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XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação

Inovação e inclusão social: questões contemporâneas da informação


Rio de Janeiro, 25 a 28 de outubro de 2010

GT 9 - Museu, Patrimônio e Informação


Modalidade de apresentação: Comunicação Oral

DOCUMENTAÇÃO EM MUSEUS E HISTÓRICO DE PROPRIEDADE


(PROVENANCE): RESTITUIÇÃO DE OBRAS DE ARTE ESPOLIADAS
PELOS NAZISTAS

Diana Farjalla Correia Lima


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Resumo: A questão da restituição de objetos/coleções de Museus é abordada


apresentando um trabalho desenvolvido pelos Museus de Arte: os programas de pesquisa
sobre procedência de obras de arte de origem duvidosa nas coleções em associação com
o tema da arte confiscada pelos nazistas entre 1933 e 1945, “Espoliação de Propriedade
Judaica”. Destaca documentos, por exemplo os padrões de conduta da Museologia, a
construção de bases de dados com informação especializada, Provenance, visando
disseminação ampla (internet) junto aqueles que possuem direitos legais para solicitar a
restituição: proprietários originais ou herdeiros. Indica e nomeia resultados positivos que
são de domínio público e, em paralelo, sublinha as dificuldades que, ainda, permanecem
para restituir objetos, tendo sido tais casos alvo de longas, caras e extenuantes batalhas
judiciais movidas contra Museus que, em contexto museológico, detêm expressivas
coleções. Por fim, o artigo indaga: em nível prático, o dever moral de devolver um bem
cultural – orientação presente no Código de Ética para Museus do ICOM (Conselho
Internacional de Museus) -- está sendo atendido na sua verdadeira concepção, quando
tantos obstáculos ainda existem ?
Palavras-chave. Documentação em Museu; Informação em Arte; Museu e Restituição de
Objetos; Holocausto e Obras de Arte; Tráfico Ilícito de Bens Culturais.
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Provenance --The full history and ownership of an item from the time of its
discovery or creation to the present day, from which authenticity and
1
ownership is determined. ---- Fine Arts Zanabazar Museum.

O artigo apresenta faceta resultante da Pesquisa Termos e Conceitos da


Museologia, desenvolvida na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO,
focalizando o procedimento de retirada de objetos (documentos registrados) integrantes
de coleções museológicas e o motivo que pode determinar tal ação. Em virtude desta
questão seu olhar está dirigido para um tema relevante e delicado: o problema da disputa pela
propriedade legal de peças musealizadas envolvendo a restituição de objetos pelos
Museus a instituições, pessoas, grupos e nações.
O ponto focalizado é um episódio histórico relacionado aos acontecimentos que
integram o contexto da Segunda Guerra Mundial. Expõe o caso que se convencionou
denominar em documentos e ações reivindicatórias de “apropriação ilegal de objetos
durante a era Nazi[sta] - Segunda Guerra Mundial (1933-1945)” (AAM, 1998).
Neste cenário, vale que se recorra à imagem do “bom caminho”, compreendendo-o
segundo o traçado de um trajeto que apoiado em formulação teórica se expressa pela perspectiva da Ética e, na prática,
realiza-se no cotidiano pautado na proposição da Moral, melhor dizendo, como presença de um teor normativo. A idéia, quando

apropriada por um contexto no qual as profissões estão reguladas por padrões orientadores para o
exercício das atividades, traça um perfil tendo os limites das condutas ajustados a regras
sociais.
E, como em qualquer outra perspectiva da vida em sociedade, tais normas, sob
vários aspectos, não estão dissociadas de proposições inspiradas pelas leis e, ainda, por
tais instrumentos podem ser regidas na medida em que as leis, por sua vez, amparam-se
em preceitos da Moral e da Ética.
Em se tratando da Museologia e da conduta profissional dos agentes institucionais
e individuais do campo, o instrumento regulador é o Código de Ética do ICOM para os
Museus. Adotado em 1986 por ocasião da 15ª Assembléia Geral do Conselho
Internacional de Museus, International Council of Museums, ICOM - Buenos Aires,
Argentina, apresentou sua última versão em Seul, Coréia do Sul, durante a
21ªAssembléia Geral, no ano de 2004.

1
Procedência - O histórico completo e propriedade de um item desde momento de sua descoberta ou criação até os dias
atuais, a partir do qual a autenticidade e a propriedade são determinadas. Museu de Belas Artes de Zanabazar.
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O documento destaca sua relevância para o campo ao afirmar na página inicial:


O documento principal do ICOM é o Código de Ética para Museus.
Estabelece normas mínimas para a prática profissional e atuação dos
museus e seu pessoal. Ao aderir à organização, os membros do ICOM
adotam as provisões deste Código (ICOM, Código..., 2009, não paginado,
grifo do autor) 2.
E no “Preâmbulo” assinala que, em alguns países, os procedimentos para a ação
quanto ao conjunto de “normas mínimas” procedem de instrumentos legais ou resultam de
“regulação governamental”, associando aspecto ético e fundamento do campo do Direito.
O Brasil, por exemplo, não aplica só as denominadas “normas mínimas”. Desde os
anos 30 (século XX) detém legislação específica tratando do Patrimônio BRASIL. IPHAN.
Decreto-lei..., 1937) seja representado por item musealizado ou não. Há instituições
governamentais brasileiras de caráter nacional que, originárias daqueles tempos, atuam
desenvolvendo políticas. Estabelecem diretrizes envolvendo ações “de identificação”,
“proteção legal”, “preservação e restauração”, “aporte financeiro”, “informação” e
“comunicação” do Patrimônio (IPHAN), quer os bens estejam sob a chancela dos Museus
ou fora desta condição. Há ainda instituições, em nível local, que atuam de modo similar e
em consonância com linhas ou leis propostas pelo nível nacional. Em vista disto, questões
legais, éticas ou de fundo moral ligadas ao tema Patrimônio e Museus integram, há muito,
recomendações e procedimentos no Brasil. Em face disto, o país é considerado por
inúmeros outros países como um exemplo a ser seguido.
No que concerne ao atributo de valor Patrimônio, instância simbólica outorgada a
diversas representações culturais e, em especial, com referência àquelas apresentadas
sob forma material existe o problema identificado sob o título de “tráfico ilícito de bens
culturais” (UNESCO, 2004). O tema mobiliza de modo permanente a comunidade
museológica para além do contexto de cada nação, alcançando o âmbito supranacional.
Na luta contra a situação que aflige instituições, pessoas, grupos e nações, há
muito estão sendo realizados esforços em nível mundial. Resultam em ações intentando
esclarecer, no contexto da modalidade museológica designada Aquisição de Objetos, o
mesmo que formação de coleções; sob quais circunstâncias foram agregadas
determinadas peças aos Museus.

