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Gordon H. Clark
Copyright © [1960, 1963] 2012 Laura K. Juodaitis
Publicado originalmente em inglês sob o título
William James and John Dewey
pela THE TRINITY FOUNDATION,
(Unicoi, Tennessee, EUA)
EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 - Sítio: www.editoramonergismo.com.br
1a edição, 2016
1000 exemplares
William James e John Dewey/ Gordon Haddon Clark, tradução William Bottazzini – Brasília,
DF: Editora Monergismo, 2016.
; 21cm.
ISBN 978-85-69980-06-3
CDD 230
Sumário
WILLIAM JAMES
I. INTRODUÇÃO
Contra a ordem
O avivamento do empirismo
Espiritualismo
Idealismo monista
A composição da consciência
Conclusões
IV. PRAGMATISMO
O significado do pragmatismo
Pragmatismo e religião
Críticas concludentes
JOHN DEWEY
I. INTRODUÇÃO
II. CIÊNCIA
Valor
Experimentação
III. ÉTICA
Amostra de opiniões
Valores
Prazeres casuais
Qualidade intrínseca
Certeza ou segurança?
Valor de jure
Ideais maus
Especificações
Implicações políticas
Crítica concludente
IV. LÓGICA
Instrumentalismo
Behaviorismo
Lógica formal
Importação existencial
A lei da contradição
WILLIAM JAMES
I. INTRODUÇÃO
Talvez a primeira coisa que se deva dizer sobre William James ― tendo-
se em vista que a opinião popular considera todo escrito filosófico chato e
deprimente ― diz respeito a seu estilo intensamente interessante. Longe da
técnica dessecada de Aristóteles e Kant, seus escritos combinam o talento
literário de Platão com a sagacidade da Nova Inglaterra. Nestas páginas, um
esquilo corre ao redor de uma árvore e um caçador também circunda uma árvore,
mas será que o caçador circunda o esquilo? Há um trem de passageiros roubados
por alguns bandidos; há também o inquilino cuja conta bancária é inversamente
proporcional à sua honestidade. Sem sombra de dúvida, William James (1842-
1910) é interessante. Sua obra Varieties of Religious Experience [Variedades da
experiência religiosa] prende a atenção mais que Sherlock Holmes, e deveriam
ser lidos os dois volumes de suas cartas pessoais bem como seus títulos
filosóficos.
Por ora, o plano desta monografia é tríplice. O primeiro e indispensável é
uma grande quantidade de exposição. Os alunos, evidentemente, devem ter
alguma ideia do que James ensinava. Visto que A Pluralistic Universe [Um
universo pluralista] e Pragmatism [Pragmatismo] são seus livros mais
característicos, eles fornecerão a maior parte do material. A exposição não
apenas os citará muito, mas grande parte da fraseologia é retirada do texto
mesmo onde as aspas não aparecem. Em segundo lugar, a monografia conterá
certa quantidade de reflexões acerca de pontos especiais entre parênteses.
Algumas críticas, enquanto não suficientemente importantes para serem
colocadas na conclusão, ainda merecem uma menção de passagem. Em seguida,
em terceiro lugar, toda a monografia, escrita de um ponto de vista definido ―
como devem ser todos os escritos filosóficos ―, está projetada para ajudar na
defesa e no desenvolvimento do teísmo cristão. A maior parte da ajuda pode ser
negativa: crítica do posicionamento de James, ou argumentos dele são utilizados
contra outras filosofias não cristãs. No entanto, aí poderia possivelmente emergir
algo mais positivo também.
O primeiro parágrafo mencionou o estilo interessante de James, que é,
contudo, ao mesmo tempo vantajoso e desvantajoso. Talvez James seja popular
demais. Suas ilustrações superam a si mesmas. A ausência da dessecação
aristotélica e kantiana pode significar a falta de exatidão e clareza. Se, por um
lado, a ambiguidade contamina suas proposições, por outro, suas proposições
são inequívocas. Portanto, é melhor começar com os pontos da filosofia
precedente que provocaram sua reação.
II. O CENÁRIO FILOSÓFICO
O século XIX foi caracterizado por duas tendências filosóficas, e ambas
desagradaram a James. A primeira era o idealismo absoluto de Hegel e seus
seguidores de direita. Ele silencia esse tipo de pensamento chamando-o “a
serpente do racionalismo”. Seu argumento será detalhado mais adiante. Na
medida em que o cristianismo exibe características ainda piores, ele também
denuncia o teísmo, tanto nas cartas pessoais como nas publicações formais.
Contra a ordem
Ou, mais uma vez (para James Henry Leuba, 17 de abril de 1904):
Não tenho nenhum senso vivo de relação com um Deus… Ademais, não há nada em mim que
cause alguma reação quando ouço afirmações feitas nesse sentido por outros… Estou certo de
que não são velhos hábitos teístas e preconceitos da infância. Eles são cristãos; eu cresci de tal
modo fora do cristianismo que o embaraço com isso da parte de uma afirmação mística deve
ser abstraída e superada antes de eu poder escutar.
Não acredito que alguém […] possa sustentar que a conformidade precisa e universal dos fatos
à lei esteja provada com clareza, ou mesmo que se tenha tornado particularmente provável, por
quaisquer observações até agora feita [331].
A lei mecânica, que o infalibilista científico nos diz ser a única agência da natureza, não pode
produzir diversificação… Logo, se fatos observados apontam para um desenvolvimento real,
eles indicam outra agência, a espontaneidade — para a qual o infalibilismo não fornece
nenhuma classificação [357].
Não é nem inteligência nem vontade; nem um eu nem uma coleção de eus; nem verdadeiro e
bom, nem belo… É, resumindo, um monstro metafísico… Como absoluto… o mundo repele
nossa simpatia por não ter história… [Ele] nem atua nem sofre; nem ama nem odeia; não tem
necessidades, desejos ou aspirações… [Mas] eu sou completamente finito, e todas as categorias
da minha simpatia estão entrelaçadas com o mundo finito… Se fôssemos apenas leitores do
romance cósmico, as coisas seriam diferentes; nós deveríamos, portanto, compartilhar o ponto
de vista do autor e reconhecer os vilões como tão essenciais quanto os heróis na trama. Mas
nós não somos os leitores, e sim as próprias personagens do drama mundial [47-49].
O mundo em que cada um de nós se sente mais intimamente em casa é os dos seres com
histórias que se passam em nossa história… Sem dúvida é mérito de uma filosofia fazer a vida
que levamos parecer real e sincera. O pluralismo, ao exorcizar o Absoluto, exorciza o grande
desrealizador da única vida em que nos sentimos em casa [49].
“Eu me rendo ao todo perfeito”, escreve Emerson; e onde você pode encontrar um objeto que
mais abra a mente? Quando você aceita a visão beatífica do que é, em contraste com o que
acontece, você se sente como se tivesse cumprido um dever intelectual [51].
O absolutismo, por sua vez, parece sustentar que o termo “alguns” consiste em uma categoria
de todo infectada com a autocontradição e que as únicas categorias consistentes por dentro e,
portanto, pertinentes à realidade são “todos” e “nenhum”.
O todo idealmente perfeito é sem dúvida o todo cujas partes também são perfeitas… O
Absoluto é definido como o todo idealmente perfeito, embora a maior parte de suas partes, se
não todas, seja reconhecidamente imperfeita. Evidencia-se que o conceito carece de
consistência interna… Ele cria um enigma especulativo […] do qual a metafísica pluralista está
livre por inteiro [124].
Não se pode dizer que a consciência do alfabeto não é nada além de 26 consciências, cada uma
de uma letra separada; elas são 26 consciências distintas, de cada letra sem as outras, enquanto
a chamada soma delas é uma consciência, de cada letra com suas companheiras. Há, assim,
algo novo na consciência coletiva [188].
Diga o que se quiser, doze pensamentos, cada um de cada palavra, não são do mesmo tipo
metal que o pensamento da sentença toda. Os pensamentos mais elevados, eu insisti, são
unidades psíquicas, não composições [189].
