estão os corpos emocional e
espiritual. O corpo espiritual é aquele que existe além dos limites físicos.
Confiem em vossos sentimentos, não importa quais sejam eles.Tenham
confiança de que eles o guiaram acreditem que os sentimentos podem
levá-Ios à realização.
Usem a força da mente para projetar com clareza aquilo que querem.
Peçam ajuda dos planos não-físicos e visualizem o resultado que
gostariam de obter. Entendam que vocês criam a vossa própria realidade e
que as outras pessoas criam as realidades delas. Quando um número
suficiente de pessoas criar suas próprias realidades – criarem
conscientemente - criarão também um novo planeta.
A ascensão é o objetivo da Terra. Chegará o tempo em que será a
única forma dos habitantes sairem do planeta. Uma vez saindo daqui,
poderão visitar muitos outros lugares. Poderão mostrar a si mesmos, e ao
resto da espécie humana, que o corpo, essa coisa que parece tão sólida e
incontrolável é, na verdade, resultado de uma orquestração divina e que
vocês, em plena consciência, podem fazer com ele o que quiserem.
Qualquer coisa.
Esta mutação consiste num processo que se desenvolve dentro de
vocês, que irá permitir-Ihes mudar para outro plano de experiência. Todas
as pessoas do planeta possuem o potencial de evoluir por meio desta
mutação. Quem quiser poderá tomar a estrutura de Merkabah e sair do
planeta com ela, mesmo enquanto ainda mora aqui.
Alguns já tentaram viajar com ele e sabem que podem usá-Io.
Quando chamam a Merkabah com sinceridade e sabe o que ela realmente
significa - ser consciência ilimitada que viaja com o corpo,sem que este
saia do planeta - então estão prontos para realizar viagens
insterplanetárias.
A espiral é uma das formas básicas da geometria da Linguagem da
Luz. É uma ponte, um ensinamento em si mesma. Sua forma é codificada
com informações e, quando seguem a espiral, ela parece não ter fim. Isto
lhes mostra que a jornada para o interior não tem fim, e que a jornada para
o exterior também não tem fim. Como espécie, serão capazes de dividir a
vossa consciência e seguir em ambas as direções, mantendo a
consciência unida. Partindo para a jornada interior sem fim e para a
jornada exterior sem fim, vocês ligam-se a uma espiral conectada à
verdade universal. O truque consiste em, simultaneamente, seguir para
dentro e para fora - percebendo que dentro e fora são o mesmo. A espiral
existe em várias dimensões. A espiral é a chave para extrair aquilo que
está dentro de vocês. Em vossas meditações, sintam-se viajando por uma
espiral, como se estivessem viajando dentro de um tornado. Visualizem-se

254
observando uma espiral que se aproxima, semelhante a um tornado. E
então, em vez de fugir, fiquem lá e deixem-se envolver por ela. Sigam com
ela, pois a espiral é a porta para outras realidades.
O Eu é o conjunto de todas as coisas, é uma harmonia que equilibra
todos os vossos Eus extraterrestres, multidimensionais, masculinos e
femininos. Vocês são seres globais incríveis e estão começando a
perceber isso. Permitam-se desabrochar e atingir essa plenitude e verão
surgir perspectivas que os aguardam além da vossa imaginação. Estão
descobrindo que precisam do corpo emocional e da vossa feminilidade
tanto quanto da vossa masculinidade. Para acessar a
multidimensionalidade é necessário a fusão do masculino e feminino.
Neste momento, a chama gêmea não mais será procurada como um
parceiro fora do Eu, mas compreendida como a integração dos Eus
feminino e masculino e o amadurecimento de tudo aquilo que o Eu já
realizou. Chamem suas partes feminina e masculina, estabeleçam um
diálogo entre elas para que comecem a trabalhar em cooperação e
harmonia. Dêem a si mesmos muito amor e incentivo.
Marquem um encontro consigo mesmos e digam: "Meu Eu, eu amo
você. Você é um Eu maravilhoso. Você é o número um, o campeão, o
melhor Eu do mundo!" Quando concedem a si mesmos a dignidade do
vosso próprio amor, como se fossem a realeza recebendo saudações de
seus súditos, tudo muda. A integridade e a força tornam-se vossa
propriedade porque acreditam e amam quem são. Quando acreditam e
amam a si mesmos, tudo começa a correr como vocês querem. Através do
compromisso de amar a si mesmos, e fazendo deste compromisso o
primeiro passo a partir do qual vocês operam todos os dias, tudo entra no
lugar. Vocês se tornam inteiros, completos. Estão prontos para um
relacionamento com outro ser completo e este relacionamento pode levá-
Ios a planos deliciosamente inexplorados.
O Eu espiritual é a vossa parte multidimensional- através da qual
existem em várias formas simultaneamente. A vossa missão, o vosso
compromisso e tarefa consiste em estar consciente dessas realidades na
identidade em que se encontram. Quando estão conscientes, podem
sintonizar-se com diferentes frequências, podem lembrar-se de quem são
e alterar a frequência vibratória deste universo. Aprendam a ter o controle
total da vossa energia. O que isso significa? Significa que, onde quer que
vocês estejam, estão observando a si mesmos - a postura do vosso corpo,
o movimento das mãos, se estão se repetindo muitas e muitas vezes, se
estão falando ou em silêncio. Aprendam a observar-se sem julgamento.
Aprendam a observar-se (constatando como são) e a corrigir-se
(determinando como gostariam de ser). Aprendam a silenciar a mente.

255
Todos os dias, em todos os momentos, devem determinar com
clareza o que desejam vivenciar. Imbuídos do sentido do merecimento e
da graça divina, descubram no vosso íntimo aquilo que lhes traz felicidade.
O que os faz sentir leves, ligados e vivos? Que desejo vocês têm que irá
trazer paz ao planeta que ocupam com o vosso ser? Quaisquer que sejam
estes desejos, comecem a querê-los. Chamem-nos para vocês dizendo: "É
minha intenção ter harmonia em minha vida. É minha intenção ter saúde e
energia que me levem a aventuras criativas. É minha intenção que eu seja
bem provido de coisas materiais; que abrigo, alimento e todas as coisas de
que eu precise para viver me sejam dadas em grande abundância para
que eu as partilhe com os outros seres."
Duas ou três vezes por dia, dediquem uma pequena porção do vosso
tempo a estabelecer com clareza o que querem. Todos os dias, abram os
vossos centros de energia dentro e acima do vosso corpo chamando a
frequência da luz. Nós a denominamos pilar de luz. Visualizem um raio de
luz entrando nos doze chakras os sete dentro do corpo e os cinco fora
deles. Chakras são centros de informação, ou vórtices, que, uma vez
ativados, começam a girar. Ao girarem, criam um movimento que ativa os
filamentos de códigos-luminosos para que trabalhem juntos e se
reagrupem formando as doze hélices evolutivas das células.
Para atingir o equilíbrio perfeito no corpo físico, é muito importante
que seja praticado regularmente algum tipo de programa de respiração
profunda. Um tipo de programa em que a respiração seja muito importante,
a oxigenação seja praticada, trazendo oxigênio para o corpo.
Outra atividade recomendada para quem deseja uma rápida
aceleracão de energia e girar. Recomendamos que girem trinta e três
vezes, ao menos uma vez por dia. Girem da esquerda para a direita, no
sentido horário, focalizando a vossa visão no polegar, contando e girando.
Podem começar as trinta e três voltas muito lentamente. Se conseguirem
girar trinta e três vezes, três vezes por dia, ou seja, noventa e nove vezes,
bem, não sabemos dizer quanto tempo irão conseguir permanecer no
planeta - pelo menos nesta dimensão. Quando tiverem terminado de girar,
quantas vezes tenham conseguido juntem as palmas das mãos na altura
do peito, mantendo os olhos abertos e equilibrem-se com os pés abertos
na largura dos ombros, para se sentirem ancorados, e ainda sentirem o
giro ao mesmo tempo. Isso vai acelerar tremendamente a rotação do
sistema dos chakras dentro do vosso corpo, provocando uma aceleração
no ritmo em que vocês conseguem receber e interpretar os dados.
Portanto, os métodos a serem usados são; intenção, respiração, usar
o pilar de luz e girar.

256
Existem muitas outras coisas que podem fazer. Aprendam a ter
experiências de alteração da consciência sem perder o controle. Cultivem-
nas e usem-nas para reunir informação, mudar as probabilidades, andar
no corredor do tempo e alterar suas próprias vidas. Então saiam deles com
o uso total e completo da vossa vontade, respeitando estes estados
alterados. Quando aprenderem a fazer isso, a aceleração será
absolutamente fenomenal.
Precisam equilibrar muitos mundos ao mesmo tempo. Como fazer
isso? Pela intenção, pela prática e por decreto. O ancoramento permite a
fusão de mundos, o acesso a muitos mundos. Permite-Ihes sentir ondas
de energia e direcioná-Ias para o lugar e o momento onde elas forem
necessárias - vocês se tornam super-homens.
Por isso, quando se sentirem eletrizados ou energizados, percebam
que se encontram num estado alterado. É necessário que percebam,
também, quantas versões de estados alterados existem e acionar o
comando interior para se tornarem condutores destas energias. Quando
souberem que se encontram num estado alterado, recebendo informação,
energia de cura, exaltação ou ânimo, devem agir como um fio condutor,
como um canal de informação. Canalizem a energia através do vosso
corpo e reconheçam o estado de expressão multidimensional que estão
vivenciando. Registrem tudo, mas não analisem. Deixem simplesmente
que a energia seja filtrada através de vocês para a Terra e, mais tarde,
tudo fará sentido.
Podem descobrir o vosso corpo emocional decretando que confiam
nas emoções. Decretem que acreditam que as emoções são boas,
seguras, que podem levá-Ios a algum lugar, que são benéficas. Todas as
vezes que emoções são liberadas observem o que elas podem fazer por
vocês. Emoções podem transformar-se em frequências internas, veículo
que os leva a atingir a essência mais profunda do ser. A sintonia com
estas frequências os fará desenvolver uma forma de encarar a emoção
sem a julgar, apenas de a reconhecer e sentir.
Deixem o vosso corpo dizer o que ele quer. Permitam-se querer
mudar, porque o vosso corpo, ao tentar elevar sua vibração e criar um
corpo de luz, vai querer afastar-se de certos alimentos. Emitam a intenção
de querer mudar a dieta e depois emitam a intenção de que as coisas
cheguem a vocês. Não nos cansamos de enfatizar que vocês são muito
mais do que seres físicos. Existem em diversas realidades, e possuem
milhares de guias. Portanto, precisam ser mais claros nas vossas
intenções. O que vocês querem? Afirmem: "Quero evoluir. Quero mudar
minha dieta. Quero aumentar a minha intuição. Sejam claros naquilo que
querem. As palavras é minha intenção possuem um tremendo poder.

257
O desejo é a percepção que os coloca no momento. Depois,
precisam decidir o que vão fazer com esse desejo. Pode ser que o
esqueçam amanhã. Para estruturar este desejo e demonstrar a vossa
seriedade em relação a ele, devem participar de eventos, movimentos,
rituais e cerimônias que demonstrem o vosso compromisso. Depois,
devem estruturar a vossa vida para que ela seja um sinal do vosso
empenho. Seria como se andassem e vivessem em oração. Estamos lhes
sugerindo uma oração viva, um processo em que cada momento do dia
tenha o seu significado e sirva para lhes mostrar o caminho devido ao
vosso comportamento e à vossa concentração no objetivo de suas
orações. A oração viva pressupõe uma intenção muito clara em relação
aos objetos que se encontram no seu ambiente: ter um altar, objetos
sagrados, etc. Montar um altar em conjunto é uma ótima forma de
promover um ritual. Os rituais despertam a memória celular e os fazem
recordar os ensinamentos da antiguidade que estão armazenados dentro
de cada um. Os rituais trazem estes ensinamentos para a vossa memória
ativa.
Ser multidimensional significa abrir os canais e sintonizar-se em
várias frequências para receber a transmissão de conhecimentos. O
Espírito de que estamos falando abrange muitas idéias. Refere-se
basicamente àquilo que é não-físico, ou não pertence à visão da terceira
dimensão. Podem comparar este fascínio, este salto, a um gigantesco pulo
de trampolim, sem retorno. Vocês balançam, balançam, pegam impulso e
lançam-se em direção ao reino do Espírito. Trata-se simplesmente do
grande salto que todos os antigos xamãs da Terra praticavam e possuíam
como potencialidade - uma forma de contactar formas inteligentes e de
prestar assistência à espécie humana em evolução.
A multidimensionalidade é, para nós, um estilo de vida. O vosso
trabalho atual é intensamente ligado ao Eu, o veículo físico que ocupam
neste momento. É o Eu que lhes permite jogar este jogo agora. Amem-no,
respeitem-no, acalentem-no, cuidem dele direitinho, falem muito bem dele
e mantenham a intenção firme de que ele vai atingir sua plena capacidade.
A freqüência do amor permitirá que estendam o amor a outras
versões do vosso Eu multidimensional, criando urna cura maciça da vossa
consciência em vários níveis. As experiências que irão ter nestes planos
de atividade podem ser muito fortes. Irão provocar tremendas alterações,
mas vocês andarão com um sorriso de orelha a orelha, deixando as outras
pessoas curiosas com o que possa ter-lhes ocorrido. Se comportarão
assim porque vão estar na vibração do êxtase. Estarão numa vibração de
conectividade, e todas as coisas e pessoas atraídas para vocês farão parte
desta vibração.

258
Também os incitamos a escalar algumas cordilheiras de consciência
dentro de si: encontrar novos lugares que lhes tragam conforto, vales de
juventude eterna, de vitalidade eterna e de expressão constante de
criatividade. O corpo de luz é o corpo que contém a mutação completa da
espécie. Será capaz de fazer malabarismos com as realidades, através da
mudança de consciência, pela intenção, de uma visão para outra, como se
estivesse mudando canais de televisão. Não se esqueçam que a matéria é
luz aprisionada. À medida que constroem o vosso corpo de Iüz, estão
permitindo uma reorganização da estrutura molecular- afrouxando as
garras do materialismo, para que a vossa compreensão espiritual possa
estar mais sintonizada com a vida quotidiana. A construção do corpo de
luz possibilita à matéria mais solta manifestar e receber a luz, que é mais
livre em expressão e na procura de sua própria fonte, permitindo-Ihes
tornarem-se quem são, ou seja, seres não tão sólidos.
À medida que elevam as vossas frequências vibratórias, tornam-se o
vosso corpo de luz. Literalmente, perceberão as mudanças. O vosso corpo
se tornará mais vigoroso, mais jovem, mais nutrido e, definitivamente, o
processador de uma quantidade incrível de informação. Vai se transformar
em um super ser. A construção do corpo de luz implica em tornar-se um
super ser. Aumentar a longevidade do corpo celular/através do
rejuvenescimento e do prolongamento da vida celular, voltará à moda. Faz
parte da construção do corpo de luz - um corpo menos denso, que não se
destrói, que se regenera e se reabastece. É isso que vocês estão
buscando.
Vocês têm o Eu social e o Eu espiritual e precisam decidir qual dos
dois é sagrado. Qual dos dois é a vossa fonte de autoridade? Deixem que
o vosso Eu intuitivo seja a vossa autoridade. Permitam que o vosso Eu
intuitivo seja o porta estandarte da vossa experiência, a experiência que
ninguém mais pode autorizar. Se a vossa abordagem em todos os
assuntos tiver a postura de que há uma ordem divina e um propósito divino
em todas as coisas, mesmo que o vosso ego não perceba isso o tempo
todo, vocês se deslocarão velozmente através das realidades.
Todas as pessoas que penetram e descobrem os domínios do
desconhecido e dos místicos têm experiências e interpretações únicas da
realidade. Vocês se tornaram seus próprios mestres ao ativarem o que se
encontra em seu próprio interior, através de intenção clara e ao seguirem
os impulsos e o conhecimento que acompanham o processo.
Neste universo, dualidade e polaridade são essenciais à ativação do
livre-arbítrio rumo a um potencial maior. As partes de uma dualidade
realmente servem como um impulso para refleti-las de volta umas para as
outras, de modo que sua polarização finalmente se torne unificada. A

259
realidade está disposta em múltiplas camadas e continuamente dá à luz
novas versões de si mesma; desse modo, não é a mesma num momento
subseqüente. É nossa intenção conduzi-los a uma perspectiva maior de
sua herança estelar e pleiadiana e inspira-los a se tornarem seres
humanos mais responsáveis, corajosos, ousados e apreciadores do
divertimento.
Queremos que compreendam que tudo está em divina ordem. Vocês
são um conversor de energia. Vocês são estáveis, ancorados e afetuosos
e trabalham em nome da paz. O amor é a chave. Ao descobrirem o amor
dentro de seu próprio interior, criarão um espelho no exterior, que refletirá
as suas crenças, conforme os seus pensamentos adquirirem forma em
suas vidas. Ao explorarem o amor como força vital da existência, isso
afetará o planeta, que também se transformará nessa vibração, não
importando o que digam as manchetes dos jornais. Pretendemos trazer a
cada um de vocês a soberania e o poder, levá-los a um lugar de
reconhecimento cheio de paz dentro de seu próprio ser. Nesse lugar,
vocês podem criar a vida como a escolheram, não importante o que está
acontecendo ao redor.
Confiem em sua própria orientação interior, pois ela os levará por
vários caminhos que levam ao autoconhecimento, revelando o propósito
da vida e o significado básico da existência. Em um futuro próximo, vocês
verificarão que a orientação interior é um instrumento muito prático que
criaram para si mesmos. Usem-na. Tirem proveito dela.
Vocês estão calmamente percebendo um novo significado e uma
nova compreensão da realidade. Vocês se encontram num mundo com um
sistema de crenças que está morrendo, exatamente como vocês estão,
simbolicamente, se libertando daquilo que não serve mais às suas vidas.
Reconsiderem a própria essência daquilo que aprenderam e como e por
que pensam. Desafiem-se a buscar a comunicação e o compartilhamento
de conhecimentos com a Terra, pois ela oferece muitos mistérios não
revelados e tem maneiras únicas de falar.
Tudo o que você pensa, você energiza para que adquira a forma.
Assim, por favor, querido amigo, liberte-se de opressões e reimagine a
Terra como um lugar esplêndido dentro da existência. Veja-se vivendo em
harmonia em meio ao esplendor.
Hoje, vocês estão explorando pontos de vista e sistemas de crenças
mais amplos. Conforme consideram a realidade. Conforme consideram a
realidade, ela começa a se curvar em sua direção. A vitalidade da Terra
está esperando ser descoberta por vocês. Ela pode lhes dar uma
abundância maior na vida, se puderem compreender quem ela é. Pode-se
pensar nela como a Deusa-Mãe – como um aspecto da existência, que os

260
nutre, alimenta e embala. Ela é o seu lar e a sua mãe, a fonte de onde
vocês vieram.
Imaginem-se ilimitados, com uma oportunidade a cada momento e é
isso o que vocês criarão. Estabeleçam limitações e as encontrarão.
Lembrem-se: vocês atraem sem esforço as energias que apóiam sua
versão de vida. Cada minuto em que acreditam em si mesmos cria
momentum, através do qual farão desabrochar constantemente
alternativas de vida luminosas e brilhantes. Esse processo envolve o
aumento do reconhecimento de si mesmos como iguais em relação à sua
família estelar.
A evolução pela qual estão passando agora envolve o processo de
construção e integração de um corpo de luz. O corpo de luz precisa ser
temperado, exercitado e alongado para que se possa suavemente leva-lo
à suaprópria consciência. A clareza a respeito de quem vocês pretendem
ser é, na sua realidade, uma das chaves primordiais na construção de seu
corpo de luz.
O corpo de luz que vocês têm sabe que cria através do pensamento
e liga vocês à fábrica da criação. Através de seu corpo de luz, linhas de
tempo se abrem, dando acesso a dramas em múltiplas camadas, e os
desafios que vocês encontram se reforçam conforme enfrentam um
território aparentemente fora do mapa, contudo familiar.
O corpo de luz dos humanos contém a essência da própria
identidade multidimensional, que a eles é acessível através do desejo de
se unir à identidade maior que sentem possuir. O corpo de luz de vocês
será capaz de jogar com realidades através da mudança de intenção da
consciência de uma visão para outra, como se estivessem mudando os
canais de televisão. O seu corpo de luz possui dados codificados. Ele
traduz para vocês, através do corpo físico, comunicações provenientes de
outros mundos e realidades. A tarefa de vocês é observar as sutilezas e
sincronicidades que lhes enviam sinais. Para compreenderem a si
mesmos, visualizem um ser de múltiplas camadas, cada parte tendo um
corpo distinto que respira e está ligado a outros corpos. Vocês são um ser
físico, mental, emocional e espiritual, conectados por um corpo de luz que
irradia energia e os liga a uma progressão infinita de seres de luz.
A matéria é simplesmente luz que se encontra presa. Conforme
constroem seu corpo de luz, ocorre uma reorganização das estruturas
moleculares, afrouxando seu apego ao materialismo para que uma
compreensão espiritual possa guiá-los em sua vida diária. Vocês
literalmente verão mudanças no próprio corpo, que irá se tornar mais vital,
mais belo, mais forte e mais capaz de realizar coisas. Ele vai se
transformar no processador de uma quantidade imensa de informação. O

261
aumento de energia interior ativará talentos ocultos e fará renascer
habilidades psíquicas, tais como a clarividência, a clariaudiência, a
telepatia e a consciência perceptiva que envolve “saber”. Quanto mais
compreendem e vivem o conceito da criação de vida através do
pensamento, mais livres se tornam, pois o estresse de uma vida sem
poder é eliminado.
Para se prepararem para essa energia, sentem-se tranquilamente,
fechem os olhos, imaginem o próprio corpo cheio de luz e que a luz está
piscando e limpando as suas células. Cada um de vocês tem potencial
para possuir o corpo que quiser. Vocês podem regenerar as células do
próprio corpo, reprogramando-as.
Há muitas coisas necessárias à preparação do corpo para acomodar
a consciência da energia multidimensional. Ioga, alongamento, respiração
e algas e ervas para ajudar o corpo a criar as condições que facilitem o
trabalho da energia. É preciso um corpo que acomode a vibração da
inteligência multidimensional.
Recomendamos que bebam grande quantidade de água, pratiquem
muito a respiração e a oxigenação, entoem e permitam que sons não
rotulados se expressem através de seus corpos. Mantenham esses corpos
ativos e vivos. Gastem tempo se comunicando, meditando em paz e
ouvindo o que quer que esteja falando a vocês do seu interior. Entrelacem
suas descobertas com a estrutura de suas vidas e planejem, ao longo do
caminho, aquilo que querem.
Uma das chaves mais importantes que podemos lhes dar é esta:
Amem a si mesmos, honrem o veículo que ocupam e ajam como se
fossem de valor inestimável. Ajam como se tivessem sido premiados e
recebessem o melhor prêmio possível – o seu corpo. Honrem a Terra com
amor e respeito, pois é aqui, na Terra, que vocês encenam os seus
fantásticos dramas. Amem a si mesmos e à Terra nessa corrida através do
universo e, assim, a jornada será mais leve. A decisão de vocês de ficarem
no presente, de amarem a si mesmos e de trabalharem com amor neste
planeta, consigo mesmos e todas as pessoas, mudará completamente o
que ocorre no seu interior.
Essa é, definitivamente, uma chave para o rejuvenescimento.
Estejam prontos a experimentar a si mesmos, a experimentar a vida e o
próprio corpo, bem como as próprias emoções. O corpo humano irá
demonstrar aptidões absolutamente maravilhosas. A sensibilidade
desenvolver-se-á num tal grau que cheiros e aromas terão um maior
impacto sobre o humor, as emoções e a sensação geral de bem estar.
Vocês dirão: “Descobri que quando adiciono esta erva a meus alimentos
ou quando minha casa tem este cheiro, tenho mais energia. E quando uso