2
O Código que está sendo usado é a versão lusófona, eletrônica, edição 2009. Toda vez que houver necessidade para
comparação será usado o texto original, inglês, Code of Ethics for Museums, 2004. O uso de uma ou de outra versão
será indicado ou no corpo do texto ou em nota de rodapé.
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Embora os museus não possam adquirir na escala que seria desejável, o


mercado de material cultural explodiu durante os últimos 20 anos. A
maioria dos itens agora é vendida a um número crescente de
colecionadores particulares e coleções espetaculares contendo material de
procedência ignorada têm sido acumuladas no mundo inteiro. Para muitos
destes colecionadores, ter sua coleção exibida em um museu, ou mesmo
torná-la um museu, é visto como legitimação final da sua realização. Na
ausência de provas em contrário, os museus devem assumir que tais
coleções de itens de procedência ignorada podem conter conteúdos
ilícitos. […] Um dia uma destas fabulosas coleções privadas será oferecido
a um museu. O que esse Museu vai fazer? (BRODIE, DOOLE, WATSON,
2000, p. 3, tradução nossa) 3.
Embora a restituição seja considerada pertinente e positiva, torna-se conveniente expressar a posição veiculada pelo
campo e respaldada pelo Código de Ética para Museus. Do mesmo modo, cabe apresentar assertivas de entidades,

profissionais, autores e outros cidadãos ligados à temática. Portanto este artigo, cuja finalidade não é um
estudo sob a perspectiva da Ética ou do Direito, na sua proposta procura não somente
expor o que é expresso conceitualmente pelo campo, sobretudo, intenta tratar de
„visualizar‟ a prática que este mesmo campo realiza no seu cotidiano.
Código de Ética para Museus e a Restituição de Objetos Muzealizados
No Código (ICOM, 2009, não paginado) – seção “2. Os museus mantêm acervos
em benefício da sociedade e de seu desenvolvimento” 4; a pertinência do problema marca
presença no início do texto introdutório. No trecho “Princípio” é destacado o papel do
Museu como responsável por um “patrimônio público significativo”, observando que sua
atuação com relação aos objetos / coleções “implica zelar pela legitimidade da
propriedade”.
5
O tópico “Alienação de Acervos” especialmente item – “2.13 Descarte de acervos”
(Deaccessioning from Museum Collections, versão em inglês) explana o ponto que
constitui a questão aqui enfocada, associada aos conteúdos éticos propalados pelo

3
Although museums may not be acquiring on the scale that they once were, the market for cultural material has
exploded during the last 20 years. Most items are now sold to a growing number of private collectors and spectacular
collections containing unprovenanced material have been amassed all over the world. For many of these collectors,
having their collection displayed in a museum, or even having it become a museum, is seen as the ultimate validation of
their achievement. In the absence of evidence to the contrary, museums must assume that such collections of
unprovenanced items might contain illicit material […]. One day one of these fabulous private collections will be
offered to a museum. What is that museum going to do?
4
A palavra coleções da versão em inglês é substituída por acervos (versão lusófona) - Museums that maintain
collections hold them in trust for the benefit of society and its development (ICOM, Code…, 2004, p. 3). Em outra
perspectiva da pesquisa UNIRIO foram estudados os termos coleção e acervo. O resultado em contexto museológico
indicou com base na análise de publicações e sites eletrônicos (inglês, francês, espanhol) que a palavra de uso
dominante é coleção / coleções. Acervo é termo que predomina nos países lusófonos.
5
Versão original em inglês: Removing collections (ICOM, Code..., 2004, p. 4-5).
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documento. Antes, deve-se mencionar o que se entende por deaccession. Segundo


Simpson (1991, p. 3) a palavra deve ser compreendida consignando o procedimento
“baixa de registro – remoção de um objeto da coleção permanente”.
Esclarece-se que o assunto, sob perspectiva teórica e metodológica, identifica o
conceito usado para o termo deaccession (descarte, versão lusófona) como detentor do
sentido aplicado pela disciplina Documentação com relação a qualquer tipo de coleção.
Isto se dá na medida em que o termo e o seu conceito integram procedimentos teóricos e
práticos do domínio da disciplina. Este conhecimento especializado e oriundo de outro
campo do saber é utilizado em contexto museológico, assim como em demais contextos
que necessitem de aporte teórico e prático.
Embora não se pretenda analisar sob prisma etimológico -- o que será retratado no
artigo expõe apenas um exemplo de ação desenvolvida pelos Museus -- é conveniente
assinalar que a palavra Deaccession está constituída pelo prefixo de, indicando sentido
de oposição. Por conseguinte, apresenta significado contrário ao termo “accession – o
processo de fazer adições a uma coleção” (REITZ, 2002), configurando a entrada do item,
o acesso da peça no conjunto da coleção, a inserção realizada.
De fato, deaccession exprime a ação de invalidar de modo formal no catálogo do
museu o -- accession number / register number -- número de acesso, número de
registro, ou, ainda, número de tombo (como usado no Brasil ao longo de muitos anos); por
conseguinte, exprime o ato de „dar baixa‟ a um determinado registro. Lembrando: o
“número de catálogo exclusivo do objeto” (PASTPERFECT) ao ser invalidado como
inserção, também é número que não mais terá uso (não será mais representado,
preenchido, por outro objeto / item, ficará vago e com indicação da circunstância que
determinou tal estado). Indicando, na situação narrada e por ato legítimo, a evidência do
processo de remoção definitiva do item de uma coleção.
Envolve, no caso que, doravante, será abordado, a destituição legal da "custódia
oficial realizada após cuidadosa deliberação [...] como resultado de uma decisão de
transferir o material para outro custodiante" [...] "o proprietário legal" (REITZ, 2002).
Voltando ao Código do ICOM para Museus (2009, não paginado) tópico 2.13 – A
remoção de um item de coleção: “objeto ou espécime” merece considerar, entre outros
pontos de análise, a “legitimidade processual".
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Associado ao exposto acima, há que realçar: Seção – “6. Origem dos acervos”,
tópicos “6.2 Devolução de bens culturais” e “6.3 Restituição de bens culturais” (ICOM,
2009, não paginado) que apresentam especificações envolvendo devolução / restituição
de itens de coleções.
Nos trechos do Código, conforme é possível confirmar em 6.3 no trecho que se
sublinhou na citação abaixo apresentada, há menção ao item adquirido sob modalidade
que possa caracterizar "prova conclusiva de apropriação ilícita", segundo a Associação
Americana de Museus (AAM, 1999; 2001).
6.2 Devolução de bens culturais.
Os museus devem estar preparados para iniciar a discussão sobre a
devolução de bens culturais a um país ou povo de onde se originem. Esta
ação deve ser feita de maneira imparcial, baseada em critérios científicos,
profissionais ou humanitários e sob a legislação local, nacional e
internacional aplicável, ao invés de ações governamentais ou políticas.
6.3 Restituição de bens culturais.
Quando um país ou povo de origem busca a restituição de um objeto ou
espécime que tenha sido exportado ou transferido violando os princípios
estabelecidos nas convenções internacionais e nacionais, e demonstrar
que este objeto ou espécime faz parte do patrimônio cultural ou natural
daquele país ou povo, o museu envolvido, se for legalmente autorizado
para isto, deve tomar as providências necessárias para viabilizar esta
6
restituição (ICOM, Código..., 2009, não paginado, grifo nosso).
Relacionado ao Código do ICOM, é interessante atentar para o seguinte: ao fazer
referência à figura do proprietário -- àquele que, por direito legal, é o destinatário da
devolução, restituição do item a ser retirado da coleção do Museu; a redação não
contempla um termo que possa distinguir a categoria do sujeito individual (indivíduo,
cidadão). A indicação no documento exprime idéia associada à representação coletiva,
conforme o exemplo, tópicos (6.2; 6.3), expressando: “país ou povo de onde se
originem...”; e “país ou povo de origem busca...”. Em virtude da redação que o texto
apresenta, os pedidos de devolução estão envolvendo os países (governos) nas
reivindicações.