Nos anos em que ele sustentou esse ponto de vista, James aplicou seus
princípios ao Absoluto com coerência; ou seja, o Absoluto não pode ser a soma
das partes. A grande metáfora transcendental é composta de sílabas e palavras, e
o conhecimento de cada uma delas não garante a compreensão do todo. Então,
nós, seres finitos, conhecemos uma palavra ou frase, mas o Absoluto pensa a
sentença toda. Perceba, também, que o idioma não começou com a invenção de
palavras separadas, mas com o desejo de expressar declarações completas. De
modo semelhante, o Absoluto é a precondição do nosso pensamento finito.
Somos apenas seus fragmentos verbais.
James acredita com muita clareza que essa experiência se aplica às
sentenças e “literalmente à multidão de todos menores de experiência”. De
forma incidental, portanto, é possível sugerir que James não é um empirista
completo. Nestes casos, pelo menos, ele seguiu o procedimento racionalista.
Entretanto, talvez se possa permitir que o pluralista aceite a pluralidade de
epistemologias. Seria monista demais sustentar apenas uma de maneira coerente.
Embora o princípio racionalista se sustente em muitos casos menores,
argumenta James, ele não consiste em auxílio real para o absolutismo. Se
analisada com cuidado, a noção de que somos parte do campo eterno do
Absoluto da consciência traz à tona grandes dificuldades.
Por exemplo, se o Absoluto nos faz ao nos conhecer, não podemos existir
de modo diferente de como ele nos conhece. Ora, ele conhece cada um de nós de
maneira indivisível do restante, como as palavras de uma oração são conhecidas
em conjunto quando a oração toda é compreendida. No entanto, nós mesmos nos
experimentamos de forma ignorante e divisa; temos dúvidas e curiosidades
incapazes de perturbar o Absoluto. Portanto, na verdade, nós existimos, sim, de
modo diferente do conhecido pelo Absoluto.
James admite que o teísmo não enfrenta essa objeção. Distinto do
Absoluto, o Deus do cristianismo, ao criar os homens, dota-os com uma
perseidade que o Absoluto não pode dar. O teísmo pode supor que Deus seja um
agente mental que unifica em uma visão o conteúdo da mente diversa de cada
um de nós. Contudo, o idealismo panteísta — com a insistência que somos
literalmente partes de Deus, ou antes, do Absoluto — não pode permitir que o
homem exista senão como o Absoluto o experimenta.
Todavia, a reflexão ulterior levou James a modificar as objeções
anteriores ao absolutismo inspiradas pela psicologia. Ele estava perplexo,
ressentido e enciumado porque os absolutistas fizeram pouco caso das objeções
como se fossem triviais. Visto que as objeções lhe eram tão pesadas ― elas
pareciam logicamente persuasivas — os absolutistas deveriam ao menos ter
tentado encará-las em vez de ignorá-las. Para James, parecia que os absolutistas
usavam um tipo de lógica intelectual para estabelecer sua posição e, então,
desconsideravam a mesma lógica quando usada para atacá-los.
O absolutismo enfrenta um dilema. Se toda existência é mental, como ele
afirma, então os estados mentais são como aparecem. Ninguém finge que a dor,
como tal, apenas se parece com a dor, mas em si mesma é diferente [dela]. No
entanto, sendo assim, os níveis mais altos e mais baixos no universo não podem
ser entes idênticos, como se afirma.
Ou, os absolutistas podem reter o princípio de que a existência mental é
como aparece e postula um agente distinto de unificação para fazer o trabalho de
um conhecedor de tudo, exatamente como se espera na opinião comum que
nossa respectiva alma ou o eu faça o trabalho de conhecedor parcial. No entanto,
apesar dos protestos de amizade relativos à unidade de apercepção
transcendental de Kant (como se fosse um agente de combinação), o monismo é
insensível à alma ou aos agentes de fala do Absoluto constituídos pelas próprias
experiências finitas. Ele é o alfabeto, e nós somos as letras: na verdade, não
como se o alfabeto fosse algo adicional às letras, mas sim como se fosse apenas
outro nome dado às próprias letras. A forma do todo sem dúvida difere da forma
do cada, mas os conteúdos são os mesmos. No entanto, isso contradiz mais uma
vez o princípio idealista de que um fato mental consiste apenas em sua
aparência; ou seja, o pluralismo é inescapável. É impossível tratar a experiência
coletiva de qualquer grau como logicamente idêntica ao conjunto de
experiências distributivas.
No entanto, James não se satisfaz totalmente com este argumento contra
o monismo. Isso o leva à direção pela qual ele não se importa em seguir. Se, na
psicologia, observamos cada fato mental complexo como uma entidade
separada, suplantando outros erroneamente chamados suas partes — mas sem se
compor deles de fato —, na teologia deveríamos substituir o absolutismo pelo
teísmo. Tal é a força da lógica. Todavia, o teísmo é tão intolerável que agora
somos forçados a questionar nossa lealdade à lógica.
A perspectiva absolutista de permitir inescrupulosamente que campos
mentais se componham para tornar o universo mais contínuo não pode ser uma
contradição encarnada. Ainda que fosse pluralista, James queria ser tão monista
quanto possível. Por isso, se a lógica conflita com a perspectiva absolutista, pior
para a lógica. “A lógica, sendo inferior, a abstração estática e incompleta deve
sucumbir à realidade, não a realidade à lógica” (207). Portanto, os absolutistas
foram justificados no ato de ignorar as objeções à sua teoria.
Assim, James encontrou-se em um impasse, um dilema, ou melhor, um
trilema. Ele se veria obrigado a abandonar a “psicologia sem a alma” (com a
qual toda a sua educação científica e kantiana o comprometeu), e nesse caso
precisaria reintroduzir agentes espirituais que fariam conhecer e combinar os
estados mentais;[3] ou ele teria de confessar que o problema era insolúvel e
desistiria da lógica intelectualista, ou admitiria que a vida é irracional. (Talvez o
leitor possa ser desculpado ao pensar que as duas últimas opções são idênticas.)
Não se pode mergulhar mais fundo no fato de que uma centena de sensações são compostas ou
conhecidas em conjunto pelo ato de pensar que uma “alma” faz a composição do que você vê
em um homem de oitenta anos de vida mediante o ato de pensar nele como octogenário [209-
210].
e por realidade aqui eu me refiro à realidade em que as coisas acontecem, toda realidade
temporal sem exceção. Eu mesmo não encontro nenhuma boa garantia para sequer suspeitar da
existência de alguma realidade de uma denominação mais elevada que a espécie de realidade
distribuída, consentida e fluente na qual nós seres finitos estamos imersos [213].
Assim, o estranhamento fica banido de nosso mundo… Somos, de fato, partes internas de Deus
e não criações externas… No entanto, visto que Deus não é o Absoluto, mas ele mesmo
consiste em uma parte quando o sistema é concebido de modo pluralista, suas funções podem
ser tomadas como não totalmente dissimilares das de outras partes menores… [318].
Toda parte, embora não esteja em conexão real ou imediata, encontra-se, contudo, em certa
conexão possível ou mediada com todas as outras partes, ainda que remota, mediante o fato de
que cada parte permanece unida com seus vizinhos muitos próximos em uma fusão
inextrincável [325].
Tudo que se possa pensar, por mais vasto ou inclusivo, tem sob a óptica pluralista um ambiente
genuinamente “externo”… Nada inclui tudo […] algo sempre escapa… Ainda que possa ser
coletado, ainda que muito possa ser relatado como presente em qualquer centro efetivo de
consciência ou ação, algo mais é autogovernado, ausente e irredutível à unidade [321-322].
o método pragmático em tais casos é tentar interpretar cada noção traçando suas respectivas
consequências práticas… Se nenhuma diferença prática puder ser traçada, então as alternativas
significam quase o mesmo [Pragmatism, 45].
em caução prática… Isso se parece menos como uma solução, portanto, que com um programa
para mais trabalho e, de modo particular, como uma indicação de que forma as realidades
existentes podem ser mudadas. As teorias, assim, tornam-se instrumentos dos enigmas, e não
sua resposta [grifos do autor; 53].
ideias […] se tornam verdadeiras na medida exata em que nos ajudam a entrar em uma relação
satisfatória com outras partes de nossa experiência… Quaisquer ideias nas quais podemos
viajar […] ligando coisas de maneira aceitável, trabalhando com segurança, simplificando,
poupando trabalho, são verdadeiras na quantidade exata, verdadeiras na extensão certa,
verdadeiras como instrumentos [58].