262
esta outra erva, fico mais tranqüilo.” Aprendam a usar as plantas
existentes ao redor, pois elas constituem dádivas da Biblioteca Viva.
Queremos que aceitem a idéia de que são muito significativos. Há
um grande valor em quem vocês são, no que pretendem e no que
permitem a si mesmos experimentar. Gostaríamos que sentissem uma
tremenda elevação e um senso de valor pessoal por sua capacidade de
combinar múltiplas realidades de consciência e de saltar para territórios
que muitos não suportariam. Damos a vocês uma estrela de ouro por
ousarem ser temerários, porque estão alegremente libertando o cativeiro
da percepção humana, enquanto exploram as estações de si mesmos.
Há muitos mestres que lhes mostrarão em que fatias do tempo vocês
floresceram e se desenvolveram e onde afetaram uma realidade
interligada e o que aqueles tempos e lugares têm a ver com o agora. Um
dia, vocês compreenderão que aqueles outros tempos são agora. Tudo
ocorre no agora. Este exato momento da
existência – onde vocês estão – é verdadeiramente o momento
significativo, espontâneo e contínuo. É, sempre e sempre, onde podem
encontrar a si mesmos.
O pensamento é. Você está evoluindo para aprender a usar os seus
pensamentos de uma forma produtiva, de modo a poder alterar o mundo e
criar um novo paradigma da realidade. Confie em si mesmo e preste
atenção naquilo que está descobrindo. Lembre-se. A estrada que se abre
à sua frente pode ser muito interessante. Lembre-se que é sempre você
quem a cria e, se você não gosta do cenário, pode simplesmente pegar
uma nova estrada. Boa viagem!
Tudo o que precisam é confiar em si mesmos e projetar a própria
realidade de acordo com a própria sabedoria e da intenção daquilo que
vocês, como seres humanos, desejam realizar. O que quer que pretendam
fazer como sua assinatura – sua marca registrada neste mundo –
acontecerá. Assim, sonhem grande.
Vocês podem dizer: “É minha intenção ter uma compreensão maior
de como utilizar essas experiências multidimensionais. É minha intenção
descobrir como posso beneficiar a mim mesmo e como divertir-me mais
com isso.” Assim estabelecem o tom da experiência através da intenção. A
intenção é uma declaração consciente daquilo que desejam manifestar na
realidade. Portanto, se querem alguma coisa, pretendam-na primeiro, pois
é assim que a trarão para a realidade.
O estado natural dos humanos, e aquele para o qual estão
evoluindo, é o de seres multidimensionais, capazes de trazer a paz a este
planeta e de levar essa paz para outros mundos. Lembrem-se: a paz
envolve uma decisão que é um padrão escolhido para a vida de cada um.

263
Vocês podem jogar, como crianças, esses jogos e se divertirem ao
fazer isso: contudo compreendam que, num nível mais profundo, estão
explorando e praticando a arte do xamanismo – a capacidade de entender
e afetar muitos mundos. O xamã não vive em um único mundo. Ao
aprenderem a evocar a ajuda de outros mundos e criativamente trocar
energia através da harmonia e da cooperação, vocês irão mudar. Sempre
retornem à sua estação central – ao você da Terra, como uma identidade
singular forte que está descobrindo, aos poucos, sua relação com tudo que
é.
Aconselhamos vocês a limparem todos os velhos apegos de seus
corpos. Vejam os seus corpos limpos e abençoados e toda a energia
sexual de ligações anteriores liberada. Façam todo o possível para
liberarem amorosamente todas as ligações sexuais anteriores mantidas
em suas vidas. Parem de falar sobre o passado e de energizar antigos
parceiros. Libertem-se disso. Se ficarem falando de pessoas com as quais
estiveram envolvidas anos atrás, vocês continuam energizando as formas-
pensamento delas no campo áurico de vocês, especialmente se tiveram
ligação sexual com elas. Isso impede que experimentem um novo agora.

EXERCÍCIO ENERGÉTICO 1

Respire profundamente, relaxe e volte-se para dentro de si mesmo.


Tencione fazer o máximo uso das energias que o estão inundando neste
momento. Estenda a sua consciência até o décimo segundo chakra, onde
quer que ele esteja para você. A partir de seu décimo segundo chakra,
ouça o som da intenção que ressoa dentro de seu corpo. Imagine todas as
pulsações de luz proveniente do espaço longínquo se movendo em sua
direção. Enquanto essas ondas vêm em sua direção, ouça a resposta de
toda a vida existente. Imagine uma fina teia de aranha que compõe o seu
cosmo. Conforme puxa a energia através dessa teia, ela começa a zumbir,
a cantar e a informar todas as partes que a compõem.
Deixe que essas ondas de luz venham para o seu planeta e sinta
que você é um irmã para a consciência expandida. Deste momento em
diante, tencione ter acesso às freqüências de consciência que nós, como
pleiadianos, tornamos disponíveis a você, alegremente e sem esforço.
Sinta uma abundância de criatividade expressar-se através de seu ser e,
desinteressadamente e com grande coragem, use esta luz criativa,
enquanto ela se move através de você e dá novas opções ao planeta.
Conforme essas ondas de luz chegam através de seu décimo
segundo chakra, imagine a Terra recebendo o impacto de ondas gigantes
de luz, com milhares de quilômetros de comprimento e largura, inundadas

264
por minúsculas formas geométricas. Cada um de vocês tem o potencial de
reativar a Biblioteca Viva, usando os dons da própria mente, dos impulsos
e das intenções. Sinta a Terra sendo inundada por ondas de luz. Por
alguns momentos, imagine que cada partícula de vida sabe que nunca
será destruída – que a destruição é uma ilusão do jogo do Criador
Primordial. Você é, de fato, um Mestre do Jogo. Encontre a arca do
tesouro que você guardou. Ela contém sua verdade mais valiosa, que você
esconde até de si mesmo. Ao ousar abrir a arca, verá a si mesmo – uma
versão de si mesmo que é o Criador Primordial, criando paz e liberdade
novamente neste mundo.
Tenha a intenção de que a soma total de sua inteligência seja
livremente partilhada entre todos, e que os dons, talentos e habilidades
que cada um de vocês tem se espalhe para o resto do mundo, para que a
cura possa ocorrer. Tenha a intenção de que seu corpo irradie amor. Crie
uma espiral com este amor e saiba que está ligado a um grande propósito.
Você não está sozinho; contudo, precisa caminhar e agir sozinho para se
descobrir. Envolva-se nessa espiral de amor e tencione lembrar-se quem
você é.

EXERCÍCIO ENERGÉTICO 2

Abra a imaginação e viaje para dentro de si. Respire profundamente


algumas vezes e relaxe. Imagine que se encontra de pé num círculo de
pessoas. Você está de mãos dadas com essas pessoas. Há uma brilhante
luz fúcsia, dourada e branca descendo, criando um pilar de luz. Agora,
imagine a Terra como uma Biblioteca Viva cheia de incomparável
vitalidade. Tudo está irradiando luz e você nunca viu a Terra tão viva assim
antes. Mantenha a imagem, segurando as mãos das pessoas do círculo e,
ao mesmo tempo, deixe uma parte de si separar-se.
Entre no círculo e no pilar de luz. Acesse o pilar de luz e siga nossa
intenção, de modo que possamos levá-lo a um outro lar, as Plêiades.
Deixe sua imaginação e sua confiança leva-lo para cima. Sinta uma
leveza, uma alegria, um profundo sentimento de conexão e saudade.
Agora, encontre-se na sua concepção das Plêiades. Observe, sinta e
reconheça. Dê para a fonte que o criou algo significativo. A maior coisa
que pode dar é sua compaixão, que é a capacidade de compreender,
porque as coisas foram feitas da maneira que o foram. Essa compaixão
abre a capacidade que você tem de ver e sentir os resultados de eons de
tempo. Corredores são abertos a você para que encontra a verdade que
pulsa dentro de cada célula de seu próprio ser. Dê o que puder e o que
quiser a este lugar que é o seu lar e encontre uma exultação e um

265
propósito dentro dele. Tenha a intenção de que seja realizada uma
mudança e que uma profecia seja cumprida. Tenha a intenção de que
suas próprias criações retornem a seu criador, para libertar o criador.
Volte a atenção para a sua própria respiração, respire suavemente e
envie uma vibração de alegre exaltação, liberação e entendimento para
esse local que é o seu e o nosso lar. Sinta, por alguns momentos, o que
está retornando a você. Agora imagine-se na palma de uma imensa mão.
Você se encontra em um círculo junto com as outras pessoas de seu
grupo. Essa mão imensa parte das Plêiades e suavemente o coloca de
volta na Terra, em seu próprio jardim, como se você fosse a mais delicada
e valiosa das criaturas. Veja-se correndo, pulando e brincando como se
fosse uma criança. A sua vitalidade e a da Terra são agora maiores do que
quando você começou o exercício. Sorria e permita que a emoção e as
lágrimas de reconhecimento façam o trabalho delas – abrir seu coração
para todos os domínios, em todos os mundos. O que você realizou, neste
momento de compaixão, foi uma grande conquista.

A arte de sonhar

Dom Juan afirmava que nosso mundo, que acreditamos ser único e
absoluto, é apenas um em meio a um conjunto de mundos consecutivos,
arrumados como as camadas de uma cebola. Dizia que, apesar de sermos
energeticamente condicionados a perceber apenas nosso mundo, ainda
temos a capacidade de entrar nessas outras regiões - que são tão reais,
únicas, absolutas e envolventes como nosso mundo. Ele explicou que,
para percebermos essas outras regiões, precisamos não apenas desejá-
las, precisamos de energia suficiente para agarrá-las.Ele dizia que sua
existência é constante e independe de nosso conhecimento, mas sua
inacessibilidade é totalmente consequência de nosso condicionamento
energético, que é insuficiente. Em outras palavras: apenas por causa de
nosso condicionamento energético, somos compelidos a presumir que o
mundo de nossa vida cotidiana é o único mundo possível.
Ter capacidade de "ensonhar", ou seja, controlar nossa atenção
sonhadora e nos tornarmos lúcidos nos sonhos, nos leva a vivenciar outras
realidades. Perdemos o cabresto que nos faz crer que só existe a
realidade cotidiana, terrena.
"Sonhar" é real para um guerreiro porque nisso ele pode agir
deliberadamente; pode escolher ou recusar, pode escolher dentro de uma
variedade de itens aqueles que conduzem ao poder e depois pode
manipulálos e utilizá-los, enquanto que, num sonho comum, ele não pode
agir deliberadamente. Se você quer comparar as coisas, posso dizer que

266
talvez seja mais real. No "Sonhar" você tem poder; pode modificar as
coisas; pode descobrir uma infinidade de fatos ocultos; pode controlar o
que quiser.
A arte do "Sonhar" nos dá infinitas possibilidades, e entre elas
podemos destacar:
- Capacidade de conhecer outros lugares "físicos" ( a partir da visão do
duplo de cada local) e "não-físicos ( outras dimensões).
- Atingir um grau maior de sabedoria ao acessar conhecimentos
diretamente da fonte universal.
- Entrar em contato com a Essência do Próprio Ser, nosso "outro eu".
- Influenciar pessoas e situações acessando diretamente o inconsciente do
outro e lá colocando ordens (cura, acordos, estabelecimento de vínculos)
- Buscar energias e equilíbrio para o próprio ser.
O sonhar está diretamente ligado ao desenvolvimento pessoal, que
se dá através do aumento do nosso poder pessoal. Com o aumento da
nossa energia conseguimos controlar os movimentos do ponto de
aglutinação, o centro responsável pela nossa percepção, e isso tira todas
as máscaras ilusórias que nos prendem a essa realidade. Quem
consegue atuar no sonho nunca mais será a mesma pessoa nesta terra.
Os Feiticeiros Toltecas do México antigo desenvolveram um conjunto
de práticas destinadas a recondicionar nossas capacidades energéticas de
perceber. Chamavam esse conjunto de práticas de a arte do “Sonhar”.
Para esses xamãs o ato mais significativo da magia é “ver” a essência da
energia como ela flui livremente no universo. Nesse sentido a arte do
“Sonhar” é uma forma de libertar e ampliar nossa percepção. E o processo
tem início no sonho, para depois ser transportado para nossa realidade
cotidiana, quando estamos acordados.
Os feiticeiros Toltecas do México antigo ancoraram a arte do
“Sonhar” em cinco princípios que eles viram no fluxo de energia dos seres
humanos e do universo. Eles viram que:
1- filamentos de energia do universo que passam pelo nosso casulo
luminoso e pelo nosso ponto de aglutinação podem ser aglutinados em
percepções coerentes.
2- deslocando o ponto de aglutinação filamentos de energia diferentes e
estranhos começaram a passar através dele, envolvendo a consciência e
forçando a aglutinação desses campos de energia estranhos numa nova
percepção fixa e coerente.
3- nos sonhos comuns o ponto de aglutinação se movimenta sozinho para
outro ponto no interior ou na superfície do nosso corpo luminoso.
4- o ponto de aglutinação pode ser movimentado para fora do ovo
luminoso, para filamentos externos.

267
5- Através de disciplina, é possível cultivar e realizar, no decorrer do sono
e dos sonhos comuns, um deslocamento sistemático do ponto de
aglutinação e conseguir fixar ele em posições do sonho, mantendo assim a
coesão e a consciência no sonho.
A segunda atenção é como um oceano, e a atenção sonhadora é
como um rio que deságua nela. A segunda atenção é estar consciente de
mundos inteiros, tão totais quanto o nosso, ao passo que a atenção
sonhadora é estar consciente dos itens de nossos sonhos.” " Don Juan
descreveu a atenção sonhadora como o controle que adquirimos sobre
nossos sonhos depois de fixar o ponto de aglutinação em qualquer
posicionamento novo para o qual ele tenha se deslocado durante o sonho.
"Sonhar" é um corolário da sua impecabilidade no dia a dia. Aquele
velho nagual estava certo novamente: Não existe um "Sonhar" consciente
sem um tonal ajustado.
Você ainda não está verdadeiramente pronto para fundir sua
realidade de sonho com sua vida cotidiana. Precisa recapitular mais a sua
vida- disse Dom Juan. A recapitulação de nossas vidas nunca termina, não
importa que tenhamos recapitulado direito- disse Dom Juan. - O motivo
das pessoas comuns não terem vontade própria nos sonhos é nunca
terem recapitulado, e suas vidas ficam cheias até a borda de emoções
como lembranças, esperanças, medos, etc. "Os guerreiros”, por outro lado,
são relativamente livres de emoções pesadas e opressivas, por causa da
recapitulação. E se alguma coisa faz com que eles fiquem bloqueados,
como está acontecendo com você, a suposição é que ainda existe alguma
coisa neles que não está suficientemente clara.
Recapitular e "Sonhar" andam lado a lado. À medida que
regurgitamos nossas vidas nós ficamos mais e mais leves. A recapitulação
liberta a energia aprisionada dentro de nós, e sem essa energia liberada o
"Sonhar" não é possível."

Sonhos Lúcidos

Todas as vezes que consegui ficar lúcido num sonho, a primeira


sensação sempre foi a de uma tremenda euforia. Em seguida, quando
esse entusiasmo todo não fazia acordar logo de cara, a curiosidade
tomava conta e assim o desejo de fazer as experiências mais mirabolantes
como: atravessar paredes, lançar raios, voar, fazer sexo, criar
personagens, tornar-se algum personagem, encontrar números da sorte,
obter respostas de problemas, olhar-se num espelho, dançar na frente de
um espelho, fazer entrevistas etc. e até hoje a empolgação de continuar

268
fazendo mais experiências só aumenta. Uma coisa importante é que
conquistar a consciência nos sonhos não é algo difícil de se conseguir.
Com simples anotações de sonhos num diário e um pouco de leitura sobre
uma das inúmeras técnicas (qualquer um pode escolher ou desenvolver
uma que lhe seja mais compatível) já é possível obter sonhos lúcidos. O
que é mais desafiador é conseguir aumentar a frequência desses sonhos e
conseguir permanecer por mais tempo no estado de sonho lúcido.
Principalmente porque um dos fatores é não ir dormir muito cansado.
“Sonho lúcido” é quando você percebe que está sonhando, mas sem
acordar do sonho. Você está totalmente consciente do sonho e pode fazer
quase tudo o que quiser dentro dele. O sonho lúcido é o que há de mais
moderno em entretenimento doméstico. Sua mente se torna o teatro e
você é o produtor, diretor, escritor e ator principal. Você pode roteirizar a
história de amor perfeita ou a aventura mais louca. Os sonhos lúcidos
também podem ser usados para resolver problemas, ensaiar situações e
resolver questões psicológicas. Do trivial ao transcendente, os sonhos
lúcidos são um espectro de experiências que se ocupam com questões
mundanas e também com a auto-realização.
Indo mais fundo, os sonhos lúcidos podem evoluir para a ioga dos
sonhos e se tornar uma prática espiritual. Isso não quer dizer que os
sonhos lúcidos não sejam espirituais. Mas como prática, e em contraste
com a ioga dos sonhos, os sonhos lúcidos não possuem tantos métodos
de orientação espiritual. “Yoga” é disciplina, aquilo que une.
A maior parte das pessoas sonha quando adormece, o sonho é um
processo de desdobramento inconsciente e de criação de imagens no
mundo astral, sem controle direto da consciência.
AVANÇAR! Para a exploração lúcida dos mundos dos sonhos e para
além deles! Porém, qual o elemento mais determinante para quem quer ter
sonhos lúcidos? Adotar um bom método (MILD, Tholey, WBTB)? Reality
Checks (olhar para as mãos, acionar interruptores) que funcionem para
você? Alimentação (vit. B6 + triptofano da banana) ou uma vida saudável
(durma bem)? Obviamente que todas alternativas são muito importantes.
Entretanto, a aprender a recordar os sonhos é a primeira chave. Sem isso
fica impossível reconhecer a estrutura da realidade mental dos sonhos.
Vale lembrar que mesmo os sonhos lúcidos podem ser esquecidos.
Quanto melhor recordar seus sonhos, melhor serão suas chances de ficar
consciente num sonho. De nada adianta ficar lúcido num sonho e depois
não lembrar dele. Para aqueles que se queixam da péssima memória com
os sonhos, vale as recomendações básicas: comece a anotar os seus
sonhos, por mais curtos e fragmentados que eles sejam.

