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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS SANTA MARCELINA

Licenciatura em História

Ás Armas: uma das vozes da elite muriaeense no Movimento de 1930.

por

Pacelli Henrique Silva Lopes

Muriaé

2011
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS SANTA MARCELINA

Licenciatura em História

Ás Armas: uma das vozes da elite muriaeense no Movimento de 1930.

por

Pacelli Henrique Silva Lopes

Trabalho apresentado como exigência para


conclusão do curso de Licenciatura em
História. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Fialho
Silva

Muriaé

2011
2
FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS SANTA MARCELINA

Licenciatura em História

Ás Armas: uma das vozes da elite muriaeense no Movimento de 1930.

por

Pacelli Henrique Silva Lopes

Trabalho apresentado como exigência para


conclusão do curso de Licenciatura em
História. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Fialho
Silva

Data de Aprovação:___/___/___
____________________________

Prof. Dr. Rodrigo Fialho Silva

Muriaé

2011

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Dedicatória

A minha mãe pelo amor, coragem e respeito


inerentes na minha criação.

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Agradecimentos:

Percebendo a vida como uma eterna escola, que está sempre disposta a nós ensinar
coisas novas, venho agradecer aqueles que contribuíram diretamente ou indiretamente para
essa caminhada de aprendizado, que agora vai chegando ao seu final. Obrigado a instituição
FAFISM, por possibilitar aos jovens que não tem condição financeira acesso ao ensino
superior.

Aos professores do curso de história da FAFISM muito obrigado por tudo, mas em
especial aos professores Ms. Marcos José Veroneze Soares, Ms. Maria de Lourdes Lima
Malafaia e a Dra. Vitória Fernanda Schettini de Andrade. Ao professor e coordenador do
curso de história Ms. Marcos Veronese Soares a quem tenho estimas de amigo, obrigado por
tudo, pelos conselhos, dicas e por ter sido a primeira pessoa que acreditou em mim no meio
acadêmico, orientando ainda no primeiro ano da faculdade o projeto “Trenzinho da História”,
que começou em meio à disciplina de “História, Memória e Patrimônio”, como um sonho,
que aos poucos foi virando realidade até ser colocado em prática nas escolas de Muriaé.

A professora que aos poucos foi se tornando uma amiga Ms. Maria de Lourdes Lima
Malafaia sou grato a sempre gentil e atenciosa orientação que me deste nos ENICS de 2010 e
2011. E sempre que entrar em uma sala de aula procurarei me espelhar-me em sua didática
para lecionar, pois a sua maneira de ensinar torna o aprendizado mais simples e prazeroso.
Mesmo tendo uma agenda ocupada, sempre procurou me orientar da melhor forma possível,
me auxiliando com livros, críticas e conselhos que sempre me motivam em meio às
dificuldades das pesquisas com fontes primárias. A Dra. Vitória Fernanda Schettini de
Andrade, muito obrigado por me “contaminar” com a prática de fazer história regional, que
passa com extrema paixão em meio aos seus discursos na sala de aula.

Aos amigos que fiz em meio a esta caminhada, venho agradecer primeiramente a
André Luiz Dias, com quem tive durante os dois primeiros anos do curso a oportunidade de
aprender em meio as nossas acaloradas discussões, que às vezes, como é de praxe,
terminavam em uma mesa de bar. A Monize Fagundes Barbosa, obrigado pela amizade que
compartilhamos neste período de curso. A Edilane Fraga, que tive a oportunidade de conhecer
no último ano do curso, sou grato pelas boas contribuições que deste para este trabalho, com
as correções ortográficas, além da afável companhia.

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Agradeço ao professor e amigo Dr. Ricardo José de Azevedo Marinho, pelas valorosas
contribuições que sempre me passou em meio as nossas conversas, sejam elas em Minas
Gerais ou no Rio de Janeiro, ou até pela internet. Estas conversas sempre foram para mim
uma verdadeira aula, aonde sempre procurei ouvir e aprender, e espero que o presente
trabalho trate da história real, que o professor sempre procurou me ensinar.

Ao meu orientador Dr. Rodrigo Fialho Silva, obrigado pelas orientações e apoio que
sempre me deu, e em meio as nossas divergências teóricas de como se “olhar” a história,
conseguimos juntos fazer o presente trabalho. As suas críticas sempre especializadas e
embasadas ao se juntar com a minha vontade de aluno, de um dia, poder quem sabe superar
meu mestre, que neste caso é ele, fez com que este trabalho fosse concluído. Entretanto,
apesar de concluído, uma pesquisa histórica tem que gerar novas perguntas e saímos desta
empreitada de dois anos, com novos problemas históricos para serem resolvidos.

Por último, mas não menos importante aquela que devo minha existência, a senhora
Marly Silva Lopes, minha mãe, que durante as duras barreiras que a vida nos colocou, abriu
mão de seus sonhos para viver os meus sonhos. A senhora minha mãe, dedico esta e toda e
qualquer obra que em vida em possa escrever, pois sem o seu amor por mim, nada disso seria
possível. Agradeço a Deus todos os dias por ter uma mãe assim, que é para mim uma eterna
fonte de inspiração de como devemos viver aprendendo com a escola da vida.

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“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz
e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a
tua fala seja a tua prática.”

(Paulo Freire)

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Sumário

1-INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 9
2-O Movimento de 1930 .......................................................................................................... 11
3-Uma breve história da imprensa em Muriahé 1887-1930 ..................................................... 15
3.1- Os periódicos nos distritos de Muriahé ........................................................................ 19
3.2- Os periódicos do século XX de Muriahé ...................................................................... 21
4- Ás Armas: um dos proscênios das elites muriaeense ........................................................... 24

4.1- A liga Feminina Pro-Revolução ................................................................................... 30

4.2- A Rua Arthur Bernardes ............................................................................................... 35

4.3- Os editorias ................................................................................................................... 38

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 44

6- FONTES ............................................................................................................................... 46

7- REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 47

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Introdução:

O tema central desta pesquisa é a análise da elite política muriaeense em meio ao


movimento de 1930. Neste período “atuavam” em Muriaé alguns grupos políticos, dentre eles,
dois se destacam pelas ações que podem ser caracterizadas como parte integrante dos
movimentos políticos mobilizados pelas elites locais. Dessa maneira, destacam-se dois
grupos, a saber: o primeiro era controlado pelo Cel. José Pacheco de Medeiros. O segundo,
captaneado pela família Canedo. Pacheco de Medeiros era dono de um dos cartórios
municipais, o que acarretava na negativa possibilidade do Cel. José Pacheco de Medeiros se
candidatar a cargos no Executivo e Legislativo municipal, assim ele indicava seus
representantes para se candidatar e representarem os interesses da sua facção política.

A facção contrária ao Cel. José Pacheco de Medeiros era liderada pela família Canedo,
que se fazia representar na figura dos senhores Affonso Augusto Canedo e Agenor Augusto
da Silva Canedo, ambos os filhos do Desembargador Antônio Augusto da Silva Canedo, que
foi o primeiro Juiz de Direto de Muriaé em 1862.

Em meio ao contexto da Primeira República, percebemos através dos jornais


impressos em Muriaé e de documentos da Câmara Municipal, que a facção política do Cel.
José Pacheco de Medeiros se fez representar no poder municipal, exercendo a presidência da
Câmara de 1921 a 1930. De 1921 a 1926, o presidente da Câmara Municipal foi Izalino
Romualdo da Silva, e de 1927 a 1930, Edmundo Rodrigues Germano, os dois partidários da
facção do Cel. José Pacheco de Medeiros.

Dessa forma, a oposição ficava a cargo da família Canedo, que a exerceu durante as
duas primeiras décadas do século XX, pois antes da facção política dos Cel. José Pacheco de
Medeiros, quem exerceu o poder através da Câmara Municipal foi Antônio da Silveira Brum
presidente da Câmara durante 1905 a 1920.

Porém, com o movimento de 1930, as coisas começam a mudar no contexto político


municipal, através da implantação da “Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-Mirahy”,
que teve a frente o Interventor Adherbal Moreira Ramos. A filiação da Interventoria era com a
facção política do Canedos, que era visto pelos interventores como chefes da política
municipal e os seus inimigos políticos eram considerados contra-revolucionários.

9
A interventoria Militar publicou um boletim intitulado em seu primeiro número de
REVOLUÇÃO- Boletim de Informações da Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-
Mirahy, que a partir da segunda publicação passa a ser titulado de Ás Armas- Boletim de
Informações da Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-Mirahy. O boletim exprime as
ideologias dos membros da interventoria e da facção política dos Canedos, possibilitando
assim a percepção dos arranjos políticos em 1930 e como as elites muriaeense brigavam por
posições privilegiadas no poder municipal.

No primeiro capítulo, apresentaremos uma discussão historiográfica sobre o


movimento de 1930, buscando perceber as diferentes “interpretações” sobre o fato histórico.
Em seguida, no segundo capítulo faremos uma incursão pela história da imprensa de Muriaé,
visto que, a imprensa era um dos espaços onde as elites municipais procuravam debater seus
projetos expondo suas visões, interesses e ideias. Desta forma, cada grupo político tinha seu
jornal e procurava cativar os eleitores, bem como seus partidários para sua facção, além de
servirem de instrumentos políticos em meio à opinião pública.

Ao procurar esclarecer nossos objetivos, no terceiro capítulo faremos uma análise do


boletim Ás Armas, visto como um dos proscênios de uma das elites muriaeense em 1930.
Nesta parte do trabalho, a análise ficará contida no período do movimento que vai do dia três
de outubro de mil novecentos e trinta ao dia três de novembro de mil novecentos e trinta, com
um recorte espacial voltado para a cidade de Muriaé.

Assim nossa análise procura observar como as elites locais se comportaram em torno
do movimento de 1930, que inaugura uma nova fase de transformações no âmbito cultural,
social, econômico e político no Brasil do século passado. Com o intuito de percebermos uma
aproximação entre a história regional e a história geral, buscamos evidenciar certas
singularidades regionais, que ficam escondidas em meio às generalizações históricas.

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1. O movimento de 1930:
No dia três de outubro de 1930, começou a deflagração do Movimento de 1930 que é
caracterizado como o marco inicial da Segunda República no Brasil. Tal caracterização ganha
força pelas mudanças ocorridas no país no pós-1930, mudanças em níveis políticos, culturais,
sociais e econômicos.

Mas as origens do movimento de 1930 têm que ser buscadas anos antes, na década de
1920, por diversos fatos, como: crescimento do processo de urbanização, que trazem no seu
bojo os efeitos políticos de uma camada média e urbana, que começa a exigir uma maior
participação na vida pública do país, seguindo esses mesmos objetivos temos a ascensão dos
tenentes. De acordo com Marieta de Moraes Ferreira e Surama Conde Sá Pinto (2006), as
mudanças na década de vinte se faz a partir de fatos ocorridos em 1922, como:

“A semana de Arte Moderna, a criação do Partido Comunista, o movimento tenentista, a


criação do centro Dom Vital, a comemoração do centenário da Independência e a própria
sucessão presidencial de 1922 foram indicadores importantes dos novos ventos que sopravam,
colocando em questão os padrões culturais e políticos da Primeira República. (FERREIRA;
PINTO, 2006: 01)

Durante a Primeira República (1889-1930), as oligarquias agrárias dominavam o


cenário político. Estas se faziam representar principalmente pelas figuras dos cafeicultores,
pois o café era o principal produto de exportação. Em níveis locais, eram os chamados
“coronéis”, chefes políticos que pertenciam aos partidos republicanos e geralmente
controlavam toda vida política de uma região. Isto fica claramente exposto nas eleições, onde
os coronéis monopolizavam os votos de familiares, amigos e empregados, que eram obrigados
a votar neles, ou em seus candidatos.

A sucessão presidência de 1930 foi à origem imediata de tal movimento, pois como
era de praxe na primeira República, Minas Gerais e São Paulo revezavam-se na presidência
do Brasil, exercendo a chamada política do “café com leite”. Porém o então presidente da
República Washington Luís do Partido Republicano Paulista, quebra este tácito acordo entre
Minas e São Paulo ao não apoiar a candidatura de um mineiro, passando a apoiar o paulista
governador de São Paulo, Julio Preste, que possivelmente daria continuidade a sua política
econômico-financeira.

Com este rompimento dos dois principais estados da federação, ganha notória força no
plano político os estados secundários, entre estes estão o Rio Grande do Sul, que ganhará o
apoio de Minas Gerais, para lançar a candidatura de Getúlio Vargas, então presidente do Rio

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Grande do Sul, tendo como vice João Pessoa, presidente da Paraíba. De acordo com Aspásia
Camargo (CAMARGO, 1980), a impossibilidade de Minas em lançar um candidato próprio,
faz com que os mineiros apóiem o candidato do Rio Grande do Sul. Em decorrência da
aproximação que este estado tinha com São Paulo ao longo da primeira República, os
mineiros conseguiram inverter os termos de coalizão entre os três estados que a princípio era
desfavorável, pela marginalização de Minas, que consegue inverter esse quadro ao
marginalizar São Paulo. Desta maneira as origens do movimento segundo Camargo gravitam
em torno da regras políticas da própria oligárquica que “em torno da disputa presidencial
obedece a uma inequívoca racionalidade política e se revela segundo as regras e
procedimentos clássicos que presidem o jogo oligárquico.” (CAMARGO, 1980: 22)

Com uma visão semelhante à de Camargo, Boris Fausto (1970) em seu livro intitulado
“A revolução de 1930- Historiografia e História”, busca evidenciar á revolução como um
conflito intra-oligárquico, com apoio dos militares que segundo ele buscava acabar com a
hegemonia dos cafeicultores. Tal revolução acabou por ocasionar um vazio de poder, que fica
expresso no estado de compromisso (1930-1932), assumido nos dois anos posteriores ao
movimento, pois os cafeicultores estavam em colapso, não existindo outra classe no país com
capacidade para assumir o poder.

