Você está na página 1de 17

O QUADRANTE DO DESPERTAR

AS QUATRO TÉCNICAS DE BASE


INTRODUÇÃO
No decênio precedente ao ano 2000, ou seja, na década de 1990, numerosos
responsáveis por movimentos e organizações tradicionais, Rosacruzes, Martinistas,
Maçônicos e Kremmerzianos principalmente, reuniram-se para permutar e partilhar de
suas experiências iniciáticas. Uma experiência semelhante havia sido realizada na
Itália
nos anos trinta, mas sem sucesso.
Os trabalhos, muito ricos, conduziram os responsáveis tradicionais a interrogar-se
sobre um insucesso partilhado e constatado. A maior parte dos membros de
organizações iniciáticas geralmente nunca abordavam a Busca propriamente dita e
perdiam-se nas múltiplas considerações humanas. Aqueles que obtinham êxito pareciam
ter sido de qualquer maneira condenados ao sucesso, independentemente do contexto
tradicional no qual a vida, Deus e a Natureza os haviam levado a operar.
Uma loja consagrou-se a organizar um conjunto de técnicas que permitiria colocar
o pesquisador na atitude correta do Buscador. Numerosas experiências foram
realizadas,
em amostras representativas de pessoas pertencentes a diversas correntes, mas
também
com pessoas não pertencentes a nenhum movimento particular. Dessas experiências,
nasceu o Quadrante, um conjunto de quatro técnicas, cada uma indispensável e total
(isto é, auto-suficiente), cuja prática assídua e cuja combinação deram resultados
comprovados. Muitos responsáveis por organizações tradicionais decidiram então,
independentemente da corrente a que elas se filiavam, dar este conjunto de técnicas
como propedêutica obrigatória a seus membros.
Este caderno constitui uma apresentação sucinta das quatro técnicas que formam
o Quadrante, destinado àqueles que receberam a respectiva transmissão,
necessariamente oral. Assinalamos que, mais do que uma propedêutica, muitos
consideram constituir o Quadrante uma via em si mesmo, podendo um espírito sagaz
encontrar qualquer outra via, mágica, teúrgica, alquímica e/ou de despertar através
do
Quadrante.
DA VIA
De modo geral, toda Via Real comporta simultaneamente uma magia natural
(segundo Giordano Bruno, a magia é a arte da memória e manipulação dos fantasmas, é
o domínio daquilo que certos etólogos denominam “o encantamento do mundo”), uma
teurgia e uma alquimia, vetor de uma via de imortalidade.
A questão da imortalidade é difícil de tratar porque não pode se inserir com
sucesso em um modelo do mundo aristotélico, motivo pelo qual não é raro que a busca
de uma sobre-humanidade, de uma mais-que-humanidade ou de uma não-humanidade
conduza infelizmente à inumanidade. Mais ainda, podemos muito bem ter uma excelente
compreensão intelectual de modelos não-aristotélicos, como o são o taoísmo, ou o
sistema de Gurdjieff, sem haver “invertido os castiçais”, para retomar a fórmula de
Meyrinck no Rosto verde. A sobre-humanidade poderia ser simbolizada por Hércules,
indicando assim a via mágica do Herói, predispondo à mais-que-humanidade,
simbolizada pelo Cristo, ou ainda por Orfeu, ou à não-humanidade, esta simbolizada
por
Osíris, ou por Dioniso. Nós poderíamos encontrar outras referências, tanto no
Ocidente
como nas tradições orientais, para tentar fazer apreender aquilo que é efetivamente
uma
diferença de orientação. O Ser não é necessariamente orientado em direção a um Pólo
único, o que explica Vias Reais diferentes, não conduzindo, portanto, ao mesmo
LugarEstado...
Nosso trabalho, nas estruturas de base, é conduzir os eventuais candidatos à
Aventura a perceber o mundo em lugar de pensá-lo. É este “parar o mundo”, fruto da
desidentificação bem sucedida do mental, que permite por exemplo “dobrar o tempo”,
competência indispensável para abordar a busca. Se, uma única vez, um indivíduo
vive a
experiência da ruptura com o mundo fenomenal, ele nunca mais poderá, mesmo
tornando-se completamente negligente, confundir o sonho e o Real, ainda que essa
ruptura, com o fenomenal, não implique necessariamente a inserção imediata e
definitiva
na realidade do Ser. É, portanto, indispensável que nossas práticas impliquem em
uma
divisão da consciência.