269
É necessário treinar nosso cérebro para recordar o que sonhamos.
Na medida que exercitamos nossa capacidade de recordação, vamos
aprendendo a reconhecer a estrutura da realidade dos sonhos. Isso por si
só, pode nos tornar capazes de flagrar que estamos apenas sonhando. O
preparo mental implicado neste processo é muito parecido com o que você
adota quando resolve acordar numa certa hora e ir dormir quando põe
para tocar o despertador mental. A capacidade de acordar dentro dos
sonhos pode ser considerada uma espécie de refinamento da capacidade
de acordar dos sonhos. Isso é desenvolvido com o tempo.
O “sonho lúcido”, no qual tomamos nota explícita, ou tomamos
conhecimento, do fato de que estamos sonhando enquanto
permanecemos adormecidos em relação ao mundo externo. Isso significa
que sabemos que estamos sonhando e também sabemos que sabemos
disso. Isso nos permite direcionar nossos sonhos na direção de nossos
objetivos e – o que é mais importante – de nossos ideais, que não podem
ser buscados exceto conscientemente. Implícito no sonho lúcido está o
conhecimento de que você está sonhando, o que significa que você não
está acordado. No entanto, este é o paradoxo: assim como o início da
sabedoria é “saber que você não sabe nada”, também o início do despertar
é saber que você não está acordado. O que há pouco tinha controle total
sobre você agora está sob seu controle. Em vez de ser levado pelos
ditames do sonho, você agora dita o sonho. Você pode fazer o que quiser.
O despertar intra-onírico exige uma cuidadosa disciplina da atenção
durante o dia. Temos que aprender a discernir constantemente se estamos
em contato com cenas oníricas ou físicas. O discernimento advém da
constante educação do funcionamento consciente durante a vígilia, isto é,
provém de um treinamento psíquico efetuado enquanto estamos inseridos
na realidade tridimensional. A análise dos sonhos revela que boa parte da
dinâmica onírica é reflexo da postura conscientemente assumida.
As melhores avenidas para armazenar energia sonhadora são todas
as respirações de fogo, tirando e liberando energia da natureza,
recapitulação minuciosa e recuperação de energia, e conservação
prudente de energia sexual.
Se quisermos obter sonhos lúcidos, temos que adquirir o costume de
nos perguntarmos constantemente durante o estado de vigília: “Onde
estou? Estou em um sonho? Estas cenas que vejo agora são oníricas?”. A
indagação precisa ser sincera e a dúvida verdadeira. É importante que a
resposta seja buscada pela observação direta dos acontecimentos
externos e, coloquemos muito cuidado nisso, sem o recurso à inferência
ou ao pensamento. Os raciocínios sabotam o discernimento. Na prática
diária de auto-indagação devemos substituir o raciocínio comum pela

270
observação direta da realidade circundante como meio de diferenciação.
Por meio desta, a natureza onírica ou não-onírica dos acontecimentos
configurados na realidade presente que nos cerca se revela por si mesma.
A aprendizagem proposta é a de captar a natureza do aqui-agora
sentindo-a no fundo da consciência, por meio da observação lúcida e sem
inferências adicionais. Trata-se de aprender a ver o mundo com o
interesse sincero em descobrir o teor de sua existência. Para tanto, os
próprios elementos componentes da cena presencialmente vivida e
questionada nos revelam se estamos sonhando. Não é necessário que
fiquemos pensando a respeito para concluir, pela lógica que conhecemos,
se estamos acordados ou dormindo.
Ao focarmos a consciência durante o dia na realidade imediata que
nos cerca, com o intuito de captar se estamos no mundo tridimensional ou
no mundo onírico, a estamos ampliando, aumentando. Isso se reflete à
noite: em pleno sonho, repetimos o funcionamento consciente indagatório
ao qual nos acostumamos. Disso resultará o reconhecimento de que
adentramos à realidade imaginal paralela à física. A realidade onírica se
revela naturalmente ao observador atento porque a lógica que a rege
subverte a lógica dos acontecimentos tridimensionais.
Nossa vida possui duas faces paralelas: a vígilia e a onírica. Ambas
são igualmente reais à sua própria maneira e merecem cuidado.
Extroversivamente polarizados, desprezamos o mundo dos sonhos e o
tratamos como se não existisse. Em decorrência dessa postura, não
desenvolvemos a lucidez intra-onírica. A disciplina constante repercurte no
inconsciente, nas horas do sono. Então ativamos o funcionamento
consciente intra-onírico e podemos viajar pelas mais remotas paragens do
mundo interior. À educação da atenção de vígilia podemos acrescentar
uma técnica de ingresso lúcido no mundo onírico que se chama
“relaxamento vigilante”. Trata-se de um procedimento fundamentado na
preservação da lucidez conforme o sono se instala. A alta lucidez baseia-
se numa técnica conhecida como ‘relaxamento vigilante’, na qual o corpo
se torna cada vez mais relaxado enquanto a mente permanece vígilante e
atenta.
O elemento mais importante, sem dúvida, é ter o estado de espírito
certo. Embora seja verdade que você tem que querer que aconteça para
ter qualquer chance de sucesso, você deve esperar que isso aconteça.
Uma das principais razões pelas quais meu sucesso é tão altíssimo é que
sei que terei um sonho lúcido nas noites em que tento fazê-lo. Claro que
uma das razões pelas quais eu sou tão certo é que tive muitas tentativas
bem-sucedidas para construir minha confiança. Em um sonho lúcido de
alto nível, você não está totalmente adormecido nem totalmente acordado;

271
ou, em outras palavras, você está dormindo e acordado ao mesmo tempo.
O estado lúcido é um estado limítrofe localizado entre a definição clássica
de sono e vigília. Portanto, os gatilhos que funcionam melhor não se
prestam a adormecer facilmente, nem deveriam. Uma chave importante
para o sucesso é ficar quieto e apenas ser paciente. Não há pressa. Tenha
fé que os sonhos virão. Isso leva um pouco de tempo para se acostumar.
Permaneça relaxado e deite-se pacientemente.
Vá e olhe para si mesmo em um espelho, olhe diretamente em seus
olhos e diga para você mesmo: vou acordar desperto no sonho. Agora
torne isso em uma instrução para o seu subconsciente. Sente-se e mande
isso diretamente para o seu subconsciente. Não faça isso muito forçado
nem com muito trabalho. Apenas mande isso e deixe ir. A transição refere-
se à experiência de passar do estado físico para o estado de sonho com
um fio contínuo e ininterrupto de consciência. Ao passar por uma
transição, você não perde sua identidade; nem perde a memória; nem
você perde a linha de pensamento: nem mesmo por uma fração de
segundo. É um continuum de consciência. A transição do estado físico
para o estado de sonho é uma das etapas mais diferentes um do outro. Os
sonhadores lúcidos acreditam que é uma das experiências mais profundas
que alguém pode alcançar. Os sonhos lúcidos induzidos pela vigília
incluem uma transição consciente do estado físico para o sonho. Implícito
no sonho lúcido está o conhecimento de que você está sonhando, o que
significa que você não está acordado. No entanto, este é o paradoxo:
assim como o início da sabedoria é “saber que você não sabe nada”,
também o início do despertar é saber que você não está acordado. Com
os sonhos lúcidos você descobrirá um mundo incrível que espera por você
na quietude da noite. Este mundo está cheio de maravilhas, mistério e
profundidade infinita. É o mundo do espaço interior da sua própria mente,
uma dimensão da realidade tão profunda e vasta quanto o espaço exterior
do cosmos.
Lucidez não é uma questão de “tudo ou nada”. Existe um espectro
que vai do pouco lúcido ao hiperlúcido, e dos mais curtos flashes de
lucidez aos sonhos lúcidos que duram mais de uma hora. Por exemplo,
estar pouco lúcido pode envolver reconhecer em algum nível que você
está tendo um sonho, mas não agir com total compreensão. O sonho
hiperlúcido seria a plena compreensão da natureza onírica de sua
experiência no sonho, reconhecendo que até mesmo o sentido do eu no
sonho está sendo sonhado. A hiperlucidez também pode se referir a cores
e formas no sonho que parecem mais vibrantes e reais do que qualquer
coisa na experiência de vigília. Você também pode ficar inconsciente em
um sonho, tornar-se lúcido e então cair novamente na inconsciência. A boa

272
notícia sobre os sonhos lúcidos é que, embora seja necessária prática
para ter esses sonhos regularmente, basta um instante de reconhecimento
e você estará “dentro”. Um lampejo de reconhecimento transforma um
sonho não lúcido em um sonho lúcido.
A recordação dos sonhos é um dos aspectos mais importantes do
treinamento dos sonhos lúcidos. Alguns dizem que até que você se lembre
regularmente dos seus sonhos, você pode ter sonhos lúcidos todas as
noites.
Existem vários tipos de sonho, basicamente, a maior parte deles é
mera repetição das atitudes diárias e servem para a satisfação dos
desejos reprimidos durante o dia. Para transpor a barreira dos sonhos é
necessário transpor a barreira dos desejos que nos mantém presos no dia
a dia, para se deixar conduzir pelo cavalo branco da consciência, é
necessário se separar do cavalo negro do desejo, isso é inquestionável.
Em vez de sonharmos, inconscientemente, devemos nos projetar ou
desdobrar conscientemente, para que possamos viajar de forma
consciente na dimensão astral, a prática de realizar a projeção consciente.
Os sonhos são uma ponte para outros mundos e também para o
autoconhecimento, caminho que todo mago deve percorrer, pois quem
trilha um caminho mágico tem grandes responsabilidades. Aprendendo a
entender o que seus sonhos querem dizer, você aprenderá mais sobre si
mesmo, o que vai ajudá-lo a lidar com as áreas da sua vida que porventura
não vão muito bem.
Para os místicos, dormir é cruzar uma porta para possibilidades
infinitas. Algumas pessoas acham que perdem tempo quando dormem!
Estão equivocadas! Se soubermos trabalhar bem o período em que
dormimos, viveremos em dobro, literalmente. A maioria das pessoas já
utiliza a noite para fazer coisas úteis por elas mesmas, embora não
tenham a menor idéia disso. Mas você que é um mago, você que é uma
bruxa, um iniciado, sendo estes seus primeiros passos ou não, tem
obrigação de saber como aproveitar melhor todos os seus recursos.
O guerreiro é a parte viva de um mito. Quando sonhamos não
podemos raciocinar; apenas agir. Lá, curas podem ser alcançadas com
muita facilidade, quase sem esforço. O difícil é fazer as pessoas
sonharem. Os sonhos das pessoas comuns não são os sonhos do
guerreiro. Elas sonham sonhos comuns, ordinários. Sonhos reais têm
propósito; sonhos comuns não. Sonhar sempre tem um objetivo prático.
Quando sonhamos podemos fazer quase qualquer coisa que nosso
coração deseja. Você precisa ser o que você quer ser para dar a
impressão que é. Essa é a natureza da mágica. Guerreiros estão no
mundo sem fazer parte dele. Não importa o que você diga, contanto que

273
tenha o poder para dizer. E a forma de conseguir esse poder é através dos
sonhos.
Em todas as grandes tradições espirituais em que a meditação
desempenha um papel importante, a palavra de ordem é “Desperte!
Despertar no sonho é dirigido tanto para o nosso despertar da vida-como-
um-sonho quanto para nos tornarmos lucidamente conscientes em meio
aos sonhos durante a noite. Ambas as situações, bem como o nosso
despertar dentro delas, estão intimamente ligados. Esse despertar traz
consigo a clareza e a liberdade que constituem a base para a verdadeira
felicidade. Essa clareza é uma porta de entrada para a liberdade interior.
Despertando para o potencial de cada situação, você se torna o senhor do
seu destino. A prática dos sonhos pode aumentar a criatividade, resolver
problemas, curar as emoções ou oferecer um teatro interior brilhante – o
máximo do entretenimento. Também pode ser um valioso auxílio para a
realização do despertar espiritual.
Ter sonhos lúcidos significa simplesmente estar consciente de que
se está sonhando. O objetivo é ajudá-lo a explorar a arte dos sonhos
lúcidos. Você pode usá-la para desbravar seu subconsciente e se tornar
um onironauta – um “navegador dos sonhos”. Um onironauta é alguém que
aprendeu a viajar conscientemente pelo mundo dos sonhos, explorando
esse território com alto grau de clareza e consciência.
A partir do momento em que alcançar a lucidez no sonho, você vai
se lembrar de toda sua vida e poderá pensar logicamente, tomar decisões
e explorar a paisagem onírica da mesma forma que faria com o mundo
físico. Também terá influência direta sobre o mundo dos sonhos e seu
conteúdo. Enquanto em um sonho comum você reagiria às cegas, incapaz
de refletir sobre a situação em que se encontra, com a lucidez você tem as
rédeas nas mãos – sua mente está “desperta” o bastante para dar as
cartas. Converse com algum personagem, voe sobre uma cadeia de
montanhas, respire embaixo d’água, atravesse paredes – esses são
apenas alguns exemplos do que pode fazer. Ao deixar o confinamento do
corpo físico, você será livre para viajar grandes distâncias, mover-se numa
velocidade incrível ou mesmo transcender o tempo como o conhecemos.
Ao perceber que não está separado do mundo interior de seus
sonhos, você pode mover, dar forma e mesmo criar objetos do nada. Tudo
ao seu redor assume uma relação íntima com você: o mundo em torno é
você! Pode parecer exagero, mas não é: as sensações de tato, olfato,
visão, paladar e audição parecerão tão vivas no sonho quanto na vida
desperta. Se você viu o filme Matrix, tem uma boa ideia de como é esse
mundo: um lugar que parece real, mas é apenas uma projeção da mente.

274
Imagine ficar livre de seu corpo físico, deixando para trás coisas
bobas como a gravidade. Imagine-se voando, sentindo o ar tocando seu
rosto, a falta de gravidade, a quebra de todas as leis newtonianas.
Imagine-se vendo e conversando com os habitantes do seu sonho, que lhe
dão insights e lhe trazem conhecimentos valiosos sobre a sua vida. Você
tem a chance de encontrar, escondida nesse lugar, a sabedoria que pode
mudar a sua realidade.
Tudo de que você precisa para dar o salto do sonho comum para o
lúcido é reconhecer o estado onírico. Essa percepção pode surgir de
muitas maneiras, mas também ser induzida com o auxílio de algumas
técnicas simples. O ensonho (a arte de sonhar consciente) é algo
dinâmico, é a conseqüência de um processo de concentração contínua
que equivale a manter uma verdadeira batalha contra nossa falta de
atenção. O ensonho acontece quando nós alcançamos certo equilíbrio em
nossa vida diária, e só depois de silenciar o diálogo interno.
O sonho lúcido é uma experiência que vai além das palavras. As
tentativas de descrevê-lo com frequência fracassam. Há as aventuras
emocionantes de voar e ter superpoderes. Depois de experimentar alguns,
muitas pessoas passam por uma alteração drástica em sua maneira de
enxergar a vida – percebem que há muito mais na realidade do que
conseguem ver. Algumas até deixam de ter medo da morte e outras
relatam que os sonhos lúcidos foram as experiências mais ricas que já
tiveram na vida. Este é o ponto principal dos sonhos lúcidos: a consciência
do momento presente no mundo dos sonhos.
Conceitos insólitos, como os que aprendemos na bruxaria, devem
ser repetidos várias vezes, até alcançar um nível de saturação no qual
passam a ser parte de nosso âmbito de perícia. Como no caso do
ensonho, muitos afirmam que não sonham durante as noites, mas sonham
sim; a razão de acharem que não, é principalmente por falta de energia;
isso, somado à falta de interesse, é o que não lhes permite fixar a atenção,
de maneira que não podem nem sequer se lembrar do que sonharam. Por
isso, é tão importante reafirmar constantemente, para si mesmo, que sim,
eu ensonho! E reafirmar que é um ensonhador. Esse é o primeiro passo
para que se torne realidade.
No princípio, o intento para ensonhar deve ser feito a partir de uma
posição sentada ou reclinada, nunca deitado. Somente depois de
conseguir o controle do corpo de ensonho, é que se pode ensonhar a partir
de qualquer posição. Um bruxo experiente conhece o intento de entrar no
corpo de ensonho inclusive a partir da posição desperta; assim é como se
cria o outro, o gêmeo, o duplo. Pode se dizer que o duplo é a culminação

275
da arte da espreita e do ensonho, pois é quando ambas as artes coincidem
num mesmo resultado.
A espreita é a arte de estar consciente de si mesmo enquanto está
desperto, enquanto que o ensonho é a arte de manter a consciência
enquanto dorme.
O processo de saturação tem o dom de transformar ordens comuns
em comandos poderosos. Tem a capacidade de arrancar a pessoa do
modo cotidiano, para lançá-lo a um mundo de prodígios. Nossas ordens,
se elas são repetidas constantemente, tornam-se a vontade da Águia.
Ter sonhos lúcidos significa ser capaz de saber que aquilo é um
sonho enquanto está sonhando. Alguém que domina essa habilidade pode
dormir e acordar dentro do próprio sonho. Com essa consciência única,
você consegue se comportar como alguém que está acordado, exercendo
o livre-arbítrio, a imaginação e a memória do estado de vigília. Ao alcançar
a lucidez, você pode explorar e até mudar os elementos do seu sonho.
Sonhar é uma habilidade que pode ser aperfeiçoada com prática e foco.
Assim que você acordar, não se mexa! Você provavelmente
despertou após um sonho, mas talvez não se lembre. É fundamental que
não se mexa e que procure se recordar no que estava pensando ou
visualizando, isso ajudará a retornar aos sonhos, mantendo seu cérebro
nas ondas REM do sono. Poderá acontecer alguma paralisia do sono ou
alucinação hipnagógica
Os cochilos são uma ótima maneira de trabalhar com sonhos lúcidos,
especialmente sonhos lúcidos induzidos pela vigília. É fácil passar do
estágio 1 do sono para o REM rapidamente durante uma soneca, portanto,
sonhos lúcidos induzidos pela vigília são mais prováveis. Assim começou
meu caso de amor com o cochilo. Em vez de resistir, ouvi meus ritmos
internos e permiti essas pequenas pausas. Em vez de interromper meu
retiro, cochilar acrescentou clareza e energia à minha prática. Cheguei ao
ponto em que eu poderia passar do estado de vigília para o sono em
segundos.

Exercícios de Sonho Lúcido

Os três ingredientes essenciais para os sonhos lúcidos são (1) forte


motivação, ou intenção, (2) boa recordação dos sonhos e (3) prática das
técnicas de indução.
Direcione seu intento para a lucidez interior do seu sonhar - isto é,
determine enquanto está indo dormir que irá sonhar. Diga a si mesmo
várias vezes ate cair no sono - eu vou ensonhar. Escolha a entrada,

276
procure suas mãos, ouça sua própria voz, e diga-se, - assim que eu
encontrar minhas mãos ou ouvir minha própria voz, estarei ensonhando.
Com as técnicas você vai aprender:
1. Como se reconectar com seus sonhos.
2. Como ter um sonho lúcido.
3. O que fazer ao alcançar a lucidez.
As orientações para alcançar a lucidez são práticas. Começaremos
com os fundamentos básicos, ajudando-o a se reconectar com suas
aventuras noturnas. Chega de sonhos nebulosos e truncados. À medida
que fizer progressos, você começará a notar que seus sonhos vão se
tornar mais potentes e vívidos – as memórias serão mais completas.
Aprenda a se reconectar com seus sonhos – caso tenha perdido o contato
com eles, como muitos de nós. Não se apresse. Para dominar a arte dos
sonhos lúcidos, é necessário primeiro ser capaz de se lembrar dos seus
sonhos, estabelecer suas intenções e desenvolver uma desconfiança
saudável em relação à realidade.
Para alcançar a lucidez, mas nada é mais útil do que alimentar um
desejo ardente de se tornar lúcido. A intenção é a chave se você quer se
lembrar dos seus sonhos, incubar um sonho específico, induzir a lucidez
ou dominar qualquer outra dessas técnicas. É a fundação do sonhar
lúcido. Para nós, sonhadores lúcidos, clareza de pensamento, paixão e
intenção são essenciais para explorarmos nossos sonhos e para nos
tornarmos lúcidos.
Cultive um forte desejo de ter um sonho lúcido e faça com que esse
desejo predomine em sua mente antes de você ir para a cama. Ao se
deitar para dormir, dê um último empurrão com a intenção de acordar em
seus sonhos. Com todo o coração que puder, diga: “Esta noite terei muitos
sonhos. Terei bons sonhos.” Um exercício geral para induzir sonhos
lúcidos é a prática da “memória prospectiva”. A memória prospectiva (“de
ou no futuro”) é lembrar de fazer algo no futuro. Quando você tenta se
lembrar de acordar em um sonho, que é um evento futuro, você está
trabalhando com a memória prospectiva, que pode ser fortalecida com
alguns exercícios. Vou lembrar dos meus sonhos. Ficarei lúcido em meus
sonhos.” A mente não sabe a diferença entre um pensamento e uma ação.
Portanto, é importante ensaiar mentalmente o processo para alcançar a
lucidez onírica. Visualize a si mesmo em um sonho, sentindo o entusiasmo
de reconhecer o estado de sonho. Quando estabelecer uma intenção, crie
uma frase simples para representá-la, como: “Estou consciente e lúcido
em meu sonho.” Sinta gratidão por ter experimentado um sonho lúcido
mesmo antes de ele ter acontecido.

277
O sonho de que você se lembra de manhã é a memória do sonho,
não o sonho em si. Sonhos são experiências reais por que passamos
todas as noites. Como nem sempre nos lembramos deles, deixamos de
lado toda uma vida da qual fazemos parte. Lembrar-se de um sonho exige
uma mudança de prioridade e foco. Valorize seus sonhos como
experiências importantes das quais você quer começar a se lembrar e eles
florescerão. Comece a praticar bons hábitos de sono, como ir dormir na
mesma hora todos os dias e descansar bastante. Estabeleça uma intenção
antes de ir para a cama: “Eu vou me lembrar dos meus sonhos.” Acorde do
modo correto, de forma lenta e sem se movimentar. Antes de tentar ter um
sonho lúcido, é importante se lembrar de pelo menos um sonho por noite.
A forma mais comum de se ter um sonho lúcido é alcançar a lucidez
durante um sonho normal. Para isso, você deve exercitar durante a vigília
as técnicas que despertam a consciência, como checar a realidade,
encontrar sinais indicativos de sonhos e estabelecer, antes de ir para a
cama, a intenção de alcançar a lucidez. Para potencializar os resultados,
pegue seu último ciclo REM (ou o que vem antes dele), acorde até seis
horas após dormir e volte para a cama depois. Antes de voltar a dormir,
fique acordado durante quinze a vinte minutos e mantenha seu cérebro
ativo. Tenha a intenção de alcançar a lucidez, encontrar algum sinal de
sonho ou fazer uma checagem da realidade.
Uma prática útil de indução durante o dia é realizar “verificações de
estado” regulares. Uma verificação de estado significa que você
questionará a situação da sua realidade, perguntando-se ao longo do dia:
“Isso é um sonho? Estou sonhando?" como forma de desenvolver uma
atitude crítica em relação à sua realidade.
Permanecer lúcido depois de alcançar a consciência no sonho exige
um equilíbrio delicado de atenção. A maioria dos sonhadores lúcidos
concordaria: não há nada mais frustrante do que alcançar a lucidez apenas
para perdê-la logo depois. A capacidade de se manter consciente é uma
habilidade que todo sonhador lúcido deve aprender se quiser explorar o
mundo dos sonhos. Distrair-se em qualquer atividade de sonho pode
consumir seu tempo e, antes que perceba, você já está de volta ao velho e
conhecido sonho comum. Para dominar a arte dos sonhos lúcidos, você
precisa ficar com um pé dentro do sonho e outro fora. Em outras palavras:
envolva-se com o sonho, mas nunca esqueça que está sonhando. Para
prolongar sua lucidez, tente se ancorar no sonho aplicando técnicas que
vão aguçar seu foco e constantemente farão com que você se lembre de
que está sonhando.
Experimente esta técnica, para estabilizar o sonho e prolongar sua
lucidez: gire ao redor de seu próprio eixo (no sonho), como se estivesse

278
fazendo uma pirueta. Simplesmente gire em sentido horário ou anti-
horário. As informações responsáveis por nosso equilíbrio e movimento
estão claramente ligadas às informações visuais. O ato de girar em sonho
tem muitos benefícios. A experiência sensorial de girar produzirá uma
imagem estável do mundo ao seu redor e tornará mais difícil para sua
mente se comunicar com seu corpo físico em sono profundo – o que
poderia acordá-lo.
É possível observar seu corpo caindo no sono enquanto sua mente
permanece acordada e alerta. Você quer que sua mente fique desperta
enquanto seu corpo adormece. Em outras palavras, você quer cair no sono
conscientemente. Esse feito incrível se resume a uma ideia simples:
permitir que seu corpo relaxe por completo enquanto você mantém a
consciência clara. Essa transição oferece uma entrada direta para o sonho
lúcido. Acordado
apenas minutos antes, você pode ir para seus sonhos como se tivesse
indo para o trabalho. Não há necessidade de alcançar a lucidez com essa
técnica, já que você não chegou a perder a consciência e, portanto, não
precisa recuperá-la.
Xamãs e iogues praticam essa técnica de abordagem de indução
para um sonho lúcido, é chamada de Wild (ou “Wake- Initiated Lucid
Dream”; em português, “Sonho Lúcido Iniciado na Vigília”). Lembre-se de
que a lucidez é um espectro, não um interruptor que liga e desliga.
Normalmente, o Wild apresenta um nível muito alto de lucidez: são sonhos
muito estáveis e longos, permitindo uma influência plena e consciente
sobre sua paisagem interior.
Os Wilds nos lembram o que os xamãs vêm nos dizendo há séculos.
Não temos que dormir para sonhar. Para eles, acessar o reino do espírito
é uma questão de simplesmente deslocar a consciência. Os xamãs
acreditam que nossa alma existe em muitos níveis de realidade, que
correm paralelos e simultâneos ao mundo físico. Acreditam que temos
acesso a esses reinos a qualquer momento apenas alterando nossa
atenção. Para eles, um Wild é um caminho direto para o mundo dos
sonhos, um caminho no qual podem entrar a qualquer momento.
Xamãs, iogues do Tibete e místicos conheciam a importância desse
estado limítrofe como um trampolim para receber visões intuitivas ou viajar
para outras realidades. Eles consideravam que esse estado contribuía
para o desenvolvimento de habilidades psíquicas. Se você tiver qualquer
interesse em assuntos como intuição, telepatia, visões ou outras
capacidades “sutis”, então a zona crepuscular é seu parque de diversões.
Na maior parte do tempo, enquanto dormimos, passamos direto por
essa zona. Com frequência, um minuto depois de colocarmos a cabeça no