6
6. Origin of Collections; 6.2 Return of Cultural Property - Museums should be prepared to initiate dialogues for the
return of cultural property to a country or people of origin. This should be undertaken in an impartial manner, based on
scientific, professional and humanitarian principles as well as applicable local, national and international legislation, in
preference to action at a governmental or political level; 6.3 Restitution of Cultural Property - When a country or
people of origin seeks the restitution of an object or specimen that can be demonstrated to have been exported or
otherwise transferred in violation of the principles of international and national conventions, and shown to be part of
that country’s or people’s cultural or natural heritage, the museum concerned should, if legally free to do so, take
prompt and responsible steps to co-operate in its return. (ICOM, Code... 2004, p. 9-10).
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E, em se tratando de “instituições de memória cultural” (NAMER, 1987, p. 159)


entre as quais estão os Museus, é preciso relembrar que, no panorama da formação de
várias coleções atualmente consideradas museológicas, o registro histórico confirma
episódios de violações (POMIAN, 1984, 51-83).
Entre outras ocorrências conhecidas pode-se indicar: pilhagem sob a forma de
despojos de batalhas; saques de grupos hegemônicos perpetrados por colonizadores
que, imbuídos de uma idéia de „civilização versus não civilizados‟, outorgaram-se ao
„direito‟ de apoderar-se do que desejassem dos grupos e locais dominados; ou ainda
como resultante das nomeadas „descobertas‟ de „missões estrangeiras‟ que, também,
determinaram-se como „únicas habilitadas‟ para „estudar‟ e „guardar o material‟, levando
para longe a coleta.
O quadro, hoje, não seria tolerado pela perspectiva da Ética devido ao modo
inadequado de agir que revestiu acontecimentos deste teor e, sem dúvida, não há como
desconhecer a veracidade de tais ocorrências 7.
Quando se faz uma visita ao Museu Britânico, em Londres, ao Louvre, em
Paris, ou à Ilha dos Museus de Berlim, é fácil enxergar seus acervos como
algo natural e garantido, presumindo que sempre estiveram ali e
esquecendo que foram adquiridos ao longo do tempo. A palavra
“adquiridos”, empregada com freqüência nos círculos dos museus, é uma
espécie de jargão resumido que alude a doações, aquisições e objetos
pilhados – não pelo museu, é claro, mas por marchands e doadores
(BURKE, 2010, p. 6, grifo do autor).
No quadro em que os Museus estão ligados a diversas fontes de obtenção para
proceder à aquisição de suas coleções: compras ou doações, por meio de
colecionadores, instituições, comerciantes, há o risco de deparar-se com o problema do
"tráfico ilícito de bens culturais" (UNESCO, 2004) e, em vista disto, os cuidados devem
ser redobrados.
É difícil determinar a procedência completa de qualquer obra de arte.
Muitos objetos são comprados e vendidos anonimamente; proprietários
anteriores morrem sem revelar onde obtiveram as obras das suas
coleções; comerciantes nem sempre deram a conhecer as origens dos
seus bens; e os registros de comerciantes e casas de leilões
freqüentemente são perdidos ou destruídos. Por todas estas razões, é raro
ter uma obra de arte sem algum tipo de lacuna na sua procedência.
Portanto, ao mesmo tempo em que obras de arte da coleção do Museu de
Arte da Universidade de Princeton que apresentam procedência

7
Embora o artigo não analise a Ética ou o Direito, é possível perceber que o relato aponta mudanças ocorridas no
entendimento dado a procedimentos culturais que, há cerca de um século, mereciam acolhida social.
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incompleta entre 1933 e 1945 estão sendo divulgadas aqui, a presença de


objetos [obras] na lista [Provenance] não implica que foram saqueados ou
indevidamente adquiridos. As obras de arte nesta lista têm a procedência,
nesta data, incompleta e na maioria dos casos ainda estão sob
investigação (PRINCETON, 2010b, tradução nossa.) 8.
O Museu de Arte da Universidade de Princeton, cuja coleção alcança cerca de 72
mil peças (PRINCETON, 2010a), destaca o problema envolvendo lacunas no contexto da
formação das coleções museológicas e da informação acerca da procedência / histórico
das peças, especialmente quando é sabido que há objetos que podem alcançar milhares
de anos, a exemplo do período da antiguidade clássica.
Legalidade das Coleções, Documentação, Informação em Arte: a Relevância
da Getty Provenance Databases.
Não é intenção relatar, no artigo, todos os documentos relativos a medidas legais e
suas práticas condizentes preconizadas por entidades internacionais ou locais e
disseminadas para uso dos Museus e demais instituições de memória cultural. Este
recurso documental está disponível para consulta, acesso público, no ambiente internet
propiciado pela „revolução‟ das TICs, Tecnologias de Informação e Comunicação 9.
O que se vai destacar, no elenco de proposições e atividades ligadas a entidades
que tratam do assunto em perspectiva, é o exemplo de uma ação de inspiração ética que
vem demandando a prática pelos Museus em vista de um problema, ainda considerado
recente, mas que tem merecido a atenção internacional.
O recrudescimento das exigências sociais para transparência pública quanto à
situação de coleções, especialmente obras de arte, e as possibilidades trazidas pela nova

8
It is difficult to determine the complete provenance of any work of art. Many objects are bought and sold
anonymously; past owners die without disclosing where they obtained the works in their collections; dealer do not
always make known the sources of their holdings; and the records of dealers and auction houses are frequently lost or
destroyed. For all these reasons, it is rare to have a work of art without some kind of gap in its provenance. Therefore,
while the works of art in the Princeton University Art Museum’s collection with an incomplete provenance between
1933 and 1945 are made public here, the presence of objects on the list does not imply that they were looted or
improperly acquired. The works of art on the list have provenances that are, at this date, incomplete and in most cases
still the subject of research.
9
Fontes de consulta -- exemplos:
-- INTERPOL. International Criminal Police Organization, Property Crime-Works of Art.
-- UNESCO. Intergovernmental Committee for Promoting the Return of Cultural Property to its Countries of Origin or
its Restitution in case of Illicit Appropriation. - Convention on the Means of Prohibiting and Preventing the Illicit
Import, Export and Transfer of Ownership of Cultural Property (1970). - International Standards Section-Division of
Cultural Heritage. Legal and Practical Measures Against Illicit Trafficking in Cultural Property: UNESCO Handbook
(2006).
-- UNIDROIT. International Institute for the Unification of Private Law. Convention on Stolen or Illegally Exported
Cultural Objects. (1995).
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tecnologia (internet) facilitaram o desenvolvimento da intercomunicação bem como o