As quatro práticas de base, são uma chave para alcançar essa atitude, única a
permitir o despertar. Estas quatro práticas são:
- o chamamento de si pela divisão da consciência;
- as práticas dos sons IAO (sob suas duas formas);
- a meditação do infinito no corpo;
- a importante prática da letra A.
O risco que se corre, ao exercitar as quatro práticas de base, é ver estratificar-
se
um processo, porque a “raposa astuta” (o mental), farejando a armadilha que a
conduziria
à sua própria dissolução, irá convertê-la em identificação e cristalizar, às vezes
muito
sutilmente, o que havia sido liberado. Nosso problema é, assim, a manutenção da
ruptura, a aceitação da ruptura, a instalação do prazer da ruptura.
Embora haja uma magia relativa, uma magia dos mundos relativos, Teurgia e
Alquimia são absolutas, operam somente na verticalidade de um Reino do Centro. Isso
não significa senão que a alquimia, a química de Deus, ou dos deuses, ou a Teurgia,
uma operação divina incomensurável para nossa natureza, operam. Portanto, não há
Corpo de Glória possível fora desse Reino Central. Não há Real, não há Deus, fora
do
Eixo.
Para resumir, devemos esforçar-nos para realizar dois objetivos:
- tornar-nos capazes de realizar a ascese;
- despertar o Hermes em nós a fim de que tomemos, onde quer que estejamos,
os caminhos
serpenteantes do despertar e que possamos assumir a alternativa nômade
adequada à
Busca e à Aventura.
As vias reais são feitas para aqueles que são reais, que vivem em vez de serem
vividos, concernem a seres rebeldes a toda forma de limitação, incondicionais,
apaixonados por liberdade, guerreiros pacíficos e elegantes, sendo a elegância a
arte de
realizar o menor gesto que engendrará a maior mudança favorável à Busca.
Esse estado de espírito é o oposto do estado de espírito “burguês” que predomina
em nossos dias, sendo o burguês para Emmanuel Mounier, como para nós, ”aquele que
tem medo de perder alguma coisa”, quer seja um príncipe ou um vagabundo. Ora, nas
Vias Reais, o adepto perde a vaidade, isto é, a necessidade doentia, exacerbada, de
manter para os outros e para ele próprio uma imagem de si. Sem imagem de si, ele
poderá perder até mesmo a identificação à forma humana. Estas duas perdas são o
preço a pagar pela liberdade absoluta.
Última evidência, mas de grande relevância, como dizia Gurdjieff a certo discípulo:
“Sem a Graça de Deus, nenhum trabalho seria possível”. Uma vez integrada essa
evidência, inútil insistir. Com efeito, como lembra Robert Amadou: “A Via Real, em
qualquer uma de suas espécies, não consiste na devoção. Nessa via, eu tudo deponho,
nada retenho, resta Deus e é o total”.
Tal é, pois, nosso propósito.
Vosso projeto iniciático, aquele de vossa individualidade, assim como aquele de
vossa comunidade, não deve jamais perder de vista esse objetivo. Cada gesto deve
estar
inserido na perspectiva final de Reintegração ou de Despertar.
Deveis, em vossas ações, distinguir os níveis lógicos, o exotérico, cultural e
terapêutico (alinhamento da palavra, do pensamento e da ação, restabelecimento da
congruência entre corpo, emoção e pensamento), o mesotérico (chamamento de si,
presença ante si mesmo, não-identificação), o esotérico (inserção na verticalidade
de “Eu
sou Aquilo que permanece, Vontade Absoluta”).
Vossos esforços como buscadores devem dirigir-se ao mesotérico, ou seja, ao
acesso ao real, e não vos deveis fazer concessões.