Seríamos melhores por ainda contarmos com o princípio da alma? Suponhamos que ele
anexasse a mesma consciência a diferentes almas, seríamos nós, como nos percebemos, piores
por esse fato? [90-91].
Não faz um pingo de diferença enquanto o passado do mundo seguir […] Imagine, na verdade,
que os conteúdos inteiros do mundo estejam apresentados de uma vez por todas e de modo
irrevogável. Imagine-o acabar exatamente agora e não ter futuro; e então deixe um teísta e um
materialista aplicarem suas explicações rivais à história mundial. O teísta mostra como um
Deus o fez; o materialista mostra, e talvez com igual sucesso, como ele resultou de forças
físicas cegas… O pragmático deve, por conseguinte, dizer que as duas teorias, apesar de os
nomes parecerem diferentes, querem dizer exatamente a mesma coisa [96-97].
As energias de nosso sistema decairão, a glória do Sol se escurecerá… O homem vai para o
fundo do poço e todos os seus pensamentos perecerão… Já a noção de Deus […] garante a
ordem ideal que será preservada de forma permanente [105-106].
nossas formas fundamentais de pensar sobre as coisas foram descobertas por ancestrais remotos
e conseguiram se preservar ao longo da experiência de todo o período subsequente… Fôssemos
lagostas ou abelhas [teríamos desenvolvido outras categorias não humanas]. Pode ser também
(não podemos negá-lo de modo dogmático) que as categorias inimagináveis por nós hoje
tivessem se mostrado em geral tão úteis para lidarmos mentalmente com nossas experiências
quanto as que nós de fato usamos [171].
alguns idealistas parecem dizer que elas [nossas ideias] são verdadeiras sempre que constituem
o que Deus deseja que pensemos sobre o objeto… No entanto, a grande suposição dos
intelectualistas é que a verdade significa em essência uma relação estática e inerte [199-200].
o destino pensado [de alguém] […] e nada mais precisa se seguir ao ápice do destino
racional… Já o pragmatismo questiona… “Suponha que uma ideia ou crença seja verdadeira”,
diz, “que diferença concreta este ser verdadeiro fará na vida real de uma pessoa?… Que
experiências serão diferentes das obtidas se a crença fosse falsa?” [200].
A verdade de uma ideia não é uma propriedade estagnada e inerente a ela. A verdade acontece
com uma ideia. Ela se torna verdadeira, é feita verdadeira pelos eventos. Sua veracidade é na
verdade um evento, um processo: o processo, a saber, da própria verificação, da sua
verificação. Sua validade é o processo de sua válida-ação [201].
Caso eu me perca na floresta e esteja faminto, e encontre algo parecido com uma trilha de
vacas, é de extrema importância que eu pense em uma habitação humana no fim dela, pois se o
fizer, eu me salvarei [203].
A qualidade da verdade, obtida ante rem, significa de forma pragmática que, em tal mundo, as
ideias inumeráveis funcionam melhor pela verificação indireta ou possível que pela verificação
direta e real. A verdade ante rem significa só a verificabilidade [220].
Qualquer uma das hipóteses é legítima na ótica pragmática, pois qualquer uma delas tem seus
usos… Em sentido abstrato […] o conceito de mundo absoluto é indispensável. Tomado em
sentido concreto, ele é também indispensável, ao menos para certas mentes, pois os determina
de forma religiosa… Não se pode, portanto, unir metodologicamente os empiristas de mente
estreita na rejeição da noção toda de um mundo além de nossa experiência finita. Uma
incompreensão do pragmatismo é identificá-lo com a estreiteza de mente positivista… Tenho-o
[pragmatismo] oferecido o tempo todo expressamente como um mediador entre a estreiteza e a
brandura de mente. Caso se possa provar que a noção de um mundo ante rem […] implica
qualquer tipo de consequência para nossa vida, ela tem um significado. Se o significado
funcionar, ele terá alguma verdade que deveria ser sustentada por meio de todas as
reformulações possíveis ao pragmatismo. A hipótese absolutista — do caráter eterno,
aborígine e realíssimo da perfeição — conta com um significado perfeitamente definido e
funciona religiosamente [266-270].
Pragmatismo e religião
homens infelizes que consideram impossível a salvação do mundo. Sua doutrina consiste no
pessimismo. O otimismo, por sua vez, seria a doutrina de quem considera inevitável a salvação
do mundo. No meio termo se encontra o que pode ser chamado doutrina do meliorismo [285].
Suponha que o autor do mundo exponha a situação a você antes da criação, dizendo: “Farei um
mundo incerto de sua salvação, um mundo cuja perfeição será apenas condicional — cada um
dos diversos agentes fará o melhor que puder. Eu lhe ofereço a chance de tomar parte nesse
mundo. A segurança dele, como você percebe, não está garantida. É uma aventura real, com
perigo real, embora possa superar as dificuldades. É um esquema social de trabalho
cooperativo genuíno que deve feito. Você se juntará ao desfile? Confiará em si mesmo e nos
outros agentes o suficiente para enfrentar o risco?”.
Com toda a seriedade, você se sentiria, se a participação nesse mundo lhe fosse proposta,
compelido a rejeitá-la por segurança insuficiente? Você diria que, em vez de consistir em uma
parte e parcela do universo tão fundamentalmente pluralista e irracional, sua preferência
recairia no torpor do qual foi momentaneamente despertado pela voz do tentador?
É claro que, sendo normal sua constituição, você não faria nada do tipo. Há certa disposição à
mente saudável na maior parte de nós para a qual o universo combinaria com exatidão. Nós,
portanto, aceitaríamos a oferta — “Topp! Und schlag auf schlag!” [Feito! E rápido].[5] Seria
exatamente como o mundo em que vivemos na prática; e a lealdade à Natureza, nossa nutriz,
nos proibiria de dizer não. O mundo proposto nos pareceria “racional” do modo mais vivo
[290-291].
Não pode haver dúvida de quando os homens são reduzidos ao ponto extremo da doença, o
absolutismo é o único esquema salvador. O moralismo pluralista apenas faz seus dentes
rangerem; ele lhes refrigera o coração dentro do peito [293].
Nesse universo perigoso, que pode ser salvo ou não, James conta com a
ajuda, não só de seu colega o homem, mas também de um deus finito, ou deuses.
Nós, seres humanos, nos relacionamos com o universo tanto na mesma medida
que nossos animais de estimação, caninos ou felinos, se relacionam conosco:
Eles habitam nossas salas de estar e bibliotecas. Tomam parte em cenas de cujo significado não
suspeitam. São apenas tangentes de curvas da história: o começo, o fim e as formas do que
passa muito além de seu conhecimento. Logo, somos tangentes da vida mais ampla das
coisas… Portanto, podemos bem acreditar, com a prova fornecida pela experiência religiosa, na
existência de poderes mais elevados que trabalham para salvar o mundo em linhas ideais,
similares à nossas [300].
Críticas concludentes
Dewey considerava a sociedade moderna frustrada por causa da adesão incoerente a dois ideais
conflitantes. Herdado dos gregos, o apreço à teoria e o desdém à prática, a teoria espectadora de
conhecimento, a retirada para uma torre de marfim. Este ideal tem sido reforçado pela aprovação religiosa
da contemplação espiritual bem como pelo racionalismo autossuficiente do idealismo absoluto. Já a ciência
moderna — pelos métodos experimentais, pela manipulação de corpos físicos e aplicações práticas —
contribuiu para o controle da natureza e para a comodidade e o conforto. Embora possamos confessar,
envergonhados, que tais desenvolvimentos materialistas são nossos objetivos finais e possamos falar dos
ideais gregos e cristãos da boca para fora, continuamos direcionando a maior parte de nossa energia na
direção moderna. Isso não é apenas a ruptura entre o que falamos e fazemos, mas envolve, também, dois
métodos incoerentes de proceder. Nossos valores professados se baseiam nas filosofias não empíricas do
passado, enquanto a vida diária é controlada pela prática e experimentação. Assim, a ciência moderna
causou a ruptura entre nossos interesses diários e nossa fé com respeito ao destino eterno e à natureza da
realidade última. Assim, o problema principal da filosofia contemporânea é unificar as visões divididas do
homem sobre o valor e a natureza. O sucesso retumbante da ciência experimental nos campos limitados em
que ela tem assumido o controle é a promessa da integração efetiva no campo mais amplo da experiência
humana coletiva.[6]
Valor
A situação completa, contudo, não é tão simples como essas poucas linhas parecem sugerir, pois a
ciência moderna, ou melhor, a teoria científica moderna, tem de fato contribuído para agravar a dificuldade.
