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Três dos dez maiores parceiros dos Estados Unidos são nações europeias: Alemanha,
Grã-Bretanha e França. Por que isso ocorre? Porque se trata das três maiores economias da
Europa. Isto é, apresentam os maiores montantes de produto interno bruto (PIB), que mete o
valor total de bens e serviços produzidos por uma economia. Há uma forte relação empírica
entre o porte da economia de um país e o volume tanto de suas importações quanto
exportações.
𝑌
𝑇𝑖𝑗 = 𝐴 ∗ 𝑌𝑖 ∗ 𝑗⁄𝐷
𝑖𝑗
Onde 𝐴 é um termo constante, 𝑇𝑖𝑗 o valor do comércio entre o país 𝑖 e o país 𝑗, 𝑌𝑖 o PIB do país
𝑖, 𝑌𝑗 o PIB do país 𝑗, e 𝐷𝑖𝑗 a distância entre eles. Logo, o valor do comércio entre dois países é
proporcional, em igualdade de condições, ao produto do PIB de ambos e diminui de acordo
com a distância entre eles.
Uma das principais aplicações dos modelos de gravidade é que ajudam a identificar
anomalias no comércio. Realmente, quando o comércio entre dois países é muito maior ou
muito menor do que o modelo de gravidade prevê, os economistas procuram uma explicação.
A resposta é sim – mas a história também indica que as forças políticas podem
contrabalançar os efeitos da tecnologia. O mundo ficou menor entre 1840 e 1914, porém
voltou a crescer em grande parte do século XX.
Os historiadores econômicos dizem que uma economia global, com fortes vínculos
econômicos até entre nações distantes, não é nova. Na verdade, houve duas grandes ondas de
globalização, sendo que a primeira não se baseava em jatos nem na internet, mas sim em
ferrovias, navios a vapor e o telégrafo.
Quando os países fazem comércio, o que eles comercializam? Para o mundo em geral,
a principal resposta é que eles trocam entre si bens manufaturados, tais como, automóveis,
computadores e vestuário. Entretanto, o comércio de produtos minerais – uma categoria que
inclui tudo, desde minério de cobre a carvão, mas cujo principal componente no mundo
moderno é o petróleo – permanece como uma parte importante do comércio mundial. Os
produtos agrícolas, como trigo, soja e algodão, constituem outra peça essencial do cenário, e
serviços de vários tipos desempenham papel relevante e devem tornar-se mais importantes no
futuro.
No longo prazo, o comércio de serviços entregues por meio eletrônico pode se tornar
o componente mais importante do comércio mundial.
Produtividade do trabalho e vantagem comparativa: o modelo ricardiano.
Como toda economia possui recursos limitados, há restrições quanto ao que cada uma
pode produzir, e há sempre dilemas; para produzir mais de determinado bem, a economia
deve sacrificar um pouco da produção de outro. Esses dilemas são ilustrados graficamente por
uma fronteira de possibilidades de produção, que mostra a quantidade máxima de vinho que
pode ser produzida uma vez que a decisão de produzir qualquer dada quantidade de queijo
tenha sido tomada, e vice-versa.
𝑎𝐿𝑄 𝑄𝑄 + 𝑎𝐿𝑉 𝑄𝑉 ≤ 𝐿
Descrever o padrão e os efeitos do comércio entre dois países quando cada um possui
somente um fator de produção é simples. Mas as implicações dessa análise podem ser
surpreendentes. Na verdade, para quem nunca pensou em comércio internacional, muitas
delas parecem divergir do senso comum. Até esse modelo mais simples do comércio pode
oferecer alguma orientação importante sobre questões do mundo real, como qual seria a base
justa da concorrência e da troca internacionais.
Suponha que haja dois países. Chamaremos um deles novamente de Local e o outro de
Estrangeiro. Cada qual possui um fator de produção (trabalho) e pode produzir dois bens,
vinho e queijo. Como antes, representaremos a força de trabalho do Local por 𝐿 e as
necessidades unitárias de trabalho do Local para produção de vinho e queijo por 𝑎𝐿𝑉 e 𝑎𝐿𝑄 ,
respectivamente. Para o Estrangeiro, adotaremos uma notação conveniente: quando nos
referirmos a algum aspecto do Estrangeiro, utilizaremos o mesmo símbolo usado para o Local,
mas com um asterisco. Portanto, a força de trabalho do Estrangeiro será representada por 𝐿∗;
∗
suas necessidades unitárias de trabalho para o vinho e o queijo serão representadas por 𝑎𝐿𝑉 e
∗
𝑎𝐿𝑄 , respectivamente, e assim por diante.
Mas devemos nos lembrar de que a razão entre as necessidades unitárias de trabalho
é igual ao custo de oportunidade do queijo em termos de vinho. Também devemos lembrar
que definimos vantagem comparativa precisamente em relação a tais custos de oportunidade.
Portanto, equivale dizer que o Local tem uma vantagem comparativa em queijo.
Um ponto deve ser notado imediatamente: a condição sob a qual o Local possui essa
vantagem comparativa envolve todas as quatro necessidades unitárias de trabalho, e não
somente duas. Você pode pensar que, para determinar quem produzirá queijo, tudo o que
precisa fazer é comparar as necessidades unitárias de trabalho dos dois países para a produção
∗
de queijo, 𝑎𝐿𝑄 e 𝑎𝐿𝑄 . Se 𝒂𝑳𝑸 < 𝒂∗𝑳𝑸 , o trabalho do Local é mais eficiente que o do Estrangeiro
na produção de queijo. Quando um país pode produzir uma unidade de um bem com menos
trabalho que outro, podemos dizer que o primeiro possui uma vantagem absoluta na
produção desse bem. Em nosso exemplo, o Local possui uma vantagem absoluta na produção
de queijo.
No entanto, uma vez permitido o comércio internacional, os preços não serão mais
determinados puramente por considerações domésticas. Se o preço relativo do queijo for
maior no Estrangeiro que no Local, será lucrativo levar queijo do Local para o Estrangeiro e
vinho do Estrangeiro para o Local. Entretanto, isso não pode continuar indefinidamente. Vai
chegar um momento em que o Local exportará queijo o suficiente e o Estrangeiro exportará
vinho o suficiente para igualar os preços relativos.
Uma forma útil de acompanhar dois mercados de uma só vez é enfocar não apenas as
quantidades de queijo e vinho ofertadas e demandadas, mas também a oferta e a demanda
relativas, isto é, o número de quilos de queijo ofertados ou demandados dividido pelo número
de litros de vinho ofertados ou demandados.
A curva de demanda relativa 𝐷𝑅 não necessita de uma análise tão exaustiva. Sua
declividade negativa reflete os efeitos da substituição. Conforme o preço relativo do queijo
aumenta, os consumidores tendem a comprar menos queijo e mais vinho, logo a demanda
relativa de queijo cai.
Mas esse não é o único resultado possível. Se a curva 𝐷𝑅 fosse relevante, por
exemplo, 𝐷𝑅′, a oferta relativa e a demanda relativa se cruzariam em uma das seções
horizontais de 𝑂𝑅. No ponto 2, o preço relativo mundial do queijo após o comércio é 𝑎𝐿𝑄 /𝑎𝐿𝑉 ,
igual ao custo de oportunidade do queijo em termos de vinho no Local.
Qual é o significado desse resultado? Se o preço relativo do queijo é igual a seu custo
de oportunidade no Local, a economia Local não precisa especializar-se na produção de queijo
ou vinho. Na verdade, no ponto 2, o Local deve estar produzindo um pouco de vinho e um
pouco de queijo; podemos inferir isso do fato de que a oferta relativa de queijo (ponto 𝑄′ no
eixo horizontal) é menor do que seria se o Local fosse completamente especializado. Porém,
uma vez que 𝑃𝑄 /𝑃𝑉 está abaixo do custo de oportunidade do queijo em termos de vinho do
Estrangeiro, este vai especializar-se completamente na produção de vinho. Permanece
verdadeiro, então, que se um país se especializar, ele o fará no bem em que possui uma
vantagem comparativa.