No plano exotérico, deveis desenvolver a maior flexibilidade possível. Ides
conquistar a Hierofania solar sobre o eixo do Real para aplicá-la pela irradiação
na
horizontalidade do mundo e dos mundos.
PRÁTICA DA
DIVISÃO DA CONSCIÊNCIA
Esta prática é a matriz das três outras práticas de base. Com efeito, em cada uma
das três outras práticas, a divisão da consciência estará presente. Mais
exatamente, a
realização correta das três outras práticas exige a divisão da consciência.
Qual é a problemática que prevalece na divisão da consciência?
Nós não vivemos no mundo, mas em sua representação. Não temos acesso à
experiência pura e, portanto, ao real; nem mesmo temos acesso, na maioria, à
experiência sensorial pura, somos vividos por nossos condicionamentos e somos
mantidos no filete das ilusões mentais.
Esta representação nasceu do processo de identificação conduzido pelo
pensamento analítico (que é de natureza seqüencial).
Nosso mundo quotidiano, que tomamos pela realidade, é uma arquitetura onírica
mantida por pura convenção. Poderíamos denominar esse mundo de um campo coerente
de representações. Esta coerência é mantida pelo diálogo interior. Se nós paramos o
diálogo interior, paramos a representação, paramos o mundo, podemos então alcançar
o
Real.
Existem mil maneiras de modelar esse estado de fato. Os diagramas 3 a 7 são
alguns exemplos significativos.
O importante é lembrar que o trabalho iniciático começa com o Silêncio, ou
seja, com a capacidade de parar o diálogo interior. Para isso, a prática do
Chamamento
de Si pela divisão da consciência permanece a mais eficaz. Consiste em substituir o
pensamento analítico por uma percepção simultânea do mundo pelos sentidos. Cessar
de pensar o mundo para percebê-lo.
Eis a forma de ser feita:
A prática pode ser feita imóvel ou em movimento. No início, pratique em uma
posição de vossa escolha que não vos incite ao adormecimento. Ao fim de três meses,
será necessário começar a prática em movimento. Podeis praticar a divisão da
consciência a todo momento, em todo lugar, durante toda atividade humana.
Durante os três primeiros meses, trabalhe em horas fixas, três vezes por dia,
durante três períodos de aproximadamente dez minutos. Depois, trabalhe toda vez que
isso venha ao seu pensamento.
Tome inicialmente consciência da postura global do corpo, dos pés até o alto da
cabeça.
Ao mesmo tempo, tome consciência da sensação no interior da mão esquerda.
Chamaremos esta última sensação: a referência.
Vossa consciência está assim dividida em dois. Tendes simultaneamente no
campo da consciência a postura e a referência.
Acrescentai então a essa dupla percepção sensorial, a tomada de consciência da
respiração.
Vossa consciência está pois dividida em três. Tendes simultaneamente no campo
da consciência a postura, a referência e a respiração.
De fato, o trabalho começa neste momento, isto é, quando a consciência está
dividida em três.
Certamente, não conseguireis manter a percepção simultânea da postura, da
referência e da respiração: pensamentos vão interferir. Não é importante. Cada vez
que
observais que vos diluístes novamente no pensamento, retornai às percepções,
começando sempre pela referência. Chamai a vós mesmos. O importante é que, se vos
diluís mil vezes no diálogo interior, vós vos chameis mil e uma vezes.
Serão necessários diversos meses para dominar imperfeitamente esta prática.
Mas desde as primeiras semanas, observareis modificações importantes em vossa vida.
Um maior domínio, menos fadiga, mais densidade, mais energia, uma melhor percepção
da vida, uma maior intensidade...
Pouco a pouco, a prática irá tornar-se inconsciente, automática, isto é, ela se
fará
por si mesma. Denominamos “inconsciente” a memória do corpo, não se trata aqui do
inconsciente psicanalítico.
Neste momento, podereis dividir a consciência em quatro: postura, referência,
respiração e muro da visão.
O muro da visão consiste em uma visão desfocada, o olhar largo, não procurando
observar um ponto particular da imagem, uma contemplação geral do muro da visão
percebido como no interior da cabeça e não em um exterior qualquer.