aprofundamento dos trabalhos no que tange à pesquisa, deste modo, permitindo expandir
seus resultados com referência ao alcance da disseminação da informação sobre itens de
coleções de arte abrigados em Museus.
No caso em pauta, a abordagem trata do movimento denominado “contra o tráfico
ilícito de bens culturais” (UNESCO, 2004) e o episódio do confisco de bens,
particularmente da comunidade judaica.
No contexto dos Museus americanos, o movimento foi marcado pela divulgação de
documentos elaborados no final dos anos 90 do século XX (1998) pela AAM – Associação
Americana de Museus e pela AAMD – Associação de Diretores de Museus de Arte.
Respectivamente: “Orientações sobre a Apropriação Ilícita de Objetos Durante a Era
Nazista”; e “Relatório do Grupo AAMD sobre a Espoliação de Arte Durante a Era
Nazista/Segunda Guerra Mundial (1933-1945)” 10.
A primeira “Conferência de Washington sobre Bens [espoliados] na Era do
Holocausto” (U.S. HOLOCAUST) também aconteceu em 1998, dezembro e, na ocasião:
44 governos representados aprovaram um conjunto de princípios,
solicitando a Nações e a possuidores atuais para pesquisar e identificar
arte que tenha sido confiscada pelos nazistas e ainda não retornou aos
legítimos proprietários 11.
Os dois documentos e a Conferência recomendaram, em contexto de
disseminação da informação das coleções – bases de dados, reforço na investigação do
tema aquisição de obras de arte com elaboração de um recorte temático para mais ampla
divulgação e, em especial no período citado, em razão de possíveis problemas
relacionados a aquisições nos Museus. Desta maneira, reativaram esforços iniciados
desde o fim da 2ª Guerra Mundial, em vários níveis, inclusive em contexto internacional a
exemplo da “Conferência Internacional sobre Reivindicações Judaicas contra a
12
Alemanha-1951” (CLAIMS..., 1951) .
Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, leis foram aprovadas em
países europeus referentes à restituição de obras de arte para seus

10
--AAM-American Association of Museums. Guidelines Concerning the Unlawful Appropriation of Objects During
the Nazi Era.
--AAMD-Association of Art Museum Directors. Report of the AAMD Task Force on the Spoliation of Art during the
Nazi/World War II Era (1933-1945).
11
44 governments represented endorsed a set of principles, which called on nations and current possessors to research
and identify art that had been confiscated by the Nazis and not yet returned to the rightful owners.
12
International Conference on Jewish Material Claims against Germany-1951.
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proprietários originais. Mas, apesar desta legislação, muitas obras de arte


permaneceram sem serem reclamadas e foram depositadas em coleções
nacionais. No final de 1990, na seqüência de uma série de conferências
internacionais sobre o tema do saque nazista de obras de arte, a questão
recuperou proeminência e solicitações foram feitas para as obras de arte
serem devolvidas, inclusive pelos museus. Isto levou a uma resolução
aprovada pelo Conselho da Europa em 1999, e em alguns países
aprovaram novas leis ou diretrizes emitidas para os museus na
identificação e o regresso de obras de arte roubadas durante a Segunda
Guerra Mundial. (ICOM, [2001b?], tradução nossa) 13.
Ainda, na citação, fica exposta outra situação que, fora do circuito de
comercialização de objetos, levou o problema das obras espoliadas para o ambiente das
coleções museológicas, tendo em vista que muitos objetos não foram reclamados pelos
legais proprietários. A Universidade de Princeton (2010b), detentora de 14 museus, e a
Associação Americana de Museus, AAM (1999-2001) também mencionam o fato.
O movimento para determinar a real situação de alguns objetos nos Museus de
Arte encontrou sua raiz na necessidade de uma demanda que busca, até hoje, esclarecer
informações sobre obras de arte que trocaram de mãos, principalmente no período da
ascensão e queda do partido nazista (1933-1945). Consequentemente, no elenco de
objetos espoliados no rastro do episódio do Holocausto e dos países invadidos ao longo
do processo da 2ª Guerra Mundial.
A partir do momento em que chegou ao poder em 1933 até do fim da II
Guerra Mundial em 1945, o regime nazista orquestrou um sistema de
roubo, confisco, transferência coercitiva, saques, pilhagens e destruição de
objetos de arte e outros bens culturais na Europa em uma escala massiva
e sem precedentes. Milhões destes objetos foram ilegalmente e, muitas
vezes tirados a força de seus legítimos proprietários, que incluem os
cidadãos, as vítimas do Holocausto, os museus públicos e privados, as
galerias e as instituições religiosas, educacionais e outras (AAM, 1999-
14
200, tradução nossa) .
E os Museus se organizaram em rede eletrônica de alcance global, atendendo ao
recomendado pelo Conselho Executivo do ICOM (1999):

13
Immediately after the Second World War, laws were passed in European countries concerning the return of art works
to their original owners. But despite this legislation, many art works remained unclaimed and were deposited with
national collections. In the late 1990s, following a number of international conferences on the theme of Nazi looting of
art works, the issue regained prominence and requests were made for art works to be returned, including by museums.
This led to a resolution being adopted by the Council of Europe in 1999; and some countries passed new laws or issued
directives for museums on the identification and return of art works stolen during the Second World War.
14
From the time it came into power in 1933 through the end of World War II in 1945, the Nazi regime orchestrated a
system of theft, confiscation, coercive transfer, looting, pillage, and destruction of objects of art and other cultural
property in Europe on a massive and unprecedented scale. Millions of such objects were unlawfully and often forcibly
taken from their rightful owners, who included private citizens, victims of the Holocaust, public and private museums
and galleries, and religious, educational and other institutions.
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Para tornar as informações relevantes acessíveis e visando facilitar aos


potenciais legítimos proprietários ou seus herdeiros a investigação e
identificação de objetos de procedência duvidosa:
-- atuar com presteza na elaboração e estabelecimento de procedimentos,
a nível nacional e internacional, para a divulgação de informações sobre
esses objetos e facilitar o seu regresso legítimo.
-- atuar com presteza para a devolução de todos os objetos de arte, que
anteriormente pertenciam a proprietários judeus ou qualquer outro
proprietário, e que estão agora na posse de museus, aos seus legítimos
proprietários ou seus herdeiros, de acordo com a legislação nacional e de
modo que a propriedade legítima desses objetos possa ser claramente
estabelecida (ICOM, 1999, grifo nosso, tradução nossa) 15 .
O objetivo da implantação de um sistema de informação em rede de alcance
mundial é não só obter melhor intercomunicação, mas principalmente atender a
necessidade de divulgação pública em massa para os interessados que possam ter
sofrido tais perdas. Pois em tempos anteriores ao advento da internet globalizada, a
disseminação desta informação ainda se fazia circunscrita a edições impressas, a
consultas realizadas nos locais dos arquivos e por contacto via postal. Portanto, além de
mais trabalhosa era, sobretudo, muito demorada e cara.
Então, ao atenderem ao recomendado, as ações deram ênfase a um dos
indicadores de referência que a Documentação aplicada às coleções museológicas
(Documentação em Museus, Museum Documentation) arrola no levantamento de dados
vinculados à aquisição de objetos. E nos Museus de Arte, como é do conhecimento dos
profissionais do campo, no processo de catalogação de objetos musealizados,
Documentação Museológica conforme nomeado em artigo, no Brasil, por Ferrez (1994),
o(s) dado(s) representando a obtenção dos objetos é o indicador / conjunto de indicadores
referente à “ „procedência‟, [...] usado para representar a „história da propriedade‟ ”
(BRODIE, DOOLE, WATSON, 2000).