O efeito dessa convergência nos preços relativos é que cada país se especializa na
produção daquele bem em que possui a necessidade unitária de trabalho relativamente
menor.
Vimos que os países cujas indústrias possuem diferentes produtividades relativas do
trabalho vão especializar-se na produção de bens diferentes. Em seguida, mostramos que
ambos os países obtêm ganhos do comércio, graças a essa especialização. Esse ganho mútuo
pode ser demonstrado de dois modos.
Mas acabamos de ver que, no equilíbrio internacional, se nenhum país produz ambos
os bens, devemos ter 𝑃𝑄 /𝑃𝑉 > 𝑎𝐿𝑄 /𝑎𝐿𝑉 . Isso mostra que o país Local pode ‘produzir’ vinho
de maneira mais eficiente fabricando queijo e comercializando-o do que produzindo vinho
diretamente. De modo semelhante, o Estrangeiro pode ‘produzir’ queijo de maneira mais
eficiente fabricando vinho e comercializando-o. Essa é a maneira de visualizar que ambos os
países ganham.
Queijo Vinho
Local 𝑎𝐿𝑄 = 1 ℎ𝑜𝑟𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑖𝑙𝑜 𝑎𝐿𝑉 = 2 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜
∗ ∗
Estrangeiro 𝑎𝐿𝑄 = 6 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑖𝑙𝑜 𝑎𝐿𝑉 = 3 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜
Uma característica notável dessa tabela é que o Local possui necessidades unitárias de
trabalho menores, isto é, possui uma produtividade de trabalho mais elevada em ambos os
setores. Mas, vamos deixar essa observação por um instante e enfocar o padrão do comércio.
A primeira coisa que precisamos fazer é determinar o preço relativo do queijo 𝑃𝑄 /𝑃𝑉 .
Como o preço relativo efetivo depende da demanda, sabemos que ele deve estar entre o custo
de oportunidade do queijo nos dois países. No Local, temos 𝑎𝐿𝑄 = 1, 𝑎𝐿𝑉 = 2; logo, o custo de
oportunidade do queijo em termos de vinho nesse país é 𝑎𝐿𝑄 /𝑎𝐿𝑉 = 1⁄2. No Estrangeiro,
∗ ∗
𝑎𝐿𝑄 = 6, 𝑎𝐿𝑉 = 3; logo, o custo de oportunidade do queijo é igual a 2. No equilíbrio mundial, o
preço relativo do queijo deve estar entre esses valores. Em nosso exemplo, supomos que no
equilíbrio mundial um quilo de queijo é trocado por um litro de vinho nos mercados mundiais,
de modo que 𝑃𝑄 ⁄𝑃𝑉 = 1.
Se um quilo de queijo for vendido pelo mesmo preço de um litro de vinho, ambos os
países vão especializar-se. No Local, a produção de um quilo de queijo exige apenas metade
dos homens-horas de trabalho de um litro de vinho (1 versus 2); logo, nesse caso, os
trabalhadores do Local receberão maior remuneração ao produzir queijo e haverá a
especialização na produção desse produto. Inversamente, no Estrangeiro a produção de queijo
exige o dobro de homens-horas que as necessárias para a de um litro de vinho (6 versus 3);
portanto, nesse caso, os trabalhadores podem receber maior remuneração ao produzir vinho,
e haverá especialização na produção dessa bebida.
Voltemos, então, a nosso caso hipotético: após a especialização dos países, todos os
trabalhadores do Local estarão empregados na produção de queijo. Visto que se leva uma hora
para produzir um quilo de queijo, os trabalhadores do Local poderão ser remunerados no valor
de um quilo de queijo por hora trabalhada. Do mesmo modo, os trabalhadores Estrangeiros
produzirão somente vinho; visto que levam três horas para produzir cada litro, receberão
como remuneração o valor de 1/3 de litro de vinho por hora.
Fica claro que esse salário relativo não depende do preço de um quilo de queijo, seja
ele $12 ou $20, desde que um litro de vinho seja vendido pelo mesmo preço. Caso o preço
relativo do queijo – o preço de um quilo de queijo dividido pelo preço de um litro de vinho –
seja igual a um, o salário dos trabalhadores do Local será três vezes o daqueles do Estrangeiro.
Note que esse salário se situa entre as razões das produtividades dos dois países nos
dois setores. O Local é seis vezes mais produtivo que o Estrangeiro em queijo, mas apenas uma
vez e meia em vinho e, assim, acaba com um salário três vezes maior que o do Estrangeiro. É
precisamente porque o salário relativo está entre as produtividades relativas que cada país
termina com uma vantagem de custo em um bem. Por causa de seu salário mais baixo, o
Estrangeiro apresenta uma vantagem de custo no vinho, mesmo que tenha uma produtividade
menor. O Local possui uma vantagem de custo em queijo, apesar de seu salário maior, porque
este é mais que compensando pela maior produtividade.
Mito I: o livre comércio é benéfico somente se seu país é suficientemente forte para
resistir à concorrência estrangeira. Esse argumento parece extremamente plausível para
muitas pessoas. Por exemplo, há algum tempo um renomado historiador criticou o livre
comércio, afirmando que ele não se encaixa na realidade: “O que aconteceria se você não
conseguisse produzir nada mais barato ou de forma mais eficiente que em algum outro lugar,
exceto por meio do corte contínuo nos custos trabalhistas?”, disse ele, preocupado.
O problema da opinião desse articulista é que ele não conseguiu entender o ponto
essencial do modelo ricardiano: os ganhos do comércio dependem da vantagem comparativa,
e não da vantagem absoluta. Ele está preocupado com o fato de seu país não conseguir
produzir nada de maneira mais eficiente que algum outro – isto é, não ter uma vantagem
absoluta em nada. Mas por que isso seria tão terrível? Em nosso simples exemplo numérico de
comércio, o Local possui necessidades unitárias de trabalho menores e, portanto,
produtividade maior nos setores tanto de queijo como de vinho. Entretanto, como vimos,
ambos os países apresentam ganhos do comércio.
Embora seja abstrato, nosso exemplo numérico aponta que não podemos dizer que
um salário baixo representa exploração, a não ser que se saiba qual é a alternativa. Nesse
exemplo, os trabalhadores do Estrangeiro recebem menos que os do Local, e seria facilmente
possível imaginar um jornalista escrevendo furioso sobre a exploração deles. Entretanto, se o
Estrangeiro se negasse a ser ‘explorado’, recusando o comércio com o Local (ou insistindo em
salários muito mais altos no setor exportador, o que teria o mesmo efeito), os salários reais
seriam ainda mais baixos: o poder de compra do salário por hora de um trabalhador cairia de
1/3 para 1/6 do quilo de queijo.
O jornalista que apontou o contraste entre as rendas do executivo da The Gap e dos
operários que fazem suas roupas estava furioso com a pobreza dos trabalhadores da América
Central. Porém, negar a eles a oportunidade de exportar e comercializar pode significar
condená-los a uma pobreza ainda mais profunda.
As duas primeiras colunas da tabela são autoexplicativas. A terceira coluna traz a razão
entre as necessidades unitárias de trabalho do Estrangeiro e as do Local para cada bem – ou,
em outras palavras, a vantagem em produtividade relativa do Local para cada bem. Os bens
foram listados de acordo com a ordem de vantagem em produtividade do Local, que é maior
para maçãs, e menor para enchiladas.