279
travesseiro, apagamos como uma criança depois de um longo dia
divertido. Aprender a ficar mais tempo na zona crepuscular é o melhor
meio de sonhar conscientemente. “Se você puder desenvolver a
capacidade de entrar e permanecer em um estado de consciência
relaxada e de fluxo livre, as imagens virão”.
Você vai perceber que os passos iniciais para a técnica Wild são
semelhantes aos do sonho lúcido normal. Usar o recurso de “acordar e
voltar para a cama”, por exemplo, é importante quando se tenta qualquer
tipo de técnica. A lógica é a mesma: aproveite seu último ciclo REM, que o
jogará diretamente dentro do sonho. Isso também ajuda a obter um estado
de relaxamento quase hipnótico. Assuma uma atitude divertida e
brincalhona! Quanto mais tentar forçar essa indução, mais difícil será. O
relaxamento não é algo que se possa forçar, e esta não é a hora de ser
competitivo. Apenas permita que seu corpo faça o que naturalmente já faz
– dormir. Um Wild não exige de você muito mais do que relaxar a
aproveitar o espetáculo.
A arte de sonhar é a capacidade de utilizar os sonhos comuns da
pessoa e transformá-los numa conscientização controlada, em virtude de
uma forma especializada de atenção, a segunda atenção.
Sonhar é, em essência, a transformação de sonhos comuns em assuntos
que envolvem a vontade. Os sonhadores, aplicando a sua atenção do
nagual [sua segunda atenção] e focalizando-a sobre os fatos e
acontecimentos de seus sonhos normais, transformam esses sonhos em
ensonhar.
O compromisso dos bruxos não é com um livro ou com uma
cerimônia, mas com o ensonho. Quando um guerreiro aprender a capturar
a experiência através de seus sonhos, já não importa como lhe são
apresentados os ensinamentos, posto que sua percepção é pura e ele
pode corroborá-la com seu ver.
É necessário, primeiramente, aumentar nossa consciência, pois se
sonhamos aqui com as coisas mundanas, querendo satisfazer nossos
desejos, é claro que também sonharemos no mundo astral, enquanto não
forem eliminados o desejo, a fascinação, não conseguiremos nos libertar
de nossos sonhos, e, portanto, não poderemos viajar de maneira
plenamente consciente no mundo astral e em outros planos superiores da
consciência. É urgente deixarmos de sonhar acordados, para parar de
sonhar dormindo. Devemos ver as coisas no seu sentido prático, objetivo,
e não através da lente dos desejos, que nunca se satisfazem e são pura
ilusão.
Um bom método de se lembrar é simplesmente se conscientizar
durante o dia do seu duplo (o corpo do sonho) e, portanto, sempre sonhar

280
desperto. Se permanecer nesse estado hiperalerta durante o dia nos
tornamos lúcido à noite, no ensonho. Esse é o primeiro passo para trazer o
duplo para o mundo físico e começar a operar completamente no mundo
acordado. A intenção desta prática é afiar e desenvolver o sonhar com o
duplo, tomar consciência dele durante o dia.
Este processo é contínuo. O praticante é constantemente movido a
buscar refinamentos, isso é consumado pela aplicação artística do duplo a
todo esforço – mas primeiro, é claro, temos que nos empenhar para
desenvolvê-lo. O processo é sempre iniciado com a mesma tarefa de
sonhar. Primeiro se empenhe em sonhar que você está em seu corpo,
repleto de bem-estar e que você está olhando sobre seu próprio corpo
físico dormindo deitado na posição e lugar que você genuinamente está.
Forjando o corpo energético remove toda a porção de energia que não é
requerida para manter um lento batimento cardíaco e respiração. Olhe
atentamente seu corpo dormindo, e verifique para sua satisfação que é
realmente você mesmo em seu próprio lugar e tempo. Na posição, o
permaneça imóvel. Explore o sentimento de estar em seu corpo
energético.
Alguns praticantes, podem permanecer dobrados e podem na
verdade fazer seus afazeres diários com seu duplo sonhador!
No mundo dos sonhos as coisas funcionam de um jeito um pouco
diferente do que você está acostumado. Você vai descobrir que tem
capacidade de voar, atravessar objetos sólidos, transcender tempo e
espaço, fazer pessoas aparecerem do nada e construir edifícios e até
mesmo cidades. Mas, para isso, é necessário aprender a falar a linguagem
dos sonhos, a se comportar dentro deles e a influenciar seu entorno,
criando com os olhos da mente. Daqui em diante, ter sonhos lúcidos vai
ficar muito mais fácil. Quanto mais tempo você passar no mundo dos
sonhos, mais as suas habilidades vão se desenvolver.
Você sabe aonde estamos querendo chegar. Os sonhos podem
funcionar como um espelho para nossa mente subconsciente. Quando
pensamos num sonho pela manhã, consultamos nossa vida interior.
Vemos hábitos, pensamentos, medos e padrões recorrentes codificados
na linguagem do sonho. Ao prestar atenção nesses elementos e trazê-los
à nossa consciência, os tiramos do subconsciente e os introduzimos em
nossa mente consciente. Como afirmou Jung, o sucessor de Freud, “a
tarefa do homem é se tornar consciente dos conteúdos do inconsciente
que vêm à tona”. Jung acreditava que olhar para dentro e explorar nosso
universo interior era um modo de aprendermos mais sobre nós mesmos e
nos tornarmos plenos.

281
Faça a escolha consciente de prestar atenção em sua vida interior.
Isso envolve seus sonhos, sentimentos e quaisquer crenças
subconscientes. Olhe para dentro de um sonho como se olhasse para um
espelho e reflita sobre o que vê. Quanto mais consciência tiver de si
mesmo, mais escolhas você terá em relação a seus pensamentos e ações.
Os sonhos lúcidos nos dão uma oportunidade única de explorar nosso eu
interior e buscar conhecimento ou orientação quando lá nos encontramos.
Com o sonho lúcido, podemos começar a misturar a mente subconsciente
com a consciente — revelando e compreendendo mais sobre nós
mesmos.
O procedimento para se chegar ao corpo sonhador começa com um
ato inicial que, pelo fato de ser continuado, desenvolve uma intenção
inflexível. A intenção inflexível leva ao silêncio interior, e o silêncio interior
à força interior necessária para fazer o ponto de aglutinação se deslocar
nos sonhos para posições adequadas. Esta seqüência é o alicerce. O
desenvolvimento do controle vem após ter sido completado o alicerce;
consiste em manter sistematicamente a posição de sonho agarrando-se
com tenacidade à visão do sonho. A prática constante resulta numa
grande facilidade em manter novas posições de sonho com novos sonhos,
não tanto porque a pessoa obtém controle deliberado com a prática, mas
porque cada vez que esse controle é exercido a força interior sai
enriquecida. A força interior, por sua vez, faz o ponto de aglutinação se
deslocar para posições de sonho, que são cada vez mais apropriadas para
proporcionar sobriedade; em outras palavras, os próprios sonhos se
tornam cada vez mais controláveis, e até mesmo ordenados.
O objetivo do sonho lúcido não é passar a vida dormindo, mas trazer
mais consciência à vida cotidiana. Quando aprendemos a alcançar a
lucidez, nos tornamos mais conscientes de nossos arredores, de nossa
realidade e de como nos envolvemos com ela, moldando-a, comunicando-
nos com ela. Estar lúcido no mundo desperto significa estar atento a
ações, decisões e escolhas. Significa estar tão vividamente engajado na
vida que qualquer coisa que tenha vindo antes parece um sonho nebuloso.
O que precisamos desesperadamente é de sobriedade, e só nós
mesmos podemos consegui-la. Sem ela, o deslocamento do ponto de
aglutinação é caótico, como são caóticos nossos sonhos comuns. Assim,
em tudo e por tudo, o procedimento para se chegar ao corpo sonhador é a
impecabilidade em nossa vida diária. Depois que a sobriedade é adquirida
e as posições de sonho se tornam cada vez mais fortes, o passo seguinte
é acordar em alguma posição de sonho. A manobra, embora soe tão
simples, é na realidade um assunto muito complexo – tão complexo que

282
requer não apenas sobriedade mas, também, todos os atributos do
guerreiro, especialmente a intenção
Só precisamos intentar que temos consciência de estar caindo no
sono. Sonhar é algo dinâmico, é a consequência de um processo de
concentração sustentada, que implica uma verdadeira batalha contra
nossa desatenção e o embotamento dos sentidos.
Exercitar a atenção sonhadora é o ponto essencial no sonhar. Para a
mente, entretanto, parece impossível podermos nos exercitar para ficar
conscientes no nível dos sonhos. O elemento ativo desse treinamento é a
persistência, e a mente e todas as suas defesas racionais não podem
enfrentar a persistência. Cedo ou tarde, as barreiras da mente
desmoronam sob seu impacto, e a atenção sonhadora floresce.

Organizar-se para Sonhar

Cada guerreiro tem seu modo próprio de sonhar. Cada modo é


diferente. A única coisa que todos temos em comum é que fazemos
truques para nos obrigar a abandonar a busca. O antídoto é insistir, apesar
de todos os obstáculos e desapontamentos.
Até que o corpo energético esteja completo e maduro, ele é auto-
absorvido. Ele não consegue se libertar da compulsão de ser absorvido
por tudo. Mas se levarmos isso em consideração, em vez de lutar contra o
corpo energético, podemos ajudá-lo. Direcionando o comportamento dele;
isto é, espreitando-o.
Sonhar é real quando a gente conseguiu focalizar tudo. Focalizar o
olhar sobre suas mãos, como ponto de partida. Depois desvia o olhar para
outras coisas e olhe para elas de relance. Focalizar o olhar sobre o
máximo de coisas que puder. Olhar só rapidamente. Voltar para suas
mãos. Cada vez que olhar para suas mãos, estará renovando o poder
necessário para sonhar. Assim que as imagens começarem a mudar e
você sentir que está perdendo o controle, volte para suas mãos, senão as
visões no sonho poderá ser uma visão de sonho comum.
A arte de sonhar é conservar a imagem de seus sonhos. Guardar a
imagem dos sonhos era uma arte Tolteca: encontrar as minhas mãos em
meus sonhos, encontrar objetos, buscar coisas significativas, olhar para si
mesmo dormindo na cama, significa o praticar o sonhar
As únicas vantagens que os feiticeiros podem ter sobre os homens
comuns é que armazenaram sua energia, o que significa uma conexão
mais precisa, mais clara com o intento.
Como o não fazer de dormir, o sonho dá aos praticantes a utilização
daquela porção de suas vidas gastas no cochilo. É como se os sonhadores

283
não mais dormissem. Mesmo assim, não há mal nisso. Os sonhadores não
sentem falta de sono, mas o efeito de sonhar parece ser o aumento do
tempo através do uso de um pretenso corpo extra, o corpo sonhador.
Quando acordamos dentro de um sonho lúcido, temos um vislumbre
de nossas reflexões. Observamos a natureza épica de nosso verdadeiro
eu e do mundo à nossa volta. Percebemos que, na verdade, somos muito
mais que nosso corpo físico. Estendemo-nos para além dos limites do
mundo desperto e vemos que a realidade não existe apenas no nível
físico. Que temos a capacidade de atuar e experimentar dentro desses
outros mundos com completa consciência. Percebemos que somos, em
essência, criadores sem fronteiras, com a imaginação e o poder de mudar
nossos sonhos, nossa vida, nossa mente e nosso futuro.

Nahualismo: o antigo conhecimento dos sonhos

Para entender o que é o nahualismo, devemos primeiro entender o


que a palavra nahual significa. Vem da língua Náhuatl e refere-se a um
antigo corpo de conhecimento que, segundo a tradição oral, se originou
com os olmecas, os chichimecas e os teotihuacanos. Foi então continuada
pelos Xochicalcas e passou para os Toltecas, antes de finalmente chegar
aos Astecas e seu principal grupo indígena, os Mexihcas.
A questão dos mistérios da consciência representa o tema central
dos trabalhos toltecas. A maestria da consciência é um dos princípios
fundamentais da filosofia tolteca sistematizada pelos novos videntes, que
também inclui a arte da espreita, o domínio do intento e a arte do sonhar;
conformando o quádruplo universo consciencial.
O Nagual é um alquimista poderoso, capaz de induzir estados de
consciência intensificada e comandar processos mágicos. Sua força é
impessoal, pois, o Nagual possui força pessoal, associada aos
mecanismos cósmicos que emprega através de sua impecabilidade de
conduta.
O nahual é o corpo energético que viaja para o mundo do sono,
aquele em que sonhamos. Então, o que um praticante de nahualismo tem
que fazer? Eles têm que começar treinando sua percepção e seus sonhos.
Todo poder em nossa cultura deriva-se do Poder do Sonhar. Sonhar
é um transe profundo natural e saudável que o corpo nos induz. Isto
porque em sua profundidade e sua capacidade visionária, e também
devido ao fato de que o corpo energético viaja, o sonhar é o mais
altamente considerado entre os estados de transe. Pode-se
verdadeiramente entrar no espaço e tempo sagrados, indo através de

284
entradas, atos, e reavendo poderes. A chave, como você sabe, é a lucidez.
Se entra no sonhar com lucidez, e então se busca no sonhar algo que se
abra, reavendo e caminhando desperto.
O nahualismo nos dá a oportunidade de não ser mais pobres, de
viver a vida em muitos tempos e espaços diferentes simultaneamente,
sempre que quisermos.
Quando nos tornarmos os mestres de nossos sonhos, seremos
capazes de dar o próximo passo: entrar no sonho coletivo e nos sonhos
dos outros e influenciar o que chamamos de realidade. Nesta fase,
também estaremos desenvolvendo outras habilidades: sonhar profético,
repetir o mesmo sonho à vontade, semear sonhos que criam nosso estado
de vigília, restaurar o corpo adormecido e a maior realização paradoxal do
sonhador: dormir sem sonhar e assim tornar-se um mestre do poder quase
total.
O sonhar é o microscópio mais poderoso do mundo, ou telescópio,
ou lente. O treinador vidente pode testemunhar qualquer coisa, mas
somente com sobriedade e discernimento pode-se extrair sabedoria dele.
De outra maneira, são só projeções esfumaçadas. O primeiro ato de Ver
claramente com discernimento é limpar as janelas, se você o fizer, de
todos os preconceitos. Este é um ato mágico
Segundo a tradição tolteca, o estado de sonho produz quatro vezes
mais energia do que o estado de vigília, e é por isso que os antigos
mexicanos preferiam mudar suas vidas no estado de sonho do que no
estado de vigília. Esta é uma grande vantagem para quem acaba de iniciar
o caminho do aprendiz de nahual, mas por outro lado também é um
grande obstáculo, pois para controlar nossos sonhos precisamos de quatro
vezes mais energia do que usaríamos quando dormimos normalmente.
Então, onde perdemos nossa energia? É simples: no estado de
vigília. Por quê? A maioria de nós tem uma ideia de nós mesmos baseada
na história que lembramos, mas isso não existe de fato em nossa vida
atual. Por isso, gastamos toda a nossa energia tentando manter viva nossa
história e identidade. Essa ilusão faz com que a maioria de nós desenvolva
uma voz dentro de nossa cabeça que nos ataca, limitando-nos com
pensamentos como Minha vida é tão triste porque meus pais me
maltrataram, não consigo emprego por causa dessa crise econômica,
tenho um terminal doença, etc.
Descobriu-se, também, que a vaidade é aquilo que mais consome a
energia do guerreiro. Todo este conjunto se destina pois a liberar o
buscador de sua vaidade e a recanalizar esta energia para encontrar o
desconhecido.

285
A maioria de nós está presa em velhos paradigmas e crenças,
justificando nossa maneira de viver para nós mesmos e para os outros.
Vivemos como sonhamos e sonhamos como vivemos. Segundo a tradição,
criamos um inimigo interior, o yaotl em náhuatl, que nos sabota, nos coloca
em situações muito difíceis, causa problemas com outras pessoas e nos
faz enfrentar nossas fraquezas repetidamente até que nos mate de uma
forma ou de outra — com um doença, em um acidente, por um vício ou por
tristeza. Vivemos em uma cela invisível, que, como já mencionado, os
antigos mexicanos chamavam de prisão invisível da lua, ou seja, o mundo
de ilusão.
O tonal e o nahual são corpos de energia diferentes que se movem
cada vez que viajamos entre o estado de vigília e o estado de sonho ou
quando estamos em um estado alterado de consciência e podemos ver
através dos olhos dos animais. No entanto, a maioria das pessoas tem o
tonal e o nahual completamente separados e vivem apenas no tonal,
apenas nesta dimensão.
Sonhar sempre requer um observador ou testemunha que possa
registrar os sonhos e depois nos enviar mensagens, seja diretamente em
sonhos lúcidos ou, quando estamos acordados, por meio de experiências
de vida. Normalmente, quando sonhamos, o tonal se desconecta do sonho
enquanto o nahual testemunha o sonho e entrega uma mensagem que só
pode ser recebida através de experiências de vida. O caminho do nahual é
totalmente diferente: precisamos nos observar no espelho em estado de
vigília por períodos mais longos. Só assim podemos desenvolver o hábito
de nos observarmos e então, ao sonhar, o nahual participará do sonho
como ator. O tonal, por sua vez, será forçado a observar, interpretar e
mudar as coisas no sonho à medida que elas acontecem. Este é um
grande passo porque significa entrar no temixoch, ou sonho da flor, que é
conhecido mundialmente como sonho lúcido, mas vai muito além disso,
pois é mais consciente e controlado.
Eu gostaria de salientar que você nem sempre consegue estar lúcido
na primeira noite. Na maioria das vezes, você começará lembrando seus
sonhos das noites anteriores. Esta é a maneira como a maioria de nós
começa. Assim que terminar de semear o quarto sonho, continue repetindo
em sua mente 'Sou um guerreiro do estado de sonho. Ficarei lúcido na
forma deste animal enquanto durmo... etc.' repetidas vezes até adormecer.
Para fazer isso, a primeira coisa que fazemos depois de acordar, antes de
nos mexermos, é nos perguntar se ainda temos um pequeno fragmento de
sonho em nossa cabeça e nos perguntar: o que aconteceu antes disso?
Onde começou? e continuamos até conseguirmos o maior número de
sonhos que sonhamos naquela noite. Ser capaz de lembrar o início de

286
seus sonhos é de vital importância e também a parte mais complicada
para todos os sonhadores.
Quetzaltzin é o que é conhecido em todo o mundo como
recapitulação. É o primeiro exercício que qualquer um que queira se tornar
um sonhador lúcido regular na tradição tolteca mexica deve fazer. Temos
que deixar nosso passado para trás para não estragar nosso futuro e
drenar a nossa energia. A energia é o ativo mais importante para um
sonhador.
A finalidade da mexica é tornar-se um guerreiro dos sonhos,
comandá-los e transformá-los, e isso significa passar do temictli ao
temixoch, do sonho inconsciente ao sonho florido.
Mais tarde, Xolotl me ensinou todos os nomes da Tezcatlipoca Negra
usados na antiga tradição, nomes que resumem a essência do ser interior:
1. Moyocoyani: a essência do ser interior, ou seja, aquele que se
reflete.
2. Yocoya: a ideia que temos de nós mesmos. (Isso é uma reflexão.)
3. Monenequi: a história que acreditamos ter vivido, aquela que
acreditamos que nos fez do jeito que somos.
4. Moquehqueloa: a voz interior baseada nesta história que está
constantemente nos bombardeando com críticas e negatividades.
5. Tlahnequi: o que estamos criando com nossa energia, com nossa
sexualidade.
6. Yaotl: o inimigo interno que nos sabota e nos faz boicotar a nós
mesmos.
7. Necoc Yaotl: a parte de nós que gosta de fazer guerra.
8. Telpochtli: a parte interior de nós mesmos que cai em tentação e
fraqueza.
9. Chalchiuhtotolin: a ilusão de se sentir superior ou inferior aos
outros.
10. Nezahualpilli: a parte de nós mesmos que pode superar nossas
fraquezas.
11. Ixnextli: a parte de nós mesmos que pode ver a verdade além da
reflexão.
12. Metztli: o nahual, a parte de nós mesmos que sonha.
13.Oztoteotl: nosso grande potencial depois de ganhar o controle
sobre nossa caverna, ou seja, nosso inconsciente.
14.Tepeyolohtli: a parte de nós mesmos que ajuda os outros através
de nosso poder interior.

