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Modernismo

2 Geração
a

... A principal car acterística da Segunda Ger ação Modernista


é a visão crítica e reflexiva acerca dos problema s do mundo
nos anos 30...
Contexto histórico
A Segunda Geração Modernista, em relação à Primeira, manteve alguns
princípios do Modernismo entre suas características. No entanto, por se
tratar de uma segunda fase, devemos ter em mente que outros aspectos
foram mudados, e isso é reflexo do contexto histórico dos anos 30.

1922, ano da Semana de Arte Moderna, foi um período de apogeu da economia


cafeeira no Brasil. Os artistas modernistas, por serem familiares de
poderosos fazendeiros de café, tiveram a oportunidade de estudar no
exterior, onde conheceram o Modernismo, e trouxeram as ideias dessa
escola para sua terra natal de maneira irreverente e debochada.

Esse auge econômico, porém, não durou muito tempo. A partir de 1929, o
mundo entrou em crise, cenário que perdurou durante os anos 30 – década
em que a segunda fase modernista passou a se configurar. Como
consequência dessa decadência econômica mundial, vários países declararam
falência, o que contribuiu para a ascensão de grandes soluções na base do
totalitarismo, como os regimes nazistas, fascistas, comunistas, etc., e
culminou no início da Segunda Guerra Mundial em 1939.

No Brasil, a tensão mundial tam bém gerou consequências negativas, como a


Crise do Café. Com a decadência dos Estados Unidos, principal comprador do
café brasileiro, a economia cafeeira entrou em declínio, prejudicando
muitos fazendeiros daquela época. Além disso, Getúlio Vargas assumiu o
poder, e, assim, o Brasil passou a viver um período ditatorial: a Era Vargas.

O contexto histórico do Brasil dos anos 30, portanto, tornou-se impróprio


para as brincadeiras, o deboche e a irreverência que marcaram a Primeira
Geração Modernista. O país estava falido. A economia, em crise. A pobreza e
a desigualdade imperavam no cenário brasileiro. Esse contexto diferente,
então, passou a exigir uma postura diferente dos autores modernistas de 30.
Características gerais
Par a que possamos compreender melhor a s car acterística s ger ais
da Segunda Ger ação Modernista, o ideal é pensarmos nela em
compar ação ao que prevaleceu na Primeir a Ger ação, que ficou
conhecida como a Fa se Heroica (ou Destrutiva) do Modernismo.

A ger ação de 22 tinha como objetivo o antitr adicionalismo, ou seja,


a ruptur a contr a os valores tr adicionais. Os artista s pregavam, par a
tanto, a liberdade formal, pois desejavam produzir sem seguir a s
regr a s e convenções clássica s. A partir disso, trouxer am, tam bém,
questões ligada s à br a silidade e apresentar am uma postur a ba stante
irreverente e debochada, o que virou a marca dessa fa se inicial.

Nos anos 30, no entanto, o contexto mundial er a de crise econômica


e de tensões política s. Por isso, os autores da Segunda Ger ação
Modernista, apesar continuarem prezando pela liberdade formal,
consolidando ainda mais os ideais do Modernismo, a ssumir am uma
postur a mais condizente com esse período. Nesse sentido,
car acterizar am-se por apresentar um tom mais equilibr ado e sério,
diferente dos exa geros e provocações que dominar am a fa se de 22.
Além disso, adquirir am um comportamento crítico per ante a
realidade, sendo mais reflexivos quanto aos problema s daquela
época e produzindo, por conseguinte, uma liter atur a de denúncia
social.
Poesia de 30
De acordo com o caminho que seguir am em sua s produções, os
autores da Segunda Ger ação Modernista dividir am-se entre poeta s
e romancista s. Enquanto estes er am autores mais voltados par a a
discussão da realidade nacional, possuindo um caráter mais
regionalista, aqueles tinham produções direcionada s a questões
mais universais e ligada s ao ser humano de forma ger al.

A poesia de 30, seguindo a polarização social da época – fruto de


um período de crises e de tensões –, tam bém se polarizou entre
dois grupos poéticos.

• Poesia social
A poesia social car acterizou-se por ser mais materialista,
r acionalizada e voltada às questões sociopolítica s e à realidade
social daquele período, como a desigualdade, a crise econômica, a
guerr a, etc. Sendo a ssim, mesmo quando a bordava a temática
amorosa, nela prevalecia o amor mais físico do que o contemplativo
e espiritual. Tr atava-se, portanto, de uma reflexão mais ligada aos
acontecimentos e à vida cotidiana, e seu principal representante foi
Carlos Drummond de Andr ade.