A questão de qual país vai produzir para quais bens depende da razão entre os salários
do Local e do Estrangeiro. O Local terá uma vantagem de custo em qualquer bem para o qual
sua produtividade relativa seja maior que seu salário relativo, e o Estrangeiro terá vantagem
nos outros. Se, por exemplo, o salário do Local for cinco vezes o do Estrangeiro (uma razão
entre salário do Local e salário do Estrangeiro de cinco para um), maçãs e bananas serão
produzidas no primeiro, e caviar, tâmaras e enchiladas, no segundo. Se o salário do Local for
somente três vezes o do Estrangeiro, o primeiro produzirá maçãs, bananas e caviar, enquanto
o segundo, somente tâmaras e enchiladas.
Tal padrão de especialização beneficia ambos os países? Podemos ver que sim, ao
utilizar o mesmo método de antes: comparando o custo do trabalho para produzir um bem
diretamente em um país com o custo do trabalho para ‘produzi-lo’ indiretamente, por meio da
produção de outro bem e comercialização deste pelo bem desejado. Se o salário do Local é
três vezes o salário do Estrangeiro (colocado de outra forma, o salário deste é um terço do
salário daquele), o Local importará tâmaras e enchiladas. Uma unidade de tâmaras requer 12
unidades de trabalho do Estrangeiro para ser produzida, mas seu custo em relação ao trabalho
do Local, dada a razão de salários de três para um, restringe-se a quatro homens-hora (12
dividido por 3). Esse custo de quatro homens-hora é menor do que os seis homens-horas que o
país Local consumiria para produzir uma unidade de tâmaras. Quanto às enchiladas, o
Estrangeiro possui realmente maior produtividade com menores salários; custará ao Local
apenas três homens-hora para adquirir uma unidade de enchiladas por meio do comércio,
comparados aos 12 homens-hora que consumiria para produzi-la domesticamente. Um cálculo
semelhante mostrará que o Estrangeiro também ganha; a cada bem que o Estrangeiro
importa, torna-se mais barato em termos do trabalho doméstico comercializar o bem, em vez
de produzi-o. Por exemplo, a produção de uma unidade de maçãs consumiria 10 horas de
trabalho no Estrangeiro; mesmo com um salário equivalente a um terço daquele dos
trabalhadores do Local, em apenas três horas os trabalhadores do Estrangeiro ganharão o
suficiente para comprar aquela unidade de maçãs do Local.
A demanda derivada relativa pelo trabalho do Local diminuirá quando a razão entre os
salários do local e do Estrangeiro aumentar, e isso ocorre por dois motivos. Primeiro, conforme
o trabalho do Local se torna mais caro em relação ao trabalho do Estrangeiro, os bens
produzidos no primeiro também se tornam relativamente mais caros, e a demanda mundial
por eles cai. Segundo, à medida que os salários do Local aumentam, menos bens são
produzidos nesse país e mais no Estrangeiro, reduzindo ainda mais a demanda pelo trabalho
do Local.
Podemos ilustrar esses dois efeitos utilizando nosso exemplo número, assim ilustrando
a determinação dos salários relativos na figura abaixo. Diferentemente do mostrado na figura
anterior, esse diagrama não possui quantidades relativas de bens ou preços relativos de bens
em seus eixos. Em vez disso, mostra a quantidade relativa de trabalho e o salário relativo. A
demanda mundial pelo trabalho do Local em relação à do Estrangeiro é representada pela
curva 𝐷𝑅. A linha 𝑂𝑅, por sua vez, mostra a oferta mundial de trabalho do Local em relação à
do Estrangeiro.
A oferta relativa de trabalho é determinada pelo tamanho relativo das forças de
trabalho do Local e do Estrangeiro. Supondo que o número de homens-horas disponíveis não
varia com o salário, o salário relativo não tem efeito sobre a oferta relativa de trabalho, e 𝑂𝑅 é
simplesmente uma reta vertical.
Agora, vamos deixar nosso modelo ainda mais próximo da realidade: consideraremos
os custos de transporte. Estes não mudam os princípios fundamentais da vantagem
comparativa ou dos ganhos do comércio. Todavia, como eles impõem obstáculos ao
movimento dos bens e serviços, têm implicações importantes na forma pela qual o comércio
globalizado é afetado por uma variedade de fatores, como a ajuda estrangeira, o investimento
internacional e os problemas no balanço de pagamentos. Como não trataremos ainda dos
efeitos desses fatores, e o modelo multibens de um só fator servirá para introduzir os efeitos
dos custos de transporte.
Primeiro, note que a economia mundial descrita pelo modelo da última seção é
marcada por uma especialização internacional extrema. Há, no máximo, um bem que os dois
países produzem; todos os outros são produzidos ou no Local ou no Estrangeiro, mas não em
ambos.
Suponha agora que haja um custo para transportar bens e que esse custo seja uma
fração uniforme do de produção, digamos 100 por cento. O custo de transporte desencorajará
o comércio. Considere, por exemplo, tâmaras. Uma unidade desse bem requer seis horas de
trabalho do Local ou 12 horas de trabalho do Estrangeiro para ser produzida. Ao salário
relativo de 3, 12 horas de trabalho do Estrangeiro custam o equivalente a apenas 4 horas de
trabalho do Local; portanto, na ausência dos custos de transporte, o Local importa tâmaras.
Com um custo de transporte de 100 por cento, porém, importar tâmaras custaria o
equivalente a oito horas de trabalho do Local; logo, em vez de importar, esse país produzirá o
bem para si mesmo.
Uma comparação de custos semelhante mostra que o Estrangeiro achará mais barato
produzir seu próprio caviar do que importar. Uma unidade de caviar necessita de três horas de
trabalho do Local para ser produzida. Mesmo a um salário relativo de 3 do Local, que torna
esse montante de trabalho equivalente a nove horas de trabalho do Estrangeiro, que
necessitaria de 12 horas para produzir o produto para si mesmo. Na ausência dos custos de
transporte, portanto, o Estrangeiro descobriria que é mais barato importar caviar do que
produzi-lo domesticamente. Com um custo de transporte de 100 por cento, contudo, o caviar
importado custaria o equivalente a 18 horas de trabalho do Estrangeiro e, portanto, passaria a
ser produzido internamente.
Nesse exemplo, supusemos que os custos de transporte são a mesma fração do custo
de produção em todos os setores. Na prática, há uma ampla gama de custos de transporte. Em
alguns casos, o transporte é praticamente impossível: serviços como cortes de cabelo e
consertos de automóveis não podem ser comercializados internacionalmente (exceto se
houver uma área metropolitana nos dois lados de uma fronteira, tal como acontece em
Detroit, Michigan-Windsor e Ontário). Bens com razões peso-valor elevadas, como o cimento,
também são pouco frequentes no comércio internacional. (O cimento simplesmente não vale
o custo do transporte de sua importação, mesmo se for muito mais barato produzir no
exterior.) Muitos bens acabam não sendo comercializados por causa da ausência de grandes
vantagens no custo nacional ou devido a custos elevados de transporte.
Para quaisquer preços de fatores, a produção de alimentos sempre utilizará uma razão
entre terra e trabalho mais alta que a verificada na fabricação de tecidos. Por conta disso,
dizemos que a produção de alimentos é terra-intensiva, enquanto a fabricação de tecidos,
trabalho-intensiva. Note que a definição de intensividade depende da razão entre terra e
trabalho usada na produção, e não da razão entre terra (ou trabalho) e produto. Dessa forma,
um bem não pode ser ao mesmo tempo terra-intensivo e trabalho-intensivo.
Suponha por enquanto que nossa economia produza tecidos e alimentos. Logo, a
concorrência entre os produtores em cada setor assegurará que o preço de cada bem seja
igual a seu custo de produção. O custo de produção de um bem depende dos preços de
fatores: se a renda da terra for mais alta, permanecendo tudo o mais constante, o preço de
qualquer bem cuja produção envolva o insumo terra também será mais alto.