Yoga Tibetana dos Sonhos

287
O campo da ioga dos sonhos é uma prática espiritual específica
incorporada a uma visão de mundo que data de dois milênios e meio – a
visão de mundo budista. Esse universo, que é complexo e ao mesmo
tempo bastante integrado, é dirigido pelo duplo objetivo de aliviar o
sofrimento e de acelerar a iluminação de todos os seres. A literatura desta
psicologia budista altruísta é imensa e, dentro dela, existem inúmeros
textos sobre ioga dos sonhos, sem contar os ensinamentos orais
transmitidos ao longo dos séculos. Embora não seja preciso se tornar um
budista para praticar a ioga dos sonhos, é essencial ter algum
conhecimento sobre os objetivos e métodos do budismo. Tenha em mente
também que há uma superposição entre o sonho lúcido e a ioga dos
sonhos. Mesmo que seus objetivos com respeito aos sonhos não
envolvam a prática espiritual, você poderá se interessar por algumas das
práticas da ioga dos sonhos, como um meio de afiar suas habilidades de
sonhar com lucidez. De fato, algumas das técnicas específicas são
praticamente idênticas. Da mesma maneira, aqueles interessados na
prática dos sonhos de uma perspectiva espiritual poderão se beneficiar
das instruções sobre sonho lúcido, que são mais facilmente assimiladas.
A chave mais importante para o desenvolvimento das habilidades de
sonho lúcido, bem como para alcançar um estágio em que as técnicas
mais avançadas de ioga dos sonhos possam ser incorporadas, é a prática
de shamatha, ou quiescência meditativa. Composta por uma magnífica
gama de métodos para treinar a atenção, shamatha é extremamente
benéfica para o corpo e para a mente, proporcionando relaxamento, alívio
do estresse e cura, juntamente com o refinamento das habilidades da
atenção.
Com shamatha, a ideia básica é aumentar a concentração relaxada,
de forma tal que seja facilmente possível sustentar a atenção em um
objeto escolhido. Uma destas técnicas é a concentração na entrada e
saída do ar durante a respiração, o qual é método preferido pelo Buda.
Pode-se também concentrar em uma imagem visual real ou imaginária,
nas sensações corporais, nos fenômenos mentais ou na própria
consciência. Depois de ter atingido um grau de estabilidade em shamatha,
as habilidades necessárias para que o sonho lúcido e a ioga dos sonhos
sejam bem-sucedidos são desenvolvidas com muito mais facilidade.
Shamatha é uma prática que estabiliza a nossa atenção. A
estabilidade da atenção é um passo crucial para a liberdade – liberdade de
transcender a consciência normal do sonho e reconhecer que estamos
sonhando, manter essa lucidez e transformar os nossos sonhos em um
laboratório onde podemos explorar a mente com bastante atenção.
Quando aprendemos gradualmente a concentrar a nossa atenção, a

288
confusão é substituída por uma coerência contínua – desenvolvemos
domínio sobre o ambiente do sonho.
Embora em shamatha estejamos desenvolvendo a concentração, ela
é alcançada não pela força, mas por meio de um profundo relaxamento. O
despertar dentro dos sonhos pode ser aprendido por qualquer pessoa
disposta a fazer o esforço necessário. A chave para o sonho lúcido e para
a ioga dos sonhos, o ingrediente essencial que irá nos impulsionar para
além do sonambulismo obscuro de nossos hábitos é a motivação. Se nos
tornarmos inspirados para a prática e comprometidos com essa exploração
interior, teremos sucesso.
Em shamatha, as distrações da mente são aquietadas, para que a
atenção possa finalmente repousar confortavelmente e sem esforço sobre
um objeto escolhido por horas a fio. Essa estabilidade é uma plataforma
ideal para o desenvolvimento das habilidades para o sonho lúcido e para a
ioga dos sonhos.
Preste atenção à sua respiração quando você medita (ou vai dormir)
e notará como sua respiração fica mais lenta e pode até parar. Existe uma
conexão íntima entre o movimento da respiração e o movimento do
pensamento. Quando todos os pensamentos cessam na meditação
profunda (ou morte), o mesmo acontece com todo o vento externo
(respiração) e interno (prana) que provoca esse movimento. Uma maneira
pela qual os yogas internos trabalham com esse processo natural é
através do poder da visualização, que manipula suavemente o processo
para induzir sonhos lúcidos. A ideia aqui é que para onde a mente vai na
visualização, vão os pranas. Para onde vão os pranas, também vai a
consciência.
Como prelúdio para qualquer técnica noturna, há duas coisas que
você pode fazer para acalmar sua mente e se preparar para um sono
lúcido. Primeiro, acalme sua mente com cerca de dez minutos de
meditação. Em segundo lugar, você pode fazer um breve exercício de
purificação do prana, que remove os ventos viciados e energiza o corpo
sutil. Se você estiver familiarizado com pranayama, faça isso por alguns
minutos. Caso contrário, faça três respirações de limpeza lentas e
profundas. Ao inspirar, imagine a energia pura da força vital inundando seu
corpo sutil. Ao expirar, imagine que todos os ventos estagnados foram
soprados. Você pode fazer um empurrão final vigoroso no final da
expiração, como um ponto de exclamação respiratório, com a sensação de
que até o último fio de ar viciado está sendo expelido.
Em um sonho lúcido você está consciente da natureza da realidade
que você está vivenciando em tempo real. Você sabe que está sonhando.
Você sabe que o seu corpo está deitado na cama, dormindo, mesmo

289
enquanto participa dos episódios no sonho, que vão desde o normal até o
absolutamente fantástico. Você sabe que todos os fenômenos do seu
sonho, o cenário e os participantes, são criações da sua própria mente.
Enquanto em um sonho não lúcido você toma tudo como se fosse
verdadeiro e nunca suspeita de estar dormindo, não importando quão
bizarro possa parecer, em um sonho lúcido você sabe, em tempo real, que
se trata apenas de um sonho.
As técnicas que levam ao sucesso na prática dos sonhos incluem a
memória prospectiva (preparar-se para lembrar de algo em um sonho
futuro), a memória retrospectiva (lembrar sequências de eventos em
sonhos do passado), a recordação de sinais que servem de alerta para o
estado de sonho, e a concentração estável e relaxada em imagens visuais.
Uma vez que os nossos estados comuns de consciência são dominados
por diferentes graus de agitação e embotamento, neste momento não
temos a clareza e a estabilidade necessárias para fazer uso efetivo de tais
técnicas. Por outro lado, a mente relaxada, estável e vívida que foi treinada
em shamatha é bastante adequada para estas tarefas.
Uma das primeira técnicas de indução de ioga interior é deitar-se
sobre o lado direito. Contraia ligeiramente os pés e descanse a mão
esquerda na parte superior da perna esquerda. Se possível, bloqueie a
narina direita. Esta posição (mudra em sânscrito) é chamada de “postura
do leão adormecido” e é a famosa postura que o Buda assumiu quando
morreu. Ao deitar-se sobre o lado direito e bloquear a narina direita, você
está invocando o fechamento do prana venenoso solar que mais sai. No
mundo da ioga dos sonhos, esse prana é “mau hálito”. Isso tende a nos
manter acordados. Assumir a postura do leão adormecido convida os
ventos a mudarem para o canal esquerdo, o que é mais propício ao “sono
consciente”, ou à capacidade de adormecer com alguma medida de
consciência. Essa técnica do leão adormecido também ajuda no
tratamento da insônia. Se estou lidando com insônia periódica, muitas
vezes noto que, quando acordo no meio da noite, minha narina esquerda
está fechada e respiro pela narina direita. Rolo para o lado direito, assumo
a postura do leão adormecido e muitas vezes volto a dormir.
Permita-me ilustrar esse ponto: manobrar o reino do sono com
sucesso – que inclui o processo de adormecer, o sono sem sonhos, os
sonhos, despertar e voltar a dormir, e lembrar dos sonhos ao acordar –
exige uma clareza maior do que o nosso entorpecimento noturno habitual
proporciona. O sono comum é dominado pelo esquecimento. As pesquisas
demonstraram que a maior parte de nós desperta e depois volta
rapidamente a dormir um certo número de vezes durante a noite. Poucos
notam este hábito. No entanto, estes despertares espontâneos fornecem

290
uma das oportunidades mais úteis para entrar em sonhos lúcidos.
Podemos aprender que reingressar deliberadamente em um sonho depois
de um desses intervalos pode levar a um sonho lúcido, mas se não nos
lembrarmos de fazer isso, estaremos perdendo essas oportunidades
continuamente. A clareza e a estabilidade de uma mente treinada em
shamatha é uma base confiável para nos lembrarmos de aproveitar essas
oportunidades.

A meditação – técnicas para sonho lúcido

A meditação central da ioga dos sonhos também é a mais acessível.


É a prática da atenção plena. Mesmo que você opte por nunca praticar em
seus sonhos, a meditação mindfulness apresentada aqui o ajudará a ter
sonhos mais lúcidos. A meditação também o ajudará a se lembrar de seus
sonhos e a torná-los mais claros e estáveis. Mindfulness é a arte de
manter a mente no momento presente. Isso contrasta com a negligência,
que ocorre quando sua mente se afasta do que está acontecendo. A falta
de atenção é virtualmente sinônimo de distração, e atenção plena é
sinônimo de não distração.
A mente de um Buda nunca se distrai. Está sempre totalmente
presente, ou desperto, para o que está acontecendo aqui e agora. Isso
significa que a única coisa que precisamos fazer para realizar a atenção
plena espontânea e sem esforço é simplesmente relaxar. Apenas relaxe
na verdadeira natureza da sua mente, a mente de luz clara, e você estará
sempre presente – e desperto. Todo o nosso esforço na meditação
culmina na capacidade de relaxar. Nos estágios mais elevados do caminho
você não precisa fazer nada. Você finalmente se torna um verdadeiro ser
humano, em vez de um insaciável “fazer humano”.
Num sentido ampliado, a lucidez é virtualmente idêntica à atenção
plena. Mindfulness é, portanto, uma forma de praticar a lucidez ao longo
do dia. É uma forma de acordar para o que está acontecendo agora.
Esteja acordado agora e você estará acordado durante o sono e o sonho.
O que é encontrado então é encontrado agora. Em outras palavras, a
inconsciência é uma expressão de estar adormecido momento a momento,
e a atenção plena é uma expressão de estar acordado momento a
momento. Os sufis proclamam que qualquer coisa fora do momento
presente é um sonho.
É aqui que precisamos lembrar que o sono é produto da ignorância.
Esta não é uma ignorância normal, como não saber sobre um assunto,
mas uma ignorância primordial que desconhece a natureza da mente e da
realidade. Esta é a ignorância da qual o Buda despertou, olhou para trás a

291
partir de sua perspectiva desperta e então viu todos ainda presos dentro
de si. Todos no mundo estavam dormindo. Com a meditação mindfulness
trabalhamos com a ignorância – isto é, o “sono” – tal como ela se
manifesta na sua forma mais comum e imediata, que é a distração. A
questão é esta: as distrações da vida diária e a inconsciência do sono são
duas faces da mesma ignorância.
Quando você se familiariza com sua mente na meditação e, portanto,
descobre a bondade básica de sua mente, você dá um passo crucial para
aprender a não temer sua própria atividade mental – como ela é revelada
na meditação, no sonho ou na vida. Você aprende que seus sonhos são
seguros e basicamente bons porque sua mente está segura e basicamente
boa. Você fez amizade com sua boa mente.
Como vimos, os budas não dormem durante a noite nem durante o
dia. Eles nunca estão distraídos. Eles nunca esquecem. Portanto, o
esquecimento é outra forma de abordar esse importante tema. A este
respeito, a negligência (com ênfase no “menos”) é na verdade uma forma
de esquecimento primordial. Estamos presos na dualidade porque
continuamos a exercitá-la. PRATICANDO A LEMBRANÇA constantemente
nos lembramos de estar presentes. Mindfulness (com ênfase no
“completo”) é a expressão, ou prática, de lembrar. O esquecimento
(ausência de atenção) desmembra, a memória (atenção plena) lembra. De
muitas maneiras, a essência da prática espiritual é a lembrança: lembrar
de voltar ao momento presente (através da prática da atenção plena),
lembrar de ser gentil e compassivo (através de práticas como lojong e
bodhichitta), lembrar que você já é um buda (através de práticas como a
ioga da divindade).
Eu recomendo pelo menos dez minutos de meditação consciente
todos os dias. Se você conseguir praticar por vinte minutos ou mais, ótimo.
Mas a qualidade é mais importante que a quantidade. É bom praticar logo
de manhã, antes que o dia acabe. Para os sonhadores lúcidos, também é
bom praticar antes de dormir. Isso reúne e acalma a mente, preparando-a
muito bem para os sonhos lúcidos. É ótimo para a higiene espiritual do
sono.
Para resumir a técnica: Primeiro, assuma uma postura sentada ereta
e digna. Em segundo lugar, leve a sua mente para o movimento natural da
sua respiração. Terceiro, quando algo o distrair, rotule-o de “pensamento”
e volte à respiração.
Quando dizemos “pensar” em meditação, na verdade estamos
dizendo “acorde”. Estamos acordando para o fato de que nos desviamos
do corpo e da respiração. “Pensar” é simultaneamente um reconhecimento
da não lucidez, a nossa detecção de que caímos num mini devaneio não

292
lúcido, e é a prática da lucidez, ou acordar dessa deriva. Mais uma vez, se
nos tornarmos lúcidos em relação ao conteúdo da nossa mente agora,
começaremos a fazê-lo quando sonharmos. É exatamente o mesmo
processo. Ficamos presos a sonhos não lúcidos da mesma forma que
ficamos presos a pensamentos. É apenas a falta de lucidez acontecendo
em dois níveis diferentes.
Então você quer ficar lúcido à noite? Medite durante o dia.

Os dez estágios do desenvolvimento de shamatha (brevemente descritos):


1) Atenção dirigida – O praticante desenvolve a capacidade de focar o
objeto escolhido.
2) Atenção contínua – O praticante é capaz de manter a atenção contínua
sobre o objeto por até um minuto.
3) Atenção ressurgente – O praticante recupera o foco rapidamente
quando se distrai do objeto.
4) Atenção constante – O objeto de atenção não é mais completamente
esquecido.
5) Atenção disciplinada – O praticante desfruta do samadhi ou
“concentração unifocada”.
6) Atenção pacificada – Não há mais resistência ao treinamento da
atenção.
7) Atenção plenamente pacificada – O apego, a melancolia e a letargia
estão pacificados.
8) Atenção unifocada – O samadhi é sustentado sem agitação ou lassidão.
9) Equilíbrio da atenção – O samadhi é sustentado sem falhas e sem
esforço.
10) Shamatha – O praticante mantém a concentração em um objeto sem
esforço por pelo menos quatro horas; este estado é acompanhado de
maleabilidade física e mental muito maiores e de outros efeitos
secundários positivos.

Três práticas sequenciais no caminho de shamatha

A primeira é a atenção plena à respiração. Nesta prática desenvolve-


se a atenção, observando as inspirações e as expirações, testemunhando
passivamente as sensações táteis associadas com a respiração natural,
por todo o corpo. A experiência da respiração fornece uma ancoragem
excelente, permitindo que os relaxamentos físico e mental se tornem a
base da prática desde o início. Para aqueles comprometidos com o
treinamento integral de shamatha descrito acima, eu recomendo que a
atenção plena à respiração seja praticada nos estágios de um a quatro.

293
Para os três estágios seguintes – cinco a sete – recomendo a prática de
estabelecer a mente no estado natural. Nesta prática, a atenção aos
fenômenos mentais substitui o foco na respiração. Observa-se todos os
eventos mentais que surgirem – pensamentos, imagens mentais e
emoções – de forma neutra, objetiva, sem qualquer envolvimento.
Permitimos que estes eventos, que normalmente nos capturam, passem
diante da janela da mente, como nuvens sopradas pelo céu. Para os
estágios oito em diante, recomendo a prática de shamatha sem sinais,
também chamada de consciência da consciência. Nas práticas anteriores
tínhamos um objeto de foco, isto é, um sinal. Aqui, a atenção é dirigida à
própria consciência. Enquanto a respiração e os fenômenos mentais são
objetos identificados dentro de uma estrutura conceitual – a consciência
está focada em um objeto diferente de si mesma –, aqui a consciência
simplesmente repousa em si mesma, luminosa e ciente.

Sessão 1: relaxamento
Aqui nós oferecemos uma sequência básica de meditação para a
atenção plena às sensações táteis do corpo, que conduz ao relaxamento –
o ingrediente-chave na prática de shamatha – e que também é um prelúdio
útil para se ter uma boa noite de sono, sem a qual a prática dos sonhos
bem-sucedida é difícil, se não impossível. Começaremos esta e as
sessões seguintes estabelecendo o corpo em seu estado natural. Em
seguida, cultivando uma qualidade de presença atenta e quieta,
permitiremos que a consciência permeie o campo de sensações táteis –
todas as sensações que surgem tanto no interior quanto na superfície do
corpo.
Depois de encontrar uma postura confortável, faça o seu melhor para
permanecer imóvel, permitindo apenas os movimentos da respiração. Se
estiver sentado (em uma cadeira ou no chão, de pernas cruzadas), deixe
sua coluna ereta e eleve o seu esterno apenas o suficiente para que não
haja pressão em seu abdômen, que o impediria de se expandir livremente
conforme você inspira. Mantenha seus músculos abdominais soltos,
sentindo o abdômen expandindo com cada inspiração. Onde quer que
você encontre tensão ou contração no corpo, respire nessa área e,
especialmente quando expirar, libere a tensão muscular. Preste atenção
em particular aos músculos da face – à mandíbula, aos olhos. Complete
esta preparação inicial do corpo, tomando três respirações lentas,
profundas e vigorosas, respirando pelas narinas, descendo até o
abdômen, expandindo o diafragma e, finalmente, respirando no tórax,
atingindo quase a plena capacidade pulmonar; então, solte o ar sem

294
esforço, plenamente atento às sensações correlacionadas com a
respiração, conforme se manifestam por todo o corpo.
Em seguida, estabeleça a sua respiração em seu ritmo natural,
notando o quanto é fácil influenciá-la com as suas preferências. Da melhor
forma possível, abandone o controle e permita que a respiração flua
espontaneamente, sem nenhuma intervenção, com o mínimo esforço
possível.
Quando começamos a aprender meditação, nós rapidamente
descobrimos o quanto a nossa mente é agitada e confusa. Às vezes
somos inundados com uma cascata de pensamentos e emoções. Cultive
uma atitude positiva, de paciência, quando se deparar com essas
distrações. Em vez de reagir, tentando reprimir e forçar a mente a ficar
quieta, relaxe e solte a energia reprimida e turbulenta do corpo-mente. Tire
proveito de cada expiração como um momento natural para relaxar e
soltar. Com cada expiração, perceba uma sensação progressiva de que
seu corpo se derrete, se acalma, relaxa. A cada expiração, assim que
notar qualquer pensamento ou imagem involuntários surgindo, apenas
solte-os sem segui-los; e assim que os liberar, deixe que sua consciência
desça tranquilamente mais uma vez para o corpo, simplesmente notando
as sensações táteis surgindo dentro deste campo, em especial as
sensações correlacionadas com a respiração. Permita-se liberar os
pensamentos e cultivar uma outra qualidade de consciência, que é clara,
brilhante, inteligente, atenta e silenciosa.
Sempre que se der conta de que foi capturado por pensamentos, de que
sua mente foi levada, em vez de se sentir frustrado ou se julgar, deixe que
a sua resposta simples e imediata seja relaxar mais profundamente, soltar
os pensamentos e trazer sua consciência de volta a este campo tranquilo
da experiência tátil. Continue com a intenção de manter sua atenção no
campo de sensações táteis associadas à respiração e, quando achar que
se distraiu, relaxe mais profundamente, abandone as distrações e retorne
para o corpo.

Resumo da prática:
• Postura: supino (shavasana, ou postura do cadáver) ou sentado.
• Respiração: em seu ritmo natural.
• Atitude positiva: cultivo do relaxamento.
• Atenção: no campo das sensações táteis.
• Quando se distrair: traga gentilmente a atenção de volta para o campo
das sensações táteis.
• Duração: um ghatika (vinte e quatro minutos).

295
• Intenção: observar as sensações táteis, relaxar e retornar quando se
distrair.

A técnica básica de shamatha envolve a interação de duas


faculdades mentais: a atenção plena e a introspecção. A atenção plena
(mindfulness, em inglês) pode ser definida como uma atenção contínua em
um objeto escolhido, o que exige manter a tarefa em mente e não se
distrair com outros fenômenos. A introspecção é a verificação repetida do
estado em que se encontra seu corpo e sua mente. Portanto, a
introspecção permite uma espécie de controle de qualidade, reconhecendo
quando a atenção foi desviada, e serve de alerta para que a atenção plena
se restabeleça. O praticante foca a mente usando a atenção plena para se
lembrar da tarefa e, quando a atenção se desvia, a introspecção toma
conhecimento para que o praticante possa novamente se dirigir para o
objeto de atenção. Lembre-se de sua intenção e verifique se a está
cumprindo a cada momento.
Utilizando a prática descrita acima, podemos induzir esta respiração
restauradora relaxando durante toda a expiração e, em seguida, em vez de
puxar o ar, simplesmente permitindo que a inspiração flua passivamente.
Nós abandonamos suavemente todo o controle da respiração,
despreocupados com a duração relativa das inspirações e expirações,
respirando sem esforço.
Permitimos que a atenção fique difusa, escaneando as sensações
táteis associadas à respiração e também as sensações que surgem na
parte inferior do corpo – pernas e parte inferior do tronco. Isso leva a nossa
energia e atenção para longe da cabeça, nos estabelecendo em nossa
base e diminuindo a interferência de pensamentos. Ao se deitar,
experimente esta prática na posição de supino por um tempo curto – cinco,
dez, vinte minutos, ou mais se desejar – antes de ir para sua posição
normal de dormir. Nas expirações iniciais, libere primeiro toda a tensão
muscular do corpo, e quando estiver completamente relaxado fisicamente,
libere também todos os pensamentos que surgirem – soltando lentamente
o ar... soltando... soltando... – e, em seguida, permita que a inspiração flua
espontaneamente. Em pouco tempo se sentirá em um ritmo profundo e
relaxante. Isto, não apenas irá contribuir para uma boa noite de sono, mas
será um prelúdio útil para o sonho lúcido.

Sessão 2: estabilizando a atenção


Depois de relaxar, com a atenção nas sensações táteis em todo o
corpo, passamos para uma segunda fase, estreitando nosso foco para os
movimentos de subir e descer do abdômen conforme respiramos,

296
promovendo a estabilidade da atenção. Depois de encontrar uma posição
confortável, comece estabelecendo o corpo em seu estado natural,
imbuído das três qualidades de relaxamento, quietude e vigilância. Tendo
feito isso, conclua esta etapa inicial com respirações lentas e profundas.
Em seguida, estabeleça a respiração no seu ritmo natural e então, como
antes, deixe sua consciência permear todo o campo de sensações táteis,
enquanto observa especialmente as sensações relacionadas com a
respiração, onde quer que surjam dentro do campo do corpo. Dentro
deste campo, deixe sua consciência permanecer difusa. Nesta primeira
fase da atenção plena à respiração, a ênfase principal está em permitir que
surja uma sensação de tranquilidade, conforto e relaxamento no corpo e
na mente. Facilitamos esse processo, relaxando especialmente com cada
expiração, soltando o excesso de tensão muscular, liberando
imediatamente qualquer pensamento ou imagem involuntária que surjam
na mente – liberando-os e deixando a consciência retornar imediatamente
para o campo das sensações táteis. A sensação de tranquilidade e
relaxamento é indispensável para cultivar as habilidades de atenção e para
a prática dos sonhos. Mas isso por si só não é suficiente. Precisamos
também introduzir o elemento de estabilidade – a continuidade voluntária
da atenção. Então, agora iremos intensificar esta prática, estreitando o
foco de atenção. Em vez de focar em todo o corpo ou deixar a atenção
permear todo o corpo, agora concentre a atenção mais firmemente nas
sensações táteis do abdômen subindo e descendo a cada inspiração e
expiração. Estreite o seu foco. Continue deixando a respiração fluir
livremente, sem restrição ou esforço, e com atenção plena, simplesmente
observando as sensações, sem sobreposição conceitual, sem cogitação –
apenas as sensações na região do abdômen relacionadas ao fluxo da
respiração. Note a duração de cada inspiração e expiração, se é curta ou
longa. Continue relaxando a cada expiração, superando assim a agitação,
a excitação da mente. Mas com cada inspiração, eleve a sua atenção,
superando assim a lassidão e o embotamento. Deste modo, cada ciclo da
respiração é como uma sessão de meditação completa, projetada para
superar a agitação e a lassidão, e para cultivar a estabilidade e a
vivacidade. À medida que a mente se acalma e a atenção se estabiliza
cada vez mais, você poderá perceber que isso aumenta o grau de
relaxamento e tranquilidade do corpo e da mente. Ao mesmo tempo,
quanto maior for a sensação de relaxamento no corpo e na mente, mais
fácil será estabilizar a atenção. Existe uma sinergia entre estas duas
qualidades. Continue alternando o relaxamento e a elevação da atenção,
na expiração e na inspiração.