A versão filosófica do conflito popular entre ciência e religião é a acusação — substancial — de que a
ciência despojou o Universo de todo o valor. Quando Galileu desviou a atenção das qualidades dos corpos e
iniciou um estudo quantitativo, estabeleceu as bases da perspectiva que reduziria o quente, frio, doce e
amargo a qualidades “secundárias” existentes apenas na mente, não no mundo real. Por óbvio, os valores
seriam ainda menos reais. O mundo real tornar-se-ia, assim, uma escuridão infinita onde matéria morta era
movida por forças insensatas. Quando se julga que a ciência deve atingir a realidade última, e se pensa que
ela não atinge valores, diz-se que a ciência eliminou os valores.[7] Essa conclusão insustentável, uma
inferência válida a partir de Galileu e Newton, surgiu dessas duas noções equivocadas sobre a natureza da
ciência e a função da experimentação. Se, contudo, a ciência não revela a natureza real do ser antecedente,
mas é entendida operacionalmente, os valores podem ser salvos, a experimentação estendida e o conflito
moderno entre ideais concorrentes pode ser resolvido.
Experimentação
Qualquer que seja o defeito na filosofia newtoniana de ciência, não é a confiança na
experimentação. Aristóteles observava, mas a ciência moderna experimenta. Em vez de apenas contemplar
o objeto e esperar descobrir sua “forma” fixa e característica, o físico ou químico age sobre ele. Ele o tritura
ou dissolve; faz passar uma corrente elétrica por ele; aquece-o ou o congela; em suma, faz coisas com ele.
Se o astrônomo não pode manipular as estrelas, pode ao menos agir sobre sua luz, fazê-la passar por
prismas ou golpeá-la para frente e para trás com espelhos.[8]
O propósito imediato dessas operações é estudar mudanças. Em vez de tentar definir algo que
permanece constante nas mudanças, o cientista busca relações constantes entre as mudanças.[9] O propósito
mais amplo da ciência é o sistema de mudanças interconectadas; e embora a leitura do barômetro não possa
impedir a chuva indesejada, ela nos capacita a mudar a relação com a chuva pela plantação de um jardim,
pelo porte de um guarda-chuva ou pela alteração do curso de um navio. Por meio do conhecimento de
mudanças correlacionadas, portanto, podemos controlar ou produzir as qualidades desejadas. Terras áridas
podem ser irrigadas ou água potável pode ser produzida a partir do oceano.[10]
Essa ênfase no controle para fins de experiências não cognitivas mostra que a ciência, em vez de nos
dar conhecimento sobre realidades antecedentes, constrói novos objetos de conhecimento. Os velhos
objetos — as coisas comuns: chuva, sal, chumbo, estrelas — são objetos qualitativos de prazer. A ciência
expressa suas mudanças na forma quantitativa ou matemática. Isso torna os velhos objetos candidatos a
receber novas qualidades e significados para servirem a novos fins. Objetos naturais não mais têm fins fixos
em si mesmos. Mas no que tange ao conhecimento, como distinto do prazer, ele é o experimento em si —
os resultados de operações planejadas —, que “forma os objetos que têm a propriedade de serem
conhecidos”.[11]
A distinção entre experiência cognitiva e não cognitiva ― o efeito do experimento em construir
objetos de conhecimento, bem como o controle e a produção de qualidades desejadas ― é posteriormente
esclarecida pela visão de Dewey do que é de fato um conceito científico. Um conceito não é elemento de
informação sobre um ser independente e antecedente. Não é uma revelação de que a realidade está
despojada de qualidades secundárias. Ao contrário, conceitos científicos são planos de ação. Por exemplo, a
análise da água como H2O não nega que a água é molhada e sacia a sede. A água é tudo o que a experiência
comum diz ser. Contudo, o termo água não relaciona a substância comum a gelo e vapor. A fórmula
química não só expressa essas relações, como também relaciona a água com outros elementos químicos.
Assim, o conceito científico, como parte da teoria química desenvolvida, é em essência a afirmação de
como produzir água, hidrogênio, oxigênio ou outros compostos desejados.[12]
De modo geral, um conceito é definido por operações. Massa não é quantidade de matéria; é o
conjunto de operações usadas quando se trabalha com tal fator numa fórmula. Comprimento significa os
movimentos pelos quais se passa quando se faz uma medição. Esse operacionalismo confere às ideias uma
origem empírica, não no sentido antigo da recepção passiva de qualidades sensoriais, mas no sentido
experimental de atos que devem ser realizados. As qualidades sensoriais têm importância, sem dúvida, mas
só como consequências de ações intencionais. Qualidades são fins a serem produzidos. O conceito é o
método de produção; ele é a declaração, não do que é ou foi, mas de atos a serem realizados.[13]
Newton era demasiadamente metafísico; seu empirismo era defeituoso. Ele acreditava que para
explicar a natureza eram necessárias partículas permanentes. Embora alegasse bases sensoriais para
presumir a existência dos átomos, e não lhes desse outras propriedades além das pertencentes a todos os
corpos da experiência sensorial, a crença de que permanentes não observáveis são necessários para evitar o
colapso no caos resulta do temor metafísico, não empírico.[14] Assim também, sua estrutura independente
de espaço e tempo é metafísica, não obstante as dificuldades científicas de se observar movimentos
simultâneos serem apenas recentemente apreciadas. Muito tempo atrás os princípios de Newton foram
atacados em relação à lógica. Sua hipótese de que a partícula e a velocidade poderiam ser determinadas
isoladamente de outras partículas e velocidades é incompatível com a outra hipótese da interação contínua
de todas as partículas. A princípio isso não fazia nenhuma diferença observável. Mais tarde, o experimento
Michelson-Morley revelou a discrepância entre a velocidade da luz e a teoria da dinâmica. Newton pensara
ser possível determinar a simultaneidade de dois eventos mesmo quando eles não estão no mesmo campo
observacional. Einstein exigiu o que Newton não podia fornecer: o método empírico para determinar a
simultaneidade. Como isso não era algo vindouro, Einstein manteve o experimento, mas alterou os
conceitos. Isso resultou na abolição dos absolutos de Newton e na formação de conceitos derivados de
operações reais. Quando as operações mudam, como constantemente se dá ao se realizar uma
experimentação, os conceitos também devem mudar.[15]
Talvez isto seja tudo que se pode dizer da filosofia de ciência de Dewey sem avançar até as
aplicações éticas ou o fundamento na teoria mais geral do instrumentalismo. Embora o presente estudo seja
concluído com uma crítica severa a Dewey, deve-se dizer aqui que o operacionalismo na física não
necessariamente permanece ou cai com o uso geral de Dewey. Talvez ele seja uma perspectiva de ciência
totalmente sustentável. Fórmulas químicas não podem nos dar nenhum conhecimento de seres antecedentes.
Talvez o espaço e o tempo, enquanto conceitos físicos, não passem de um conjunto de movimentos em
laboratório. De qualquer modo, a rapidez com que as teorias científicas do passado recente foram
inventadas, aceitas e descartadas nos serve de alerta de que a ciência não é uma verdade fixa e absoluta. A
ciência newtoniana durou dois séculos. A ciência hodierna dificilmente durará duas décadas. O
operacionalismo é uma descrição muito plausível do que a ciência é na prática. Mas se o operacionalismo e
a teoria geral do instrumentalismo podem fornecer a base sólida para a ética, é uma questão totalmente
diferente. Para desenvolver a resposta a essa questão, é necessário fazer um relato bastante cuidadoso das
opiniões de Dewey sobre a ética e os valores.
III. ÉTICA
Visto que a análise abstrata de valor poderia se provar uma introdução confusa às especulações
éticas de Dewey, far-se-á primeiramente uma seleção aleatória de suas propostas concretas para a política,
para a economia e para a moralidade. Elas mostrarão o que Dewey pretende justificar com seu método
subjacente. O método de justificação poderá ser assim discutido de maneira mais inteligente.