Divergente à visão de Boris Fausto, para Edgar Decca e Ítalo Tronca, o movimento de
1930, foi um golpe preventivo da burguesia contra o movimento operário, visto como uma
séria ameaça à dominação burguesa. (FERREIRA; PINTO, 2006: 22) De acordo Tronca
(TRONCA, 1982) o que atrapalhou a ascensão do proletariado foi, sem dúvida, a luta interna
nos sindicatos entre anarquistas e comunistas, que enfraqueceram o proletariado deixando o
caminho livre para a “Revolução democrática burguesa”.

Esta ascensão da burguesia em 1930 é vista de duas maneiras por historiadores de


orientação marxistas. Uns tendem a ver a classe média como sendo a classe condutora do
movimento, enquanto para outros a classe que estaria à frente seria a burguesia industrial. De
acordo com Camargo, “[...] Recentemente, estudos empíricos indiretamente corroboram a
última hipótese, acentuando a presença dos empresários industriais em algumas das principais
decisões que emanam do novo sistema de poder [...]”. (CAMARGO, 1980: 11)

Contrário a posição de Camargo (1980), Fausto (1970) demonstra em sua análise que
as principais associações industriais de São Paulo, apoiaram a candidatura de Júlio Prestes e

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Vital Soares, assim “ao menos no caso de São Paulo, não há qualquer indício de que a grande
indústria tenha mudado de atitude nos preparativos revolucionários após a derrota da
candidatura Getúlio Vargas, e no curso da Revolução de 1930”. (FAUSTO, 1970:30)

Ainda de acordo com Fausto (1970), a questão da “família” mineira na política, como
no Rio Grande Sul, demonstra uma tímida industrialização, além de que os políticos do PRM
tinham um vínculo maior com o meio agrário. Procurando demonstrar de forma empírica sua
teoria, este constata que a Aliança Liberal não tinha um projeto para os industriais, além de
considera-lhos “parasitas” da economia em decorrência do protecionismo do estado. Ao
constatar um aumento do papel da burguesia industrial após trinta na economia nacional,
Boris relata que as medidas de austeridades econômicas continuaram, e que no campo
político, a burguesia industrial ganhou alguma representatividade no governo, mas isto não
pode ser entendido de forma que o Estado quisesse uma mudança de estrutura no campo
econômico, pois o interesse era restabelecer economicamente os cafeicultores. (FAUSTO,
1970: 47)

Segundo Antonio Torres Montenegro para tornar as ações mais concretas, em agosto
de 1929 foi formada pela oposição a Aliança Liberal, que irá idealizar sua campanha da
seguinte forma:

“Deve-se ainda observar que a campanha aliancista irá projetar-se sob uma representação
salvacionista, onde toda a injustiça e corrupção dos governantes seriam definitivamente
erradicadas. Dessa forma, o movimento atraíra para si o apoio de diversos segmentos da
sociedade que já expressara sua insatisfação com o status quo vigente, manifestando seu
apoio ao movimento tenentista, á coluna Prestes, às inúmeras e constantes greves. Nesse
sentido, é que a população, mesmo com acesso restrito a jornais, ao debate e à linguagem
própria da classe dominante através da qual esta expressava seu projeto, irá de alguma
maneira se identificar por um dos lados em que se polariza a luta política naquele momento.”
(Montenegro, Antonio Torres, 1994; 82)

A eleição ocorreu no dia 1º de março de 1930, o resultado do pleito foi a vitória de


Júlio Preste e Vital Soares com 57,7% dos votos. Tal eleição teve como característica a
fraude, praticada pelos dois lados. Com a perda nas urnas, voltaram-se as atenções para a
possibilidade que já era arquitetada antes das eleições de se ressurgir em uma “revolução”
contra o governo.

O apoio dado pelos tenentes ao movimento ganha força após as perdas nas urnas, que
de acordo com Camargo:
“[...] tal colaboração estava contida na lógica de um processo que, desde sua fase inicial, tinha
presente as fortes probabilidades de uma luta armada. De fato, ainda nos primórdios da
Aliança Liberal, um lúcido observador sintetiza o pensamento geral declarando que se a luta
pela presidência ‘saísse das urnas para as trincheiras, seria de muito bom aviso termos

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conosco estes valorosos e denodados companheiros, experimentados como estão para estes
casos’[...]” (CAMARGO, 1980: 29)
Segundo Fausto (1970), o “tenentismo desta fase pode ser definido, em linhas gerais,
como sendo um movimento político e ideologicamente difuso, de características
predominantemente militares, onde as tendências reformistas autoritárias aparecem em
embrião”. (FAUSTO, 1970:57)

A idéia de um movimento armado, ganha força em Minas Gerais com a retomada dos
trabalhos no Congresso em 03 de maio de 1930, onde os governistas se serviram
arbitrariamente do processo de reconhecimento de candidatos para punir as representações
aliancistas de Minas Gerais e Paraíba. Tal ato ficou conhecido como “degola”, que significava
o processo de não reconhecimento de candidatos eleitos. De acordo com Marly de Almeida
Gomes Vianna (2010),

“o assassinato do presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, vice na chapa de Getúlio, em


Julho de 1930, embora não tivesse motivos políticos, foi usado para acirrar os ânimos e
convencer o futuro presidente e seus aliados civis de que a revolução armada era uma
necessidade.” (VIANNA, 2010:50)

O movimento de 1930 tem suas origens na cisão intraoligárquica, mas no decorreu dos
planos amotinadores, percebesse a presença tanto de militares quanto de civis pertencentes a
outros grupos como a classe média. Segundo Luciano Martins Apud Marieta de Moraes
Ferreira e Surama Conde Sá Pinto (2006), o movimento de 1930, condiciona vários
fenômenos em torno de si, estando ai um dos perigos da análise sobre o movimento de 1930
não pode ficar contidos no “fato histórico”. Segundo Marieta de Moraes Ferreira, “O
resultado da Revolução de trinta mais do que as propostas do movimento em si, é que
transformaram 1930 em um marco histórico importante.” (FERREIRA; PINTO, 2006: 23)
Desta forma, olhar para trinta é uma ato frequente de ver suas origens na década de vinte,
como suas consequências posteriores que marcaram toda a década de 1930, mudando o
quadro político, social, cultura e econômico presente na Primeira República.

Em meio a este quadro político nacional exposto acima, na cidade de Muriaé situada
na Zona da Mata leste de Minas Gerais, percebemos traços peculiares em meio ao jogo
político local em torno do movimento de 1930. Durante o movimento, as lutas políticas no
município giravam em torno de duas facções políticas, sendo uma controlada pelo Cel. José
Pacheco de Medeiros, tendo entre seus principais opositores a facção política conduzida pela
família Canedo.

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Porém, para compreendermos os arranjos políticos locais é necessário retroagir a
análise para toda Primeira República, o que faremos nas próximas páginas com o objetivo de
observar as origens dos conflitos políticos da elite muriaeense.

3. Uma breve história da imprensa em Muriahé1 1887-1930.

Entre os anos de 1987 e 1930, Muriaé contou com a circulação de aproximadamente


vinte e seis jornais. Desses jornais, sete eram de cunho humorístico e dezesseis de cunho
político. Seus redatores foram homens envolvidos com a vida política local, e conjugavam
suas profissões com a vida de redator.

Segundo John Wirth:

A imprensa local foi outro marco do regionalismo mineiro. De maneira geral, um jornal de
cidade pequena continha notícias políticas e anúncios comerciais numa edição semanal de
menos de 500 cópias. Geralmente pertencia ao chefe político do local, cujo domínio era
disputado por um chefe rival com sua própria imprensa. Fica evidente que os jornais
desempenharam uma função primordial na política local. Como foro para o combate verbal, a
imprensa deu às celebridades locais um meio de sustentar a violência em nível menor, sem
tiroteios ou assassinatos. (WIRTH, John. 1975 apud Carvalho, 2007: 72)

Percebemos que a realidade descrita acima por Wirth se verificava em Muriaé, onde a
maioria dos periódicos tinha seus perfis políticos e procuravam “catequizar” seus leitores
segundo seus ideais e interesses. Concebemos assim a imprensa como um espaço onde se
dava os combates verbais entre os atores da política local.

O objetivo geral da pesquisa é perceber os reflexos do Movimento de 1930 em Muriaé


através do boletim “Ás Armas”, mas acreditamos ser necessário realizar uma incursão pela
história da imprensa de Muriaé, para compreender suas características, assim como sua
influência e importância na vida política local. Segundo Daniela Corrêa e Castro de Carvalho
a imprensa de Muriaé na Primeira República é uma imprensa “deficiente e simples, mas
sempre atuante.” (CARVALHO, 2007: 11)

Os jornais municipais podem ser caracterizados como pequenos jornais que segundo
Maria Helena R. Capelato,

“expressam reivindicações específicas de determinados grupos sócio-políticos são muito


importante para os estudos históricos. Eles existiram desde o Brasil Colônia e proliferaram na
segunda metade do século XIX. Os títulos dos periódicos exprimem o grupo do qual eram
porta-voz ou os seus propósitos de luta.” (CAPELATO, 1988: 33)

1
Optamos por manter a ortografia da época no titulo do trabalho.
15
A imprensa em Muriaé surgiu em 1887. O primeiro periódico a circular na cidade foi
Muriahé que tinha como redatores Estevam José d´Oliveira e Moreira da Silva & C., com
edições semanais. Após o Muriahé, surgiu em 1890 O Muriahé. Seus redatores eram Horácio
Catta-Preta (advogado) e Emiliano Moreira da Silva, ambos ficaram à frente do periódico até
1891. Neste mesmo ano Emiliano Moreira da Silva se torna redator do Echo Municipal, que
foi o último jornal que surgiu no século XIX. Já na primeira década do século XX, o redator
do O Muriahé foi João Martins Moreira.

Segundo Magalhães O Muriahé fazia oposição ao deputado estadual e prefeito


Antonio da Silveira Brum, sendo um:

“Jornal de combate, sacudia os nervos dos políticos da época, no pano municipal, estadual ou
federal, combatividade que, consta, foi a causa de vários atentados ao intrépido jornalista João
Martins, um dos quais quebrou sua pena para sempre, atirando-o ao fundo da terra.”
(MAGALHÃES, 1977: 73)

De acordo com Magalhães O Muriahé reaparece na imprensa local em 1929, agora


sobre a direção do Dr. Afonso Canedo, tendo como gerente Apparicio Felisberto. (Idem, op.
cit., p.73) Em contraponto a Magalhães, Carvalho coloca este sob direção de “Agenor
Canedo, que em 1920 volta a publicar o jornal O Muriahé”. (CARVALHO, 2007: 84) Ao
analisar as publicações do O Muriahé contidas no Paço Municipal, percebemos que este
circulou durante a década de 1920, onde se torna verídica a afirmação de Carvalho. Nos anos
vinte, O Muriahé representava o grupo político dos Canedos, uma família que se instalou em
Muriaé a partir da segundo metade do século XIX, com a vinda do patriarca da família o
Desembarcador Antônio Augusto da Silva Canedo, que “chegou à vila de São Paulo do
Muriahé em 1862, como primeiro Juiz de Direito nomeado para recém-criada Comarca. Aí
residiu durante dezesseis anos.” (CANEDO, 1983: 25)

De acordo com Letícia Bicalho Canedo,

“A vida política de Antonio Augusto da Silva Canedo teve início em 1853, quando foi eleito
deputado à Assembléia Provincial de Minas Gerais, pelo Partido Conservador. Nessa Casa
Legislativa exerceu a Secretaria e a Presidência da Mesa. Em 1868 ele ingressou na
Assembléia Geral como deputado, tornando-se, assim, membro do Poder Legislativo, o mais
importante do Império.” (Idem, Ibidem, p. 26)

Além da vida política e do cargo de Desembargador, este foi fazendeiro de café tendo
como propriedade a fazenda da Barra Alegre em Muriaé. Casou-se em primeiras núpcias com
D. Antonia Severina Augusta com quem teve três filhas, “que depois de casadas, passaram a
ser chamar: Augusta da Silva Canêdo Alves Pequeno, Antonina da Silva Canêdo Moreira
Penna e Christina Canêdo de Almeida Magalhães. (CANEDO, 1983: 22) Com sua segunda
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esposa o desembargador Antônio Canedo, teve seis filhos, sendo eles Antonio Augusto que
seguiu a profissão de agricultor, o senhor Affonso Augusto Canedo, comerciante e prefeito de
Muriaé em 1931. O senhor Agenor Augusto da Silva Canedo de acordo com Maria
Auxiliadora de Faria foi,

“Vereador à Câmara Municipal de Juiz de Fora. Filiado ao Partido Republicano Mineiro-


P.R.M.-ocupou em 1922 a vaga de Deputado Estadual deixada pelo Dr. João Baeta Neves.
Elegeu-se Deputado Estadual- 9ª Legislatura – 1923 a 1926 e reeleito para 10ª Legislatura –
1927 a 1930.” (FARIA, 1987: 44)

O senhor Agenor Canedo, além de político, foi diretor do O Muriahé e fundou em Juiz
de Fora o “Diário do Povo”, que segundo Faria circulou nove anos. Foi Funcionário Público,
exercendo a função de Fiscal de Renda da Secretária de Fazenda do Estado de Minas Gerais.
(Idem, op. cit., p.44) Já o seu irmão, o comerciante Affonso Augusto Canedo foi nomeado
prefeito de Muriaé em 1931. Seus filhos Christiano Augusto e Guilhermina morreram de
febre amarela provavelmente durante o surto no qual passou Muriaé em 1895; e Balbina foi
do lar.