Reconstrução de um histórico completo de propriedade para um


determinado trabalho pode ser difícil e às vezes impossível. Muitos

15
-- To make such relevant information accessible to facilitate the research and identification of objects of doubtful
provenance by potential rightful owners or their heirs.
- To actively address and participate in drafting and establishing procedures, nationally and internationally, for
disseminating information on these objects and facilitating their rightful return.
-- To actively address the return of all objects of art that formerly belonged to Jewish owners or any other owner, and
that are now in the possession of museums, to their rightful owners or their heirs, according to national legislation and
where the legitimate ownership of these objects can clearly be established.
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Inovação e inclusão social: questões contemporâneas da informação
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registros de propriedade foram destruídos como resultado de desastres


naturais, catástrofes provocadas pelo homem, como guerra e negligência.
Informação, às vezes, é retida pelos concessionários e casas de leilão a
pedido dos proprietários anteriores que desejam manter o anonimato.
Muita informação arquivística permanece desconhecida ou de difícil
acesso. A informação sobre procedência que nós podemos receber ou
encontrar precisa ser tratada com cautela, uma vez que proprietários,
comerciantes, curadores, e estudiosos têm identificado a prova documental
associada ao objeto errado (GETTY MUSEUM, tradução nossa.) 16.

O indicador Histórico de Propriedade (Provenance / Procedência) que abrange


desde a criação da obra (motivo: questão da autenticidade de obras de arte) é
responsável pela descrição detalhada para cada obra. Está disponível para consultas on-
line e compõe, sob o mesmo título, um sistema de informação (base de dados) cujo
objetivo é esclarecer ao público especializado e leigo o histórico de cada objeto. Esta
informação em livre circulação -- “a Internet fornece outro poderoso método de
distribuição” (GETTY MUSEUM) – ainda, auxilia o Museu a sanar dúvidas ou preencher
lacunas sobre cada item da coleção. A disseminação da informação, sobretudo caso
tenha havido posse indevida, permite identificar e localizar o item de coleção, habilitando
o proprietário, finalmente, a proceder ao seu justo pedido para restituição.
Como exemplo de um dos Museus dedicado às Artes que investiga suas coleções
focalizando a questão que se está discutindo e disponibiliza estes dados, pode-se apontar
a pesquisa “Museum Colletion Provenance, 1933-45, J. Paul Getty Museum” (GETTY
MUSEUM).
Os trabalhos publicados nesta seção do nosso website possuem lacunas,
ou nenhuma referência sobre procedência no período de 1933 a 1945 e
são regularmente atualizados quando novas informações vêm à luz, assim
como quando objetos são adicionados à coleção. Tais lacunas na
procedência por si só, não constituem provas que estas obras foram
saqueadas durante o Holocausto ou a Segunda Guerra Mundial.
Publicamos esta lista para expandir ainda mais o alcance de nossa
investigação e é bem vinda qualquer informação sobre a procedência das
obras em nossa coleção que os usuários deste site possam fornecer. Este
site será ampliado no futuro. Nós começamos com nossas pinturas e

16
Reconstruction of a complete history of ownership for a given work can be difficult and sometimes impossible. Many
records of ownership have been destroyed as a result of natural disasters, man-made disasters such as war, and neglect.
Information is sometimes withheld by dealers and auction houses at the request of previous owners who wish to
maintain their anonymity. Much archival information remains undiscovered or difficult to access. Provenance
information we receive or find needs to be treated cautiously, since owners, dealers, curators, and scholars have been
known to associate documentary evidence with the wrong object.
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estaremos acrescentando obras de outros departamentos ao longo do


17
tempo (tradução nossa) .
Em se tratando de um serviço de informação em Museus, a pesquisa realizada
pela Fundação Getty com referência às coleções museológicas de arte, os “Documentos
da Arte” e as fontes pertinentes para pesquisa os “Documentos sobre Arte” (LIMA, 2000),
no seu conjunto de bases de dados Getty Provenance Databases (categorias: Pinturas,
18
Documentos de Arquivo, Catálogos de Vendas e Coleções Públicas) disponível na rede
mundial de computadores, é considerada uma atividade pioneira no âmbito da disciplina
Informação em Arte. Particularmente entre Museus de Arte que seguem a recomendação
para elaborar análises enfatizando a questão do histórico de propriedade, dando origem
ao modelo “projetos de pesquisas individuais sobre a procedência [de objetos] nos
museus” (ICOM, 2001a ?).
O modelo está relacionado ao indicador / conjunto de indicadores que coletam
dados sobre a história da propriedade de um objeto desde a sua produção e são
desenvolvidos pelo processo de catalogação para disseminação de informação
especializada: Museum Information ou Information in Museums. É conveniente lembrar
que o item (ou itens) de informação sobre o histórico de propriedade, (a procedência /
provenance), representa(m) uma parte (ou partes) compondo a ficha catalográfica de um
determinado objeto existente e descrito em qualquer Museu. Portanto, no caso exposto,
houve composição, ou seja, um „recorte‟ com campos do formulário que referenciam o
assunto.
Com relação à pesquisa sobre a procedência das obras: quando uma obra de arte
da coleção carece de um dado preciso, em especial para a informação ligada ao período

17
The works published in this section of our Web site have gaps in, or no provenance for, the period 1933 to 1945 and
are updated regularly as new information comes to light and as objects are added to the collection. Such gaps in
provenance, in and of themselves, are by no means proof that these works were looted during the Holocaust or World
War II. We publish this list to open our inquiry further and we welcome any information on the provenance of works in
our collection that users of this site can provide. This Web site will be augmented in the future. We have begun with our
paintings and will be adding works from other departments over time.