Amostra de opiniões
Como primeiro exemplo das recomendações específicas de Dewey, sua oposição à pena capital é
esclarecedora. Uma teoria de justiça, argumenta ele (Human Nature and Conduct, Capítulo I), que exige a
vindicação da lei sem atentar à instrução e recuperação do malfeitor é a recusa em reconhecer a
responsabilidade e a erupção sentimental que torna o criminoso uma vítima sofredora. Se a pena capital
ignora a responsabilidade, isso depende da ideia de culpar pelo assassinato a sociedade tanto quanto se
culpa o assassino. Cometer um homicídio não é por certo um crime tão horrível quanto destruir o direito de
viver do criminoso; e, por conseguinte, a lei penal deve buscar apenas a reabilitação do agressor.
O segundo exemplo diz respeito às suas teorias educacionais, das quais se encontra uma pálida
insinuação no mesmo livro (Human Nature and Conduct, Capítulo II, Seção 2). Os pais ensinam os filhos a
se conformar com o costume porque desconfiam da inteligência da criança. Os hábitos morais assim
ensinados se tornam profundamente arraigados e governam o pensamento consciente posterior. Esses
infantilismos são mais “i-na-tin-gí-veis” precisamente onde o pensamento crítico se faz mais necessário —
a saber, na moral, na religião e na política. Infelizmente, esses irracionalismos são muito numerosos, e se
alguém fosse listá-los e buscasse sua erradicação, admite Dewey, seria provavelmente expulso da sociedade
respeitável. Assim, ao que parece, a moral de Dewey era consideravelmente diferente da tida como
respeitável na época em que ele viveu.
Algumas das tendências políticas de Dewey são indicadas no penúltimo capítulo do mesmo livro.
Ele rejeita os princípios liberais clássicos (como é comum nos “liberais” do século XX) e encoraja a
regulação governamental. “Ache um homem”, diz ele,
que acredita que tudo o que os homens precisam é liberdade das medidas opressivas legais e
políticas, e você terá um homem que, a menos que esteja apenas resguardando de forma
obstinada os privilégios pessoais, traz em sua nuca alguma herança da doutrina metafísica do
livre-arbítrio, acrescida da confiança otimista na harmonia natural.[16]
Essa sentença sem dúvida distorce a verdade. Provavelmente ninguém diria que liberdade da
opressão é tudo de que um homem precisa; ainda assim, isso não torna tal liberdade menos desejável.
Dewey usa os termos preconceituosos obstinação e privilégio pessoal em lugar do conceito de direitos
pessoais inalienáveis. Ademais, algumas pessoas se opõem ao totalitarismo não porque acreditam no livre-
arbítrio nem porque são otimistas, mas porque acreditam na depravação humana. Elas acreditam que não se
pode confiar poderes demais aos homens. Seja como for, a preferência de Dewey por controles
governamentais é clara. Ele não apresenta qualquer objeção teórica à coerção, pois mais adiante diz que se
um homem deve ou não ser forçado a filiar-se a um sindicato contra sua vontade, não é uma questão de
princípio, mas uma questão experimental a ser decidida cientificamente com base em consequências
concretas. Como, porém, o coersor e a vítima por óbvio avaliarão as consequências de modos diferentes,
torna-se questão importante exigir a análise posterior de como essas consequências concretas podem
determinar o que deve e o que não deve ser feito.
O teor dessas passagens é reproduzido algumas vezes. Com bastante frequência, controvérsias
filosóficas específicas são resolvidas pelo viés social. Por exemplo, a teoria das leis fixas da natureza, diz
ele, retardou o avanço social, pois considera a regulação do governo uma interferência. De fato, pareceria
que a ciência em geral não é controlada por interesses de classe e, portanto, a sociedade deveria ser
reconstruída.[17] Clamando pelo controle amplo sobre os indivíduos,[18] se não acaba de fato impugnando
a honestidade dos seus oponentes, ele ao menos fala de forma ríspida. Ele ataca a “asserção clamorosa” dos
“que têm gozado do poder e da regulação sobre outros seres humanos em razão da estrutura existente nas
instituições políticas, eclesiásticas e econômicas” e então questiona “teríamos razões para acreditar que a
preocupação deles com os valores humanos é honesta?”. Poder-se-ia bem parar por um momento para
comparar esta objeção à regulação por outros seres humanos com a própria exigência de Dewey por uma
teoria científica das causas do desejo para podermos levar os homens a ter os desejos “corretos” e, assim,
manipulá-los como agora manipulamos as coisas físicas.[19]
Em A Common Faith Dewey apresenta suas principais ideias sobre a religião. Em essência, a
religião é a tentativa de se ajustar às situações reais da vida, e essas experiências valiosas devem ser
emancipadas das formas históricas das religiões organizadas, repulsivas à mentalidade moderna. Como as
situações mudam de época para época, a religião também deveria mudar. Características doutrinárias,
intelectuais e institucionais são acréscimos adventícios. Talvez não se deva dizer que a religião é idêntica à
moralidade, pois a moralidade deve incluir uma série de responsabilidades diárias menores, ao passo que a
religião é uma preocupação com ideais inclusivos que produzem autointegração e introduzem uma
perspectiva nos episódios mutáveis da existência. Se poucas pessoas têm muito ardor religioso, a falta
reside não tanto no poder dos ideais quanto na dissipação desse poder em fantasias sobrenaturais
irrelevantes à vida real. Essa atitude obscurece os valores distintamente religiosos inerentes à experiência
natural. Portanto, esses valores reais deveriam estar divorciados de credos e cultos, pois esses valores não
estão atrelados a qualquer item de assentimento intelectual, como a existência de Deus. Os detalhes da
religião devem ser buscados por meio da única entrada para o conhecimento que existe, a saber, a ciência. O
conhecimento científico pode mudar com constância, mas não há outra fonte de conhecimento. Ou, mais
precisamente, a ciência não é um corpo de conhecimentos fixos: é um método. Isso não exclui Deus, pois
Deus pode ser definido como a unidade e todos os ideais que despertam o desejo e a ação. Qualquer outra
concepção de Deus — transcendental ou sobrenatural — é apenas o apelo à força, pois tudo o que a
existência sobrenatural pode acrescentar à realidade dos ideais é o poder de punir e recompensar. Há ainda
outra dificuldade: a do problema do mal.
Quaisquer que sejam os padrões propostos por Dewey, eles não podem
ser considerados normas fixas e formais para todos os seres humanos. Por ora,
uma citação será suficiente:
Instituímos padrões de justiça, de verdade, de qualidade estética, etc. […] exatamente como
estabelecemos uma barra de platina como padrão métrico para o comprimento. O padrão está
tão sujeito à modificação e revisão em um caso quanto no outro com base nas consequências de
sua aplicação operacional… A superioridade de uma concepção de justiça em relação a outra é
da mesma ordem da superioridade do sistema métrico […] embora não seja da mesma
qualidade.[21]
Juízos de valores são juízos sobre as condições e os resultados dos objetos experimentados;
juízos sobre o que deveria regular a formação de nossos desejos, afeições e prazeres.[32]
Prazeres que saem da conduta direcionada pelo conhecimento das relações têm significado e
validade devido à maneira como são experimentados. Desses prazeres não devemos nos
arrepender; eles não geram nenhum travo de amargura.[34]
No caso de Billy Bones, a maioria de nós decidiria que o rum seria algo
de não valor, pois suas relações, condições e consequências envolviam a morte.
Mas Billy Bones aparentemente pensava que a vida sem rum fosse pior que a
morte. O mero exame e a listagem das causas e das consequências não garantem
o acordo em relação ao valor. Os mártires cristãos primitivos sabiam da
consequência da recusa de negar a fé e escolhiam a morte de modo mais
deliberado que o capitão Bones. Devemos dizer que — pois tanto o pirata quanto
os mártires examinavam as relações, interações, causas e condições — seus
prazeres são igualmente valores de jure que não possuem nenhum gostinho de
amargura? E admitirá Dewey que as escolhas deles são tão satisfatórias quanto
as suas?
Aqui o argumento de Dewey depende de três suposições relacionadas: os
prazeres casuais não são valores, os valores são meios para fins e os prazeres
escolhidos à luz de suas relações não são algo de que nos devamos arrepender.