297
Resumo da prática:
• Estabeleça o corpo em seu estado natural.
• Respire em um ritmo natural.
• Primeira fase: atenção no campo de sensações táteis (treinando o
relaxamento).
• Segunda fase: atenção no abdômen subindo e descendo (treinando a
estabilidade).
• Alterne superando a agitação (na expiração) e elevando a atenção (na
inspiração).
• Conte as respirações.
• Duração: um ghatika (vinte e quatro minutos).
• Intenção: treinar a estabilidade.

Embora a técnica pareça simples e direta, a mente que estamos


treinando – condicionada pelas nossas experiências de vida e formação
cultural – não é assim. O primeiro choque que os iniciantes geralmente
levam é o grande volume de “ruído” mental, que confunde a consciência
quando se começa a meditar. Embora possa parecer que a própria prática
tenha introduzido essas distrações, elas estiveram lá o tempo todo,
consideradas como parte do funcionamento normal das nossas mentes.
Rapidamente descobrimos que há dois tipos principais de distração que
nos fazem esquecer a nossa tarefa: a agitação e o torpor. Para a maioria
de nós, a agitação é o nosso maior problema inicial em focar o objeto
escolhido.
Quando não estamos agitados, estamos muitas vezes entorpecidos
– fatigados pelo ritmo acelerado e estressante da vida moderna. Nessas
ocasiões, quando tentamos meditar, vemos que o nosso foco não é nítido.
O objeto de atenção carece de vivacidade. Nós nos desligamos e, minutos
depois, percebemos que estávamos sonhando acordados ou dormindo. O
que devemos buscar, então, é um meio-termo entre a agitação e o torpor.
Para preparar esta base intermediária, desde o início, enfatizamos as
atitudes de relaxamento, quietude e vigilância. O relaxamento e a quietude
diminuem a agitação, enquanto a vigilância neutraliza o torpor. Com isso
em mente, nos tornamos gradualmente capazes de experimentar
momentos de clareza – uma trégua do nosso fluxo mental normal que
oscila entre agitação e torpor.

Sessão 3: a vivacidade da atenção


Estabeleça o corpo mais uma vez em seu estado natural, deixando
que a consciência permeie todo o campo do corpo, mantendo o corpo
tranquilo, quieto, em uma postura de vigilância. Se achar útil, faça três

298
respirações lentas e profundas para concluir esta acomodação inicial do
corpo. Estabeleça a respiração em seu ritmo natural, fluindo sem esforço.
Por alguns instantes deixe que a sua consciência continue difusa,
preenchendo todo o campo tátil do corpo, deixando que sua atenção se
mova à vontade dentro deste campo, observando qualquer sensação que
surgir, especialmente aquelas relacionadas com a respiração. Mantenha a
atenção no campo de sensações do corpo, sem se deixar levar por
pensamentos ou para outros campos sensoriais. Continue relaxando e
soltando a cada expiração.
Passamos agora para a segunda fase, em que, como na prática
anterior, estreitamos mais o foco da atenção nos movimentos do subir e
descer do abdômen, introduzindo o elemento de estabilidade da atenção,
cultivando deliberadamente a continuidade firme da atenção plena, sem
ser aprisionada pelos pensamentos e sem se deixar levar para outros
campos dos sentidos. Mantenha-se engajado com o fluxo contínuo de
sensações do abdômen subindo e descendo, a cada inspiração e
expiração. Relaxe a cada expiração como fez anteriormente, soltando
imediatamente quaisquer pensamentos ou imagens involuntárias. Com
cada inspiração, eleve sua atenção, e da melhor forma possível mantenha
um fluxo contínuo de atenção plena às sensações táteis relacionadas à
inspiração e à expiração que se manifestam no abdômen. Deixe que este
seja um trabalho em tempo integral. Há sempre algo para fazer.
Permaneça engajado. Sustente o foco. Relaxe a cada expiração, elevando
sua atenção a cada inspiração.
Na prática de shamatha desenvolvemos e aperfeiçoamos a
faculdade da atenção plena, e também da introspecção – nossa
capacidade de monitorar o estado da mente, monitorar o processo de
meditação, reconhecendo rapidamente quando a mente foi capturada e
levada por pensamentos, ou quando a mente está simplesmente entrando
em um estado de entorpecimento ou lassidão, talvez a caminho de
adormecer. Assim que reconhecer, por meio da introspecção, que a sua
atenção se tornou agitada, capturada e levada por pensamentos, deixe
que a sua primeira resposta seja relaxar profundamente, soltar o
pensamento e imediatamente voltar a se engajar com as sensações da
respiração. Mas antes de tudo relaxe – solte-se.
E assim que reconhecer, por meio da introspecção, que a sua mente
está perdendo a clareza, caindo na lassidão ou no torpor, deixe que sua
primeira resposta nesta situação seja a de elevar sua atenção e renovar o
interesse em treinar a mente. Leve o foco de sua atenção de volta às
sensações da respiração. Desta forma, equilibre sua atenção, superando

299
suas inclinações em direção ao déficit de atenção, como o torpor, e à
hiperatividade da atenção, como a agitação ou excitação.
Depois de vinte e quatro minutos, encerre a sessão.

Resumo da prática:
• Estabeleça o corpo em seu estado natural.
• Respire em um ritmo natural.
• Primeira fase: atenção no campo de sensações táteis (relaxamento).
• Segunda fase: atenção no abdômen subindo e descendo (estabilidade).
• Terceira fase: atenção na abertura das narinas(cultivando a vivacidade
da atenção).
• Conte as respirações.
• Melhore a atenção plena por meio da introspecção.

As três fases que desenvolvemos até este ponto – relaxamento,


estabilidade e vivacidade – podem ser comparadas à estrutura de uma
árvore. A raiz de toda a prática é o relaxamento. O tronco é a estabilidade.
Assim como as raízes de uma árvore sustentam o tronco, do mesmo modo
o relaxamento sustenta a estabilidade da atenção. E da mesma forma,
sem a estabilidade do tronco, a folhagem – a vivacidade de shamatha –
não pode ser sustentada. Você precisa das três qualidades e elas devem
estar em equilíbrio sinérgico. Se o relaxamento for muito intenso, é
provável que você se sinta entorpecido e sonolento. Se a vivacidade for
muito intensa e vigorosa, você poderá se sentir agitado.
Se você quiser desenvolver shamatha de forma eficiente, não
subestime o desenvolvimento inicial do relaxamento. Experimente a
posição em supino e mergulhe profundamente na calma, no relaxamento e
na descontração. Observe, então, como a estabilidade pode emergir dessa
sensação de grande tranquilidade. Você pode permanecer bastante
centrado e focado, sem precisar se concentrar de forma cada vez mais
rígida. Assim, relaxamento e estabilidade equilibram-se mutuamente. A
maioria das pessoas, quando têm o seu primeiro sonho lúcido, notam
alguma anomalia, algum objeto ou evento estranho em seu sonho e isso
catalisa a consciência de que estão sonhando. E então ficam tão animados
que dois segundos depois acabam acordando. A estabilidade originada do
relaxamento irá permitir que você se mantenha estável em vez de agitado,
prolongando seus sonhos lúcidos.
O segundo ato de equilíbrio é entre estabilidade e vivacidade. Assim
como é importante que a estabilidade não seja obtida às custas do
relaxamento, o aumento da vivacidade não deve enfraquecer a
estabilidade. Você deve intensificar a clareza, a luminosidade e o brilho,

300
mas sem causar agitação, que o faria perder a coesão mental. A técnica
para aumentar a vivacidade é focar a atenção em um objeto mais sutil,
como as sensações da respiração na região das narinas.

Estratégias para a lucidez

Não é provável que o praticante possa avançar muito na prática dos


sonhos lúcidos, tendo uma atitude casual. A eficácia de muitas das
práticas do sonho lúcido é resultado de uma motivação proativa e positiva,
baseada em um intenso interesse e desejo de alcançar e desenvolver o
sonho lúcido. Esta abordagem é igualmente encontrada na ioga dos
sonhos. Os principiantes na prática da ioga dos sonhos são encorajados a
se prepararem repetindo firmes resoluções, tais como: “Hoje eu
definitivamente reconhecerei o estado de sonho!”, em voz alta antes de
dormir.
Outra forma útil para nos prepararmos para o sonho lúcido é
antecipá-los enquanto estamos acordados. Em intervalos ao longo do dia,
imaginamos que nos tornamos lúcidos durante um sonho. Podemos
imaginar nos tornando lúcidos em um sonho recente, talvez provocado por
algo estranho ou impossível que tenha ocorrido no sonho. Este tipo de
antecipação é especialmente eficaz se for feita quando estivermos
adormecendo.
O estudo dos sonhos lúcidos desenvolveu várias técnicas para
melhorar a memória relacionada aos sonhos. Assim, aprender a ficar
quieto ao acordar, e lançar imediatamente a atenção de volta ao sonho do
qual despertamos, nos permitirá registrar seus detalhes. Em segundo
lugar, o uso da memória prospectiva para podermos nos lembrar de
permanecer quietos, voltar a atenção e recordar dos sonhos é por si só
uma introdução a uma técnica mais avançada, que pode ser aplicada tanto
para levar à lucidez como para treinar dentro do estado de sonho lúcido.
Stephen LaBerge, que desenvolveu esta abordagem, chama essa
ferramenta de MILD – Mnemonic Induction of Lucid Dreams (Indução
Mnemônica de Sonhos Lúcidos). O sinal de sonho é um dispositivo
mnemônico que provoca uma resposta específica por meio da memória
prospectiva.
Se você treinou para lembrar de seus sonhos ao acordar
(permanecendo imóvel e refletindo sobre os conteúdos dos sonhos), você
pode ser capaz de retornar ao sonho de forma consciente e continuar a
sonhar lucidamente. As chances de conseguir fazer isto são
particularmente boas durante as duas últimas horas de sono – horário
nobre para o sonho lúcido.

301
Resumo das técnicas de sonho lúcido:
• O poder da motivação (fazer afirmações positivas como, “Esta noite vou
definitivamente reconhecer que estou sonhando!”).
• Memória prospectiva (planejar o futuro e imaginar um resultado; por
exemplo, durante o dia, imagine se tornar lúcido em um sonho).
• Notar sinais de sonho e escrevê-los em um diário de sonhos.
• Executar verificações de estado (tentar voar; olhar para um material
escrito, desviar e olhar de novo).
• Perceber anomalias (“Isso é ou não é estranho?”).
• Desenvolver uma atitude de reflexão crítica (“Isto é possível?”).
• Seguir imagens hipnagógicas.
• MILD – Indução Mnemônica de Sonhos Lúcidos (Mnemonic Induction of
Lucid Dreams) – realizar uma verificação de estado quando você identificar
um sinal de sonho.
• DILD – Sonho Lúcido Iniciado no Sonho (Dream-Initiated Lucid Dreams)
– acordar deliberadamente no meio da noite e retornar a um sonho em
curso lucidamente.
• WILD – Sonho Lúcido Iniciado na Vigília (Wake-Initiated Lucid Dream) –
acordar no meio da noite, ler, e em seguida entrar novamente no sono
lucidamente.
• Reconstituir sonhos se desfazendo (girar seu corpo de sonho,
massagearse).
• Sustentar a lucidez que está se perdendo (lembrar-se: “Isto é um sonho”,
criar enredos).
• Usar as últimas horas efetivamente (as duas últimas horas de sono são
as melhores para o sonho lúcido; melhor ainda, se nos finais de semana
você puder dormir algumas horas a mais).

A prática de shamatha para melhorar o sono

Um excelente remédio para lidar com as vicissitudes da vida é a


meditação shamatha. Praticar esta técnica na hora de dormir irá ajudá-lo a
ter uma noite de sono mais longa e mais saudável, e irá também prepará-
lo para o sonho lúcido.
Esta prática tem duas partes: estabelecer o corpo em seu estado
natural e estabelecer a respiração no seu ritmo natural (ambos descritos
anteriormente). Na hora de dormir, deite-se de costas – na posição supina
– com o corpo reto, com a cabeça apoiada no travesseiro, e com os braços
ao lado do corpo. Permita que a sua consciência repouse em um modo
puramente testemunhal, quieta e atenta, simplesmente observando as

302
sensações táteis que surgem em todo o corpo. Se identificar áreas tensas
ou contraídas, respire nessas regiões, e, conforme soltar o ar, deixe-o
levar embora qualquer tensão. Entregue os seus músculos à gravidade –
deixe-os derreter, relaxar. Traga a consciência para o rosto, os músculos
ao redor da boca e do queixo, e relaxe-os. Observe os músculos da
mandíbula e solte-os. Leve sua atenção para a testa. Permita que haja
uma sensação de abertura e de espaço nessa região. Procure abrir a área
entre as sobrancelhas, solte os olhos e deixe que todo o rosto repouse
com uma expressão tão suave e relaxada como a de um bebê dormindo,
sem se preocupar com nada.
Desta forma, estabeleça o corpo em seu estado natural, imbuído das
três qualidades de relaxamento, quietude e vigilância. Finalize esta
preparação inicial do corpo, tomando três respirações longas, profundas e
revigorantes. Respire no abdômen e expanda a seguir o diafragma e o
tórax. Quando seus pulmões estiverem quase cheios, solte a respiração e
deixe-a fluir sem esforço. Estabelecer o corpo desta maneira já é um bom
facilitador para uma boa noite de sono – mas podemos fazer mais.
Agora que seu corpo está relaxado, à vontade, com todo o conforto,
não será difícil permanecer completamente imóvel para que possa focar a
continuidade de sua atenção na respiração. Na posição supina, o
abdômen, o diafragma e o tórax podem se mover facilmente conforme
você respira. Agora estabeleça a respiração em seu ritmo natural, seja ele
qual for neste momento, sem nenhuma ideia preconcebida de como esse
ritmo deveria ser. Deixe a respiração fluir com o menor esforço e o menor
impedimento possíveis. As inspirações e as expirações podem ser longas
ou curtas e pode haver pausas de vez em quando. Observe as sensações
da respiração atentamente, mas de maneira passiva; abandone todas as
preferências. Deixe o corpo respirar espontaneamente.
Permita que as contrações do corpo se desfaçam a cada expiração,
e, como uma brisa que sopra afastando folhas secas, simplesmente libere
todos os pensamentos involuntários, imagens mentais, ou atividades da
mente. Solte-os, expire com um suspiro de alívio, como se dissesse: “Eu
não tenho que pensar o tempo todo; às vezes está bem ficar quieto”, e
apenas esteja presente, conscientemente atento às sensações táteis que
surgem em todo o corpo, especialmente aquelas relacionadas à
respiração. Este é um momento de quietude, em lugar da estimulação –
um tempo para simplesmente estar presente ao invés de ativo ou reativo.
A cada expiração, relaxe profundamente o corpo e a mente. Continue
liberando o ar e relaxando durante toda a expiração, até que a inspiração
flua sem esforço e espontaneamente, como uma onda varrendo
suavemente a praia.

303
Quando se sentir sonolento, vire-se para a sua posição usual de
dormir, e permita-se cair no sono.

Resumo da prática:
• Postura: supino (deitado de costas, braços levemente afastados do
corpo).
• Corpo estabelecido em seu estado natural.
• Respiração estabelecida em seu ritmo natural.
• Atividade mental liberada junto com o ar.
• Intenção: relaxar toda a tensão e acalmar as atividades física e mental
como preparação para uma boa noite de sono.

Como começar a prática dos sonhos lúcidos

O primeiro passo para o sonho lúcido é gerar interesse pelos seus


sonhos. Se você pudesse usar um pouco desse tempo para fazer diversas
atividades interessantes, significativas e gratificantes, sem se privar do
resto que você precisa? Se você pudesse aprender a ter sonhos lúcidos e
a aplicar essa habilidade a alguns de seus principais interesses – projetos
criativos, melhora das suas habilidades, exploração espiritual e
psicológica, diversão e aventura – seria como adicionar vários anos muito
significativos ao seu tempo de vida.
Portanto, esta noite, quando estiver adormecendo, desenvolva a
forte resolução de se interessar por seus sonhos. Faça isso com
entusiasmo e dedicação: “Esta noite irei prestar atenção aos meus
sonhos!” Afirme isso várias vezes. Há grandes chances de que você passe
por cinco a sete ciclos de sonho, e então haverá bastante material para
dedicar sua atenção. “E quando eu acordar, seja durante a noite ou pela
manhã, farei algo fora do comum: permanecerei imóvel, desde o momento
em que eu começar a acordar. E tendo conseguido isso por meio da
memória prospectiva – lembrando agora na hora de dormir de fazer
alguma coisa (permanecer imóvel) no futuro – irei então praticar a memória
retrospectiva. Lançarei meu olhar mental de volta ao sonho do qual
despertei ou para qualquer sonho do qual possa me recordar. Tentarei
retroceder quadro a quadro, tanto quanto possível, para capturar a maior
parte possível desse sonho”.
Por que permanecer imóvel? Nossa memória dos sonhos,
especialmente quando começamos a prática dos sonhos, é fugaz.
Quando começamos a despertar, imediatamente nos engajamos a
um novo ambiente, com toda a sua informação sensorial. Um sonho que
parecia fascinante há apenas alguns segundos pode desaparecer

304
instantaneamente. No entanto, se permanecermos imóveis e mantivermos
os olhos fechados, estaremos a meio caminho da terra dos sonhos. A
atmosfera do nosso sonho ainda persistirá, e isso nos dará a chance de
recuperarmos pelo menos uma parte da história.
Não importa quanto tempo leve – e este conselho vale para qualquer
uma das etapas da prática dos sonhos – mantenha uma atitude positiva.
Aprender a ter sonhos lúcidos não requer nenhum talento especial. Mas é
uma habilidade incomum baseada em estabelecer hábitos que podem não
fazer parte do seu estilo de vida.
Uma das melhores maneiras de estabelecer uma base firme para
atingir a proficiência em sonhos lúcidos é treinar a técnica de shamatha de
estabelecer a mente em seu estado natural. Nesta prática, o foco da
atenção não é nem as sensações táteis do corpo e nem a respiração, mas
os fenômenos da própria mente. Isso significa que o seu objeto de atenção
será o espaço da mente e quaisquer pensamentos, emoções, imagens e
outros tipos de fenômenos mentais que surgirem nesse domínio de
experiência.

Sessão de meditação para estabelecer a mente em seu


estado natural

Comece estabelecendo o corpo em seu estado natural e a


respiração em seu ritmo natural, como na primeira sessão de shamatha
descrita no capítulo 1: Escolha qualquer postura confortável – supina,
sentado de pernas cruzadas ou sentado em uma cadeira. Se estiver
sentado, certifique-se de que sua coluna esteja reta e o seu esterno esteja
ligeiramente elevado, de modo a evitar qualquer tipo de pressão em seu
abdômen que possa impedi-lo de se mover livremente. Se encontrar
qualquer área de tensão muscular, respire nessas regiões e permita que a
tensão se dissipe com a expiração. Por fim, complete esta preparação
inicial do corpo, tomando três respirações longas, profundas e
revigorantes. Respire inicialmente no abdômen e, a seguir, expanda o
diafragma e finalmente o tórax. Quando seus pulmões estiverem quase
plenos, solte a respiração e deixe-a fluir sem esforço.
Agora faça uma varredura de todo o seu corpo, partindo do topo da
cabeça até as pontas dos dedos dos pés, mantendo a atenção nas
sensações experimentadas em cada área, e não em representações
visuais do seu corpo. Então, repouse por alguns instantes na experiência
do seu corpo como um todo – como um campo de sensações táteis. Em
seguida, concentre-se nas áreas deste campo relacionadas com a
respiração – o subir e descer do abdômen, diafragma, tórax, e qualquer

305
outro movimento associado à sua respiração. Permita que a respiração
flua naturalmente, mantendo a atenção durante toda a entrada e saída do
ar. Observe a sensação de liberação após a expiração e as sensações do
ar novamente inundando o corpo, com a inspiração. Em seguida, conte
vinte e uma respirações, concentrando-se nas sensações relacionadas
com a sua respiração e não na contagem em si. Este é um exercício
preliminar para estabilizar e acalmar a mente.
Agora abra os olhos e deixe-os ao menos parcialmente abertos,
repousando o olhar sem foco no espaço à sua frente, e direcione sua
atenção para o espaço da mente e tudo o que surgir dentro desse espaço.
Para facilitar essa prática, num primeiro momento você pode gerar um
evento ou objeto mental, um pensamento ou imagem, como a de um
pedaço de fruta ou o rosto de um parente – algo familiar. Gere a imagem,
mantenha o foco inteiramente sobre essa imagem, deixe-a desvanecer e,
em seguida, mantenha a sua atenção exatamente onde estava a imagem,
preparado para detectar a próxima imagem, pensamento ou evento mental
de qualquer tipo que surgir dentro deste espaço. Esta prática é muito
simples: você deve fazer o seu melhor para manter um fluxo constante de
atenção plena direcionada ao espaço da mente, observando tudo o que
surgir nesse espaço sem reagir, sem julgar, sem distrações e sem
fixações.
Quando perceber que se distraiu – seguindo o hábito de se envolver
com os pensamentos, estimular novos pensamentos, emoções ou
imagens, e de reagir a fenômenos mentais – dê um passo para trás
suavemente e volte à observação atenta e passiva do fluxo mental.