18
Getty Provenance Databases: Paintings, Archival Documents, Sale Catalogs e Public Collections.
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histórico que se está enfocando (Museum Colletion Provenance, 1933-45), com o intuito
de esclarecer o usuário no processo de busca há, no „menu‟ da base de dados
Provenance, a indicação especificando a categoria “Lacunas 1933-1945” (Gaps 1933-
1945).
O período da lacuna indicado, por exemplo, para a pintura do autor Alma-Tadema,
19
como abaixo indicado, abrange 1913-1945 .
Lawrence Alma-Tadema (Dutch, 1836 - 1912, active England 1870 - 1912)
(grifo nosso).
Spring - 1894 - Oil on canvas (grifo do autor).
Unframed: 178.4 x 80 cm (70 1/4 x 31 1/2 in.) Framed (Display / Original):
243.8 x 124.5 x 10.5 cm (96 x 49 x 4 1/8 in.).
72.PA.3
PROVENANCE (grifo do autor).
1895 – 1900 -- Robert von Mendelssohn [Berlin, Germany], sold to Thomas
Agnew & Sons, Ltd., 1900.
1900 – 1901-- Thomas Agnew & Sons, Ltd. [London, England], sold to
Charles Tyson Yerkes, 1901.
1901 – 1905 -- Charles Tyson Yerkes [Chicago, Illinois; New York, New
York], upon his death, held in trust by the estate.
1905 – 1910 -- Estate of Charles Tyson Yerkes (sold, Yerkes sale,
American Art Association, New York, March 5, 1910, lot 37, to Henry
Reinhardt Galleries.).
1910 – 1912 -- Henry Reinhardt Galleries [Chicago, Illinois], sold to
Thomas Frederick Cole, 1912.
1912 - still in 1913 -- Thomas Frederick Cole [Duluth, Minnesota; New
York, New York; possibly Pasadena, California (grifo nosso);
- 1945 -- Edwin H. Fricke [Calistoga, California] (sold, Fricke sale, Parke-
Bernet, New York, March 15, 1945, lot 35, through Lewis A. Stone to Mrs.
Edward Lane) (grifo nosso).
1945 -- Mrs. Edward Lane, sold to Hulett C. Merritt, 1945.
1945 – 1956 -- Hulett C. Merritt [Pasadena, California] (sold, Merritt sale,
Ames Art Galleries, Beverly Hills, June 3, 1957, lot 205, to Victor
Emmanuel Wenzel von Metternich.), upon his death, held in trust by the
estate.
1956 – 1957 -- Estate of Hulett C. Merritt (sold, Merritt sale, Ames Art
Galleries, Beverly Hills, June 3, 1957, lot 205, to Victor Emmanuel Wenzel
von Metternich.).
1957 – 1972 --Victor Emmanuel Wenzel von Metternich [Los Angeles,
California] (sold, Metternich sale, Sotheby's, Los Angeles, February 28,
1972, lot 27, to the J. Paul Getty Museum).
Mesmo quando não há lacunas no histórico de propriedade, a busca também
permite verificar casos de restituição (categoria Restitution) qualquer que seja a
modalidade que gerou o processo de devolução, mesmo anterior à entrada do objeto no

19
As citações referentes aos artistas Alma-Tadema, Masaccio e Boucher estão sendo apresentadas somente no original
(sem tradução) para não exceder o número recomendado (limite) de páginas para o artigo.
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Museu. Como ilustração, transcreve-se o episódio de obras dos autores Masaccio e


Boucher confiscadas pelo governo nazista e restituídas aos proprietários após a Guerra.
Posteriormente, as obras foram compradas pelo Museu Getty.
Masaccio (Tommaso di Giovanni Guidi) (Italian (Florentine), 1401 - 1428)
(grifo nosso).
Saint Andrew –1426 -- Tempera and gold leaf on panel. (grifo do autor)
Unframed [panel]: 52.4 x 32.1 cm (20 5/8 x 12 5/8 in.) Surviving original
painted surface: 44.9 x 30.2 cm (17 11/16 x 11 7/8 in.) Framed: 69.2 x 37.8
x 5.1 cm (27 1/4 x 14 7/8 x 2 in.)
79.PB.61
PROVENANCE (grifo do autor).
1426 - late 16th century -- Santa Maria del Carmine [Pisa, Italy],
commisioned from the artist by Ser Giuliano di Colino di Pietro degli Scarsi
di San Giusto, 1426.
by 1892 -- Adolph Bayersdorfer [Munich, Germany], sold to Karol
Lanckoronski..
possibly 1892 – 1933 -- Count Karol Lanckorónski [Vienna, Austria], by
inheritance to his daughter, Karolina Lanckoronski, another daughter, and a
stepson, 1933.
1933 – 1939 -- Karolina Lanckorónski [Vienna, Austria].
1933 -- 1939 -- and two other Lanckorónski Children [Vienna, Austria],
looted by the Nazis, 1939 (grifo nosso).
1939 – 1945 -- In the possession of the Nazis [Schloss Stiesberg, near
Wiener-Neustadt, Austria], restituted to Karolina Lanckoronski and the
other Lanckoronski children, 1945 (grifo nosso).
1945 – 1979 -- Karolina Lanckorónski [Zürich, Switzerland].
1945 -- and two other Lanckorónski Children, sold by Karolina
Lanckoronski, through the Heim Gallery (London, England), to the J. Paul
Getty Museum, 1979.
François Boucher (French, 1703 - 1770) (grifo nosso).
Venus on the Waves –1769 -- Oil on canvas. (grifo do autor).
Unframed: 265 x 86 cm (104 5/16 x 33 7/8 in.) Framed: 272.7 x 86.7 x 7.6
cm (107 3/8 x 34 1/8 x 3 in.).
71.PA.54
PROVENANCE (grifo do autor).
possibly 1768 – 1783 -- Jean-François Bergeret de Frouville [Paris,
France], possibly commissioned from the artist for the Hôtel Bergeret de
Frouville, 1768; by inheritance to his daughter, Marie-Charlotte Bergeret de
Frouville, 1783.
1783 - Marie-Charlotte Bergeret de Frouville [Paris, France], possibly by
inheritance to her second husband, Antoine-Jean-Baptiste Hervé
d'Arbonne.
- 1811 -- Antoine-Jean-Baptiste Hervé d'Arbonne [Paris, France], sold to
Gabriel-Louis-François Périer.
1811 – 1815 -- Gabriel-Louis-François Périer [Paris, France], by inheritance
to Amédée-Gabriel Périer, 1815.
1815 – 1838 -- Amédée-Gabriel Périer [Paris, France], by inheritance to his
cousin, Pierre-Louis Raffard, 1838.
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1838 - Pierre-Louis Raffard, count of Marcilly [Paris, France], by


inheritance to Eugénie-Zoé Raffard.
- 1882 -- Eugénie-Zoé Raffard, countess of Marcilly [Paris, France], sold to
M. Johnson, 1882.
1882 - about 1882 --M. Johnson , probably sold to Edmond James de
Rothschild, about 1882.
about 1882 – 1934 -- Baron Edmond James de Rothschild [Paris, France;
Boulogne-sur-Seine, France], by inheritance to Maurice (Edmond Charles)
de Rothschild, 1934.
1934 – 1940 -- Baron Maurice (Edmond Charles) de Rothschild, looted by
the Nazis, 1940 (grifo nosso).
about 1940 - 1945/1946 -- In the possession of the Nazis [Paris, France],
restituted to Edmond James de Rothschild, 1945/1946 (grifo nosso).
1945/1946 - Baron Edmond James de Rothschild.
- 1971 -- Private Collection (possibly still Rothschild) [Paris, France] (sold,
Palais Galliera, Paris, November 25, 1971, lot 10, through French and
Company (New York, New York) to the J. Paul Getty Museum.).
Segundo o ICOM (2001?), até a data indicada, os seguintes Museus desenvolviam
pesquisa conforme o modelo acima mencionado dentro do espírito para esclarecimento e
divulgação:
Galeria Nacional de Victoria (Austrália); Museu Federal do Estado de
Joanneum (Áustria); Galeria do Retrato - Berlim (Alemanha); Instituto de
Arte de Chicago; Museu de Arte de Cleveland; Museus de Arte da
Universidade de Harvard; Museu J. Paul Getty; Museu de Arte do
Condado de Los Angeles; Museu Metropolitano de Arte - MoMA; Museu
de Belas Artes de Boston; Galeria Nacional de Arte; Museu de Arte de
Seattle. (Museus dos EUA) (tradução nossa) 20.