Ele fornece um exemplo. O aquecimento e a luz elétrica bem como a velocidade
do transporte e da comunicação foram obtidos não por enaltecimento de sua
conveniência, mas pelo estudo de suas condições. “Tendo-se obtido o
conhecimento das relações, a habilidade para produzir se seguiu e o prazer se
seguiu de modo natural”.[35]
Se este exemplo tinha a intenção de mostrar como o método científico
pode produzir ideais, resolver o problema da ética e assegurar os bens — e esta
parece ter sido a intenção do exemplo; ou seja, caso se esperasse que o exemplo
respondesse às críticas anteriores — ele não é convincente. Sem dúvida, o
método científico assegura a rapidez dos transportes, mas o prazer e a satisfação
não se seguem de forma natural. A velocidade nos transportes e na comunicação
ajuda a tornar a guerra mais horrível. O conhecimento das relações e a
habilidade para produzir podem ser direcionados para fins dolorosos com tanta
facilidade quanto para fins prazerosos. Em ambos os casos, os meios são
variáveis para a produção dos fins; e o agente pode ter um conhecimento
exaustivo das causas, condições, consequências, interações e conexões; mas
Dewey admitirá que, portanto, uma via de ação vale tanto quanto a outra? Ele
pode sustentar que a eficiência per se é a razão última para a escolha?
Um sujeito vestido de forma desalinhada conseguiu passar pelo porteiro
de um hotel pomposo e caminhou até o mezanino. Ali, o detetive o encontrou e o
lançou a pontapés escada abaixo para o saguão. O porteiro aproveitou para
agarrá-lo de supetão e lançá-lo a pontapés no meio da rua. De lá, o vagabundo
olhou para trás admirado e exclamou: “Uau, que sistema!”.
Em outras palavras, não deve haver um valor, bem, fim, cuja bondade
intrínseca possa motivar a escolha antes que o conhecimento dos meios, das
condições e das circunstâncias nos leve a garanti-lo? A ciência pode justificar
ideais?
Ideais maus
É teoricamente concebível que devesse haver uma teoria ética preocupada científica e
objetivamente com as condições causais e com as consequências concretas deste e daquele
desejo. As dificuldades práticas no caminho são imensas. Foi feito somente um pequeno
começo. Mas, fossem as empresas perseguidas, desenvolver-se-iam, conforme amadurecessem,
técnicas para lidar com a natureza humana como nós as temos agora para a natureza física.
Estas técnicas não consistiriam na manipulação da natureza de fora porque exigiriam respostas
cooperativas voluntárias para a sua realização. Tal ciência e tal técnica não são conspícuas por
sua ausência.[47]
Dewey não pode responder à objeção. Mas nós podemos, por meio de
uma ilustração, examinar como um de seus defensores tenta descartar a objeção
de que princípios normativos não podem ser deduzidos de declarações
descritivas.
O professor Geiger começa notando que os cientistas atômicos estão
enfrentando problemas morais: “O cientista amoral não é exatamente um ser
humano completo”.[53] Mas isso só mostra que o homem pode ser moralista e
cientista. Está longe de mostrar que valores e princípios não nativos podem ser
gerados fora das declarações científicas descritivas. Mais adiante (p. 121), ele
diz que a maior parte das questões morais não é levada ao bem último. Isso pode
ser uma declaração descritiva verdadeira de quão incompleto é o pensamento da
maior parte das pessoas, mas a defesa de Dewey requereria razões para o fato do
apelo ao último nunca ser necessário. Geiger insiste na necessidade de saber os
meios para o fim, mas nenhuma razão é dada para aceitar o fim. Por último, o
autor confunde a questão: “Todo o argumento de Dewey se baseia na premissa
de não haver substituto para o conhecimento autenticado ao lidar com os
problemas onde eles possam ocorrer” (p. 135). Sem dúvida, isso é plausível e até
mesmo verdadeiro. Mas não tem relação com o assunto. Pode-se também
argumentar que, visto não haver substituto para o hidrogênio na água, segue-se
que o hidrogênio não é necessário. Admitamos que certa quantidade de
“conhecimento autenticado” seja necessária para realizar um propósito;
admitamos que o conhecimento dos meios seja importante; isso ainda não
contribui para mostrar de que forma os meios ou valores podem ser gerados do
modo alegado. Quando o oponente de Dewey faz o pedido sensato de que se
mostre um exemplo, a substituição do apelo esperançoso sobre o futuro pelo
sucesso realizado no passado não é satisfatória; ela não funcionará.
A disparidade entre os princípios normativos e as declarações descritivas
é uma das objeções básicas ao naturalismo. Não raro, nos arriscaremos a dizer,
tentativas de responder a essa objeção normalmente sempre fogem da questão.
Para tornar a evasão mais aparente e mais embaraçosa, mais um exemplo será
adicionado.
A vida vale a pena ser vivida?
Visto que cada caso especial do conhecimento é constituído como resultado de alguma
investigação especial, o próprio conceito de conhecimento só pode consistir na generalização
das propriedades descobertas como pertencentes a conclusões resultantes de investigação. O
conhecimento, como termo abstrato, é o nome para o produto de investigações competentes.
[70]
O sr. Murphy não é o único a estar perturbado com minha negação de que as condições
antecedentes constituem os objetos do conhecimento. Se escrevo algo afirmando que os objetos
antecedentes não são capazes de ser conhecidos e não são realmente conhecidos, se, no dizer
do sr. Murphy, afirmei a sua “inacessibilidade”, qualquer pessoa, incluindo a mim mesmo,
deveria ficar perturbada… Em vez de negar que as condições antecedentes não percebidas são
objetivas do conhecimento no primeiro contexto, eu explicitamente declarei que nenhum
problema relacionado às questões existenciais pode ser resolvido a não ser pelas investigações
que assegurem as condições antecedentes não observadas previamente.[91]
Dewey, a seguir, continua dizendo que os objetos antecedentes não são o
objeto completo e final do conhecimento e não satisfazem as condições da teoria
generalizada do conhecimento porque também o conhecimento — e sobretudo
ele — faz uma referência futura.
Portanto, deve-se perguntar, como o crítico de Dewey volta ao ponto que
ele alega ter explicado de maneira tão explícita. Os críticos estão desatentos ou
talvez sejam um pouco chatos? Bem, poderia ser que as respostas de Dewey às
suas críticas pareçam inadequadas? Dewey confia aqui em algum tipo de senso
comum não autorizado por sua teoria? Sem dúvida, o professor Blanshard não
havia falhado ao considerar a alegada distinção de Dewey entre o assunto
antecedente e a referência futura do juízo. Sua crítica não surge devido à
desatenção, mas porque sua muita atenção o convence de que a distinção não
pode se encaixar na teoria de Dewey.
O professor Blanshard tenta aplicar a distinção à afirmação histórica de
que Swift se casou com Stella. O assunto em que a conclusão biográfica se
coloca é toda a evidência aceita. Qual é, pois, o objeto ou o significado da
conclusão? Poderia esperar-se que o significado se encontrasse nas
consequências futuras, nos planos de ação, na antecipação das coisas por vir.
Mas Dewey diz que o objeto é mais complicado que isso. O significado do juízo
histórico é o contínuo inteiro dos eventos que se estendem das consequências
passadas até às consequências presentes e futuras: “O passado por si e o presente
por si são, ambos, seleções arbitrárias que mutilam o objeto completo do juízo”.
Embora a interpretação do juízo histórico seja engenhosa e plausível, o
professor Blanshard a considera insustentável. O evento passado não pode ser
identificado como o assunto ou o significado. Se fosse o assunto, a afirmação
Swift se casou com Stella seria um fato considerado certo sobre cuja base outro
juízo seria inferido. No entanto, a própria afirmação é o ponto de investigação.
Trata-se, de forma exata, do que não é dado por certo. E a afirmação tampouco
pode ser identificada como o significado. O evento passado sem dúvida não
pode ser o contínuo temporal do passado, do presente e do futuro. O professor
Lovejoy havia feito um comentário incisivo sobre o ponto: Dewey acredita se
sentir aliviado de toda a preocupação lógica acerca da referência primária ao
passado quando mostra que um juízo retrospectivo contém uma referência
implícita ao futuro. A disputa principal do instrumentalismo é que o pensamento
consiste no ajuste orgânico para a realização de algo. A teoria exige a exclusão
de referências ao passado e a tentativa de Dewey de tornar a história plausível é
uma reflexão posterior não assimilada. A investigação histórica (qualquer que
seja o fim prático que também possa ter) não se encontra de maneira manifesta
em suas afirmações centrais, nada preocupada com a ação ou com o controle,
nem com nenhuma consequência futura.