Resumo da prática:
• Postura: de sua escolha (supina, sentado de pernas cruzadas, sentado
em uma cadeira).
• Corpo: estabelecido em seu estado natural.
• Respiração: estabelecida em seu ritmo natural.
• Atenção: no espaço da mente e em qualquer evento mental que surgem
nesse domínio da experiência.
• Quando se distrair: relaxe, libere o que capturou a sua atenção e, em
seguida, retorne a sua consciência para o espaço da mente e seu
conteúdo.
• Duração: um ghatika (vinte e quatro minutos).
• Intenção: observar os fenômenos mentais com lucidez, como uma
preparação para o sonho lúcido; desenvolver a concentração usando
fenômenos mentais como objetos da atenção.

306
Os três requisitos essenciais para aprender a sonhar com lucidez
são: (1) motivação adequada, (2) prática correta de técnicas eficazes, e (3)
habilidade excelente de recordar dos sonhos. O objetivo é se tornar
proficiente em sonho lúcido. Isso significa ter sonhos lúcidos frequentes e
ampliar sua duração, para que tenha tempo de realizar as práticas que
despertaram seu interesse pelo sonho lúcido.

Como sustentar a lucidez

Perder a lucidez significa, essencialmente, perder o contato com a


realidade da sua situação. Em vez de manter a consciência de que está
sonhando – que seu corpo está deitado imóvel na cama enquanto está
lúcido em seus sonhos – você novamente acredita que o sonho é real. É
incrível a facilidade com que isso pode acontecer.
Quanto mais você treinar em shamatha, menos provável será perder
a lucidez nos sonhos. A prática simples de acompanhar sua respiração
requer que você evite a tendência arraigada de seguir pensamentos
distraidamente. Além da prática básica de shamatha, estabelecer a mente
em seu estado natural, como apresentado anteriormente, é precisamente a
prática de manter uma atitude crítica reflexiva. Se estiver acostumado a
isso no estado de vigília – e especialmente se puder desenvolver algum
domínio, tornando-a um hábito – você terá menos problemas para manter
a lucidez durante o sonho. A maneira mais simples de garantir que você
consiga manter a lucidez nos sonhos é repetir para si mesmo com
frequência: “Isto é um sonho” ou “Eu estou sonhando”. Basta continuar se
lembrando. Isto irá impedi-lo de ser aprisionado em algum detalhe do
sonho, que poderá facilmente seduzi-lo para longe da lucidez.
Uma Sessão de Consciência da Consciência: Comece, como nas
sessões de shamatha anteriores, estabelecendo o corpo em seu estado
natural. Encontre uma postura confortável – sentado ou deitado em
posição supina. Em seguida, depois de tomar três respirações profundas e
amplas, estabeleça a respiração no seu ritmo natural. Pratique a atenção
plena à respiração, mantendo os olhos ao menos parcialmente abertos e
repousando o olhar no espaço à sua frente, sem prestar atenção aos
objetos próximos ou distantes. Continue respirando confortavelmente e
trazendo gentilmente as qualidades de relaxamento, calma e vigilância.
Mantenha-se perifericamente ciente de quaisquer fenômenos mentais que
surjam na sua mente. Depois que tiver atingido um estado relaxado e
equilibrado, desprenda a sua atenção de todos os objetos – de toda e
qualquer aparência física ou mental – e estabeleça a sua consciência no
próprio estado de estar consciente. Sua consciência não está direcionada

307
para lugar algum, nem para dentro nem para fora, mas repousa
naturalmente em sua própria natureza. Qualquer pensamento que surgir,
seja ele qual for, libere-o imediatamente. Assim estará permitindo que a
sua consciência se estabeleça naturalmente em sua própria natureza.
Mantendo esta vigilância tranquila e relaxada, simplesmente solte os
fenômenos que obscurecem a clareza da sua consciência. O que resta é o
puro evento de estar consciente. De vez em quando, verifique se está
fazendo algum esforço e se sua respiração continua profundamente
relaxada. Descanse neste estado de absoluta simplicidade.

Resumo da prática:
• Estabeleça o corpo em seu estado natural.
• Estabeleça a respiração em seu ritmo natural.
• Repouse com equilíbrio – relaxado, quieto e vigilante.
• Libere todos os pensamentos que surgirem na mente.
• Estabeleça a consciência na consciência apenas.
• Duração: um ghatika (ou o tempo que levar para adormecer com lucidez).
• Intenção: explorar a clareza límpida da consciência substrato,
possivelmente como um prelúdio do atravessar (breakthrough) para a
consciência primordial; ou para entrar no sono lúcido sem sonhos.

Comentários:
Esta prática é extremamente simples. A atenção deve ser mantida de
uma maneira muito tranquila e sutil, especialmente se a sua intenção for
adormecer sem perder a lucidez. Quando tiver adquirido algum domínio
sobre esta prática, a consciência substrato será experimentada de forma
direta, imbuída das qualidades de bem-aventurança, luminosidade e não
conceitualidade. A consciência da consciência oferece um atalho para esta
experiência, que é alcançada de forma mais gradual ao longo do tempo
por meio da prática de estabelecer a mente em seu estado natural.
Uma prática de meditação ideal para o sonho lúcido é estabelecer a
mente em seu estado natural. Neste caso, como vimos anteriormente,
você não deve alterar ou controlar qualquer um dos fenômenos mentais
que surgirem. Uma vez que tudo que é percebido no estado de sonho é
mental – pensamentos, emoções e objetos físicos – você deve
simplesmente prestar atenção a tudo o que surgir, sem se fixar, e sem se
deixar levar. Isto, naturalmente, fortalecerá a sua estabilidade como um
sonhador lúcido, já que, como vimos anteriormente, estar lúcido frente às
aparências de todos os fenômenos – dia e noite – é o principal fundamento
para o sonho lúcido. Portanto, fazer esta prática durante o sonho tem a
dupla vantagem de aumentar a sua habilidade em uma técnica de

308
meditação importante e fundamental, com amplas aplicações à prática
espiritual, e de também fortalecer a sua capacidade de sonhar com
lucidez.

Yoga dos Sonhos como caminho para Iluminação

A prática espiritual – seja a iluminação repentina por meio das das


meditações “cortantes” ou as abordagens mais suaves da iluminação
gradual – trata de remover os obscurecimentos da mente relativa (psique e
substrato) e descobrir a mente de luz clara absoluta. Quanto mais
removemos esses obscurecimentos, mais finos se tornam a psique e o
substrato. Quando esses véus são suficientemente finos, a luz da mente
de clara luz irrompe como o sol brilhando através de uma fresta nas
nuvens.
Há três classes gerais de sonhos podem ser correlacionadas com os
três níveis da mente – psique, substrato e mente de luz clara – que temos
explorado. Estas correlações podem ajudar-nos a distinguir entre sonhos
aos quais devemos prestar atenção e aqueles que podemos ignorar
O mais profundo dos três níveis da mente, a mente de luz clara, é o
nosso destino final na ioga dos sonhos (ou em qualquer tipo de prática de
meditação diurna). Se pudermos reconhecê-lo, realmente temos algo pelo
que ansiar no silêncio da noite – e no fim da vida. Se pudermos
compreender a mente de luz clara como nosso destino, também
compreenderemos que estamos realmente mais despertos e mais
iluminados.
Esta luz, que é a luz da consciência pura, pode ser sentida como um
nível aumentado de insight, intuição, consciência ou experiência espiritual.
Você pode começar a ter sonhos e sentimentos especiais. Quando você
começa a olhar para dentro - por meio da contemplação, da meditação ou
das iogas noturnas - você está abrindo buracos nos níveis relativos de sua
mente e acessando vastos recursos naturais internos. Você está tornando
sua psique e seu substrato mais porosos.
Depois de ver essa luz e quem você realmente é no fundo do seu
ser, você verá tudo sob uma nova luz. Você não se identificará mais com
os níveis superficiais de sua identidade. Você não está mais enganado.
Quando você se refugia em sua mente de luz clara, você ainda tem acesso
à psique — apenas não se identifica com ela. Você usa a psique, como
ferramenta limitada que ela é, para trabalhar com outras pessoas que
ainda estão apegadas a esse falso senso de identidade. Mas você não
deixa isso te usar. Você reside em um nível que é muito mais divino.

309
A ioga dos sonhos tem o potencial de revelar todos os aspectos de
nós mesmos, pessoais e transpessoais. De qualquer forma, os aspectos
relativos (pessoais) são revelados nos sonhos, como qualquer intérprete
de sonhos pode atestar. Muitas vezes, isso é material de sombra e deve
ser trazido à luz se quisermos ser livres. Abaixo disso, mais uma vez, está
o aspecto absoluto (transpessoal) de nós mesmos, nossa mente de luz
clara. A prática da ioga dos sonhos nos torna transparentes para nós
mesmos, revelando cada parte oculta de nós e, portanto, podemos
finalmente relaxar. Podemos relaxar porque se não há mais nada a
esconder, não há mais nada a procurar. O caminho para o despertar
chega ao fim. Remova o obstáculo da busca e você chegou
O benefício final para você mesmo é perceber a ausência de
ego/vazio, ou abnegação. Isso é sabedoria. Trata-se de ver através da
fachada da mera aparência (a psique/ego) e descobrir a sua mente de luz
clara. Todo o propósito da Doutrina dos Sonhos é estimular o iogue a sair
do Sono da Ilusão, do Pesadelo da Existência, para quebrar as algemas
nas quais maya o manteve prisioneiro ao longo das eras, e assim alcançar
a paz espiritual e a alegria da Liberdade, assim como fez o Totalmente
Desperto, Gautama, o Buda.
Existem duas maneiras de encarar os sonhos lúcidos. Uma delas é
que o sonho lúcido não é natural, mas se torna mais natural através do
treinamento. Essa visão é lógica e encorajadora: pratique sonhos lúcidos e
você terá sonhos lúcidos.
O que fazemos no nível consciente (psique) impacta o nível
inconsciente (substrato), e o que fazemos no nível inconsciente impacta o
nível consciente. Para nossos propósitos aqui, isso é importante porque
significa que o que pensamos pode impactar nossos sonhos — um
processo que usaremos para transformar nossos sonhos não lúcidos em
lúcidos — e o que sonhamos pode impactar nossos pensamentos — um
processo que usarei para transformar nossas vidas não lúcidas em vidas
lúcidas. Com a ioga dos sonhos, mudamos nossas mentes e, portanto,
nossas vidas, usando o meio dos nossos sonhos.
No jargão espiritual, falamos sobre “plantar sementes” através de
nossas meditações diárias e boas ações. Nossa prática (ou hábitos)
diários planta boas “sementes cármicas” no substrato, que amadurecerão
em boas experiências futuras. Na ioga dos sonhos fazemos isso de forma
mais direta, trabalhando de forma mais consciente (lúcida) com nossa
mente inconsciente. Em vez de apenas plantar sementes, é quase como
se estivéssemos transplantando flores. Por ser mais direto, isso significa
que a transformação pode ocorrer mais rapidamente. Nossa prática
amadurece e floresce mais rapidamente. Isso é encorajador, porque a ioga

310
dos sonhos pode ser sutil e difícil. É sutil e difícil porque é muito direto.
Mas a persistência rende dividendos rápidos. Quanto mais próximo você
chegar da mente de clara luz com essa prática espiritual, mais lúcido você
se tornará.
À medida que estabilizamos a nossa mente na meditação e trazemos
maior consciência às nossas vidas, esta estabilidade e consciência
estendem-se naturalmente ao estado de sonho e começamos a
experimentar uma segunda categoria de sonhos: “sonhos não cármicos”.
Enquanto os sonhos cármicos são geralmente “pequenos sonhos” –
fragmentados e sem sentido – os sonhos não cármicos são
frequentemente Grandes Sonhos. Eles podem mudar sua vida.
Você também pode avaliar seu progresso no caminho espiritual
observando que tipos de sonhos você tem. Através da prática espiritual,
você purifica sua consciência substrato – também conhecida como
consciência “depósito”, porque armazena todas as suas sementes
cármicas. Usando esta imagem, o progresso ocorre à medida que todas as
sementes ruins no armazém são substituídas por sementes boas, e então
até mesmo as sementes boas são esvaziadas. À medida que você purifica
sua consciência substrato, os sonhos ruins e os pesadelos diminuem e
depois desaparecem completamente (as sementes ruins são purificadas).
Bons sonhos samsáricos aumentam (mais sonhos de dharma,
professores, ensinamentos – boas sementes estão sendo colocadas no
substrato). Os sonhos de clareza começam e depois aumentam. E,
finalmente, os sonhos de luz clara podem começar e aumentar
gradualmente. Nos estágios finais da purificação, à medida que a
consciência armazenadora é completamente esvaziada, o sonho cessa
completamente (até mesmo as boas sementes foram purificadas até o
vazio. Não resta mais nada para semear um sonho. Este estágio final é o
estado de Buda, ou despertar completo.
Em termos de atenção plena, quanto mais rápido a mente se move,
mais sólidas e contínuas as coisas aparecem. Desacelere a mente,
através da prática da atenção plena, e as lacunas na realidade que sempre
existiram começarão a ser reveladas. A natureza pixelizada da realidade é
discernida. É como pegar um rolo de filme, onde imagens discretas
passam diante do projetor a vinte e quatro quadros por segundo (criando a
ilusão de continuidade), e desacelerá-lo. O que parecia tão contínuo agora
está cheio de buracos. A fusão da cintilação desaparece e a aparência
desmorona. Esta é outra razão pela qual a meditação da atenção plena é
tão útil para a ioga dos sonhos. Quanto mais atento você estiver, mais verá
a natureza fugaz, sempre mutável e onírica da realidade.

311
À medida que você avança no caminho, você perde a estabilidade
das aparências externas (elas não são mais vistas como tão sólidas,
duradouras e independentes), o que pode ser inicialmente perturbador
para o seu ego ávido por estabilidade, mas você ganha a estabilidade de
um mente forte e inabalável, o que, em última análise, se ajusta muito ao
seu espírito ou verdadeira natureza. Esta é uma grande troca. Porque
quando a instabilidade das aparências externas inevitavelmente surge
como a manifestação natural da impermanência e da morte (que são
ambas a manifestação natural do vazio), sua mente estável pode cavalgar
essa impermanência sem ser atirada por ela. A estabilidade da sua mente
se torna a sua realidade inabalável. Você então se refugia nessa
estabilidade interna, e não nas aparências externas fugazes. Você não
depende mais de circunstâncias externas para sua estabilidade, seu senso
de realidade ou sua sanidade. Você leva sua mente estável consigo para
qualquer experiência possível. Onde quer que você vá, aí está você. E
esse “você” está totalmente sob controle – mesmo quando todo o resto
está desmoronando. Nada, absolutamente nada, pode te abalar. Esta é a
mente imperturbável e indestrutível de alguém desperto (no budismo
conhecida como mente vajra). E, diferentemente de qualquer outra coisa,
essa estabilidade é algo que você pode levar consigo, mesmo depois de
morrer — porque é o seu verdadeiro eu, a qualidade indestrutível da sua
mente e do seu coração mais profundos.
A abordagem à ioga dos sonhos é uma reunião da visão correta, as
meditações corretas, a atitude correta, a motivação correta e as práticas
preliminares corretas para que um dia o raio da lucidez brilhe dentro de
você, nos seus sonhos. Esta abordagem é chamada de “o caminho
gradual para o despertar repentino”.
A iluminação é a estabilização das qualidades iluminadas que você
pode cultivar agora. Sempre que você age com bondade e compaixão,
sempre que demonstra generosidade e paz, sempre que manifesta virtude
e bondade, você está se tornando cada vez mais familiarizado e, portanto,
estabilizando o estado iluminado. Todas as nobres qualidades que
compõem a iluminação estão dentro de nós neste instante e surgem de
vez em quando. Nossa tarefa é fazer com que eles apareçam com mais
frequência e mantê-los ativos. Isto significa que quanto mais cedo fizermos
da iluminação uma prática consciente – quanto mais cedo cultivarmos
qualidades iluminadas de amor, abnegação, paciência, compaixão e
coisas do gênero – mais cedo alcançaremos a iluminação. Então a bênção
é que depende de nós. É nossa responsabilidade. E nós podemos fazer
isso.

312
Quando veneramos os Budas, estamos prestando homenagem à
extraordinária disciplina, perseverança, tenacidade, coragem e esforço
bruto que foram necessários para estabilizar suas qualidades iluminadas –
exatamente as mesmas qualidades que estão dentro de nós agora e que
aguardam nosso desenvolvimento. Budas são pessoas que acordaram
para o fato de que, para alcançar a iluminação, teriam que praticá-la. Eles
trabalharam duro para neutralizar suas tendências egoístas até que
tendências altruístas assumiram o controle. Quando sentiram o desejo de
agarrar, substituíram isso pela prática da liberação. Quando sentiram a
tendência de sucumbir à negligência, substituíram isso pela prática da
atenção plena. Assim como acontece com a atenção plena, a forma
ilusória e qualquer outra prática espiritual, eles perceberam que o estágio
de esforço amadurece para o estágio sem esforço e, eventualmente, para
o estágio espontâneo, quando “de repente” percebem que se tornaram um
Buda.
Por fim, medite em seu sonho lúcido e alcance a autoliberação. Este
estágio avançado é especialmente sutil e revela quão estável sua mente
realmente é. Enquanto estiver acordado, você pode meditar usando a
âncora do seu corpo ou um objeto externo. Há algo estável para voltar.
Mas nos sonhos você tem um corpo mental inconstante que tremeluz
como uma vela ao vento e objetos oníricos “externos” que mudam tão
rapidamente quanto a mente que os observa – porque eles são a exibição
dessa mesma mente. Não há nada externamente estável ao qual voltar.
Não há poste de engate. A única estabilidade em um sonho é a
estabilidade da sua mente. Mas com o aumento da estabilidade e da
lucidez, desenvolvidas por suas meditações diárias e pelos estágios
anteriores da ioga dos sonhos, você pode começar a meditar em seus
sonhos.
Um dos aspectos mais bonitos da ioga dos sonhos é que ela leva à
descoberta de um mundo sagrado. Agora pegue esse insight mais uma
vez e transponha-o para a “percepção” final, ou o mundo aparentemente
externo. A sua percepção do mundo é fundamentalmente diferente?
Quando você vê o mundo de forma pura, a partir da perspectiva da mente
de luz clara, você vê através da dualidade, e as aparências se conhecem.
Assim como em um sonho, não há sujeito, nem objeto, nem ato de
percepção dualística (impura). Tudo é reflexivamente consciente e,
portanto, perfeitamente puro. Veja como acontece essa descoberta
mágica. Quando você está sonhando, parece haver um sujeito (você)
percebendo um objeto (o sonho). Há uma sensação inquestionável de que
o sonho de alguma forma aparece na tela da sua mente, e você está
sentado em algum lugar neste teatro mental, observando-o. A tela e as

313
imagens oníricas parecem estar “lá fora” e você está em algum lugar mais
profundo “aqui dentro”. Mas dê uma olhada mais de perto. Examine sua
experiência onírica da perspectiva da consciência desperta. Observe a
ilusão dupla da perspectiva da ilusão primária e você descobrirá que esse
sentimento de dualidade é ilusório.
Tanto o substrato quanto a psique emanam do nível mental mais
profundo e fundamentalmente inefável, ao qual neste livro nos referimos
como mente de luz clara. Quando o Buda atingiu a iluminação, ele
despertou da psique e do substrato para a mente de luz clara. Este nível
tem vários nomes – base do ser, natureza búdica, bondade básica,
dharmakaya, rigpa, natureza imutável e assim por diante – mas “mente de
luz clara” é perfeita no contexto dos yogas noturnos porque sugere o brilho
brilhante, luminosidade que brilha constantemente no âmago do nosso ser.
Esta é a luz da mente desperta que nunca se apaga. Conhecer essa
mente, mesmo no nível do mapa, é como um farol que o direciona para um
porto espiritual seguro. A mente de luz clara, é o nosso destino final na
ioga dos sonhos (ou em qualquer tipo de prática de meditação diurna). Se
pudermos reconhecê-lo, realmente temos algo pelo que ansiar no silêncio
da noite – e no fim da vida. É para lá que vamos todas as noites quando
adormecemos e é para lá que vamos quando morremos. Se pudermos
reconhecer e depois sustentar o reconhecimento, é isso que podemos
trazer conosco para iluminar cada ação durante o dia. Mas porque a
maioria de nós não reconhece a nossa mente de luz clara, deixamo-la para
trás à medida que ascendemos de volta à consciência desperta.
Ironicamente, deixamos a luz (da sabedoria não-dual) e entramos na
escuridão (da ignorância dualista). Esquecemos onde estivemos e
continuamos sonâmbulos pela vida.
Os iluminados operam a partir do nível da mente de luz clara e nunca
a abandonam. Eles “olham para cima” para aqueles que estão presos na
armadilha da psique e têm compaixão pelo sofrimento que resulta dessa
armadilha. A mente de luz clara é de onde vem a intuição e o
conhecimento extraordinário: coisas como PES, clarividência e
clariaudiência. A intuição vem de estar “em sintonia” com a mente de luz
clara, o que significa estar em sintonia com todos os outros neste nível de
pré-pensamento. Como a mente de luz clara transcende o espaço e o
tempo, todos os tipos de conhecimento extraordinário ocorrem quando nos
sintonizamos com ela. Se pudermos compreender a mente de luz clara
como nosso destino, também compreenderemos que estamos realmente
mais despertos, mais iluminados, em sono profundo e sem sonhos.
Essa é uma terceira e mais profunda classe de sonhos, que é
quando os sonhos surgem de forma não dualística a partir da mente de luz