No ano de 1890, passa circular o Alto Muriahé, que era de propriedade de Valeriano
Alves Pereira. A partir de 1914 o Alto Muriahé reaparece no cenário local, tendo como diretor
Dr. Antonio Silveira Brum, sendo seu editor Henrique Hastenreiter, que era o proprietário da
Casa Hastenreite, uma casa comercial e tipográfica de Muriaé, que surgiu 1909, local onde era
imprenso Alto Muriahé, e outros periódicos. (ALVES, 1977:83)

O Alto Muriahé volta a circular em 1921 “sob a direção ainda do Deputado Federal
Dr. Antonio Silveira Brum”. (MAGALHÃES, 1977: 73) O diretor do Alto Muriahé, Dr.
Antonio da Silveira Brum, era um advogado que se formou na “Faculdade Livre de Direito do
Estado de Minas Gerais”, localizada em Ouro Preto-MG. Não sendo natural de Muriaé,
chegou nesta cidade 1898, aos vinte e quatro anos, transferido da Comarca de Santa Luzia do
Carangola para a Comarca de São Paulo do Muriahé, para exercer a função de Promotor de
Justiça. (HASTENREITER, 1979: 67)

Em 1905, Antonio da Silveira Brum se candidata a vereador do município, sendo


eleito e “logo na constituição da Mesa da Câmara Municipal de São Paulo do Muriahé, foi
escolhido para ser o seu presidente e o chefe do executivo”. (Idem, op. cit., p.67) Este exerceu
o cargo de presidente da Câmara de Muriaé durante 1905 a 1920, cargo que conciliou com a
vida na Câmara dos Deputados, tanto na instância estadual quanto na federal.

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Um ano mais tarde, Brum é “indicado pela Comissão Executiva do Partido
Republicano Mineiro (PRM), e é eleito Deputado pela 2ª. Circunscrição, para o período
correspondente à 5ª. Legislatura (triênio de 1907 a 1910).” (Hastenreiter, 1979: 67) Com o
início dos trabalhos da 5ª Legislatura estadual, este foi eleito Vice Presidente da Câmara.

Alguns anos depois, mais precisamente em 1909, ocorre nova eleição “para o triênio
1910/1912 (6ª. Legislatura) e o Dr. Brum é novamente incluído na chapa do PRM e obtém
estrondosa vitória nas urnas da 2ª. Circunscrição.” (Idem, Ibidem, p.68) Ao ansiar a eleição
para Deputado Federal, em 1911, Brum é indicado na chapa do PRM para concorrer a uma
vaga pelo 2º. Distrito de Minas Gerais, mais uma vez este conseguiu ser eleito para o triênio
de 1912-1914.

Já para o pleito de 1914 as coisas começam a se modificar no quadro político dentro


do PRM, que antes era favorável a Brum e passa a ser desfavorável, pois “ao se aproximar o
pleito para a renovação dos Deputados Federais e de um terço do Senado, uma forte investida
foi feita na cúpula do P.R.M., no sentido de afastar o Dr. Brum da sua chapa.” (Hastenreiter,
1979: 71) Com este quadro negativo dentro do PRM, Brum se candidata a uma vaga na
Câmara Federal dos Deputados sem o apoio do partido, este consegue a eleição com 17.000
votos, o resultado foi contestado por outros políticos; mas o Tribunal Eleitoral reconhece sua
eleição. (Idem, Ibidem, p.72)

De acordo com José Henrique Hastenreiter,

“pela terceira vez o Dr. Brum é eleito Deputado Federal, em 1918, à 10ª. Legislatura, já,
agora, incluindo na chapa do P.R.M., que fora obrigado a reconhecer o seu prestígio político
na zona em que militava, apesar da forte campanha contra ele desencadeada pela ala
renovadora do partido.” (Hastenreiter, 1979: 72)

Segundo Hastenreiter, em 1918 a renovação conduzida por Artur Bernardes e Raul


Soares, que procurava afastar os elementos conservadores do partido, fez com que “quase
todos os municípios da Zona da Mata Mineira receberam do Governo Bernardes (Presidente
do Estado) assistência financeira e política. Muriaé, entretanto, parecia voltar ao ano de 1904,
caindo no esquecimento dos dirigentes estaduais.” (Hastenreiter, 1979: 86)

Esta foi à última eleição na qual participou o senhor Antonio da Silveira Brum, que em
1921 com o final da 10ª Legislatura encerra sua carreira parlamentar e política, pois segundo
Hastenreiter em “Muriaé já se formara um Diretório Municipal do P.R.M., constituído de
elementos ligados ao Presidente Bernardes e de quem recebera instruções no sentido de não

18
mais reelegerem o Dr. Brum para a Câmara de Vereadores e, menos ainda, para Agente
Executivo do Município”. (Idem, Ibidem, p.86)

A filiação política do O Muriahé e do Alto Muriahé permitiu que estes tivessem uma
vida mais longa, transpondo o século XIX e se inserindo nas lutas políticas do século XX, na
qual seus redatores, proprietários estavam diretamente ligados as disputas por poder no
município.

3.1 Os periódicos nos distritos de Muriahé:

Alguns distritos de Muriaé tiveram a presença da imprensa, entre eles Patrocínio do


Muriaé onde em 1898 surgiu O Condor, que segundo Magalhães tinha um cunho humorístico.
(Magalhães, 1977: 73)

No distrito de Nossa Senhora da Glória, hoje Itamuri, surgiram três periódicos, entre
eles está O Brinquedo em 1910, um semanário humorístico que tinha como redator o senhor
Antonio Rogedo, proprietário da padaria da fazenda da Barra, de propriedade do Cap. Izalino
Romualdo da Silva, tal periódico segundo Magalhães era impresso ali mesmo. (Idem, Ibidem,
p.74)

Outros periódicos que surgiram em Itamuri foram O Zero que circulou entre 1925 e
1926. Tinha como diretor e redator o professor Raimundo Francisco Monteiro; e O Oriente
que circulou entre 1925 e 1926 tendo como redator o Dr. José Augusto de Miranda Ludolf, tal
periódico é caracterizado como maçônico por Belmira Hastenreiter Alves. (Alves, 1977: 85)

Desta forma a proliferação da imprensa no início do século XX, não é um fenômeno


isolado dentro do município de Muriaé, esta chega aos distritos desta cidade onde havia as
redações de tais periódicos, que mantinha uma mesma linha e cunho político dos jornais
publicados no município, sendo geralmente o chefe local dono ou colaborador de tais folhas.

19
2
Mapa do Município de Muriaé 1926 (Distritos onde circularam os jornais) :

Figura 1:MURIAHÉ:
:MURIAHÉ: mapa político e regional. Muriahé-MG:MG: autor desconhecido, 1926. 1 mapa, color, 17,27 X 13,82.
Escala 1350.000. Obs.: Mapa cedido pelo Arquivo Público de Muriaé.

2
MURIAHÉ: mapa político e regional. Muriahé-MG:
Muriahé MG: autor desconhecido, 1926. 1 mapa, color, 17,27 X 13,82. Escala
1350.000. Obs.: Mapa cedido pelo Arquivo Público de Muriaé.
20
3.2 Os periódicos do século XX de Muriahé:

No ano de 1902 começou a circular A Sentinela de Mário Cisneiro, que foi o primeiro
jornal a surgir no século XX. No ano de 1903 nasce O Radical, que segundo Magalhães era:
jornal combatido, de propriedade e direção de Gil Moreira da Silva (irmão de Emiliano
redator do Echo Municipal), tendo o Dr. Lincoln Moura Santos, jornal que circulou ainda em
1909, neste período sob a direção do jornalista Francisco de Assis de Barros Faria. Dirigida
por João Avelino dos Santos surge em 1908 a Gazeta Liberal, não conseguimos maiores
informações deste periódico. (Magalhães, 1977: 73).

Dois anos mais tarde, em 1910, surge o Raio X que tinha como redator “J. Figueiredo
Hastenreiter, que, artista que era, fabricava a canivete, no puro pau Brasil, as caricaturas para
sua folha”. (Idem, Ibidem, p.73) Este era um periódico humorístico segundo Magalhães, e o
único jornal até 1930, que continha charge, era impresso na Casa Hastenreiter. A utilização da
caricatura se justifica pelo fato que esta tem um “poder de comunicação direta, portanto de
fácil compreensão e penetração nas massas.” (Capelato, 1988: 16)

Em 1913, aparecerá na imprensa muriaeense A Renascença, que de acordo com


Magalhães, tinha como colaboradores os senhores José Eutrópico, Valdemar Pequeno, Otávio
Lacerda, Orlando de Lima Faria, Dr. Moretzshon, Cel. José Pacheco de Medeiros e a senhora
Adolfina Gusman. Entretanto, Waldemar W. de Oliveira ressalta que Magalhães se esqueceu
de citar “VINÍCIUS DA VEIGA, diplomata de carreira que aos 19 anos, por volta de 1911,
fazia com JOSÉ EUTRÓPICO a RENASCENÇA.” (Oliveira, 1980: 114)

De acordo com Oliveira,

“no adro da Igreja Matriz, à hora de iniciar a missa dominical, foi violentamente agredido
pelo Cel. FREITAS LIMA, prócer situacionista. VINÍCIUS combatia-o pelas colunas da
RENASCENÇA. O agressor julgou-se duramente ofendido pela crítica mordaz, versificada,
do agredido. VINÍCIUS reagiu com bengaladas.” (Idem, Ibidem, p.114)

Além desse fato, Oliveira coloca que José Eutrópio foi agredido pelo delegado de
polícia Dr. Matos Barbosa, “por motivos idênticos, ou seja, veementes críticas pela
RENACENÇA. (Oliveira, 1980: 115)

A luta política que acontecia no espaço municipal fazia da imprensa o seu porta-voz de
debates, porém, nem sempre os embates ficavam somente no campo das letras. Como nos
relatos acima e no já citado assassinato que ocorreu em 1910, onde o redator do periódico O
Muriahé, João Martins Moreira foi morto. De acordo com Magalhães (1977) e Oliveira
21
(1980) tal ato de brutalidade (o assassinato de João Martins Moreira) foi motivado pelas suas
publicações no O Muriahé, que como A Renascença, eram jornais da oposição no período ao
então Prefeito e Deputado Estadual Antonio da Silveira Brum, tal fato ocorreu em 1910.

Outro ponto de destaque no periódico A Renascença é a presença de uma mulher entre


seus colaboradores, o que não é comum, pois no período a figura da mulher era associada à
dona do lar, de submissão à figura masculina. Em Muriaé no período estudado percebeu-se
significativa aparição do gênero feminino nos corpos editoriais; em 1931 temos a circulação
do periódico a Brisa, que era imprenso na Casa Hastenreiter, este tinha como redatora a
senhora Maria Aparecida Magalhães. Seu teor era humorístico.

Ainda em 1913, observa-se o surgimento do periódico A Verdade, que era de


propriedade e direção do Senhor Aristóteles Tôrres Vieira. Um ano mais tarde, aparece A
Caricatura, o periódico tinha como principal característica seu tamanho que era de
11cmX15cm. Seu diretor era Militino C. Rosa e Alcides Freitas gerente da folha, suas
publicações eram semanais todas as quartas-feiras. Posteriormente em 1915 temos a aparição
de outro semanal o Estylete, que tinha como redator o senhor Osório Gonçalves Couto, a
direção da folha era responsabilidade de Guilherme Hastenrenter, tal periódico era imprenso
na Casa Hastenreiter. Três anos mais tarde, em 1917, assiste-se o surgimento de outro
semanal o Quase!, não conseguimos encontrar os nomes de seus diretores e redatores, pois
suas publicações não foram encontradas. Entretanto, este também era impresso na Casa
Hastenreiter.