Esta prática conduz freqüentemente a experiências sensoriais ligeiramente
estranhas. Experimentareis então aquilo que Harding denomina o homem sem cabeça.
Com efeito, a coerência do campo de representação pode ser então modificada. Essa
coerência se constrói a partir de uma espécie de centro de gravidade das
representações. Deslocar o centro de gravidade faz cair em uma outra coerência e,
portanto, em um mundo diferente. É o caso, por exemplo, da experiência xamanista.
Será necessário praticar longamente a divisão da consciência em quatro, antes de
passar à divisão da consciência em cinco, acrescentando a percepção da onda sonora.
Da mesma forma que para o muro da visão, devereis tomar consciência da onda
sonora em sua globalidade, sem “mira auditiva”. Deixai-vos penetrar pelos sons sem
tratá-los como informações.
Dividir a consciência em cinco é um exercício de grande dificuldade. O objetivo
não é que consigais essa divisão, mas que pratiqueis estes exercícios. Cessar o
diálogo
interior se tornará primeiro possível e depois, mais tarde, relativamente fácil.
Certos adeptos levam a divisão da consciência até sete, acrescentando o olfato e
o paladar.
Pode ocorrer que tenhais a impressão de que o diálogo interior cessou, embora
estejais apenas em um estado de torpor. A divisão da consciência é sempre
acompanhada por um acréscimo de consciência.
Logo que estejais familiarizado com essa prática, podereis participar em marchas
às cegas, que modificam profundamente nossas percepções sensoriais.
Nosso trabalho consiste em passar do ter/fazer ao ser, do pensamento analítico ao
“pensamento” perceptivo, da subjetividade profunda à objetividade sensorial, ou
seja, de
adotar, pelo chamamento de si, uma “postura do ser” que permite que se instale a
Presença.
Repetimos, essa propedêutica é a chave de toda via real. Nenhuma teurgia,
nenhuma alquimia pode realizar-se no interior da representação. Não seria então
senão
um sonho dentro do sonho, uma ilusão dentro da ilusão. Teurgia e alquimia não
possuem
sentido senão no real, ou seja, nos “estados mais que humanos”.
“É puro aquele que permanece sem pensamento.”
“O sábio não pensa.”
MEDITAÇÃO SOBRE A LETRA A
Essa prática fundamental é comum às tradições do Oriente e do Ocidente. Ela
constitui o aspecto central das práticas mântricas, nas quais I, A, O são as três
primeiras
raízes.
O I é masculino, Yang; o O é feminino, Yin; e o A é andrógino. A letra A é a origem
de todas as Essências. Logo que se abre a boca, é o som A que é emitido. A letra A
é o
germe de todos os fonemas, a mãe de todas as letras.
A é simultaneamente o símbolo do início e do sem produção. Assim como o A está
presente em todas as letras e a todas contém, enquanto princípio, da mesma forma
todos
os degraus da Realização, do Despertar, estão contidos no primeiro, que é também o
último. A é simultaneamente o ser e o não-ser e, portanto, o estado além do ser e
do não
ser, A é o absoluto.
Em muitas escolas secretas, encontra-se uma interpretação alquímica do A,
especialmente no domínio das alquimias internas do Corpo de Glória. A corresponde
aos
dois princípios, masculino e feminino, reunidos pelo processo da fusão, ou, ainda,
o A
representa o estado do Substancial (substância do céu), onde a Forma e o Espírito
se
confundem, no “ponto único” do Intervalo (o raio). A respiração dos órgãos durante
a
fusão é então o sopro do Despertar original sem início.
PRÁTICA da letra A
Em uma posição que assegure a verticalidade da coluna vertebral, visualize uma
Lua cheia, prateada, a aproximadamente um metro e cinqüenta diante de si e uma
segunda Lua prateada em vosso corpo, entre o umbigo e o ponto do coração.
Segui então a seguinte prática:
Inspirar, visualizar a luz prateada que deixa a Lua externa pelo alto para penetrar
na Lua interna pelo alto. Simultaneamente emitir o som A, mentalmente.
Expirar, visualizar a luz prateada que deixa a Lua interna por baixo para penetrar
a
Lua externa por baixo. Simultaneamente emitir o som A, mentalmente.