Fica evidente que, nesse modelo, como no de fatores específicos, mudanças nos
preços relativos têm forte impacto sobre a distribuição de renda. Uma mudança no preço dos
bens não altera somente a distribuição de renda; na verdade, a mudança sempre altera a
distribuição a tal ponto que os proprietários de um fator de produção apresentem ganhos,
enquanto os do outro saem perdendo.
Suponha que o preço relativo dos tecidos seja conhecido. Sabemos que esse preço
determina a razão salário-renda da terra 𝑤/𝑟 e, dessa forma, a razão entre terra e trabalho
utilizados tanto na fabricação de tecidos como na produção de alimentos. No entanto, a
economia deve ter pleno emprego de suas ofertas de terra e trabalho. É esta última condição
que determina a alocação de recursos entre os dois setores e, portanto, a produção da
economia.
A melhor forma de refletir sobre esse resultado consiste em analisar como os recursos
afetam as possibilidades de produção da economia. Na figura abaixo, a curva 𝑃𝑃1 representa
as possibilidades de produção da economia antes do crescimento na oferta de terra. A
produção no ponto 1, onde a declividade da fronteira de possibilidades de produção é igual ao
negativo do preço relativo de tecidos, −𝑃𝑇 /𝑃𝐴 , e a economia produz 𝑄𝑇1 e 𝑄𝐴1 de tecidos e
alimentos. A curva 𝑃𝑃2 mostra a fronteira de possibilidades de produção após um aumento na
oferta de terra. A fronteira de possibilidades de produção desloca-se para a direita e para cima
até 𝑃𝑃2 , isto é, a economia pode produzir mais tecidos e alimentos do que antes. Esse
deslocamento é, porém, muito maior na direção dos alimentos do que na dos tecidos, ou seja,
há uma expansão viesada das possibilidades de produção, que ocorre quando a fronteira de
possibilidades de produção se desloca para a direita e para cima muito mais em uma direção
do que em outra. Nesse caso, a expansão é tão fortemente viesada para a produção de
alimentos que, a preços relativos inalterados, a produção muda do ponto 1 para o ponto 2, o
que acarreta uma queda efetiva na fabricação de tecidos, de 𝑄𝑇1 para 𝑄𝑇2 , e um grande
aumento na produção de alimentos, de 𝑄𝐴1 para 𝑄𝐴2 .
O efeito viesado do aumento nos recursos sobre as possibilidades de produção é a
chave para compreender como as diferenças em recursos fazem surgir o comércio
internacional. Um aumento na oferta de terra expande as possibilidades de produção de
forma desproporcional na direção da produção de alimentos, enquanto um aumento na oferta
de trabalho expande essas possibilidades de forma desproporcional na direção de fabricação
de tecidos. Desse modo, uma economia com razão entre terra e trabalho elevada estará
relativamente melhor na produção de alimentos do que uma economia com razão entre terra
e trabalho baixa. Em geral, uma economia tenderá a ser relativamente eficaz na produção de
bens que sejam intensivos nos fatores dos quais o país é relativamente bem dotado.
Uma vez esboçada a estrutura de produção de uma economia com dois fatores,
podemos agora examinar o que acontece quando dois países, Local e Estrangeiro, fazem
comércio. Como sempre, eles são semelhantes em muitos aspectos. Têm os mesmos gostos e,
portanto, possuem demandas relativas por alimentos e tecidos idênticas quando se defrontam
com o mesmo preço relativo dos dois bens. Também detém a mesma tecnologia: dada
quantidade de terra e trabalho gera a mesma produção de tecidos e alimentos nos dois países.
A única diferença entre eles está em seus recursos: o Local possui uma razão entre trabalho e
terra mais alta que a do Estrangeiro.
Como o Local tem uma razão entre trabalho e terra mais alta que a do Estrangeiro, ele
é trabalho-abundante e o outro, terra abundante. Note que a abundância é definida em
relação a uma razão, e não em quantidades absolutas. Se os Estados Unidos têm 80 milhões de
trabalhadores e 200 milhões de alqueires (uma razão entre trabalho e terra de um para dois e
meio) e a Grã-Bretanha tem 20 milhões de trabalhadores e 20 milhões de alqueires (uma razão
entre trabalho e terra de um para um), consideramos a Grã-Bretanha trabalho-abundante,
ainda que tenha menos trabalho total que os Estados Unidos. A ‘abundância’ é sempre
definida em termos relativos, comparando-se a razão entre trabalho e terra nos dois países, de
modo que nenhum deles pode ser abundante em tudo.
Como o comércio leva à convergência dos preços relativos, uma das outras coisas que
serão iguais é o preço dos tecidos em relação ao de alimentos. Contudo, como os países
diferem em sua abundância de fatores para qualquer razão dada entre preço de tecidos e de
alimentos, o Local produzirá uma razão mais alta entre esses bens que o Estrangeiro: o Local
terá uma oferta relativa de tecidos maior. Sua curva da oferta relativa situa-se, portanto, à
direita da do Estrangeiro.
Quando o Local e o Estrangeiro fazem comércio entre si, seus preços relativos
convergem. O preço relativo de tecidos aumenta no Local e declina no Estrangeiro, e um novo
preço relativo mundial de tecidos é determinado em um ponto entre os preços relativos antes
do comércio, digamos no ponto 2.
Se as trocas ocorrem inicialmente por causa das diferenças entre os preços relativos de
manufaturas, como a convergência de 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 se traduz em um padrão do comércio
internacional? Para responder a essa questão, precisamos explicitar algumas relações básicas
entre preços, produção e consumo.
Em um país que não pode fazer comércio, a produção de um bem deve ser igual ao seu
consumo. Se 𝐷𝑇 é o consumo de tecido e 𝐷𝐴 o consumo de alimentos, então em uma
economia fechada 𝐷𝑇 = 𝑄𝑇 e 𝐷𝐴 = 𝑄𝐴 . O comércio internacional torna possível que a
composição de manufaturas e alimentos consumida seja diferente da composição produzida.
Contudo, embora os montantes de cada bem que um país consome e produz possam diferir,
ele não pode gastar mais do que receber: o valor do consumo deve ser igual ao valor da
produção. Isto é, 𝑃𝑇 . 𝐷𝑇 + 𝑃𝐴 . 𝐷𝐴 = 𝑃𝑇 . 𝑄𝑇 + 𝑃𝐴 . 𝑄𝐴 . Esta equação pode ser rearranjada para
produzir a seguinte expressão:
𝑃𝑇
𝐷𝐴 − 𝑄𝐴 = ( ) (𝑄𝑇 − 𝐷𝑇 )
𝑃𝐴
A conclusão geral é que os países tendem a exportar bens cuja produção é intensiva
em fatores dos quais são dotados de maneira abundante.
O comércio leva à convergência dos preços relativos. Mudanças nos preços relativos,
por sua vez, têm fortes efeitos sobre a remuneração relativa do trabalho e da terra. Um
aumento no preço dos tecidos eleva o poder de compra do trabalho em termos de ambos os
bens, enquanto reduz o poder de compra da terra também em termos de ambos os bens. Um
aumento no preço de alimentos exerce efeito inverso. Portanto, o comércio internacional tem
um forte impacto sobre a distribuição de renda. No Local, onde o preço relativo de tecidos
aumenta, as pessoas que auferem sua renda do trabalho saem ganhando com o comércio, mas
aqueles que extraem sua renda da terra saem perdendo. No Estrangeiro, em que o preço
relativo de tecidos cai, ocorre o oposto: os trabalhadores perdem e os proprietários de terra
ganham.
No mundo real, temos que o padrão do comércio dos Estados Unidos sugere que,
comparado ao restante do mundo, esse país é abundantemente dotado de trabalho bem
qualificado e que o trabalho não qualificado é escasso. Isso significa que o comércio
internacional tende a piorar a situação dos trabalhadores norte-americanos com baixa
qualificação – não só de maneira temporária, mas em caráter permanente. O efeito negativo
do comércio sobre os trabalhadores com baixa qualificação representa um problema político
persistente. Os setores que utilizam intensivamente o trabalho não qualificado, como
vestuário e calçados, exigem proteção contra a concorrência estrangeira, e sua demanda atrai
muita simpatia porque os trabalhadores com baixa qualificação são, a princípio, mais pobres
que os demais.
