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A importância das raízes Tumbalalá.

Gabriel G. Mota
Este artigo discute a relevância da cultura Tumbalalá e a necessidade de estudar o
ambiente indígena nordestino. Para isso, baseamo-nos nas informações e pesquisas que
fornecem insights valiosos sobre a história e a dinâmica das populações indígenas na
região do submédio Rio São Francisco, sobretudo ressalto a importância das produções
midiáticas no cenário indígena. Além disso, a cultura Tumbalalá é um testemunho da
resiliência dessas comunidades diante dos desafios históricos e contemporâneos, como a
perda de terras, a discriminação e a marginalização.
O Aldeamento de Pambu.
A história da presença indígena na região do Rio São Francisco remonta ao século
XVI, quando missionários, como Luiz de Gran, realizaram tentativas iniciais de
aldeamento de índios no sertão baiano. No entanto, essas tentativas iniciais foram
prejudicadas por surtos de doenças e escassez de alimentos. A verdadeira transformação
na história da região ocorreu com a criação de aldeamentos subsequentes e a chegada de
colonos em busca de metais preciosos e recursos naturais. Um desses aldeamentos foi o
da Conceição do Pambu, que se tornou um importante local de concentração de índios
Cariri de Pambu, Procases, Brancaranes, Pacurubas, Oês, Chocós, Pipãens e Manqueses,
totalizando 713 indígenas em 1761, atualmente possui 1195 segundo o site
terrasindígenas.org.br. No entanto, ao longo do tempo, esses aldeamentos multiétnicos
geraram novas identidades e organizações sociais.
O rio São Francisco desde o seu nascimento até a foz, atravessa territórios
tradicionais ocupados por mais de 9000 anos pelos povos indígenas da região nordeste.
Tem uma extensão de 2.800 km, e em sua bacia há 32 povos indígenas, ocupando 38
territórios tradicionais dos seguintes povos: Kaxagó, Kariri-Xocó, Tingui-Boto, Akona,
Karapotó, Geripancó, Xoco, Katokin, Koiupanká, Karuazu, Kalankó, Pankararu, Fulni-
ô, Xucuru-Kariri, Pankaiuká, Tuxá, Pipipã, Kambiwá, Kapinawá, Xukuru, Pankará,
Tupan, Truká, Pankararé, Kantaruré, Atikum, Tumbalalá, Pankaru, Kiriri, Xacriabá,
Kaxixó e Pataxó, com população aproximada de 70.000 indígenas. O rio São Francisco
para esses povos é de vital importância para a sua sobrevivência física e cultural, tanto
para o modo de produção para a continuidade de seus rituais e cultura. No entanto, o
governo ignora todo esse contexto e principalmente o grito de repúdio dessas pessoas
indígenas e não indígenas e decidiu autorizar as obras de implantação do projeto, violando
o direito à consulta prévia.
A Formação de Identidades Híbridas
Os aldeamentos multiétnicos na região do submédio Rio São Francisco resultaram
na formação de identidades difusas inicialmente rotuladas como "caboclos". No entanto,
com o tempo, surgiram identidades específicas, como os Truká e Tumbalalá, que
representam a complexa dinâmica sociocultural da região. Essas identidades específicas
não apenas reconhecem sua singularidade, mas também mantêm referências à história
compartilhada da região. As interações entre essas populações resultaram na formação de