Consultando-se o site da Universidade de Princeton, que congrega 14 Museus


dedicados a diversos enfoques, pode-se obter informação sobre pesquisa relacionada ao
histórico de propriedade no Museu de Arte da Universidade de Princeton e tomar
conhecimento acerca da relevância desta informação.

O Museu (PRINCETON, 2010a) esclarece:

A importância da investigação sobre a procedência [de obras] no Museu se


tornou clara quando se descobriu que Saint Bartholomew [São Bartolomeu]
por Bernardino Pinturicchio, que era de propriedade de Federico Gentili di
Michele, um Judeu residente durante a ocupação alemã na França, foi

20
The National Gallery of Victoria (Australia); Landesmuseum Joanneum (Austria); Gemäldegalerie Berlin
(Germany); Art Institute of Chicago; Cleveland Museum of Art; Harvard University Art Museums; J. Paul Getty
Museum; Los Angeles County Museum of Art; Metropolitan Museum of Art – MoMA; Boston Museum of Fine Arts;
National Gallery of Art; Seattle Art Museum. (US Museums).
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leiloado com seu espólio, em 1941, sem o consentimento da sua família. O


Saint Bartholomew foi adquirido em 1994 através do negociante de Nova
York French & Company, Inc. Nos anos de 1990, a família Gentili di
Giuseppe fazendo valer os direitos sobre as obras vendidas em 1941
entrou em contacto, neste momento, com o Museu de Arte da
Universidade de Princeton a respeito do Saint Bartholomew.
Reconhecendo que o Museu havia comprado a pintura de boa fé, os
herdeiros Gentili di Giuseppe decidiram deixar a pintura na coleção. Na
seqüência das discussões entre o Museu de Arte e os herdeiros, uma
compensação pela perda foi paga por um valor acordado entre as partes 21
(grifo do autor, tradução nossa).

No site Getty Museum pode-se acessar o Nazi-Era Provenance Internet Portal,


“repositório central para os museus nos Estados Unidos da América” (AAM, NAZI-ERA)
cuja fonte de dados é Provenance Databases. O portal está sob responsabilidade da AAM
- American Association of Museums e entre seus financiadores: o Programa de Bolsas da
Fundação J. Paul Getty (Getty Grant Program).

O objetivo deste recurso para consulta dirigido a instituições e pessoas é “fornecer


um registro pesquisável de objetos em coleções de museus dos Estados Unidos da
América que mudou de mãos na Europa Continental durante a era Nazista (1933-1945)"
(AAM, NAZI-ERA). Embora o espaço virtual não indique a data de atualização, até o
momento em que se elaborava o presente artigo a informação indicava entre objetos e
museus “28281 objetos pertencentes a 169 Museus integrantes da lista do Portal”. O
Portal esclarece que, em se tratando do complexo museológico Smithsonian Institution,
22
conjunto de 19 museus com 7 dedicados ao tema Artes , é contabilizado representando
somente uma instituição.

21
The importance of provenance research at the Museum was made clear when it was discovered that Saint
Bartholomew by Bernardino Pinturicchio, once the property of Federico Gentili di Giuseppe, a Jewish resident of
German-occupied France, was auctioned with his estate in 1941 without the assent of his family. The Saint
Bartholomew had been purchased in 1994 through the New York dealer French & Company, Inc. In the 1990s, the
Gentili di Giuseppe family began to pursue claims regarding the works sold in 1941 and contacted the Princeton
University Art Museum regarding the Saint Bartholomew at that time. Acknowledging that the Museum had
bought the painting in good faith, the Gentili di Giuseppe heirs wished to leave the painting in the collection. Following
discussions between the Art Museum and the heirs, compensation was paid for their loss at an agreed-upon amount.
22
Museus de Arte do complexo Smithsonian: National Museum of African Art; American Art Museum and
Renwick Gallery; Cooper-Hewitt National Design Museum; Freer Gallery of Art and Arthur M. Sackler Gallery;
Portrait Gallery; Hirshhorn Museum and Sculpture Gallery; Arts and Industries Building.
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Os resultados da pesquisa realizada em contexto museológico, voltada para


informar aos que tiveram seus bens confiscados, apresenta dados positivos não obstante
as dificuldades que um processo de restituição possa apresentar. Particularmente no caso
em questão, quando muitas famílias foram dizimadas e os vestígios de propriedade são
escassos pela destruição em massa ocorrida nos países ocupados ou envolvidos na 2ª
Guerra.

É possível verificar indicadores do processo de devolução e sua vinculação com


Museus consultando-se, por exemplo, o documento intitulado “Casos Resolvidos –
Reclamação de Arte Roubada” tornado público (internet) pelo escritório de advocacia
Herrick Feinstein (p. 4, 5, 16, 18, 20, 22) especializado no problema “alegações de arte
roubadas”.
A guisa de ilustração sobre o tema restituição de objetos, selecionou-se em cinco
países, de um total de 158 casos de restituição, os seguintes:
-- República Tcheca (grifo nosso).
Galeria Nacional de Praga;
Coleção de pinturas, incluindo numerosos František Kupka;
Contencioso – Retorno Judicial para Jiri Waldes, herdeiro de Jindrich
Waldes;
Data de retorno/resolução 1996.
-- França (grifo nosso).
Museu de Arte Contemporânea de Estrasburgo;
Pintura“Die Erfullung” (1909), por Gustav Klimt;
Contencioso – Retorno Judicial; Aff - em sede de recurso 8/12/2000;
Data da resolução. 11/1/1999 (apelação 8/12/2000).
-- Nova Zelândia (grifo nosso).
Galeria Pública de Arte;
5 pinturas da Escola Macchiaioli, incluindo “Woman Rocking a Baby”, por
Odoardo Borrani e “The Baker‟s Shop at Settignano”, por Telemaco
Signorini;
Contencioso – Acordo judicial - 3 pinturas permaneceram no Museu, e 2
pinturas foram leiloadas em nome dos herdeiros de Cino Vitta;
Data de retorno/resolução. 4/1999.
-- Suiça (grifo nosso).
Museu de Belas-Artes de la Chaux-de-Fonds;
Pintura “Dedham from Langham”, John Constable ;
Sem contencioso - Retorno ao sobrinho dos colecionadores de arte
francesa John e Anna Jaffe;
Data de retorno/resolução. 16/5/2008.
-- Holanda (grifo nosso).
Coleção de Arte Holandesa (Coleção NK);
Desenho “Fisherman on horseback”, por Jozef Israels;
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Sem contencioso – a Comissão Polak aconselhou o Governo Holandês


para restituição. Retorno ao Senhor. L., herdeiro de E. d. V.;
Data de retorno/resolução: 22/3/2004.
-- Estados Unidos (grifo nosso).
Museu de Belas Artes de São Francisco;
Pintura “Ermina and Vafrino Tending the Wounded Tancred” (c. 1650-
1660) por Pier Francesco Mola;

Sem contencioso – Retorno ao Museu do Louvre, Galeria Nacional


Francesa.