Quando Local e Estrangeiro fazem comércio, os preços relativos dos bens convergem.
Essa convergência, por sua vez, leva à convergência dos preços relativos de terra e trabalho.
Dessa maneira, delineia-se claramente uma tendência à equalização dos preços de fatores.
Para compreender como se dá essa equalização, temos de entender que, quando o
Local e o Estrangeiro fazem comércio entre si, ocorre mais do que uma simples troca de bens.
Indiretamente, os dois países estão negociando fatores de produção. O Local permite que o
Estrangeiro utilize um pouco de seu trabalho abundante, não pela venda direta de trabalho,
mas ao trocar bens produzidos com uma razão entre trabalho e terra alta por bens produzidos
com uma razão trabalho-terra baixa. Os bens que o Local vende necessitam de mais trabalho
para serem produzidos que aqueles que recebe em troca; isto é, mais trabalho está
incorporado às suas exportações do que às suas importações. Portanto, o Local exporta seu
trabalho, incorporando a suas exportações trabalho-intensivas. Inversamente, as exportações
do Estrangeiro incorporam mais terra do que suas importações, portanto o Estrangeiro está
exportando indiretamente sua terra. Quando visto dessa maneira, não é de surpreender que o
comércio leve à equalização dos preços de fatores dos dois países.
Essa visão do comércio pode parecer simples e atraente, porém encerra um grande
problema: no mundo real, os preços dos fatores não são equalizados. Isto ocorre porque no
nosso modelo impomos hipóteses que não são verificadas no mundo real, tais como, que
ambos os países produzem ambos os bens (na prática, isto nem sempre ocorre); as tecnologias
são as mesmas (no mundo real, um país com alta tecnologia poderia ter tanto salários como
rendas da terra superiores aos de um país com tecnologia inferior); e o comércio realmente
equaliza os preços dos bens nos dois países (no mundo real, não ocorre tal equalização de
preços, devido tanto a barreiras naturais – como custos de transportes –, quanto a barreiras
impostas ao comércio – como tarifas e cotas de importação).
No curto prazo, os fatores que são específicos a setores sujeitos à concorrência com as
importações perdem com o comércio. No longo prazo, os fatores escassos de um país também
perdem. Será que os ganhos do comércio são mais importantes que as perdas? Um modo de
tentar responder a essa questão seria somar os ganhos dos vencedores e as perdas dos
perdedores e comparar os totais (teoria da utilidade). Uma forma melhor de avaliar os ganhos
totais do comércio é levantar uma questão diferente: aqueles que lucram com o comércio
poderiam compensar os que perdem e ainda assim saírem ganhando? Se sim, então o
comércio é potencialmente uma fonte de ganho para todos.
Para ilustrarmos que o comércio é uma fonte de ganho potencial para todos, podemos
refletir em três passos: primeiro, notamos que na ausência de comércio a economia teria de
produzir o que é consumido e vice-versa. Desse modo, o consumo da economia na falta de
comércio teria de estar em um ponto sobre a fronteira de possibilidades de produção. Em
seguida, notamos que é possível para uma economia com comércio consumir mais de ambos
os bens do que poderia na ausência de comércio (obtendo maior utilidade). Finalmente,
observe que, se a economia como um todo consome mais de ambos os bens, é possível em
princípio dar a cada indivíduo mais de ambos os bens.
O fato de que todos poderiam ganhar com o comércio infelizmente não significa que
todos realmente ganhem. No mundo real, a existência de pessoas que perdem assim como
daqueles que ganham com o comércio constitui um dos motivos mais importantes pelos quais
o comércio não é livre.
No entanto, uma vez que as pessoas não são exatamente iguais, a tarefa do governo
não é tão clara. Ele deve de alguma forma, ponderar o ganho de uma pessoa contra a perda de
outra. Se, por exemplo, o governo do Local estiver comparativamente mais preocupado com o
prejuízo dos proprietários de terra do que em ajudas os trabalhadores, o comércio
internacional, que em nossa análise beneficiava os trabalhadores e prejudicava os
proprietários de terra, seria ruim do ponto de vista desse país.
Há diversos motivos pelos quais um grupo pode significar mais do que outro, mas um
dos mais convincentes é que alguns grupos necessitam de tratamento especial porque já são
comparativamente pobres. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma simpatia geral por
restrições às importações de roupas e calçados, mesmo que essas restrições aumentem os
preços ao consumidor, pois os trabalhadores desses setores já são mal remunerados. Os
ganhos que os consumidores ricos obteriam, se mais importações fossem permitidas, não
significam tanto para o público norte-americano quanto as perdas que sofreriam os
trabalhadores mal remunerados que produzem calçados e roupas.
É fácil ver por que os grupos que perdem com o comércio pressionam seus governos
para restringi-lo e proteger suas rendas. Pode-se supor que os que ganham com o comércio
pressionem tão fortemente quanto os que perdem com ele, mas esse raramente é o caso. Nos
Estados Unidos e na maioria dos países, os que desejam que o comércio seja limitado são mais
eficazes politicamente do que os que o desejam ampliado. Normalmente, aqueles que obtêm
ganhos do comércio por meio de determinado produto em particular pertencem a um grupo
muito menos concentrado informado e organizado que os perdedores.
Um bom exemplo desse contraste entre os dois lados é o do setor açucareiro norte-
americano. Os Estados Unidos limitaram as importações de açúcar por muitos anos; o preço do
açúcar neste mercado chegou estar cerca de 60 por cento acima do praticado no mercado
mundial. A maioria das estimativas indica que para os consumidores norte-americanos, o custo
dessa limitação às importações esteja em torno de $1,5 bilhão por ano – isto é, em torno de $6
por ano para cada homem, mulher ou criança. Os ganhos dos produtores são muito menores,
provavelmente menos da metade.
O modelo-padrão do comércio.
Nossos modelos têm várias características em comum, apesar das diferenças em seus
detalhes:
A capacidade produtiva de uma economia pode ser resumida por sua fronteira
de possibilidades de produção, e as diferenças nessas fronteiras aumentam o
comércio.
As possibilidades de produção determinam a curva da oferta relativa de um
país.
O equilíbrio mundial é determinado pela demanda relativa mundial e por uma
curva de oferta relativa mundial que se situa entre as curvas de oferta relativa
nacionais.
Por causa dessas características em comum, os modelos que estudamos podem ser
vistos como casos especiais de um modelo mais geral, que descreveria uma economia mundial
com comércio. Agora, desenvolveremos um modelo-padrão de uma economia mundial com
comércio, do qual os modelos anteriores podem ser considerados casos especiais, e usamos
esse modelo para indagar como uma série de mudanças nos parâmetros subjacentes afeta a
economia mundial.
Para os propósitos de nosso modelo-padrão, vamos supor que cada país produza dois
bens, alimentos (𝐴) e tecidos (𝑇), e que a fronteira de possibilidades de produção de cada
país seja uma curva suave, como a ilustrada por 𝑃𝑃 na figura abaixo.
O ponto em que a economia efetivamente produz sobre a fronteira de possibilidades
de produção depende do preço dos tecidos em relação ao dos alimentos, 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 . Essa, aliás,
constitui uma proposição básica da macroeconomia: uma economia de mercado que não seja
distorcida pelo monopólio ou por outras falhas de mercado é eficiente na produção, ou seja,
maximiza o valor do produto a preços de mercado dados, 𝑃𝑇 𝑄𝑇 + 𝑃𝐴 𝑄𝐴 .