Dada a continuidade temporal, qual é a relação das proposições sobre uma sequência passada,
duradoura e extensiva para proposições com o presente e o futuro? O contínuo histórico
envolto em proposições assumidamente históricas do passado é localizado no passado ou se
estende e inclui o presente e o futuro?
[A teoria de Dewey sobre a investigação] refere-se a nós e não à teoria do papel das ideias
como instrumentos para alterar de tal maneira a situação presente indeterminada que uma
experiência futura a ser usufruída — em si mesma não cognitiva, mas válida —transcorrerá
com confiança a partir do uso de procedimentos que provaram seu valor instrumental relativos
a essa capacidade.[93]
Afirmei que as ideias estão correlacionadas, de forma estritamente conjugada, com o material
discriminado na observação, sendo que aquela serve para indicar uma solução operativa
possível e este, para localizar e delimitar o problema a fim de que a situação resolvida seja
alcançada (se for alcançada) pela interação operacional com cada um dos conteúdos
observados e ideacionais.
No caso de nenhum outro mecanismo agir assim, supõe-se que a máquina defeituosa forneça
bons produtos apenas por ter sido convidada a… A recusa em reconhecer esse fato só conduz à
separação da mente em relação ao corpo, e à suposição de que os mecanismos mentais ou
“físicos” sejam de tipos diferentes dos das operações corporais e independentes delas.[95]
Embora a teoria psicológica envolvida seja uma forma de behaviorismo […] o comportamento
não é considerado algo ocorrente no sistema nervoso, ou sob a pele de um organismo, mas
sempre uma interação com as condições do entorno — de forma direta ou indireta, de caráter
premeditado óbvio ou a certa distância, por meio de um número de ligações intervenientes.[97]
Isso é, com efeito, o que ele já havia dito: “Os hábitos incorporam um
ambiente consigo mesmos. Eles são ajustes do ambiente, não só ao ambiente”.
[98] Sua resposta a Parodi surte o mesmo efeito. A qualidade como o vermelho,
diz Dewey, ocorre como qualquer outro evento natural, dentro ou fora do
organismo:
Não há passagem do físico para o mental, de um mundo externo para algo sentido… No
entanto, quando uma qualidade é classificada como “sensação” […] é então colocada em uma
conexão especialmente selecionada, com o organismo ou com o eu. Dependendo do resultado
da investigação ainda não completa, não se pode saber se uma qualidade, por exemplo, o
vermelho, pertence a este ou àquele objeto no ambiente nem, com efeito, se pode ser o produto
de processos intraorgânicos, como no caso de “ver estrelas” após uma pancada na cabeça. Em
outras palavras, a ocorrência de qualidades sobre minha visão é um evento puramente mental.
[99]
Generalizando além das exigências estritas da posição delineada, eu diria que não estou
consciente de nenhuma atividade ou resultado “mental”, como é chamado, que não possa ser
descrito nos termos objetivos de uma atividade orgânica modificada e dirigida por significados
simbólicos ou linguagem, em seu sentido amplo.[111]
… todas as formas lógicas […] surgem na operação de inquirição… Esse conceito conta com
muito mais implicações que as revelações de formas lógicas ou o surgimento de formas lógicas
quando refletimos sobre os processos de inquirição em uso. Sem dúvida esse é seu significado,
mas também significa que as formas se originam nas operações de inquirição.[113]
Ao mencionar de forma específica os princípios de identidade,
contradição e do terceiro excluído — evidência conclusiva de que sua teoria
inclui esses itens — Dewey rejeita a visão tradicional de que “esses princípios
representam propriedades invariantes últimas dos objetos com os quais os
métodos de inquirição se preocupam e devem se conformar”.[114] Contudo, “os
princípios são gerados no próprio processo de controle da investigação
continuada, ao passo que de acordo com outra visão [tradicional], há princípios
fixados a priori e com antecedência à investigação e condicionando-a ab extra”.
[115]
O processo para a geração desses princípios começa no hábito
behaviorista e biológico. Nada mais será dito sobre o behaviorismo, mas é
preciso mencionar que os hábitos mudam, como mudam quando são
insatisfatórios, e os novos hábitos gerarão novos princípios. Isso deve ser assim
porque um princípio ou uma lei da lógica é apenas a formulação de uma forma
habitual de ação. A lógica, portanto, torna-se melhor, tornou-se melhor e tornar-
se-á melhor; e a melhora ocorre nas questões principais, não só nos detalhes
menos importantes.[116]
O mesmo tema é enfatizado em uma página posterior. Depois de afirmar
que, assim como a lógica grega refletia a ciência da Antiguidade, também uma
nova lógica deve ser baseada na ciência moderna, Dewey salienta o contraste ao
citar e se opor à visão de Horace W. B. Joseph. Joseph havia dito:
A visão de Aristóteles (representada nos Topics) é mais antiquada em relação aos problemas a
serem respondidos [pela ciência moderna] que em relação ao caráter lógico do raciocínio pelo
qual devemos provar nossas respostas.
as proposições particulares não podem ser interpretadas como tendo natureza hipotética.
“Algumas nações desejam a paz”; é bastante óbvio que isso não significa que “se alguma coisa
é uma nação, logo deseja a paz”, pois essa interpretação mudaria a proposição para um
universal.
O particular apresentado afirma, na verdade, a existência de nações que desejam, sim, a paz…
Portanto, as proposições universais e particulares diferem quanto à importação existencial; esta
envolve uma afirmação sobre a existência, ao passo que aquela, não [240-241].
[3] A antipatia de James em relação à alma unificadora, ou eu, levou-o ao a ser aparentemente um
behaviorista total. O título do primeiro dos Essays in Radical Empiricism pergunta: “A consciência existe?”.
A resposta é: Não. A designação vaga descrita pelo termo consciência não é uma substância nem uma
maneira de ser, mas um tipo de relação externa. Os primeiros empiristas estavam errados ao entender a
experiência como algo sem continuidade. Já o empirismo radical reconhece as relações tão reais como
qualquer outra coisa. Daí o caráter desnecessário da alma, do ego transcendental ou do ego para realizar a
unificação.
O “eu penso” que Descartes e Kant fizeram acompanhar todos os meus objetos, diz James, significa o “eu
respiro” que realmente os acompanha. “Estou persuadido de que respirar movendo-se para fora, entre a
glote e as narinas, é a essência com que os filósofos construíram a entidade que lhes é conhecida como
consciência. Essa entidade é fictícia” (p. 37).
Um ano depois (1905), James concluiu outro artigo, “La Notion de Conscience”, com seis teses, das quase
foram selecionadas as seguintes palavras: “A Consciência […] não existe. O […] que a palavra Consciência
recobre é a suscetibilidade das partes da experiência de ser relatadas ou conhecidas. Essa suscetibilidade se
explica […] de tal modo, que algumas [partes da experiência] acabam desempenhando o papel de coisas
conhecidas, e as outras o de sujeitos conhecedores” (p. 232).
O behaviorismo não será discutido neste trabalho sobre William James. Ele recebe o que lhe cabe no
trabalho sobre Dewey e em Behaviorism and Christianity. Mas se pode observar com brevidade na citação
acima a suscetibilidade de ser conhecido pelo fato de que algumas coisas são conhecidas enquanto outras
coisas são conhecedoras. Isso aponta para a turvação circular da “experiência pura”.
[4] John Dewey acusa James de ambiguidade neste ponto. Brevemente, Dewey pergunta: “Sr. James
emprega o método pragmático para descobrir o valor em termos de consequências na vida de alguma
fórmula que já tem o conteúdo lógico fixo; ou o emprega para criticar, revisar e o significado da fórmula?”.
O próprio Dewey jamais hesitou em aceitar o segundo significado.
[5] Expressão encontrada no diálogo entre Fausto e Mefisfófeles na obra Fausto (1808), de Johann
Wolfgang von Goethe. [N. do R.]
[6] The Quest for Certainty, pp. 24ss., 225; Reconstruction in Philosophy, p. 42; Experience and Nature,
p. 394.
[7] The Quest for Certainty, pp. 94-102.
[8] Reconstruction in Philosophy, p. 113; The Quest for Certainty, p. 87.