identidades híbridas e cambiantes que transitam entre diferentes alteridades.
A Relevância da Cultura Tumbalalá
A cultura Tumbalalá, é de grande importância para compreendermos a diversidade
cultural e étnica dessa região. O estudo da cultura Tumbalalá não apenas preserva a
memória histórica dessas populações, mas também destaca sua contribuição para a
formação da identidade nordestina.
Expressão Ritual: O Toré
Os Tumbalalá conduzem sua expressão ritual através do Toré, na cultura indígena,
é uma manifestação ritualística que incorpora elementos tanto espirituais quanto sociais.
É importante notar que o Toré é composto por linhas de canto, que são canções curtas
com versos simples usadas para homenagear e atrair seres sobrenaturais. Portanto servem
como a matéria-prima ritual fundamental para a prática da ritualística. As linhas são
dinâmicas e fluidas, embora tenham um domínio interétnico, sofrem adaptações locais.
O Toré ocorre de duas maneiras, uma através de um ambiente fechado e é restrito a um
pequeno grupo de até 12 pessoas, incluindo mestres de prestígio. Esta forma é considerada
o "trabalho da ciência do índio", capaz de revelar informações importantes através dos
encantos, como o nome da aldeia ou grupo. Em contraste, o toré público ocorre em locais
abertos e é mais lúdico, promovendo a interação social e a confraternização entre os
participantes.
O Urucum e sua Importância
Um elemento importante na cultura Tumbalalá é o urucum, uma planta que
desempenha um papel significativo em suas práticas culturais e rituais. O urucum é usado
tanto como corante quanto em rituais espirituais, refletindo a profunda conexão entre a
cultura Tumbalalá e a natureza, o Urucum não apenas simboliza a relação espiritual com
a natureza, mas também destaca a importância da preservação ambiental, uma vez que
muitos aspectos da cultura Tumbalalá estão intrinsecamente ligados ao ambiente natural
em que vivem. O reconhecimento da importância do Urucum na cultura Tumbalalá
destaca a ligação profunda entre essas comunidades e a natureza, ressaltando a
necessidade de preservação ambiental em conjunto com a preservação cultural. O estudo
dessas questões enriquece nosso conhecimento sobre o patrimônio cultural brasileiro e
fortalece o respeito pela diversidade étnica e cultural do país.
A Jurema e a Revelação da Aldeia Tumbalalá
No cenário cultural dos povos indígenas do Nordeste, um tema recorrente é a
relação simbólica entre os "troncos velhos" e as "ramas" ou "galhos". Esta metáfora ecoa
nas cosmologias desses grupos e desempenha um papel crucial na compreensão de suas
identidades e conexões com o passado. Um exemplo desse binarismo pode ser
encontrado nos versos cantados pelos Tumbalalás, Manuel Ramos e o ex- cacique Truká
Acilon Ciriaco da Luz juntamente do mestre de toré e pajé Luís Fatum registrados por
Ugo Maia durante suas cerimônias de toré: ANDRADE, U. M. Parte II - De índios a
caboclos, de caboclos a índios, “A Jurema tem dois gaios”: história Tumbalalá Ugo Maia
Andrade. p. 17.
"A jurema enfulora
A jurema enfulorou
A jurema tem dois 'gaios'
Que é pros índios trabalhar."