Na teoria econômica básica, esses dois efeitos são conhecidos. O aumento do bem-
estar é um efeito-renda; o deslocamento do consumo para qualquer nível de dado de bem-
estar é um efeito-substituição. O efeito-renda tende a aumentar o consumo de ambos os bens,
enquanto o efeito-substituição faz com que a economia consuma menos 𝑇 e mais 𝐴.
Em princípio, é possível que o efeito-renda seja forte a ponto de, quando 𝑃𝑇 /𝑃𝐴
aumentar, o consumo de ambos os bens efetivamente aumentar. Normalmente, contudo, a
razão entre o consumo de 𝑇 e o consumo de 𝐴 cairá, isto é, a demanda relativa de 𝑇 cairá
(este é o caso do gráfico acima).
Quando 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 aumenta, um país que inicialmente exporta tecidos sai ganhando,
conforme ilustrado pelo movimento de 𝐷1 para 𝐷2. Inversamente, se 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 declina, o país sai
perdendo; o consumo pode diminuir, por exemplo, de 𝐷2 para 𝐷1.
Se o país inicialmente exportasse alimentos em vez de tecidos, a direção desse efeito
seria, é claro, revertida. Um aumento em 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 significaria uma queda em 𝑃𝐴 /𝑃𝑇 , e o país
sairia perdendo; já uma queda em 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 o beneficiaria.
Abrangemos todos os casos definindo os termos de troca como o preço do bem que
um país inicialmente exporta dividido pelo preço do bem que ele inicialmente importa.
Assim, a proposição geral é que um aumento nos termos de troca aumenta o bem-estar de um
país, enquanto um declínio nos termos de troca reduz o bem-estar de um país.
Vamos agora supor que a economia mundial consista em dois países, mais uma vez
chamados de Local (que exporta tecidos) e Estrangeiro (que exporta alimentos). Os termos de
troca do Local são medidos por 𝑃𝑇 /𝑃𝐴 , enquanto os do Estrangeiro, por 𝑃𝐴 /𝑃𝑇 . 𝑄𝑇 e 𝑄𝐴 são as
quantidades de tecidos e alimentos produzidos pelo Loca; 𝑄𝑇∗ e 𝑄𝐴∗ são as produzidas pelo
Estrangeiro.
Os vieses de crescimento da figura acima são fortes. Nos dois casos, a economia é
capaz de produzir mais de ambos os bens. No entanto, a um preço relativo de tecidos
inalterado, a produção de alimentos despenca na figura a esquerda, ao passo que, na da
direita, é a produção relativa de tecidos que efetivamente cai. Embora o crescimento não seja
sempre viesado tão fortemente como nesses exemplos, mesmo um crescimento mais
suavemente viesado para tecidos levará, para qualquer preço relativo de tecidos dado, um
aumento na produção de tecidos em relação à de alimentos. O inverso é verdadeiro no
crescimento viesado para alimentos.
Suponha agora que o Local tenha um crescimento fortemente viesado para tecidos, de
modo que sua produção aumente a qualquer preço relativo de tecidos dado, enquanto sua
produção de alimentos diminui. Então, para o mundo todo, a produção de tecidos em relação
a de alimentos aumentará a qualquer preço dado e, a curva de oferta relativa mundial se
deslocará para a direita, de 𝑂𝑅1 para 𝑂𝑅2 . Esse deslocamento resultará em uma diminuição
do preço relativo de tecidos, de (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )1 para (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )2 , o que significará uma piora dos
termos de troca do Local e uma melhora dos termos de troca do Estrangeiro. Verificamos isto
na figura abaixo.
Note que a consideração importante aqui não é qual economia cresce, mas o viés do
crescimento. Se o Estrangeiro tivesse experimentado um crescimento viesado para tecidos, o
efeito sobre a oferta relativa e, portanto, sobre os termos de troca teria sido o mesmo. Seja o
Local que apresente crescimento viesado para alimentos, seja o Estrangeiro, tal crescimento
levará um deslocamento para a esquerda da curva 𝑂𝑅 (𝑂𝑅1 para 𝑂𝑅2 ) e, portanto, a um
aumento no preço relativo de tecidos de (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )1 pra (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )2 . Esse aumento representará
uma melhora dos termos de troca do Local e uma piora dos termos de troca do Estrangeiro.
Usando esse princípio, estamos agora em condições de resolver nossas questões sobre
os efeitos internacionais do crescimento. O crescimento no resto do mundo é bom ou ruim
para nosso país? O fato de nosso país fazer parte de uma economia mundial com comércio
aumenta ou diminui os benefícios do crescimento interno? Nos dois casos, a resposta depende
do viés do crescimento. O crescimento viesado para exportações no resto do mundo é bom
para nós, melhorando nossos termos de troca, enquanto o crescimento viesado para
importações no estrangeiro piora nossos termos de troca. O crescimento viesado para
exportações em nosso próprio país piora nossos termos de troca, reduzindo os benefícios
diretos do crescimento, enquanto o crescimento viesado para importações leva a uma
melhora de nossos termos de troca, um benefício secundário.
Passemos agora das mudanças nos termos de troca originadas no lado da oferta da
economia mundial para aquelas originadas no lado da demanda.
A demanda relativa mundial por bens pode deslocar-se por diversos motivos. Os
gostos podem mudar: com a crescente preocupação acerca do colesterol, a demanda por
peixe tem aumentado em relação àquela por carne vermelha. A tecnologia também pode
mudar a demanda: o óleo de baleia abasteceu as lâmpadas em determinada época, mas teve
seu lugar tomado pelo querosene, posteriormente pelo gás e, finalmente, pela eletricidade. Na
economia internacional, contudo, talvez a questão mais importante e controversa seja o
deslocamento da demanda relativa mundial que resulta das transferências de renda
internacionais.
Keynes, para quem os termos vingativos dos Aliados (a ‘paz cartaginesa’) eram duros
demais, argumentou que o ônus a ser imputado à Alemanha iria muito além das somas
monetárias exigidas. Ele alegou que, para pagar outros países, a Alemanha teria de exportar
mais e importar menos. Para tanto, dizia ele, teria de tornar suas exportações mais baratas em
relação a suas importações. A piora resultante dos termos de troca alemães acresceria outro
ônus ao ônus direto do pagamento.
Ohlin questionou se Keynes estava certo ao supor que os termos de troca da Alemanha
piorariam. Ele contra-argumentou que, assim que a Alemanha aumentasse os impostos para
financiar as reparações, sua demanda por bens estrangeiros automaticamente diminuiria. Ao
mesmo tempo, o pagamento das reparações seria distribuído em outros países na forma de
impostos reduzidos ou gastos do governo aumentados, e uma parte da demanda estrangeira
aumentada resultante iria para as exportações alemãs. Portanto, a Alemanha seria capaz de
reduzir as importações e aumentar as exportações sem sofrer perdas em seus termos de troca.
Se o Local transfere parte de sua renda para o Estrangeiro, a renda do Local é reduzida,
e isso deve reduzir seus gastos. Por outro lado, o Estrangeiro aumenta seus gastos. Essa
mudança na divisão nacional dos gastos mundiais pode levar a um deslocamento da demanda
relativa mundial e, dessa forma, afetar os termos de troca.
Entretanto, se os dois países não alocarem suas mudanças nos gastos nas mesmas
proporções, os termos de troca sofrerão impacto; a direção do impacto dependerá da
diferença entre os padrões de gastos do Local e do Estrangeiro. Suponha que o Local aloque
uma proporção maior da mudança marginal nos gastos em tecidos do que o Estrangeiro. Isto
é, o Local tem uma proporção marginal a gastar em tecidos maior que o Estrangeiro (De
forma semelhante, o Local nesse caso deve ter uma menor proporção marginal a gastar em
alimentos). Então, a qualquer preço relativo dado, a transferência do Local para o Estrangeiro
reduzirá a demanda por tecidos e aumentará a demanda por alimentos. Nesse caso, a curva
𝐷𝑅 se deslocará para a esquerda, de 𝐷𝑅1 para 𝐷𝑅2 , e o equilíbrio mudar do ponto 1 para o
ponto 2, conforme figura abaixo.