[9] Reconstruction in Philosophy, p. 61; The Quest for Certainty, p. 102.
[10] The Quest for Certainty, pp. 98, 106, 128-32.
[11] The Quest for Certainty, pp. 86-7, 99, 103.
[12] The Quest for Certainty, pp. 158-9.
[13] The Quest for Certainty, pp. 112, 131, 137.
[14] The Quest for Certainty, p. 116.
[15] The Quest for Certainty, pp. 142-6, 202-6.
[16] Human Nature and Conduct, Capítulo IV, Seção 3.
[17] The Quest for Certainty, pp. 79ss., 210.
[18] Problems of Men, pp. 160-3.
[19] Problems of Men, pp. 178-9.
[20] The Quest for Certainty, p. 252.
[21] Logic, the Theory of Inquiry, p. 216.
[22] Human Nature and Conduct, I, 5.
[23] The Quest for Certainty, pp. 35-6.
[24] Reconstruction in Philosophy, pp. 42-3.
[25] The Quest for Certainty, p. 258.
[26] The Quest for Certainty, p. 259.
[27] Gardner Williams, Humanistic Ethics, p. 55.
[28] Reconstruction in Philsophy, pp. 124, 126.
[29] Reconstruction in Philsophy, p. 157.
[30] The Quest for Certainty, pp. 39, 42, 128; Experience and Nature, p. 396.
[31] The Quest for Certainty, pp. 264-7.
[32] The Quest for Certainty, p. 265.
[33] Personagem de A ilha do Tesouro, livro infanto-juvenil escrito por Robert Louis Stevenson e lançado
em 1833. [N. do R.]
[34] The Quest for Certainty, p. 267.
[35] The Quest for Certainty, p. 269.
[36] Reconstruction in Philosophy, p. 127.
[37] The Quest for Certainty, p. 269.
[38] Reconstruction in Philosophy, pp. 15ss.
[39] Reconstruction in Philosophy, Introduction.
[40] The Quest for Certainty, pp. 259, 282.
[41] Reconstruction in Philosophy, pp. 103, 127.
[42] Reconstruction in Philosophy, pp. 145-6.
[43] Reconstruction in Philosophy, p. 157; compare Philosophy and Civilization, p. 16.
[44] Reconstruction in Philosophy, pp. 166-9.
[45] The Quest for Certainty, pp. 166-169.
[46] William Kilpatrick, Philosophy of Education, pp. 97-8, 151-61.
[47] Problems of Men, pp. 178-9.
[48] Éminence grise significa “eminência parda” (em francês). A expressão significa a pessoa que, sem se
revelar com clareza, detém grande influência na vida política ou em outras esferas de atuação. Plutôt rouge
deixa transparecer o caráter socialista (rouge, vermelho). [N. do R.]
[49] Ethics, pp. 265-92.
[50] Ethics, p. 251.
[51] Sobre o grau do socialismo de Dewey, v. Sidney Hook, John Dewey, cap. XII; e George R. Geiger,
John Dewey in Perspective, cap. 8 e a nota na p. 179.
[52] The Philosophy of John Dewey, Schlipp (ed.), p. 592 (nota).
[53] George R. Geiger, John Dewey in Perspective, pp. 109-10.
[54] Veja o capítulo IV de Uma visão cristã dos homens e do mundo (Brasília: Monergismo, 2013).
[55] Reconstruction in Philosophy, pp. 22, 106-12; Experience and Nature, p. 149; The Quest for
Certainty, pp. 17-25; Logic, the Theory of Inquiry, pp. 520ss.
[56] Experience and Nature, pp. 128-9.
[57] Philosophy and Civilization, p. 54.
[58] Experience and Nature, p. 156.
[59] The Quest for Certainty, p. 243.
[60] Logic, the Theory of Inquiry, p. 522.
[61] Reconstruction in Philosophy, p. 87; The Quest for Certainty, p. 106.
[62] The Quest for Certainty, p. 166.
[63] Experience and Nature, p. 158.
[64] Experience and Nature, p. 156.
[65] Philosophy and Civilization, pp. 105, 107.
[66] Experience and Nature, p. 121.
[67] Experience and Nature, p. 129; Philosophy and Civilization, p. 93.
[68] The Quest for Certainty, p. 104.
[69] Experience and Nature, p. 148.
[70] Logic, the Theory of Inquiry, p. 8.
[71] The Quest for Certainty, p. 110.
[72] The Quest for Certainty, p. 138; Philosophy and Civilization, p. 25.
[73] The Quest for Certainty, p. 137; Philosophy and Civilization, p. 106.
[74] The Quest for Certainty, p. 137.
[75] The Quest for Certainty, pp. 166-7; Reconstruction in Philosophy, p. 144; Philosophy and
Civilization, p. 31.
[76] Reconstruction in Philosophy, p. 145.
[77] Reconstruction in Philosophy, p. 146.
[78] Experience and Nature, p. 128.
[79] Essays in Experimental Logic, pp. 312-6.
[80] The Quest for Certainty, p. 71.
[81] Reconstruction in Philosophy, p. 156.
[82] The Quest for Certainty, p. 227.
[83] The Quest for Certainty, p. 231.
[84] Human Nature and Conduct, capítulo IV, seção 3.
[85] Logic, The Theory of Inquiry, pp. 105-6, 161.
[86] Logic, The Theory of Inquiry, p. 491.
[87] Logic, The Theory of Inquiry, p. 106.
[88] Logic, the Theory of Inquiry, p. 106.
[89] Em The Nature of Thought, pp. 359ss. Também o restante do capítulo de Blanshard, do qual se podem
extrair pouquíssimas exceções, é uma necessidade para estudantes sérios do instrumentalismo. Ademais,
Bertrand Russell em The Philosophy of John Dewey, editado por Paulo Arthur Schlipp, faz críticas bastante
importantes. O presente trabalho na medida do possível busca evitar repetir o que já foi tão bem afirmado.
Sem dúvida, não se pode evitar certa repetição (ao menos, especificação) das objeções mais abrangentes.
[90] Blanshard, p. 359.
[91] The Philosophy of John Dewey, p. 565.
[92] Logic, the Theory of Inquiry, p. 237.
[93] The Philosophy of John Dewey, pp. 557-8.
[94] The Philosophy of John Dewey, p. 558.
[95] Human Nature and Conduct, capítulo 1, seção ii; compare com The Quest for Certainty, pp. 123, 149-
50.
[96] Human Nature and Conduct, capítulo III, seção i; compare com Logica, ther Theory of Inquiry, vi;
The Quest for Certainty, pp. 86, 166.
[97] The Philosophy of John Dewey, p. 555.
[98] Human Nature and Conduct, capítulo I, seção iii.
[99] The Philosophy of John Dewey, p. 599.
[100] Philosophy and Civilization, p. 107.
[101] Logic, The Theory of Inquiry, p. 70.
[102] Experience and Nature, p. 21.
[103] Experience and Nature, p. 258.
[104] Problem of Men, p. 177.
[105] Logic, the Theory of Inquiry.
[106] Logic, the Theory of Inquiry, p. 102.
[107] Logic, the Theory of Inquiry, p. 104.
[108] Logic, the Theory of Inquiry, p. 107.
[109] Logic, the Theory of Inquiry, p. 43.
[110] Logic, the Theory of Inquiry, p. 46.
[111] Logic, the Theory of Inquiry, p. 57
[112] Logic, the Theory of Inquiry, p. 3
[113] Logic, the Theory of Inquiry, pp. 3-4
[114] Logic, the Theory of Inquiry, p. 11
[115] Logic, the Theory of Inquiry, p. 12; compare com Philosophy and Civilization, p. 129.
[116] Logic, the Theory of Inquiry, pp. 13-4.
[117] Logic, the Theory of Inquiry, p. 82; compare pp. 156-7, 328-9.
[118] Logic, the Theory of Inquiry, pp. 372, 374, nota 2, 391.
[119] Logic, the Theory of Inquiry, pp. 16-7
[120] Compare com Logic, the Theory of Inquiry, pp. 102, 120, 372ss.
[121] Logic, the Theory of Inquiry, pp. 255-6, 289-90, 380 e rodapé.
[122] An Introduction to Critical Thinking, pp. 236-5; 276-7.
[123] Symbolic Logic, 1927.
[124] Logic, the Theory of Inquiry, p. 11.