Praticai durante 20 minutos aproximadamente.
Observareis que esta prática vos obriga a dividir a consciência em três: a
visualização, o som e a respiração.
Quando estiverdes familiarizado com esta etapa, podereis acrescentar a
referência.
Esta prática pode ser feita a todo instante. É aconselhável fazê-la à noite antes
de
dormir, para continuá-la até o momento do adormecimento.
Após um ano de prática sob essa forma liminar, podereis passar ao exame da
Letra A.
EXAME DA LETRA A - PRÁTICA
A meditação é feita sobre uma Lua cheia branca em que se abre uma rosa com
oito pétalas, sobre a qual aparece uma letra A de cor ouro.
Adotaremos aqui o Aleph. Mas a prática seria idêntica com um A grego, ou
tibetano, ou sânscrito, mais ou menos estilizado segundo as escolas.
A Rosa representa as oito dimensões da Grande Obra Alquímica. Em uma antiga
tradição grega, ela é representada por uma mulher chamada Octop. Ela simboliza
igualmente o Coração e o Espírito.
Suspendei a imagem, construída e pintada por vós, na parede sobre um fundo
negro, a Lua terá um diâmetro de 33cm. Sentai-vos diante da imagem, a um metro e
cinqüenta aproximadamente.
Colocai a língua contra o palato.
O Exame da letra A é realizado em três fases:
1 - Contemplando a Lua, pronuncia-se o A a cada inspiração e expiração.
2 - Cria-se no peito, na altura do coração, uma Lua com a flor e o Aleph, idêntica
à
imagem exterior. Pronuncia-se A na expiração, vendo a energia que deixa a roda da
Lua
interior por baixo, dirigindo-se à parte inferior da roda da Lua exterior, depois
animando o
Aleph.
Pronuncia-se A na inspiração, vendo a energia que deixa a Lua exterior pelo alto e
que entra pelo alto da Lua interior, para animar o Aleph.
3 - Exame interno. Trabalha-se unicamente sobre a lua interior, como na fase 1.
Uma prática dura no mínimo 20 minutos. Quando o adepto está bem familiarizado
com uma fase, pode iniciar a segunda dessa maneira: fase 1 durante 5 minutos,
depois
fase 2. Mais tarde: fase 1 - 5 minutos; fase 2 - 10 minutos, depois fase 3.
Após algumas semanas de prática, será fácil manter por visualização a Lua e o
Aleph externos, ao mesmo tempo que a Lua e o Aleph internos, sem apoio exterior.
O objetivo é atingir o Exame desenvolvido do A, isto é, uma prática permanente
em qualquer lugar, durante qualquer atividade, sem apoio externo como na prática
inicial.
O adepto não é mais então ator da prática, mas testemunha da prática.
Isso permite ao praticante inscrever cada um de seus gestos, cada um de seus
pensamentos, no A e, portanto, no respirar do universo. Isso é da mais alta
importância
em teurgia: um ritual deveria ser inscrito em sua totalidade na respiração.
A prática da Letra A permite ainda obter a claridade no sonho. Após um longo
período de trabalho, o praticante pode com efeito tentar a prática da Letra A ao
adormecer. Ele obterá rapidamente a recordação dos sonhos, depois uma clarificação
dos sonhos, antes de poder conduzir e dominar sua atividade onírica, graças à
consciência no sonho. Essa continuidade de consciência entre sonho e vigília
permite
compreender que sonho e vigília possuem a mesma natureza e que, em conseqüência, o
Real é outro.
Uma prática mais avançada da Letra A utiliza uma rosa com treze pétalas e um
duplo Aleph, um vermelho e o outro branco, dispostos um como o reflexo do outro.
PRÁTICA DOS SONS I, A, O
A prática dos sons IAO possui duas formas, uma dinâmica, dando densidade,
reunindo energia; a outra harmonizadora, reguladora das energias. A primeira forma
é
aconselhada antes de operar, a segunda antes de uma fase de reconciliação ou de
repouso.
A.- Prática Dinamizadora
A posição de trabalho é em pé, sem tensão.
