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O Caso Do Vestido

Hugo Cadurin De souza

1 ANDRADE, Carlos Drummond de. “O caso do vestido”. In:_____. A rosa do Povo. Rio de
Janeiro: Companhia das Letras, 2012.
Sites pesquisados:
biografia do autor, disponivel em: https://www.ebiografia.com/carlos_drummond/
<04/03/2024>
Documentário sobre Carlos Drummond de Andrade, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ztAP7-vcP3Y <26/02/2024>

2 Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987) foi um escritor nascido em 31 de outubro de


1902, na cidade de Itabira (MG). Filho de Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta
Drummond de Andrade, proprietários rurais. Em 1918, Carlos foi expulso da escola que
frequentava, a Nova Friburgo (RJ), por “insubordinação mental”. Em 1923, por insistência
familiar, começou a cursar Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo
Horizonte, terminando o curso em 1925; Drummond nunca exerceu a profissão. Em 1928
Publica na “Revista de Antropofagia” aquele que viria a ser o seu poema mais conhecido,
“No meio do caminho”. Referido pela maioria como o poeta da pedra, Drummond publicou
outras obras como, em 1930, Alguma poesia; livro em que são reunidos 59 poemas do
autor, escritos durante a década de 1920. Apesar de possuir publicações na época da
primeira geração modernista, Drummond é considerado um escritor da segunda geração.
Em 1945 Carlos publica “A rosa do povo”; com um carácter mais social e existencial,
carácter este proporcionado pela Segunda Guerra Mundial. Chegou a ocupar cargos
públicos e, mesmo escrevendo também contos e crônicas, sempre se destacou na poesia.
Drummond morreu em 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, dias após o falecimento da
sua filha, também escritora, Maria Julieta Drummond de Andrade.

3 Resumo
As filhas perguntam para a mãe sobre um vestido pregado na parede, esta conta a elas que
o vestido pertencia a uma mulher que uma vez a visitou. As filhas continuam perguntando
sobre e a mãe, apesar de temerosa de que seu marido escute já que este estava chegando,
conta a elas sobre a vez em que, enamorado por uma prostituta, o pai das garotas pediu a
sua esposa que esta fosse convencer a mulher a ficar com ele, já que ele havia prometido
dinheiro, terras e vários bens e mesmo assim a prostituta não o quis. Enquanto a mãe das
meninas se humilhava, a fim de alcançar o desejo do marido, na frente da prostituta, esta ria
e dizia que, apesar de não o querer, poderia ficar com o marido dela se assim a esposa
desejasse; a mãe das garotas aceita e vai embora triste. Após um tempo de depressão e
amargura, a prostituta, agora sem luxo, vai a casa da mulher para se desculpar, e explicar
que se apaixonou pelo homem e este não a quis, mesmo com ela implorando para que ele
ficasse. Para tentar ser perdoada, A prostituta entrega para a mulher o vestido que estava
usando no dia em que aceitou ficar com seu marido, vestido este que é pregado na parede.
Após isso, o marido retorna para casa e pede um prato de comida, fingindo que nada
aconteceu. A mulher avisa as filhas para que cessem o assunto pois o pai das garotas está
subindo a escada.

4 resenha crítica
O poema de Drummond “o caso do vestido” é um ótimo exemplar do lirismo contido do
autor, pois constrói um universo altamente reflexivo em um reduzido núcleo de
personagens. A começar pela mãe das garotas, é possível notar como a submissão ao
marido supera até mesmo os próprios sentimentos; tanto ao implorar para que outra mulher
fique com seu marido como ao aceitá-lo novamente em seu núcleo de convivência,
ignorando todo o sofrimento proporcionado. Também, ao focar-se no aspecto da prostituta,
revela-se uma crítica irônica, estas muito presentes nas obras de Drummond, sobre a
sociedade, pois, assim como no poema, pessoas em posições de superioridade gozam de
sua posição e a usam para humilhar os outros, e estes mesmos quando perdem tal status
trocam abruptamente de comportamento.
A Rosa do Povo, livro em que se encontra o poema trabalhado, faz parte da época
em que o autor se encontrava focado em problemas sociais, e estes estão muito bem
trabalhados no Caso do vestido, pois o poema usa de plano de fundo o núcleo familiar do
campo para expor problemáticas como abandono paternal, violência contra a mulher,
prostituição e adultério. De certa forma, retratar estes temas no poema como livres de
consequências reflete a sociedade atual, onde comportamentos como estes são
recorrentemente ignorados.
Também, a dona de casa ao constantemente se preocupar com a chegada do
marido, mostra que se preocupa com a possibilidade de iniciar uma discussão sobre o
assunto com ele, também, o fato dela não se manifestar quando o marido volta após
abandoná-la contribui para tal análise. Tal medo é fruto de duas causas: o abandono e a
submissão.
Sobre o abandono, em determinada parte do texto é mostrado o estado deplorável
em que ficou o psicológico da esposa enquanto o marido não estava em casa, esta tristeza
somada a pressão de ter que cuidar sozinha das filhas fez a mulher envelhecer fisicamente.
Drummond usa deste recurso descritivo para ilustrar o quão doloroso foi para a mulher
suportar esta fase de sua vida. Logo, a mulher teria interpretado que ao se posicionar contra
o marido, este poderia sair de casa novamente. Mostra-se então que seu silêncio e seu
vilipêndio por seus sentimentos são uma forma de evitar que o marido vá embora e, por
consequência, se produza novas sensações ruins.
Agora, sobre a submissão, seu medo de discutir com o marido se mostra fruto do
meio em que ela vive, o qual mulheres abandonadas são vistas negativamente e homens
terem amantes é socialmente aceitável. Esta subordinação se coloca como superior ao
próprio sofrimento da personagem e a impede de se queixar ao marido, já que todas as
ações dele eram socialmente embasadas.
Em paralelo, a trajetória da amante se mostra também uma crítica, pois revela que o
poder some na mesma velocidade que aparece. Ao começo do conto, ela é bonita, sensual
e fez até mesmo uma mulher se humilhar apenas para que o marido desta pudesse ficar
com ela, porém, com o passar do tempo este poder se esvai, sua beleza desaparece e ela é
abandonada. Ao aparecer na casa da esposa de seu amado, tudo que resta são desculpas
e o vestido que ela usou no dia em que aceitou o acordo. Ela não tem mais poder.
E este poder, é expresso na forma do vestido, que estava presente com a prostituta
enquanto esta se deleitava com a humilhação da esposa e, após o fim do relacionamento
entre o homem e a amante, foi entregue à dona de casa. A posse do vestido aqui
representa a posse do poder, mas apenas dentro do universo feminino pois, quando o
marido chega em casa, mal repara na peça presa à parede; tal sutil passagem mostra que
ele está acima desta escala de poder feminina e que, para ele, pouco importa com quem se
encontra o vestido.

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