Em 1918 surge O Operário, um jornal semanal que teve a sua criação motivada a
partir de um desentendimento dos correligionários, Álvaro Teixeira de Melo e Itagiba de
Oliveira com o presidente da Câmara na época o Dr. Antônio da Silveira Brum. De acordo
com Daniela Carvalho a origem do nome O Operário, “a princípio sugere uma ligação com a
classe operária ou movimentos sindicais, que não ocorre de fato. O Operário é, assim como o
Jornal de Viçosa, um “orgam em defesa dos interesses do povo”, que neste caso são as
pessoas vinculados ao Partido Republicano Mineiro.” (Carvalho, 2007: 70)

O senhor Itagiba de Oliveira foi seu diretor entre 1918 e 1922, posterior a este, o
diretor passa a ser Cel. José Pacheco de Medeiros um chefe político municipal, sendo
proprietário do Cartório de 2º Ofício de Notas Cel. Pacheco de Medeiros, ambos os diretores
do jornal foram representantes do PRM local.

22
De acordo com Magalhães, entre colaboradores do O Operário temos “Dr. Teixeira de
Melo, Mme. Izabele Martin de Melo, Dr. Geminiano Alves Pereira, Jorge Gonzaga, Lianírio
Cerqueira, Marius Dornelas Pereira, Dr. Miguel Timponio”. (Magalhães, 1977: 74) Sob o
comando do Cel. Pacheco de Medeiros, os redatores do jornal passaram ser F. Nelson de
Castro e Orlando de Lima Faria, provavelmente a partir de 1923. (Idem, Ibidem, p.74)

Para Carvalho, O Operário não trazia em suas matérias apenas informações, estes na
“maioria traz um posicionamento crítico da realidade, defendendo os valores que consideram
corretos e julgando as ações - com elogios ou críticas, dependendo da posição política – ou
ausência delas, normalmente de políticos.” (Carvalho, 2007: 72)

Desta forma O Operário, era o porta-voz de um grupo que estava fora do poder em
1918, data de sua fundação. Porém “a situação muda em 1922. O embate político entre O
Operário e O Muriahé, representantes respectivamente de José Pacheco de Medeiros e Agenor
Canedo, pretende recriar a disputa política existente na cidade.” (Idem, Ibidem, p.85)

De acordo com Carvalho

Durante a década de 1920, como era comum em outras cidades, existiam duas facções do
PRM no município. Em Muriaé, no início da década, a disputa era entre José Pacheco de
Medeiros e Silveira Brum. Após 1922, as facções locais são representadas por Agenor
Canedo, antigo presidente do PRM local, e José Pacheco, que a partir de 1922 ocupa o cargo
de presidente. (Carvalho, 2007: 88)

Carvalho cria uma lógica de polarização na luta política existente na cidade na


Primeira República, entre duas facções, sendo que até 1922, supostamente era entre as facções
de José Pacheco de Medeiros e Silveira Brum, que já citado, Brum se retira das eleições tanto
em nível Estadual, Municipal e Federal em 1921, em decorrência da reestruturação do PRM.
A colocação homogênea desta luta feita pela autora coloca que a partir de 1922, esta passa a
ser entre José Pacheco de Medeiros e Agenor Canedo, mas os Canedos figuram desde o
século XIX, como uma família com participação frequente na política local, estes durante a
Primeira República, eram opositores de Brum, assim essa caracterização da autora de dois
pólos de poder no município, é questionável.

Cada grupo tinha seu periódico, sendo Alto Muriahé em sua segunda fase
representante do grupo do Silveira Brum, O Muriahé defensor do grupo representado pela
família Canedo, e O Operário do grupo liderado pelo Cel. José Pacheco de Medeiros.

No ano de 1922 surge O Rebate, “jornal de linguagem violenta, o que induziu o seu
Diretor Marius Dornelas Pereira, no sétimo número, a suspender a sua publicação, discordante
23
que estava da virulência de que se revestiam os seus editoriais.” (Magalhães, 1977: 75) Assim
a censura era algo que segundo a afirmativa de Magalhães, ocorria, visto que o jornal teria
que está de acordo com a “linguagem” dos jornais locais, caso contrário, este possivelmente
teria sua circulação cancelada como foi o caso do O Rebate.

Anos mais tarde, em 1927, surgiu a Fróita, outro jornal de caráter humorístico. Seus
redatores eram Hélio Freitas Magalhães e o professor Marciano Neto. Dois anos depois surgiu
A Democracia, o periódico circulou em 1929, tendo como redator Cap. João Felisberto de
Souza, e era editado por Aparício Freitas. Neste mesmo ano, começou a circular a Folha de
Muriahé, sob a direção do Deputado Agenor Canedo, e tinha como redator o Dr. Agripino
Veado, que era advogado e tabelião do 1º Ofício de notas. Tal periódico trazia em suas
edições (abaixo do titulo) a frase: “Orgam do Partido Republicano Mineiro”, a frase é
encontrada na maioria dos jornais locais, especialmente nos de cunho político, ligados a uma
das facções do município. Isto ocorria em decorrência que a luta por poder no município se
dava na busca de se conseguir para uma das facções locais o apoio do PRM.

A partir deste breve histórico dos jornais que circularam entre 1887-1930, percebemos
que estes se encontravam no seguinte estágio exposto por Nelson Werneck Sodré quando
relatava a situação da imprensa nos estados brasileiros com exceção do estado de São Paulo:

“Nos outros Estados, a imprensa estava ainda na transição da fase artesanal para a fase
industrial, no início do século XX; são raros os jornais de províncias com estrutura de
empresa. Mas a matéria principal deles é também a política, e a luta política assume, neles,
aspectos pessoais terríveis, que desembocam, quase sempre, na injúria mais vulgar” (Sódre,
1999: 324)

Assim, os jornais municipais giravam em torno da vida política dos atores municipais,
dos redatores e dos diretores que geralmente acumulavam estas duas funções, com outras
profissões, o que demonstra que a vida na imprensa seria mais importante pelo capital social
que ela gerava, do que pelos lucros gerados pela profissão. A imprensa muriaeense é
tipicamente elitista, e servia para as explanações e defesas dos interesses de grupos que
estavam ligados ao poder municipal, ou almejava alcançá-lo, e nesta busca por poder a
imprensa é o espaço de embates das elites do município.

4. Ás Armas: um dos proscênios das elites muriaeense.

No dia onze de outubro de mil novecentos e trinta, exato oito dias após o início do
movimento de 1930 começou a circular em Muriaé a “REVOLUÇÃO- Boletim de

24
Informações da Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-Mirahy”, que tinha como
objetivo a:

“divulgação máxima dos factos revolucionarios e outros que no momento possam interessar o
publico, resolveu editar, diariamente, o presente boletim de informações.” VEADO, A. G.
Memorandum. Revolução, Muriaé-MG, p.1D, 11 Out. 1930.

O titulo Revolução permaneceu apenas no primeiro número do boletim3. A partir do


segundo exemplar, este passou a se chamar “Ás Armas- Boletim de Informações da
Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-Mirahy”, não foi esclarecido publicamente os
motivos da mudança do nome.

A publicação do Ás Armas não seguia uma ordem diária, pois tal boletim circulou do
dia onze de outubro de 1930 á nove de novembro de 1930, tendo um total de dez edições que
circularam nos dias: onze, treze, quatorze, dezessete, vinte, vinte dois, vinte e quatro e vinte
cinco de outubro de mil novecentos e trinta, e a última edição publicada foi no dia nove de
novembro de mil novecentos e trinta. A única edição que não foi encontrada foi a quarta que
possivelmente circulou nos dias quinze ou dezesseis de 1930.

Criado para divulgar as idéias e informação do movimento de 1930, o boletim tinha


como vínculo institucional a Interventoria Militar Muriahé-Mirahy chefiada pelo interventor
Adherbal Moreira Ramos, sediada na Câmara Municipal, que foi ocupada no dia dez de
outubro de 1930, mesmo dia que se ocuparam a agência do Correio, a Coletoria Federal,
Repartição dos Telégrafos. Após a ocupação, foram nomeados os senhores,

“Dr. Agripino Gomes Veado para a Secretaria Geral da Interventoria; Sr. Miguel Augusto de
Castro para Administrador do Municipio; Sr. Americo Appolonio de Magalhães Portilho para
Administrador da Collectoria Federal; Sr. Nelson G. da Silva para Administrador dos
Telegraphos.” VEADO, A. G. Actos da Interventoria Militar. Revolução, Muriaé-MG, p.1D,
11 Out. 1930.

Um das características da Interventoria foi às várias nomeações feitas para cargos


públicos, o que permitiu aos interventores atender a vontade do grupo político no qual eram
“filiados”, proporcionando assim um controle das instituições do município, pois amigos e
parentes eram escolhidos para ocupar os cargos; além dos já citados anteriormente temos
ainda:

“Por acto de 13, do Sr. Interventor, foram nomeados:Dr. Gastão Torres, superintendente geral
do serviço da gazolina e automoveis; Dr. Domingos Henrique Carlos da Silva,
superintendente geral da alimentação e socorros públicos; Dr. Francisco Annibal de Souza,

3
O conceito de boletim segundo Rafhael Bluteau (1728) é um “recado militar por eferito”. SILVA, Antônio de Morais,
1755-1824; BLUTEAU, Rafael, Diccionario da lingua portugueza 1638-1734. Lisboa: Na Officina de Simão Thaddeo
Ferreira, 1789. Tomo II. p.144
25
delegado geral de requisições; José Canedo, director do gabinete da Interventoria, Francisco
Moreira Gomes, sub-director do gabinete da Interventoria; Agripino Gomes Veado Filho e
Agenor Chaves, officiaes do gabinete da Interventoria e Ascendino Cardoso, porteiro do
gabinete da Interventoria.” VEADO, A. G. Interventoria Militar. Ás Armas, Muriaé-MG,
p.1D, 14 Out. 1930.

O boletim tem como particularidade a ausência do nome dos seus redatores, diretores,
e do local onde era impresso, este estampa somente a sua ligação institucional com a
Interventoria Militar, mas de acordo com Maria Auxiliadora de Faria (Faria, 2005: 65), o
diretor e redator era o secretário da Interventoria Militar, o advogado Agripino Gomes Veado,
que exercia a função de advogado e de escrivão do 1º Ofício do Cartório, além de ser redator
da Folha de Muriahé que circulou em 1930.

As únicas propagandas que constam no boletim data do último exemplar e era a do


redator da folha, que traz as suas atribuições profissionais, onde colocam o numero de seu
telefone, e enfoca que este advoga em Muriaé e nas comarcas vizinhas. Traz também uma
propaganda da Typographia Hastenreiter onde era impresso o boletim. (Alves, 1977: 89)

No dia quatorze de outubro o boletim traz no seu cabeçalho um aviso que cita:

“A “Interventoria Militar de Muriahé e Mirahy” traz ao conhecimento do publico em geral


que recommendará com calor ao Governo do Estado e ao futuro Governo da Republica os
nomes das pessoas civis ou militares, que prestarem serviços valiosos á causa da Revolução
triumphante.” VEADO, A. G. AVISO. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 14 Out. 1930.

A suposta promessa citada acima feita pela Interventoria é uma tentativa de controle
da opinião pública, pois segundo Jean- Jacques Becker “a manipulação da opinião pública, é
quando se procura de maneira artificial, provocar uma reação” (Becker, 1996: 192); e o que se
buscava era um apoio para a facção política dos Canedos, que estava à frente do movimento
na cidade. No último numero do boletim publicou-se um relatório que foi enviado para o
governo de Minas Gerais, e tal relatório foi publicado na integra e em uma das partes continha
a seguinte matéria “A contribuição de outros civis de Muriahé para a Revolução”, onde se
trazia o nome das pessoas que supostamente auxiliaram os trabalhos da interventoria.
Wilhelm Bauer, citado por Becker (Becker, 1996), conceituava a opinião pública4 de duas
formas que se opunham a estática e a dinâmica, a primeira está ligada aos costumes, hábitos e
as tradições que formam a estrutura de uma sociedade em determinada época em um
determinado país. A opinião pública dinâmica era a “[...] reação da opinião diante do
acontecimento. A confrontação, por exemplo, com uma guerra, com uma revolução. A
primeira se inscreve no tempo longo, a segunda no tempo curto.” (Becker, 1996: 188) Desta

4
Para maiores informações ver Cf. BECKER, Jean-Jacques. A opinião pública. In: RÉMOND, René (org.) Por uma
História Política. Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ Editora FGV. Cap.6, p. 185-212.
26
maneira Ás Armas, tentava controlar a opinião pública dinâmica, buscando um apoio para a
causa política pela qual eles lutavam.

A posição da família Canedo como chefe política do movimento, fica exposta no


discurso proferido pelo secretário da Interventoria, o senhor Agripino Gomes Veado na
solenidade de inauguração das placas da Rua Arthur Bernardes, exposto da seguinte forma:
“bem como acção dos chefes da política municipal, salientando os nomes do deputado Agenor
Canedo, do Dr. Affonso Canedo, do cel. Telemaco Pompei.” VEADO, A. G. Rua Arthur
Bernardes. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.