O ciclo completo abrange três respirações. A cada respiração corresponde um
som, um gesto e uma percepção.
Expirar profundamente, esvaziar completamente os pulmões.
Inspirar pela boca emitindo o som É mentalmente.
Expirar emitindo o som I e fazendo o gesto correspondente com a mão direita
(indicador erguido) diante da garganta. A consciência se coloca na base da caixa
craniana.
Inspirar emitindo o som É mentalmente.
Expirar emitindo o som A e fazendo o gesto correspondente com a mão direita
(mão aberta) diante do coração. A consciência se coloca no ponto do coração.
Inspirar emitindo o som É mentalmente.
Expirar emitindo o som O e fazendo o gesto correspondente com a mão direita (O
formado pelo polegar e o indicador) diante do ventre. A consciência se coloca três
dedos
sob o umbigo no oceano de energia.
Durante todo o ciclo, a mão direita toma e dá a energia.
Recomeçar então o ciclo, durante cinco minutos aproximadamente, acelerando o
ritmo.
Parar. Tomar as duas mãos, a direita na esquerda, como se segurassem um ovo,
colocá-las sob o umbigo e massagear ligeiramente durante um minuto. Parar. Ficar
imóvel sentindo a circulação da energia.
Repetir esse conjunto três vezes. A cada vez, a aceleração será mais importante.
Após a terceira vez, proceder à criação da esfera de energia, cujo centro é o
oceano de energia.
Para isso, proceder a quatro rotações em cada plano, ou seja, doze rotações,
iniciando sempre pela esquerda, duas à esquerda, duas à direita.
O praticante é então o centro de sua própria esfera de energia e, onde quer que
vá, permanecerá no centro. Toda operação teúrgica irá se desenvolver assim desde o
centro da esfera e na esfera. O praticante permanece então sobre o eixo.
Para convencer-vos do poder e da eficácia desse trabalho, podeis emitir a
aclamação ADONAI ou ainda EL SHADDAI, que invocam os sons raízes, antes da prática
e imediatamente após a prática. Verificareis assim facilmente a diferença.
B.- Prática harmonizadora
A posição de trabalho é a posição dita do cavaleiro-arqueiro, estais sentado no
vazio como se estivésseis sobre um cavalo. A bacia vem, pois, colocar-se para
diante,
sem tensão, permitindo à coluna vertebral permanecer reta, sem esforço. Essa
posição
assemelha-se à posição de escuta do Dr. Tomatis. Observemos que toda posição
hierática permite a disposição desse eixo energético.
O ciclo completo abrange quatro respirações:
As mãos estão sobre o ventre, os dedos curvados tocando-se.
Inspirar emitindo o som É mentalmente e elevar as mãos até a garganta.
Voltar a cabeça para a esquerda e afastar lentamente a mão esquerda aberta,
como se estivésseis entesando um arco à vossa esquerda. Expirar simultaneamente
emitindo o som I.
Inspirar emitindo o som É mentalmente e levar a mão esquerda em direção à
direita, mantida diante da garganta. Dirigir o olhar para diante de si.
Descer as mãos para o oceano de energia do ventre, emitindo o som O ao expirar.
Inspirar novamente emitindo o som É mentalmente e elevar as mãos até o
coração.
Voltar a cabeça para a direita e afastar lentamente a mão direita, como se
estivésseis entesando um arco à vossa direita. Expirar simultaneamente emitindo o
som
A.
Inspirar emitindo o som É mentalmente e levar a mão direita em direção à
esquerda, mantida diante do coração. Dirigir o olhar para diante de si.
Descer as mãos para o oceano de energia do ventre, emitindo o som O ao expirar.
Repetir o ciclo três vezes. Permanecer no silêncio das percepções.
MEDITAÇÃO DO INFINITO NO CORPO
Explicações preliminares.
O Mecanismo Respiratório Primário (MRP) é uma flutuação do Líquido CéfaloRaquidiano
(LCR). O LCR é um líquido em que estão mergulhados o cérebro e a medula
espinhal. É encontrado também ao longo dos vasos nervosos que percorrem o corpo.