314
clara. Esse tipo avançado de sonho tende a ocorrer quando alguém está
envolvido em práticas sutis como a ioga do sono. Num “sonho de luz
clara”, o sonhador permanece na mente de luz clara, e não há sensação
de um sujeito (você) percebendo um objeto (o sonho). O sonho é
reflexivamente consciente.
As práticas noturnas da ioga dos sonhos são relativamente
avançadas e iremos abordá-las nos capítulos seguintes. Algumas pessoas
têm mais talento natural para a ioga dos sonhos do que outras. Mas a ioga
dos sonhos tem uma prática diurna rigorosa chamada forma ilusória, que é
algo que qualquer um pode fazer e é uma maneira autêntica de praticar a
essência da ioga dos sonhos. Se a ioga dos sonhos noturnos não
funcionar para você - mesmo que você nunca tenha tido um sonho lúcido -
você ainda pode obter grandes benefícios da ioga dos sonhos aplicando
os princípios da forma ilusória à sua vida.
Como vimos, a ioga dos sonhos e a meditação da forma ilusória
apoiam-se mutuamente. Sua prática da forma ilusória fortalecerá o yoga
dos seus sonhos, e o yoga dos seus sonhos fortalecerá a sua forma
ilusória. A prática da forma ilusória expande essa consciência atenta, de
modo que você não apenas volte continuamente à consciência do
momento presente, mas também volte continuamente à consciência de
que o que está acontecendo no momento presente é ilusório.
Uma máxima central da jornada do yoga dos sonhos também é
compartilhada pela física: quanto mais profundamente você olha as coisas,
menos você encontra. Aqueles que se preocupam em olhar são aqueles
que enxergam através dessa trindade de falsas aparências e acordam. Ver
a realidade, que é sinônimo de ver o vazio, é, em certo sentido, ver menos.
As coisas são menos sólidas, menos duradouras e menos independentes.
Se você não vê nada (vazio), essa é a melhor visão. Portanto, da
perspectiva da ioga dos sonhos e do budismo como um todo, ver as coisas
como sólidas, duradouras e independentes é um sinal onírico de que você
está dormindo no mundo da dualidade. Em termos de atenção plena,
quanto mais rápido a mente se move, mais sólidas e contínuas as coisas
aparecem. Desacelere a mente, através da prática da atenção plena, e as
lacunas na realidade que sempre existiram começarão a ser reveladas. A
natureza pixelizada da realidade é discernida. Esta é outra razão pela qual
a meditação da atenção plena é tão útil para a ioga dos sonhos. Quanto
mais atento você estiver, mais verá a natureza fugaz, sempre mutável e
onírica da realidade.
A prática diurna de ioga dos sonhos de forma ilusória tem três
aspectos: corpo ilusório, fala ilusória e mente ilusória. Nós nos
relacionamos com o mundo através do corpo, da fala e da mente, e

315
solidificamos nossa experiência do mundo com nossos pensamentos,
palavras e ações. A forma ilusória trabalha diretamente com esses três
portais para afrouxar e então dissolver nosso mundo sólido. Ajuda-nos a
desenvolver uma visão penetrante, uma visão que nos permite ver através
da mera aparência e da realidade, cortando as formas, sons e
pensamentos que de outra forma nos aprisionariam na angústia e no
descontentamento da vida mundana – o sofrimento do samsara.
A prática do corpo ilusório é fácil de resumir: você se lembra
continuamente de que as formas deste mundo são como um sonho. A
prática básica é dizer, quase como um mantra, “Estou sonhando” ou “Isso
é um sonho”, sempre que puder, e realmente sentir que o que você está
percebendo agora é um sonho. É simples assim.
Reflita sobre as analogias da ilusão. Muitas dessas analogias vêm do
Sutra do Diamante, que é um sutra de “cortar”. Os diamantes podem cortar
qualquer coisa. Este sutra diz: “Portanto, você deve ver o mundo fugaz:
uma estrela ao amanhecer, uma bolha na correnteza, um relâmpago em
uma nuvem de verão, uma lâmpada bruxuleante, um fantasma e um
sonho”.
A prática da mente ilusória é uma aplicação íntima e imediata das
meditações de corte discutidas anteriormente. Com a mente ilusória, o
corte da psique e do substrato ocorre no local. Com a prática da mente
ilusória, as coisas que levamos tão a sério – nossas ambições, receios,
antecipações e dúvidas – são vistas como passageiras, efêmeras e
transparentes, como faíscas inofensivas que se dissolvem no céu noturno.
Tente ver como você solidifica suas experiências – como você solidifica
sua dor, sua felicidade, sua alegria – e como essas experiências se tornam
tão importantes para você que você não consegue até dormir à noite.
Nossa experiência é tão real, tão importante e tão incômoda para nós que
nem conseguimos ter uma boa noite de sono.
Se solidificarmos qualquer experiência, o resultado será samsara,
sono e sofrimento. Se suavizarmos o conteúdo da nossa mente, o
resultado será o nirvana, o despertar e o fim do sofrimento. Muitas
meditações padrão funcionam para nos ajudar a ver através de nossos
pensamentos e emoções, e aqui usaremos algumas dessas meditações no
contexto do aspecto mental da forma ilusória.
A prática da mente ilusória começa com atenção plena (shamatha) e
consciência (vipashyana). Shamatha desacelera a mente; vipashyana nos
permite ver através disso. Quando os pensamentos fluem pela mente,
tendemos a ser arrastados pela torrente. É difícil ver através da corrente.
Quando a mente desacelera, ela fica “mais fina” e mais transparente.
Vipashyana significa “insight” e, com a prática da mente ilusória, refere-se

316
a pegar o olho da mente e devolvê-lo. Este é o olhar do “insider”
mencionado anteriormente e nos permite ver as camadas externas da
mente para o que eles realmente são - meras nuvens flutuando no vasto
espaço aberto da mente.
Por um lado, a prática da mente ilusória é fácil. Apenas não acredite
em tudo o que você pensa. Experimente e você verá como é fácil. Observe
um pensamento surgir, olhe diretamente para ele e depois observe-o
derreter diante de seus olhos. Mas por causa de uma vida inteira
considerando os pensamentos como reais, é difícil sustentar esse olhar
penetrante. Há tanta história de reificação, tanto carma e hábito que
continua solidificando tudo que aparece. A constância é, portanto, a
dificuldade. Quando você vê a natureza ilusória do conteúdo da sua
mente, os pensamentos e as emoções não têm mais poder sobre você.
Isso é o que significa libertação espiritual. Você finalmente está livre de se
relacionar de forma inadequada com o conteúdo da sua mente.
Pensamentos e emoções tornam-se agora adornos da mente em vez de
obscurecimentos. Ao trazer os processos inconscientes que controlam
nossas vidas para a luz da consciência, podemos nos libertar deles.
Do ponto de vista psicológico (sonho lúcido), o objetivo dos estágios
que se seguem é a reconciliação e a integração com os elementos do
sonho e, portanto, com os elementos da sua mente inconsciente. Do ponto
de vista espiritual (ioga dos sonhos), o objetivo da prática é ganhar
domínio sobre os elementos do sonho: uma vez que você reconhece que
está em um sonho lúcido, você adiciona formas mais avançadas de
trabalhar com o sonho, com o potencial máximo de iluminação. Os
estágios finais da ioga dos sonhos visam atravessar sua mente
inconsciente até a mente de luz clara abaixo.
Descanse na mente de luz clara. O último estágio da ioga dos
sonhos é descer abaixo da psique (o que significa qualquer nível de
sonho) e depois abaixo do substrato (a fonte relativa do sonho), para
finalmente descansar na consciência prístina da mente de luz clara. Você
abandona todas as imagens oníricas e descansa na consciência da
consciência. O ápice da ioga dos sonhos é dissolver todas as aparências
dos sonhos e descansar na natureza da mente.
que você faz quando alcança a mente de luz clara? Apenas relaxe ou
“morra” na natureza absoluta da sua mente. Descanse em paz absoluta,
um estado de meditação sem esforço e sem distrações. Você pode então
voltar (renascer) em um sonho e fazer o que quiser enquanto transforma
essa consciência sem forma em inúmeras formas de sonho. Quando você
leva consigo a mente de luz clara, os sonhos ficam instantaneamente
lúcidos. É um caminho completo. A meditação só é aperfeiçoada quando

317
você é capaz de meditar durante os sonhos, assim como medita durante o
dia. Então você pode descer e descansar novamente no suntuoso leito da
mente de clara luz.
Assim como a ioga dos sonhos é um passo além do sonho lúcido, a
ioga do sono é um passo além da ioga dos sonhos. É chamado de “ioga
do sono” porque traz lucidez ou consciência ao sono profundo e sem
sonhos. E enquanto o sonho lúcido constitui lucidez parcial, o sono lúcido
constitui lucidez total. Sonhar às vezes é chamado de “porta de entrada”
para o infinito; a prática sutil da ioga do sono deposita você totalmente no
infinito. Na educação da noite, fazer ioga do sono é como fazer seu
doutorado.
A ioga dos sonhos é uma prática secundária à ioga do sono. A
prática primária é “a prática da luz natural” – outra forma de dizer “a prática
da mente de luz clara”. A ioga dos sonhos é considerada secundária
porque, se você realizar a ioga do sono, a ioga dos sonhos ocorrerá
naturalmente. Você fica automaticamente lúcido em seus sonhos. Pode
chegar um ponto em que a ioga do sono se desenvolva espontaneamente
para você. Enquanto o sonho lúcido e a ioga dos sonhos funcionam
principalmente com níveis do inconsciente logo abaixo da psique, a ioga
do sono funciona principalmente com os níveis mais profundos do
substrato e da mente de luz clara.
Podemos chegar ao resultado final da felicidade irredutível
observando o que os budas desejam. Aqueles que estão espiritualmente
despertos não querem nada. Eles ficam totalmente satisfeitos em
descansar na consciência pura. Por não ter forma, a mente de luz clara
também é imortal. É aqui também que o yoga do sono se transforma no
bardo yoga, o yoga final da noite. Ao trabalhar com a ioga do sono, você
está se preparando diretamente para a morte. Ao conhecer a sua natureza
sem forma e tornar-se cada vez mais familiarizado com ela (a definição de
meditação), você pode começar a transformar a escuridão do sono sem
sonhos na luminosidade imortal que realmente é.
Yoga do sono simplesmente, é a prática de manter a consciência à
medida que passamos da consciência desperta para o sono sem sonhos.
Eu recomendo praticar ioga do sono com uma progressão de três estágios
de meditação de atenção plena diurna. Esses estágios o ajudarão a
desenvolver estabilidade e manter a consciência enquanto você adormece:
O primeiro estágio é a atenção plena à forma, que envolve colocar sua
mente em qualquer forma externa, como um objeto, seu corpo ou sua
respiração. É um primeiro passo fácil. O segundo estágio é a atenção
plena, que ocorre quando você começa a fazer a transição das coisas
externas grosseiras para os pensamentos internos mais sutis. A prática

318
aqui é testemunhar todos os eventos mentais – pensamentos, emoções,
imagens – sem se envolver neles. Como vimos, o conteúdo da nossa
mente tende a nos sugar, assim como o conteúdo do mundo, e assim
ficamos inconscientes do que está acontecendo na nossa mente. A
atenção plena na forma e a atenção plena na mente nos ajudam a
despertar para (e, portanto, das) formas externas e internas. À medida que
progredimos do primeiro para o último, deslizamos do grosseiro para o
sutil, da forma para o informe. O terceiro estágio é a atenção plena sem
forma. Esta é a principal prática diurna preliminar para a ioga do sono e
também é conhecida como shamatha não referencial, shamatha sem
objeto, shamatha sem sinal ou consciência da consciência. Com esta
prática, em vez de colocar a sua atenção em qualquer forma, interna ou
externa, a atenção é colocada na própria consciência. A consciência
simplesmente repousa dentro de si mesma.
Outra forma de descansar livre do ponto de referência é “deslizar de
cima para baixo”, descendo pelos três estágios. Comece prestando
atenção às vinte e uma respirações ou ao tempo que for necessário para
acalmar sua mente. Em seguida, mova sua atenção para o conteúdo de
sua mente sem se deixar envolver por ele. Observe pensamentos e
imagens flutuando como nuvens na natureza celeste de sua mente. Depois
de alguns minutos, estabeleça sua consciência no estado de estar
consciente. Solte as nuvens e dissolva-se no céu. Neste ponto a sua
consciência não está dirigida a lugar nenhum, mas simplesmente repousa
dentro de si mesma. Se surgir um pensamento, ou algo externo o distrair,
deixe-o ir e retorne à própria consciência. Libere qualquer coisa que
interrompa a clareza da sua consciência aberta. Chama-se “shamatha
não-referencial” porque você não está retornando a nenhum,
O ápice das meditações diurnas da ioga do sono são as meditações
sem forma do Mahamudra e Dzogchen. Estas são as práticas que
apresentam a você a própria mente de luz clara e depois mostram como
estabilizar esse reconhecimento. A principal prática do Dzogchen é
trekchö, ou “cortar”, que se refere a cortar tanto a psique quanto o
substrato para chegar ao leito da mente de luz clara.
Embora possa ser mais difícil induzir o sono lúcido, a boa notícia é
que, uma vez que você esteja lúcido em um sono sem sonhos, a prática
real da ioga do sono é extremamente simples. Ao contrário dos estágios
progressivos da ioga dos sonhos, a única coisa que você faz na ioga do
sono é relaxar. Você “morreu” conscientemente. Agora descanse em paz.
Descanse na natureza da sua mente de luz clara. O que constitui o
progresso é a facilidade e a frequência com que você pode cair

319
lucidamente no sono sem sonhos e o período de tempo que pode
permanecer lá.
A ioga do sono, uma jornada para dentro e para fora da mente de luz
clara, é uma ioga de manutenção da consciência à medida que entramos e
saímos do sono sem forma. Essa é a prática. Levamos a nossa
consciência dualista até onde ela pode nos levar, o que vai até a borda do
sono sem sonhos/sem forma. Mas a consciência dualista não pode
perceber o sono não-dualista sem sonhos, por isso temos que deixá-lo de
lado e “morrer” na não-dualidade do sono lúcido.
O aspecto mais importante da ioga do sono será a visão, a
compreensão dessa potencialidade ou iluminação. Podemos manter a
aspiração de atingir este nível de despertar, podemos alcançar a
consciência buscando continuamente a luminosidade da mente de luz
clara e podemos tentar permanecer conectados a esta fonte através da
prática da forma ilusória. Desta forma, flashes de iluminação podem ser
transformados em luz permanente.
As praticas da ioga dos sonhos e da ioga do sono, como vimos, não
servem apenas para dormir. Eles preparam você para a vida e
especialmente para a morte. Em outras palavras, a prática e a fruição do
sonho e da ioga do sono consistem em ver tudo da perspectiva da mente
de luz clara. Uma vez reconhecida a mente de luz clara, a meditação
consiste em integrar a luz com tudo. Quando isso é alcançado, chama-
se iluminação.
O objetivo da ioga dos sonhos não é realmente controlar seus
sonhos. É sobre controlar sua mente. Até que você transforme os
elementos inconscientes da sua mente, eles continuarão a controlar a sua
vida consciente. Ao adquirir domínio sobre sua mente, você se torna
destemido no escuro e eventualmente o elimina. Sempre temos medo do
que não sabemos. Ao trazer a luz da consciência para esta escuridão,
podemos vencer o medo, a emoção primordial do samsara. E se
vencermos o medo, venceremos o samsara.
O Bardo Yoga é uma prática contemplativa que transcende, mas
inclui seus antecessores, e mostra que as práticas noturnas podem levá-lo
até e através da escuridão da morte.

Prática diurna da ioga dos sonhos

Da mesma forma que se prepara durante o dia para o sonho lúcido


durante a noite – fazendo verificações de estado, mantendo um diário de
sonhos, desenvolvendo uma atitude de reflexão crítica, e assim por diante
– o iogue dos sonhos utiliza práticas diurnas de ioga e meditação para

320
preparar o terreno para a prática noturna de ioga dos sonhos. Para ambos
os estilos de prática, se você puder se tornar lúcido durante o estado de
vigília e fizer disto um hábito, será muito mais fácil atingir a lucidez durante
o sonho.
Os ensinamentos sobre as práticas diurnas e noturnas de ioga dos
sonhos presumem um grau de estabilidade e vivacidade mentais que
derivam do desenvolvimento do poder de concentração. Portanto, uma
mente sutil e funcional, aperfeiçoada pela prática de shamatha, é
indispensável para o sucesso na prática de ioga dos sonhos.
Normalmente, depois de nos deitarmos, permitimos que a mente
perambule por todos os lugares por algum tempo e depois adormecemos,
nesse estado de conversa interna semiconsciente. Portanto, temos que
treinar para acalmar essa mente tagarela obsessiva, compulsiva e
conseguir algum sossego para que possamos manter a nossa
determinação, manter a memória prospectiva – com a mente muito
relaxada e tranquila – e, em seguida, cair diretamente no sono.
O que fazemos no nível consciente (psique) impacta o nível
inconsciente (substrato), e o que fazemos no nível inconsciente impacta o
nível consciente. Para nossos propósitos aqui, isso é importante porque
significa que o que pensamos pode impactar nossos sonhos — um
processo que usaremos para transformar nossos sonhos não lúcidos em
lúcidos — e o que sonhamos pode impactar nossos pensamentos — um
processo que usarei para transformar nossas vidas não lúcidas em vidas
lúcidas. Com a ioga dos sonhos, mudamos nossas mentes e, portanto,
nossas vidas, usando o meio dos nossos sonhos.
Em todas as grandes tradições espirituais em que a meditação
desempenha um papel importante, a palavra de ordem é “Desperte!” Este
apelo tem repercussões na ciência da Psicologia ocidental. A implicação é
de que ao longo de nossas vidas estamos adormecidos, essencialmente
sonhando. É claro que se caminharmos como sonâmbulos pela vida
iremos invariavelmente tropeçar em realidades não vistas. Dadas as
incertezas da vida, precisamos estar o mais despertos possível às
oportunidades e aos perigos. Despertar no sonho é dirigido tanto para o
nosso despertar da vida-como-um-sonho quanto para nos tornarmos
lucidamente conscientes em meio aos sonhos durante a noite. Ambas as
situações, bem como o nosso despertar dentro delas, estão intimamente
ligadas. Esse despertar traz consigo a clareza e a liberdade, que
constituem a base para a verdadeira felicidade.
Algumas das maiores aventuras da vida podem acontecer enquanto
você está dormindo profundamente. Esta é a promessa do sonho lúcido,
que é a habilidade de alterar a realidade do seu próprio sonho de qualquer

321
forma que você queira, simplesmente tendo consciência do fato que você
está sonhando enquanto está no meio de um sonho.
Devemos experimentar o sonho lúcido para além do entretenimento,
como forma de aumentar a criatividade, resolver problemas e aumentar o
autoconhecimento. Ele então vai mais adiante seguindo a linha dos
métodos de Ioga Tibetana Budista dos sonhos, a fim de usar seus sonhos
lúcidos para alcançar a mais profunda forma de insight.
A prática da ioga dos sonhos, entretanto, nos torna transparentes
para nós mesmos, revelando cada parte oculta de nós e, portanto,
podemos finalmente relaxar. Podemos relaxar porque se não há mais nada
a esconder, não há mais nada a procurar. O caminho para o despertar
chega ao fim. Remova o obstáculo da busca e você chegou.
Pratique sonhos lúcidos e você terá sonhos lúcidos.
Tenha bons sonhos e seja feliz!

SINÓPSE

A TOTALIDADE DO SER
Ver
Vontade
Sonhar
O corpo energético
O Nagual
A bolha da percepção
O lugar do conhecimento silencioso
Uma arte aplicável a tudo
A essência da espreita
O lugar da não-piedade
Ausência de auto-importância
O Elo de conexão com o intento

A ARTE DE SONHAR
A arte de manejar o corpo sonhador
A posição de sonho
A trilha do guerreiro
Condições de sonhar
Atenção sonhadora
Exploradores de energia e consciência
Os portões de sonhar
Intentando o corpo sonhador

322
O caminho dos feiticeiros
As barreiras da mente
Acordando em outro sonho
Aperfeiçoando o corpo energético
Condição geradora de energia
O brilho da luz interna
Itens geradores de energia
Alinhando outros mundos
A percepção espreitadora
Coerência e uniformidade
Mundos além da imaginação
Uma nova área de exploração
A espreita definitiva
Viagem energética para outros mundos
As ordens do espírito
Organizar-se para sonhar
Escolher um tema para sonhar
Encontrar as mãos no sonho
Aprender a viajar

A RECAPITULAÇÃO

NO CAMINHO DO CONHECIMENTO
O homem de conhecimento
Atributos do homem de conhecimento
A clareza
O poder
O poder pessoal
A energia sexual
A impecabilidade
O sentido de não se ter tempo
A importância própria
O problema da vaidade
O não fazer

A ARTE DO CAÇADOR
Ser inacessível
As rotinas da vida
A última batalha
A responsabilidade pelos atos
A força de um guerreiro

323
A ARTE DO GUERREIRO
A disposição de guerreiro
Uma luta interminável
Agir em vez de falar
Escudos protetores
O caminho do coração
Consciência das modificações
A conversa interna
A idéia da morte
Os pequenos tiranos
Interação dos atributos do guerreiro
Exercício de estratégia
Em harmonia com o mundo
Centímetro cúbico de oportunidade
A marca de um guerreiro
A humildade do guerreiro
A grande aventura do desconhecido
Reclamações e julgamentos
A alegria de um guerreiro

MANOBRAS, TÉCNICAS E TRUQUES


O diálogo interno
O ponto de ruptura
Projeção do infinito
Viajando no mar escuro da
Ver a partir do silêncio interior
Movimento dos olhos
O olhar do guerreiro
A maneira certa de andar
Caminhar no escuro
Poemas na espreita de si mesmo
Uma postura de poder A destreza física e o bem-estar mental
A energia dispersada
Apagar a história pessoal
A liberdade total
Espreitar a si mesmo
Acordando o intento
Romper os parâmetros da percepção normal
Armazenando informação
A disciplina contra a instalação alienígena

324
Um exercício de disciplina

ENCONTRO COM O INFINITO


As manobras da feitiçaria
A morte pessoal
Aspectos da força rolante
Entre a vida e a morte
Opção oculta para a morte

A ÚLTIMA TAREFA
A encruzilhada final

ANEXOS
O Caminho do Coração
Os Passes Mágicos
9 Práticas-chave do Caminho Tolteca
A Arte de Sonhar

AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIAS

Esta compilação é um trabalho de gratidão aos mestres-feiticeiros


toltecas do antigo México e de todas as épocas, especialmente ao
desafiador da morte, que me deu alguns dons de poder, e a Juan Matus e
Florinda Matus, Genaro Flores, Carlos Castañeda, Maria Helena La Gorda,
Soledade, Florinda Donner, Julian Osório, Juan Tuma, Miguel Ruiz, Taisha
Abelar e todos os aprendizes, enfim, que, de várias maneiras, contribuíram
com o primeiro registro autêntico do conhecimento em meio físico.
Esta compilação é dedicada àqueles que sabem da instalação
forânea em nossas mentes e querem afastá-la do ser total. É dedicada aos
praticantes de Tensegridade, para que não transformem novamente a arte
dos passes mágicos em atos rituais. É dedicada ainda aos videntes de
hoje, praticantes do conhecimento dos antigos toltecas, que vislumbraram
novas possibilidades para o domínio da consciência na prática solitária, em
que o mestre-feiticeiro é o espírito, o intento do infinito.
Agradeço, em especial, à Florion, o primeiro a buscar uma
compilação completa dos ensinamentos de Dom Juan Matus da qual este
trabalho foi baseado e ampliado por meio de pesquisas na internet e nos
livros de outros autores naguais.

Sw. Villas (2024) - 61-99227-7229

325

Você também pode gostar