Durante toda a década de 1920 os Canedos foram oposição aos candidatos da facção
do Coronel José Pacheco de Medeiros que era representante do PRM local durante toda a
década que antecede o surgimento do Ás Armas, e se fez representar na presidência da
Câmara, através de seus aliados políticos sendo eles Izalino Romualdo da Silva 1921-1926, e
Edmundo Rodrigues Germano 1926-1930, pois como era dono do Cartório Pacheco de
Medeiros, este não podia se candidatar ao cargo de presidente da Câmara de Muriaé.
Recorrendo a teoria das elites, por elitismo se entende segundo Norberto Bobbio, Nicola
Matteucci e Giafranco Pasquino, no Dicionário de Política (1997), “a teoria segundo a qual,
em toda a sociedade, existe, sempre e apenas, uma minoria que, por várias formas, é detentora
do poder, em contraposição a uma maioria que dele está privada.” (Bobbio, 1997: 385)

Mosca, citado por Bobbio (1997), afirma que a força da classe política, esta no seu
poder de organização, que ocorre através de interesses que levam os membros da elite a se
coligarem para formarem um grupo solidário e homogêneo em contraposição a maioria que se
encontra desorganizada e dispersa. Desta maneira percebesse duas formas de visões dentro da
teoria das elites, a monista e as pluralistas, a primeira demonstra a existência de uma única
classe política, enquanto que a segunda reconhece a existência de várias classes políticas. As
duas se tornam validas para análise, o que ocorrer é que dependendo da investigação empírica
em comunidades, percebesse a realidade de uma delas como no caso de Muriaé entorno do
movimento de 1930, se faz presente a pluralista, por ter dois grupos atuantes dentro da elite
política municipal, que lutavam pelo poder.

Em meio a esta luta por poder, percebemos que o grupo político dos Canedos ficou a
frente do movimento, logo o grupo do coronel Pacheco de Medeiros opositor aos Canedos,

27
que durante 1921 e 1930, se fazia representar na precedência da Câmara, se tornaram os
inimigos e seus representantes na Câmara Municipal foram destituídos através de um

“acto desta Interventoria, e pelos mesmos motivos da deposição do Presidente da Camara,


foram destituidos de seus cargos os vereadores geraes, Coroneis Edmundo Rodrigues
Germano e Izalino Romualdo da Silva, e os vereadores districtaes Dr. Olavo Tostes, Luiz da
Silva Couto, Theodoro Pereira do Valle, Francisco Gomes Campos, Joaquim Leandro Pereira
Filho, Luciano Werneck de Almeida e João de Faria Motta.”. VEADO, A. G. Destituição de
vereadores á Camara Municipal. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.

O ato do grupo do Cel. Pacheco de Medeiros terem sidos considerados opositores ao


movimento, não é um simples ataque de seus opositores, os Canedos, mas pode ser justificado
por um suposto apoio que esta facção deu ao candidato paulista nas eleições presidenciais de
1930. Através de um telegrama de 07 de Janeiro de 1930 enviado para o então presidente do
Brasil o senhor Washinton Luiz, pelo senhor Edmundo Rodrigues Germano, presidente da
Câmara municipal de Muriaé no período, a onde, este se referia a um suposto apoio que esta
facção liderada pelo Coronel Pacheco de Medeiros, daria ao candidato paulista Julio Prestes,
antes das eleições de Março de 1930. O seguinte telegrama relata:

“Cumpre-me comunicar vossa excelência muito grave situação deste município. Autoridades
policiais acordo instituições do governo do estado, continuam exercendo violência, e
arbitrariedades contra pessoas alto conceito social, inclusive vereadores e juízes de paz,
sujeitando-os vexame busca repetidas, sob pesadas ameaças, plena praça publica, as quaes são
intimadas abandonarem luta e a se afastarem pleitos março maio. Diante taes factos alarmante
estarem impossibilitados propagandas candidaturas presidente da Republica, Estado, e
comparecimento pleitos, caso vossa excelência não nos priva das urgentes garantias
indispensaveis livre exercício nosso direito voto. “Respeitaveis Saudações.” (GERMANO,
Edmundo Rodrigues. [Telegrama] 07 jan. 1930, Muriahé [para] LUIZ, Washinton., Rio de
Janeiro. 1f. Solicita apoio judicial e político para a realizações das eleições presidências no
Brasil em 1930.)

A partir deste telegrama, pode se traçar um apoio dado ao candidato Julio Prestes pela
facção políticas que estava na liderança da Câmara municipal até 1930, e segundo Aspásia
Camargo a “arrancada do processo revolucionário gravita em torno da sucessão presidencial
de 1930, definindo aí suas motivações mais arraigadas e mais visíveis” (Camargo, 1980: 18);
desta forma o apoio ao candidato paulista custará à facção política do Cel. Pacheco de
Medeiros a posição de facção condutora do movimento no município. Outro ponto a se
destacar é a cisão entre o poder municipal e as forças policiais durante a década de 1920,
quadro que irá mudar no período do movimento, pois segundo a publicação no boletim

“esse serviço que o Dr. Dermeval Lyrio, delegado regional, fazia apenas com seus excellentes
e devotados auxiliares, em numero insufficiente, retirada que foi a Força Publica, passou a ter
a collaboração desta Interventoria. Preencheu-se os logares creados pelo benemérito Governo
do Estado para a Milícia Republicana Revolucionaria; Forneceu-se a dita Milícia tudo quanto
era necessário para sua patriotica acção.” VEADO, A. G. Policiamento do Município. Ás
Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.

28
Além do discurso referido acima ás forças policiais, os dois primeiros números do
boletim traziam uma matéria intitulada “Policia-Serviço de Guarda”, onde eram expostos os
nomes dos guardas e os horários que estes estariam trabalhando. A entrada das forças polícias
para a Milícia Republicana Revolucionaria, demonstra a necessidade da elite de se resguardar
caso fosse necessário com o uso da força, contra os possíveis opositores do movimento, tal
ato não foi necessário, pois “A ordem no município foi absoluta, não se registrando mesmo os
simples casos de polícia.” VEADO, A. G. Policiamento do Município. Ás Armas, Muriaé-
MG, p.2D, 09 Nov. 1930.

Apesar de ter sido mantido ordem, as ameaças aos inimigos da Interventoria estiveram
presentes no boletim no discurso do interventor Adherbal Moreira Ramos nos dias vinte e
vinte e dois de outubro, proferido da seguinte forma:

“Devo trazer ao conhecimento dos homens que nesta terra são considerados inimigos da
Revolução que minha tolerancia a seu respeito vae sendo mal comprehendida, pois
abusando della – ora proferem ameaças contra os representantes do poder revolucionarios,
ora criam versões, inventam factos deprimentes para os nossos brios, ora fazem circular
boatos que alarmam a nossa população. Para se por termo a este estado de coisa declaro que
cumprindo instrucções superiores serei severo contra aquelles que, imprudentemente,
inintelligentemente, num momento de perigos como o actual, agem em desaccordo com
seus próprios interesses. Ahi fica o aviso.” RAMOS, A. M. Aos inimigos da Revolução em
Muriahé. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

Uma das supostas versões inventadas pelos inimigos da revolução, diz respeito às
requisições e confiscação de armas feitas pela Interventoria que estaria excedendo a ordem e a
Lei, para legitimar seus atos, foi publicada no dia 20 de outubro de 1930, a seguinte matéria
“Ao publico e especialmente ao commercio de Muriahé”, a matéria traz um telegrama do
Coronel Otto Feio da Silveira, comandante do 1º setor revolucionário dizendo que

“Como representante da Junta Revolucionaria, que tem sede em Bello Horizonte, podeis levar
ao commercio a tranquilidade necessaria, declarando aos commerciantes que as requisições
feitas em vosso nome são garantidas pelo Governo Revolucionario que as reconhece
verdadeiras e legaes.” RAMOS, A. M. Ao publico e especialmente ao commercio de Muriahé.
Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

Além das palavras do Coronel Otto Feio da Silveira, em parte introdutória do texto o
Interventor Adherbal Moreira Ramos (que assinou o texto), destaca que o Coronel Otto Feio:

“[...] em portaria de 19 do corrente, depois de confirmar expressamente os PODERES


MILITARES AMPLOS e a autorização que recebi para fazer requisições, confiscação de
armas, munições etc., e FAZER O MAIS QUE ENTENDA NECESSARIO em beneficio da
causa revolucionaria. [...]” RAMOS, A. M. Ao publico e especialmente ao commercio de
Muriahé. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

Apesar de a interventoria ter um lado político definido no município, esta em seus


discursos nunca se dirige diretamente a facção política do Cel. Pacheco de Medeiros, como
sendo seus inimigos, isto porque o interventor em seus discursos procura homogeneizar o
29
papel e as funções da interventoria como sendo para “todos” os muriaeenses, e poderá como
colocado pelo próprio interventor usar dos “PODERES MILITARES AMPLOS” e “FAZER O
MAIS QUE ENTENDA NECESSARIO”, desta forma no período do movimento a interventoria
militar acumulou indiretamente os poderes do Executivo, Legislativo e detinha o poder sobre
o Judiciário em nível municipal.

No caso do Legislativo e do Executivo representado na figura da Câmara Municipal,


temos a destituição do presidente Edmundo Germano, e dos vereadores que era opositores a
facção política dos Canedos. Em dez de outubro de mil novecentos e trinta, temos a nomeação
do Sr. Miguel Augusto de Castro para Administrador do Município, este fica no cargo até o
dia vinte de outubro de mil novecentos e trinta, data da publicação no Ás Armas que

“As forças revolucionarias do Estado deliberam que o coronel Francisco Alves de Assis
Pereira, vereador da Camara Municipal de Muriahé, assumisse a sua presidencia. S. Ex.
entrará amanhã no exercício deste posto de confiança.”. VEADO, A. G. Presidencia da
Camara Municipal de Muriahé. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

A uma diferença entre as nomeações do Sr. Miguel Augusto de Castro que foi
nomeado pela Interventoria Militar Revolucionaria Muriahé-Mirahy, enquanto que o Cel.
Francisco Alves de Assis Pereira, foi nomeado pelas forças revolucionárias estaduais, e o
primeiro é citado no boletim como sendo administrador do município enquanto que o segundo
é tido como Presidente da Câmara, a diferença na nomeação ocorre em decorrência que o Sr.
Miguel Augusto de Castro não era vereador no período que eclodiu o movimento, enquanto
que o Cel. Francisco Alves de Assis Pereira, era vereador da Câmara municipal, desta forma
foi nomeado para ocupar o cargo de Presidente. Além de presidente da câmara neste período o
Cel. Francisco Alves de Assis Pereira, vai ser prefeito de Muriaé no período de 1936 á 1939,
o que indica que o apoio dado ao movimento em 1930, acarretará em prestígio político no
cenário do Governo do Presidente Getúlio Vargas.

4.1 A Liga Feminina Pró-Revolução:

No dia dezessete de outubro de 1930, foi fundada em Patrocínio do Muriaé a Liga


Feminina Pró-Revolução, sua fundadora a professora Maria de Lourdes Pompei Xavier
residente de Patrocínio do Muriaé, pública um texto no boletim Ás Armas no mesmo dia da
fundação da Liga, intitulado de “A LIGA FEMININA PRÓ-REVOLUÇÃO- PELA PATRIA
A MULHER TUDO PODE QUANDO QUER”, que relatava o papel que a mulher deveria ter
naquele momento de convulsões políticas e militares do país.

30
No seu primeiro discurso Maria de Lourdes Pompei Xavier coloca que:

“PELA PATRIA A MULHER TUDO PODE QUANDO QUER

APPELLO A’ MULHER BRASILEIRA.

Considerando que a Mulher, pela propria natureza do sexo e pela sua situação social, é uma
consubstanciação de energias moraes, uma synthese de forças activas, conscientes e
efficientes;

Considerando que a Mulher, fonte inexgotavel e perenne de carinho, ternura e amor, é como
esposa, mãe, irmã ou noiva, a divindade protectora do lar, o anjo tutelar do homem, e que,
como companheira e collaboradora, como conselheira prudente ou amiga sincera, dedicada
até o sacrifício da propria vida, TUDO PODE QUANDO QUER;

Considerando que a Mulher, formando na vida ao lado do homem e integrando a humanidade,


assumiu implicitamente, para comsigo mesma, responsabilidades de consciencia e de coração,
devendo formar com o homem, synergicamente, um systema ou conjugado de forças cuja
resultante muitas vezes Ella propria orientará;

Considerando que a mulher Brasileira, depositaria digna e legitima das mais gloriosas
tradições de heroísmo feminino, não pode e não deve neste momento historico, nesta hora
suprema e decisiva dos nossos destinos, forçar um recuo covarde e aviltante ou cruzar os
braços num gesto de fria indifferença;

Venho, na qualidade de fundadora da Liga Feminina Pró-Revolução, como esposa e mãe, que
ama o lar e a Patria, lançar um appello aos sentimentos civicos da Mulher Brasileira, para que,
hoje, as virtudes de amor e de patriotismo, da abnegação e do sacrifício, de que se lhe formou
o coração, se exaltem e vibrem, unisonas, synchronas e synergicas, ao lado do esposo, filho,
irmão ou noivo, em prol da regeneração política, em prol da Liberdade, em prol da
Revolução!

E prossegue:

MULHER BRASILEIRA!

Na hora presente tendes uma elevada e nobre missão a desempenhar, um sagrado dever a
cumprir! Lembrai-vos de que sois uma força e possuis um coração: -- forças que pode operar
maravilhas ao serviços de um coração de anjo.