Esse deslocamento diminuirá o preço relativo de tecidos de (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )1 para (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )2 ,
piorando os termos de troca do Local (porque ele exporta tecidos) e melhorando os termos de
troca do Estrangeiro. Esse é o caso que Keynes descreveu: o efeito indireto de uma
transferência internacional sobre os termos de troca reforça seu efeito original sobre as rendas
nos dois países.
Há, no entanto, outra possibilidade. Se o Local tem uma propensão marginal a gastar
em tecidos menor, uma transferência dele para o Estrangeiro desloca a curva 𝐷𝑅 para a direita
e melhora os termos de troca do Local à custa do Estrangeiro. Esse efeito compensa tanto o
efeito negativo sobre a renda do Local como o efeito positivo sobre a renda do Estrangeiro.
Uma possibilidade paradoxal surge dessa análise: uma transferência – digamos, auxílio
estrangeiro – poderia melhorar tanto os termos de troca do doador a ponto de beneficiá-lo e,
ao mesmo tempo, prejudicar o receptor. Nesse caso, seria definitivamente melhor não
receber. Alguns trabalhos teóricos mostram que esse paradoxo, como no caso do crescimento
empobrecedor, é possível em um modelo rigorosamente especificado. As condições são,
contudo, ainda mais restritivas que as do crescimento empobrecedor, o que faz dessa
possibilidade algo puramente teórico.
Essa análise mostra que os efeitos das reparações e do auxílio estrangeiro sobre os
termos de troca podem ocorrer em qualquer direção. Portanto, Ohlin estava certo sobre o
princípio geral. Apesar disso, muitos ainda argumentariam que Keynes tinha razão ao sugerir
que as transferências causam efeitos sobre os termos de troca que reforçam seus efeitos sobre
a renda de doadores e receptores.
Uma transferência piorará os termos de troca do doador se este tiver uma propensão
marginal a gastar em seu bem de exportação mais alta que a do receptor. Se as diferenças nas
propensões marginais a gastar fossem simplesmente uma questão de diferenças nos gostos,
não poderíamos supor nada; porém, a verdade é que o bem que um país exporta depende em
grande parte das diferenças em tecnologia ou recursos, que não costumam ter nada a ver com
preferências. Quando examinamos os padrões de gastos efetivos, contudo, cada país parece
ter uma preferência relativa por seus próprios bens. Se os Estados Unidos, por exemplo,
produzem cerca de 25 por cento do valor do produto das economias de mercado do mundo,
então suas vendas totais de bens representem 25 por cento das vendas mundiais. Se os
padrões de gastos fossem os mesmos em todos os lugares, os Estados Unidos gastariam
somente 25 por cento de sua renda em produtos norte-americanos. Na verdade, as
importações representam apenas 15% da renda nacional, isto é, os Estados Unidos gastam 85
por cento de sua renda domesticamente. Por outro lado, o resto do mundo gasta cerca de 9%
por cento de sua renda em produtos norte-americanos. Essa diferença nos padrões de gastos
sugere certamente que, se os Estados Unidos transferissem uma parte de sua renda para os
estrangeiros, a demanda relativa por bens norte-americanos diminuiria, assim como seus
termos de troca, exatamente como Keynes argumentou.
Os Estados Unidos gastam uma parcela muito grande de sua renda internamente
devido às barreiras ao comércio, tanto naturais como artificiais. Custos de transporte, tarifas
(impostos sobre importações) e cotas de importações (regras governamentais que limitam a
quantidade de importações) levam os residentes de cada país a comprar uma série de bens e
serviços internamento, em vez de importá-los do estrangeiro. Tais barreiras ao comércio
acabam criando um conjunto de bens não comercializáveis. Mesmo se cada país dividir sua
renda entre bens diferentes nas mesmas proporções, a compra local de bens não
comercializáveis assegurará que o gasto tenha um viés nacional.
Como exemplo, considere que existam não dois, mas três bens: tecidos, alimentos e
cortes de cabelo. Somente o Local produz tecidos, ao passo que somente o Estrangeiro produz
alimentos. Cortes de cabelo, porém, constituem um bem não comercializável que cada país
produz para si mesmo. Cada país gasta um terço de sua renda em cada bem. Mesmo que eles
tenham as mesmas preferências, cada qual gastará dois terços de sua renda domesticamente,
e apenas um terço em importações.
Bens não comercializáveis podem gerar o que parece uma preferência nacional por
todos os bens produzidos domesticamente. Mas, para analisar os efeitos das transferências
sobre os termos de troca, precisamos saber o que acontece com a oferta e demanda por
exportações. O ponto crucial aqui é que os bens não comercializáveis de um país competem
por recursos com as exportações. Uma transferência de renda dos Estados Unidos para o resto
do mundo diminui a demanda por bens não comercializáveis nos Estados Unidos, liberando
recursos que podem ser usados para produzir bens exportáveis. Em consequência, a oferta de
exportações dos Estados Unidos aumenta. Ao mesmo tempo, a transferência de renda norte-
americana para o resto do mundo aumenta a demanda do resto do mundo por bens não
comercializáveis, pois parte dessa renda é gasta em cortes de cabelo e outros bens não
comercializáveis. O aumento da demanda por bens não comercializáveis no resto do mundo
tira recursos estrangeiros das exportações e reduz a oferta de exportações estrangeiras (que
são importações dos Estados Unidos). O resultado é que uma transferência dos Estados Unidos
para outros países pode reduzir o preço das exportações norte-americanas em relação às
estrangeiras, piorando os termos de troca dos Estados Unidos.
A característica peculiar das tarifas e dos subsídios às exportações é que eles criam
uma diferença entre os preços pelos quais os bens são comercializados no mercado mundial e
dentro do país. O efeito direto das tarifas é tornar os bens importados mais caros dentro do
que fora do país. Já os subsídios às exportações dão aos produtores um incentivo para
exportar. Será, portanto, mais lucrativo vender no exterior que no mercado doméstico, a não
ser que o preço interno seja mais alto, de modo que tal subsídio aumente o preço dos bens
exportados dentro do país.
As mudanças de preços geradas por tarifas e subsídios alteram tanto a oferta relativa
como a demanda relativa. O resultado é uma mudança nos termos de troca do país que
impõem alterações na política e nos termos de troca do resto do mundo.
As tarifas e os subsídios colocam uma cunha entre os preços pelos quais os bens são
comercializáveis internacionalmente (preços externos) e dentro do país (preços internos). Isso
significa que temos de ser cuidadosos ao definir os ermos de troca, que têm como objetivo
medir a razão pela qual os países trocam bens. Por exemplo, quantas unidades de alimentos o
Local pode importar para cada unidade de tecidos que ele exporta? Os termos de troca são,
portanto, coerentes com os preços externos e não com os internos. Quando analisamos os
efeitos de uma tarifa ou de um subsídio às exportações, desejamos ver de que forma isso
afeta a oferta relativa e a demanda relativa como uma função dos preços externos.
Se o Local impuser uma tarifa de 20 por cento sobre o valor das importações de
alimentos, o preço interno de alimentos em relação ao de tecidos praticados por produtores e
consumidores do Local será 20 por cento mais alto do que o preço relativo externo de
alimentos no mercado mundial. De modo equivalente, o preço relativo interno de tecidos,
sobre o qual os residentes do Local baseiam suas decisões, será mais baixo do que o preço
relativo do mercado externo.