O LCR forma-se na cabeça, a partir do sangue arterial nos ventrículos do cérebro.
Ele passa de um ventrículo ao outro, descendo ao longo das meninges que cercam a
medula espinhal, principalmente a aracnóide, e espalha-se em todo o corpo. É a
partir
desse líquido que se forma a linfa, e esta retorna à veia cava, depois ao coração e
às
artérias. O círculo está completo.
O LCR está impregnado de um movimento rítmico de origem desconhecida. É esse
movimento rítmico que os osteopatas, Sutherland primeiramente, chamam Mecanismo
Respiratório Primário. O LCR possui, portanto, um movimento rítmico que o faz
descer e
subir, movimento denominado de flexão/extensão, o que é mais exato do que falar de
descida e subida.
O MRP impregna com seu ritmo todas as partes do corpo, exceto o osso do
calcanhar, o calcâneo, que não flutua. Ele serve efetivamente de base de apoio no
solo
ao caminhar e deve por esse motivo permanecer estável. Todos os ossos flutuam
segundo esse ritmo de flexão/extensão. Esses movimentos são mínimos, mas dão a vida
ao corpo. O ritmo dessa flutuação é de 6 a 8 ciclos por minuto.
Para regularizar esse movimento, o corpo humano utiliza-se de três elementos
anatômicos principais: o cubóide no pé, o sacro na bacia, o occipital no nível da
cabeça.
Esses três ossos possuem um movimento de conjunto sincronizado. Em realidade, o
cubóide (a terra), o sacro (que liga a terra ao céu, base da ascensão sagrada) e o
occipital ( o céu) são os elementos reguladores do MRP que dão o ritmo a todas as
flutuações do corpo, físicas, orgânicas, hormonais, psicológicas, etc.
O MRP está ligado à respiração pulmonar. Quando a respiração pulmonar toma o
mesmo ritmo que o MRP, fica-se em estado de hipnose ou de meditação, depois de
sono.
Quando se acelera o ritmo do MRP e aquele da respiração pulmonar, atinge-se um
estado de transe ou de orgasmo. O MRP aparece antes da respiração pulmonar, pois
está presente antes do parto e perdura após a morte.
O MRP E A TRADIÇÃO
Numerosas tradições parecem apoiar-se em algo equivalente ao MRP. É o caso
do taoísmo. Nas alquimias internas taoístas, certos exercícios consistem em
transmutar o
Jing, a energia primordial, em Qi, o sopro nutriente, depois o Qi em Shen, energia
espiritual, e o Shen enfim em vacuidade. Esses exercícios taoístas são praticados
segundo um ciclo microcósmico que imprime a via dos meridianos regulador e
concepção, para criar uma ascensão e uma descida do sopro, portanto uma
flexão/extensão que necessita da mobilização sincronizada do sacro e do occipital
idêntica àquela do MRP.
Notemos que esse ciclo que segue um ritmo definido, mas não imutável no tempo,
que não existe no princípio universal, permite passar do mundo materializado
(terra,
cubóide, Jing) a um mundo não tangível (céu, occipital, Shen) através de uma etapa
intermediária (sacro, ponto de equilíbrio, Qi). O homem é mesmo o mediador entre
terra e
céu.
Encontramos exercícios similares no tantrismo, mas também nas escolas
caldaicoegípcias ou ainda pitagóricas. Essa circulação microcósmica é a
representação interna
intracorporal (a projeção, ou a precipitação) do ritmo macrocósmico ao qual está
intimamente ligada.
Na antiguidade, certos adeptos conheciam aquilo que nós chamamos desde o
início do século de Mecanismo Respiratório Primário.
A Prática:
O objetivo desta prática é tomar consciência do registro do ritmo do universo, da
respiração do universo, em nós mesmos. De uma certa maneira, é tomar consciência de
que o universo medita em nós, e de que basta portanto tomar consciência da
“meditação
do infinito no corpo”. Para isso, começaremos por uma prática artificial que irá
permitirnos “pegar” esse ritmo interno.