Sois o symbolo da Família e do Lar; e a communhão brasileira é uma ampliação dessa


Família; e a Patria, uma projecção desse lar!

Lembrai-vos de que a Revolução de hoje é a semente bemdita que nos dará a paz de amanhã!

Nem só com armas na mão, no campo de batalha, se orienta a sorte de um povo. A linguagem
muda de vosso olhar, nos recessos do lar, vale muitas vezes por uma ordem. O milagre do
vosso amor, junto ao catre de hospital, no peso de uma ferida, opera uma ressurreição. E qual
o homem bastante covarde, que recua no caminho do dever e da honra, quando a mulher
avança, nimbada pela fé e santificada pela virtude?

Quantas virgens, no delírio sublime do Christianismo, escreveram com o proprio sanguem as


paginas impereciveis do martyrologio romano?

Mulher Brasileira, a Patria vos solicita, a Patria vos chama nesta hora decisiva! Prestai os
vossos serviços á causa de nossa regeneração política!

Propagai pela tribuna e pela imprensa os altos propositos da Revolução!

Que no lar e na officina, nas praças e nos campos, a vossa missão se cumpre sob os applausos
dos homens e as bençãos de Deus!

Dai aos que vão lutar, dai aos que estão lutando o conforto moral de vossa fé, o amparo e
assistencia de vosso carinho, não esquecendo jamais que – PELA PATRIA A MULHER
TUDO PODE QUANDO QUER!

31
Viva a Revolução!”XAVIER, M. de L. P. Liga Feminina Pró-Revolução. Ás Armas, Muriaé-
MG, p.1D, 17 Out. 1930.

O discurso acima, deixa transparecer a representação do papel social da mulher na


sociedade muriaeense, onde esta era a responsável por cuidar do lar, onde deveria educar os
filhos e orientar o marido, daí resulta a importância do discurso da Ás armas, ser dirigido a
mulher, pois o papel de educar os filho demonstra como era a mulher responsável por formar
as futuras gerações, sendo esta uma formadora de opinião tanto para os filhos como para o
marido.

Acerca da importância de estudar o universo feminino, de acordo com Nathalie Davis,


citado por Scott:
“Eu acho que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens quanto das mulheres,
e que não deveríamos trabalhar unicamente sobre sexo oprimido, da mesma forma que um
historiador das classes não pode fixar seu olhar unicamente sobre os camponeses. Nosso
objetivo é descobrir a amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas várias
sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como funcionavam para manter a ordem
social” (DAVIS, Nathalie. 1975 apud Scott, 1990: 01)

Assim estudar as mulheres para Davis, seria observar seus vários significados e
conceito em diferentes sociedades e épocas, de forma a perceber os simbolismos e os papéis
sexuais, buscando esclarecer como ocorria a interação entre os gêneros e como esta
possibilitou a manutenção da ordem social.

Em um momento de crise política e militar, como o do movimento de 1930,


percebemos que o papel das mulheres não era somente de sujeição completa a figura
masculina, como habitualmente é colocado na historiografia tradicional, que costuma a ver a
mulher ausente de momentos e conjunturas políticas, econômicas e sociais, sendo apenas o
homem responsável por “dirigir” a história. A mulher era lembrada, e tinha dentro do lar, da
igreja seu espaço de atuação que não pode ser pormenorizado. Assim estudar o universo
feminino significa estudar o universo masculino, pois “gênero como substituto de “mulheres”
é igualmente utilizado para sugerir que a informação a respeito das mulheres é
necessariamente informações sobre os homens que um implica no outro”. (SCOTT, 1990: 03)

Segundo Eni de Mesquita Samara no artigo “O que mudou na família brasileira? (Da
colônia à atualidade)”, “A família sempre foi pensada na história do Brasil como a instituição
que moldou os padrões da colonização e ditou as normas de conduta e de relações sociais
desde o período colonial” (SAMARA, 2002: 01), com os mandamentos da Liga Feminina não
era diferente, pois a mulher está sempre colocada em uma posição de associação com a figura
masculina, pois está é a irmã, mãe, amante e a noiva ou a esposa do homem.

32
Desta forma o “pátrio poder era portanto, a pedra angular da família e emanava do
matrimônio” (Idem, Ibidem, p. 05), assim o papel da mulher era cuidar do lar e dar assistência
moral e educacional a família. Esta era reconhecida no seu papel enquanto esposa, e mulher
digna, no que ser digna era seguir os preceitos cristãos colocados pela Igreja Católica.

A Liga Feminina criou dez mandamentos, que são:

“1-Cultuar a Patria e venerar seus heroes./2-Ver na Cammunhão Brasileira uma ampliação da


Família, e na Patria, uma projecção do Lar./3-Ver na Revolução Brasileira uma aurora de
redempção política e social./4-Propagar pela imprensa e pela tribuna, no lar, na offcina, nas
praças e nos campos, os altos objectivos da Revolução./5-Prestar assistencia moral e possivel
conforto material aos que vão pelejar pela victoria dos ideaes revolucionarios./6-Confortar,
amparar e proteger familias necessitadas cujos chefes, cumprem a esta hora nos campos da
luta, os seus deveres civicos./7-Servir a LIGA com inteira abnegação, na instituição da Cruz
Vermelha./8-Substituir sempre que for preciso, nos misteres communs, o homem valido que
offereceu á Patria o seu tributo de sangue./9-Não esquecer jamais que é tão soldado o homem
que vae como a mulher que fica cada qual em seu campo de acção, servindo á causa
commum./10-Não esquecer jamais que, pela Patria, a mulher tudo pode quando quer.”.
VEADO, A. G. Mandamentos da Liga Feminina Pró-Revolução. Ás Armas, Muriaé-MG,
p.2D, 22 Out. 1930.

O número de mandamentos é uma clara alusão aos dez mandamentos da igreja


Católica, e os ideais e conceito de família são claramente colocado nos modelo cristão, onde a
mulher é sinônima de amor, por ser capaz de gerar e dar a luz a uma vida, de carinho por ser a
responsável por cuidar do lar e de educar os filhos enquanto o marido permanece durante o
dia na labuta, assim a figura da mulher perfeita é aquela que está nos moldes de Maria a mãe
de Jesus um dos mártires do cristianismo.

Os mandamentos trazem um teor ideológico nacionalista, expressos no mandamento


de número um que diz que “1-Cultuar a Patria e venerar seus heroes” (VEADO, A. G.
Mandamentos da Liga Feminina Pró-Revolução. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 22 Out.
1930.), sendo o mandamento de número um, este deveria ser considerado o mais importante,
como ocorrer com os mandamentos cristãos onde o primeiro mandamento é “amar o próximo
como a si mesmo”, assim o mais importante para a Liga Feminina era justamente o ato de
cultura a pátria, e este cultuo deveria ser feito através das figuras de supostos heróis nacionais,
que são colocados no masculino e não no feminino, o que nos permite concluir que os heróis
são homens, onde cultuar tais heróis era cultuar a figura masculina.

Fora do lar a mulher deveria substituir o marido nos misteres, caso este fosse para o
campo de batalha, mas sua principal função na Liga seria prestar serviços na instituição da
Cruz Vermelha. A Cruz Vermelha citada pela liga era a Cruz Vermelha Juarez Tavora criada
em Patrocínio do Muriaé, tendo sido criada outra em Muriaé no mesmo período de

33
deflagração do movimento de 1930, com o nome de Cruz Vermelha Arthur Bernardes, sobre a
utilização destes serviços a última edição do boletim relata que “[...] se bem não houvesse
opportunidade para os referentes aos seus principaes fins [...]” VEADO, A. G. Cruz Vermelha
“Arthur Bernardes” e Cruz Vermelha “Juarez Tavora”. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov.
1930.

O boletim Ás Armas no dia dezessete de outubro de 1930, pública uma matéria


intitulada de “Um bello gesto de Patriotismo”, que vinha relatar e vangloriar a criação da Liga
Feminina. A posição social dos membros da Liga fica exposta na passagem a seguir: “cargos
da directoria foram preenchidos com os nomes de senhoras da alta e patriótica sociedade
patrocinense, cujos nomes daremos no proximo numero.” VEADO, A. G. Um bello gesto de
Patriotismo. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 17 Out. 1930.

A composição social das senhoras da Liga Feminina, demonstra o teor elitista em


torno dos membros tanto da Liga Feminina como da Interventoria Militar em 1930, as
mulheres pertencentes à liga eram esposas dos senhores influentes na elite municipal, entre
estas mulheres temos na diretoria da Liga:

“Presidente: sua intemerata fundadora D.Maria de Lourdes Pompei Xavier. Vice- Presidente:
D.Albertina Sampaio Pinto. Thesoureira: D. Antonia de Castro Araujo. Secretarias: D. D.
Adelina Guimarães e Corbella Antunes Pereira. Procuradoras: d. d. Maria Chiarelli,
Antonietta Rovize e Luzia de Castro, Da “Cruz Vermelha”, secção da Liga, foi acclamada
presidente d. Adelina Tavares.” VEADO, A. G. Liga Feminina Pró-Revolução. Ás Armas,
Muriaé-MG, p.2D, 22 Out. 1930.

Buscando realizar uma análise do papel do gênero5 feminino, pois entendemos que
não se pode almejar construir a história das mulheres separada da história dos homens, mesmo
que as imposições sociais logram durante a história sobre o gênero feminino uma carga de
inferioridade, pois a sociedade se constrói sobre a ótica masculina, tanto no mundo ocidental
influenciado pela cristianização cultural, como no mundo islâmico onde a figura de Deus é
masculina, o que coloca a mulher em um estado de permanente sujeição.

Assim buscamos nesta parte analisar as relações da Liga – Feminina (representante das
mulheres no movimento de 1930 em Muriaé) com o “universo” masculino, buscando observar
as relações culturais entorno da relação entre os gêneros no campo de poder local.
Percebemos que a mulher tinha seu espaço tanto no discurso proferido pelo boletim, quanto

5
O gênero como categoria de estudo é conceituado segundo Aurélio B. de Holanda Ferreira: “6.gram.Categoria que
classifica os nomes em masculino, feminino e neutro” (Ferreira, 2001: 345).

34
no campo político, entendendo política em seu sentido clássico, onde este conceito representa
toda a relação humana presente na sociedade.

4.2 A Rua Arthur Bernardes:

No dia vinte e dois de novembro de 1924, através da Resolução número 18, fico
acordado no artigo primeiro que “Passará a denominar-se Rua Dr. Arthur Bernardes a actual
Rua Municipal desta cidade.” (CÂMARA MUNICIPAL DE MURIAHÉ. Aprova a troca de
nomes da Rua Municipal para Rua Arthur Bernardes. Resolução n. 18, de 22 de novembro de
1924. Lex: Leis e Resoluções- Período 08/11/1923 a 26/10/1930, Muriaé-MG, p.42-43, nov.,
2. Trim. de 1930. Legislação Municipal). No artigo segundo, fica autorizada a Câmara
municipal a providenciar as placas e providenciar uma festa para a solenidade de inauguração.

O senhor Arthur da Silva Bernardes nasceu em Viçosa Minas Gerais em 1875, este se
formou em direto na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1900, de acordo com Dicionário
Histórico Biográfico Brasileiro pós-1930 da Fundação Getúlio Vargas, este exerceu os
seguintes cargos até chegar à Presidência da República em 1922: Vereador de Viçosa em
1904, deputado estadual em 1907, Secretaria de Finanças de Minas de 1910 a 1914, e
deputado estadual em 1918, chegando a ocupar o cargo de Presidente de Minas Gerais 1918.
(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós-1930.
Disponível
em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/artur_bernardes. Acesso
em: 18 de maio de 2011.)

Durante a campanha de Presidente da República em 1922, Arthur Bernardes teve o


apoio de

“Minas e São Paulo, teve que enfrentar o candidato da Reação Republicana, o ex-presidente
Nilo Peçanha, que aglutinava o apoio dos estados do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio
Grande do Sul. Durante a campanha, foi atingido pelo episódio das "cartas falsas", em que foi
acusado da autoria de cartas publicadas na imprensa contendo referências ofensivas ao
marechal Hermes da Fonseca. Ainda durante a campanha ficou comprovado que as cartas
haviam sido forjadas, mas a contestação a seu nome nos meios militares já se tinha tornado
irreversível. Apesar de tudo, acabou eleito no pleito realizado em março de 1922.”
(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós-1930.
Disponível
em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/artur_bernardes. Acesso
em: 18 de maio de 2011.)

Antes de tomar posso do cargo de Presidente da República em 1922, o senhor Arthur


Bernardes encontra os setores militares
“Inconformados com sua eleição, e também com o fechamento do Clube Militar e a prisão do
marechal Hermes, ordenados pelo presidente Epitácio Pessoa após conflitos em torno da
35
eleição para o governo pernambucano, jovens militares desencadearam no Rio de Janeiro uma
rebelião com o objetivo de depor o governo federal. O movimento, deflagrado em 5 de julho
de 1922 e rapidamente debelado, ficou conhecido como o levante dos 18 do Forte.”
(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós-1930.
Disponível
em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/artur_bernardes. Acesso
em: 18 de maio de 2011.)