Seja qual for o preço relativo mundial de tecidos, os produtores do Local vão sempre
considerá-lo mais baixo e, portanto, produzirão menos tecidos e mais alimentos. Ao mesmo
tempo, os consumidores do Local deslocarão seu consumo para tecidos, deixando os alimentos
de lado. Do ponto de vista do mundo como um todo, a oferta relativa de tecidos cairá (de 𝑂𝑅1
para 𝑂𝑅2 ), na figura abaixo, enquanto a demanda relativa por tecidos aumentará (de 𝐷𝑅1
para 𝐷𝑅2 ). Fica evidente que o preço relativo mundial de tecidos aumenta, de (𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )1 para
(𝑃𝑇 ⁄𝑃𝐴 )2 , e, portanto, os termos de troca do Local melhoram à custa do Estrangeiro.
O efeito sobre o bem-estar do Local não é bem definido. A melhora dos termos de
troca beneficia o país; todavia, a tarifa também impõe custos ao distorcer os incentivos à
produção e ao consumo dentro da economia do Local. Os ganhos nos termos de troca
compensarão as perdas trazidas pela distorção somente quando a tarifa não for grande
demais. Para países pequenos, cujas iniciativas não causam muito impacto sobre os termos de
troca, a tarifa ótima (capaz de maximizar o benefício líquido) é próxima de zero.
Essa análise parece mostrar que os subsídios às exportações não fazem sentido nunca.
De fato, é difícil pensar em qualquer situação na qual esses subsídios serviriam ao interesse
nacional. O uso de subsídios às exportações como ferramenta de política econômica
normalmente tem mais a ver com as peculiaridades da política comercial do que com a lógica
econômica.
Nos Estados Unidos, nem todos concordam que as vendas estrangeiras subsidiadas
sejam boas para os norte-americanos. Quando se descobre que os governos estrangeiros estão
vendendo bens subsidiados aos Estados Unidos, a população e os políticos os acusam de
concorrência desleal. Por exemplo, quando um estudo do Departamento de Comércio norte-
americano descobriu que os governos europeus estavam subsidiando exportações de aço
para os Estados Unidos, o governo de Washington exigiu que eles aumentassem seus preços.
Não obstante, o modelo-padrão nos diz que, quando os governos estrangeiros subsidiam as
exportações para os Estados Unidos, a resposta apropriada do ponto de vista nacional
deveria ser o envio de uma nota de agradecimento.
É claro que isso nunca acontece, principalmente por causa dos efeitos dos subsídios
estrangeiros sobre a distribuição de renda dentro dos Estados Unidos. Se a Europa subsidia
exportações de aço para os Estados Unidos, a maioria dos norte-americanos sai ganhando,
graças ao aço mais barato, mas os metalúrgicos, os proprietários de ações das empresas
metalúrgicas e os trabalhadores do setor em geral podem não ficar tão satisfeitos.
À primeira vista, a direção do efeito das tarifas e dos subsídios às exportações sobre os
preços relativos e, portanto, sobre a distribuição de renda pode parecer óbvia. Uma tarifa tem
o efeito direto de aumentar o preço relativo interno do bem importado, enquanto um subsídio
tem o efeito direto de aumentar o preço relativo interno do bem exportado. Acabamos de ver,
porém, que as tarifas e os subsídios às exportações exercem um efeito indireto sobre os
termos de troca de um país. O efeito sobre os termos de troca sugere uma possibilidade
paradoxal: uma tarifa pode melhorar tanto os termos de troca de um país – isto é, aumentar
muito o preço relativo do bem exportado nos mercados mundiais – que, mesmo depois de a
alíquota tarifária ter sido adicionada, o preço relativo interno do bem importado pode cair. Da
mesma forma, um subsídio às exportações poderia piorar os termos de troca a tal ponto que o
preço relativo interno do bem exportado cairia, apesar do subsídio. Se esses resultados
paradoxais ocorrerem, os efeitos das políticas comerciais sobre a distribuição de renda serão
exatamente o oposto do que se espera.
O comércio internacional desempenha um papel crucia: ele torna possível que cada
país produza uma gama restrita de bens e que se tire vantagem das economias de escala sem
sacrificar a variedade no consumo. Por sua vez, o comércio internacional leva a um aumento
na variedade disponível de bens.
A distinção entre economias externas e internas pode ser ilustrada com um exemplo
hipotético. Imagine um setor composto inicialmente por 10 empresas. Cada uma delas produz
100 unidades, totalizando uma produção setorial de 1.000 unidades. Agora considere dois
casos. Primeiro, suponha que o setor dobre de tamanho, de modo que passe a ser composto
por 20 empresas, cada uma ainda produzindo 100 unidades. É possível que os custos de cada
uma caiam, como resultado do tamanho maior do setor; por exemplo, um setor maior pode
possibilitar uma provisão mais eficiente de serviços especializados ou de maquinaria. Nesse
caso, o setor exibirá economias de escala externas. Em outras palavras, a eficiência das
empresas aumenta quando se tem um setor maior, mesmo que cada uma delas continue do
mesmo porte.
A figura acima mostra a posição de uma única empresa monopolista. Ela se defronta
com uma curva de demanda negativamente inclinada, mostrada na figura como 𝐷. A
declividade negativa de 𝐷 indica que a empresa pode vender mais unidades de sua produção
somente se o preço do produto cair. Como você deve ter aprendido em microeconômica
básica, uma curva de receita marginal guarda uma relação com a curva de demanda. A receita
marginal é a receita adicional ou marginal que a empresa ganha por vender uma unidade
adicional. A receita marginal para um monopolista é sempre menor do que o preço porque,
para vender uma unidade adicional, ele deve baixar de todas as unidades (e não apenas da
unidade marginal). Portanto, para um monopolista a curva de receita marginal, 𝑅𝑀𝑔, está
sempre situada abaixo da curva de demanda.
Podemos ser mais específicos sobre a relação entre preço e receita marginal, se
supusermos que a curva de demanda com que a empresa se defronta é uma linha reta.
Quando isso ocorre, a dependência das vendas totais do monopolista em relação ao preço que
ele cobra pode ser representada por uma equação da forma 𝑄 = 𝐴 − 𝐵. 𝑃, onde 𝑄 é o número
de unidades que a empresa vende, 𝑃 é o preço que ela cobra por unidade e 𝐴 e 𝐵 são
constantes. Neste caso, a receita marginal é dada por 𝑅𝑀𝑔 = 𝑃 − 𝑄/𝐵, implicando que
𝑃 − 𝑅𝑀𝑔 = 𝑄/𝐵.
Esta equação revela que o hiato entre o preço e a receita marginal depende das
vendas iniciais 𝑄 da empresa e do parâmetro da declividade 𝐵 de sua curva de demanda.
Quanto maior a quantidade vendida, 𝑄, menor a receita marginal, pois a diminuição no preço
necessário para vender uma quantidade maior custa mais a empresa. Quanto maior for 𝐵, isto
é, quanto mais as vendas caírem por qualquer aumento de preço dado, mais a receita marginal
estará próxima do preço do bem.
Voltando a nossa primeira figura nesta seção, 𝐶𝑀𝑒 representa o custo médio de
produção da empresa, isto é, seu custo total dividido por sua produção. Sua declividade
negativa reflete nossa hipótese de que há economias de escala, de modo que, quanto maior a
produção, menores os custos por unidade. 𝐶𝑀𝑔 representa o custo marginal do negócio
(quanto custa a produção de uma unidade adicional). Aprendemos em economia básica que,
quando os custos médios são uma função decrescente da produção, o custo marginal é
sempre menor do que o custo médio. Portanto, 𝐶𝑀𝑔 situa-se abaixo de 𝐶𝑀𝑒.
Os lucros de monopólio são bem discutíveis. Uma empresa com lucros elevados
normalmente atrai concorrentes. Assim, na prática, situações de monopólio puro são raras. Na
verdade, a estrutura de mercado normal em setores caracterizados por economias de escala
internas é de oligopólio: diversas empresas, cada uma delas grande o suficiente para afetar os
preços, mas nenhuma com um monopólio incontestável.