Tomai uma posição que permita uma posição correta da coluna vertebral. Siga as
orientações abaixo. Passe à etapa seguinte somente quando tenha dominado a etapa
precedente.
Etapa 1:
Tome consciência de um ponto na base do occipital. Com este ponto, desenhar,
através de uma oscilação bem leve, o símbolo do infinito.

Deixe-se levar totalmente por este movimento, sem nada controlar até que o
movimento se sincronize por si mesmo com a respiração.
Etapa 2:
Avançar o “ponto desenhando” no interior da cabeça. O movimento oscilatório é
então sentido no interior da cabeça. Após um momento, deveis perceber o movimento,
enquanto permaneceis imóvel.
Etapa 3:
Começar a perceber essa oscilação durante suas atividades diarias.
Etapa 4:
Fazer descer a oscilação ao longo da coluna vertebral até o nível cardíaco. Sentir
bem o movimento.
Etapa 5:
Fazer descer a oscilação ao longo da coluna vertebral até o oceano de energia
(dois dedos sob o umbigo). Sentir bem o movimento.
Etapa 6:
Fazer descer a oscilação ao longo da coluna vertebral até o sacro. Sentir bem o
movimento.
Etapa 7:
Deixar o movimento invadir o corpo. Essa etapa deve emergir de maneira
automática e não ser procurada. Poderá então procurar concentrar o movimento sobre
um órgão ou uma parte do corpo para eliminar suas toxinas ou outras impurezas.
QUATRO fazem UM
Conclusão momentânea
As quatro técnicas são efetivamente uma só técnica. Cada um desses exercícios
oculta um outro, que pouco a pouco descobrireis.
Quando essas quatro técnicas estiverem dominadas, isto é, registradas na
memória do corpo, podereis combiná-las, inicialmente 2 por 2, depois 3 por 3, e
enfim
unificá-las em uma só técnica, que se tornará um modo de ser.
Verificar se a prática está correta
A verificação de uma prática real é sempre comportamental:
- domínio do meio.
- arte de “dobrar” o tempo.
Eis alguns critérios, dentre outros, que lhe permitirão saber se está no bom
caminho.
Lembremos:
A divisão da consciência conduz à Atenção.
A prática da Letra A conduz à Vacuidade.
A prática dos Sons conduz ao Domínio do Poder de Criação.
A prática da Meditação do Infinito no Corpo conduz à Fusão.
O conjunto, pela presença Aqui e Agora, permite a Autonomia.
Autônomo significa autosnomos, “que dá a si mesmo sua própria lei”. Isso
significa sair do círculo das identificações, diluições, representações e
cristalizações
mentais, para alcançar o Centro onde simplesmente “eu sou” ou “eu permaneço”. Não
mais “ser vivido”, para viver.
Somente no Centro pode-se dar a si mesmo sua lei, ser autônomo. Não é senão
pelo Centro, o Eixo do Ser, que Teurgia e Alquimia podem ser realizadas.
DIAGRAMAS E ESQUEMAS
Encontramos em anexo alguns diagramas e esquemas que ilustram certos pontos
tratados nesta brochura. Os dois diagramas apresentam as quatro técnicas de base em
dois modelos que representam as disciplinas e abordagens do Real.
Os esquemas da discriminação pretendem mostrar como, não tendo acesso à
experiência pura, nós nos diluímos pela linguagem, desde a estrutura sensorial da
experiência - VAKOG: Vista, Audição, Cinestesia (Kinesthésie, no original francês),
Odor,
Gosto - até a estrutura de superfície da experiência, ou seja, a experiência
pensada,
através das Generalizações, Omissões e Distorções. Nosso trabalho consiste em
reconquistar a experiência sensorial em sua totalidade para abrir um acesso ao
Real.
Diversos instrumentos podem ser utilizados, conjuntamente ou separadamente, cujo
meta-modelo (instrumento particular à Programação Neuro-Lingüística) contribui para
reencontrar, atrás da estrutura de superfície da experiência, a estrutura profunda
sensorial.
Observamos igualmente, que esse trabalho leva a definir um Meta-tempo ou
Tempo dos tempos, Intervalo sagrado no qual o adepto opera.

Você também pode gostar