Em meio a este panorama político conturbado Bernardes assumiu a presidência, mas


1924 viram surgir outro levante tenentista que teve início em São Paulo havendo repercussões
em outros estados. Mais uma vez as tropas legalistas conseguiram conter a revolta, mas aos se
juntarem com os revoltosos gaúchos os paulista deram origem a Coluna Prestes uma exército
guerrilheiro que percorreu o país durante dois anos fazendo campanha contra o governo. No
ano de 1926, Bernardes apóia a candidatura do paulista Washinton Luiz, que ficará na
Presidência da República até 1930.

Seis anos se passaram após o projeto ter sido aceito pela Câmara Municipal de
Muriahé, e as placas não foram colocadas, com isto o primeiro ato da “Interventoria Militar
Revolucionaria Muriahé-Mirahy”, e do administrador municipal Sr. Miguel Augusto de
Castro nomeado pela Interventoria foi mandar fazer as placas, e preparar a solenidade de
inauguração para o dia doze de novembro de mil novecentos e trinta, um dia após a
Interventoria ter ocupado a Câmara municipal e outras instituições.

O fato de homenagear Arthur Bernardes ocorreu pela força política deste líder do
Partido Republicando Mineiro no estado, e em decorrência do apoio que este estava dando ao
Movimento de 1930, que de acordo Aspásia Camargo “três ex-presidentes da República
Epitáfio Pessoa, Arthur Bernardes e Venceslau Brás” (Camargo, 1980: 19), apoiavam o
movimento em nível nacional.

Segundo o redator da Revolução, o Sr. Agripino Gomes Veado, os motivos pelo qual o
projeto de mudança de nome da rua (proposto na época pelo vereador Cel. Francisco Alves de
Assis Pereira) não foi aceito em decorrência que

“Tendo, porém, a maioria da alludida Camara se collocado ao lado do cattete, contra o nosso
Estado, acendeu-se o ódio contra Arthur Bernardes, um dos maiores brasileiros, do que
decoreu não ter sido, até hoje, realizada a mudança de placas e inauguração do novo nome.”
VEADO, A. G. Rua Dr. Arthur Bernardes. Revolução, Muriaé-MG, p.1D, 11 Out. 1930.

No dia doze de outubro de mil novecentos e trinta foi realizada a solenidade da


colocação das placas da Rua Dr. Arthur Bernardes, segundo o redator Agripino Veado a
cerimônia contou com uma “colossal multidão que, hontem, formando columnas, marchava
para cumprir um dispositivo municipal ha muito existente, deixava transparecer, nas suas
36
aclamações, a sympathia e o inteiro apoio dos muriahenses á causa da revolução.” VEADO,
A. G. Rua Arthur Bernardes. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.

A tentativa no discurso do redator, de valorizar a cerimônia que era uma forma de


legitimar perante o povo o papel e o poder da Interventoria, pois esta era a primeira
solenidade pública realizada, após o surgimento desta instituição. Além disto, fica clara a
tentativa de generalizar o apoio como sendo de todos os muriaeenses, visto que se buscava
ocultar a oposição política no município que era a da facção do Cel. Pacheco de Medeiros.

Uma das características mais marcante da solenidade foram os discursos feitos pelos
atores da política municipal, dentre eles temos Miguel Augusto de Castro (Administrador
Municipal), Agripino Gomes Veado (Secretário da Interventoria), Abílio Lima
(Farmacêutico), Domingos Henriques, Affonso Canedo (chefe político municipal) e o senhor
Francisco Moreira Gomes. O senhor Miguel Augusto de Castro deu início a solenidade lendo
o decreto da lei; em seguida o senhor Agripino Gomes Veado que além de Secretário da
Interventoria, era o orador oficial, “salientou que a inauguração daquellhas placa, embora
realizada em período revolucionário, era, entretanto, o cumprimento da própria lei e que
revolucionário havia sido o gesto da antiga Camara que deixou de cumpril-a.” VEADO, A. G.
Rua Arthur Bernardes. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.

A questão de ver a “revolução” como um período onde à lei fica em segundo plano,
está característico no discurso do orador Agripino Veado, sendo este advogado e conhecedor
das letras da lei, pode ter percebido que de certa forma no período supostamente tido por eles
como revolucionário a uma ausência do cumprimento da Lei. Esta ausência poderia estar
acontecendo em Muriaé como nos atos de destituição de vereadores eleitos pelo povo, como
no ato de requisições e até mesmo de nomeações feitas pela Interventoria Militar.

Em seguida ao orador Agripino Veado, discursou o senhor Abílio Lima residente em


Patrocínio do Muriahé, onde exercia a profissão de Farmacêutico, este exaltou a revolução e
Arthur Bernardes. O senhor Abílio Lima veio junto com o comboio que de acordo com o Ás
Armas trouxe cerca de 300 pessoas de Patrocínio do Muriahé. Mesmo que o número de
pessoas não chegue ao expresso no boletim, é de salientar que segundo Le Goff, “os
fenômenos da memória, tanto nos seus aspectos biológicos como nos psicológicos, mais não
são do que os resultados de sistemas dinâmicos de organização e apenas existem na medida
em que a organização os mantém ou os reconstitui”. (Le Goff, 1990: 424)

37
Seguindo os discursos, o senhor Dr. Domingos Henriques, falou em nome do capitão
Adherbal Ramos, onde procurou agradecer as palavras proferidas pelo redator do boletim. Em
seguida o senhor Affonso Canedo,

“Renovou, perante o povo, o proposito de ser sempre o incançavel amigo que tem sido, o
batalhador de todas as pelejas, exaltando o movimento revolucionário encabeçado por Minas
e agradecendo as referencias que ao seu nome houvera feito dr. Agripino Veado.Referiu-se
ainda o orador com enthusiasticas palavras a Arthur Bernades.” VEADO, A. G. Rua Arthur
Bernardes. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.

Como chefe político municipal, o senhor Affonso Canedo, coloca-se como um homem
“batalhador” e “amigo” do povo, o adjetivo de batalhador representa uma pessoa que luta por
uma causa na qual acredita com extrema convicção, e esta causa seria no caso do senhor
Affonso Canedo uma luta em prol do povo que segundo ele era seus “amigos”, na qual ele os
representava através da luta política. Findando os discursos o senhor Francisco Moreira
Gomes, falhou em nome das forças policiais, onde procurou agradecer os elogios feitos pelos
oradores do comício.

Compreendendo a memória como sendo “propriedade de conservar certas


informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às
quais o Homem pode atualizar impressões passadas, ou que ele representa como passadas.”
(Le Goff, 1990: 423) Assim a luta pela memória oficial se faz presente na colocação das
placas da Rua Dr. Arthur Bernardes, pois o ato de colocar as placas indica uma forma do
grupo político dos Canedos, se posicionarem a favor do movimento de 1930, através de uma
homenagem a um dos lideres do movimento no estado de Minas Gerais que era o senhor
Arthur Bernardes. Além de colocar os seus inimigos políticos que era a facção do Cel.
Pacheco de Medeiros como sendo inimiga dos interesses da Interventoria. O ato de organizar
uma festividade para se colocar as placas, era uma forma da recém inaugurada Interventoria
Militar, ter um contato com o povo e poder materializar para as pessoas seus objetivos, e
buscar o apoio da população para a causa do Movimento de 1930.

4.3. Os editoriais:

O primeiro número do boletim, intitulado de Revolução exprime a idéia que o conceito


de revolução foi colocado pelos contemporâneos, sendo a posteriori caracterizado pela
historiografia atual com sendo um movimento, pois segundo esta corrente este não provocou
transformações profundas nos cenários sociais, econômicos, políticos e culturais.

38
De acordo com Reinhart Koselleck (2006), em seu livro “Futuro Passado:
Contribuição à semântica dos tempos históricos”, o conceito de revolução varia de acordo
com o tempo histórico, sendo que o conceito de revolução no Antigo Regime representava
uma retrospectiva a uma situação anterior, desta forma o conceito de revolução era indicativo
de um movimento cíclico de retorno ao ponto de partida inicial de determinado movimento.
Porém com o advento da Revolução Francesa em 1789, este conceito ganha uma nova
perspectiva, sendo a partir de então indicativo de algo que estaria por vir com a vitória dos
movimentos revolucionários, que passam a romper com o status quo. Assim no mundo
Antigo, revolução era indicativo de volta ao passado, já nos tempos modernos este significa
romper com o passado para construir um futuro diferente.

Percebemos que o conceito de revolução é contemporâneo ao fato em trinta, mas para


podeis caracterizar uma revolução é necessário segundo Gianfranco Pasquino “[...] o uso da
violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de substituir, a fim de efetuar
profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera
sócio-ecônomica.” (Pasquino, 1997: 1121) Quanto ao uso da violência, e da derrubada das
autoridades políticas se fazer representar no Movimento de 1930, esta duas características não
são suficientes para caracterizar este como sendo uma revolução, pois o que de fato ocorreu
em trinta foi uma mudança de comando, entre as facções das elites que estavam alijadas do
poder, que ao chegar ao poder não realizaram profundas transformações.

Segundo Camargo o Movimento de 1930, não foi


“uma revolução no sentido clássico, sobretudo porque não mobiliza de maneira autônoma
classes subalternas, nem por isso deixam de ser relevantes e significativas as transformações
que se desencadeiam no bojo desta revolução das elites. Ela recompõe pactos sociais e pautas
de convivência, na medida que se beneficia dos espaços vazios deixados pelo alijamento dos
antigos quadros, de mentalidade mais rígida Ao mesmo tempo enquadra, temporariamente
isola, expurga, manipula os diversos segmentos da elite e da contra-elite que permanecerão
em cena até os nossos dias.” (Camargo, 1980: 16)
No editorial do primeiro número do boletim que ainda era intitulado de Revolução,
veio o título de Proclamação ao Povo de Muriahé, assinado pelo Interventor Adherbal
Moreira Ramos, que vinha pedir o “apoio” dos muriaeense para as causas da suposta
revolução, que seria responsável pela “obra de libertação, de regeneração política, salvando-se
o Regime Republicano.” (RAMOS, A. M. Proclamação ao Povo de Muriahé. Revolução,
Muriaé-MG, p.1D, 11 Out. 1930.) Fica visível a tentativa de se romper com o passado,
responsável pelos males que aflige a população.

39
Na Segunda Proclamação, feita pelo interventor Adherbal Ramos, percebemos que o
inimigo comum de todos os que participavam do movimento era o Presidente da República
Washington Luis, responsável segundo Ramos “[...] pelos males que nos afflinge, entre quaes
a queda do Café e do Cambio, está prestes a cahir! Ide e dizei a toda gente que a sua política
truculenta, a sua administração fóra da lei, não terá continuador. [...]”. (RAMOS, A. M.
Segunda proclamação ao Povo de Muriahé. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.)

A queda do preço do café e do Cambio, se devia a crise de 1929, que foi uma crise de
superprodução. De acordo com Maria Celina D` Araujo (2004) em seu livro “A era Vargas”,
em meio ao contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as empresas do Estados
Unidos, começaram a exportar em grande quantidade para os país europeus em guerra, com
isto além da produção aumentar, as ações na Bolsa subiram muito, aumentado a chance de
ganho para os especuladores, que cada vez mais procuravam investir na Bolsa de valores.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os países europeus voltaram a ter sua produção
normalizada, além disto, o USA não tinha um mercado interno capaz de acumular toda a
produção, o que acarretará na Crise mundial de 1929, conhecida também como crack ou
crash. Durante a Primeira República a economia brasileira girava em torno das exportações
do café que era o principal produto de exportação, chegando a alcançar em 1930 um total de
69% das exportações nacionais, além de que no contexto internacional, o Brasil era
responsável por 60% da produção mundial do café. Assim durante o período da crise mundial
1929, o café não sendo um produto de primeira necessidade, fez com que as exportações
brasileiras sofressem uma queda significativa no contexto internacional, o que levou nossa
economia a sofrer com a crise.

As acusações feitas à política financeira do presidente Washington Luis, pelo Ás


Armas, tinha seus fundamentos pautados na questão que os paulistas através do Instituto do
Café de São Paulo, eram quem definia as políticas do setor até 1930. O setor do café entrando
em crise logo as acusações seriam direcionadas aos paulistas, tendo como alvo das acusações
o Presidente do Brasil que era paulista.