Esses versos aludem à dicotomia entre os "troncos velhos" e as "ramas" na


cosmovisão dos povos indígenas do Nordeste e ao papel do xamanismo nesses grupos. O
termo "tronco" representa o desejo de manter a continuidade com um passado acessado
por meio de rituais, simbolizando a pureza. Por outro lado, as "ramas" ou "galhos" estão
associadas à mistura e ao esquecimento dos rituais. Essa relação entre "tronco" e "ramas"
é assimétrica em termos de capital simbólico, mas fundamenta a visão de unidade que
permeia o universo indígena no Nordeste. Há uma complementaridade implícita entre
esses conceitos que transcende o esquecimento ritual e contribui para a reinterpretação da
herança tradicional. Esses termos também estabelecem uma analogia com elementos da
natureza, refletindo uma concepção particular de tempo e relações, que oscila entre
continuidade e ruptura.
Os Tumbalalá veem sua história intrinsecamente ligada aos Kiriris e Trukás,
embora essa relação seja permeada à colaboração mútua. Ambos os grupos são
considerados "ramas" de um "tronco" histórico comum, compartilhando uma
descendência ancestral. Essas relações complementares entre as famílias que agora
compõem esses dois povos remontam a tempos antigos, possivelmente estabelecidas
durante as missões que reuniram índios de diferentes localidades ao longo do rio São
Francisco. O xamanismo, representado pelo toré, desempenha um papel fundamental nas
trocas que consolidam a identidade tumbalalá. A revelação do nome da aldeia segundo
Ugo Maia, pelo Encantado Manuel Ramos ao ex-cacique Truká, Acilon Ciriaco da Luz,
foi um marco nesse processo.
Trocas Rituais e a Construção da Identidade Cultural no Contexto do Povoado de Pambu.
No contexto da etnografia dos povos indígenas do Nordeste do Brasil, um tema
recorrente que emerge é a relação simbólica intrínseca entre os conceitos de "troncos
velhos" e "ramas" ou "galhos". Tal metáfora desempenha um papel crucial na
compreensão das identidades culturais desses grupos e suas conexões com o passado
ancestral. O termo "tronco" denota o anseio de preservar a continuidade com um passado
ancestral acessado por meio de rituais, simbolizando, assim, a pureza cultural. Em
contrapartida, as "ramas" ou "galhos" estão associadas à mistura e ao potencial
esquecimento dos rituais. A relação entre "tronco" e "ramas" é assimétrica em termo
simbólico, mas, ao mesmo tempo, sustenta a noção de unidade que permeia o universo
indígena no Nordeste. Há uma complementaridade intrínseca entre esses conceitos,
transcendendo o risco de esquecimento ritual e contribuindo para a reinterpretação da
herança tradicional.
Esses termos também estabelecem uma analogia com elementos da natureza,
refletindo uma concepção particular de tempo e relações, oscilando entre continuidade e
ruptura. Os Tumbalalá veem sua história como intrinsicamente ligada aos Truká e Kiriris,
ainda que tal relação seja permeada por rivalidades subjacentes à colaboração mútua.
Ambos os grupos são considerados "ramas" de um "tronco" histórico comum,
partilhando, assim, uma descendência ancestral. Essas relações complementares entre as
famílias que hoje compõem esses dois povos remontam a tempos imemoriais,
possivelmente estabelecidas durante as missões que reuniram indígenas de diversas
localidades ao longo do rio São Francisco.
O xamanismo, representado pelo toré, desempenhou um papel fundamental nas
trocas culturais que consolidaram a identidade dos Tumbalalá. A revelação do nome da
aldeia pelo Encantado Manuel Ramos ao ex-cacique Truká, Acilon Ciriaco da Luz,
representa um marco nesse processo. Essa revelação estabeleceu as bases para a
identidade tumbalalá e permitiu que as famílias caboclas de Pambu fossem oficialmente
reconhecidas como uma comunidade de identidade indígena específica. Ademais
desempenharam um papel crucial no fortalecimento do toré dos índios da Assunção,
apoiando-os quando enfrentaram oposição externa. A solidariedade entre os dois grupos
é um testemunho das complexas relações entre "troncos" e "ramas", destacando a
importância das trocas rituais na construção e manutenção da identidade indígena no
Nordeste. Essa relação não apenas moldou suas identidades, mas também influenciou sua
história e as formas pelas quais interpretam e preservam sua herança cultural. Portanto
ressalto a importância das trocas rituais como elementos fundamentais na construção e
manutenção das identidades indígenas na região do Nordeste do Brasil, em conformidade
com as contribuições acadêmicas de Ugo Maia. Essa revelação estabeleceu a base para a
identidade tumbalalá e permitiu que as famílias caboclas de Pambu fossem reconhecidas
como uma comunidade de identidade indígena específica.
Em suma, a relação entre os Tumbalalá, Kiriris e Trukás são marcada por essa
dualidade entre "troncos velhos" e "ramas" em suas cosmologias. Essa relação não apenas
moldou suas identidades, mas também influenciou sua história e as formas pelas quais
interpretam e preservam sua herança cultural. Ela ressalta a importância das trocas rituais
como elementos fundamentais na construção e manutenção das identidades indígenas na
região do Nordeste do Brasil.
Nota:
Eu Gabriel G. Mota agradeço pela minha mãe Ivone Cléa G. S. pela ancestralidade
indígena Tumbalalá, como médium, agradeço também aos mentores espirituais e físicos,
Sobretudo agradeço pelo incentivo da professora de comunicação, Helen Campos da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que proporcionou a ideia da pesquisa
sobre os conhecimentos do meu povo, agradeço também a Ugo Maia por ter
confeccionado a obra “Parte II: De índios a caboclos, de caboclos a índio “A Jurema
tem dois gaios”: história Tumbalalá.
Referências:

https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/4160#direitos
https://books.scielo.org/id/mv4m8/pdf/carvalho-9788523212087-09.pdf
https://books.scielo.org/id/mv4m8/pdf/carvalho-9788523212087-06.pdf

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