• Corrente espiritualista
A corrente espiritualista foi marcada pela produção de uma poesia
metafísica, mística e de reflexão mais a bstr ata e sentimental.
Tr a balhou, consequentemente, questões ligada s a a spectos
filosóficos, emocionais, espirituais e religiosos, sendo, por isso,
apelidada de “poesia neossim bolista”. Sua principal representante foi
Cecília Meireles.
Carlos Drummond de Andrade
Quando falamos em poesia social, o nome maior é de Carlos
Drummond de Andr ade. Em sua s obr a s, encontr amos um eu-lírico
com car acterística s muito marcantes, sendo especialmente
reflexivo sobre os acontecimentos do seu tempo e sobre a vida em
ger al.

Drummond foi alguém que sempre pensou sobre o que acontecia


com o ser humano e a humanidade. Por isso, produziu uma poesia
voltada às questões sociais, emocionais e pessoais, a ssumindo a s
dores, os problema s e dilema s do mundo naquela época: crise
econômica, guerr a, ditadur a, totalitarismo. Confir a um exemplo a
seguir.

Os Om bros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de a bsoluta depur ação.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não chor am.
E a s mãos tecem apena s o rude tr a balho.
E o cor ação está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não a brirás.


Fica ste sozinho, a luz apa gou-se,
ma s na som br a teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sa bes sofrer.
E nada esper a s de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?


Teus om bros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerr a s, a s fomes, a s discussões dentro dos edifícios
provam apena s que a vida prossegue
e nem todos se libertar am ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apena s, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)

Na poesia de Drummond, vemos um ser humano que carrega os


problema s da humanidade e, por isso, não vê saída. Sente-se, então,
perdido per ante a tantos acontecimentos ruins, sendo alguém que
está sob a carga do que é viver no mundo dos anos 30.

Em outros ca sos, porém, vemos um eu-lírico que sa be rea gir às


crises. Ou seja, ele a ssume os problema s, ma s percebe que, apesar
deles, a vida continua e que fugir não é a solução. Veja o exemplo
a seguir.

Os Om bros Suportam o Mundo


Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Ma s a vida não se perdeu.

O primeiro amor pa ssou.


O segundo amor pa ssou.
O terceiro amor pa ssou.
Ma s o cor ação continua.

Perdeste o melhor amigo.


Não tenta ste qualquer via gem.
Não possuis carro, navio, terr a.
Ma s tens um cão

Alguma s palavr a s dur a s,


em voz mansa, te golpear am.
Nunca, nunca cicatrizam.
Ma s, e o humour?

A injustiça não se resolve.


À som br a do mundo err ado
murmur a ste um protesto tímido.
Ma s virão outros.

Tudo somado, devia s


precipitar-te, de vez, na s água s.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
(Carlos Drummond de Andrade)

A temática emocional e afetiva tam bém foi tr a balhada por


Drummond, ma s de maneir a reflexiva e não necessariamente como
forma de expressão amorosa.

No poema seguinte, por exemplo, compreendemos que a vida é feita


de desencontros, de coisa s que nem sempre acontecem como
queremos. Mesmo a ssim, desistir continua não sendo a solução par a
o eu-lírico.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi par a os Estados Unidos, Teresa par a o convento,
Raimundo morreu de desa stre, Maria ficou par a tia,
Joaquim suicidou-se e Lili ca sou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entr ado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)

Em resumo, devemos ter em mente que a poesia de Drummond é


reflexiva, muita s vezes autoirônica, e mergulha na s crises da
época, ma s não deixa de demonstr ar que se deve rea gir aos
percalços da vida. Confir a o exemplo a seguir.

Não se mate
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feir a ninguém sa be
o que será.

Inútil você resistir


ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo par a
a s boda s que ninguém sa be
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,


a noite pa ssou em você,
e os recalques se su blimando,
lá dentro um barulho inefável,
reza s,
vitrola s,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sa bão,
barulho que ninguém sa be
de quê, pr a quê.

Entretanto você caminha


melancólico e vertical.
Você é a palmeir a, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e a s luzes toda s se apa gam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
ma s não diga nada a ninguém,
ninguém sa be nem sa berá.
(Carlos Drummond de Andrade)
Cecília Meireles e Vinicius de Moraes
• Cecília Meir eles
Na corrente espiritualista, temos Cecília Meireles como a principal
representante de uma poesia mais ligada às questões sentimentais,
sensoriais, mística s, reflexiva s. Em sua s produções, destacam-se os
contr a stes entre o a gor a (o instante) e a eternidade e os jogos de
oposição (alegria e tristeza, por exemplo). Quanto à temática,
predomina a discussão sobre o tempo e sua pa ssa gem, o instante, o
eterno, etc. O poema a seguir ilustr a essa temática.

Retr ato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, a ssim triste, a ssim ma gro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha esta s mãos sem força,


Tão par ada s e fria s e morta s;
Eu não tinha este cor ação
Que nem se mostr a.

Eu não dei por esta mudança,


Tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
A minha face?
(Cecília Meireles)

Além da discussão sobre o tempo, a poesia de Cecília Meireles


tam bém a bordou questões sentimentais e sensoriais, como o poema
seguinte, em que o eu-lírico que mergulha na sensação do que é
ser tímido.
Timidez
Ba sta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
par a que venha s comigo
e eu par a sempre te leve…
– ma s só esse eu não farei.