O município de Muriaé, também foi afetado pela Crise de 1929, em decorrência que
uma das suas principais cultura agrícola era o café. Tal constatação ocorreu através do boletim
e documentos da Câmara, que economicamente indicava que havia alguns problemas no
município durante a década de vinte. Entre estes problemas temos o não cumprimento de um
pagamento de empréstimo da Câmara Municipal de Muriaé, ao Estado de Minas Gerais como
40
indica o documento abaixo, enviado pelo Secretário de Finanças do Estado de Minas Gerais,
que relatava:

“Havendo essa Camara assignado a 3-8-1927 o termo de novação de contractos de


empréstimos, o Estado de Minas, de conformidade com a clausula segunda daquelle pacto,
transferiu a Ella, que ficou obrigada a pagar adeantadamente e nos dias 1º de Janeiro de 1º
Julho de cada ano a quota destinada ao serviço de juros, amortização, ½%, etc., o serviço de
arrecadação das rendas do município. Não tendo essa Camara em cumprimento dessa
obrigação recolhido á Collectoria Estadual, ahi, em 1º de Janeiro deste anno a quota deste
semestre, venho pedir as vossas providencias no sentido de ser satisfeita pela Camara aquella
clausula contractual, lembrando-vos que falta de pagamento implica na rescisão do citado
termo, voltanto, consequentemente, o serviço de arrecadação a ser executado pelo Estado, por
intermédio de seu preposto nessa cidade, independentemente de qualquer aviso ou
communicação a essa Camara (clausula terceira do termo citado). Reitero-vos os protestos de
estima e consideração.” (Secretário de Finanças do Estado de Minas Gerais (nome do
secretario ilegível). [Telegrama] 24 de maio, 1930, Belo Horizonte [para] GERMANO,
Edmundo Rodrigues. Muriahé-MG. 1f. Solicita que a Câmara Municipal de Muriahé, pague
uma parcela referente ao empréstimo feito junto a Secretaria das Finanças do Estado de Minas
Gerais.)

Além da cobrança da parcela de empréstimo citada acima, em um telegrama enviado


ao governo de Minas Gerais, o presidente da Câmara Municipal de Muriaé senhor Edmundo
Germano, deixa transparecer a difícil situação econômica pela qual estava se passando a
Câmara do município, através do seguinte documento:

“[...] Tendo de proceder-se a eleição de Presidente do Estado no proximo mes de maio,


mandei fazer os Biombos, indispensáveis para os trabalhos eleitorais do voto secreto, para 34
secções em que eleitoralmente se divide este municipio. Contractei esse trabalho por R$
4.000$000 quatro contos de reis. Estando esta Camara atravessando um momento de escassos
recursos pecuniarios, venho solicitar-lhe, a bondade de ordenar que nos seja enviada essa
quantia para ocorrer áquella despeza, pelo que seremos muito gratas. [...]” (GERMANO,
Edmundo Rodrigues. [Telegrama] 13 de mar, 1930, Muriahé-MG [para] CAMPOS, Francisco
Luis da Silva. Belo Horizonte-MG. 1f. Solicita que o Secretario do Interior do Estado de
Minas Gerais, envia uma quantia de 4.000$000, para Câmara Municipal pague os Biombos.)

Através dos documentos citados acima percebemos em nosso trabalho que Câmara
Municipal estava passando por falta de numerários, e por meio do Ás Armas, percebemos que
os preços dos produtos subiam rapidamente, chegando até a faltar produtos no município no
período do movimento. Os interventores tabelaram os preços dos produtos no período do
movimento para evitar as oscilações:

TABELLA DE PREÇÕS:
Carne de porco Kº. 2$200
Toucinho Kº. 3$000
Carne de vacca c] osso Kº. 1$500
Carne de vacca s] osso Kº. 2$400
VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

Logo abaixo da tabela citada acima no editorial do dia vinte de outubro de mil
novecentos e trinta, os interventores traziam a seguinte mensagem: “Caso o criador não queira
submeter-se a este preço, será feita a requisição dos seus productos pela Interventoria Militar.
41
Multa para os infractores: - de 20$000 a 200$000 a critério do commissariado.” (RAMOS, A.
M. Segunda proclamação ao Povo de Muriahé. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.)

Outra tabela foi criada, sendo direcionadas para produtos do varejo, segue esta abaixo:

Tabella de Preço para o Varejo:


Feijão Até 2$000 10 Lts.
Arroz:
Agulha 1ª Até 1$000 Lº
Piemonte 1ª Até 1$000 Lº
Piemonte 2ª Até $800 Lº
Meio arroz Até $600 Lº
Sanga Até $400 Lº
Assucar:
Crystal Até $700 Kº.
Refinado Até $800 Kº.
Farinha de mandioca Até $400 Lº.
Fubá Até 1$800 10Lº.
Sal, bruaca 2ks. Até 1$000 Lº.
Toucinho Até 2$800 Kº.
Macarrão Até 1$500 Kº.
Bacalhau Até 3$000 Kº.
Batatinha Até $800 Kº.
Carne de Vaca:
Com osso Até 1$500 Kº.
Sem osso Até 2$400 Kº.
Carne de Porco Até 2$200 Kº.
Leite, garrafa Até $300 Kº.
Leite, litro Até $500 Kº.
Kerozene, garrafa Até 1$000 Kº.
Rapadura Até $300 Kº.
VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 20 Out. 1930.

42
Por meio da tabela anterior, podemos perceber os principais gêneros alimentícios e
produtos que circulavam no mercado de Muriaé em 1930, além conhecer quais produtos
circulava no comércio do município, podemos perceber como que a Interventoria Militar,
procurou no período revolucionário controlar até mesmo o campo econômico através da
tabulação de preços, além de constar a influência da Crise de 1929 no município. Outra forma
de controle foi às requisições feitas em nome da Interventoria, que gerou polêmicas em
decorrência que,

“Medida anormal, inopinada, desconhecida da nossa gente, vocou certo alarme no município,
deu lugar a mal entendido, explorações de boatos tendenciosos que o proprio commando deste
sector houve por bem logo desfazer em portaria que nos dirigiu, quando escreveu: “Como
representante da Junta Revolucionaria, que tem sede em Bello Horizonte, podeis levar ao
commercio a tranquilidade necessária, declarando aos commerciantes que as requisições feitas
em vosso nome são garantidas pelo Governo Revolucionário que as reconhece verdadeiras e
legaes”; (VEADO, A. G. Requisições. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.)

O telegrama citado acima foi enviado pelo Coronel Otto Feio da Silveira, comandante
do primeiro setor revolucionário, este foi publicado no editorial do dia vinte de novembro de
mil novecentos e trinta, com o claro intuito de tentar “controlar” a opinião pública, que pelos
indícios não concordou plenamente com as requisições. De acordo com os representantes da
Interventoria, os motivos das requisições foram que:

“Estabelecida aqui a Interventoria Militar Revolucionária, sem numerario algum para attender
as multiplas, urgentes e imprescindíveis despezas que deviam ser feitas, não podendo obter
recursos da Camara Municipal, achando-se esta em poder dos adversarios e aos quaes foi
tomada sem que em seus cofres fosse encontrado dinheiro algum--- foi mister recorrer ás
requisições militares afim de conseguir os elementos de que carecia para levar por diante sua
tarefa, requisições para quaes estava autorizada.” (VEADO, A. G. Requisições. Ás Armas,
Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.)

Os inimigos citados acima que estavam dominando a Câmara Municipal, era o grupo
político liderado pelo Cel. Pacheco de Medeiros, que segundo o redator da Ás Armas,
Agripino Veado, seria responsável pelo esvaziamento dos cofres municipais. As requisições
feitas pela Interventoria seriam sanadas pelo Comando revolucionário de Minas, pois segundo
Agripino Veado “Entre os seus credores se acham pessoas pobres que necessitam rechaver o
que é seu.” (VEADO, A. G. Requisições. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.)

As requisições foi um dos principais problemas encontrados pela Interventoria Militar,


isto ocorreu em decorrência que um dos ideais da sociedade capitalista, é justamente o
respeito à propriedade privada, e este foi lembrado no primeiro numero da Ás Armas, onde o
Interventor Adherbal Ramos dizia que “respeitadas estarão a Vida e a Propriedade do nosso
co-municipes” (RAMOS, A. M. Proclamação ao Povo de Muriahé. Revolução, Muriaé-MG,
p.1D, 11 Out. 1930.)
43
As principais matérias contidas nos editorias buscavam uma comunicação direta com
o povo, onde se procurava de todas as maneiras fazerem elogios aos muriaeenses, com
palavras direcionadas ao povo como: amigo, laborioso, inteligente, patriótico. Porém, as
matérias editoriais também expressavam as ações, fazia comunicados onde se procurava sanar
problemas de ordem prática da Interventoria, e fazia ameaças aos inimigos do movimento,
que na verdade eram os inimigos da facção políticas dos Canedos.

5-Considerações Finais:

O movimento de 1930 é uma consubstanciação de fatos históricos e transformações


que antecederam o fato em si, estas têm que serem buscadas em toda primeira república, pois
a própria heterogeneidade de seus participantes demonstra o quão difícil é qualificar e
caracterizar o movimento. Desta forma, as análises generalizadas que buscam ou acabam
homogeneizando o movimento de 1930, tende a incorrer em equívocos, visto que,
parafraseando Maria Yedda Linhares, é da história regional que tem que se nutrir a história
geral. (LINHARES, 1997:170)

Em meio a este contexto regional, percebemos que o movimento de 1930 em Muriaé


ganha aspectos peculiares da luta política regional, porque coexistiam duas elites políticas na
cidade, sendo uma controlada pela família Canedos e outra pelo Cel. José Pacheco de
Medeiros. A primeira facção seria a favor do movimento, já a segunda seria contra a
“revolução”, isto fez com que houvesse um contexto de conflito abertos e “de letras negras”
entre as partes.

A criação da Interventoria Militar de Muriaé no dia dez de outubro de mil novecentos


e trinta criou no município uma instituição que em meio ao movimento, veio defender os
interesses dos supostos revolucionários, contudo, a ligação desta com a facção política da
família Canedos, fez com que estes defendessem os interesses deste grupo político, alijando a
facção do Cel. José Pacheco de Medeiros do poder municipal. Isto foi realizado
primeiramente, com a deposição dos cargos de vereadores e Presidentes da Câmara
Municipal, dos correligionários do coronel José Pacheco de Medeiros. Desta maneira, o
movimento de 1930 exprime o interesse de uma elite política que buscava maior
representatividade e participação no poder.

Em meio a estes conflitos políticos, a imprensa é o espaço em trinta (1930) aonde as


propostas e os embates acontecem e são passados para a opinião pública, que julga e apura os
44
fatos, dando aos vencedores seu apoio. A imprensa tendo esta representatividade, um dia após
a fundação da Interventoria, veio à luz o boletim Ás Armas, o principal porta-voz dos
interventores, divulgando seus ideais para o público com a intenção de conquistar seus apoios
para a causa do movimento. Assim, Ás Armas foi fundamental para os interesses dos
interventores, de controlarem as instituições do Legislativo, Executivo e influenciarem no
poder Judiciário, na busca de controlarem o município de acordo com os interesses da facção
política dos Canedos.

Deste modo, o movimento de 1930 em Muriaé se faz sobre o jogo político das elites
municipais, que ditavam as regras da política no município, da forma mais conveniente para
os mesmos. A população mais carente apesar de ser maioria não conduz a discussões, essas
são massas de manobra, na mão das elites políticas, que conduzem a cidade de acordo com
seus interesses particulares e de sua facção política. Assim o Movimento de 1930, mais do
que uma ruptura, o que o caracterizaria como uma Revolução é um movimento de elites,
sendo que, os que lutavam a favor do movimento estariam fora do poder, e buscavam com o
movimento maior participação política, não almejando a priori transformações profundas,
estas ocorreram pela necessidade que as contingências políticas, econômicas e culturais,
posteriores a 1930, forçaram o país rumo à modernização.

45
Fontes Históricas:

Jornais:

VEADO, A. G. Revolução, Muriaé-MG, p.1D, 11 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 13 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 14 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 17 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 20 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 22 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 24 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.1D, 25 Out. 1930.

VEADO, A. G. Ás Armas, Muriaé-MG, p.2D, 09 Nov. 1930.

Telegramas:

GERMANO, Edmundo Rodrigues. [Telegrama] 07 jan. 1930, Muriahé [para] LUIZ,


Washinton., Rio de Janeiro. 1f. Solicita apoio judicial e político para as realizações das
eleições presidências no Brasil em 1930.

Secretário de Finanças do Estado de Minas Gerais (nome do secretario ilegível). [Telegrama]


24 de maio, 1930, Belo Horizonte [para] GERMANO, Edmundo Rodrigues. Muriahé-MG. 1f.
Solicita que a Câmara Municipal de Muriahé, pague uma parcela referente ao empréstimo
feito junto a Secretaria das Finanças do Estado de Minas Gerais.

GERMANO, Edmundo Rodrigues. [Telegrama] 13 de mar, 1930, Muriahé-MG [para]


CAMPOS, Francisco Luis da Silva. Belo Horizonte-MG. 1f. Solicita que o Secretario do
Interior do Estado de Minas Gerais, envia uma quantia de 4.000$000, para Câmara Municipal
pague os Biombos.

GERMANO, Edmundo Rodrigues. [Telegrama] 07 jan. 1930, Muriahé [para] LUIZ,


Washinton., Rio de Janeiro. 1f. Solicita apoio judicial e político para a realizações das
eleições presidências no Brasil em 1930.

46
Mapas:

MURIAHÉ: mapa político e regional. Muriahé-MG: autor desconhecido, 1926. 1 mapa, color,
17,27 X 13,82. Escala 1350.000. Obs.: Mapa cedido pelo Arquivo Público de Muriaé.

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Rio de Janeiro. REVOLUÇÃO DE 1930: SEMINÁRIO INTERNACIONAL. Brasília: Ed.
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