23
Data do retorno/resolução. 1986 (tradução nossa).

23
-- Czech Republic.
Narodni Galerie v Praze (National Gallery of Prague),
Collection of paintings, including several by František Kupka,
Litigation - - Court-ordered return Jiri Waldes, heir of Jindrich Waldes,
Date of return/resolution. 1996.
-- France.
Musée d’Art Moderne et Contemporain, Strasbourg,
Painting “Die Erfullung” (1909) by Gustav Klimt,
Litigation - Court-ordered return – Aff on appeal 12/8/2000,
Claim by Fritz Grunwald, heir of Karl Grunwald, Austrian art dealer,
Date of resolution: 1/11/1999 (appeal 12/8/2000).
-- New Zealand.
Public Gallery of Art,
5 paintings from the Macchiaioli school, including “Woman Rocking a Baby” by Odoardo Borrani and “The
Baker’s Shop at Settignano” by Telemaco Signorini,
Litigation - Court-ordered compromise - 3 paintings remained in museum, 2 paintings were auctioned on
behalf of Heirs of Cino Vitta,
Date of return/resolution. 4/1999.
Switzerland.
Musée des Beaux-Arts de la Chaux-de-Fonds,
Painting “Dedham from Langham” by John Constable,
No litigation - Return to Nephew of French art collectors John and Anna Jaffe,
Date of return/resolution. 5/16/2008.
-- The Netherlands.
The Netherlands, Nederlands Kunstbezitcollectie (The NK Collection),
Drawing “Fisherman on horseback” by Jozef Israels,
No Litigation (Polak Committee advised Dutch Government to restitute paintings),
Return to Mr. L., heir of E. d. V.,
Date of return/resolution. 3/22/2004.
USA.
-- Fine Arts Museum, San Francisco,
Painting “Ermina and Vafrino Tending the Wounded Tancred” (c. 1650-1660) by Pier Francesco Mola,

No litigation - Return to Musee du Louvre, French National Collection,

Date of return/resolution. 1986.


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No entanto, apesar do cenário de devolução que se está relatando, não se pode


deixar de mencionar a outra face da questão que, ligada à demanda dos prejudicados e
também trazida a público, identifica a perspectiva negativa.

No rol dos atos reativos aos pedidos de devolução apontam-se tanto determinados
países quanto determinados Museus que, solicitados a responder pela restituição e
acionados por via legal, têm usado de atitudes consideradas pelos advogados dos
reclamantes como „tecnicalidades‟ com intuito de adiar e obstruir o processo.

Todos os casos e os participantes envolvidos são nomeados nos documentos e,


também, a consulta pode ser feita em bases de dados de entidades nacionais e
internacionais e escritórios que defendem e lutam a favor da causa.

Este tipo de impedimento no tema da Restituição pode ser conferido em vários


relatos.
Há, por exemplo, os documentos: “Restituição de Arte Saqueada Durante a Era do
Holocausto: a Conferência de Washington (1998) - Visão geral” (GOLDSTEIN, 2009); O
Holocausto e a Ética em Museus” (GOLDSTEIN, LORD IV, 2008); Casos e Experiências
de Recuperação - Estados Unidos: Museus Respondem a Reclamações” (COMISSION,
2008).
Nos documentos mencionados e em outros acessíveis na grande rede, com
respeito aos casos de restituição, merece que se repita, neste texto, o que é público em
ambiente internet tendo como protagonistas das posturas negativas alguns Museus. São
instituições reconhecidas mundialmente pelas suas expressivas coleções e, também, são
as mesmas que apoiaram e divulgaram em conjunto com associações profissionais de
Museus um elenco de diretrizes comportamentais para resolver o problema discutido
neste artigo.
Em virtude do exposto, resta refletir acerca do compromisso expresso pelo campo
e seus agentes no que concerne ao dever de restituir, ponto de honra que, inscrito no
Código de Ética do ICOM, cabe aos Museus manter.
Será que o dever ético tem sido efetivamente exercitado como é preconizado ou,
no momento, faz-se mais ligado ao aspecto „em tese‟ do que „na prática‟?
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Em se tratando de aquisição e da investigação necessária acerca da procedência


de objetos integrantes das coleções de Museus, identificada como Histórico de
Propriedade, conhecendo-se a história de episódios geradores de apropriação indébita e,
em especial, com referência a casos ainda não devidamente esclarecidos, o que se
almeja é que seja possível alcançar um resultado adequado: isto é, o destino da
restituição, devolvendo-se as obras aos proprietários originais, sem maiores obstáculos.

Abstract:
The issue of the restitution of objects / collections by Museums is addressed through
presenting the efforts of Art Museums and research programs investigating the
provenance of works of art in their collections whose origins are murky, on the topic of art
confiscated by the Nazis from 1933 to 1945, “Spoliation of Jewish Property”. It highlights
documents (example: standards of conduct for Museology); the construction of a database
with specialized information, Provenance, aiming at widespread dissemination (internet),
reaching out to people with legal rights to claim restitution: the original owners or their
heirs. It indicates and presents positive outcomes in the public domain, while
underscoring difficulties that still hamper the restitution of assets, resulting in lengthy,
expensive and extenuating legal battles through law suits filed against Museums with
important collections, in a museological context. In closing, this paper asks: is the moral
duty to return a cultural asset – a guideline established in the ICOM Code of Ethics for
Museums (International Council of Museums) -- truly being honored in its basic concept at
the practical level, when so many hurdles still exist?
Key words: Museum Documentation; Information in Art; Restitution of Cultural Property;
Spoliation of Jewish Property; Illicit Traffic of Cultural Property.

REFERÊNCIAS.
AAMD-Association of Art Museum Directors. Report of the AAMD Task Force on the
Spoliation of Art during the Nazi/World War II Era (1933-1945). New York: AAMD.
Disponível em: <http://www.aamd.org/papers/guideln.php>. Acesso em: abril 2010.
AAM- American Association of Museums. Nazi-Era Internet Portal. Disponível em:
<http://www.nepip.org/>. Acesso em: maio 2010.

BRASIL. IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Decreto-lei nº 25,


de 30 de novembro de 1937: organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional. Rio de Janeiro/DF: Presidência da República, 1937. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm>. Acesso em: março 2010.

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