Uma palavr a caída


da s montanha s dos instantes
desmancha todos os mares
e une a s terr a s mais distantes…
– palavr a que não direi.

Par a que tu me adivinhes,


entre os ventos taciturnos,
apa go meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
– que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,


os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sa be quando…
e um dia me aca barei.
(Cecília Meireles)

• Vinicius de Mor aes


Entre os poeta s de 30, não podemos deixar de comentar sobre
Vinicius de Mor aes, que ficou conhecido como o “poetinha” da
paixão.

Vinícius de Mor aes foi um poeta tanto espiritualista quanto social,


ma s em momentos diferentes da vida. Dur ante a juventude, foi
muito apegado à religião e engajado na igreja, portanto, seguiu o
caminho da corrente espiritualista. Nessa época, em sua s poesia s,
predominar am os conflitos entre a paixão física (carnal) e a ideia de
pecado. Confir a, no trecho do poema a seguir, o exemplo de um
jovem em conflito com a s paixões física s.

Ânsia
Na treva que se fez em torno a mim
Eu vi a carne.
Eu senti a carne que me afogava o peito
E me tr azia à boca o beijo maldito.

Eu gritei.
De horror eu gritei que a perdição me possuía a alma
E ninguém me atendeu.
Eu me debati em ânsia s impur a s
A treva ficou ru br a em torno a mim
E eu caí !
[...]
(Vinicius de Moraes)

Já na fa se madur a, Vinicius de Mor aes pa ssou a ser um poeta mais


ligado às paixões e ao mundo físico, às questões sociais e amorosa s
relacionada s ao sentimento físico, à paixão carnal de um amor
moderno do século XX.

Um detalhe curioso, porém, é que, enquanto estava na fa se


espiritualista, Vinicius de Mor aes produziu uma poesia mais livre
em estilo, aproximando-se do Modernismo. Em contr apartida, quando
apresentou um conteúdo mais moderno, em sua fa se de
maturidade, escreveu poema s mais regulares, com métrica e rima,
em especial os sonetos, como o que segue.
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano cor ação com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,


E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com gr ande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,


De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar a ssim muito e amiúde,


É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinicius de Moraes)
Romance de 30
A década de 30 foi um período bastante produtivo para a literatura do
Brasil, e os romances destacaram-se especialmente pelo fato de
discutirem as questões nacionais, apresentando uma visão crítica da
realidade brasileira. Assim, tais narrativas funcionaram como verdadeiras
denúncias e reflexões a respeito dessa realidade, utilizando-se, para
tanto, de uma linguagem coloquial e de um estilo moderno.

Em muitos casos, essas histórias foram conduzidas por uma influência


ideológica socialista, por meio da qual os autores esboçaram análises
sociais, políticas e econômicas dos problemas brasileiros. Nesse sentido,
os romances de 30 podem ser pensados a partir de quatro grandes ciclos
econômicos do Brasil.

• Ciclo da seca do Nordeste


Histórias que abordam a realidade da seca, sua relação com a sociedade
e sua interferência na condição humana; sobrevivência do homem,
sendo muitas vezes igualado a um bicho. Exemplos:
• Graciliano Ramos – Vidas Secas.
• Rachel de Queiroz – O Quinze, Memorial de Maria Moura.

• Ciclo da cana-de-açúcar
O ciclo econômico da cana e sua decadência; o desemprego; o poder dos
senhores de engenho; a desigualdade social; o coronelismo. Exemplos:
• José Américo de Almeida – A Ba gaceira.
• José Lins do Rego – Menino de Engenho, Fogo Morto.

• Ciclo do cacau
história s que se pa ssam na Ba hia (especialmente no Sul); o mundo
da economia do cacau; o quanto o cultivo do cacau proporciona o
apogeu econômico baiano e, ao mesmo tempo, do coronelismo, da
desigualdade, da explor ação. Exemplo: Jorge Amado.
• Ciclo do Sul do país
História s ligada s ao estado do Rio G r ande do Sul; disputa s de poder
entre grupos rivais, sendo que os mesmos grupos poderosos
sempre se alternam. Exemplo: Érico Veríssimo.

Além dos romances relacionados aos ciclos econômicos acima


mencionados, outros tipos de narr ativa tam bém existir am nos anos
30. Entre eles, destacamos o romance espiritualista, com Otávio de
Faria, e o psicológico social, com Dyonélio Machado e G r aciliano
Ramos.

Importante
Os romances de 30 têm em comum a reflexão sobre a
realidade nacional – denúncia social, retr ato da s diferentes
regiões do Br a sil em seu estado crítico. Por isso, por muito
tempo, er am chamados de “romances regionalista s de 30”,
nomenclatur a hoje ultr apa ssada, pois se tr atavam de
romances sociais em ger al.
Principais romancistas de 30

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